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“O conhecimento aprofundado do produto é uma vantagem no competitivo mundo de óleos e azeites”
ENTREVISTA
A declaração é de Antonio Muñoz, Out of Home Iberia Business Manager da Borges Professional, que, em entrevista, explica as motivações do grupo catalão em Portugal, naquele que foi o primeiro ano de atividade comercial local, fazendo, ainda, um balanço positivo, mesmo em contexto de pandemia. Contexto desfavorável para a sociedade e para a atividade económica, mas que, ainda assim, permitiu colocar no mercado um produto que promove uma maior segurança alimentar e sanitária, com as unidoses de azeite, dirigidas à restauração e ao “food service”, a serem apenas uma das faces visíveis da atividade da Borges Professional, que se prepara, a breve prazo, para entrar no retalho organizado português. Fazendo prevalecer aquilo que são os pontos fortes do grupo, presente em 107 países por todo o mundo, e que assinala, em 2021, 125 anos de atividade comercial na promoção de produtos de qualidade e que tragam mais-valias competitivas aos seus parceiros de negócio.
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TEXTO Bruno Farias FOTOS D.R.
Grande Consumo - A Borges assinala um ano da operação em Portugal. O que levou a Borges Professional a apostar na entrada no país com as suas marcas? Que objetivos qualitativos e quantitativos se propõe a atingir?
Antonio Muñoz – A nossa entrada em Portugal resulta de um projeto muito mais vasto, que teve início há mais de sete anos, com a criação, em Espanha, da divisão OOH (Out Of Home)/Food Service, seguindo o modelo de negócio implementado em França e, posteriormente, em países como Itália ou os Estados Unidos da América. Num país tão próximo, e com características socioculturais tão comuns, não podíamos deixar de ter a presença de uma marca líder, a nível global, como o é a Borges. Os objetivos estabelecidos para o mercado português são, basicamente, os mesmos que nos orientam nos restantes mercados onde operamos e passam pela implementação gradual das nossas marcas, a partir da adaptação das nossas referências ao canal Horeca, sempre sob as premissas da qualidade, formação e informações contínuas que, sem dúvida, nos levarão ao crescimento natural.
GC - Que balanço pode fazer do primeiro ano em Portugal? Seguramente que nunca pensaram em passar por um cenário de pandemia, como o presentemente vivido...
AM - O saldo deste primeiro ano é francamente positivo. Lançámos as bases para um desenvolvimento sólido para o futuro, ao identificar no mercado português excelentes parceiros de negócio, que apostam na qualidade e no serviço e nos proporcionam uma cobertura de 50% do território (incluindo Madeira e Açores). Este cenário de pandemia é algo para o qual nenhuma empresa, ou projeto, foi preparado. A Borges, em todo o mundo, tem implementado medidas financeiras e promocionais que tornam a situação mais suportável para os seus colaboradores, o que, sem dúvida, deverá permitir-nos emergir mais fortes.
GC - Sabemos que a Borges detém um portfólio alargado de azeites, óleos e frutos secos. Que produtos comercializam, presentemente, em Portugal?
AM - Nesta fase do projeto, já temos uma parte do nosso portfólio adaptado à procura do canal Horeca, em Portugal. Como todos sabem, o nosso foco inicial tem sido a apresentação das nossas composições de óleos de alto desempenho, que, com as suas características únicas, fazem com que a marca comece a ser conhecida e reconhecida. No que diz respeito aos frutos secos, também marcámos presença em diversas feiras sectoriais, em 2019, o que nos permitiu uma primeira abordagem ao mercado e aos seus agentes, que se revelou muito produtiva e esclarecedora, sobretudo, para perceber as reais necessidades de consumo destas categorias de produtos. No que concerne aos azeites, temos um vasto leque de formatos e referências, desde azeite virgem extra, passando pelos azeites aromáticos, biológicos, monovarietais e gourmet para a alta restauração. Nesta fase pandémica, estamos muito focados no nosso formato unidose de azeite virgem extra e vinagre, que, pelas suas características, proporciona a maior segurança alimentar e sanitária, garantindo, também, a qualidade do produto, sempre com grande consciência no que à sustentabilidade das embalagens diz respeito. Atualmente, a Borges é a única empresa espanhola com embalagens com a certificação Ecosense, que garante que 95% da sua composição provém de plástico reciclado.
GC - O portfólio atualmente disponível deixa-os satisfeitos? Quantas referências disponibilizam em Portugal e no global do Grupo Borges?
AM - O portfólio atualmente disponível é muito sólido e diversificado em mercados como o espanhol ou o francês, nos quais somos líderes nas nossas categorias, o que nos permite encarar o futuro, em Portugal, com otimismo. Atualmente, a nossa oferta no mercado português está pensada para responder às necessidades atuais dos vários canais onde nos fazemos representar. O nosso objetivo é construir bases sólidas e sustentáveis com os clientes, ao fornecer soluções que lhes permitam impulsionar os seus negócios de forma rentável e sustentável. A versatilidade das nossas fábricas permite-nos, e garante, uma capacidade de resposta rápida, pelo que estou convicto que os profissionais apreciarão a vantagem competitiva que as nossas marcas, nas suas respetivas categorias, lhes proporcionam. Pelo que, enquanto correspondermos às suas expectativas, não duvido que preferirão as nossas famílias de vinagres, cremes balsâmicos, óleos de composição para determinados sectores, xaropes, massas italianas ou frutos secos nos seus mais diversos formatos e nos mais distintos canais de distribuição.

Portfólio Borges Profissional
GC - Em que canais de comercialização nossos produtos e serviços, com base numa se fazem representar?
AM - No último exercício fiscal, encerrado a 31 de maio, comercializávamos os nossos produtos em 107 países em todo o mundo, cobrindo a plenitude de canais em que nossos produtos são usados: mercados de grande consumo, retalho, “food service” (hotéis, restauração, catering, coletividades, hospitais, etc.), impulso, tradicional, pastelarias e indústria agroalimentar. Em Portugal, o canal de “food service” é aquele em que, presentemente, concentramos grande parte do nosso esforço comercial, prevendo-se, num futuro próximo, desenvolver um novo projeto para o canal de retalho, de forma a promover a introdução da nossa marca.
Em Portugal, o canal de “food service” é aquele em que, presentemente, concentramos grande parte do nosso esforço comercial, prevendo-se, num futuro próximo, desenvolver um novo projeto para o canal de retalho, de forma a promover a introdução da nossa marca.
GC - A Borges foi criada, em 1896, como uma empresa que apostou, desde sempre, na produção de produtos de qualidade reconhecida. Tem sido esta a assinatura da empresa? Produzir com qualidade em qualquer área de negócio onde se faça representar?

GC - É possível pensar em comercializar azeite e produtos oleicos sem conciliar a atividade industrial com a sustentabilidade? Os consumidores privilegiam as marcas que, na sua atividade industrial, não consideram secundária a promoção do meio ambiente?
AM - 94% da energia utilizada pela Borges é proveniente de fontes renováveis, com a transição para o consumo de energia verde a permitir uma economia de 8.820 toneladas de CO2 por ano. Garantimos uma agricultura sustentável, responsável e fazemos uso adequado dos recursos hídricos. Cuidamos do meio ambiente e lutamos contra as mudanças climáticas, ao procurar o nível máximo de eficiência ambiental em todos os projetos que realizamos. Cuidamos e melhoramos a biodiversidade das nossas explorações, nos diversos territórios onde operamos, um compromisso que transferimos para toda a nossa cadeia de abastecimento. De modo a garantir um crescimento sustentável da economia, temos que assegurar que a nossa atividade não afeta negativamente o ambiente. Um dos principais impactos está relacionado com os materiais e embalagens que colocamos no mercado, pelo que o nosso compromisso é promover a economia circular dos materiais, ao garantir que permanecem na economia e não se transformam em resíduos. Nesse sentido, a nossa aposta passa por materiais reciclados, reutilizáveis ou compostáveis, com a incorporação de PET reciclado numa garrafa de um litro a ser de 25% da sua composição, mas é apenas o início de um projeto muito mais ambicioso. Por outro lado, o mesmo fornecedor que nos fornece o material para as embalagens das unidoses retira o excedente pós-industrial e reintegra- -o para a produção do mesmo material. Usamos, sempre que possível, biomassa, como cascas de amêndoas, para gerar vapor na nossa descascadora de amêndoas. E um bom exemplo desta visão na fase agrícola são os restos de poda das plantações da Quinta dos Machados, em Portugal, que têm sido utilizados para o fabrico de celulose. Com o compromisso de garantir uma agricultura sustentável e responsável, assim como com o uso adequado dos recursos hídricos, certificámos as nossas plantações com os padrões de boas práticas agrícolas Global GAP e aderimos à plataforma EsAgua. Neste exercício, no Grupo Borges, estabelecemos, ainda, o objetivo de que toda a energia elétrica consumida seja de origem renovável, o que nos trará, como principal benefício, uma menor emissão de CO2 e de outros poluentes para a atmosfera. A Borges formalizou, por outro lado, um empréstimo com o BBVA, no valor de 15,7 milhões de euros, cujas condições estão associadas à evolução do impacto ambiental da sua produção industrial, medida que visa reduzir o consumo de hidrocarboneto hexano na extração de óleo de sementes e a redução do consumo de gasóleo para aquecimento. Criámos um site dedicado exclusivamente a comunicar nossos projetos de sustentabilidade: https://comprometidospornaturaleza. com/
GC - A exportação sempre fez parte da visão do negócio da companhia?
AM - A internacionalização faz parte do ADN das nossas equipas. Atualmente, os produtos do grupo encontram-se presentes em 107 países, operamos em 13 fábricas e contamos com 15 escritórios comerciais distribuídos por 11 países. O nosso grupo emprega, diretamente, 1.215 pessoas de 33 diferentes nacionalidades e, como um todo, comunicamos em 21 idiomas distintos. Durante o último ano fiscal, vendemos 307.500 toneladas de produtos. As nossas marcas ocupam posições de liderança em 25 países, em áreas tão distintas como o azeite, os frutos secos, as azeitonas, os vinagres ou as massas. 66% das nossas vendas são realizadas em mercados externos, através do esforço combinado de mais de seis mil profissionais, formados por equipas próprias e redes dos nossos distribuidores que, em conjunto com mais de mil profissionais especializados em compras, operações, serviços de back office, administração, finanças, TI e todo o suporte técnico e jurídico, trabalham, diariamente, com o objetivo de que a experiência de qualquer forma de contacto com a Borges seja sempre satisfatória.
GC - Tendo em conta a diversidade de países para onde exportam os vossos produtos, a certificação é um tema importante para operar nesses mercados de destino? Que certificações possuem presentemente?
AM - A diversidade de países para os quais exportamos obriga-nos a ter rigorosos processos de auditoria e certificação em todos e a cada um dos processos produtivos. O que, por outro lado, nos permite um grande número de prémios e reconhecimentos internacionais, facto que, naturalmente, nos confere uma maior responsabilidade para com os nossos clientes, de modo a respeitar os mais elevados parâmetros de qualidade, continuidade e satisfação garantida. Atualmente, detemos certificações tão distintas como a IFS Food, BRC Global Standard, Halal, Kosher, Ecosense, ISO 9001, ISO 14001, ISO 17025, ISO 50001, AEO, EPD, FSSC 22000, USDA ORGANIC, JAS, AIB International, Sedex, entre muitas outras.
GC - A Borges define-se como um grupo competitivo a nível do preço e da oferta. É pelo facto de deterem refinarias, em alguns países do mundo, que conseguem atingir esse equilíbrio entre qualidade e preço? O conhecimento aprofundado do produto é uma vantagem operacional no competitivo mundo da produção oleica e de azeite?
AM - Na verdade, somos um grupo muito competitivo em termos do binómio qualidade/preço, procurando sempre disponibilizar o melhor preço para a máxima qualidade. O conhecimento aprofundado do produto é, sem dúvida, uma vantagem neste competitivo mundo de óleos e azeites. As nossas composições em óleos de alto desempenho, sem óleo de palma, sem soja, sem óleos hidrogenados, sem organismos geneticamente modificados, são uma prova visível que nos diferencia e nos confere uma vantagem competitiva nos sectores em que atuamos. Atualmente, contamos com uma equipa de 10 gestores de produto, cuja principal missão é capacitar as equipas comerciais dos nossos distribuidores, proporcionando-lhes argumentos diferenciadores e uma especialização que lhes possibilita oferecer soluções aos seus clientes, que se traduzam em menores custos unitários comparativamente com outras alternativas, gerando, assim, maior confiança e fidelização do cliente final.
GC - Por outro lado, a Borges está, também, muito perto da produção, ao deter e explorar diversas explorações agrícolas. Estar perto da origem é prestar um melhor serviço ao cliente/consumidor? Quantos olivais detém, hoje, a Borges? Pretende adquirir mais?
AM - Na Borges Agricultural & Industrial Nuts, estamos, firmemente, comprometidos com o projeto agrícola e a integração vertical do nosso negócio. É por isso que, nos últimos três anos, desenvolvemos mais de mil novos hectares de amendoeiras. 67% de nossas plantações estão em fase de crescimento, 19% estão em plena produção e os 14% restantes são plantações que se encontram em fase de pós-maturação. Detemos 2.394 hectares, principalmente, para a produção de nozes, pistácios e amêndoas, dos quais 934 hectares estão localizados em Portugal, nos distritos de Beja e Portalegre, e os restantes distribuídos por Espanha e Estados Unidos da América (Califórnia). No que diz respeito à atividade de produção de azeite e sementes, os nossos centros produtivos estão situados em locais-chave que, pela sua proximidade com as origens de produção, nos permitem garantir a mais elevada qualidade e conservação do fruto. Nesse sentido, os mesmos encontram-se localizados, em Espanha, em Tárrega (filtragem, extração, refinação e embalagem de azeite e sementes) e Cabra (moagem, filtragem e embalagem de azeite), na Tunísia, em Sfax (filtragem e embalagem de azeite), em Itália, em Marzaglia (produção e embalagem de vinagre de Modena) e, no Egito, no Cairo (moagem para obtenção de azeite). A produção e industrialização de frutos secos desenvolve-se em Espanha, especificamente, nas comunidades da Andaluzia, Extremadura, Catalunha e Valência.
GC - O que seria um bom exercício de 2020 para a Borges, atendendo ao contexto vivido de pandemia e crise social?
AM - Estamos muito satisfeitos com os resultados obtidos durante o primeiro ano do nosso projeto para o canal de “food service” em Portugal. É muito difícil fazer previsões, no atual contexto de incerteza, devido à pandemia e à crise social que está a causar. Porém, a Borges é um grupo que, em 2021, vai comemorar 125 anos, desde a sua fundação, período em que tivemos que enfrentar diferentes crises por causas muito diversas, das quais sempre saímos fortalecidos pelas oportunidades de aprendizagem que elas acarretaram. A nossa visão e objetivos estão sempre focados no longo prazo, construindo bases sólidas assentes na confiança, que, a par dos nossos valores enquanto grupo empresarial e compromisso com a qualidade dos nossos produtos e serviços, bem como da nossa perseverança em projetos estratégicos, como o iniciado em Portugal, deverão permitir-nos consolidar a nossa implantação no território, em 2020. Ao construir redes de serviço eficientes e ao disponibilizar produtos diferenciadores, que geram vantagens competitivas para todos os nossos clientes que, apesar da atual situação de crise, estão a crescer em número diariamente.
