Global Brasil 03

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Sindicatos dos docentes se apoiam em discurso ideológico e mistificado para manter o status quo e injustos privilégios adquiridos

Muro de Eduardo Coimbra.

GLOBAL 46 Universidade Nômade

A leitura dos jornais dos sindicatos docentes e mais em geral da autoproclamada "oposição de esquerda" é emblemática de um corporativismo extremamente conservador e de uma linha política esquizofrênica. Impossível encontrar nesse velho discurso dados sobre o ensino superior no Brasil (ou no mundo), saber quanto custa, quantos alunos forma, qual o peso do setor particular etc. Sobre elementos de avaliação qualitativa, nem se fala. Além de uma declaração geral e consensual de que "as públicas são universidades de qualidade", não se pode apreender nada na leitura desses materiais. Na realidade, o discurso sindical é insuportavelmente ideológico e mistificado. Ideológico: porque sua trama estratégica é grosseira e inadequada. De fato, tratase de uma crítica infantil do "capitalismo", visto como um demiurgo que manda na sociedade. As lutas "docentes" são vistas apenas como "momentos" específicos de uma luta geral contra o "demônio" capital e sobretudo contra o capital internacional. Mistificado: porque seu horizonte tático é miserável e corporativo. A base de massa de suas "lutas" (passivas e esvaziadas) é constituída por um corporativismo arraigado à manutenção de um conjunto de privilégios ori-

undos não da função social e pública do ensino superior, mas do próprio aparelho de domínio do Estado (capitalista!). A demonização (ideológica) do "capital" permite isentar as prolixas análises sindicais de qualquer entendimento das relações de produção e de classe que, no Brasil, sustentam o dito demônio. Com isso, os nossos docentes se colocam do lado (ou dentro) dos movimentos sociais e dos deserdados do planeta, não para mudar, mas para conservar o status quo. A total ausência de qualquer análise da composição social das classes e das forças produtivas no Brasil contemporâneo (tudo é resolvido em afirmações genéricas sobre capital, mercado, individualismo etc.) permite a nossas vanguardas arregimentar as tropas de um corporativismo tanto consensual quanto passivo. Como não encarar como o pior oportunismo, por exemplo, o acúmulo de aposentadoria e emprego (acúmulo que queima vagas de recém-doutores, aposentadorias precoces que têm como objetivo um novo emprego nas próprias universidades públicas)? Como explicar que o sindicato nunca tenha atacado a figura do "professor substituto", ou seja de um sub-emprego com salário infame para alguém que oferece as mesmas disci-


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