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CETOSE BOVINA: O QUE É?

ENTREVISTA

por Larissa Vieira

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Colostro vale ouro

Além de importante papel no sistema imune, o colostro desempenha função nutritiva e não pode ser negligenciado nas fazendas leiteiras. Então, fomos conversar com uma profissional que fez da criação de bezerras a oportunidade de levar informação ao campo com muita paixão pelos bovinos.

A médica-veterinária Mariana Marcondes é formada pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp) - Bandeirantes e hoje trabalha como especialista Matterna na Genex - Brasil. Ela ainda conta com o Instagram @bezerrinsta, onde sempre publica dicas sobre a criação de bezerras.

Nesta entrevista Mariana aborda como fazer uma boa colostragem, os cuidados no armazenamento do colostro e as dicas de ouro para esta fase de vida dos animais.

Girolando

Mariana Marcondes

Que fatores influenciam na qualidade do colostro que a fêmea vai produzir?

Não só a qualidade, mas também o volume é muito importante, dentro das possibilidades da propriedade. É essencial que sejam garantidos conforto (sombra de qualidade, resfriamento, bom espaço de cocho e de cama/pasto); bom consumo de matéria seca, que atenda as necessidades nutricionais da categoria; vacinação na secagem e na entrada do pré-parto, pensando na produção de anticorpos que serão destinados ao colostro e muita tranquilidade. Minimizar os manejos nessa fase é muito importante..

Girolando

Mariana Marcondes

Quanta diferença faz, de fato, o colostro na saúde das bezerras?

Devido ao tipo de placentação dos bovinos, durante a gestação não existe o envio de anticorpos da vaca para a bezerra. Sendo assim, apenas através de uma excelente colostragem a cria irá receber toda imunidade necessária para enfrentar os desafios das primeiras semanas de vida. Outro manejo importantíssimo é a cura de umbigo, que deverá ser feita por imersão total do coto umbilical em uma solução de iodo de 7 ou 10%, que irá desinfetar e desidratar o umbigo, evitando a contaminação ascendente que pode evoluir para abcessos, artrites e onfaloflebites, por exemplo.

Mariana Marcondes

Girolando

Mariana Marcondes

Quais cuidados tomar na hora de montar um banco de colostro na fazenda? E, depois, como utilizar esse colostro, desde o descongelamento, oferta e prazo de validade?

O banco de colostro é algo que, para mim, deveria ser peça fundamental em toda fazenda leiteira. Ocorrem muitas situações no dia a dia que colocam em xeque a colostragem da bezerra, tais como: episódios de pós-parto com mastite, vacas doentes, colostro ordenhado com sangue ou contaminado, volume insuficiente, morte da mãe. Esses problemas podem acontecer e é importante a fazenda estar preparada. As amostras deverão ser coletadas da maneira mais higiênica possível, desde a limpeza e higienização dos tetos até o envase e congelamento. Após a ordenha o colostro deve ser avaliado e se apresentar boa qualidade deverá ser armazenado em pacotes de 1,5 a 2 litros e acomodado em bandejas ou formas para que forme uma “placa”, que no dia seguinte deverá ser descolada e cuidadosamente empilhada, identificada com data e qualidade e armazenada em freezer. Para o descongelamento não é indicado utilizar panelas ao fogo, micro-ondas ou mergulhão, pois altas temperaturas desnaturam e “quebram” as imunoglobulinas. Sendo assim, para o descongelamento correto um banho-maria com temperatura entre 45 e 50°C deverá ser preparado, colocando-se a placa de colostro mergulhada para descongelar lentamente até que atinja temperatura entre 38 e 39°C e então seja fornecido via mamadeira ou sonda para a bezerra. Amostras bem acondicionadas podem durar de seis meses a um ano. Hoje existe disponível no mercado o colostro bovino em pó, um produto 100% natural que também se encaixa nessa etapa da vida da bezerra.

Girolando

Mariana Marcondes

Diversos sistemas e práticas de manejo de animais em aleitamento estão sendo adotados com o objetivo de reduzir o custo com a criação deles. A grande variedade de dietas líquidas disponível pode resultar em problemas de sanidade e de nutrição, resultando em baixos desempenhos?

Com certeza. Dentre as diretrizes de uma boa criação de bezerras, a rotina deve ser prioridade, e isso se aplica a todos os processos, principalmente nos relacionados à alimentação dos animais. Animais com baixo aporte nutricional estão mais suscetíveis a doenças e com toda certeza serão penalizados no desempenho. A qualidade dos alimentos fornecidos será um divisor de águas no processo de cria e recria. Certificar-se da origem do concentrado e do volumoso é muito importante. Vale lembrar que além do leite, água e ração deverão estar disponíveis desde o primeiro dia de vida; a bezerra precisa ser apresentada a diferentes fontes alimentares para que possa aumentar o consumo de acordo com a idade e se preparar para o desmame sem que ocorram perdas no desempenho e ganho de peso.

Você tem um perfil no Instagram onde orienta sobre a criação de bezerras. Se fosse resumir as informações que divulga no Bezerrinsta, quais são as dicas de ouro para ter sucesso nessa fase do animal?

Gosto muito de utilizar os 5c’s como norte – essa metodologia americana nos auxilia muito – e acredito que todos eles são fundamentais para o sucesso na criação de bezerras. São eles: Colostro, Cuidados com limpeza, Conforto, Calorias e Constância. Quando esses pontos são executados com excelência, os mais diversos sistemas de criação de bezerras são capazes de obter sucesso.

Ah, outra coisa muito importante! Bezerras são como crianças e precisam de muito amor, carinho e atenção.

SANIDADE

Depto. de Marketing UCBVET Saúde Animal

CETOSE BOVINA: O que é?

Vacas no pós-parto têm maior incidência de cetose

Doença metabólica que acomete principalmente vacas leiteiras de alta produção, causando muitos prejuízos econômicos

A cetose bovina é uma doença metabólica muito comum em rebanhos leiteiros e pode ser conhecida como acetonomia, acetonúria e hipoglicemia. Ela causa desordem no metabolismo dos carboidratos e lipídeos e aumenta os corpos cetônicos no sangue. Acomete principalmente vacas leiteiras de alta produção que estejam no período de transição. Alguns estudos apontam maior incidência (48,5%) da cetose em vacas no pós-parto, pois nessa fase as vacas sofrem alterações fisiológicas, hormonais, metabólicas e anatômicas. Essas alterações ajudam no aparecimento de doenças metabólicas, implicando na diminuição da produção de leite, em prejuízo no desempenho reprodutivo e em aumento na taxa de descarte do rebanho.

No período de transição há aumento na demanda de energia devido ao crescimento fetal e à lactogênese. Normalmente nos dias que antecedem o parto há declínio no consumo de alimentos e aumento da demanda energética, resultando em um balanço energético negativo (BEN) no início da lactação. Para suprir esse déficit de energia, as vacas utilizam de suas reservas corporais, como por exemplo, a gordura. No início da lactação, a glicose é retirada da circulação sanguínea para síntese da lactose do leite, o que estimula indiretamente a mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo, tendo ainda mais oxidação desses ácidos no fígado.

Quando a produção de corpos cetônicos ultrapassa a capacidade de sua utilização pelos tecidos periféricos, eles se acumulam, desenvolvendo o quadro clínico ou subclínico de cetose bovina. Consequentemente, os níveis de ácidos graxos livres (AGL) no sangue aumen-

tam, o animal perde peso e reduz o seu consumo de alimentos, refletindo diretamente na reprodução e na produção de leite.

A cetose bovina pode se apresentar no rebanho de duas formas: subclínica e clínica.

A cetose bovina subclínica é definida pela alta concentração de corpos cetônicos no sangue, mas sem o aparecimento de sinais clínicos.

Na cetose bovina clínica identifica-se a redução da ingestão de alimentos e diminuição de 10 a 40% na produção de leite. Em casos mais severos, pode ocorrer perda rápida de peso, letargia e hiperexcitabilidade, odor de corpos cetônicos no leite, na respiração e na urina, hipoglicemia, hipoinsulinemia, altos níveis de AGL no sangue, fezes secas e firmes, podendo causar a morte do animal.

A cetose bovina subclínica ocorre em maior porcentagem, comparada à cetose bovina clínica, porém, muitas vezes ela passa despercebida e causa prejuízos à saúde do animal e econômicos.

Várias são as causas da cetose bovina, lembrando que ela pode se apresentar de maneira espontânea, alimentar e secundária.

A cetose bovina pode ser mensurada através do monitoramento da BHBA (beta-hidroxibutirato no sangue) nos 3º, 7° e 12º dias pós-parto. Sendo que 0 – 1,3 mmol/L é o valor que indica a ausência de cetose e mais de 3,5 mmol/L, indica cetose severa. Ela pode ser detectada através da quantidade de corpos cetônicos presentes no leite e na urina, sendo na urina a maneira mais eficaz de detectá-la, devido à quantidade de corpos cetônicos excretados na urina ser muito maior do que no sangue e no leite e é um teste rápido.

A colina protegida é um produto que pode ser oferecido na dieta no pré e no pós-parto, melhorando a saúde do fígado das vacas suplementadas. Outro aditivo muito utilizado é o propionato de cálcio ou o ácido propiônico, que auxiliam na utilização da gordura mobilizada para o fígado, transformando-a em glicose.

O uso da suplementação com vitamina B3 tem mostrado eficiência em vacas predispostas à cetose e com baixo consumo de alimentos no início da lactação.

O propilenoglicol (PPG) aumenta a quantidade de propionato e aminoácidos produzidos pelo rúmen, que são precursores da gluconeogênese, aumentando, assim, a quantidade de glicose e lactose disponíveis e consequentemente a produção de leite. Ele também pode ser administrado dias antes do parto.

A monensina sódica tem sido utilizada para alterar beneficamente a fermentação ruminal, favorecendo a participação do propionato no rúmen.

Vacas que receberam a BST na lactação anterior apresentaram maior consumo de alimentos, menores concentrações de AGL e de corpos cetônicos e leve aumento da glicemia em relação às vacas que não receberam. A BST pode auxiliar na redução da mobilização de gordura após o parto.

O recomendado para prevenção da

Vacas em transição sofrem alterações fisiológicas, hormonais, metabólicas e anatômicas e precisam ser monitoradas

cetose bovina é manter as vacas secas com um escore corporal adequado, por volta de 3 a 4, evitando um animal muito magro ou muito gordo no início da lactação. Vários outros fatores ligados à nutrição animal aumentam a incidência de cetose em rebanhos leiteiros, por isso é importante realizar o pré e o pós-parto corretamente, dando ênfase às exigências nutricionais relacionadas à proteína, energia, minerais, vitaminas e aditivos. Dessa forma, consegue-se reduzir a ocorrência de outras doenças metabólicas no período de transição, melhorando a eficiência reprodutiva do rebanho e explorando melhor o potencial genético dos animais. Assim, as fazendas se tornam mais lucrativas e com índices de produtividade maiores.

O tratamento para a cetose bovina tem como objetivo elevar os níveis de glicose no sangue do animal, de forma a diminuir a mobilização de gordura para o fígado. Nos casos de cetose bovina leve ou moderada recomenda-se o uso oral de 300ml de precursor de glicose (propileno glicol) durante três dias consecutivos. Para quadros de cetose severa, a dose de propileno glicol é de 500ml, via oral, durante cinco dias.

É importante o monitoramento dos níveis de glicose e corpos cetônicos na urina e no sangue, uma a duas vezes ao dia. O tratamento será interrompido quando os corpos cetônicos deixarem de ser detectados e a glicemia estiver em nível normal. Assim, a glicose e a insulina circulantes são aumentadas e auxiliam na volta do equilíbrio energético do animal e de seu consumo de alimentos.

O uso de precursores de glicose (Cortvet®) tem a função de fornecer energia ao animal debilitado, porém seu uso em excesso afeta a flora ruminal, diminuindo os movimentos ruminais e pode causar diarreia. Eles também possuem efeito hiperglicemiante, fazendo com que os sinais clínicos desapareçam e podem aumentar a produção de leite na ordenha seguinte. No entanto, essa hiperglicemia dura por volta de duas horas, ocorrendo recidiva dos sinais clínicos e uma nova quebra da produção leiteira. Por isso, repetir a administração é aconselhável, diminuindo as recidivas.

Recomenda-se o uso de glicocorticóides (20mg ou 0,04mg /kg de peso vivo de dexametasona Cortvet®) em dose única, podendo ser repetida de 2 a 3 dias após a primeira administração.

A adição de cobalto e vitamina B12 à dieta de animais com cetose bovina pode ser uma opção. A deficiência de cobalto e de vitamina B12 desencadeia a doença, pois interfere no metabolismo do propionato. A administração da insulina em conjunto com glicose ou um glicocorticóide também é eficiente, pois facilita a captação de glicose, anula o metabolismo dos ácidos graxos (AG) e estimula a gliconeogênese hepática.

A nicotinamida usada após o parto reduz corpos cetônicos e AG no sangue e aumenta a glicose sanguínea. Colina e L-metionina também podem ser administradas como aditivos nos tratamentos. Como exemplo, temos o antitóxico UCB injetável® que auxilia no tratamento de afecções hepáticas. Ele possui acetilmetionina, colina, riboflavina, piridoxina, nicotinamida e dextrose e normalmente é administrada a quantidade de 100ml por via intramuscular profunda ou intravenosa lenta.

O prognóstico irá depender da gravidade da doença. Em casos mais leves os sintomas podem diminuir com alimentação adequada. Em casos graves deve-se realizar terapia adequada. Um bom prognóstico também dependerá da associação da cetose bovina a outras doenças, como por exemplo: hipocalcemia, metrite, deslocamento de abomaso, etc.

Para que o animal se recupere e o tratamento seja eficaz é necessário que haja fornecimento de alimento palatável e de boa qualidade.

SANIDADE

Raquel Maria Cury Rodrigues - Zootecnista.

Menos antibióticos e redução de custos? Conheça a cultura na fazenda

Processo de inoculação da amostra de leite na placa

Mastite. Talvez seja essa a palavra entre os produtores de leite que mais os deixa de “cabelos em pé” e faz com que percam noites de sono. São tantas as consequências oriundas desse problema sanitário em uma propriedade que realmente o assunto sempre deve se manter em pauta. As pesquisas não param (que bom!) e as soluções apresentadas também. Sorte do produtor, que com tantos desafios para enfrentar no dia a dia da leiteria, pode contar com novas e aliadas tecnologias.

Uma delas é a cultura na fazenda – ferramenta de característica precisa, dinâmica e ágil – na qual o produtor identifica os principais agentes causadores de mastite em 24 horas na própria fazenda. A ideia da solução traz simplicidade e segurança para as

análises na propriedade e com baixo custo operacional. Vários projetos de avaliação da tecnologia apontam para uma relação custo-benefício acima de 1:5; ou seja, a cada R$1,00 investido na tecnologia, o retorno é de R$5,00.

E são inúmeras as vantagens dessa prática. Primeiramente o tratamento racional com antibióticos nos casos de mastite clínica e o controle da mastite subclínica, fato que contribui com a situação financeira do produtor e, claro, com a saúde das vacas. Falaremos sobre isso adiante.

É sabido que o controle de mastite se configura entre as grandes dificuldades nas fazendas, porém, a boa notícia é que o problema agora pode ser enfrentado dentro da porteira e sempre em prol da melhor qualidade do leite. A ideia é que a mastite não seja mais taxada como um bicho de sete cabeças, mas, sim, como um gargalo rotineiro de quem está envolvido na atividade. O pulo do gato é enfrentá-la com informações extremamente precisas e especializadas.

E como funciona o tratamento racional e mais criterioso dos antibióticos?

Clinicamente, quando um animal apresenta um quadro de mastite, além da perda de produção de leite, este último precisa ser descartado devido ao tratamento com antibióticos. Com o uso da cultura na fazenda, o tratamento passa a selecionar as vacas que de fato necessitam do medicamento, o que reduz sua administração em cerca de 50% e evita o descarte do leite que seria feito. É importante ressaltar a importância dos antibióticos em uma fazenda leiteira, porém, a cultura na fazenda incentiva o uso deles na medida, nem mais, nem menos.

Outro benefício claro é a redução de resistência bacteriana, desfecho conhecido quando há um uso irresponsável de antibióticos. E não menos importante, contribui com a transparência na origem do problema, já que é possível reconhecer se as bactérias encontradas no resultado são mais propensas a estarem instaladas no ambiente, manejo ou equipamentos. De quebra, o produtor passa a ter a oportunidade de preventivamente agir nos principais focos da doença, elevando e conduzindo a propriedade a outro patamar de competitividade.

Nesse contexto, vale destacar que a mastite pode ter cura espontânea em algumas vacas e isso dependerá da imunidade das mesmas e do agente responsável pela infecção. Assim, é possível concluir que não será necessário o uso de antibióticos em todos os casos. Acompanhando a saúde desses animais após o desaparecimento dos sinais clínicos, o leite novamente “vai pra jogo”, reduzindo o descarte.

Antes, todas as vacas que apresentavam grumo eram tratadas imediatamente, mas a cultura na fazenda reverteu tal prática visto que essa ação passa a depender do grau da infecção e da cultura pronta em mãos.

Identificando precocemente e com confiabilidade os casos leves e moderados da doença no rebanho, é possível a elaboração de um programa para tratar seletivamente a mastite clínica. Essa prática promove redução considerável dos custos da enfermidade e ganhos econômicos à produção.

Mas e com relação à mastite subclínica?

Como a cultura na fazenda contribui nesses casos? Nessa ocasião, ela também identifica as fontes de infecções das bactérias e seleciona as vacas que realmente necessitam de tratamento. Lembram-se do “nem mais, nem menos”? Aqui também se aplica!

Com relação à secagem, contribui na avaliação da eficiência da terapia utilizada pelo produtor e ajuda a definir o protocolo da atividade para as vacas.

E mais uma vez priorizando a agilidade para a tomada de decisão, identifica rapidamente as vacas infectadas por bactérias contagiosas, tanto na cultura do lote pós-parto como também nas vacas com alta contagem de células somáticas (CCS) ou que apresentaram resultado positivo no teste de CMT.

Por fim, ajuda na seleção do rebanho, já que identifica vacas com patógenos que não respondem aos anti-

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