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ELÉTRICO FEITO NO BRASIL

Ônibus elétrico eO500U produzido pela Mercedes-Benz em São Bernardo Campo é o primeiro no País de uma grande montadora

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Texto João Geraldo

FALTA COMPONENTES Vendas de ônibus a diesel cresceram, mas a indústria não consegue entregar, diz Walter Barbosa

PRODUTO BRASILEIRO Primeiro ônibus elétrico da Mercedes-Benz no País já começou a ser vendido A eletromobilidade estará cada dia mais presente na vida das pessoas, mas quando se fala em ônibus movidos a bateria, o mercado brasileiro ainda engatinha e tem pela frente a concorrência de produtos importados. Marcas de fabricantes como as chinesas BYD e Higer Bus já disponibilizam no País modelos 100% elétricos. Até o final de julho a BYD contava com 106 unidades em operação (05 micro, 80 padron, 05 roroviários e 16 articulados), enquanto Higer Bus, representada no Brasil pela Tevx Motors Group, ainda não iniciou as vendas seu modelo no País, o FE10BR, um ônibus de 10m de comprimento para o transporte de até 41 passageiros sentados.

No entanto, o primeiro chassi 100% elétrico a bateria da Mercedes-Benz produzido em São Bernardo do Campo/SP, eO500U, é um padron de 12,5m de comprimento e capacidade para o transporte de 84 passageiros (sentados e em pé) e um cadeirante. A estratégia da montadora foi de desenvolver um veículo adequado à realidade do País ao invés de optar por trazer da Europa um produto pronto. O eO500U passou por uma série de testes envolvendo o motor elétrico, eixo, acústica, sistema elétrico, freio etc, em 1 milhão de quilômetros rodados envolvendo dois protótipos no Brasil e dois na Alemanha.

De acordo com Walter Barbosa, Diretor de Vendas e Marketing Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, os desafios da eletrificação são bem diferentes daqueles enfrentados com veículos movidos diesel, com os quais a indústria convive há mais de 60 anos. Ele lembra que tratando-se de ônibus elétrico, os serviços digitais que indicarão ao operador o melhor

momento para recarregar o veículo e assim extrair a melhor performance das baterias. O executivo citou também a necessidade de mão de obra especializada com o treinamento necessário e obrigatório para lidar com manutenção, peças etc. “É outro ecossistema, onde tudo é diferente, pois além do produto a Mercedes-Benz vai fornecer recarga de energia, projeto de construção e instalação da infraestrutura necessária nos clientes”, complementou. O eO500U tem potência equivalente a 340cv o e pode usar 4 ou seis packs de bateria, com autonomia total de 250 km.

Entre vários diferenciais técnicos em relação aos veículos tradicionais a diesel, o preço final do ônibus 100% elétrico também é outro, chegando a ser até três vezes superior. No entanto, segundo Barbosa a Mercedes-Benz já tem negócios fechados do eO500U para serem entregues. Destacou também a parceria da montadora com a Eletra, fabricante de ônibus trólebus (rede aérea), híbrido (grupo motor gerador mais baterias) e totalmente elétrico, para o fornecimento de 108 chassis articulados de 21,5m e padron de 12,5m para serem eletrificados pela empresa.

Do total, 96 serão destinados ao município de São Bernardo do Campo/SP e os demais para as cidades de Salvador/BA e Vitória/ES. A expectativa é de pelo menos 10 unidades entrarem em operação entre setembro e dezembro desse ano, enquanto as demais dependerão da preparação de obras viárias onde irão circular. A Mercedes-Benz é a primeira grande fabricante instalada no País a apresentar seu ônibus 100% elétrico, no entanto outras marcas já atuam no País. A BYD, por exemplo, disponibiliza cinco diferentes op-

IMPORTADO Hilger Bus FE10BR 100%, elétrico e adaptado às condições do Brasil, ainda não está em operação

ARTICULADOS BYD Os ônibus da marca chinesa são produzidos em Campinas/SP nas versões com piso alto e baixo

ARTICULADOS BYD Marca chinesa conta com 106 ônibus em operação no Brasil, dos quais 16 são articulados

ções com autonomia para até 250km, entre modelos padron, BRT pisos alto e baixo e para fretamento, este com autonomia para 300km. Walter Barbosa estima que o mercado total de ônibus elétricos no Brasil até 2024 seja de 3.000 unidade em operação.

Mercado As 13.830 unidades emplacadas em 2020 junto com as 13.926 no ano passado, comparadas às 20.741 licenciadas em 2019, representaram o período mais difícil para o setor ônibus no País nos últimos tempos, especialmente pela falta de passageiros e demais problemas causados pela pandemia da covid-19. Empresas fecharam enquanto outras encontram-se ainda em fase de recuperação.

Porém, 2022 trouxe esperanças de retomadas das vendas pois além de ser ano de eleições e de compra de ônibus escolares, a vacinação permitiu o retorno de passageiros com o sistema híbrido de trabalho, além do interesse dos operadores na compra veículos Euro 5 - que poderão ser faturados até 31 de março de 2023 – ao invés de pagar mais pelos modelos Euro 6 produzidos a partir de janeiro de 2023.

Como previsto, as vendas tem acontecido desde janeiro, mas a indústria não tem conseguido entregar tudo que negocia porque faltam componentes na linha de produção. Conforme afirmou Walter Barbosa, as compras têm acontecido para todos os segmentos (micro, escolar, urbano e rodoviário), exceto ônibus para o fretamento, mas não tem sido possível entregar tudo que que vende.

Segundo dados do Renavam entre janeiro e junho desse ano foram emplacados 7.297 ônibus acima de 8 toneladas (1.448 micros, 2.313 escolares, 2.072 urbanos 657 de fretamentos e 807 rodoviários), uma queda de 2,6% em relação às 7.493 unidades registradas no mesmo período de 2021. Segundo Barbosa, existe um descompasso em relação à realidade do mercado geral, que cresceu mais de 50% esse ano. “Mas esse crescimento não dá para ser visto pelo número de emplacamentos. Em julho, por exemplo, a Mercedes-Benz ainda entregava pedidos de janeiro”, exemplificou.

O executivo destacou ainda o crescimento da marca em 27% no primeiro semestre desse ano em relação ao mesmo período de 2021. Foram 30,6% no modelo escolar, 72% no urbano, 43,5% no fretamento e 75% no rodoviário. Neste último caso, a justificativa é que a alta do preço das passagens aéreas levou muitos passageiros a viajar mais de ônibus e frisou que pela primeira vez, até o fechamento de junho de 2021, a Mercedes-Benz atingiu a liderança no segmento de micro, com 39,6% de participação.

Embora 2022 seja o ano de virada de chave para o setor de ônibus, existem outros desafios a serem enfrentados, entre eles a dificuldade de disponibilidade de crédito, juros com taxas celic acima de 13% ao ano (quase o dobro de um ano atrás) e, para completar, o aumento do preço do aço em 125%. “Se tudo correr bem, neste segundo semestre o mercado chegará a 22 mil unidades. Se não for possível resgatar parte das vendas, o total ficará em aproximadamente 17 mil unidades. Isso não depende de pedidos e sim da produção de veículos, pois falta componentes”, reforçou.

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