O idoso no território informal | Paraisópolis

O idoso no território informal A relação da microacessibilidade com a qualidade de vida da população da terceira idade em Paraisópolis

Georgia Santaniello Abejon

GEORGIA SANTANIELLO ABEJON

O IDOSO NO TERRITÓRIO INFORMAL: A RELAÇÃO DA MICROACESSIBILIDADE COM A QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO DA TERCEIRA IDADE EM PARAISÓPOLIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como pré-requisito para a obtenção do título de Arquiteto e Urbanista.

Orientadora: Viviane Manzione Rubio

São Paulo 2019

Agradecimentos Sou grata primeiramente aos meus orientadores Antônio Claudio Pinto da Fonseca e Viviane Manzione Rubio pelo suporte e incentivo para a realização desse trabalho, fazendo eu acreditar mais em mim mesma e em meus propósitos; Aos meus pais, Denyse e Roberto, por todo amparo e amor e por estarem sempre presentes e me darem força. Vocês contribuíram para tudo isso acontecer e me encorajaram a voar e a seguir minha própria trajetória, com alguns pequenos pousos para eu me reabastecer; À meus queridos avós, Dorival, Maria Sylvia e Narcísio Waldemar, por sempre me oferecerem um acolhimento especial por meio de abraços e cafézinhos da tarde. Por resgatarem minhas raízes e me fazerem lembrar da minha essência. A força e independência de vocês despertaram minha vontade de fazer com que todos se sintam assim; Ao meu primeiro chefe, Vicente Bicudo, e às minhas colegas de aula de Biodanza conduzida pela minha tia Cláudia, por me sensibilizarem através de suas paixões pela arquitetura, pela música, pelo afeto e pela vida. Pela persistência em se fazer o que ama, independentemente da idade; À meus familiares pelos valores, pelo apoio e pelo carinho; À meus amigos pela cumplicidade, acolhimento e leveza; Ao William Santiago, Wagner Rezende e Neuza Vicente, por me auxiliarrem em minha pesquisa e me acompanharem nas visitas a Paraisópolis; À todos os professores que cruzei ao longo de minha vida acadêmica, pelos ensinamentos e pelas trocas, permitindo meu desenvolvimento como aluna e como pessoa.

Dedico este trabalho a todos que um dia irão envelhecer, para que o façam com dignidade, independência e leveza, em um contexto que propicie isso

“Não é verdade que as pessoas param de perseguir os sonhos porque elas envelhecem, elas envelhecem porque param de perseguir sonhos” Gabriel Garcia Márquez

Resumo O presente trabalho pretende investigar a relação entre o envelhecimento populacional e o território informal, a fim de compreender quais as dificuldades enfrentadas pela população idosa na favela, principalmente quanto a microacessibilidade, e como isso pode impactar na qualidade de vida e na longevidade. Tendo como objeto de pesquisa a favela de Paraisópolis, apresenta-se um breve histórico de formação, as características da população e suas relações com a cidade formal.

Em paralelo, são traçadas algumas considerações sobre o significado de ser idoso no Brasil, e quais as políticas destinadas à essa população. Essa investigação dá embasamento para estruturar uma conexão dos dois temas - idoso e favela - e gerar um processo de reflexão sobre as distintas formas possíveis de se envelhecer, considerando dentro e fora da cidade formal. Como resultado da pesquisa foi desenvolvido um projeto majoritariamente para a população idosa em Paraisópolis, estabelecendo equipamentos e pequenos pontos de intervenção para qualificar sua caminhabilidade, beneficiando o envelhecimento local.

PALAVRAS-CHAVE: Idoso, Favela, Envelhecimento, Acessibilidade, Caminhabilidade, Paraisópolis

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Abstract This paper aims to investigate the relationship between population aging and informal territories in order to understand the difficulties faced by the elderly population in the favelas, especially regarding microaccessibility, and how this may impact on the quality of life and longevity. Having as object of research the slum of Paraisópolis, it presents a brief history of its formation, the characteristics of the population and their relations with the formal city. In parallel, some considerations about the meaning of being elderly in Brazil are outlined, as well as what policies are intended for this population. This research provides the basis for structuring a connection between the two themes – the elderly and the favelas and generating a process of reflection on the different possible ways of aging, inside and outside the formal city. As a result of the study, an architecture project was developed mainly for the elderly population in Paraisópolis, establishing equipments and small intervention points to qualify their walkability, benefiting local aging.

KEY WORDS: Eldery, Favela, Aging, accessibility, walkability, Paraisópolis, slum

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SUMÁRIO

1. Introdução ................................................................................................ 16 2. O idoso no Brasil: algumas considerações ........................................ 22

2.1 Discriminação etária e envelhecimento ativo ............................... 27

3. O território informal e o idoso ................................................................ 32

3.1 Uma breve análise sobre a significância da favela ..................... 36 3.2 As favelas na cidade de São Paulo e as políticas públicas ........ 39 3.3 Paraisópolis: Leitura e interpretação para intervenções do território .............................................................................................. 45 3.4 As dificuldades de envelhecer na favela .................................... 74 3.4.1 Equipamentos específicos para idosos ........................ 74

3.4.2 Uma análise sobre aspectos de mortalidade ............... 84

3.4.3 Necessidades básicas e sua influência na

sobrevivência ......................................................................... 92

3.4.4 A qualidade do envelhecimento ................................... 100

4. Centro de acolhimento ao Idoso em Paraisópolis .............................. 102

4.1 A importância da microacessibilidade para a qualidade de vida do idoso e sua inserção no território. ............................................... 104 4.2 Referências de projeto................................................................ 114

4.3 Projeto de intervenção................................................................. 128

4.3.2 Memorial de Projeto ...................................................... 138

4.3.3 Experimentação............................................................. 142

4.3.4 Peças Gráficas............................................................. 152

5. Considerações Finais ............................................................................. 170 6. Referências Bibliográficas ..................................................................... 172

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INTRODUÇÃO

A investigação sobre o tema acessibilidade é essencial no que diz respeito a qualidade de vida em uma cidade das dimensões e da dinâmica como as de São Paulo. Assim, a mobilidade para o pedestre deve ser observada e tratada de forma cautelosa, pois sua qualidade é fundamental para o deslocamento de uma população num território com tamanha proporção, impulsionando e estimulando a ocupação e o uso da cidade. Quando bem solucionada, gera uma cidade democrática e acessível, favorecendo a autonomia e independência de seus habitantes.

O número de idosos no Brasil vem aumentando a cada ano. Alguns fatores como a melhoria da qualidade de vida no país e o avanço da medicina, implicam diretamente no crescimento da população na faixa etária acima dos 60 anos. Vê-se, com isso, a urgência da elaboração e implementação de políticas públicas de mobilidade que possibilitem aos idosos o trânsito seguro nas cidade e um envelhecimento mais saudável. Políticas essas que garantam também uma boa acessibilidade não apenas a população da terceira idade1, mas também aos 24% da população (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE) que tem algum tipo de necessidade especial e ou mobilidade reduzida, possibilitando sua inclusão e seu direito de ir e vir no território, independentemente da modalidade de transporte que escolham ou tenham disponibilidade - seja de carro, ônibus, ou a pé.

A presente pesquisa foi estruturada a partir da discussão sobre a relação entre acessibilidade e envelhecimento populacional. A escolha de investigar como esta relação se dá dentro do território informal teve por base a forma como os deslocamentos dos idosos se dão na cidade formal e quais são as suas distintas dificuldades encontradas. Tem-se como pressuposto que, se existem obstáculos na locomoção dentro da cidade formal, os pedestres dentro das favelas, principalmente naquelas de encosta, têm estas dificuldades ampliadas. Pretende-se também analisar a oferta de equipamentos destinados à população idosa e a sua garantia da qualidade de vida nesses territórios. ____________________________________________________________________________ 1 Entende-se por terceira idade a fase da vida que começa aos 60 anos - nos países em desenvolvimento - e aos 65 anos - nos países desenvolvidos -, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

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Paraisópolis foi escolhida como a área de atuação do projeto, não só por questões de afinidade e por sua localização dicotômica (inserida dentro do nobre bairro do Morumbi/Vila Andrade), mas também por ser a maior favela da capital paulista, extremamente consolidada, e por apresentar uma topografia íngreme, contendo diversas curvas de nível que dificulta a mobilidade da população em sua extensão.

A favela fora formada na década de 50 por imigrantes nordestinos, em sua maioria jovens que vieram buscar novas oportunidades de ascensão em São Paulo. Há quase 70 anos estruturada no mesmo local, percebe-se diferentes gerações que foram se sobrepondo no território, adensando-o cada vez mais. Até as áreas públicas como vias, calçadas e parquinhos foram ocupadas por residências e barracos, contribuindo para a alta densidade da área (cerca de 1200 hab/he). Nisso, vê-se uma desproporcionalidade entre a quantidade de moradores no bairro-favela e de áreas e equipamentos públicos destinados à eles. Sem uma estrutura básica, fica difícil sobreviver em seu território, ainda mais envelhecer. O próprio mapa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), exibido no terceiro capítulo sobre “População residente com 60 anos ou mais”, mostra que a expectativa de vida em Paraisópolis é muito menor que nas regiões de seu entorno, visto que são áreas formalizadas e mais estruturadas, com um maior índice serviços públicos e um PIB maior.

A justificativa para a realização desse trabalho é a questão de que a favela, como um território fora dos parâmetros ideais urbanísticos, apresenta diversas irregularidades que afetam diretamente sua população e que podem ser trabalhadas a fim de qualificá-la. Além da questão de saneamento básico, eletricidade, regularização fundiária entre outras, Paraisópolis apresenta uma topografia acidentada, funcionando como uma espécie de vale em meio a região do Morumbi. Com isso, suas vias contém um grande grau de declividade dificultando a locomoção de sua população. Somado a isso, há a falta de calçadas e da qualificação do espaço público, deixando-o com um grau baixo de caminhabilidade.

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Paraisópolis contém uma significativa densidade que, quando analisada de um aspecto filtrado, voltando-a para a população idosa, diminui bruscamente. Gostaria assim de compreender o porquê isso acontece e, com isso, propor algo que diminuísse esse contraste habitacional entre a Vila Andrade e a favela. Pretende-se assim conceber algum tipo de intervenção que facilite a locomoção dentro do território informal com relevo acidentado. Um desenvolvimento de masterplan é necessário para a compreensão do local e para a partir dele, conceber micro-ações que reduzam a dificuldade de mobilidade. Juntamente a isso, têm-se o propósito de qualificar a vida do idoso, não apenas facilitando seu deslocamento pelo espaço, mas concebendo equipamentos, atividades ou políticas destinadas exclusivamente à essa parcela da população.

O idoso tem um importante papel na família, principalmente nas de renda baixa e sua participação na renda familiar vem aumentando. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada pelo IBGE em 2008, a população com mais de 60 anos é responsável por mais de metade da renda familiar em 53% das famílias brasileiras. Em áreas mais carentes, essa participação pode aumentar, chegando até a 73%, como no nordeste do país. Com isso, nota-se que, mesmo aposentado ou numa idade em que sinta mais dificuldades para realizar determinadas atividades, o idoso continua participativo e indispensável para a estrutura da família, não só pelo aspecto financeiro, mas também por ter o papel de cuidar da casa enquanto os filhos vão trabalhar.

Na maioria dos casos, contudo, essa população não tem formas de se refugiar ou de se distrair das responsabilidades, não usufruindo de atividades de lazer ou até mesmo do ócio. Desse modo, um serviço específico para esse público, ainda mais em uma favela, pode garantir um contato maior deste com outros campos como a educação, a cultura, o esporte, contribuindo para qualificar sua vida e preservar sua integridade física e mental.

Considerando a dificuldade do idoso em manter uma qualidade de vida nos territórios informais e a falta de atenção à essa população, atrelada ao seu papel importante tanto na economia quanto na estrutura

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familiar, entende-se como urgente a tentativa de melhorar a situação da terceira idade nas favelas, considerando também suas limitações de mobilidade. Compreender como se dá o deslocamento na favela é fundamental para que sua população possa usufruir de um local/atividade com as mínimas condições de circulação.

Assim, a presente monografia se organiza em 5 capítulos, sendo o capítulo 1, como introdução trazendo um apresentação do tema, a justificativa, o objeto e os objetivos da pesquisa. O capítulo 2 traz uma abordagem sobre a questão dos idosos no Brasil, indagando dados e comparações sobre a expectativa de vida no país, o envelhecimento populacional e investigação de seu papel na estrutura familiar contemporânea. Discussão sobre a preparação das cidades para receber idosos, analisando sua infraestrutura e políticas públicas.

O capítulo 3 traz um breve histórico do surgimento das favelas em São Paulo e a estruturação do território de Paraisópolis. Formulação do pensamento que conecta as ideias da importância da mobilidade relacionada com a qualidade de vida dos idosos no território informal. Além disso, faz uma aproximação do recorte espacial e do funcionamento da favela, elencando suas potencialidades e deficiências em questão de acessibilidade, de equipamentos e de serviços destinados à população da terceira idade no território informal.

A importância de qualificar a caminhabilidade na favela e a significância de ter um equipamento exclusivo à uma população que está duplamente marginalizada (favelado + idoso); discussão do poder de apropriação e da sensação de pertencimento que isso pode criar No capítulo 4 apresenta-se uma discussão e uma interpretação de dados, por meio de cartografias e informações coletadas; comparações e transposição dos conceitos abordados em propostas projetuais;

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elaboração de estratégias para intervenção na área estudada e esclarecimento das estratégias. Comparação e problematização da temática e do território estudado com referências como a Urbanização da Comuna 13 em Medellín, da solução de mobilidade feita no Complexo do Alemão e do elevador do Cantagalo e referências projetuais e materiais como o Walumba Elders Centre Wood.

O capítulo 5 é o fechamento da pesquisa e traz as considerações acerca dos dados e das análises elaboradas ao longo de um ano de TFG.

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O IDOSO NO BRASIL ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Esse capítulo aborda a questão do envelhecimento populacional e seus impactos socioeconômicos e culturais, com o intuito de compreender o papel social do idoso e as políticas dedicadas exclusivamente à ele. Utilizando-se de índices estatísticos e embasamento teórico, o capítulo discorre sobre os dados gerais referentes à população idosa no Brasil e as dificuldades que ela enfrenta por conta da idade. No final, é levantada a questão da discriminação etária e sua influência direta no comportamento e do bem estar deste grupo.

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), idoso é todo indivíduo com 60 anos de idade ou mais. Apesar dessa definição, sabe-se que a idade cronológica não é um marcador preciso e que a relação de integridade do cidadão, independentemente de seu tempo vivido, varia de acordo com as condições socioculturais e econômicas de cada país, havendo divergências nas formulações das políticas públicas para idosos de acordo com seu local. Nos países desenvolvidos, por exemplo, essa idade pode chegar aos 65.

O Brasil também considera idosas as pessoas que tenham idade a partir dos 60 anos, sendo a Lei Federal 10.741/2003, conhecida como o Estatuto do Idoso o instrumento que estabelece os direitos dos idosos.

Esta lei visa qualificar a vida dessa população no país, instituindo seus direitos e como devem ser garantidos, além de prever punição à qualquer um que a violar. O estatuto enfatiza a responsabilidade de atores sociais para assegurar os direitos ao idosos, elencando os deveres da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público a fim de tornar a proteção do envelhecimento uma prioridade social.

Os direitos fundamentais estabelecidos pelo estatuto são: direito à vida; à saúde; à alimentação; à educação; à cultura; ao esporte; ao lazer; ao trabalho; à cidadania; à liberdade; à dignidade; ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Apesar dessa lei especificar a garantia dos direitos da população idosa, ressalta-se que essa parcela da população não é um grupo paralelo e excludente à realidade de um local. Ela está inserida na sociedade assim como qualquer outro cidadão. Os idosos têm sua autonomia e um papel social, sendo agentes ativos na cidade. Envelhecer não significa ter seus direitos como cidadãos limitados. Como afirmou Kofi Annan, secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU) entre os anos de 1997 e 2007:

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[...] as pessoas idosas não são uma categoria à parte. Todos envelheceremos algum dia, se tivermos esse privilégio. Portanto, não consideremos os idosos como um grupo à parte, mas, sim, como a nós mesmos seremos no futuro. E reconheçamos que todas os idosos são pessoas

individuais, com necessidades e capacidades particulares, e não um grupo em que todos são iguais porque são velhos. (ONU, 2003, In MOYSÉS, 2017, p.15)

O artigo n°2 da Lei Federal 10.741/2003, o Estatuto do Idoso, reforça isso ao declarar que: O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros 7 meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. (ESTATUTO DO IDOSO, 2003)

Além de seu protagonismo, o idoso apresenta alta significância dentro da própria família e contribui de forma direta com o mercado financeiro.

Um levantamento realizado em todas as capitais brasileiras pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em 2018, revelou que 43% dos brasileiros acima de 60 anos são os principais responsáveis pelas despesas da casa e pelo pagamento de contas – o percentual sobe para 53% entre os homens. Além disso, de modo geral, 9 em cada 10 idosos no Brasil (91%) contribui com o orçamento da residência, sendo que em 25% dos casos colabora com a mesma quantia que os demais membros da família.

Outra pesquisa divulgada no mesmo ano pelo CNDL mostra que sete em cada dez idosos (70%) do Brasil estão aposentados. Desse total, 21% continua trabalhando, tendo como uma das principais razões o fato de sua renda da aposentadoria não ser suficiente para sua sobrevivência (47%). Apesar da questão financeira, mais de metade dos entrevistados disse que continua a exercer a profissão por uma questão de sentimento de produtividade e/ou como uma forma de ocupar a mente, negando-se a sentir ocioso.

Embora atuem ativamente, 43% dos idosos reconhece que há dificuldades para conseguir uma oportunidade de emprego, principalmente por enfrentar preconceito com a idade avançada (30%). Por outro

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lado, 57% afirma não ter tido problemas em conseguir trabalho. Quando questionados sobre até que idade pretendem trabalhar, mais da metade (61%) não soube definir um número específico. Para os que sinalizaram ter uma perspectiva em mente, a média é de 74 anos.

Com as recentes alterações nas regras da previdência social no Brasil, o número de pessoas exercendo alguma atividade remunerada com idade acima de 60 anos deve crescer significativamente, uma vez que a expectativa de se aposentar no país está cada vez mais distante.

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2.1 Discriminação Etária e o Envelhecimento Ativo Apesar do notável papel de agente cidadão, infelizmente, em muitas ocasiões a população idosa não é reconhecida e é vista como um grupo social passivo que não tem mais uma função específica, com suas habilidades esgotadas. Sendo desconsiderada em diversas atividades, torna-se uma categoria invisível.

A discriminação etária é algo recorrente no Brasil e ao redor do mundo. Chamada pela OMS de idadismo, é um fenômeno definido como o “estereótipo, preconceito e discriminação em relação a idade”. O idadismo acaba por contribuir para a marginalização e eventual exclusão social dos mais velhos, afetando não apenas os idosos como indivíduos, mas também a formatação de políticas públicas para eles.

Em 2016 a OMS revelou uma preocupação com a discriminação de pessoas mais velhas após observar os resultados de uma pesquisa onde 60% da população mundial considera que os idosos não são respeitados como deveria. Conforme a organização, atitudes negativas em relação às pessoas de idade geram consequências significativas no seu modo de vida, principalmente em sua saúde física e mental. Os idosos que se sentem como um fardo para os outros correm o risco de sofrer depressão e isolamento, de acordo com o relatório do estudo.

Outro estudo da OMS mostrou recententemente que as pessoas com um estado de ânimo negativo vivem em média 7,5 anos a menos do que as que são positivas. Além disso, segundo Levy (2014)2, pessoas mais velhas que enxergam o envelhecimento como positivo têm mais chances de se recuperar de alguma situação de doença e de ter uma melhor qualidade de vida, do que aquelas que acreditam nos estereótipos negativos da velhice.

____________________________________________________________________________ 2 Becca Levy é psicóloga social da Escola de Saúde Pública da Universidade Yale e líder da revisão dos estudos sobre as consequências para a saúde patrocinada pela OMS.

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Assim, os clichês pejorativos sobre o envelhecimento afetam diretamente o padrão de vida dos idosos, podendo desestimulá-los e enfraquecer ações destinadas a essa população.

Portanto, um pensamento ou ação pejorativa em relação à faixa etária de uma população, somado a um estereótipo sobre o território em que ela vive pode ser duplamente negativo. O idoso que mora em uma favela está submetido a um maior número de ações pejorativas do que um idoso que vive no território formal. Além do preconceito com relação a idade, há a questão da ausência de investimentos e de implementação de ações públicas no local. A falta de perspectiva na favela é muito maior para o idoso, pois há uma maior dificuldade tanto para viver, quanto para envelhecer com qualidade neste território. É por essa justificativa que essa pesquisa aborda o contexto do território informal.

No Brasil, nove entre dez pessoas acreditam haver discriminação contra o idoso e seis pensam que essa discriminação é grande. Apesar do significativo número, uma pesquisa divulgada pelo Jornal Folha de São Paulo em 2017 revela que apenas 31% das pessoas que estão acima de 60 anos de idade já experimentaram alguma forma de discriminação. A principal queixa é a do desrespeito: para 12% dos idosos já houve falta de respeito em geral, com apelidos, deboche e xingamentos.

Além disso, os idosos tendem a ser vistos como menos relevantes pelos mais novos, e até como uma ameaça, conforme o Ex-chefe da Delegação do Brasil para Assuntos de Desarmamento e Direitos Humanos, Marcos Castrioto de Azambuja. Ele elenca que as causas disso são: “a evolução tecnológica que cria uma maior dificuldade dos mais velhos em acompanharem as mudanças do cotidiano; a pressão que os idosos causam no sistema previdenciário do país e o aumento do número de idosos, fazendo eles perderem seu prestígio.”

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Segundo Moysés (2017), a questão é que não há um esgotamento da capacidade do idoso, e sim uma readequação dela. O envelhecimento acaba por reduzir certas funções do indivíduo - principalmente as motoras -, mas não o impede de praticar as atividades de um modo mais cauteloso. Assim, as entidades urbanas têm um papel significativo na

possibilidade de inserção social da população acima de 60 anos, promovendo atividades adaptadas que não tirem o protagonismo e a interação anciana, mas sim que a exaltem e a ressignifiquem, assim como afirma Neri (2012, in MOYSÉS, 2017): A promoção da boa qualidade de vida na idade madura excede, entretanto, os limites da responsabilidade pessoal e deve ser vista como um empreendimento de caráter sociocultural. Ou seja, uma velhice satisfatória não é um atributo do indivíduo biológico, psicológico ou social, mas resulta da qualidade da interação entre pessoas em mudança, vivendo numa sociedade em mudanças. (NERI, 2012, p.9 IN MOYSÉS, 2017) Esse papel das entidades, principalmente do poder público, se vê com mais urgência nessas últimas décadas onde se pode notar um significativo envelhecimento populacional mundial - inclusive no Brasil - e a inversão das pirâmides etárias de diversos países desenvolvidos.

Conforme a gerente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), Maria Lúcia Vieira: [...] não só no Brasil, mas no mundo todo vem se observando essa tendência de envelhecimento da população nos últimos anos. Ela decorre tanto do aumento da expectativa de vida pela melhoria nas condições de saúde quanto pela questão da taxa de fecundidade, pois o número médio de filhos por mulher vem caindo. Esse é um fenômeno mundial, não só no Brasil. (PNAD, 2018)

Conforme a pesquisa da PNAD, realizada e divulgada em 2018 pelo IBGE, a população brasileira com 60 anos ou mais cresceu 18% desde 2012, saindo dos 25,4 milhões de idosos e superando a marca dos 30,2 milhões em 2017. Dentre esse número, as mulheres são a maioria, expressando 56% dos idosos e os homens 44%. Inversamente proporcional a isso, a taxa de fecundidade do país vem reduzindo significativamente desde os anos 60, quando era de seis filhos por mulher. Hoje esse número se alterou para 1,57 filhos/mulher (IBGE, 2018) - no mundo essa média é de 2,2.

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Esse crescimento preocupa as autoridades. Apesar de ser um dado positivo que indica a melhoria da saúde no país e a diminuição da taxa de mortalidade, muitos países não estão preparados para receber os idosos da maneira adequada, como afirma Moysés: O crescimento da população mundial acima dos 60 anos ocorreu nos países desenvolvidos de maneira contínua e no geral, acompanhou o crescimento econômico do país, enquanto nos países em desenvolvimento, o crescimento de idosos foi rápido e sem preparação econômica, enfrentando mudanças abruptas nos modelos e papéis familiares, nos padrões de trabalho e na migração. ([...] é possível perceber que o aumento na população mundial total ocorrerá apenas nos países em desenvolvimento.

Estes países enfrentaram e enfrentam a rápida urbanização, mulheres assumindo diversas posições de trabalho formal, famílias com menos filhos, em virtude do retardamento ou da opção da mulher em não ter filhos, além da migração dos mais jovens à procura de emprego (OPAS, 2005 in MOYSÉS, 2017).

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Tabela 1: Países com mais de 10 milhões de habitantes e com maior proporção de pessoas acima de 60 anos

Fonte: OPAS, 2005. Adaptado pela autora

Gráfico 1: Pirâmide etária da população mundial em 2002 e 2025

Fonte: OPAS, 2005. Adaptado pela autora

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Gráfico 2: Crescimento da população acima de 60 anos, em bilhões – Relação países desenvolvidos e em desenvolvimento

Fonte: KALACHE, 2006, p.2 adaptado pela autora

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Como pode ser observado nos gráficos apresentados, a questão da inversão paulatina da pirâmide etária mundial fica evidente. Assim, é preciso permitir que as pessoas envelheçam com qualidade por meio do acesso à saúde, e de políticas públicas eficientes. O envelhecimento não é apenas uma transição, mas sim um processo contínuo marcado por fases nem sempre bem delimitadas, [...] dinâmico e progressivo ao longo do curso da vida em que as funções de diversos órgãos do corpo humano tendem a diminuir (NETTO, 2007IN MOYSES, 2018).

Netto (2007) defende que os fatores extrínsecos como, por exemplo, o estilo de vida, os fatores psicossociais e ambientais influenciam na base genética, nas alterações celulares, funcionais e moleculares de cada indivíduo. [...] dessa forma, que cada processo de envelhecimento humano deve ser levado em consideração de maneira única, respeitando qualquer limitação e 28 características subjetivas de cada indivíduo. Enfatiza-se ainda, que a qualidade de vida na velhice será decorrente de “um processo (adaptação) e não um resultado, meta desenvolvimental, ou estado ideal.3” (IN MOYSES, 2018, p.27)

Entende-se portanto, que é necessário utilizar um conceito diferenciado para qualificar esse processo, como Envelhecimento Ativo.

Envelhecimento ativo é a capacidade de os idosos continuarem participando da sociedade, por meio do envolvimento em questões sociais, econômicas, espirituais, culturais e cívicas. Quanto mais ativos, mais os idosos conseguem superar as dificuldades. Para especialista, o Brasil deveria aproveitar o chamado “bônus demográfico” para estabelecer políticas públicas para sustentar o envelhecimento da população.3

Utilizar esse conceito, portanto, é considerar um processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelheçam (OMS). É com base nesse conceito que se pretende qualificar a vida dos idosos em Paraisópolis, trazendo essa capacidade e autonomia também para o território da favela, contribuindo para um envelhecimento digno, participativo e saudável.

____________________________________________________________________________ 3 Disponível em: https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/REPORTAGEM-ESPECIAL/528095-ENVELHECIMENTO-O-PAPEL-DO-IDOSO-ATIVO-NA-SOCIEDADE-E-NO-MERCADO-DE-TRABALHO-BLOCO-3.html

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O TERRITÓRIO INFORMAL E O IDOSO

A segregação espacial é um fenômeno intrínseco ao crescimento das cidades brasileiras. Ao longo da expansão urbana, a valorização das áreas centrais somada a um mercado imobiliário recente e restrito leva a população mais pobre a buscar alternativas de moradias que não as ditadas pelo mercado formal. Com isso, novas formas de habitar são estabelecidas dentro do perímetro da cidade e, assim começa a se intensificar o fenômeno da periferização e das ocupações informais de territórios, tais como o surgimento dos cortiços e das favelas.

Neste presente capítulo busca-se compreender brevemente a origem do território informal dentro da cidade de São Paulo para, assim, afunilar na área de Paraisópolis. A partir de uma leitura urbana, pretende-se interpretar as questões de seu desenvolvimento como favela, desde sua formação até os principais serviços e políticas que a atendem atualmente. Há também um capítulo destinado a analisar a questão do idoso dentro do território informal, relacionando seu modo de vida e suas dificuldades enfrentadas com o acesso a recursos e serviços básicos e as necessidades e motivações humanas.

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3.1 Uma breve análise sobre a significância das favelas As favelas são resultados do processo de urbanização acelerado no Brasil (BURGOS, 2012), observado principalmente nas grandes cidades. Essa forma alternativa de morar e de viver acaba por romper com os padrões de urbanidade da cidade formal, sendo sua morfologia intrínseca a esse processo. Os terrenos ociosos e sem atratividade para o mercado imobiliário são aproveitados pela população desprovida de poder aquisitivo e concretizam nas favelas a cidade possível, seu lugar de vida; os contrastes se complementam.

No Brasil, por exemplo, a complexidade e a precariedade da configuração física e social destes territórios, por décadas, foram tratadas por meio intervenções parciais do poder público com um olhar limitado e em diversas situações com soluções alternativas implantadas pelos próprios moradores. (RUBIO, 2017)

Apesar dessa relação direta entre território formal e informal, nota-se que o território das favelas apresenta uma complexidade muito maior, visto que sua formação foi paralela ao adensamento urbano tradicional, desacompanhada de investimento e implantação de infraestrutura.

As favelas são ainda mais complexas que as cidades [...], uma vez que [...] estão em constante formação, nunca terminam seu desenvolvimento, não cessam de crescer e, sobretudo, não são tão fixas como as cidades ditas formais, artificiais ou naturais, planejadas ou não. A complexidade espacial das favelas se mescla à de sua temporalidade (JACQUES, 2007).

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Desse modo, Jacques (2007) compara o território informal com o conceito de Rizoma estabelecido por Deleuze (1980) e Guattari (1980). Segundo estes filósofos, o Rizoma constitui uma rede assimétrica, onde não há a ideia de hierarquia. Além da assimetria, o rizoma tem uma forma instável, dinâmica e heterogênea, permitindo sua reconstituição contínua, construindo-se e destruindo-se de acordo com os acontecimentos, e nunca sendo finalizada por completo.

Figura 1: Esquema de um Rizoma

Fonte: https://rizoma.hotglue.me/?es

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Esse processo descontínuo acaba por ser a marca do Rizoma e, logo, da favela. Não existe uma preocupação em se auto definir, visto que não há limites e barreiras que impeçam essa dinâmica. Assim, o território acaba por se desterritorializar, visto que ele não é estático e permite sua constante reinvenção.

Entende-se que essa dinâmica é dada pelas incertezas de se viver em um território informal e efêmero. Jacques acredita que a ruptura estética com a formalidade da cidade acaba por mobilizar a favela, como sendo uma porção independente desse todo, que atua por contra própria, em sua própria temporalidade, apesar de ainda manter certa corelação. É por isso que, muitas vezes, as favelas são associadas como sinônimo de bagunça ou desordem.

Fragmento: para além de qualquer fratura, de qualquer explosão, a paciência de pura impaciência, o pouco a pouco do repentino[...] O fragmentário, mais que a instabilidade (a não-fixação), promete a confusão e desordem. (BLANCHOR, Maurice (1980) in JACQUES, 2007).

Assim, além do rizoma, outro conceito discutido por Jacques (2007) que se associa diretamente com a compreensão do fenômeno das favelas é o do fragmento. Por sua autonomia perante os parâmetros formais e pela ousadia em não se limitar às convenções, permitindo a expansão e harmonização constante, a favela pode ser compreendida como um território fragmentário quase que autossuficiente.

A relação interna do Fragmento com ele mesmo (auto-referência) não faz parte do que podemos ver, e acontece fora de toda a ligação com o exterior. Ou seja, o Fragmento constitui um mundo à parte, um sistema autônomo, difícil de ser captado, mas não totalmente fechado em si: o que o cerca é transponível porque inacabado. Um paradoxo. Entretanto, um fragmento não existe para significar o que quer que seja, mas para se designar a si mesmo e, por meio de seus limites, delimitar o mundo em torno de si (JACQUES, 2007).

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O território informal se permite transcender e desobedecer a formalidade. Essas interpretações filosóficas sobre a favela auxiliam na compreensão do efeito de sua expansão e adensamento nas cidades brasileiras. Pequenas casas implantadas espontaneamente em áreas ociosas e descartadas pelo mercado tornam-se precursoras de um fenômeno simbólico de transgressão e da luta pela moradia digna.

3.2 As favelas na cidade de São Paulo e as políticas públicas Segundo Rubio (2011), assim como no Rio de Janeiro, as favelas em São Paulo foram, durante décadas, encaradas pelo poder público e pela sociedade como um fenômeno social temporário e posteriormente como alvo de remoção, uma vez que, aos olhos do poder público, somente com esta ação essa “problemática” seria solucionada. As primeiras favelas na capital paulista datam da década de 1940. Desde então, as políticas públicas habitacionais se voltaram contra a esse fenômeno, induzindo a um desfavelamento da cidade, com a construção de habitações formais distantes do centro (NABIL, 2002 IN RUBIO, 2011)4, um fato contraditório, visto que a ocupação nas favelas se dá justamente por sua proximidade a centralidades, ao contrário do fenômeno da periferização.

Em São Paulo, diferentemente da cidade do Rio de Janeiro, as primeiras favelas surgiram na década de 1940, a partir da instituição da lei do inquilinato5, que aparentemente defendia o inquilino, mas que incentivou os despejos e a busca por formas alternativas de moradia, nas periferias da cidade, onde predominava o loteamento clandestino da terra e o sistema de autoconstrução nas favelas (RUBIO, 2011).

Até a década de 1930, as iniciativas do governo em relação à política de habitação eram praticamente inexistentes e a produção habitacional em São Paulo se voltava a habitações de aluguel, como cortiços e vilas (CASTILHO, 2013). A produção da moradia operária passou a ser uma atividade exercida pela iniciativa privada, desde que o capitalismo ____________________________________________________________________________ 4 Bonduki (2002) explana sobre a sequência de leis que se inicia em 1942 com o Decreto-Lei 4598 de 20 de agosto de 1942, partindo da lei de 1921, que teve inspiração na legislação Argentina, e que foram sendo renovadas até 1964, mantendo fortes restrições aos aluguéis e aos despejos injustificados. Essa extensa legislação teve efeito contrário o planejado, e, ao que podemos perceber, resultou no aumento das moradias alternativas em favelas.

5 Decreto lei de 1942 que instituiu o congelamento dos valores locativos e regulamentou as relações entre proprietários e inquilinos (BONDUKI, 1993: 719).

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se consolidou no país e houve a criação do mercado de trabalho livre (BONDUKI, 1982). Na época em que o Brasil tinha a escravidão como um dos principais modos de trabalho, os escravos e funcionários costumavam morar juntamente a seus patrões.

Fiel ao liberalismo predominante, o Estado privilegiava a produção privada e recusava a intervenção direta no âmbito da construção de casas para os trabalhadores. Assim, suas iniciativas restringiam-se à repressão às situações mais graves de insalubridade, via legislação sanitária e ação policial, e à concessão de isenções fiscais, que beneficiam basicamente os proprietários de casas de locação, ampliando sua rentabilidade (ROLNIK, 1981 in BONDUKI 1998).

A produção imobiliária tinha seus valores regulados por meio da lei da oferta e da procura, e os cortiços eram um modelo que possibilitava a seus proprietários maximizarem os lucros, visto que se caracterizavam por serem habitações que comportavam uma grande quantidade de famílias em uma área pequena e sem a estrutura necessária, na maioria das vezes em condições insalubres. Freyre (2006) os caracterizava como “habitações imundas […] onde as condições de vida chegavam a ser subumanas”. [...] a existência de excedentes econômicos nas mãos de investidores de diversos portes, a restrita capacidade de aplicação no setor industrial, a expansão e retração cíclica da cafeicultura, a valorização imobiliária e grande demanda por habitações em São Paulo, os incentivos fiscais e a inexistência de controles estatais dos valores dos aluguéis - tudo isso tornou o investimento em moradias de aluguel bastante atraente durante a Primeira República (BONDUKI, 1998).

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A partir da metade do século XX a forma de morar paulistana passa por significativas mudanças e, os cortiços e casas de aluguel deixam de de ser as alternativas habitacionais predominantes para a população de baixa renda. Nessa época, essa população vivia em moradias alugadas, apesar da ideia de loteamentos na periferia já existir. Kowarick (2009, In RUBIO, 2011) comenta que a lei do inquilinato tem um reflexo direto na diminuição da construção de residências para o aluguel, ao mesmo tempo em que acontece um grande número de despejos, atin-

gindo 10% da população paulistana, afinal, com o congelamento dos valores do aluguel, essa prática deixou de ser rentável Para o autor, é um momento de vastos conflitos urbanos e sindicais.

Esse fenômeno habitacional foi intensificado pela onda de industrialização e da valorização das regiões centrais, criando uma espécie de segregação dos setores sociais. A intenção de desobstruir6 o centro somada a modernização da cidade, com a abertura de avenidas previstas no Plano de Avenidas de Prestes Maia (1930), executadas no período em que foi prefeito de São Paulo (1938-1945) gera uma espécie de gentrificação. As famílias despejadas, sem lugar para ir, acabaram por ocupar as áreas remanescentes e aquelas que se encontravam vazias, em sua maioria de propriedade pública.

Para Bonduki (2002, apud FRANÇA, 2009) provavelmente a primeira favela foi a ocupação em 1942 do terreno do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários - IAPI, localizado junto à Avenida do Estado, área central da cidade, recebendo o nome de Várzea do Penteado (RUBIO, 2011). 7

Ainda sem uma política habitacional relevante, nas décadas de 1950 e 1960 as favelas surgiram da mesma forma que aquelas da fase de implementação do Plano Prestes Maia: eram fruto de ocupações nas áreas remanescentes da implantação das obras para reconfiguração do sistema viário e para a retificação do traçado dos Rios Tietê e Tamanduateí.

Segundo Bueno (2000), em 1962 ocorre pela primeira vez na capital paulista a sistematização sobre o problema das favelas, em um trabalho publicado pela Prefeitura Municipal de São Paulo - PMSP. Nesse documento, além da afirmação e do reconhecimento de que as primeiras favelas em São Paulo surgiram no período entre os anos de 1942 e 1945, estavam relatadas as ações realizadas na Favela do Canindé. ____________________________________________________________________________ 6 A palavra “desobstruir” pode ser entendida tanto no sentido físico de “dar espaço”, quanto no sentido pejorativo, de “eliminar para ceder o espaço a um outro alguém”.

7 Isso em São Paulo, porque no Brasil, a primeira favela que se tem registros é a do Morro da Providência, no Rio de Janeiro, tendo sua ocupação iniciada em 1897 em decorrência do fim da Guerra dos Canudos.

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Figura 2:Distribuição da População no país com destaque para RMSP e concentração de assentamentos precários na cidade. Dados: PMSP (2008)

Fonte: FERREIRA, 2014

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No início da década de 1970, dados apontavam para a favelização como um fenômeno crescente, quando aproximadamente 600 mil habitantes moravam em favela8 (PASTERNAK e BÓGUS, 2002 In RUBIO, 2011). As primeiras ações voltadas ao reconhecimento e inclusão desses territórios enquanto parte da cidade ocorrem na década de 1980.

Apesar disso, entre os anos de 1986 e 1989, segundo Rubio (2011) a política de desfavelamento reapareceu na gestão do Prefeito Jânio Quadros, que estava no sentido contrário da história, pois entre o final dos anos 1980 e início da década de 1990 São Paulo, ainda que de forma descontinuada, experimentava-se alguns importantes programas de urbanização de favelas, principalmente pelo aumento exorbitante de sua população9. Além disso, a promulgação da Constituição Federal em 1988 trazia em seu arcabouço uma série de instrumentos de controle do uso e ocupação do solo e a garantia da moradia como direito.

Um trabalho da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas - FIPE indicava que em São Paulo em 1993 existiam 1.544 favelas com aproximadamente 2 milhões de habitantes. Esta pesquisa indicava que a população das favelas havia crescido 15% entre os anos de 1987 e 1993, de 815 mil para 2 milhões de habitantes em seis anos, enquanto a população da cidade formal cresceu 1,7% no mesmo período. (RUBIO, 2011).

O plano de urbanizar as favelas, formulado dentro do Programa de Urbanização de Favelas da Prefeitura na gestão da Prefeita Luiza Erundina, que almejava possibilitar a cessão de terras públicas aos seus moradores, não obteve sucesso devido à forte pressão da sociedade e da mídia, que acusavam a Prefeitura de incentivar e contribuir para a ocupação de áreas próximas aos mananciais (Represa de Guarapiranga e Billings, Zona Sul) (FRANÇA, 2009).

Paulo Maluf (1993-1996), sucessor de Erundina, paralisa todos os programas e obras em andamento da gestão anterior, com a justificativa

____________________________________________________________________________ 8 Segundo Pasternak e Bógus (2002) e Rolnik (2004) esse número chegava a 10% da população total, uma vez que São Paulo tinha 5.929.206 habitantes.

9 Ver ações da Gestão da Prefeita Luiza Erundina (1989-1992) em SANCHES, Debora, Processo Participativo como instrumento de moradia digna: uma avaliação dos projetos da área central de São Paulo (1990 a 2002) . Tese (Doutorado). Programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2015

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de que era preciso uma avaliação sobre a continuidade ou não de cada um deles.

As gestões seguintes à Gestão de Marta Suplicy (2001-2004), José Serra (Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB; 2005-2007) e Gilberto Kassab (Partido Democrata – DEM; 2007-2008 e 2009-2012), de certa forma deram continuidade à política de urbanização de favelas, transformando seus projetos em importantes instrumentos para a promoção da melhoria e da integração destes territórios à cidade. Serra não interviu diretamente na criação de novos programas, mas realizou ajustes contratuais e revisões orçamentárias naqueles que já estavam em andamento. É importante destacar que alguns dos projetos de urbanização elaborados na gestão de Marta Suplicy, também foram modificados, inclusive em seu escopo.

Embora a estrutura da Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB) não tenha sido alterada, alguns projetos e obras ainda em andamento foram paralisados e modificados. O Programa Bairro Legal muda de nome para Projeto de Urbanização de Favelas, sendo inicialmente definida para intervenções a Favela de Paraisópolis, além de mais cinco favelas que receberam obras para a urbanização.

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3.3 Paraisópolis: Leitura e interpretação para intervenções do território Localizada em São Paulo, na região do Morumbi - mais precisamente no distrito Vila Andrade -, Paraisópolis é considerada a maior favela da cidade, com aproximadamente 17 mil domicílios ocupados (PMSP, 2019). Seu número de habitantes é impreciso, podendo variar entre 43 mil (IBGE, 2010), 60 mil (Secretaria Municipal de Habitação - Sehab, 2010) e 100 mil (União de Moradores de Paraisópolis e RADDAR, 2017).

De qualquer forma, a favela apresenta uma alta densidade populacional10. Com uma área superando os 80 ha, sua densidade ultrapassa os 530 habitantes/ha e, se considerarmos os levantamentos realizados pela União de Moradores de Paraisópolis, essa densidade chega aos 1200 habitantes/ha11.

A localização da favela é um dos fatores que mais chama a atenção no aspecto urbano. Inserida dentro de um dos bairros mais ricos de São Paulo, o território de Paraisópolis aparece como uma tentativa de romper com a formalidade e a ordem local existente. Delimitada pelas avenidas Giovanni Gronchi e Av. Hebe Camargo, a favela se apropria de tal modo de sua área que acaba por criar uma dicotomia com seu entorno.

Sua extensão territorial e dinâmica dificultam o tratamento de Paraisópolis como uma favela simplesmente, uma vez que a complexidade da estrutura urbana e a autossuficiência econômica aproximam-na de uma pequena cidade do interior do Estado. Paraisópolis possui 5 setores que podem ser reconhecidos como pequenos bairros dentro da favela (Antonico, Centro, Brejo, Grotinho e Grotão), fragmentos urbanos que apresentam características próprias, contrastando com a dinâmica e com a ordem da cidade formal. ____________________________________________________________________________ 10 A densidade populacional da cidade de São Paulo é em torno de 80 hab/ha.

11 Esses número não consideraram as favelas que estão no entorno e são incluídas pela PMSP ao dito “Complexo Paraisópolis” (Jardim Colombo e Porto Seguro).

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A urbanidade de seu entorno formal acaba por ser encoberta quando comparada com a (des)urbanidade e heterogeneidade de Paraisópolis.

A favela apresenta relações de vizinhança muito mais intensas, sendo um local de extrema vitalidade - do ponto de vista social -, sendo visíveis diversas características muito mais “civilizadas” do que as de suas redondezas, onde as ruas se caracterizam por conter apenas muros e carros. A urbanidade presente na favela é algo único que pode ser pode ser igualado ou até destacado aos níveis de urbanidade da cidade formal.

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Figura 3: Rua vista de cima

Fonte: Arquivo da autora, 2019

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Figura 4: Fachada de residĂŞncia em ParaisĂłpolis

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Fonte: Arquivo da autora, 2019

Figura 5: Crianรงas brincando na rua

Fonte: Arquivo da autora, 2017

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RICARDO JAFFET

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Figura 6: inserção de Paraisópolis | Elaborado pela autora

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Figura 7: Localização de Paraisópolis | Elaborado pela autora

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Desde 1983 a área conta com uma Associação de Moradores, denominada União dos Moradores, cuja eleição de seus representantes acontece a cada dois anos. Funcionando como uma espécie de “prefeitura” da cidade-favela, em 2001 essa organização se uniu com a associação de moradores da favela do Heliópolis a fim de se organizarem e garantirem o direito à cidade a seus moradores.

Do ponto de vista geográfico, a área está inserida na Bacia do Rio Pinheiros, por onde passa diversos corpos d’água. O córrego Antonico é um importante córrego que nasce na favela e atravessa a área do Morumbi até desaguar no rio..

Um dos limites físicos da favela é, justamente, a Av. Giovanni Gronchi, que a separa das mansões do bairro. Apesar de ser servida por muitas linhas de ônibus que conectam Paraisópolis com o restante da cidade, essa via acaba por não ser apropriada nem pelos habitantes da favela, nem pelos moradores da Vila Andrade/Morumbi. Ambas as populações têm medo de andar pela avenida, assim, ela pode ser considerada uma barreira entre esses dois territórios contrastantes, podendo ser tratada como um ecótono12. Uma via sem identidade e de transição, entre duas realidades urbanas e sociais totalmente distintas, onde ninguém ousa invadir, pois é um território que não pertence a nenhum dos lados.

A ocupação da área de Paraisópolis inicia-se em meados do século XX, em 1921, quando foi destinada a implantação de um loteamento pela União Mútua Companhia Construtora e Crédito Popular S.A., em parte da antiga Fazenda do Morumbi (PIZARRO, 2014). Desconsiderando a topografia acidentada, com trechos com mais de 43 metros de declividade, o loteamento foi implantado por meio de uma malha ortogonal com ruas de 10 metros de largura e quadras regulares de 100 x 200 metros. Esta configuração dificulta até hoje qualquer intervenção na área.

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____________________________________________________________________________ 12 Do ponto de vista biológico, Ecótono é o nome dado a uma região de transição entre dois biomas diferentes. A Avenida Giovanni Gronchi, por ser uma via separadora entre o território formal x informal, pode ser tratada como uma área de transição, não ocupada diretamente por nenhuma das duas populações.

Além da dificuldade de ocupação, naquela época a distância da região do Morumbi ao centro da cidade era um ponto negativo para a classe econômica a qual o empreendimento estava destinado. Deste modo, a posse efetiva da área não se concretizou de primeira. [...] A infraestrutura do loteamento não foi completamente instalada e muitos dos compradores dos lotes não tomaram posse efetiva ou pagaram os tributos necessários. A inconclusão e o abandono da área abriram precedentes, portanto, para a ocupação irregular. (PIZARRO, 2014)

Assim, as primeiras ocupações informais do antigo loteamento surgiram na década de 50, quando as terras particulares ociosas passaram a ser utilizadas por famílias de posseiros japoneses que atuavam como grileiros e agropecuaristas no local. Ao longo dos anos, contudo, com a urbanização do bairro e com a vinda de diversos equipamentos - e a necessidade de mão de obra para realizá-los - a área de Paraisópolis foi se adensando e ganhando novas características, paralelamente a ocupação pela elite nos empreendimentos imobiliários que foram implantados na região ao longo dos anos.

O crescimento da cidade de São Paulo no sentido sudoeste e o boom imobiliário na década de 1960 foram fatores essenciais para a ocupação da região do Morumbi. A urbanização realizada pela Companhia do Morumby, com critérios assemelhados aos da Companhia City de loteamentos, baseados no modelo da cidade jardim, desenhou o bairro com a implantação de enormes mansões e áreas verdes, fator essencial para torná-lo atrativo as classes sociais com alto poder aquisitivo.

A inauguração do Estádio de Futebol Cícero Pompeu de Toledo (São Paulo Futebol Clube), a abertura da avenida Giovanni Gronchi, a instalação do Palácio dos Bandeirantes, bem como a vinda de equipamentos como o Colégio Santo Américo e o hospital Albert Einstein intensificaram o interesse pela região.

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Figura 8: Localização e histórico da ocupação da região do Morumbi

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Fonte: MDC, PMSP e Geoportal Memória Paulista

Figura 9: Construção do Estádio Cícero Pompeu de Toledo em1954

Fonte: Autor desconhecido

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A favela de Paraisópolis surge juntamente a essa urbanização do Morumbi e ao contexto de expansão das periferias, mencionado anteriormente. Com o adensamento do bairro e a chegada da infraestrutura nessa mesma década, houve uma grande demanda de mão de obra para a realização das obras locais, incluindo a do estádio do Morumbi. É a partir disso que começa a consolidação do território da favela, instaurada na área antes povoada pelos posseiros japoneses. Agora ocupada majoritariamente por trabalhadores e suas famílias, que não tinham condições de pagar pelo valor da terra, inicia-se um processo de autoconstrução no antigo loteamento.

De acordo com moradores da comunidade, em conversas informais, a ocupação de Paraisópolis teria sido iniciada em meados da década de 60, na quadra delimitada pelas ruas Melchior Giola, Pasquale Gallupi, das Jangadas e Itajubaquara, pelo Seu Caboclo, que veio a São Paulo para a construção do Estádio do Morumbi, e ocupou essa área onde construiu quartos de madeira, locados a demais trabalhadores da região e, a partir daí, começou o processo de ocupação e consolidação da favela. Nesta fase, o acesso a serviços urbanos era precário e, por exemplo, o preço do aluguel para quartos com luz elétrica era o dobro (PIZARRO, 2014).

Nos anos de 1970 e 1980 esse processo de ocupação se intensificou substancialmente por meio do fluxo migratório nordestino na cidade, devido ao aumento das ofertas de emprego no ramo industrial e da construção.

Inicialmente, eles vieram para São Paulo a fim de trabalhar na construção do estádio do São Paulo. Alguns ficaram na região e depois foram trabalhar na indústria da construção civil, que teve um boom nos anos 70- 80.

Aqueles trabalhadores, em sua grande maioria, foram os “recepcionistas” de centenas de parentes e conhecidos do Nordeste, em seus barracos na Paraisópolis. Hoje, grande parte deles são os faxineiros e porteiros dos edifícios que ajudaram a construir, e suas mulheres e filhas trabalham como empregadas domésticas nas centenas de apartamentos que foram edificados na região. (GOHN, 2010)

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Além da questão da imigração, outro fator que potencializou o adensamento de Paraisópolis a partir dos anos 1980-90 foi, justamente, a

remoção de favelas próximas pelo poder público. Isso gerou uma transição entre comunidades, levando uma população significativa a habitar o território já consolidado na Vila Andrade. Desse modo, os novos moradores se instalaram em áreas menos estruturadas da favela como nos bairros do Grotão e do Grotinho, locais de topografia extremamente acidentada e sem infraestrutura urbana, intensificando a situação de risco da área irregular. (PIZARRO, 2014) Assim surgiu Paraisópolis, singular também por ter sido criada a partir da ocupação de um loteamento de classe média. Isso gerou casos pitorescos, ações judiciais e, posteriormente, dificuldades para a regularização das ocupações, pois os proprietários dos terrenos invadidos deixaram de pagar os impostos, já que o poder público não promoveu a desocupação da área, gerando dívidas astronômicas com o fisco municipal. (GOHN, 2010)

A formação e manutenção da favela se deu graças ao esforço e boa vontade de seus moradores, que, em conjunto, decidiram as diretrizes e ações da comunidade e mantiveram suas ocupações - irregulares - intactas. Foi apenas em 2002 que o poder público resolveu se posicionar, considerando a favela no Plano Diretor Municipal de 2002 e estabelecendo um zoneamento que dialogasse com as necessidades da região, pois a lei de zoneamento de 1972, continha vários impeditivos para o desenvolvimento da área. Paraisópolis passou a ser tratada como uma Zona Especial de Interesse Social (ZEI) e o Decreto n° 42.87/2003 de 19/02/2003, atribuiu à Secretaria da Habitação do Município de São Paulo (SEHAB) a elaboração do Plano de Urbanização das ZEIS do Complexo Paraisópolis, dividido em três fases.

O programa prevê melhoria em 174 mil habitações, construção de 21.300 novas habitações e 12.000 famílias recebendo aluguel social. As diretrizes gerais do Programa de Urbanização são o mínimo reassentamento de famílias; prioridade em eliminar áreas de risco; construção de novas unidades de habitação social; construção de novas redes de água e esgoto; melhoria em acessos precários; melhoria da qualidade e quantidade de instalações de lazer; parcerias com outras secretarias municipais, estado e união. Os critérios de priorização são infraestrutura, saúde, áreas de risco e vulnerabilidade. (PIZARRO, 2014) 59

Figura 10: Paraisรณpolis e Morumbi ao fundo Arquivo da autora, 2019

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Em 2006, por meio do Decreto Municipal 47.144/06, foi permitida a doação dos terrenos particulares (abandonados por seus proprietários, onde hoje a favela se insere) em pagamento das dívidas de impostos, possibilitando a implantação de intervenções pela prefeitura na área.

No mesmo ano foi iniciado o projeto de regularização fundiária da favela e sua urbanização; o adensamento de Paraisópolis foi tão significativo que não era mais possível realizar qualquer remoção ou intervenção, senão proceder a regularização dos trechos onde era possível.

Um Conselho Gestor da Urbanização de Paraisópolis, foi instituído ficando responsável por elaborar o plano de obras para transformar, gradativamente, a favela em um bairro popular. “Os próprios moradores passaram a se autodenominar como moradores de uma “comunidade”, e não como de uma favela” (GOHN, 2010, p.273).

Os serviços em execução pelo Projeto Paraisópolis [...] visam [...] integrar o assentamento à cidade formal através da regularização urbanística e fundiária, promovendo o acesso dos moradores à infraestrutura, com inclusão social e melhoria das condições de habitabilidade, saúde e ambiental dos três núcleos Paraisópolis, Jardim Colombo e Porto Seguro. Tem-se, ainda, a canalização de cursos d’água, eliminação das áreas de risco geotécnico com obras de contenção e/ou estabilização de taludes, readequação de domicílios obedecendo ao novo traçado urbanístico, provisão de unidades habitacionais para reassentamento, implantação de áreas verdes e equipamentos públicos (CASTILHO, 2013)

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Grande parte das intervenções deste programa está localizada na borda sul de Paraisópolis, onde havia maior potencial construtivo devido a terrenos vazios que possibilitaram a instalação de equipamentos para o atendimento da população em larga escala. Nessa área, foram implantados inclusive unidades habitacionais, centros de educação e de saúde como a Unidades Básica de Saúde (UBS), a Assistência Médica Ambulatorial (AMA) e o Centro de Apoio Psicossocial (CAPS). A Avenida Hebe Camargo - hoje uma das vias mais importantes da área, onde estão situados grande parte dos equipamentos mencionados acima -, transformou-se na principal frente a favela, onde, além possuir características urbanas da área formal, como calçadas largas, oferece acesso

às linhas de transporte público, atendendo a população que pode se deslocar para várias partes da cidade. Ali também seria implantada a Estação Morumbi da Linha Ouro do monotrilho que foi suspensa, sem previsão de retomada.

Atualmente, o processo de urbanização está na 3ª fase, contudo, alguns projetos de fases passadas ainda não foram concluídos, como o caso da canalização do córrego Antonico. Outros dois projetos realizados em parceria com grandes escritórios de arquitetura - a Escola de Música do Grotão (Urban - Think Tank), e o parque linear ao redor do Córrego do Antonico (MMBB) foram engavetados e as áreas destinadas à sua implantação foram ocupadas por novas habitações. Aqui vale uma crítica a estes projetos que foram elaborados sem a participação da população moradora, e que, apesar de interessantes do ponto de vista estético e teórico, apresentavam-se incompatíveis com a morfologia e o adensamento locais, suscitando inúmeras remoções, inclusive de unidades comerciais.

Por ser um território grande, com visibilidade internacional e estar inserido dentro de uma das regiões mais ricas da cidade, há um grande investimento na área, tanto da parte do poder público quanto de organizações sociais, mesmo que ainda insuficiente para atender toda sua população residente. Atualmente, há na região 42 ações sociais bancadas por empresas privadas, 24 das quais gerenciadas pela União de Moradores13.

Quanto aos equipamentos de educação e saúde, a favela possui cerca de 27 escolas, 7 centros de saúde. Há cerca de 12.000 pontos de comércio, e apenas 1 campo de futebol. O maior destaque deve ser dado ao Centro de Educação Unificada (CEU), equipamento que contempla diversas atividades educacionais e culturais para a população local tanto durante a semana quanto aos finais de semana no horários comercial e alternativo, sendo um dos maiores polos de atividades da favela. ____________________________________________________________________________ 13 Dados retirados da revista VEJA SÃO PAULO de 18 de setembro de 2019, edição nº 2652.

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Em relação à infraestrutura urbana, a favela é bem abastecida quando comparada a outras. Segundo Anderson Pereira, engenheiro da Unidade de Gerenciamento Regional Butantã da SABESP, em 2015, 100% dos domicílios do território eram abastecidos com água potável, 75% tem sistema regularizado e 60% possui rede de esgoto. “A rede de distribuição de energia elétrica, apesar atender toda a área da favela, [...] necessita de requalificação [...]”, pois há inúmeros “gatos” instalados na área que, além do impacto visual negativo, podem resultar em incêndios (PIZARRO, 2014).

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Figura 11:Equipamentos Paraisópolis Fonte: Elaborado pela autora Sem escala

Legenda EQUIPAMENTOS PARA IDOSOS CONJUNTOS HABITACIONAIS EQUIPAMENTOS ESPORTIVOS EQUIP. DE EDUCAÇÃO E CULTURA (JOVENS) EQUIPAMENTOS DE SAÚDE IGREJAS PONTOS DE ÔNIBUS

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Figura 12: Loteamento original x ocupação da área de Paraisópolis

Fonte: SEHAB, 2017

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Figura 13: Histórico de ocupação de Paraisópolis

Fonte: Sehab, 2017

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Figura 14: Histórico de ocupação de Paraisópolis

Fonte: Sehab, 2017

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Figura 15: Histórico de ocupação de Paraisópolis

Fonte: Sehab, 2017

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Figura 16: Histórico de Ocupação de Paraisópolis

Fonte: Sehab, 2017

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Figura 17: Histórico de ocupação de Paraisópolis

Fonte: Google Earth

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Figura 18:Relação de Gabaritos de Paraisópolis e seu entorno

Fonte: Elaborado pela autora Sem escala

DE 1 A 4 PAVIMENTOS DE 5 A 9 PAVIMENTOS 72

DE 10 A 14 PAVIMENTOS ACIMA DE 15 PAVIMENTOS

Figura 19:Mapa Noli Paraisópolis

Fonte: Wagner Rezende | IMAGINEPARAISÓPOLIS Sem escala

Figura 20:Corpos d’água em Paraisópolis Fonte: Elaborado pela autora Sem escala

Em azul escuro se dá o percurso do córrego Antonico.

Ele nasce na área circulada em amarelo e vai descendo em direção ao Caxingui até desaguar no Rio Pinheiros.

Caso haja a cheia de um desses rios, isso influencia diretamente no Antonico e no território da favela.

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3.4 As dificuldades de envelhecer na favela 3.4.1 Equipamentos específicos para Idosos Na proposta inicial do projeto de urbanização do Complexo Paraisópolis divulgada pela PMSP, uma das diretrizes estabelecidas era a criação de um “Pavilhão Social” com “uso a ser definido”. Atualmente, esse pavilhão abriga o “Centro Dia para Idosos”, o único equipamento da favela destinado oficialmente à população acima de 60 anos. O centro conta com uma estrutura composta por cozinha, refeitório, sanitários adaptados, sala de descanso, sala de atendimento e sala para atividades, tais como terapia, dança, pintura e costura.

Apesar de seu programa, a estrutura do Centro Dia não é suficiente para a demanda da favela. O equipamento presta atendimento para 33 idosos de toda a subprefeitura de Campo Limpo e comporta apenas 11 moradores de Paraisópolis. Segundo o “Relatório de análise de ofertas de serviços socioassistenciais” de 201814, o centro possui um déficit de 1.587 vagas15.

Por não ter dimensões que garantam o acesso da maioria da população a seus serviços, o equipamento adota medidas restritivas extremas a fim de garantir o seu funcionamento pleno para, ao menos, os idosos que tem capacidade de atender e para diminuir seu público alvo. Tais medidas consideram apenas o atendimento para idosos acima de 70 anos que vivam sozinhas e/ou cujas famílias não tenham condições de cuidar. Além da estrutura insuficiente, o centro está localizado no bairro do Grotão em um local de difícil acesso devido a sua declividade e a falta de pavimentação.

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____________________________________________________________________________ 14 Realizado pelo Observatório de Políticas Sociais da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da cidade de São Paulo 15 Déficit de vagas calculado pelo número de idosos que são público preferencial, segundo as restrições do programa representados pelo número de pessoas com 60 anos ou mais inscritas no CadÚnico

Figura 21: Inserção do Centro Dia para Idosos, no bairro do Grotão

Fonte: Google Earth

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Figura 22: Centro dia para Idosos de Paraisรณpolis

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Fonte: Arquivo da autora, 2019

Figura 23: Centro dia para Idosos de Paraisรณpolis fotografado em um sรกbado

Fonte: Arquivo da autora, 2019

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Segundo estimativas feitas pela Secretaria Municipal da Saúde e coletadas pela plataforma Tabnet DATASUS16, o distrito da Vila Andrade apresenta 127.105 habitantes, sendo, desse total, 8.408 pessoas acima de 60 anos, ou seja, cerca de 6,6% de sua população. Como já mencionado, segundo estimativas da SEHAB, Paraisópolis contém 60.000 habitantes. Logo, estima-se que a favela tenha cerca de 3.960 idosos17 o que é considerado um valor baixo, visto que os idosos correspondem a cerca de 15% da população paulistana. É possível notar, como mostra o mapa exibido na figura 8, que a maior parte dos equipamentos da favela estão destinados à crianças e jovens.

Há um número relevante de atividades que atendem pessoas de “todas as idades”, porém, ao se tratar de idosos, há apenas o Centro Dia que atende menos de 0,4% do número total dessa população. Apesar da escassez de serviços, há alguns programas sociais realizados pelos próprios moradores a fim de oferecer mais alternativas de lazer/saúde/ cultura para eles.

Um desses programas é a Caminhada dos Idosos do “Grupo Harmonia”, organizado por Neuza Vicente, de 67 anos, agente de saúde de uma das unidades de UBSs de Paraisópolis. Com mais de 150 pessoas cadastradas, todas as manhãs de segunda, quarta e sexta Neuza reúne cerca de 60 pessoas, entre 40 a 80 anos, para realizar uma caminhada e alongamento no campo de futebol da Palmeirinhas. A atividade, contudo, limita-se a 1 hora por dia, visto que o local é disputado entre outros moradores da favela.

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____________________________________________________________________________ 16 Plataforma elaborada com a finalidade de permitir a realização de tabulações rápidas sobre os arquivos que constituem os componentes básicos dos Sistemas de Informações do Sistema Único de Saúde dentro de suas Intranets ou em seus sites Internet. Link de acesso a plataforma: http://tabnet.saude.prefeitura.sp.gov.br/cgi/deftohtm3.exe?secretarias/saude/TABNET/SIMMUL/Tabmul.def 17 Não foram encontrados valores exatos sobre o número de idosos na favela. Vale ressaltar a diferença populacional entre os dados divulgados pelo IBGE, pela União de Moradores e pela Secretaria da Habitação, mencionada no 3º capítulo deste trabalho.

Neuza é uma referência entre os moradores da comunidade. Com sua proatividade, há mais de 16 anos realiza essa caminhada. Para ela, a carência em relação à serviços para idosos na região é grande, e em função disso, ela tomou frente do assunto e está sempre em busca de qualificar as atividades para o público com quem trabalha. Além da caminhada, seu projeto aborda questões de saúde pública e, ocasionalmente, ela se une com profissionais de diversas áreas de atuação para oferecer outras programações para idosos.

A atividade mais recente que foi implantada pelo grupo foi a prática de meditação após as caminhadas, contudo a agente de saúde conta que não foi possível dar continuidade, pois o campinho de futebol não é um lugar onde se possa realizar práticas que necessitam de um grau de concentração maior - visto que, além do barulho externo, muitas vezes suas laterais são usadas como ponto de venda de entorpecentes. Há também a questão das atividades ficarem dependentes das condições climáticas, visto que acontecem em um local aberto. Quando chove, as práticas não ocorrem.

A Caminhada dos Idosos de Neuza recebe o auxílio de mais uma agente da UBS (Ângela) e de sua coordenadora (Andreia). Juntas, elas buscam despertar o senso de pertencimento dos integrantes de seu grupo, promovendo a vida, como elas mesmas definem, e a integridade física de seus alunos. É notória a importância da atividade para seus participantes. Ao perguntar para eles quais os benefícios que a caminhada proporciona, algumas das respostas foram que a atividade é “boa para memória”, “traz alegria”, “é um lugar onde posso me sentir mais nova”, “proporciona amizades”, “possibilita o desabafo”. Ou seja, além da questão física, a simples caminhada acaba trazendo outros aspectos importantes da vida de um cidadão, como a sociabilidade, o acolhimento e promoção da saúde mental.

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Figura 24: Neuza Vicente realizando a Caminhada dos Idosos

Fonte: Arquivo da autora, 2019

Figura 25: Participantes do Grupo Harmonia e autora

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Fonte: Arquivo da autora, 2019

Figura 26: Atividade da Caminhda dos Idosos

Fonte: Arquivo da autora, 2019

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Figura 27: Caminhada dos Idosos Arquivo da autora, 2019

3.4.2 Uma análise sobre aspectos de mortalidade Analisando a baixa oferta do Centro Dia e a falta de uma estrutura adequada para o desenvolvimento deste projeto do grupo Harmonia, sendo estas as únicas ações destinadas a idosos em Paraisópolis, verifica-se a escassez de investimentos públicos à essa camada da população.

Esse descomprometimento social das autoridades pode ser o um dos fatores - senão o principal - que justifica o contraste demográfico quando se compara a população idosa de Paraisópolis com a do seu entorno formal.

Observando os mapas abaixo, nota-se que Paraisópolis apresenta uma alta densidade demográfica, segundo dados do IBGE (2016) 45 Mil Hab./Km2, sendo maior que a favela da Rocinha no Rio de Janeiro (39 Mil hab./Km2), e diferindo do seu entorno, onde há uma concentração muito menor de pessoas por área.

Figura 28: Densidade demográfica e a relação como o número de idosos em Paraisópolis.

DENSIDADE DEMOGRÁFICA (HABITANTES/KM²) IBGE - 2010

PESSOAS RESIDENTES COM 60 ANOS OU MAIS IBGE - 2010

PARAISÓPOLIS

0 – 8119,09 hab/km² 8139,12-18355,83 hab/km²

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PARAISÓPOLIS

18378,48 - 40537,38 hab/km² 40541,37 – 1060218, 98 hab/km²

0-47 moradores 48-95 moradores

Fonte: Sinopse por Setores. IBGE, 2010, adaptado

96-146 moradores 147-261 moradores

Do ponto de vista da população idosa - população residente com mais de 60 anos - quando os territórios são analisados, nota-se o inverso. A população idosa da favela é menor que a do entorno (bairro do Morumbi), tendo uma concentração média de 48 habitantes por quadra, enquanto no seu entorno essa média é de 138.

Essa menor concentração do número de idosos na favela em comparação com a do seu entorno e com sua densidade populacional geral, leva a um questionamento. Analisando o Mapa da Desigualdade realizado em 2018 e publicado em 2019 pela Rede Nossa São Paulo, observa-se que a idade média registrada no momento da morte dos idosos na Vila Andrade18 é uma das menores da capital paulista, sendo de 63 anos e meio. A média da cidade de São Paulo é de 68 anos e meio e, a do distrito vizinho da favela (Morumbi), de 73 e meio.

O bairro com a maior valor é o de Moema, onde essa idade supera os 80 anos e, o com menor, é o da Cidade Tiradentes, onde o valor não ultrapassa os 57 anos. Isso significa que as pessoas de territórios informais e periféricos não têm a mesma qualidade de vida e portanto, de maior longevidade do que aquelas que vivem nas áreas formais da cidade. A população de Moema tende a viver 17 anos a mais que os moradores de Paraisópolis e 23 anos a mais do que os de Cidade Tiradentes.

____________________________________________________________________________ 18 Em relação a dados sobre a idade ao morrer, não há um índice específico referente a Paraisópolis, contudo, como a favela representa cerca de 45% da população da Vila Andrade, pode-se considerar os valores referentes a esse distrito para o comparativo mesmo não sendo tão precisos, visto a que ocorre a mistura de dois extremos sociais.

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Figura 29: Idade média ao morrer na cidade de São Paulo

Fonte: - Mapa da Desigualdade publicado pela Rede Nossa São Paulo, 2019

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Tabela 2: Idade média ao morrer na cidade de São Paulo

Fonte: - Mapa da Desigualdade publicado pela Rede Nossa São Paulo, 2019

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Agora, investigando esses dados de forma mais aprofundada, quais as questões influenciam na diferença de idade entre os idosos do território formal e do informal? Por que há essa inversão demográfica, dentro e fora da favela, visto que Paraisópolis é um território muito mais adensado que o entorno? Quais os fatores que levam a isso?

Em relação à mortalidade, segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal da Saúde coletados pela plataforma Tabnet, doenças isquêmicas do coração foram as principais responsáveis pelas mortes no distrito da Vila Andrade no ano de 2017, seguida de pneumonia. Em pessoas com mais de 55 anos, essa média permaneceu a mesma. Na cidade de São Paulo, nesse mesmo ano, as doenças isquêmicas do coração também lideraram as mortes na cidade, seguida de doenças cerebrovasculares.

Analisando a tabela a de “Óbitos dos Residentes da RMSP por Faixa Etária OMS segundo Causas específicas”19 é possível ver que pessoas acima de 55 anos estão muito mais propensas a fatalidades por doenças, tendo como destaque, além dessas citadas acima, a questão do Mal de Alzheimer, doenças urinárias e doenças respiratórias como bronquite e asma. Outra causa de mortalidade significativa conforme o envelhecimento das pessoas é a questão das quedas, tendo sido a responsável por 1.110 mortes em 2017 na cidade de São Paulo, sendo 11 no distrito da Vila Andrade. O número de mortes por queda, aliás, quadruplicou em todo o estado nos últimos 16 anos. Dados do Bepa (Boletim Epidemiológico Paulista), divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde, indicam que essa já é a terceira principal razão de mortalidade por causas externas, sendo as vítimas mais comuns as com mais de 60 anos.

Os idosos sofrem quedas mesmo dentro de casa, seja pela disposição do mobiliário ou tapetes colocados em lugares de passagem, além

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____________________________________________________________________________ 19 Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM/PRO-AIM – CEInfo –SMS-SP, tabulado pelo Tabnet 20 Disponivel em: http://dx.doi.org/10.1590/1981-22562017020.170080. Acesso em nov. 2019

da perda do equilíbrio natural pelo envelhecimento. No espaço público essa incidência aumenta, uma vez que as calçadas não são adequadas nem mesmo a circulação dos mais jovens. Assim, se na cidade formal as quedas dos idosos são comuns, no território informal a ocorrência deve ser maior, por natureza.20 A incidência e a gravidade das quedas aumentam consideravelmente após a sexta década de vida, triplicando os índices de internação de idosos após os 65 anos. Estima-se que 30% dos idosos com 60 anos que vivem na comunidade cai a cada ano e, destes, metade cai de forma recorrente.

Essa proporção aumenta para 42% em idosos com 70 anos. A prevalência de quedas no Brasil varia de 30% a 38,7%5. Queda é considerada uma das principais causas de lesões e de morte entre os idosos e acarreta uma grande preocupação para a saúde pública. Queda é um evento multifatorial e decorre de fatores intrínsecos e extrínsecos. O primeiro refere-se às alterações fisiológicas decorrentes do envelhecimento e de disfunções sensoriais, neuromusculares, psicocognitivas relacionadas a doenças e condições clínicas, comprometendo o equilíbrio e a marcha (MORAES et al, 2017).

Percebe-se que a região de Paraisópolis não tem valores de mortalidades significativos, pois estão mais ou menos dentro da média da cidade de São Paulo. Em relação a mortes por idosos, em 2017 foram registradas21 550 mortes totais no distrito da Vila Andrade, sendo 320 apenas de pessoas acima de 60 anos (58%). No município, esse número total foi de 76.289, sendo 54.766 o número de óbitos de idosos (72%).

Assim, a Vila Andrade apresenta uma proporção menor de mortes por idosos do que a cidade de São Paulo, provavelmente pelo fato de que não há tantas pessoas que envelhecem na região para suportar esse número.

____________________________________________________________________________ 21 Segundo tabulações realizadas pelo sistema Tabnet em http://www2.datasus.gov. br/DATASUS/index.php?area=02.

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Adentrando no tema de mortalidade por violência, a cidade de São Paulo apresenta um dos menores índices de violência do Brasil22. Segundo dados divulgados pela Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo, em 2017 o município teve cerca de 1.113 casos de homicídio - incluindo por acidente de trânsito. Conforme o 89º Departamento de Polícia Portal Do Morumbi, nesse mesmo ano o índice de homicídios no distrito do Morumbi, que abrange a Vila Andrade, foi 17 (0,015% dos totais de homicídio da cidade), sendo 1 doloso por acidente de trânsito e 7 culposos por acidente de trânsito.

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____________________________________________________________________________ 22 Dados referentes ao Atlas da Violência de 2019, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), disponível em http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/dados-series/20

Tabela 3: Ocorrências policiais registradas por mês no 89º Departamento de Polícia Portal Do Morumbi23

Fonte: Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo, 201824 ____________________________________________________________________________ 23 Legenda da tabela (1) Soma de Roubo - Outros, Roubo de Carga e Roubo a Banco.

(2) Homicídio Doloso inclui Homicídio Doloso por Acidente de Trânsito (3) Nº de Vítimas de Homicídio Doloso inclui Nº de Vítimas de Homicídio Doloso por Acidente de Trânsito (4) Soma de Estupro e Estupro de Vulnerável 24 Disponível em: http://www.ssp.sp.gov.br/estatistica/pesquisa.aspx

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No infográfico abaixo, realizado pelo Jornal Estado de São Paulo durante os anos de 2012 a 2017, é possível ver a espacialização da violência no município paulista. Como justificado no parágrafo anterior, Paraisópolis realmente está inserida em um distrito que não apresenta um significativo número de homicídios quando comparado a outras áreas da cidade. Logo, tentar justificar a mortalidade na favela por meio deste argumento é uma atitude inválida e discriminatória.

Figura 30: Homicídios bairro a bairro referente a cidade de São Paulo

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Fonte: O Estado de São Paulo pelo site https://infograficos.estadao.com.br/cidades/criminalidade-bairro-a-bairro/

Com as análises feitas é possível concluir que a mortalidade por doenças e por violência não é um fator crucial para justificar a tímida presença de idosos na favela. Ainda assim, em relação a equipamentos de saúde, a área não apresenta infraestrutura suficiente. Como citado anteriormente, a favela conta com 7 equipamentos de saúde - 3 CAPSs, 3 UBSs e 1 AMA, com um total de cerca de 72.000 pessoas cadastradas, contudo, sem nenhum pronto socorro para casos de emergência.

Considerando os dados atribuídos no Mapa da Vulnerabilidade entre os anos de 2017 e 2018, a proporção de leitos hospitalares na região é de cerca de 0,31 leitos a cada 1.000 habitantes. A média da cidade de São Paulo é de 2,71 leitos para essa mesma população (mais que 8 vezes maior) e, a do bairro do Morumbi supera os 17,6 leitos (56 vezes maior). O número de UBSs também é cerca de 20% menor que a da cidade, porém maior que a do seu distrito vizinho, onde há cerca de 0,19 UBS para cada 1.000 habitantes.

Em relação ao tempo médio para consultas em clínicas gerais25, a Vila Andrade apresenta uma média de espera de 54,7 dias para a realização de uma consulta na rede pública. A cidade de São Paulo possui uma média de 45,3 dias e, o bairro do Morumbi de 24,8 (mais que metade do tempo esperado pelos moradores da favela).

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____________________________________________________________________________ 25 Tempo médio (em dias) para realizar consulta com clínico geral na rede pública

3.4.3 Necessidades básicas e sua influência na sobrevivência Com os dados apresentados nos itens anteriores, é possível ver que Paraisópolis apresenta índices razoáveis em relação à oferta de equipamentos de saúde, quando comparada a outras favelas, contudo, ainda assim é necessário melhorias no sistema. Quanto aos equipamentos específicos para idosos, é perceptível uma carência, assim como em outros serviços não relacionados diretamente com salubridade.

A Vila Andrade é um dos distritos de São Paulo com um dos menores índices de equipamentos esportivos, como se pode ver na tabela abaixo. Isso é um fator negativo, visto que a favela está inserida em um território íngreme, com diversos obstáculos em seu espaço público, além da escassez de áreas de lazer. Assim, um local específico para promover o fortalecimento do corpo e a integridade física do cidadão é essencial para enfrentar as dificuldades cotidianas.

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Tabela 4: Equipamentos públicos de esporte 26

Fonte: Mapa da Desigualdade publicado pela Rede Nossa São Paulo, 2019

____________________________________________________________________________ 26 Proporção de equipamentos públicos municipais de esportes, para cada dez mil habitantes

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A favela não possui infraestrutura necessária para atender a essas questões físicas, sendo um fator desestimulante para a realização de caminhadas e demais exercícios físicos, afetando diretamente a integridade e qualidade de vida de seus moradores. Na realidade, quando comparada ao território formal, Paraisópolis carece de diversos aspectos substanciais que influenciam essa qualidade.

Nos anos 1960, o professor e psicólogo norte-americano, Abraham Maslow, desenvolveu uma teoria para demonstrar a importância das qualidades positivas nas pessoas e entender as motivações humanas.

Apresentada em forma de pirâmide e chamada de Pirâmide de Maslow - também conhecida como Teoria das Necessidades Humanas - ela separa, de forma hierárquica, as diferentes necessidades fisiológicas que os seres humanos têm.

Tendo sua base o nível com o indispensável primordial e seu topo o nível das necessidades de auto-realização, é preciso que essas primeiras necessidades sejam satisfeitas para se atingir os níveis de necessidades superiores, ou seja, sendo o nível das necessidades fisiológicas a base da pirâmide é fundamental que essas mesmas necessidades sejam satisfeitas para poder passar para o próximo patamar.

Maslow (1954) classifica essas necessidades como: 1- FISIOLOGIA: requisitos básicos para a sobrevivência humana e para a homeostase (fome, sede, sono, sexo, excreção, abrigo); 2- SEGURANÇA: tanto psicológica quanto física, contemplando a segurança dentro de casa, emprego, plano de saúde, seguro vida e estabilidade emocional (segurança pessoal, financeira, saúde e bem-estar); 3- SOCIAL: amor e pertencimento (aceitação, sensação de pertencimento a um grupo social, clube, religião, cultura, membros familiares, colegas, parceiros íntimos);

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4- ESTIMA: respeito, auto-estima, auto-respeito (ser aceito e valorizado, reconhecimento das capacidades pessoais, reconhecimento da capacidade de adequação às funções desempenhadas);

Figura 31: Pirâmide de Maslow

Fonte: DisponĂ­vel em https://blog.opinionbox.com/piramide-de-maslow/ - acessado em nov/2019 e adaptado pela autora

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5- AUTO-REALIZAÇÃO: tornar-se coerente com aquilo que é na realidade, tornar-se tudo o que é capaz de ser.

A organização estabelecida na pirâmide dialoga diretamente com o conceito de hierarquização social. Há a necessidade de superação de um patamar para se atingir um nível superior da pirâmide, contudo, pessoas em situação de vulnerabilidade acabam por encontrar dificuldades até para ultrapassar o nível da básico desses sistema.

Moradores do território formal e com condições financeiras adequadas têm suas necessidades fisiológicas e de segurança garantidas. Assim, é muito mais fácil de se alcançar o nível social, de estima e de realizações, visto que há um embasamento direcionado para isso. Recursos básicos como comida, água, segurança e suporte familiar auxiliam o indivíduo a alavancar sua auto estima e se sentir pertencido a um determinado ambiente, impulsionando seu desenvolvimento pessoal.

Desse modo, os habitantes da favela e da periferia acabam por se desestabilizarem já no segundo patamar descrito por Maslow e enfrentam mais dificuldades para alcançarem a realização plena. Muitos não têm acesso à recursos básicos, não suprindo suas necessidades fisiológicas.

Se não por isso, há a questão de se morar em um local sujeito à violência ou sem a infraestrutura adequada para garantir a segurança de sua casa.

Talvez, no âmbito social essa hierarquia proposta por Maslow (1954) possa ser falha, considerando que territórios informais costumam ser ambientes colaborativos, onde a mobilização e a união de seus moradores garantem a ordem local. As favelas têm dinâmicas e urbanidades inimagináveis por moradores de certos bairros da cidade, tendo um alto grau de sociabilidade e criando um ambiente propício para interações.

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Na pessoa idosa, a dificuldade para atingir os dois últimos níveis da necessidades humanas é mais perceptível. Como visto no capítulo 2, a carência de políticas públicas eficientes para essa população influencia em sua sensação de pertencimento social. Não somente isso, o idadismo e a visão pejorativa que se tem do idoso acabam por prejudicar suas motivações pessoais e fazê-los descrentes do significado e da importância do

seu papel político. As restrições físicas e a possível falta de autonomia que possa vir com o envelhecimento também são fatores desestimulantes.

Com isso, um idoso morador da favela acaba por não se identificar com quase nenhum dos níveis dessa pirâmide de necessidades. Como mencionado Paraisópolis é um território com uma significante infraestrutura. Seu idoso tem acesso a recursos que garantam sua qualidade fisiológica básica e está inserido em um meio que estimula sua sociabilidade, contudo, há uma dificuldade maior em se atingir as metas de segurança, estima e realização pessoal, sendo isso desestimulante para seu envelhecimento saudável.

Embora a Pirâmide de Maslow seja da década de 1960 e a sociedade e suas necessidades tenham se alterado desde então, essa metodologia de análise funciona como uma reflexão sobre como o acesso à recursos básicos podem facilitar o desenvolvimento pessoal das pessoas e a motivarem, contribuindo para uma vida com integridade física e mental. Assim, é importante formular políticas e criar espaços que capacitem e estimulem as pessoas, melhorando desta forma a qualidade de vida e de envelhecimento.

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3.4.4 A qualidade do envelhecimento Como visto, o bem estar das pessoas está atrelada ao alcance de seus diferentes tipos de necessidade. Consequentemente, o processo do envelhecimento é determinado pelas condições de vida de certo indivíduo e dessas suas necessidades superadas. [...] o tempo de envelhecer é iniciado muito antes da própria chegada da velhice, considerando a época em que cada um viveu e as influências que cada qual recebeu de seu próprio território, regiões, espaços, paisagens, culturas e modos individuais de viver. (SANTOS, 2001 IN MIRANDA, 2017)

O processo de envelhecer é subjetivo e amplo, relacionando a dimensão existencial e a própria trajetória de vida de determinado indivíduo por meio de suas experiências. “A velhice é uma realidade vivida por pessoas velhas com suas histórias, com suas vivências de velhos, porém histórias e experiências de vida singulares. Vividas no contexto socioeconômico, cultural e étnico em que cada um está inserido” (DEBERT, 1999).

Seria assim o envelhecimento uma junção de elementos indissociáveis carregados de significados que revelam a vivência de tal pessoa no decorrer do tempo.

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[...] é pensar os efeitos de tal prolongamento iniciado ainda na infância, refletidos na saúde física e mental desses sujeitos atualmente envelhecidos, tais como: a crise de identidade, isolamento social, mudanças de papéis, aposentadoria ou o inverso, participação ativa e eficaz do indivíduo na sociedade, aproveitamento do tempo para lazer com liberdade e a busca de novas vivências para desfrutar desta nova etapa da vida. Tais discussões podem apresentar a experiência de envelhecer como boa ou ruim, ativa ou inativa, de modo que ora estas são vistas negativamente, ora positivamente, conforme os aspectos a que se dá ênfase. [...] pode-se observar uma relação estreita entre a velhice, memória e o espaço social: as lembranças do passado boas ou ruins, a família, os amigos, o trabalho, o ambiente em que viveram, vivem ou cuidam, a circular por recantos desconhecidos, o habitar por novos espaços urbanos ou rurais, as novas ações na comunidade ou até mesmo estar sozinho em algum determinado tempo para

reflexões. Envelhecer [...] é deixar-se invadir pela sinergia e sintonia da vida, é como o sujeito vai delineando a sua própria subjetividade através dos significados e vivências sob diversas formas de experimentar a si mesmo a liberdade e a nova maneira de existir, de se enxergar para o mundo e conviver em sociedade. (MIRANDA, 2017)

Desse modo, vendo as informações apresentadas nos itens anteriores, pode-se afirmar que Paraisópolis comporta um considerável número de serviços que atende seus moradores, mesmo que insuficiente. Os idosos, com isso, podem até ter um suporte, contudo, ao analisar todo o histórico de formação da favela e suas características, percebe-se que alguns fatores desse processo podem ter impacto no envelhecimento menos sadio da população moradora, exposta a fatores que contribuem para seu desgaste físico e mental.

As experiências enfrentadas por seus habitantes ao longo do tempo, além do contexto socioeconômico e político do período de formação da favela, podem ter influenciado diretamente no processo de envelhecimento dos moradores atuais desse território, fazendo eles enfrentarem instabilidades, por vezes não encontradas no envelhecimento na cidade formal. A ausência ou carência de infraestrutura urbana adequada, assim como a condição do território em relação a escassez de áreas verdes, espaços de permanência seguros e calçadas pavimentadas, bem como a configuração topográfica do território, são fatores que implicam na qualidade do envelhecimento e na longevidade dos habitantes do Paraisópolis.

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CENTRO DE ACOLHIMENTO AO IDOSO EM PARAISÓPOLIS

Este capítulo apresenta a síntese material da discussão realizada nesta monografia. Através da interpretação dos dados e dos tópicos abordados, faz-se uma comparação, problematização e transposição dos conceitos e das informações coletadas em propostas arquitetônicas e em estratégias para intervenção na área estudada. Cartografias e referências projetuais auxiliam na estruturação dessas propostas.

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4.1 A importância da microacessibilidade para a qualidade de vida do idoso e sua inserção no território.

Pouco mais de 80 ha de área e um desnível de cerca 60 metros compõem o território de Paraisópolis. As alturas variam conforme o percurso, podendo atingir ou superar 43 metros em linha reta. A alta declividade é um fator marcante e até simbólico de muitas favelas brasileiras, principalmente nas existentes no estado do Rio de Janeiro e Bahia, ocupando as encostas. Na cidade de São Paulo, as favelas apresentam formas pouco distintas, uma vez que muitas ocupam margens de rios, tendo uma topografia mais plana. Paraisópolis, diferentemente, é uma das ocupações que se deu em uma área de fundo de vale, com relevante declividade.

A dificuldade de locomoção dentro da favela é explícita. Apesar da recente urbanização da maior parte da área e do desenho das ruas e calçadas asfaltadas, não é fácil realizar uma caminhada por Paraisópolis sem enfrentar obstáculos de diversas naturezas. Grande parte dos acessos e da área das moradias e das unidades comerciais ocupam o espaço público. A calçada é como uma extensão das edificações, onde as pessoas circulam em meio a escadas privativas, degraus, barracas e bancas de comércio ambulante além de depósito de materiais das mais variadas naturezas, em seu pouco mais de 1,5 metros de largura.

Pela insuficiência da calçada, o leito carroçável se transformou na área comum de todos, onde há a circulação compartilhada de veículos, pessoas e animais, além do comércio. Apesar de não haver uma ordem pré-estabelecida, existe certa organização, visto que os motoristas respeitam os pedestres, sendo possível, então caminhar - mesmo que com alguma dificuldade - nas ruas da favela. Soma-se a esse contexto a configuração topográfica e a ausência de espaços de permanência e de sombreamento nos longos percursos na favela.

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Desse modo, os moradores de Paraisópolis realizam as caminhadas com grande esforço na área. Os pontos de acesso à favela podem ser considerados como grandes barreiras para quem tem alguma dificuldade de locomoção. Tanto pela Avenida Giovanni Gronchi quanto pela Avenida Hebe Camargo - vias do limite da favela e que a conecta com a cidade formal, onde se tem a oferta de transporte público - há a necessidade de vencer ao menos 20 metros de altura para se adentrar ao território.

Qualquer morador é submetido a essa experiência de locomoção na favela, inclusive idosos, portadores de necessidades especiais (PNE) e mulheres grávidas. Para as pessoas que apresentam uma redução e algum comprometimento na sua estrutura corporal, e consequentemente na mobilidade, essa dificuldade é óbviamente ampliada. Deste modo, observa-se a restrição ou impedimento a este público no acesso a certas áreas do território, o que pode ser caracterizado pela negação à liberdade, ao direito de ir e vir do cidadão, além de reduzir sua qualidade de vida, submetendo-o a esforços que podem desgastar e comprometer sua integridade física.

Por esse contexto e, através das abordagens e informações coletadas durantes a realização deste trabalho é que o projeto arquitetônico concretizado durante esse TFG contemplou principalmente questões relacionadas a acessibilidade, a fim de propor soluções que facilitem a locomoção dos moradores de Paraisópolis.

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Foto 31: Acesso das casas

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Fonte: Arquivo da autora, 2019

Foto 32: Leito carroçåvel da rua Melchior Giola

Fonte: Arquivo da autora, 2019

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Foto 33: Cadeirante morador de Paraisรณpolis

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Fonte: Arquivo da autora, 2019

Foto 34: Homem a andar de bengala

Fonte: Arquivo da autora, 2019

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Foto 35: Esquina da rua Rudolf Lotze em dia de feira Fonte: Arquivo da autora, 2017

Foto 36: Casa acima de cรณrrego

Fonte: Arquivo da autora, 2017

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Foto 37: Escadaria de acesso a Paraisรณpolis, na Av. Hebe Camargo

Fonte: Arquivo da autora, 2019

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4.2 Referências de projeto e experimentação Antes da concretização do projeto, alguns estudos foram realizados por meio de referências projetuais e de experimentações a fim de compreender um pouco mais as necessidades da área e seus pontos cruciais para intervir. A concepção de projetos em favelas é uma ação que requer cuidados. É fácil criar propostas que acabem por se assemelhar a padrões da cidade formal, extrapolando a escala local e/ou sendo desconexa de seu entorno. Essa catalogação de referências arquitetônicas serve, assim, como embasamento e como forma de ponderar as possíveis ações a serem realizadas no território de Paraisópolis.

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4.2.1 Walumba Elders Centre Iredale Pedersen Hook Architects | Austrália, 2014 O Walumba Elders Centre é um Centro para Idosos construído para uma comunidade aborígene em Warmun, na Austrália, após a cidade ser devastada por um evento natural. Trabalhando diretamente com os idosos da comunidade, a equipe de arquitetura do Iredale Pedersen Hook projetou um novo lar para os idosos locais, com base em suas necessidades culturais e sociais, além de implantar um Centro de Cuidados a Idosos para fornecer uma variedade de serviços para atendê-los. É tradição da comunidade local os anciões serem os educadores e líderes culturais locais, além de serem os reponsáveis pela transmissão da linguagem local - Gija. Assim, o local de implantação do projeto fora escolhido por sua proximidade a uma escola para crianças e do centro da cidade, para os idosos continuarem repassando seus ensinamentos.

A edificação, contudo, situa-se em uma zona de inundação e, desse modo, fora projetada para estar elevada cerca de 2,4 m do chão, a fim de evitar danos e perigos causados pela enchente.

O edifício se conecta ao chão por meio de passarelas e escadas, além de ter duas alas compridas, assemelhando-se a uma ponte. Os arquitetos justificam a instalação das pontes interpretando-a como um elemento simbólico: “O conceito se relaciona com uma ponte não apenas como infraestrutura física, mas também como uma passagem de conhecimento entre gerações, e como um lugar de cuidado e descanso antes da possibilidade de passar desta existência para a próxima”.

Seu programa inclui, além de atividades para idosos, a integração das novas gerações à comunidade, moradias, contemplando: espaço livre para realização de cerimônias, salas de encontro, sala de descanso, sala de cuidados paliativos, área de fogueira, lavanderia, refeitório.

Vale ressaltar que em alguns ambientes, principalmente os íntimos, há uma separação física para mulher e homem, visto que, pela cultura local, os gêneros não podem se misturar em algumas ocasiões.

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A sensibilidade dos arquitetos ao realizarem esse projeto, refinando-o a fim de atender uma comunidade específica, sem romper com seus valores é o principal fator que o faz ser referência nesse trabalho atual. O valor simbólico do Walumba Centre é essencial para manter a tradição da comunidade local e, mesmo ele sendo um edifício com um programa voltado para idosos, seu uso não é restrito e, como se pode ver nas imagens a seguir, suas áreas comuns aparentam ser ocupadas e bem aproveitadas pelos moradores locais. A materialidade utilizando madeira - material local -, e a forma do projeto, apresentando-se em formato de abraço, acolhedor, ajudam a realçar esse simbolismo e sua relação com o entorno. O projeto celebra a vernaculidade e a identidade do território.

Fonte: Arquivo da autora, 2019

Figura 38: Walumba Elders Centre

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Disponível em: https://www.archdaily.com/625274/walumba-elders-centre-iredale-pedersen-hook-architects. Acessado em 10 mai. 2019

Figura 39: Implantação do Walumba Elders Centre

Disponível em: https://www.archdaily.com/625274/walumba-elders-centre-iredale-pedersen-hook-architects. Acessado em 10 mai. 2019

Figura 40: Apropriação das áreas comuns do edifício

Disponível em: https://www.archdaily.com/625274/walumba-elders-centre-iredale-pedersen-hook-architects. Acessado em 10 mai. 2019

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4.2.2 Comuna 13, Medelín Medelín, Colômbia, 2014 À partir anos 2000, com a inserção do Plano Urbano Integrado (PUI) de Medelin, cidade que até alguns anos atrás era considerada a mais violenta do mundo, a gestão do município procurou articular ações municipais para seu território e suas comunas (distritos), a fim de qualificá-las e amenizar os conflitos locais e reduzir suas dívidas sociais. Essas ações contavam com a promoção de espaços públicos, equipamentos educativos e culturais e programas habitacionais de melhoramento e construção de novas unidades, estruturando-as a partir da mobilidade e do meio ambiente – dimensão física – reduzindo seus impactos nocivos.

O trabalho de estruturação fora proposto a fim de integrar a comunidade e seus diferentes atores, contemplando a dimensão social e institucional, distribuindo a responsabilidade acerca de sua população e definindo papéis de gestão que terminam por potencializar os efeitos planejados. O foco se deu em regiões abandonadas historicamente pelo Estado, onde se tinha os piores índices de IDH do país - a cidade consta com um número significativo de favelas - e teve como maior sucesso as intervenções realizadas na Comuna 13.

Desse modo, a gestão municipal e os moradores da Comuna remodelaram seu espaço físico, implementando parques, praças e equipamentos culturais e esportivos, contudo, o ponto crucial do projeto- que talvez tenha sido o ponto de referência de Medelín hoje em dia - foi seu investimento em infraestrutura de mobilidade. Escadas rolantes substituíram cerca de 360 degraus existentes na Comuna, vencendo cerca de 61 metros de declividade. Além das escadas, houve a inserção do metrocable (teleférico) com mais de 2 km de extensão, que conecta comunidades e possibilita sua interação.

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O sistema de transposição inclui dois edifícios localizados nas extremidades da Comuna. Estes edifícios funcionam não apenas como edifícios “pontes”, com a finalidade de vencer alturas, mas também como pontos de encontro e de interação social. Abrigam espaços de caráter

comunitário, para diferentes atividades de lazer, institucionais e administrativas, além da área técnica, onde as escadas rolantes são operadas. As escadas rolantes são feitas de aço e seus degraus de uma carcaça de alumínio. Os acabamentos são em aço inoxidável, possibilitando exposição a intempéries.

As ações propostas seguiram o modelo de Acupuntura Urbana, intervenções pontuais em larga escala (da macro para a micro) a fim de requalificar o território e trazer mudanças físicas e sociais à favela. A interpretação do todo para intervir em pontos específicos, respeitando as interações e dinâmica do território, é um fator adotado como referência do projeto de Medelin. A leitura cautelosa da área possibilitou modificações de sucesso.

A Comuna13 tem 74km² de área e cerca de 139 mil habitantes. Paraisópolis é mais densa, contemplando cerca de 100 mil habitantes em uma área de aproximadamente 1km². Assim como Medelín, o território informal paulistano apresenta significativa inclinação, chegando a 30%.

Pelas semelhanças topográficas, habitacionais e sociais, percebe-se que as medidas adotadas para a Comuna 13 são plausíveis para Paraisópolis. A leitura do território e sua intervenção através da acupuntura urbana, a implantação de equipamentos para atender a população e a instalação de transposição segura que reduza os impactos topográficos locais são soluções inteligentes e moderadas, que podem ser implementadas sem trazer grandes impactos morfológicos no território, qualificando-o.

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Figura 41: Cores e intervenções lúdicas na Comuna 13

Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/877886/todo-grande-espaco-publico-deve-ser-adequado-as-criancas. Acessado em 17 out. 2019

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Figura 42: Escadas rolantes e concepção de espaços públicos em Medelin

Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/877886/todo-grande-espaco-publico-deve-ser-adequado-as-criancas. Acessado em 17 out. 2019

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4.2.3 Complexo Elevador Rubem Braga JBMC Arquitetos | Cantagalo, Rio de Janeiro, Brasil, 2010 O Elevador Rubem Braga, no morro do Cantagalo no Rio de Janeiro, representa uma boa solução a respeito da acessibilidade em favelas de encosta. Diferentemente do Teleférico implantado no Complexo do Alemão, o projeto é mais simples, porém útil, viabilizando os acessos à favela a seus 27 mil moradores, e não a turistas.

A estrutura do Rubem Braga funciona como uma espécie de edifício ponte que integra a comunidade do Cantagalo a cidade formal, tanto de forma física, quanto simbólica - por facilitar esse contato e permitir essa mesclagem. Composta por dois elevadores panorâmicos, o edifício faz essa conexão da favela com a estação de metrô General Osório e com um Poupatempo.

A proposta de conceber um elevador com passarela - como será mostrado mais adiante-, na entrada de Paraisópolis, fora inspirado nesse complexo, visto que tem o mesmo propósito de viabilizar e reduzir o impacto e o tempo de quem pretende acessar o íngreme local. Outro ponto interessante do projeto do JBMC Arquitetos é sua preocupação com a estabilidade da encosta e a preservação da composição da favela. O projeto contemplou reforços da encosta através de muros de contenção e um estudo refinado a fim de realocar o número mínimo de moradores.

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Figura 43: Relação do complexo com seu entorno

Disponível em: http://jbmc.com.br/projetos/elevador-rubem-braga/. Acessado em 20 out. 2019

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Figura 44: Corte do elevador e da estação de metrô

Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-15452/complexo-elevador-rubem-braga-jbmc/ corte-14/. Acessado em 20 out.

2019

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4.2.3 Urbanização do Córrego Antonico MMBB | Paraisópolis, São Paulo, Brasil, 2010 Como já mencionado antes, o escritório paulistano MMBB realizou um projeto na área de Paraisópolis, intervindo no Córrego Antonico. Apesar de sua escala se estender ao longo de todo o percurso do córrego, podendo ser um pouco agressiva, a solução adotada pelos arquitetos para diminuir o impacto das enchentes e qualificar as moradias e espaços públicos da favela é totalmente aplicável e se relaciona com a temática estudada.

O projeto do MMBB visa requalificar o córrego do Antonico e conceber uma nova relação entre a favela e as águas, a fim de criar uma centralidade linear que seja composta por uma sucessão de espaços privados e públicos, abertos a inúmeras possibilidades de resignificação por parte da população.

Além do caráter social, pretende-se reconceituar o modelo de sistema de drenagem a fim de distinguir os fluxos da água entre o de base (transporte da água do lençol freático) e o pluvial. A superfície do canal contém apenas o escoamento de base, acrescido de vazões de cheia controladas e compatíveis com a densidade do tecido urbano. O fluxo das grandes chuvas (pluvial) é direcionado para uma galeria extravasora.

Além do sistema de drenagem, há a concepção de uma faixa livre de largura mínima de 10 m, obtida através da remoção de 698 unidades, ao redor do curso d’água. Assim, o córrego, uma vez adaptado, se configura em uma das principais estruturas locais, potencializado por dinâmicas de uso que o protege de futuras ocupações em sua margem e de enchentes.

A presença da água e a vontade de solucionar a ausência de significativos espaços de lazer na favela a partir do córrego fazem esse projeto ser interessante e aplicável aos estudos apresentados.

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Figura 45: Urbanidade proposta

Disponível em: http://www.mmbb.com.br/projects/details/68/27. Acessado em 04 nov. 2019

Figura 46: Esquema da contenção proposta para o córrego

Disponível em: http://www.mmbb.com.br/projects/details/68/27. Acessado em 04 nov. 2019

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4.3 Projetos de intervenção Tomando como base as abordagens feitas neste presente trabalho e as referências projetuais apresentadas é que o projeto arquitetônico para a área de Paraisópolis se consolidou. Foram adotadas duas escalas de intervenção no território a fim de propor ações pontuais ao longo de um percurso na favela (masterplan) e de conceber um equipamento específico destinada a população idosa local.

A área escolhida para atuação foi a rua Melchior Giola. Sendo uma das principais vias de Paraisópolis, a rua atravessa todo seu território, iniciando-se no extremo da favela com a Av. Hebe Camargo e terminando na Av. Giovanni Gronchi. Por acolher diferentes atividades, como comércio, serviço, residências e equipamentos de saúde e culturais, a Melchior Giola apresenta um grande fluxo de pedestres e automóveis.

Além disso, por ela é que se dá o principal acesso para o Campo de futebol Palmeirinha, através de uma viela que os conecta.

A grande movimentação da via impacta na dificuldade de percorrê-la.

Lotes, comércios e materiais acabam por ocupar sua calçada, restando apenas o espaço de seu leito carroçável - de aproximadamente 6 metros - para se caminhar. A declividade do percurso também não facilita, tendo uma diferença entre pontos que pode ultrapassar os 45 metros de altura.

Outro fator a destacar é a falta de espaços públicos na área. Não há pontos de permanência. A rua é o espaço em comum de todos, não havendo um refúgio qualificado para permitir os moradores locais de usufruírem de uma pausa.

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Com a leitura e interpretação do território, 5 diretrizes foram adotadas para o tratamento das intervenções na área a fim de conceber projetos alinhados, que dialoguem uns com os outros e preservem e respeitem a dinâmica local: Permanência, transição, transposição, pertencimento e ecótono.

PERMANÊNCIA | Criação de espaços públicos para conceber uma área de respiros e lazer ao ar livre em Paraisópolis

Figura 47 | Fonte: Elaborado pela autora, 2019

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TRANSIÇÃO | Concepção de intervenções pontuais (acupuntura urbana) ao longo de trajetos da população a fim de qualificá-los criando pequenas pausas para as caminhadas e trazendo mobiliários urbanos para a favela

Figura 48 | Fonte: Elaborado pela autora, 2019

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TRANSPOSIÇÃO | Trabalhar a conexão entre diferentes cotas de níveis no território a fim de facilitar a transposição vertical da população e amenizar possíveis desgates físicos. Declinação em Paraisópolis chega a 35%

Figura 49 | Fonte: Elaborado pela autora, 2019

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PERTENCIMENTO | Conceber um projeto que se comunique com o entorno. Levar em conta a morfologia e cultura da favela. Respeitar opiniões e não executar algo que se sobressaia do contexto de inserção

Figura 50 | Fonte: Elaborado pela autora, 2019

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ECร TONO | Diagrama ilustrando os dois territรณrios distintos (favela x territรณrio formal), tendo a Giovanni Gronchi como meio conector intermediรกrio

Figura 51 | Fonte: Elaborado pela autora, 2019

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Considerando as diretrizes apresentadas e as dificuldades discutidas é que o masterplan fora realizado. Através de pequenos projetos que com alguma comunicação entre si, tanto na estética quanto na funcionalidade, foi proposto, ao longo do percurso da Melchior Giola, a estruturação de uma rota acessível, contemplando pequenas pausas a fim de qualificar a caminhada de quem transita alí. Assim, tem-se a concepção de: - Uma área de apoio para o Campo da Palmirinha - local frequentado por todos da favela e que, inclusive tem atividades destinadas aos idosos 3x por semana -, contendo uma cobertura, sanitários e uma cantina.

Vale ressaltar que a conexão do campo com a via Melchior Giola se dá por uma viela. Os moradores reclamam que a noite o local é utilizado para venda de entorpecentes, tornando-o perigoso. Assim, essa área projetada visa, não somente conceber um apoio para o campinho, mas também criar uma permeabilidade visual, permitindo tanto uma abertura visual para as pessoas da rua verem as partidas esportivas que lá ocorrem, quanto para garantir maior segurança - Olhos da Rua (JACOBS, 2014); - Uma pequena galeria comercial com uma praça em sua cobertura que auxilia na transposição das cotas das ruas e cria áreas de permanência. Além da instalação de comércios voltados para as vias, o projeto conta com sanitários e bebedouros para dar suporte a quem transita na área; - Um edifício habitacional em um terreno ocioso próximo da Av. Giovanni Gronchi, a fim de realocar as pessoas que serão removidas de suas casas. Além de uso por moradias, seu térreo funciona como um

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conector da favela com o território formal, contemplando escadas rolantes e pontos de parada para facilitar a chegada/saída de quem utiliza a Giovanni Gronchi no dia a dia.

- Um elevador com uma passarela, funcionando como uma espécie de edifício ponte, para transpor os 23 metros entre a Av. Hebe Camargo e o território de Paraisópolis.

Visto a dificuldade do idoso em manter uma qualidade de vida nos territórios informais e a falta de atenção à essa população, atrelando também seu importante papel tanto na economia quanto na estrutura familiar, tem-se também a necessidade de oferecer um qualificador para sua situação nas favelas. Permitir sua locomoção pela área de Paraisópolis de forma segura já lhes reforça e garante uma certa liberdade e autonomia, além de auxiliar nas questões de integridade física.

A implantação de um equipamento seria como um intensificador do objeto de projeto, a fim de, além de desenvolver rotas e espaços de fluxo seguro para essa população, também criar áreas de permanência que atendam suas necessidades, propicie seu entretenimento e, principalmente, sirva como elemento de extrema significância e simbolismo para a terceira idade, tendo ela um espaço pensado especialmente para seu uso. Com isso, a outra etapa projetual desenvolvida fora a criação de um Centro de Acolhimento para Idosos, que se soma e completa as micro intervenções apresentadas anteriormente.

Figura 52: Corte da área de Paraisópolis - sem escala | Fonte: Elaborado pela autora, 2019

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AV. GIOVANNI GRONCHI

CENTRO PARA IDOSOS RESIDENCIAL + TRANSPOSIÇÃO

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AV. HEBE CAMARGO

Figura 53: Masterplan para a área da Melchior Giola - sem escala | Fonte: Elaborado pela autora, 2019

GALERIA COMERCIAL + PRAÇA

ELEVADOR + PASSARELA CONEXÃO AV. HEBE CAMARGO

2,75m 30m

SUPORTE/LARGO PARA CAMPO PALMEIRINHA

3,5 m

2,75m 1:250

0

50

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT

BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

O esquema acima representa uma proposta para a ampliação e a qualificação das calçadas na favela.

Primeiro se mapeia todas as construções que estão invadindo a calçada e faz-se a sugestão para que seus proprietários as regularizem, tirando-as dali. Mesmo com isso, a largura da calçada da favela ainda não é suficiente.

Assim, se propõe a redução do leito carroçável para uma faixa de carro com 3,5 de largura e a ampliação de 1,25m de cada lado da calçada, totalizando 2,75m de calçada, além da concepção de espaços de permanência, áreas de sombreamento e bebedouros para auxiliar os transeuntes locais.

4.3.2 Memorial de Projeto DADOS DO PROJETO: Área construída: 4.089,4 m² Área do terreno: 7008,28m² Área verde: 2.363,37m² - 33,72% Projeção projeto no térreo: 2.421,5m² Taxa de Ocupação: 34,5% Coeficiente de Aproveitamento: 0,58

As soluções adotadas para o Masterplan foram propostas preliminares a serem desenvolvidas de forma mais cautelosa posteriormente. O projeto do Centro de Acolhimento ao Idoso, no caso, fora trabalhado de modo minucioso pela facilidade de sua escala e, assim, atua de forma complementar às micro intervenções pensadas no plano urbano.

O terreno escolhido para a realização do projeto está também situado na via Melchior Giola, dentro do bairro do Antonico, em uma Zona de Interesse Social 1 (ZEI 1). Analisando a Figura 11, referente aos mapas de equipamentos de Paraisópolis, é possível perceber que a maioria dos serviços concentram-se entre o Centro e o Grotão; já o Antonico carece de atividades. Além disso, a região apresenta uma topografia acidentada, está situada próxima da Giovanni Gronchi - um dos principais corredores de acesso à favela (fluxo de ônibus e conexão com a cidade formal) e é onde há a nascente do córrego Antonico (um importante fluxo de água que desemboca no Rio Pinheiros), sendo um fator interessante para se trabalhar com.

Figura 54: Zoneamento da área - ZEI 1

Fonte: Geosampa

Figura 55: Vista aérea da área de intervenção e do terreno a ser utilizado para o projeto do Centro de Acolhimento para Idosos - a densa área verde é inconfundível.

Fonte: Google Earth, 2019

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Em um terreno de aproximadamente 7.000 m², o projeto do Centro para Idosos se instaura em uma área privilegiado na favela. Nela há uma significativa área verde preservada - uma das poucas ainda restantes em Paraisópolis - e, além da vegetação, conta também com a nascente de um afluente do córrego Antonico, sendo um fator que qualifica o conforto térmico local.

Busca-se, como um dos partidos adotados, preservar a vegetação existente e construir a edificação a pelo menos 20 metros da nascente do córrego. Além disso, a questão das remoções foi pensada de forma cautelosa, para averiguar a real necessidade delas. A favela é um território quase por completo artesanal e vernacular. Seus moradores utilizam do que têm a disposição para, eles mesmos, construírem suas moradias sendo que muitas duram até o resto de suas vidas. Assim, há um grande valor sensível e de memória em qualquer residência de Paraisópolis. A autoconstrução é simbólica, contudo, a memória e o simbolismo não garantem a qualidade plena do território, sendo necessário realizar certas mudanças a fim de aperfeiçoá-lo e permitir avanços.

Atualmente o terreno está ocupado por cinco residências e uma garagem destinada a elas. Em seu fundo, dizem morar um dos primeiros habitantes de Paraisópolis, que também é o proprietário do lote e dos imóveis ali concebidos. Para a instauração do projeto há a necessidade da remoção e realocação desses moradores do terreno e dos de seus lotes lindeiros, totalizando 14 famílias removidas.

Desse modo, o Centro de Acolhimento para Idosos se estrutura no terreno apresentado, da Rua Melchior Giola. A fim de facilitar a transposição de quem o frequenta e garantir uma maior conectividade com o território, o equipamento consta com dois acessos (o pela Melchior e o pela sua via traseira - Herbert Spencer).

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Seu programa consta com atividades de lazer, cultura e saúde para idosos, contemplando biblioteca, sala multimídia, atendimento psicológico, ambulatório, auditórios, refeitório, academia, sala de jogos com boccia, sala de yoga, sala de ginástica, sala de dança, quadra poliesportiva, sala de música, salas de aula, karaokê, além das áreas de serviço e administrativas.

O projeto fora pensado com uma estrutura de concreto moldado in loco por sua facilidade logística, contudo, há uma treliça metálica no projeto (pré moldada), sendo um dos poucos elementos construtivos que devem ser transportados até a obra. A modulação estrutural é de 8,00 x 6,00 m.

A materialidade utilizada nas fachadas é o vidro, elementos vazados e alvenaria, com a intenção de dialogar com as edificações já instaladas na favela e propiciar o conforto térmico ideal. As divisões internas foram realizadas com placas cimentícias, Há ainda um fechamento retrátil na região do auditório (arquibancada) para possibilitar diferentes usos do local, podendo contemplar atividades abertas ou privadas.

Outro partido adotado foi a utilização de meios de transposição como protagonista do edifício. Assim, há uma rampa que passa ao lado da arquibancada desenvolvida, sendo não apenas um elemento para vencer alturas, mas também um palco, que pode ser visto e apreciado de fora, celebrando a importância da microacessibilidade local.

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4.3.4 Experimentação A escolha da área para o desenvolvimento deste trabalho foi feita justamente analisando os aspectos de topografia, densidade e conforto térmico local. Além da questão da nascente, o terreno da Melchior Giola apresenta uma vasta vegetação nativa preservada, sendo importante para a estruturação do projeto na área (os benefícios da vegetação/ córrego são pontos qualificadores, ainda mais para o público que se pretende trabalhar).

Com o avanço da idade, o sistema de regulação térmica do organismo humano começa a falhar (VOGELAERE; PEREIRA, 2005). Desse modo, o corpo não é capaz de realizar procedimentos para controle da desidratação, em altas temperaturas, ou de manter o corpo aquecido, quando está frio. Essa falha do sistema termorregulador pode ser perigosa, visto que o corpo não responde a estímulos externos, podendo expor o indivíduo a riscos a sua saúde.

Considerando a sensibilidade e o risco do idoso a exposição de intempéries, esse trabalho de Experimentação visa justamente estudar o conforto térmico da área e comprovar a eficiência da vegetação do terreno utilizado para a implantação do Centro para Idosos em meio a aridez da favela. Além disso, pretende-se identificar pontos que podem ser melhorados ao longo do percurso da Melchior Giola por meio de intervenções.

O seguinte experimentado fora realizado durante dois dias, no percurso estabelecido da Melchior Giola. Com o auxílio de equipamentos, foram coletados dados da temperatura e da umidade do ar referente a alguns pontos da via, a fim de compreender quais as áreas têm maior temperatura e porquê. Além disso, dois tipos de superfícies (asfalto e alvenaria) foram fotografadas com a câmera térmica ao longo dessa caminhada para identificar o diferente comportamento delas ao longo da exposição solar.

142

Um mapa de gabaritos foi realizado como suporte para tentar compreender se há algum impacto da altura dos edifícios na questão do conforto ambiental local.

Equipamentos utilizados para o experimento: Termohigrômetro digital e câmera térmica FLIR. Também houve o acesso a websites de meteorologia para consulta climática e a realização do índice de Fator de Visão do Céu através da plataforma online Andrew Marsh.

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Temp: 20,2ºC Umid: 69% Temp: 20,5C Umid: 68%

Medição realizada em 14/09/2019 Registros no site Accuweather mostram que a máxima esse dia foi de 25 graus e a mínima de 17.

Temp: 20ºC Umid: 73

Temp: 20,9ºC Temp: 23,7ºC Temp: 21,7ºC Umid: 67% Umid: 66% Umid: 61%

Temp: 34,4ºC Umid: 30%

T U

Temp.máx. registrada in loco: 26,7ºC Temp. mín. registrada in loco: 20ºC Umidade máx. registrada in loco: 73% Umidade mín. registrada in loco: 56% VARIAÇÃO TEMPERATURA: 6,7ºC VARIAÇÃO UMIDADE: 17%

Temp: 25ºC Umid: 62%

Temp: 24ºC Umid: 66%

Temp: 26,7ºC Umid: 57%

Temp: 26,3ºC Umid: 56%

Figura 56 - Temperaturas coletadas em Paraisópolis no dia 14/09/2019 | Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Temp. máx. registrada in loco: 45,5ºC Temp. mín. registrada in loco: 32,5ºC Umidade máx. registrada in loco: 33%

Temp: 34,4ºC Umid: 30% Temp: 38C Umid: 24%

Medição realizada em 03/11/2019 Registros no site Accuweather mostram que a máxima esse dia foi de 36 graus e a mínima de 20.

Temp: 32,5ºC Umid: 33%

Temp: 41ºC Umid: 23%

Temp: 43,8ºC Temp: 41,5ºC Umid: 21% Umid: 21%

T U

Temp. máx. registrada in loco: 45,5ºC Temp. mín. registrada in loco: 32,5ºC Umidade máx. registrada in loco: 33% Umidade mín. registrada in loco: 20% VARIAÇÃO TEMPERATURA: 13ºC VARIAÇÃO UMIDADE: 13%

Temp: 38ºC Umid: 23% VIELA

Temp: 44ºC Temp: 45,9ºC Umid: 21% Umid: 21%

Temp: 39,9ºC Umid: 23%

Temp: 46,5ºC Umid: 20%

Figura 57 - Temperaturas coletadas em Paraisópolis no dia 14/09/2019 | Fonte: Elaborado pela autora, 2019

6

5

2 148

4

MAPA GABARITO Um pavimento (até 5 metros) Dois pavimentos (De 6 a 9 metros) Três pavimentos (de 9 a 11 metros) Quatro pavimentos (de 12 a 15 m)

3

2

1

Figura 3 58 - Altura das edificações ao longo do trajeto da Melchior Giola a e pontos da visão seriada feita para realização das medições com a câmera térmica e com a ferramente Andrew Marsh Fonte: Elaborado pela autora, 2019

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Gráfico 3 - Fator de visão do céu dos pontos demarcados no mapa anterior e fotografias das superfícies asfalto e alvenaria realizadas com a câmera térmica em diferentes pontos do percurso Fonte: Elaborado pela autora, 2019

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1

2

Medição da temperatura do asfalto (57,4 ºC) e da alvenaria (36,6ºC) no ponto 1, onde há uma variação de gabaritos e é um ponto relativamente alto da favela.

A temperatura demarcada nesse ponto foi a mais alta, chegando aos 46,5ºC.

Medição da tem onde há predom da favela(cota 7 A sensação térm proximidade com um corredor, au

4

5

Medição da temperatura do asfalto (55,9 ºC) e da alvenaria (32,2 ºC) no ponto 4, onde há predominancia de gabaritos com mais de 3 pavimentos e é um ponto relativamente alto da favela. Nessa área estava acontecendo um churrasquinho de rua, que pode ter contribuido para a elevada temperatura demarcada (44ºC)

Medição da tem onde há predom (795m). Nessa á venaria -, contud sicao solar direta quando compara

2

5

5

4

4 3

2

Medição da temperatura dotemperatura asfalto (60,6do ºC)asfalto e da alvenaria no ponto 2, Medição da (60,6 ºC) (33,2ºC) e da alvenaria (33,2ºC) no ponto 2, onde há predominancia de gabaritos mais baixos e émais um ponto onde há predominancia de gabaritos baixosrelativamente e é um pontoalto relativamente alto da favela(cota 797). da favela(cota 797).

A sensação térmica desse ponto pode serponto considerada mais amena devido sua devido a sua A sensação térmica desse pode ser considerada mais aamena proximidade com o campinho de ofutebol (gramado) e por(gramado) ser conectado elaconectado por proximidade com campinho de futebol e por aser a ela por um corredor, aumentando a velocidade dos ventos na área um corredor, aumentando a velocidade dos ventos na área

5

Medição da temperatura Medição da dotemperatura asfalto (62,4do ºC)asfalto e da alvenaria (62,4 ºC) (31,4ºC) e da alvenaria no ponto (31,4ºC) 5, no ponto 5, nde há predominancia onde há predominancia de gabaritos mais de gabaritos baixos e émais um ponto baixosmediano e é um ponto na favela mediano na favela 795m). Nessa área (795m). havia Nessa um terreno área havia comum certa terreno vegetação com certa - o que vegetação se mediu - oaque al- se mediu a alenaria -, contudo venaria o asfalto -, contudo foi um odos asfalto maisfoi quentes um dosobservados, mais quentes talvez observados, pela expotalvez pela expoicao solar direta. sicao A temperatura solar direta. medida A temperatura foi de 41,5ºC, medidaconsideravelmente foi de 41,5ºC, consideravelmente menor menor uando comparada quando com comparada as primeiras com medicões as primeiras medicões

3

3

2

2

1

1

3

Medição da temperatura Medição da dotemperatura asfalto (50,0do ºC)asfalto e da alvenaria (50,0 ºC) (32,3ºC) e da alvenaria no ponto (32,3ºC) 3, no ponto onde há uma variação onde háde uma gabarito, variação porém de gabarito, com umaporém certa com predominancia uma certa predominancia de até 2 de pavimentos. A área pavimentos. está em Aum área dosestá pontos em um mais dos altos pontos da favela mais (800). altos da A temperafavela (800). A temp tura registrada estava tura registrada alta no local, estava provavelmente alta no local, provavelmente devido a baixosdevido gabaritos a baixos que gabaritos permitem a passagem permitem direta a passagem dos raiosdireta solares dos raios solares

6

6 6

6

Medição da temperatura Medição da dotemperatura asfalto (41,1ºC) do asfalto e da alvenaria (41,1ºC) (30,8ºC) e da alvenaria no ponto (30,8ºC) 6, no ponto sendo o mais baixo sendo registrado. o mais baixo Predominancia registrado. Predominancia de vegetação ede devegetação um córrego, e de auxium córrego liando nessa diminuição liando nessa de mais diminuição de 20ºC dedo mais asfalto de 20ºC e de do atéasfalto 5,8ºC da e de alvenaria até 5,8ºC das da alvenar paredes. É um dos paredes. pontos É um mais dos baixos pontos da mais favela, baixos sendo dasua favela, cotasendo 776. sua cota 776.

A temperatura medida A temperatura nesse ponto medida chegou nesseaos ponto 32,5ºC, chegou o mais aos baixo 32,5ºC, deoentre mais todos baixo de entre da medição realizada da medição realizada

151

4.3.5 Peรงas Grรกficas

Figura 59 - Fachada do Centro para Idosos | Fonte: Elaborado pela autora, 2019

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Figura 60 | Implantação com térreo

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

154

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Figura 61 | Mezanino

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Figura 62 | Planta primeiro pavimento

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Figura 63 | Planta segundo pavimento

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Figura 64 | Corte AA

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Figura 65 | Corte BB

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Figura 66 | Fachada leste

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Encontro da janela basculante com os blocos cerâmicos vazados

ODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

PRODUCED BY AN AUTODESK STUD

Figura 67 | Fachada norte

2.98 FECHAMENTO EM ALVENARIA

.99

1.00

1.00

1.00

1.00

2.50

1.60

2.32

8.00

1.87

4.90

ELEMENTO CERÂMICO VAZADO (TIJOLOS INTERCALADOS)

1

.11

6.00

.30

.24

.30

PISO VINÍLICO

A

162

SK STUDENT VERSION

000.000

Figura 68 | Ampliação da área de convivência | escala 1:75

LAJE TRELIÇA

CARPETE EM PLACAS

9.55

1.47

REVESTIMENTO TERMOACÚSTICO EM LÃ DE ROCHA

1.50

3.00

REVESTIMENTO TERMOACÚSTICO EM ISOPOR

12.30

.70

2.03 .92

1.35

.15

1.50

1.71

1.50

1.88 1.55

A

.70

9.77

000.000 .20

PRODUCED BY AN AUTO

163

8.00 ELEMENTO CERÂMICO VAZADO (TIJOLOS INTERCALADOS)

1

.11

6.00

.30

.24

.30

PISO VINÍLICO

Figura 70: Uso de cunha para o encontro/ assentamento tijolo com viga | escala 1:25

A

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000.000

Figura 69 | Corte ampliado | escala 1:75

LAJE TRELIÇA

.60

.10

1.00

Piso - 2 cm Contrapiso - 5 cm

164

Manta asfáltica Lastro de concreto armado - 10 cm Brita - 30 cm

AMPLIAÇÃO CORTE

3.88

5.70

3.28

3.88

5.70

4.90

REVESTIMENTO TERMOACÚSTICO EM LÃ DE ROCHA

1.50

3.00

REVESTIMENTO TERMOACÚSTICO EM ISOPOR

12.30 ELEMENTO CERÂMICO VAZADO (TIJOLOS INTERCALADOS)

.70

2.03 .92

1.35

1.50

1.71

1.50

1.88

1.55

A

.70

000.000

9.77

.15

.20

ÇÃO ELEVAÇÃO 1

0

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION 2.98

.28

.88

FORRO PARA COMPORTAR ENCANAMENTOS HIDRÁULICOS E ESGOTO

PRODUCED BY AN AUTODESK STUDENT VERSION

Figura 71 | Vista ampliada | escala 1:75

2.20

PLÁSTICO GROSSO PARA IMPERMEABILIZAÇÃO

REBAIXO PARA ENCANAMENTOS HIDRÁULICOS E ESGOTO

165

0

1

2

Figura 70 - AuditĂłrio flexĂ­vel do Centro de Acolhimento ao Idoso Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Figura 73 | Perspectiva área de convivência

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerações Finais A discussão levantada neste presente trabalho visa gerar um processo reflexivo sobre a influência da configuração de um território, tanto no âmbito morfológico quanto do ponto político, no envelhecimento de sua população. Paraisópolis, como um área fora dos parâmetros ideais urbanísticos, apresenta diversas irregularidades físicas que afetam diretamente seus moradores. Não apenas essas questões físicas, mas também todo o histórico e contexto vivido por sua população que gerou e ainda gera marcas significativas no desenvolvimento da área e contrastes sociais com seu entorno.

Os fatores referentes a acessibilidade, ao cenário de ocupação do território informal, a escassa oferta de equipamentos destinados aos idosos e a incompleta infraestrutura da área aparentam ser os principais responsáveis pela baixa longevidade da favela quando comparada à cidade formal. Envelhecer de forma digna ainda parece um privilégio de bairros mais nobres da cidade.

Deste modo, esta pesquisa aborda a questão do envelhecimento juntamente com uma leitura do território informal a fim de encontrar soluções que diminuam o contraste social favela x cidade, qualifiquem o ato de caminhar e intensifiquem e valorizem o cuidado com a população idosa. Através desses objetivos é que os projetos do masterplan e do Centro de Acolhimento ao Idoso foram estruturados.

Conclui-se, assim, que a concepção de espaços estruturados, que contemplem questões de acessibilidade, conforto térmico e áreas de permanência é necessária para qualificar a vida da população da favela e garantir seu envelhecimento saudável. Propiciar um local com condições mínimas de segurança e salubridade e permitir transposições mais amenas, que não comprometam a integridade física de seus moradores, reforça e garante a autonomia e a satisfação popular. A implantação de um equipamento destinado a população idosa em específico auxilia na sensação de pertencimento desse grupo e garante sua dignidade e entretenimento.

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