Edição 83

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GAZETA VARGAS

Gacetada!

Da teoria para a prática Pedro Veloso

(...) contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico do País, para a melhoria dos padrões éticos nacionais, para uma governança responsável e compartilhada (...).” Eis parte da missão da FGV, imponentemente fixada no sétimo andar do prédio da EAESP. Alguns de nós dedicam parte da vida acadêmica – em pelo menos 1 disciplina – a estudar a importância da Missão como pré-requisito para a excelência de uma organização. A missão é o elemento que define as organizações, o que as torna aptas a buscar sucesso. Dito isso, podemos levantar questionamentos acerca da conduta da FGV frente à condução de determinados assuntos, digamos, um tanto quanto incômodos a determinados interesses. Em 06/12/2009, a Folha Online veiculou a notícia “FGV é acusada de desvio de verba em São Paulo”. A reportagem discorre sobre a denúncia ajuizada pelo Ministério Público contra a Fundação por, juntamente com assessores do alto escalão da gestão da ex-prefeita Marta Suplicy, fraudar em 338% um contrato de R$ 21,8 milhões referente à prestação de consultoria para modernizar o sistema de informática das escolas municipais. Quando procurada pelo veículo de comunicação, a diretoria da Fundação disse que tomaria as medidas cabíveis conforme fosse comunicada sobre a ocorrência dessa ação civil pública. Essa notícia encontra-se no site da Folha Online. Movidos pela curiosidade e pela condição de parte constituinte dessa organização, os membros da Gazeta Vargas tentaram falar com o responsável pela área de contratos da FGV Projetos. Entretanto, o que

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se encontrou foi uma nebulosa rede de atribuições similar a um labirinto onde cada ligação resultava na necessidade de mais telefonemas, esperas e transferências de linha. Passada a aventura inicial, fomos capazes de localizar a assessoria terceirizada de imprensa da FGV Projetos. Após 6 dias de espera, obtivemos como resposta o clássico “Nada a declarar”. Existe um sábio adágio popular que diz “Quem não deve, não teme”. Pergunta-se, pois, até que ponto essa postura da FGV é coerente com sua missão. Em que medida uma organização pública, que se propõe a elevar os padrões éticos nacionais, pode manter-se calada perante uma denúncia de desvio de verba? A sociedade quer esclarecimentos e os membros da Fundação também. A sociedade por ver maculada a imagem de um centro de excelência onde são formadas lideranças nacionais e os alunos por estarem preocupados com a integridade vinculada a um símbolo que irá estampar seus currículos e sua história. Vale ressaltar que o reconhecimento adquirido pela Fundação decorre, entre outros fatores, do desempenho de seus alunos e ex-alunos, tanto no mercado quanto na academia. A discrepância entre missão e ações tomadas pela Fundação é

ainda mais evidente quando é feita análise do currículo de algumas matérias do curso de graduação em administração, tanto de empresas quanto pública. Em Introdução ao Brasil Contemporâneo, disciplina onde se estuda a recente história política e econômica do país, tem-se contato com a obra de Sérgio Buarque de Hollanda onde é exposto o tipo ideal do homem cordial que trata a esfera pública como continuação da esfera privada. Um dos resultados vem a ser a apropriação de recursos públicos para fins privados por dirigentes políticos. Isso sem mencionar o curso de Filosofia e Dilemas Éticos, que tem como um dos objetivos essenciais de aprendizagem “Problematizar os nexos entre Ética, Administração Pública e Administração de Empresas, e entre esfera pública e esfera privada.”. Em ambos os casos, o que se configura é o descolamento entre teoria e prática. Afinal, como mobilizar debates sobre a idoneidade na cena política brasileira sendo que há suspeitas pairando contra você que não são rechaçadas? A necessidade de esclarecimentos é, pois, imperativa. Maior transparência trará maior credibilidade e, consequentemente, maior coerência para com a Missão da FGV. Isso por sua vez diminuirá as incertezas concernentes a diversos agentes envolvidos com a Fundação, como os alunos e a sociedade. E por fim, será resolvido um dos principais problemas educacionais da atualidade a transposição da teoria à prática. ¤


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