Edição 79

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VOCÊ PODE, A FGV PODE

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GAZETA VARGAS

Edição #79

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EDITORIAL A GENTE PERGUNTA, VOCÊS RESPONDEM Quem é você afinal? Por que você lê essas 28 páginas de informações que a gente apresenta de graça? E se você lê, como a gente descobre o que te agrada? Qual é a diferença entre você e o sujeito ao seu lado neste momento? Qual é a diversidade de opiniões cujas mentes formadoras tentamos atingir? Foi pensando nessas perguntas que a Gazeta Vargas decidiu realizar uma pesquisa estatisticamente fundamentada em busca do perfil geveniano. O aluno da nossa graduação tem fama de todos os tipos mundo universitário e profissional afora. Mas será que é verdade tudo o que ouvimos a nosso respeito por aí? Quantos de nós já não fomos obrigados a usar a frase “não é todo mundo na GV que é assim ou assado”? Pois bem, nesta edição o leitor terá a oportunidade de descobrir se a maioria dos alunos da graduação é mesmo conservadora, desinteressada a respeito da política interna da Fundação, direitista, etc. como rezam as opiniões informais por aí. O geveniano médio surge da mistura das

opiniões dos alunos a respeito de diversos assuntos, fruto de uma pesquisa inédita e exclusiva que você só encontrará nesta edição da Gazeta Vargas. O esforço da equipe foi enorme, e boa parte dos leitores deve ter notado a existência dos entrevistadores ao longo das últimas semanas. O estrito acompanhamento do coordenador da pesquisa e redator desta revista, Rafael de Heredia, foi essencial para o respeito aos parâmetros estatísticos intrínsecos a qualquer investigação opinativa desse nível. Mesmo porque, não poderíamos expor o perfil do aluno da graduação indevidamente, sabendo os efeitos que uma publicação desse tipo acarreta. A gente perguntou (e como!), vocês responderam: “Quem é você, afinal?” Felipe Fabris Editor-Chefe

EXPEDIENTE Editor chefe

Equipe de Arte

Felipe Braga Fabris – felipefabris@uol.com.br

Daniel Feijgelman - dan_max5@hotmail.com Mariana Moreira – marianam19@gmail.com

Diretor de Redação

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Alípio Ferreira – alipiof@hotmail.com Diretor-Presidente Institucional Redatores

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Luiza Prada – luiza_p_s@hotmail.com Maria Julia Iudice– majuiudice@yahoo.com

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Tiragem

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3000 exemplares

Diretor de Arte

AGRADECIMENTOS

Pedro Theodoro Ramos Beraldo - pedrotrberaldo@gmail.com

CPV, CA Direito, Diretoria de Operações, Mari do DAGV pela alegria e por gostar das nossas músicas, a todos que contribuíram com o Espaço Aberto e àqueles que gentilmente cederam 5 minutos do seu tempo para responder ao questionário da pesquisa.

DISCLAIMER A Gazeta Vargas não se responsabiliza por dados, informações e opiniões contidas em textos devidamente identificados e assinados por representantes de outras entidades estudantis, bem como nos textos publicados no Espaço Aberto submetidos e devidamente assinados por autor não presente no expediente desta edição. Todos os textos recebidos estão sujeitos a alterações de ordem léxico-gramatical e a sugestões de novos títulos. Por ser limitado o espaço de publicações, compete à Gazeta Vargas a escolha dos textos que melhor se enquadram na sua linha editorial, sendo recusados os textos muito destoantes acompanhados das devidas justificativas e eventuais sugestões de alterações. DIREITOS RESERVADOS A Gazeta Vargas não autoriza reprodução de parte ou de todo do conteúdo desta publicação.


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MINI EDITORIAL ELEIÇÕES DAGV 2009 Alípio Ferreira

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os dias 27 e 28 de maio, o DAGV realizou eleições de chapa. A chapa vitoriosa foi a Interação, com 385 votos, contra 336 votos para o segundo colocado, a chapa Domus. Para as eleições de 2009, inscreveram-se quatro chapas: as outras duas, ABK e FBK’n’Pink, obtiveram 21 e 12 votos, respectivamente. Especula-se que a estreita diferença de votos entre Interação e Domus tenha sido dada pela preferência (tacitamente revelada) dos alunos de Economia pelos “verdinhos”, que acabaram ganhando de presente uma bomba: tocar o DAGV. Nas campanhas para o DA, palavrinhas que se repetem ad nauseam são “eventos” e “política”. De fato, o DAGV usa a maior parte de seus recursos – humanos e financeiros – em atividades que remetem a essas palavrinhas. Na verdade, porém, essas palavras são bastante traiçoeiras... O Diretório Acadêmico muitas vezes é acusado de ter se tornado um promotor de eventos. Nada mais injusto. De fato, porém, o DA é notável pela promoção de grandes festas, palestras e debates. A diretoria de eventos do DAGV, numa eleição, é um cargo cobiçado e, geralmente, quem o ocupa é selecionado a dedo. Além de ser a maior fonte de recursos para o Diretório, pode ser também um buraco sem fundo, fonte de processos judiciais e muita chateação pessoal. Do lado da política, os representantes eleitos ouvem os alunos de graduação em suas queixas, e costumam ter voz na implementação de alterações na estrutura acadêmica dos cursos de Economia e de Administração, além de outras decisões das direções que afetem a vida dos alunos. Esse lado

Em alta Volume musical na Gazeta TV’s do DA Sustentabilidade Bancos no estacionamento da Itapeva Recrutamento da Gazeta

acadêmico-político, porém, é menos visível, e tem-se a falsa impressão de que é menos urgente. Afinal, alguém algum dia teve a ideia de fazer duas grandes festas por semestre, potenciais geradoras de receitas e problemas. Com duas Giovannas e duas Giocondas por ano, não há staff que dê conta de tudo a que se propõe o DA com a eficácia que as chapas prometem nas eleições. Nenhuma surpresa, porém. Um evento, por definição, pode ser tudo “aquilo que sucede”, um “sucesso”. Fazer um evento é, portanto, “fazer acontecer”. Hoje em dia, na GV, as entidades promovem palestras a balde, frequentemente se desapontando com a baixa audiência. Um evento, ou “sucesso”, como esse, é na verdade um fracasso. Por outro lado, a alta audiência nas festas e cervejadas, se comparada com outros eventos, é no mínimo um sinal de decadência. Já política não se deve ousar definir de maneira tão fechada. Pode-se, já muito ousadamente, caracterizá-la ora como “ciência”, ora como “ação”. Como disse Aristóteles apud Wikipedia, “o homem é um animal político”. A palavra vem do grego, pólis, a cidade-Estado. “Cidade”, por sua vez, vem do latim, civis, que quer dizer “cidadão”, e também originou “cidadania”. A chapa que assumirá o DAGV dia 1º de julho assumirá também todas as responsabilidades burocráticas que decorrem dessa “vitória”, assim como assumirá as responsabilidades sobre as promessas feitas em torno daquelas duas recorrentes palavrinhas: “eventos” e “política”. Nossos votos à Interação de que sua gestão seja repleta de “sucesso” e “cidadania”.

Na mesma Tempero (?) do Getulinho Sinalização na EAESP Gastos no Senado

Em baixa Periodicidade da Gazeta Volume da TVDA Pão do hot dog Motivação dos Gevenianos

A Gazeta quer conhecer a sua opinião! Mande cartas, sugestões, críticas e respostas a nossos textos e notas, através do e-mail gazetavargas@gvmail.br


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NOTAS Wireless GV

O HelpDesk da FGV, sediado no Rio de Janeiro, é de uma incompetência fenomenal. Diz-se por aí que é administrado por um PhD em sabe-se lá o quê. Para que um PhD para administrar o HelpDesk? Muitos estagiários gevenianos fariam o trabalho muito melhor a um preço muito mais baixo. Mais um arroubo de inovações da gestão de Carlos Ivan, o Terrível. A rede Wireless da FGV vive caindo, atrapalhando a vida de muita gente. O pessoal do HelpDesk, apesar de nos ouvir de maneira muito solícita, aparentemente vão a Copacabana, comprar biscoitos Globo e dar risada dos pobres paulistas. Não à toa, o DAGV tem sua própria rede.

FGV no Senado

A nossa querida Fundação também entende de malandragem. Há alguns meses, o presidente do Senado e bastião da moralidade, José Sarney comprou por R$250.000,00 da Fundação Getulio Vargas uma espécie de auditoria na estrutura organizacional do Senado brasileiro, a fim de enxugar a Casa de tantos cargos de diretoria ineficientes. Pretendia com isso dar o “espetáculo de crescimento” na transparência e eficiência dessa instituição tão injustiçada pela imprensa brasileira... Carlos Ivan, o Terrível, saiu bem nas fotos dos jornais, e entregou um pedido melhor do que a encomenda. A revolucionária reforma trará uma economia de ambiciosos 0.29% no orçamento do Senado. É de mais GV que o Brasil precisa! Pra frente Brasil!

Google him

Diz o velho adágio, conhecido desde a Grécia Antiga: “Diz-me com quem andas, e te direi quem és.” Na pós-modernidade, a expressão desta ideia tornou-se incrivelmente concreta. Digitem “Carlos Ivan FGV” na busca de imagens do Google, e verifiquem seu mais novo amiguinho.

Depois do Homo Economicus

A Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBA Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) realizou um seminário no dia 9 de maio para discutir o famigerado tipo ideal chamado “homo economicus”. Nela participaram psicanalistas da Sociedade e economistas renomados, sendo dois desses professores da EESP: Ramón García Fernandez e Luis Carlos Bresser-Pereira. Uma excelente iniciativa, embora tenha sido configurada com um viés claramente pendente para a negação do “homo economicus”. Como disse Bresser, citando Bresser, é um erro metodológico tornar uma ciência l um mero acúmulo de deduções formais de uma série de axiomas e tipos ideais.

Um espectro ronda a FGV

É o espectro do MNN (Movimento Negação da Negação). Recentemente, nossa Redação apurou que um membro dessa célula trotskista revolucionária infiltrou-se na GV e realizou seu míni-Outubro Vermelho: modificou a página inicial de um dos terminais de impressão do DAGV para o sítio do Movimento. A Gazeta Vargas, sempre pronta a movimentações revolucionárias, convida o infiltrado a reportar-se ao nosso QG.

O Mal-Estar na Organização

Os alunos de graduação em Administração e Economia têm passado por más semanas. Ultimamente, um desânimo generalizado se abateu sobre os graduandos, suscitando preocupação e dúvida nos coordenadores dos cursos. O curso de Administração foi “re-reformulado”, e a coordenação de Economia tem-se reunido com alunos, com o intuito de compreender o que se passa.

FRASES

“Existem duas coisas criativas no Brasil: uma delas é o Fisco, para inventar tributo, e a outra são as diversas maneiras de burlar o Fisco”. Roberto Pfeiffer, Diretor-Executivo do PROCON, em aula na FGV. “O mundo não nasceu coeteris paribus. Nós é que criamos o coeteris paribus ex post.” Mário Aquino Alves, professor da EAESP. “No Brasil, se um banqueiro pular de um prédio, pule atrás dele, porque ele está ganhando dinheiro.” Rogério Mori, economista da EESP. “Não existe política econômica de esquerda ou de direita. Existe política econômica boa ou ruim.” Demósthenes Madureira, vice-presidente de Atacado e Gestão de Patrimônios do Itaú Unibanco, em aula magna inaugural de mestrado profissional na EESP “Os economistas têm uma consistência quase científica em errar previsões. Eu mesmo não conseguia prever a taxa de câmbio do mês seguinte quando era diretor do Banco Central e o câmbio era controlado.” Demósthenes Madureira “Quem aqui quer trabalhar no mercado financeiro? Aprendam o seguinte: amigos vocês só terão nesta classe.” Rogério Mori “Desde que o Sarney tomou o poder, até o governo Lula, o que se tem? Uma semi-anarquia!” Robert Nicol, professor economista da EESP


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PONTO E CONTRAPONTO ÓPERA NO SÉCULO XXI Expressão artística de importância contemporânea.

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ejo que muito se fala da educação pública oferecida em nosso país, e neste começo de ano, mais ainda, tivemos as escolas estaduais em pauta. A expressão humana por meio da arte é de caráter extremamente subjetivo, não sendo possível relacionar a qualidade, a abrangência de público, ou até mesmo o seu significado particular com a linha cronológica que cerceia os acontecimentos rotineiros.Calças jeans ficam velhas, biscoitos ficam velhos, concepções expiram, a arte apenas torna-se clássica. É nesta corrente epistemológica que encontra-se a Ópera. Advinda da tradição medieval, nasceu em Florença, na Itália, no final do Renascimento e econtrou sua maior expressividade em autores como Puccini, Bizet, e Handel (com trema, meu computador não tem).Estilo musical mundialmente reconhecido, é facilmente identificado por suas cantoras líricas.De cujos atributos vocálicos amanam notas altíssimas, encantadoras aos ouvidos dos pobres que desafinam ao entoar o “atirei o pau no gato”, são ninfas do rio Arno para uns. E moças gorduchas de tranças arrulhando palavras ininteligíveis, para outros. Como de costume, na sociedade atual existe a opção de se ouvir o que se tem vontade quando se tem vontade, fato que,

garantido pelo fenômeno da globalização aumenta a gama de possibilidades de apreciação das manifestações musicais.O famoso “cada um com seu cada qual”. O erro, no entanto, consiste em atribuir o conceito de anacronismo a estilos musicais que pertencem a outras épocas, o que em relação à Ópera é mais recorrente entre os jovens. É a mesma ignorância que se explicita à flor da pele quando a mãe de um adolescente de 12 anos reclama do “barulho dessas bandinhas de rock que tocam três acordes na guitarra e acham que estão fazendo música”. Toda forma de expressão é válida, e sempre axistirão pessoas que se sentirão enclinadas a gostar dos mais variados tipos de manifestação, não importa o quão estúpido isso pareça a outro indivíduo. Fica claro, portanto, que considerar a ópera um anacronismo na vida moderna é tão somente uma opinião burra quanto egoísta, já que não considera a multiplicidade dos pontos de vista tão imprescindível para a harmonia desta mesma vida moderna. Bárbara Sterchele 1º Semestre de Direito

APOLOGIA DA VANGUARDA Música que expressa a singularidade do Século XXI é música do agora

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ongos e inglórios são os debates sobre a superioridade de tal ou qual forma de arte ou manifestação artística. Não pretendo aqui cair nesta vala abissal. Explico-me. Acredito que toda (ou quase toda) forma consagrada de expressão artística revela algo que é humano, e que, portanto, não me é estranho. Mas procurarei deixar minimamente clara a linha que separa a altivez dessa divisa romana do relativismo absoluto, que na sua covardia e estreiteza eu deploro, do “tudo pode, tudo é legal, basta que alguém goste disso”. É coisa completamente distinta do respeito à diversidade dizer que determinadas obras e manifestações artísticas são sempre iguais em valor, sofisticação e principalmente em atualidade, só porque existem os lassos que as apreciam. A esta idéia, o nosso sonoro não. A fim de ilustrar um pouco o que pretendo lhes dizer, conto uma situação anedótica sobre o objeto específico deste “Ponto e Contraponto”, a Ópera. Fui recentemente junto com dois ótimos amigos assistir à encenação do Falstaff, de Giuseppe Verdi, na Sala São Paulo. A minha companhia era saborosa, a regência - de Isaac Karabtchevsky - não poderia ser melhor, a atuação de Schagidullin

(como Falstaff ), muito boa, a comicidade de Pepes do Valle (como criado) e o virtuosismo de Marcos Tadeu eram evidentes, e mesmo assim a experiência geral foi frustrante. Mas por quê? Julguei que em razão de essa ser a última ópera composta por Verdi, que é aclamado um dos grandes operistas italianos e compôs um Requiem que até admiro, o autor haveria de ter aprendido tudo a respeito. Ao que consta, ele pretendia com o Falstaff redimir um gigante insucesso de público e crítica, Un Giorno di Regno, a sua única obra cômica até então. Há entre o fracasso da primeira e a pretensão da segunda um espaço de cinqüenta anos. Acho justo imaginar que o Falstaff só tornou evidente o pouco talento de Verdi para a comédia. Digamos apenas que essa ópera nos permitiria imaginar que Zorra Total é capaz de nos fazer dar risadas involuntárias por horas. Vou poupar-lhes do infame enredo do Falstaff, vocês consultem a Wikipédia, mas basta dizer-lhes que até lá ela foi descrita como tendo “ (...) situações de vexames e repletas de muita confusão durante todos os 3 atos da ópera”. Uau! Pausa para o estado de choque. Vocês leram direito?: vê-xa-mês e mui-ta con-fu-são. Chego a sentir vergonha em imaginar que


gazetavargas@gvmail.br alguém acredite que há novidade nisso. Convenhamos, qualquer Manoel Carlos há muitos anos é capaz de diabruras quase-cômicas muito melhores que essas. Cobras&Lagartos estão aí, minha gente! Prefiro assistir gratuitamente na TV aos pseudo-dramas do meu tempo do que uma sessão anacrônica de tortura na bela Sala São Paulo. Em virtude da não ter melhores e mais eruditas idéias, digo-lhes cruamente que o problema era a impressão de estar diante de uma novelinhas “das seis” de péssimo gosto e sem nenhuma beldade, com o agravante de gastar mais de 50 reais para perder o meu tempo vendo aqueles virtuosos servirem um banquete exuberante sobre um formato tão infértil. Usando o controverso expediente das metáforas futebolísticas, tão em voga neste país hoje em dia, era como utilizarmos um Ronalducho, o Fofômeno, para trucidar os adversários na Magnânima Copa de Futebol do Bairro da Bela Vista. É virtuosismo desperdiçado, fino ornamento sobre vestes falsamente ousadas. Mas então é lícito que me perguntem: e o que é então um formato de vanguarda? Ora, eles são com certeza muitos, e a maioria eu provavelmente nem conheço ou tenho sofisticação para entender. O que eu certamente entendo, no entanto, é que existe no espírito de toda obra que encarna singularmente o espírito do seu tempo a idéia excelente e não suficientemente célebre expressa numa máxima do poeta Mário Faustino: “repetir para aprender, criar para renovar”. Leiam isto direito e lembrem-se.

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Esse é o progresso entusiasmado que contém o novo nas entranhas, uma encarnação arrasadora que devora antropofagicamente tudo o que existe de moderno em tudo o que existe de clássico e tradicional (seja religiosa, cultural ou artisticamente) e faz disso matéria nova, abundante e original, e não objeto de dogma fadado à repetição tragicômica. Imbuídos dessa alma dionisíaca e produzindo música hoje para o amanhã e para as mentes abertas ao amanhã, eu acredito que estão alguns artistas dos quais pretendo falar mais em um outro momento. São gênios da altura de John Zorn e vários do selo TZADIK, Naná Vasconcelos, Fred Frith, Lou Reed, Mônica Salmaso, Glen Velez, Hamid Drake, Mingus, Miles e tantos outros que ousaram dar um passo além da fronteira conhecida e não merecem ser apenas citados, mas tratados muito mais longamente. Infelizmente minha coluna hoje acaba por aqui. A arte é longa e o tempo é breve, mas para os que têm fome, vocês podem encontrar alguma coisa de valor em: http://rafaelheredia.sites.uol.com.br Rafael de Heredia 6º Semestre de AP

ENTIDADES VOCÊ SABIA QUE...

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cada dois segundos, um paciente necessita de transfusão de sangue no Brasil? Cerca de uma em cada cinco pessoas que são internadas em hospitais necessitarão de transfusão de sangue durante o período em que permanecerem internadas? Três é o número de vidas que são salvas com cada doação de sangue? O Brasil necessita diariamente de 5.500 bolsas de sangue? Apesar do grande avanço da ciência, ainda não foi encontrado um substituto para o sangue humano. Sempre que necessitam de uma transfusão de sangue, os pacientes só podem contar com a solidariedade de outras pessoas. O que você tem feito para contribuir com esta necessidade? Há quase 10 anos a Consultoria Júnior Pública - FGV tem feito a sua parte, realizando o “Boação” e permitindo que a comunidade GV possa ter um

papel ativo no atendimento à demanda por sangue em São Paulo. Chegamos à 19ª edição com resultados expressivos: mais de 5.000 bolsas de sangue e 15.000 beneficiados nos últimos nove anos, uma média de 140 bolsas por dia de coleta. E queremos mais. Por isso, traçamos a meta de arrecadação de 175 bolsas para o próximo “Boação”. Convidamos você a atingir mais uma meta, doando sangue e salvando vidas!

Cerca de uma em cada cinco pessoas que são internadas em hospitais necessitarão de transfusão de sangue durante o período em que permanecerem internadas? Três é o número de vidas que são salvas com cada doação de sangue? O Brasil necessita diariamente de 5.500 bolsas de sangue?


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A MISSÃO DA EESP

ENTREVISTA COM MARCOS FERNANDES

Luiza Prada Semeghini

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professor Marcos Fernandes Gonçalves da Silva, coordenador pedagógico da graduação em economia da EESP-FGV, é doutor em Economia pela FEA-USP, com pós-doutorado pela University of London. Respeitado pesquisador na área de corrupção, ética e política, o professor publicou pela Editora Campus o livro “Ética e Economia”. Desde a fundação da EESP, atuou como coordenador do Curso de Graduação em Economia, cargo ocupado desde o ano passado pelo também diretor da EESP, professor Yoshiaki Nakano. Hoje, como Coordenador do Projeto Pedagógico da EESP, o professor redigiu um novo projeto, reformulando em grande medida a graduação da Escola. A entrevista foi cedida no final de 2008 para a Gazeta Vargas.

problemas do país porque, infelizmente, o Brasil ainda é um país subdesenvolvido. Agora, na escola de economia particularmente, estamos radicalizando este processo. GV: E quanto à preocupação da EESP com o nível de educação versus as outras escolas? MF: A EAESP tem essa preocupação. Além de eles terem também um currículo novo, tanto na habilitação pública quanto na de empresas, existe um centro dedicado ao estudo de material didático e de estudos de casos (CEDEA). Na EDESP, desde o início, houve uma separação entre a coordenação acadêmica e a pedagógica da graduação. E a parte pedagógica foi atuante antes mesmo do curso de existir, investindo na formação dos professores, na construção do material didático. Hoje, trabalha aperGazeta Vargas: Com relação à feiçoando o método de ensino. Cabe notar Fundação, e à preocupação da mesma que, ano passado, o livro “Curso de Direito com o “projeto nacional”, existe um viés Tributário e Finanças Públicas - do fato à ideológico no ensino nas escolas? norma, da realidade ao conceito jurídico”, Marcos Fernandes: Existe um viés da EDESP, do qual eu e o professor Paulo de ensino, mas não ideológico, e sim defiArvate participamos, ganhou o Prêmio Fonte: Site EESP nido em função de que a Fundação visa Jabuti na sua área, pela sua genialidade, fornecer soluções de política pública e de gestão buscando o por ser um livro metodologicamente diferente, baseado em desenvolvimento do Brasil. Então, por exemplo, existe no Rio indução, e tendo como objeto o Brasil. de Janeiro a pesquisa do Marcelo Neri sobre economia social, GV: O currículo da graduação da EESP foi alterado discriminação, distribuição de renda, bolsa família, pobreza, desde o começo do curso. Qual a diferença entre essas que tem impacto porque influencia, para o mal ou para o bem, mudanças e a reestruturação atual? as políticas de governo e a opinião pública. MF: Ao longo desses anos, desde No caso da EESP, existe aqui um a primeira turma, a gente percebeu duas núcleo de economistas da área de economia coisas: que os alunos vêm entusiasmados social: a professora Carolina Leme, o prono 1º semestre, porque eles entraram na fessor Andre Portela, o professor Vladimir faculdade; mas, chegando no 2º semestre, Ponczek, o professor Enlinson Mattos, só os alunos se sentem apreensivos. Primeiro para citar alguns nomes. Esses professores porque a economia é uma coisa muito difícil desenvolvem pesquisas e as trazem, de de se ensinar, leva tempo para se entender uma forma ou de outra, para o ensino. Um o que é a economia, qual é a complexidade exemplo é o professor Andre Portela, que por detrás dela. Em segundo lugar porque usa exemplos relacionados às pesquisas do os alunos têm uma ansiedade de entender centro de microeconomia aplicada, o qual como é que a economia explica as coisas da ele coordena. vida concreta deles. Na EAESP, também. Temos o professor Então, temos que pegar o aluno Peter Spink, a professora Marta Farrah, a professora Maria [Rita desde o 1º ano e ensiná-lo, intuitivamente, a pensar como Garcia Loureiro] Durand, gente que trabalha na área de gestão economista. Porque, se não o fizermos, o aluno fica desiludido. pública, de cidadania e de políticas públicas, do ponto de vista Se não aproximarmos o aluno da realidade, ele acha que aquilo administrativo. Além disso, muito do conhecimento desenvol- flutua no mundo das nuvens. Essa é a mudança mais radical, vido nos centros de pesquisa transborda para o ensino, o que a do 1º ano. Por exemplo, o professor Andre Portela está disé necessário do ponto de vista da Fundação. cutindo escolha do consumidor em introdução à economia, A EBAPE foi a primeira escola de administração do país, enquanto a professora [Ana] Cristina Braga [Martes] discute cuja função era formar funcionários públicos para o governo. a noção de homem econômico racional. Existem transverEstá claro que ela vai retomar o seu projeto de ser um centro salidades metodológicas entre as disciplinas que fazemos de criação de conhecimento. Então, a grande preocupação da questão de apontar, além de estabelecer grandes questões Fundação em geral e das unidades em particular é trabalhar os

“Os alunos vêm entusiasmados no 1º semestre, porque eles entraram na faculdade; mas, chegando no 2º semestre, os alunos se sentem apreensivos.”


gazetavargas@gvmail.br a serem discutidas nas disciplinas, que dizem respeito à realidade nacional. Isso não é um grito nacionalista irracional; estamos trabalhando o Brasil porque o Brasil é a realidade mais próxima, e porque, acima de tudo, a missão da EESP é instrumentalizar o aluno como cidadão, para que ele ajude a desenvolver o país. Porque os economistas que queremos formar são uma elite que sairá com uma carga moral que lhes obrigue a isso. O projeto pedagógico novo, para esse novo currículo, explicita esse objetivo. Acreditamos também que nos aproximamos da promessa que fizemos para a Fundação: mudar a forma de se ensinar economia. Nós estávamos fazendo isso gradualmente, e decidimos agora dar um salto discreto, aprofundando a questão do método. GV: Esse novo método foi criado a partir do estudo das outras escolas da Fundação, ou de outras faculdades do Brasil e do mundo? MF: A gente fez um benchmarking com as escolas que têm graduação em economia, com a universidade de Amsterdã, que tem a capacidade de concentração na área econômica, o que é raro. Não se tem, tipicamente, cursos de graduação em economia. Dois anos atrás, eu organizei, junto com o professor Yoshiaki Nakano, um simpósio de ensino de economia em países ibero-americanos. E nós observamos que havia uma crise perceptível, do ponto de vista do método de ensino, porque todas as escolas aplicam o tradicional, o qual é, aliás, o que as escolas americanas também aplicam no undergraduate, que consiste em dar o manual, geralmente, manuais americanos. E nós vimos que, do ponto de vista do método, eram raras as discussões a respeito da utilização doconstrutivismo, em oposição ao instrutivismo. No novo projeto pedagógico do curso foram incluídas referências bibliográficas sobre essa discussão, que advêm de uma discussão alemã. O construtivismo parte do pressuposto que o conhecimento deve ser elaborado em conjunção com o alunado, e que se deve primeiro trabalhar não com o método dedutivo, mas com o método indutivo, ou seja, a partir de um problema, se acha o conceito. Desse modo, fica claro que o mundo é complexo e o aluno sabe que, quando está trabalhando com o modelo, simplificações foram feitas. Mas a aplicação é difícil, porque a própria cultura de formação dos profissionais que vão dar aula é instrutivista, baseada em modelos abstratos. Isso é um problema, talvez, do século XX. Por causa dessa formação, os economistas deixaram de ser os intelectuais públicos que sempre foram, e se tornaram criaturas nefelibatas e parnasianas. Porém, eles têm que ter a capacidade de ser pragmáticos, porque economia é uma ciência aplicada. Por causa dessa falta de discussão a respeito do método, o nosso projeto, em certo sentido, é ousado, porque não existe nenhum projeto igual. Todos os cursos são tradicionais. Nós o criamos por causa de um desejo: fazer um curso de economia que nós não cursamos.

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GV: Qual foi o papel dos alunos na reformulação? MF: Desde a primeira turma os alunos, notadamente, o Guilherme Lichand e o Bernardo Wjuniski, colaboraram com a gente de diversas formas, não somente na questão do método. Depois, tivemos os alunos do segundo ano, como o Felipe Salto, o Raphael Martello, o Alessandro Casalecchi, que deram sugestões para aprimorar o curso. As portas sempre estiveram abertas, isto é, 99% das sugestões dos alunos foram acatadas. Aí, vieram a terceira e quarta turma, e a formalização dessa relação entre o corpo docente e os alunos, que foi a criação do CRD [Conselho de Representação Discente]. E, no âmbito CRD, principalmente ao longo do ano passado, foi levanto que não tínhamos chegado no ponto satisfatório no que se referia à implementação do método. Um aluno nosso, na reunião de dezembro, falou que havíamos prometido um projeto mais radical de ensino, que só em parte havia sido realizado. Tudo bem, porque implementar um curso novo não é fácil. O primeiro desafio foi implementar, o segundo foi formar, o terceiro foi empregar, o quarto foi o reconhecimento do curso pelo MEC. Nossa nota, no novo método, foi 4, e essa nota está baixa. Assintoticamente eu quero que a nota se aproxime de 10, e eu sei que nunca vai chegar, porque a nossa régua sempre vai aumentar. Cabe destacar que os representantes de sala e os representantes discentes no Diretório Acadêmico, principalmente o Vitor Agnello, tiveram um papel importante em nos ajudar a aprimorar o curso. Então, uma série de coisas que os alunos falaram, formal ou informalmente, nos levaram a tomar essa decisão, radical e revolucionária. GV: E quanto ao treinamento dos professores? MF: Ao mesmo tempo em que temos as tradicionais reuniões de semestre, para os 2º, 3º e 4º ano, para o 1º ano, estamos fazendo também reuniões para preparar os programas para o 2º semestre. Estamos amarrando os tópicos por meio de trabalhos transversais, o que amarra os professores. O professor Robert Nicol tem tido um papel importante dando ideias interessantes sobre como trabalhar problemas da realidade, e o professor Alberto Ajzental, que trabalha com estudos de caso, ajuda nessas reuniões com os professores que não têm a habilidade de pensar em termos indutivos. Falta muito, porque o primeiro passo é mudar a cultura, e este é um trabalho de longo prazo. Mas os professores estão mudando, porque eles percebem que a aula fica mais agradável, os alunos ficam mais interessados. O segundo passo é intensificar a produção de casos em economia, cujo benchmarking é a Kennedy School de Harvard. Para isso, nós temos o P&D, que é coordenado pelo professor Nicol. E queremos uma produção de livros didáticos que sejam complementares aos manuais estrangeiros. O terceiro passo é a formação de alguns professores na área de casos e método de ensino que seriam disseminadores. Note o seguinte: não há como ensinarmos nada ainda, porque nós estamos aprendendo, é um processo literal de learning by doing. A posteriori, quem sabe um dia a gente não faz um livro sobre o novo método de ensino.

“Acreditamos também que nos aproximamos da promessa que fizemos para a Fundação: mudar a forma de se ensinar economia.”

“[...]os economistas deixaram de ser os intelectuais públicos que sempre foram, e se tornaram criaturas nefelibatas e parnasianas. ”


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COMO SE FUNDOU A FUNDAÇÃO ENTREVISTA COM ROBERT NICOL

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professor Robert Norman Vivian Cajado Nicol é economista formado pela London School of Economics, com doutorado em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Ingressou na Fundação Getulio Vargas em 1969, havendo lecionado diversas disciplinas na EAESP até recentemente, quando passou a se dedicar integralmente à EESP, como professor e coordenador de pesquisa e desenvolvimento. Nesta entrevista, o professor Nicol conta um pouco à Gazeta sobre a história da FGV. O ano de 2009 marca os 55 anos de existência da EAESP, e a edição #79 da Gazeta trata de quem é o aluno que aqui estuda. Abaixo conferimos o que é esta Fundação, em que estudamos e trabalhamos. Gazeta Vargas: Em 1944 a FGV foi fundada no RJ com a missão de estimular o desenvolvimento nacional. Como se deu o processo de fundação e criação da FGV? Robert Nicol: Nos anos 30 tinha ocorrido um processo de modernização da estrutura administrativa do governo federal, obviamente patrocinada pelo governo Vargas. Foi criado na época o Departamento de Administração do Serviço Público (DASP). E foi diretor do DASP durante muitos anos o Luis Simões Lopes. Ao se antecipar o fim do governo Vargas, resolveu-se montar uma fundação com recursos do Estado – é bom se pensar nisso – na tentativa de preservar alguma coisa que o Vargas tinha conseguido implantar no Brasil durante os quinze anos de ditadura. Criou-se então a Fundação Getulio Vargas, da qual participaram pessoas mais próximas, mais centradas em torno do Luis Simões Lopes, conterrâneo de Getulio do Rio Grande do Sul, que virou o primeiro presidente da FGV. Quem participou da contribuição para a formação da FGV? Foram estatais, tipo: Banespa, IBC, autarquias federais que existiam na época. Enfim, foram recursos basicamente do Estado, dos governos estaduais e federal que viabilizaram o surgimento da Fundação. A fundação foi constituída como entidade privada, mas suas vinculações com o governo federal sempre foram muito óbvias. GV: Os recursos vinham do governo federal? RN: Que eu saiba, inicialmente a Fundação iria se financiar através de selos. A Fundação Getulio Vargas tinha um selo que fornecia recursos para tocar sua vida. Na ditadura militar, acabaram com os selos e deram uma compensação para a FGV: um bolo de letras do tesouro. Mas com o passar do tempo, os recursos que vinham dessas letras foram diminuindo, de forma que a FGV teve de partir em busca de recursos. Bom, mas o que se propõe a fundação no início? No início se pensava que se deveria patrocinar a criação de um instituto de Economia: surgiu o Instituto Brasileiro de Economia [IBRE]; uma escola de pós-graduação em Economia: surgiu a Escola de Pós-Graduação em Economia [EPGE] no RJ. Uma revista de Economia: Revista Brasileira de Economia [RBE]. E chamaram um monte de economistas que estavam na “crista da onda” nos início dos anos 50. Boa parte das palestras apresentadas se transformou em artigos, que se encontram nos primeiros números da RBE. Ainda criaram uma Escola de Administração Pública no Rio, e na época a FGV tinha uma escola secundária

Alípio Ferreira

de altíssimo nível em Petrópolis, não sei bem, que até o fim dos anos cinquenta funcionou. Em 1954, provavelmente por interesse do empresariado paulista, casando-se com interesses da fundação em estender a atividade modernizadora da Fundação para além de administração pública, viu-se que seria interessante criar uma escola de administração em São Paulo. Isso era uma coisa nova no Brasil. Já havia nos EUA desde o início do século, mas no Brasil só havia escolas de comércio, como a Álvares Penteado, que fica no centro da cidade. Porém, escolas de comércio não exatamente ofereciam aos alunos aquelas matérias típicas de escolas de administração de empresas americanas, como marketing, finanças, contabilidade, produção. Em 1954 cria-se em SP a Escola de Administração de Empresas. Inicialmente fica alojada num prédio no centro da cidade, grudado praticamente no que era então o edifício do Estado de São Paulo. Era uma escola pequena, que ocupava um ou dois andares do prédio. De qualquer forma, foi o concurso dos esforços do empresariado paulista e interesses da fundação de expandir seu leque de atuação que levaram à criação da Escola de Administração de Empresas. GV: A EAESP copia algum modelo americano? RN: Sim, tentou copiar. No início, o número de professores era muito reduzido, e muitos deles eram de um convênio com a Michigan State Unversity. Vieram professores norteamericanos de Michigan ao Brasil com o objetivo de iniciar esses novos cursos, mas também para treinar professores no Brasil para desempenhar funções docentes. O sistema era um sistema diferente do que havia na época em universidades brasileiras. É um sistema de créditos, de avaliação através de trabalhos, participação: um típico padrão norte-americano. GV: Em 1964 houve o golpe militar que instituiu a ditadura militar no Brasil. Como o então Centro Acadêmico Administração de Empresas (hoje DAGV) e a própria EAESP se posicionaram em relação ao golpe? RN: Em 64, o curso de Administração de Empresas era um curso voltado para filhos da elite paulista. Então, alunos desse curso eram pessoas como o jovem Abilio Diniz, e muitas outras pessoas que hoje fazem parte do empresariado paulista e que estão na casa dos sessenta anos. E também foram alunos da escola pessoas mais variadas, algumas delas chegaram a ser professores na EAESP, como o Francisco Mazzucca, Fernando Carmona, Yoshiaki Nakano, Eduardo Suplicy, e aí vai. Tem um número muito grande de gente que não tinha sua origem no empresariado paulista, mas era bastante ligado. As posições dentro de uma classe eram provavelmente mais variadas. Não sei exatamente qual foi a reação do Centro Acadêmico, mas ele sofria pressão de outros grupos. O Eduardo [Suplicy, presidente do CA quando houve o golpe militar] certamente deve ter tornado explícita sua oposição, mas ao mesmo tempo tinha uma série de colegas que não morreram, estão por aí, e que se nunca se identificaram com a esquerda que então existia. A esquerda de então estava muito ligada ao PC [Partido Comunista], ao Jango [João Goulart] e ao [Leonel] Brizola. Figu-


gazetavargas@gvmail.br ras importantes eram, por exemplo, Plinio de Arruda Sampaio, que foi cassado no governo militar, voltando quando da Anistia. Começou a lecionar na EAESP, ministrando o curso de Planejamento Econômico. Participou da fundação do PT, sempre se disse de esquerda, e sempre esteve vinculado à Igreja. Essas pessoas da esquerda tinham representantes na escola. Alguns dos professores eram vinculados ao PC, continuaram vinculados por muito tempo. Um deles continua na Fundação até o momento, que é o professor [Antônio] Angarita. GV: A escola nunca explicitamente se posicionou? RN: A Escola estava numa situação difícil, assim como a FGV, pois representava uma herança do Getulio Vargas. E o Jango e o Brizola também representavam uma herança do Getulio Vargas. Então se esperaria que houvesse certa afinidade entre esse povo e o governo deposto. Formalmente a Fundação Getulio Vargas nunca se posicionou, pois dependia do governo federal, como dependeu até os anos 90 para ser viável financeiramente. Durante o governo militar a FGV tomou muito cuidado em não pisar nos calos dos militares. Até impondo certa censura interna sobre publicações. Digamos que “sugeria” que certas coisas não fossem feitas, e no limite podia censurar. O Eduardo Suplicy chegou a ser editor chefe da ERA [Revista de Administração de Empresas]. Muito provavelmente o Eduardo chegou a querer publicar algumas coisas que não seriam muito convenientes para a Fundação. Eu o sucedi na editoria da RAE, e pessoalmente tive que ir ao Rio dialogar com o Simões Lopes acerca da inclusão ou exclusão de alguns artigos. Estavam preocupados, mas não exerciam uma censura rígida e prévia. Era uma censura no sentido de: “será conveniente publicar esse tipo de artigo, que foi escrito por essa pessoa, que está na mira dos militares?” É isso. GV: A EAESP sempre foi um centro de referência de pensamento social, principalmente na área de Administração. Tem nomes como Maurício Tragtemberg, Prestes Motta, Bresser. A EAESP ainda é essa grande referência? RN: Antigamente não havia outras escolas de administração. Óbvio que se tornou foco das atenções. Com o passar do tempo, com o surgimento de outras alternativas à EAESP, surgem nomes alternativos àqueles que estão na Fundação, tanto em escolas públicas como privadas. Mas essas escolas privadas não chegaram a competir com a EAESP, porque nunca tiveram o mesmo grau de independência financeira. Um parênteses aqui: o curso de graduação da EAESP sempre foi deficitário, mesmo quando ela era uma escola voltada para a elite paulista. Os cursos de pós-graduação que surgiam sempre foram excepcionalmente deficitários. O único curso que não era deficitário foi um curso que surgiu nos fins doas anos 60, como resultado de convênio com o Governo do Estado de São Paulo, que era o curso de Administração Pública. E o CEAG, que era oferecido à noite. Os outros eram deficitários. E quem cobria o déficit? A fundação no Rio. A Fundação ainda tem pensadores influentes. Tem certamente o Peter Spink que vem desenvolvendo um trabalho grande na área de Administração Pública. Tem o pessoal ligado ao Luis Carlos Merege, que lida com o terceiro setor. E muitos outros, na área de economia, sociologia... GV: O senhor acha que a missão da FGV está sendo cumprida pelas três escolas? RN: Eu acredito que sim. Se pensarmos na missão, não necessariamente em termos de estar formando a elite do empresariado brasileiro, a elite de administração brasileira, mas pensar que está formando um serviço educacional que

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comparativamente às outras instituições brasileiras é de bom nível, creio que está desempenhando sua função. A FGV não por acaso dentre muitas instituições internacionais foi uma das poucas selecionadas recentemente como um importante think-tank fora dos EUA. Nenhuma outra instituição na América Latina está nesse grupo. A FGV tem tido, não só em São Paulo, mas em especial no Rio de Janeiro, pessoas que têm pensado o problema do Brasil ao longo dessas décadas, e tem feito contribuições importantes. GV: E quanto à criação da EESP, a intenção inicial era de extinguir o PAE e que todos seus professores fossem à EESP? RN: O que ocorreu foi que alguns professores migraram à EESP e o PAE continua existindo. Comenta-se muito também sobre a rixa entre PAE e EESP. Não tem rixa. O que ocorreu é que o Yoshiaki [Nakano, diretor da EESP] ficou incumbido de criar uma nova escola. Mas tinha um programa mais específico: criar uma nova escola que em seu programa de pós-graduação tivesse uma alta nota junto à CAPES [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior]. Na área de economia essas notas são atribuídas aos docentes através da publicação de artigos especialmente em periódicos internacionais americanos. Aí, forçosamente, o Nakano teve de contratar jovens economistas que tinham acabado de obter seu doutorado nos Estados Unidos para poder trabalhar nessa nova escola e contribuir com artigos que seriam publicados lá fora. Daí o grande número de professores com essas características. Boa parte dos professores do PAE não se encaixava nesse perfil. Daí uma tendência natural de se criar um grupo separado que não necessariamente incluísse pessoas da EAESP. As pessoas que migraram da EAESP o fizeram meio por acaso ou por estarem envolvidas no processo de criação da escola, como o Marcos [Fernandes Gonçalves da Silva], que foi a pessoa responsável por elaborar um programa de economia que fosse razoavelmente moderno e viável, e até certo ponto inovador em termos de São Paulo. GV: E tem algum objetivo análogo na EDESP? RN: Suponho que sim. O objetivo do Ary Oswaldo [Mattos Filho, diretor da EDESP] era fazer algo semelhante à experiência que tinha tido quando foi fazer mestrado nos EUA – em Harvard. Ele se formou em Direito mais ou menos na mesma época de que o Luis Antonio de Oliveira Lima, que o João Manuel Cardoso de Mello, que o [Luis Gonzaga] Belluzzo, inclusive o Pedro Celidônio. Todos se conheceram na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Depois foi fazer pós em direito tributário nos EUA, e tomou contato com a forma de ensinar direito típica das escolas norteamericanas, que ocorre na forma de casos. O direito norteamericano é em boa parte direito consuetudinário britânico: casos específicos através dos quais se aprende a jurisprudência. Ele obteve seu mestrado e gostou do sistema. É um sistema radicalmente diferente do sistema de ensino no Largo São Francisco e outras escolas: o sistema em que o professor chega e dá sua aula, sem conversar muito com os alunos. O que é no fundo o sistema francês. Ele quis então criar algo novo para o Brasil segundo o modelo norteamericano. Acho que está conseguindo. Não somente instituiu esse modelo como também preparou a criação desse modelo. Antes de fazer o vestibular contratou professores para preparar o material didático com esse objetivo. Mudou a forma de seleção dos alunos, introduzindo um elemento importante: a entrevista. Através dela, se percebem elementos que não se captam por marcar cruzinhas em questões.


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GAZETA VARGAS

Edição #79

MATÉRIA CENTRAL QUEM É VOCÊ, AFINAL? Rafael de Heredia

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UEMBA, Gevenianos! BUEMBA! Realizamos com os alunos de todas as escolas da FGV-SP uma pesquisa de opinião que pretende abalar os alicerces do Busto Kennedy. E não entendam isto como campanha desleal para as chapas FBK (com as quais deveras simpatizo e não escondo), mas o fato é que a normalidade nestes prédios jamais será a mesma. A partir desta pesquisa, procuramos inferir com algum poder estatístico a respeito de MUITO DO QUE SEMPRE SE FALOU SOBRE O ALUNO DA GV. Esqueça tudo o que você ouviu ou pensou sobre os seus colegas (e, por que não?, sobre si mesmo). Seus problemas acabaram! Nós fomos a campo entre os dias 22 de abril e 13 de maio, e realizamos este feito inédito, o último cume a ser escalado e conquistado dentro da FGV-SP: foram aproximadamente 3750 perguntas respondidas por 18 classes de todas as escolas da GV, com todos os semestres representados por ao menos uma classe, nos dando uma média de 8 alunos por classe, num total de 163 alunos. Notas metodológicas acompanham os resultados agregados da pesquisa nas próximas páginas. Mas claro, você, geveniano, indivíduo prático, objetivo e filisteu, criado a mingau e ovomaltine, já está a se perguntar: MAS E OS RESULTADOS? Cazzo! Os resultados... Eu lhe digo: NITROGLICERINA PURA. O que pensamos sobre: aborto, união civil homossexual, descriminalização da maconha, cocaína. Mas não pára por aí: quem é o atual presidente da FGV? Ou: politicamente, você se considera de direita, centro, esquerda? O DAGV representa os alunos de quais escolas? Qual é a principal fonte de renda da sua família? E mais, muito mais: correlações e regressões estatísticas que só a Luiza Semeghini (3º ano da ECO) traz para você. Comentários que só os polemistas sem honra deste verdadeiro tablóide brasileiro seriam capazes de se permitir. Tudo isto, enfim, que você sempre quis saber sobre sexo, digo... Sobre seus colegas, mas tinha vergonha de perguntar. Abaixo. Mas antes, algumas palavras sobre a elaboração desta pesquisa. Pensamos inicialmente em quatro eixos: 1. Background e circunstâncias de vida (religião de que se diz adepto, onde morou a maior parte da vida, principal fonte de renda da família). 2. Conhecimento e impressões sobre assuntos da FGV (nome da chapa em exercício, os alunos de quais escolas o DAGV representa, quem é o presidente da Fundação, impressões sobre a marca GV, participação em entidades etc). 3. Valores postos em questões práticas (legalização do aborto, do uso e comércio de drogas, da união civil de

homossexuais, criação de cotas nas universidades públicas etc.). 4. Orientação e posicionamento político (partido do qualse aproxima, participação em campanha eleitoral, sentimento sobre a eleição de Barack Obama, dos anos de Governo Lula, etc.). Assim, acreditávamos que as 23 questões que formam este questionário poderiam não apenas nos dar indicações preciosas sobre muito do que já se falou sobre o “estereótipo geveniano”, mas também acender a sanha debatedora e escrivinhadora da Gazeta e dos nossos colegas – vocês. É o que veremos, em parte, nas próximas edições. Estejam desde já convidados a comentar esses resultados. Para que vocês entendam a dinâmica em que os dados estão explicados e comentados abaixo, percebam que além dos dados agregados simples, que são os resultados ‘imediatos’ desta pesquisa, utilizamos os métodos de regressão linear para procurar dados mais interessantes que os agregados (e que, quando relevantes ao principal aqui tratado, citamos ao longo do texto, mas também estão no fim deste artigo de forma completa). Trocando em miúdos, com este expediente desejávamos saber também quais variáveis estavam correlacionadas e em que grau. Decidimos, afinal, que além da regressão linear, utilizaríamos a técnica do Probit, um método que funciona melhor quando transformamos as variáveis em binárias, nos dando resultados mais certeiros quanto à causalidade dessas correlações, evitando algumas associações espúrias. Em todo caso, temos também as correlações pelo método da regressão linear. E olhe, se você não entendeu nada dos últimos dois parágrafos, fique calmo, isso só traz grandes chances de você não fazer uma pós-graduação em estatística . Não é tão mau, convenhamos. Seja como for, seja inclusive um repetente em Estatística, você será capaz de entender o que vem abaixo. Acredito que em grande medida alcançamos nosso objetivo. E ele era, como vocês verão à frente, encontrar o geveneiro em estado líquido, o seu “néctar precioso”. Entregamos à luz esta pesquisa para que vocês se deliciem. Pois então, aos fatos!

“Foram aproximadamente 3750 perguntas respondidas por 18 classes de todas as escolas da FGV-SP”

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m nossa amostra, aleatória e anonimamente abordada por mais de dez entrevistadores diferentes, apuramos que a maioria dos atuais alunos da graduação (quase 60%) viveu a maior parte da vida em São Paulo - Capital. Outra parte representativa (28.2%) viveu no interior do estado, de onde se nota um sotaque levemente puxado que ora encontramos nos corredores da GV – eu, de Campinas, inclusive.


gazetavargas@gvmail.br Já os estados de fora do Sudeste contam 6.75% dos alunos da graduação. E se você faz Economia, a chance de ter morado aqui a vida inteira aumenta em pelo menos 19.3%, mas se você está no 1º semestre deste curso a chance é 40% maior. Quanto à participação interna à FGV, 41.72% dos entrevistados participam ou já participaram de alguma entidade estudantil. A quem interessar, temos na Gazeta os dados detalhados, mas seguem algumas curiosidades: uma pessoa da GV teria só 1.57% de chance de ter participado da CJE (Consultoria Júnior de Economia) , mas, por motivos óbvios, esse número aumenta para 27.77% se ela fez economia. A chance geral de ter participado do DAGV é de 5.28%, mas para os que cursam o 5º semestre, essa probabilidade misteriosamente aumenta em 25.02%. Será que se trata de uma óbvia conspiração do 5º semestre com o fito de dominar o mundo e devorar o Magnum de ouro? Só o futuro nos dirá. No que se refere à hierarquia da Fundação, podemos perceber que a Professora Maria Thereza Fleury já ganha alguma popularidade nos corredores da FGV, inclusive não deveria ser assim. Quando perguntados quem é o presidente da Fundação, 13.5% O que é IBRE dos alunos não tiveram dúvidas: Mary Thérez. Mas um número também considerável sabia Ano de Fundação que falávamos claramente de Ivan, o Terrível. 41.72% acertaram. Mas se Presidente da FGV você alguma vez já participou do DAGV, as suas chances de acerto sobem em 0% 20% mais de 40%, e diminuem em 26.42% se Não sabe é bixo. Outros 36.2% tiverem a honestidade de admitir que não faziam a menor idéia. Quando perguntados sobre quem o DAGV representa, os alunos majoritariamente acertaram. Das perguntas em que havia uma resposta correta, foi a que teve menor índice de “Não sei” e erro. Nada menos que 69,3% dos alunos sabiam que o DAGV representa os alunos de Administração e Economia. Mas neste particular os candidatos a economistas e advogados, por motivos talvez explicados pela recente fundação das escolas e pelos debates que daí decorreram, acertaram mais: 93 e 83%, respectivamente. Já se o assunto é a chapa em exercício no DAGV, a distância dos alunos da política interna revela a sua outra face, o seu pouco engajamento, mesmo com respostas estimuladas (em que o entrevistador revela as alternativas). Mais de 50% erraram ou não souberam, com 42% das pessoas não tendo a menor ideia ou preferindo não chutar. Outros 42.5% indicaram a correta, chapa Impacto. E como se pôde ver, a Contato continua a ter ‘adeptos’ (um tanto atrasados): nada menos que 10% acreditaram ser esta a chapa atual. Nos primeiros 2 semestres do curso o desconhecimento é ainda maior: apenas 28% dos alunos de economia, e 7.7% dos das outras escolas acertaram. Seria falta de Contato com os entrantes ou simplesmente depois de surtidos os Impactos da eleição, essa não é mais

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uma nformação relevante? E depois dizem que o brasileiro tem memória curta. Grande injustiça! E você, caro colega, sabe o que é o IBRE? Pois esta questão foi uma calamidade. A FGV-Rio decretará nessa semana luto de três dias. Pouquíssimos alunos sabiam o que era ou o que queria dizer essa sigla, responsável por boa parte da ‘visibilidade’ da FGV fora do âmbito acadêmico. Este foi o primeiro Instituto a calcular as contas nacionais (PIB, Índices de Preços, Tributos, etc.), e ainda é o responsável pela parte louvável das rotineiras aparições do nome FGV em (tele)jornais, em virtude principalmente dos índices de preço e inflação (IGPs e tudo mais). Foi uma triste surpresa anunciada que nada menos que 77% dos alunos não soubessem algo a respeito, e que somente 11.7% acertaram. Já se o sujeito é da Economia ou do DAGV, pelo menos, o conhecimento sobre o Instituto aumenta em 17,5 e 26,8%, respectivamente. A maioria dos alunos (cerca de 31%) que tentou acertar este ano de fundação da FGV equivocou-se e indicou o ano de criação da EAESP, 1954. Outros 36.8% se abstiveram de responder. Apenas 17.79% acertaram, indicando 1944. Sendo do Direito, a chance de acertar é maior em 26.7%.

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gora, caro leitor, prepare o seu coraçãozinho. Pois chegamos às perguntas constrangedoras, m a n h o s a s, de fazer corar o politicamente correto. 40% 60% 80% 100% A seguir leremos sobre engajamento e orientação polítiErrou Acertou ca, aborto e cotas raciais, opiniões sobre o Governo Lula. E mais comentários editorializados, naturalmente. Tire as crianças da sala. Politicamente 9.2% dos alunos se disse de direita, 26.99% de centro-direita , 14.72% de centro, 16.56% de centroesquerda , 5.52% esquerda, 10.43% se consideram apolíticos, e 16.56% diz não se encaixar em nenhuma das anteriores. Como podemos ver, temos uma distribuição bastante homogênea tendendo à direita. Mas o que mais nos chamou a atenção foram os mais de 25% que se disseram não se encaixar nesse espectro, seja por falta de opinião política ou por não se pautarem por estes, podemos dizer, “rótulos”. Interessante. Fomos investigar essa pergunta tão curiosa e parte do que descobrimos é o seguinte: pode parecer um grande jogo de palavras, mas se você é do Direito, há 68.9% de chance de o aluno se dizer de direita ou centro-direira. Esperemos, com todo o respeito, que eles não tenham confundido as bolas. Mas enfim, agora é sabido que Protógenes Queiroz na rua Rocha não faria escola. No outro lado do espectro, temos que existe cerca de 22% de probabilidade de ser de esquerda ou centro esquerda, e, sendo de esquerda, a chance de fazer parte do ITCP aumenta em 7.55%.


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Já o engajamento dos alunos em campanha eleitoral é seja regular. Uma distância maior acontece se o indivíduo é do baixíssimo. Apenas 9.8% dizem já ter se engajado em campanha Direito, em que a chance de julgar ruim ou péssimo é de 51.8%. para candidato em algum ano eleitoral. Mas se for um aluno que Juntamente com a pergunta sobre a união civil de se diz à esquerda, a chance aumenta em 12.65%, e em 2.87% homossexuais, a do Presidente americano Barack Obama foi se estudar na rua Rocha.Já no quesito ‘partido preferido’ dos uma das poucas questões que suscitaram uma quase unanimigevenianos, não houve tanta surpresa, exceto pelo alto índice dade entre os alunos. Mais de 80% se julga ao menos satisfeita de adesão a um partido, quase uma maioria absoluta. Na média, com a sua eleição, com o único destaque de correlação para a os alunos da graduação são tucanos. Nada menos que 44.17% hipótese de o entrevistado estar nos últimos dois semestres, e se disseram mais próximos do PSDB do então a chance de satisfação sobe em que de qualquer outro partido. Essa alter14.18%. Vemos uma tendência se fornativa foi diretamente seguida por uma mando, talvez na direção de considerar parcela que se aproxima daquela que se os últimos semestres mais “progressisdisse não alinhada com nenhum “rótulo” tas” que os primeiros? do espectro esquerda/direita. 33.13% não E falando em “progressismo”, se sentem próximos de nenhum partido. entramos agora no âmbito das questões A resposta desta parcela indicaria que o polêmicas e de valores, que muito nos Brasil se encontra em uma crise de repreinteressam e surpreenderam. Acreditasentatividade partidária? E, para além da mos que aqui um estereótipo foi desrepresentatividade, será que os partidos mentido, qual seja, o de que o graduanpolíticos brasileiros têm uma identidade do da GV é um indivíduo reacionário no clara o suficiente para que as pessoas se que se refere a valores. aninhem à sua volta? Questões pungentes, para talvez um Quando perguntados sobre a legalização do aborto, próximo texto. quase 42% foram favoráveis a modificar a lei atual e permitir Outros partidos que tiveram algum índice de lembrança aos pais maior liberdade para a interrupção da gestação de uma espontânea foram: PT e PMDB, com idênticos 6.75%, PSOL e criança. Uma maioria de 47,85% acredita em manter o cenário Democratas (antigo PFL) com 3.07% cada, PV com 1.84% e, atual e permitir o aborto apenas nos casos de estupro ou risco finalmente, PSTU e PDT com 0.61%. de vida para a mãe. Somente 4.91% foram totalmente conSe a probatrários. Aqui surgem bilidade de ser alialgumas correlanhado ao PSDB é de Descriminalização ções curiosas: se o 44.17%, essa chance do uso e comércio indivíduo é de AE, aumenta para a chance de querer de drogas* 52.28% se o entrevisdescriminalizar o tado se considera de que está em vigor direita. Esse índice no Brasil cai em mais União civil de sobe para 68.62% de 16%, enquanhomossexuais se, além de se conto aumenta para siderar de direita, a 66.75% sendo dos principal fonte de últimos 2 semestres renda da família Descriminalização e cai para 27% se do aborto vier de empresa(s) for dos 2 primeiros. própria(s). Seria a Quando cruzamos famigerada luta de as respostas para classes? 0% 20% 40% 60% 80% 100% o quesito “mulher”, Q u a n d o também percebeSem opinião formada Contra A favor questionados sobre mos um desvio dos como avaliam os *Maconha ou cocaína. dados agregados. anos de Governo Lula, outra surpresa. Acreditávamos que Elas são, em média, 59% favoráveis a alteração da atual lei justamente pelo posicionamento mais à direita e a forte iden- neste sentido. tificação dos alunos com o PSBD, veríamos um alto índice de A união civil entre homossexuais, uma questão que não rejeição do Governo atual, ainda mais se tivermos em conta que tem tanta visibilidade no debate nacional, surpreendeu por , conforme revelam estudos do IBGE, o público universitário é alcançar mais que maioria absoluta entre os alunos da graduaem geral mais crítico e informado que a média da população. E ção. Ao passo que uma pesquisa do Datafolha em 2008 revelou então, por todos estes motivos somados, acreditávamos que os que a população brasileira com formação em curso superior gevenianos teriam uma alta sensibilidade aos acontecimentos tem aprovação de 51% para esta ‘legalização’, os gevenianos negativos deste período: mensalão, dossiê, posicionamentos foram mais unânimes. 74,85% se disseram favoráveis à união anti-éticos em fóruns internacionais (a questão do conflito de civil entre homossexuais, enquanto 13.5% não têm opinião Darfur na ONU), dólares na cueca, etc. Mas julgamos errado. formada e apenas 11.66% são contrários. Possivelmente levaram mais em conta a ampliação do BolsaApesar de essa questão ter se mostrado sem fortes Família, crescimento econômico, alguma redução nos índices correlações com outras respostas (o que demonstra um mesmo de desigualdade, etc. Pouco mais de 21% dos entrevistados índice de aprovação/reprovação nos distintos subgrupos acreditam que este governo seja ruim ou péssimo, e quase 37% revelados pela pesquisa), a Gazeta procurou ir mais a fundo. pensam que é bom ou ótimo, enquanto 39,26% pensam que Na ausência de outras, buscamos correlações com a questão

“Agora, caro leitor, prepare o seu coraçãozinho. Pois chegamos às perguntas constrangedoras, manhosas, de fazer corar o politicamente correto..”


gazetavargas@gvmail.br sobre as Religiões. Apuramos que os entrevistados tinham praticamente a mesma chance de responder de acordo com os números acima quando se declaravam agnósticos, ateus, católicos praticantes ou não, mas a coisa mudava para os que se declaravam evangélicos, judeus ou protestantes. Nestes últimos casos, os que se disseram evangélicos ou protestantes eram contra em 34% e os judeus em 38% das vezes. Esperamos que o votos em contrário tenham entendido que, uma vez aprovada, essa medida não se torna obrigatória, ela é apenas facultativa, hehehe. Afinal, religiosamente, pensamos que alguém pode desejar que uma outra pessoa vá para o céu ou tenha a sua alma salva, mas não deve obrigá-la, certo? É o famoso foro íntimo, tão prezado pelas democracias laicas. Quanto à descriminalização do comércio e uso de drogas, a variação de opiniões foi bem maior. 34.36% se disseram totalmente contrários, enquanto 28.22% seriam contrários para a cocaína (mas favoráveis para a maconha). Favoráveis para ambos irrestritamente foram 7.36%, e para ambos mas com a venda controlada/em farmácia somaram 19.02%. Um total de 54.6 % de alunos que acreditam em alguma mudança neste assunto. Outros 11.04% não têm opinião formada. Sendo o curso de economia, aumenta em 26% a chance de ser favorável à descriminalização em algum destes termos. Atualmente corre no Congresso Nacional um projeto que pretende instituir a obrigatoriedade das cotas nas universidades públicas federais. Decidimos apelar ao poço de sabedoria geveniana e perguntar sobre assunto tão controverso. Apuramos que uma maioria de 50.92% é favorável a cotas somente se o critério for sócio-econômico, 38% seriam contrários em qualquer caso, enquanto apenas 4,29% são favoráveis a cotas raciais. Imaginamos que talvez os gevenianos concordem com as mais recentes pesquisas científicas, e esses resultados nos levam a acreditar que o conceito de raça é um constructo social, espúrio do ponto de vista antropológico e genético (o que, portanto, não nega a existência do racismo – muito ao contrário, pois por sua vez o racismo se torna a tolice suprema, um equívoco não apenas científico, mas também e principalmente um equívoco moral). A principal fonte de renda da Graduação, entendida como a principal fonte de renda das famílias que pagam as mensalidades (já que nada menos que 80% das mensalidades são pagas por alguém da família, conforme descobrimos), são as empresas próprias. Neste particular, não pudemos desmitificar um estereótipo: o de que os gevenianos são capitalistas, no sentido estrito do termo. Nada menos do que 46% das famílias dos alunos têm como principal fonte de renda ao menos uma empresa própria. O número sobe para mais de 50% se considerarmos outros rendimentos do capital: rendimentos financeiros e de aluguéis. 36.2% das famílias, no entanto, têm a sua principal fonte de renda nos salários. Nesta questão, no entanto, nos espantaram os 3.07% que simplesmente não sabiam e os 7.36% que preferiram não declarar. Notem que além de a pesquisa ser anônima, em nenhum momento o valor da renda era solicitado, apenas a natureza da principal fonte. Seja como for, nosso Departamento de Difamação e Criação de Boatos imaginou a hipótese de que isso aconteceu por pura benevolência destes nossos colegas, a fim de não causar inveja a assalariados e capitalistas comuns. Todos sabemos que para o tráfico de armas e de “escravas

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brancas” não existe Crise Financeira ou tempo de vacas magras. Agradecemos pela compaixão... hehehe. A disseminação do “selo FGV Management”, que é uma certificação concedida a alguns cursos de outras faculdades Brasil afora – e muitas vezes questionadas quanto a sua qualidade e merecimento, também foi alvo da nossa pesquisa. Mais de 60% dos alunos acreditam que a propagação deste selo que causa algum nível depreciação à marca, e menos de 12% dos graduandos acham que colabora com a marca. Para os que estão até o primeiro ano, havia quase 24% menos chance de acharem que esses cursos prejudicam a imagem da FGV. Será que eles sabiam do que se trata? Quando instigados a dizer a que escola econômica mais se aproximam, mais uma última surpresa. Ganhou a escola “Não tenho opinião formada”, com a elevada popularidade de 57.67%. Seria essa uma questão irrelevante ou é uma falha, dividida entre alguns alunos e a postura da GV, que resulta em não terem referencial teórico suficiente para formar uma convicção – ao menos em economia? Os que tinham um posicionamento, disseram: 15% neo/liberal, 11% neo/keynesiana, 6.13% Desenvolvimentista, 1.84% Marxista, 1.84% neo/clássica e 1.84% Monetarista. Como podemos constatar, ao menos quando a competição se dá pela vox populi, nem a crise financeira derrubou o (neo)liberalismo. Quase no fim da entrevista, os alunos da graduação nos falaram um pouco da sua subjetividade. Mais precisamente da sua religiosidade ou da ausência dela. Agnósticos (12.88%), ateus (12.27%), e os que acreditam em deus mas sem religião (19.02%) somaram quase 45%. Na parte de religiões instituídas, houve 17.79% de católicos não-praticantes, 17.18% de católicos, 11.04% de evangélicos ou protestantes, 4.91% de espíritas, 2.45% de judeus não-praticantes, 1.84% de judeus e 0,61% de umbandistas. Ficamos contentes em perceber o ecumenismo e a diversidade que habitam em harmonia (até aonde nos consta) a FGV-SP. Por fim, gostaríamos de lembrá-los que a Gazeta Vargas também foi contemplada com a graça e a sagacidade do respeitável público. Somente 12.27% disseram não nos ler em nenhuma circunstância – nem em caso de constipação intestinal. Todo o restante (87.73%) disse ler a Gazeta com alguma freqüência. Mas para nós isso não foi nem o mais gratificante! Foi incrível descobrir via Probit (regressão com modelagem binária) que não ler a revista é uma resposta fortemente correlacionada com “politicamente não-definido”, já que neste grupo a chance de não ler a Gazeta sobe para abomináveis 40,75%. Percebemos , portanto, que estão condenados à irrelevância política aqueles que não nos lêem e nem estão lendo esta matéria, hehehe... Aos outros – isto é, a vocês -, parabéns por terem chegado até aqui. Alcançarão todos o Magnum de Ouro e os mais altos potentados. Quero agradecer ainda a todos que participaram desta pesquisa, em especial aos membros da Equipe escalada para este survey: Luiza Semeghini, Rafael Kasinski, Alípio Ferreira, Eduardo Ferrari, Rafael Jabur, Aline Oyamada, Karina Choi, Ricardo Marchiori, Daniela Almeida, Bárbara Sterchele, Felipe Fabris, Pedro Beraldo, Caio Occhini, Fernando Fagá e Marco Kim, como aos professores de estatística que fizeram sugestões e críticas a esta pesquisa. Até a próxima, Rafael de Heredia

“12.27% disseram não ler a Gazeta em nenhuma circunstância, [...] e estão provavelmente condenados à irrelevância política”


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Edição #79

RESULTADOS AGREGADOS QUESTÃS METODOLÓGICAS Q1. Durante a maior parte da vida, os alunos moraram: (59,5% Em SP – Capital); (28,2% SP – Interior); (1,23% Em SP – Litoral); (2,45% Em algum outro estado do Sudeste); (6,75% Outro estado Brasileiro); 1,84% Fora do país) Q2. Você faz ou fez parte de alguma entidade estudantil relacionada à FGV-SP? (58,82% Não) (41,72% Sim) Q3. Qual é o nome do presidente da Fundação Getulio Vargas? (36,2% Não sei); (1,23% Luis Carlos Bresser-Pereira); (1,84 % Fernando Meirelles); (13,5% Maria Thereza Leme Fleury); (41,72% Carlos Ivan Simonsen Leal); (5,5% Francisco Mazzucca) Q4. O DAGV representa alunos de quais escolas? (não informar alternativas ao entrevistado) (4,29% Não sei); (1,23% Administração e Direito); (15,34% Administração somente); (69,3% Administração e Economia); (9,82% Os três) Q5. Qual é o nome da chapa em exercício no DAGV? (41,79% Não sei); (2,24% Domus); (10,45% Contato); (42,54% Impacto); (0,75% FBK); (2,24% Atitude) Q6.Politicamente, você se considera de: (9,2% Direita); (26,99% Centro-direita); (14,72% Centro); (16,56% Centro-esquerda); ( 5,52% Esquerda); (10,43% Apolítico); (16,56% Nenhuma das anteriores) Q7. Em que ano foi fundada a FGV? (36,8% Não sei); (17,79% 1944 ); (6,13% 1948); (7,98% 1962); (31,29% 1954) Q8. Dos partidos políticos brasileiros, você se considera mais próximo de qual? (33,13% Nenhum); (1,84% PV); (44,17% PSDB); (6,75% PMDB); (6,75% PT); (3,07% PSOL); (3,07% DEM/PFL); (PSTU 0,61%); (PDT:0,61%) Q9. Em ano de eleição, você já se engajou em campanha para candidato? (9,82% Sim ) (90,12% Não) Q10. Você avalia o desempenho do Governo Lula como sendo: (4,91% péssimo); (16,56% ruim); (39,26% Regular); (34,97% Bom); (1,84% Ótimo); (2,45% Não tenho opinião formada/Não sei) Q11. Quanto à eleição do presidente americano Barack Obama, você se considera: (1,84% Muito insatisfeito); (1,84% Insatisfeito); (51,53% Satisfeito); (30% Muito Satisfeito); (14,72% Indiferente/Sem Opinião) Q12. O que é o IBRE? (72,39% Não sei); (22,70% Instituto Brasileiro de Economia); (4,91% O entrevistado errou a resposta) Q13. Quanto à descriminalização do aborto, você se diria: (5,5% Sem opinião formada); (4,91% Totalmente contrário); (47,85% Contrário exceto em risco de vida para a mãe ou estupro – cenário atual); (2,45% Favorável com consentimento do pai e da mãe do feto); (39,26% Favorável com consentimento da mãe apenas) Q14. Quanto à união civil de homossexuais, você se diria? (11,66% Contrário); (74,85% Favorável); (13,50% Sem opinião formada); Q15. Quanto à descriminalização do comércio e uso de maconha e cocaína, você se diria: (34,36% Totalmente contrário); (28,22% Contrário no caso da cocaína); (19,02% Favorável para ambos, mas com venda controlada/em farmácia); (7,36% Favorável para ambos); (11,04% Indiferente / Sem opinião) Q16. Você é a favor de cotas nas universidades públicas brasileiras? (4,29% Favorável em caso de critério racial); (50,92% Favorável em caso de critério sócio-econômico); (38,04% Contrário a cotas em qualquer caso); (6,13% Favorável a cotas em ambos os casos) Q17. Você lê a Gazeta Vargas? (19,02% Sempre); (19,63% Quase sempre); (36,2% Às vezes); (12,88% Raramente); (12,27% Nunca) Q18. Com relação à sua percepção da “marca GV”, você considera que o selo FGV Management (certificação concedida a cursos em outras faculdades Brasil afora) causa: (28,83% Muita depreciação à marca); (31,90% Alguma depreciação); (8,58% Não afeta), 8,59% Colabora com a marca); (3,07% Colabora muito); (14,11% Não conheço este assunto); (4,91% Conheço o assunto mas não tenho opinião formada) Q19. Quanto à principal fonte de renda da sua família, você diria que ela provém de: (5,52% Rendimentos financeiros); (36,20% Rendimentos de salário); (46,01% Rendimentos de empresa(s) própria(s)); (1,84% Rendimento de aluguéis); (3,07% Não sei); (7,36% Não quero declarar) Q20. Religiosamente, você se considera: (12,88% Agnóstico); (12,27% Ateu); (19,02% Acredito em deus mas sem religião); (17,79% Católico não-praticante); (17,18% Católico); (11,04% Evangélico ou Protestante); (2,45% Judeu não-praticante); (1,84% Judeu); (4,91% Espírita); (0,61% Umbanda); (5,52% Outro não declarado) Q21. Você se diria alinhado ou próximo a alguma destas escolas econômicas: (57,67% Não tenho opinião formada); (11,04% neo/keynesiana); (1,84% Marxista); (1,84% neo/Clássica); (6,13% Desenvolvimentista); (15,34% neo/Liberal); (1,84% Monetarista); (4,29% Outra)

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lém da contribuição valiosa dos professores de estatística, a fonte primária utilizada como referencial teórico desta pesquisa foi: BABBIE, Earl. Métodos e Técnicas de Pesquisa de Survey. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. Neste livro, usado no curso de Métodos e Técnicas de Pesquisa Quantitativas de muitas faculdades conceituados, e lá encontramos várias possibilidades de desenho da amostra, universo, moldura, variáveis, erros-padrão, intervalos de confiança, etc. Basicamente, a pesquisa que realizaremos se encaixa no seguinte perfil: Um survey interseccional (ref. a pag. 101) de amostragem aleatória (pag. 135), estratificada (pag. 137) por semestre, gênero e curso. Realizamo-la com 163 estudantes da administração aleatoriamente escolhidos, em classes aleatórias de todos os semestres (daí o caráter de estratificada), realizando também a estratificação proporcional aos gêneros e cursos (6H/4M). Nas turmas de Economia e Direito serão 50 alunos. Daí uma conta rápida nos mostra que foram 3750 respostas sobre as 23 perguntas. É, deu muito trabalho. Gratificante. Além de as classes a serem visitadas terem sido sorteadas aleatoriamente, os alunos também foram abordados de maneira randômica. Se já não estivesse entrevistando, o entrevistador era instruído a abordar sempre a primeira pessoa que fosse entrar ou tivese saído pela porta daquela classe-alvo. Isso nos garante que não haveria um enviesamento consciente ou inconsciente na escolha da amostra. A única exceção a este caso era se o entrevistador já tivesse alcançado a estratificação por sexo naquela classe. Objetivamente isso acontecia quando, por exemplo, já houvéssemos alcançado naquela sala a cota proposta de machos ou fêmeas pela estratificação, segundo índice que obtivemos na Secretaria de Graduação para os cursos de ADM. A “proporção áurea” nestes cursos é de 6 homens para 4 mulheres para todos os semestres acima do primeiro (em que ainda não existiam dados consolidados). Por fim, apesar de a amostra não ser binomial na maioria das questões, como conseguimos aplicar as regras de aleatoriedade bem claramente, de maneira imparcial (confiamos nos nossos entrevistadores!) essas características garantem, segundo Babbie, nível de confiança de 95% (ref. ao Apêndice B, pag. 486), erro padrão de no máximo 7,1 % (William Boner me sussurra: para mais ou para menos!) nas as questões mais polêmicas, e +- 4,2% para as mais consensuais (divisão 90/10).. E um detalhe relevante: os resultados divulgados são sempre com relação à amostra, o importante é desenhar a pesquisa de modo que a amostra seja a mais representativa do universo, o que se traduz objetivamente em: que o intervalo de confiança seja o maior possível, com o erro-padrão menor possível, numa configuração viável de recursos. Um típico problema de ponto de ótimo com 3 variáveis, que os economistas, estatísticos, matemáticos e todos os outros seres auto-proclamadamente melhores que um administrador ou sociólogo conhecem de maneira superlativa.


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FIGURINHA CARIMBADA MARIA DINEIDE DE QUEIROZ Ricardo Marchiori

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o Rockafé da EDESP os funcionários não usam crachá, mas todos os alunos e professores chamam a simpática dona Neide pelo nome. Maria Dineide de Queiroz veio da cidade cearense de Pacajus, a terra do caju. Quando chegou em São Paulo, em 1993, veio com outros parentes entre eles a cunhada e os sobrinhos, mas já tinha família morando aqui e seu irmão havia conseguido um emprego para ela na Esfiha Chic ,em Santana, onde ele também trabalhava. Ao chegar, achou as pessoas daqui “diferentes” mas sem conseguir explicar como, entretanto, isso não foi problema para se adaptar ao primeiro emprego. Dona Neide não se considera uma paulistana, apesar de tantos anos aqui e de conhecer bem a cidade – ela gosta mesmo é do interior. Já voltou duas vezes para sua cidade natal mas, como as coisas não deram certo, retornou para a vida na maior cidade do país. Logo que chegou, morou na Vila Zilda, mas hoje mora no Jardim Filhos da Terra, onde se dá bem com todos os vizinhos – o que era de se esperar de uma pessoa tão boa quanto ela. Alguns parentes dela continuam em São Paulo e para os que voltaram ou nunca saíram de Pacajus, Neide encara os quase 3 dias de viagem até o Ceará para vê-los: sua última visita foi no Natal do ano passado, prolongando-se por Janeiro inteiro. Começou a trabalhar no Rockafé do Direito GV em 2005 e ela acha que do setor de alimentação, é o melhor lugar para se trabalhar, principalmente porque o assunto é comida. Neide acha tudo do Rockafé muito bom além de o preço ser justo, e indica os pratos mais populares: o pão de batata de presunto e queijo, o bauru, a salada com peito de frango grelhado e, para os mais esfomeados, a lasanha. Mas, para a figurinha carimbada, a comida é o de menos. O que mais gosta em seu emprego é o clima de trabalho. “Alto-astral” é como ela resume a relação entre os funcionários do Rockafé edespiano, talvez pelo tamanho pequeno da Escola de Direito, o que possibilita um clima agradável tanto entre os funcionários quanto entre os alunos e professores. Dona Neide ficou surpresa ao saber que os próprios professores

a usam em muitos exemplos durante a aula e que entre os alunos ela é a figurinha mais carimbada da EDESP. A figurinha fala que esse relacionamento entre os funcionários inclui até momentos de descontração em bares e outros ambientes fora do local de trabalho, mas por ela ser evangélica não participa. Neide também gosta da baixa rotatividade que há entre eles, o que os deixa unidos e com a sensação de ser quase uma “família”. Apesar de trabalhar no Rockafé, o almoço vem diariamente do restaurante Getulinho, localizado no prédio da EAESP: um funcionário vai até lá e “desce” até a Rua Rocha com a comida. E sobre trabalhar “lá em cima” no outro prédio da Fundação Getulio Vargas, ela diz que de vez em quando é chamada aos sábados para ajudar no Rockafé de Economia. Trabalha das 6h da manhã às 4h da tarde, indo e voltando de ônibus. De toda a sua rotina, só se cansa da volta , por causa do trânsito. E quando volta definitivamente para Pacajus? “Só quando Deus confirmar”.

“[...]a comida é o de menos. O que mais gosta em seu emprego é o clima de trabalho. Alto astral...”


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POLÍTICA INTERNA

UMA VERDADE INCONVENIENTE

Alípio Ferreira s entidades estudantis da FGV-SP em geral mantêm um Ao ser questionado se não via a “troca” como uma aproótimo relacionamento entre si. No ano passado criou-se priação indevida de recursos públicos para benefícios privados, um Conselho de Entidades, em que representantes de Diego se disse “perplexo”. Para ele, “está-se fazendo uma leitura todas elas se reúnem para discutir assuntos acadêmicos e pôr dos fatos que não julgamos correta.” Lembrou que a Atlética, uns aos outros a par de suas atividades. Porém, o bom clima por também representar alunos do Direito, tem interesse em entre entidades pode às vezes tomar promover a integração desses alunos a forma de relacionamentos um tanto aos seus outros colegas da Fundação, e suspeitos. Foi o que aconteceu entre a julgou que para tais fins seria adequado AAAGV e o CA Direito GV, neste semestre. aproximar-se do CA. Em março deste ano, o Centro A Gazeta também buscou o Acadêmico Direito GV realizou sua pripresidente da Atlética, Tomás Soares. meira festa: Guinevere, a Libertina. Uma Porém, o presidente aparentemente é vez que o CA e Atlética mantêm bastante uma pessoa extremamente ocupada: contato, devido ao bom relacionamento das seis vezes que o procuramos na sede entre diretorias e ao fato de a Atlética da AAAAAAAGV, só o encontramos em representar (e receber repasses de) uma delas, indisponível. Das outras alunos de Direito da FGV-SP, a AAAGV vezes, pedimos que desse retorno por cedeu o espaço de sua sede para a venda telefone, para combinarmos algum de ingressos para a festa. Eventualmenhorário adequado, algo que não se deu te, porém, essa diplomática cessão de ao trabalho de fazer. Digamos que não espaço foi retribuída na forma de doação pareceu uma atitude digna de um reprede ingressos por parte do CA para que sentante dos alunos, eleito democratitoda a diretoria da Atlética pudesse frecamente (!) e que preside uma entidade quentar a festa. A Atlética, de sua parte, que recebe repasse de todos os graduaparentemente julgou que deveria retribuir o presente, e doou andos: HAHAHAGV. três kits dos jogos Economíadas para a diretoria do CA (comEssa história tem dois pontos a serem ressaltados. Priposta por seis pessoas). meiramente, demonstra quão facilmente essa “troca de ingresA notícia eventualmente deixou de ser um “affair” exclu- sos” pôde ser interpretada como uma forma de corrupção e sivo das duas entidades. A Gazeta Vargas, ao saber do fato, apropriação indébita de recursos. Como o próprio Diego notou, buscou as duas entidades para explicações. Foi à Rua Rocha “sempre se pode apresentar um olhar malicioso, principalmenpara conversar com o presite contra quem está a cargo dente do CA, Diego Nabarde trabalhar por algo que é ro. Diego não estava na GV, comum a todos. Qualquer mas voltou imediatamente, ação é alvo de suspeitas.” mesmo sem saber sobre o Por outro lado, essa história que se discutiria. Depois guardamos manifestações das sugere que as coisas podem de introduzido ao assunto, ficar bem obscuras quando o Diego explicou as razões das entidades referidas e dos assunto são as “finanças das doações feitas pelo CA: “Na entidades”. Quando entraverdade o objetivo era conalunos neste espaço como for mos nessa área cinzenta de vidar pessoas com quem jul“o que estão fazendo com gamos importante manter ma de prestar esclarecimentos nosso dinheirinho”, apauma relação, para estarem rentemente nenhum aluno conosco naquele evento, e estimular o debate entende muito bem o que se com o intuito de legitimá-lo passa, ou mesmo quais são e fortalecer nossas relações. os limites que não se deve Inclusive também dei dois ultrapassar. convites ao DAGV.” Segundo ele, embora inicialmente a doação de ingressos da Guinevere à Atlética não estivesse condicionada à doação de kits dos jogos Economíadas, “o que ocorreu com os Economíadas foi a mesma coisa: a Atlética tinha interesse que prestigiássemos o evento deles.”

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“Na verdade o objetivo era convidar pessoas com quem julgamos importante manter uma relação, para estarem conosco naquele evento, com o intuito de legitimá-lo e fortalecer nossas relações. Inclusive também dei dois convites ao DAGV.”

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POLÍTICA INTERNA

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A HISTÓRIA DO DAGV

RETRATAÇÃO PÚBLICA

problema não é o aluno, é o DA que tem que ser pró-ativo; ter atrativos, oferecer e organizar espaços políticos e culturais, divulgar suas ações; tem de se fazer interessante. É o papel do DA” – Camila de Assunção Appel (presidente do DA – 2001-02). Estas palavras sintetizam o que foi o DA durante sua breve história: um verdadeiro organizador pró-ativo de eventos políticos e culturais, os quais cativavam, digo, libertavam os alunos desta instituição. Fundado em 1956 – Carlos de Souza Toledo sendo o primeiro presidente – o DA teve vários nomes ilustres e episódios dignos de entrarem nas páginas deste periódico. Mas gostaria de destacar um nome e um episódio, que são representativos. Eduardo Matarazzo Suplicy presidiu o DA entre 1963 e 1964. Era uma época de bastante integração aluno-professor (havia cerca de 350 alunos), em que havia o “pendura” – os alunos “convidavam” os professores a convidá-los para um lanche ou jantar, o que se tornou inviável com o crescimento da instituição. Além de ser presidente, Eduardo Suplicy ocupava também o cargo de diretor cultural. Ajudou a organizar encontros e debates com Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso, Chico de Oliveira e Inácio da Silva Telles. Havia também apresentações de peças teatrais, ao final das quais ocorriam grandes debates, como “A Engrenagem” (Sartre) e “Os Pequenos Burgueses” (Gorki). No primeiro semestre de 1964, época da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, o DA organizava assembléias com o intuito de se debater com professores se fazia sentido ou não o golpe militar. Depois fizeram uma votação que deu “contra o golpe militar.” Após o golpe, houve uma divisão na escola. Fundou-se um partido a favor do golpe, do qual Suplicy foi afastado por ser considerado subversivo. Apesar disso, sua chapa venceu por 155 votos a 111 – democracia em pleno golpe, um dos estímulos para tê-lo feito entrar na política. Um lance heróico, que se passou durante a década de oitenta, foi o amparo que o DA deu à UNE – abrigando sua sede clandestinamente, no prédio. Por conta disso, o DA passou a sofrer ameaças de bomba, e precisaram evacuar o prédio algumas vezes, como na vez em que integrantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) foram responsáveis por uma bomba na Avenida 9 de Julho, ao lado do Diretório Acadêmico. Fernando Gomez Carmona, então diretor da EAESP, persuadiu os alunos e vedou o DA como abrigo da sede da UNE – conta-se que após uma reclamação de João Figueiredo. É por conta desta bela história que não podemos olvidar uma frase muito verdadeira, mas cuja essência parece se desvanecer cada vez mais: “Além da parte acadêmica, outro foco do DA é estimular a consciência social e política do aluno” – Camila de Assunção Appel (única mulher a presidir o DA até hoje).

Eu, Felipe Braga Fabris, Editor-Chefe deste periódico, desejo, por meio desta retratação pública, pedir as sinceras desculpas aos funcionários terceirizados da FGV-SP, na condição de ter levantado suspeitas indevidas a respeito de sua conduta moral e profissional. A manifestação, ocorrida na edição #78 da Gazeta Vargas, em artigo intitulado “O empréstimo de carteirinhas”, não teve, em absoluto, objetivo de denegrir a imagem ou atacar pessoalmente a ninguém, tampouco prejudicar a Fundação ou empresa terceira junto aos alunos e leitores. O ato ocorreu devido a falha na escolha das palavras e consequente má interpretação da opinião do autor. Na condição de editor-chefe, reconheço que deveria ter sido o primeiro a alertar para tal fato e por isso reitero minha retratação, esperando não ter causado maiores danos a nenhum funcionário, alguns dos quais são meus conhecidos e de cuja integridade jamais duvidei. Com a consciência de que atos como esse não mais se repitam, subscrevo-me. Felipe Braga Fabris São Paulo, 22 de maio de 2009.

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Rafael Hernandez Jabur

QUEM QUER SER ÍNDIO?

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uem já ouviu alguém dizer que queria sumir da cidade e virar índio. Fugir dos compromissos sociais, tensões, transito, poluição física e sonora, cobranças, impostos, contas a pagar, viagens, horários, exigências e tudo que uma vida social exige. A selva está à sua espera, viver da caça e da pesca, comer frutas nativas, beber água das nascentes, tomar banho nas cachoeiras, curar-se de algum mal com folhas e raízes, dormir em rede e desfrutar com os pássaros das alvoradas e longe de tudo que faz envelhecer precocemente. Talvez encontre ainda uma outra tribo diferente da tua e nas noites de luar dançará em volta de uma fogueira com os novos amigos em protesto contra as ações da grande tribo de peles claras. Por muitas noites vai ter pesadelos e lembranças da cidade dos civilizados. Com certeza também não será fácil, ouvirá a sinfonia dos insetos na escuridão da noite, mosquitos, cobras, espinhos, doenças, animais perigosos e o bicho homem lá estará também como companhia, caso houver algo de interesse financeiro. Você será apenas um índio na vastidão com arco e flecha e poderá ser expulso do seu território ou até ser morto por alguém desses tantos gananciosos que perambulam por este país desde o tempo do descobrimento. Apesar de se ter uma vida social carregada de compromissos e chateações, ela ainda é promissora, proporciona ótimos retornos que preenchem o nosso ego materialista. Apenas precisamos saber viver, saber dosar as atividades profissionais e lazer. Separar um tempo para dedicar a tudo o que nos faz bem. Antonio Leonildo Braghin Monitor de Suporte Acadêmico


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POLÍTICA INTERNA C.A. FOR DUMMIES Bárbara Sterchele

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mecanismo que permite a contribuição dos alunos do CA para a organização da vida social e política dos alunos da EDESP pode parecer um assunto deveras nebuloso. Deste modo, após enriquecedora pesquisa de campo, o assunto pode sair do armário, para além da imaginação dos interessados no assunto, e povoar as páginas da Gazeta. Obviamente que, como o estereótipo do jurista vigora de maneira pontual, fez-se ouvir a pergunta: “Por que não analisar as normas do estatuto que positivam a atuação do CA?”.Jurídico, acadêmico, dogmático. Gazeta Vargas prezando pelo tédio dos seus leitores! Claro que esta entidade sabe que não há necessidade de colocar o coletivo para dormir. Portanto, segue a descrição sucinta do processo eleitoral edespiano: Existem chapas, as quais devem entregar editais descrevendo sua organização interna, seus membros, projetos, datas de aniversário, cores favoritas, etc, características que devem obedecer às normas do estatuto vigente na FGV. No final do ano, após debates calorosos entre as partes envolvidas, que literalmente acabam em pizza, os queridos aspirantes a operadores do direito votam e escolhem quem os representará. No ano seguinte, então, os sortudos que levarem o páreo cuidam da organização nada trabalhosa dos interesses informais que imperam na Rua Rocha. É o relatório. No caso do último processo eleitoral dessa esfera da faculdade, houve uma intensa disputa entre as chapas envolvidas. Existiam duas. O que já pode ser considerado um fenômeno de grande proporção, dada a quantidade absoluta de alunos do curso caber em uma Kombi. No início do prazo para a impugnação do edital havia apenas uma das referidas mobilizando a atenção dos alunos, a qual era formada exclusivamente pelos matriculados no primeiro semestre. “Bixos” com noções de civismo. Contudo, no “sprint” final do prazo de quinze dias anteriores à votação, uma chapa mista que contava com a participação de indivíduos de diversos semestres, impugnou o edital, entrando na disputa pelo caneco. A chapa com maior abrangência de representatividade conseguiu erguer a taça, apesar da entrada tardia no campeonato, tendo a possibilidade de realizar seus projetos. ”A intenção de nossa chapa é de tornar o CA mais ativo” diz o presidente da organização, Diego Nabarro. Como a graduação em Direito pela FGV em si é uma experiência nova, o CA ainda está em fase de estruturação. Desta maneira, os esforços dos membros atuais visam à melhor organização deste espaço para a manifestação dos alunos, contando com uma política de oportunidade de participação a todos os interessados. ”A maior coesão do grupo em relação à administração anterior está permitindo desenvolver de forma

mais eficiente os projetos propostos” diz Samara Sabino, encarregada das finanças. Neste âmbito, é importante ressaltar a polêmica sobre o Centro Acadêmico ser o órgão oficial de representação discente dos estudantes de Direito perante a Fundação. O histórico referente ao caso traz à tona uma eterna luta entre o CA e os representantes de sala da EDESP - que devido ao tempo de vida do curso faz referência a uns dois anos - na qual estão ambos interessados em dar voz aos estudantes desta instituição. Em discussões preliminares, a receptividade da ideia do CA exercer este papel demonstra a legitimidade democrática deste órgão perante os estudantes, os quais parecem confiantes em deixar mais uma responsabilidade a cargo de indivíduos “open bar” de responsabilidades. Abordando um aspecto mais humano do Centro Acadêmico, pode-se pensar que os envolvidos não dormem para poder realizar todas as tarefas que se propõem. No entanto, fez-se saber que a negligência salutar se direciona às aulas mesmo. Principalmente nos períodos próximos a festas e churrascos, o conceito de estudo seletivo impera na realidade dos participantes. ”A ideia é fazer bom uso dos 25% de faltas permitidas pela faculdade” explica Pedro Dearo, diretor de comunicação. ”É bom não ficarmos doentes até o final do ano, mas de maneira geral, as atividades acadêmicas são compatíveis com os estudos” esclarece Juliana Mattar, vice-presidente da organização estudantil. Se a Gazeta veiculasse som seria sugerida uma salva de palmas aos responsáveis pelas mesas de totó (para outros pebolim), air hockey e sinuca que fazem a alegria dos que residem na Rua Rocha, número 233, e precisam se distrair durante os intervalos. Para finalizar o levantamento de conhecimentos gerais sobre o Centro Acadêmico, parece razoável promover a avant première dos eventos prioritários do CA para o segundo semestre. Guinevere, a libertina, retorna para a felicidade geral da nação geveniana, que ensandecida pelos estudos prescinde sempre de mais festas. Existe também, a ideia de promover o “Pindura Solidário”, segundo o qual organizaria-se uma quermesse, uma festa de rua, como um projeto social junto aos restaurantes do bairro do Bexiga, dando continuidade a uma sugestão já transmitida pela Gazeta Vargas no ano passado. Este projeto seria interessante para subverter a ideia de que o ”Pindura” se resume a um monte de “playboyzinhos” que querem comer de graça no Fasano.


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COLUNA TUDO PELA GERAÇÃO DE RIQUEZAS à Base da Troca e Espaços de Coworking

Ricardo Lima (um clandestino explorando o outro lado da moeda...)

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esse ano, o principal assunto na internet parece ser a conhecimentos e um fomento à criação de novas ideias através onda de redes sociais que estão sendo criadas com dessas conexões, onde o limite é a criatividade dos membros. uma rapidez expressiva, as quais demonstram uma Tudo começou de maneira informal, as pessoas se nova forma de pensar e compartilhar ideias e informações para juntavam na casa de amigos e dividiam um espaço para uma nova sociedade construída realizar um ou mais projetos, ou por várias mãos. até mesmo cyber cafés, mas já é Usando esse tema como possível encontrar espaços com base - redes sociais, o modo como infra-estrutura mais profissional, é tudo se interconecta e o potencial o caso do The Hub SP, um galpão individual e coletivo dos alunos com 500m2 com várias empresas -, vou começar a escrever nessa e profissionais autônomos onde coluna da Gazeta algumas sugesaté a hora do almoço é preservada tões e reflexões sobre as potenciapor ser um momento onde todos lidades que temos como alunos sentam à mesa e conversam numa participativos de uma das melhoespécie de almoço coletivo em res e mais reconhecidas faculdafamília. des do país e, como poderemos O que estou propondo é de forma prática, aproveitá-las algo diferente de alguns espaços para resolver assuntos comuns Espaços de Coworking para projetos, reuniões e eventos dos alunos. existentes - como a Biblioteca e o Fonte: http://www.flickr.com/photos/musigny/500928433/ percebidos de forma geral. espaço Citibank - seria destinado Além da estreia como colunista da Gazeta, também à execução de projetos e organização de eventos e palestras estou começando um trabalho em projetos de economia dadas pelos próprios alunos ou convidados, onde possamos solidária com o pessoal do ITCP/FGV, comandado pelo Cesar fazer reuniões com clientes, trocar informações e receber Matsumoto, aluno da Graduação em administração pública consultoria coletiva dos próprios membros. Quantos alunos e que também foi destacada na edição 77 da Gazeta sobre da pós não poderiam ajudar os da graduação e o contrário as feiras de trocas solidárias. O mais interessante e que me também? Poderíamos conhecer mais os alunos de intercâmbio motivou a escolher o tema central foi de ser o primeiro aluno e trocar experiências com outras culturas, e não apenas com do CEAG a fazer parte dessas duas entidades e perceber como os colegas de sala. Proporcionar que o networking aconteça algumas entidades e ações importantes da “casa” ainda não de verdade, na prática. são conhecidas pela maioria dos alunos dos diferentes cursos. Nesse espaço não existiria um processo de seleção Podemos sair um pouco da faculdade e comparar essa falta aos membros e projetos, basta ser aluno da faculdade e ter de comunicação em empresas de todos os portes e perceber vontade em participar, conhecer as pessoas e o que está sendo como isso é um fator que impede ou reduz o potencial criativo produzido, um grande celeiro e incubadora de ideias, projetos e construtivo de um coletivo. dos próprios alunos e apoio ao empreendedorismo e à inovaPercebi essa desconexão assim que entrei no CEAG, ção. A faculdade como instituição teria o papel de facilitadora onde vi que a maioria dos alunos busca o networking e também e articuladora de contatos com investidores e com o mercado. traz da vivência corporativa, a competitividade, o que é totalAssim, como na economia solidária e nas feiras de mente contraditório ao espírito de construção. Acredito ter trocas, a nossa moeda a ser trocada é o conhecimento. um pouco mais de facilidade nessa percepção por ter uma Queria convidar os alunos a conhecer todas as ações formação voltada à área de humanas e artes. e entidades criadas e geridas pelos próprios alunos e tentar Como sugestão a começar a construir uma nova cultura apoiar de forma contínua, além de unir forças para uma maior aos alunos, de entender que através da troca de informações se interação dessa grande rede social de profissionais das mais gera uma riqueza muito maior do que guardar para si mesmo, diversas áreas e competências. Ainda, que saibamos criar um proponho a criação de um espaço de Coworking (open space) grande celeiro de ideias e projetos conectados com a realidade dos alunos de todos os cursos da GV. de nossa sociedade. Por que não unir tudo numa coisa só? O coworking é um movimento global de profissionais Vamos estimular a colaboração e não a competição. de diferentes áreas e projetos distintos, que compartilham o Aos alunos do CEAG, acessem a rede http://ceamesmo espaço físico e com isso possibilitam uma troca de gfgv.ning.com para começarmos uma interação de apoio no ambiente virtual e quem quiser saber mais sobre o tema Coworking pode acessar o vídeo sobre o tema: http://beans.com.br/video/coworking-independent-workers.


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GAZETA VARGAS

Edição #79

ELEIÇÕES 2009 DOMUS

INTERAÇÃO

Uma vez passada as eleições, um texto para a Gazeta Vargas proveniente de uma chapa, a qual perdeu as eleições por uma diferença simples de 49 votos, dentre os 765 votantes compostos por alunos da EESP e da EAESP só poderia ser um texto que remete às expectativas da própria chapa e às expectativas do próprio discente. Mantendo os pés no chão, e sem cobrar antes da hora, acreditamos que passa pela cabeça de todo Geveniano uma melhora notável no espaço do primeiro andar, uma vez que esta proposta era defendida por ambas as chapas e, sem dúvida, a existência de uma comunicação constante com os alunos, seja através de folhetos informativos, como foi adotado pela atual gestão nos seus últimos momentos, seja passando nas salas de aula para dar avisos e convocando os alunos para participarem da entidade, outra falha que aconteceu nessa gestão, uma grande desistência das pessoas que existiram durante parte da gestão, mas que foi suprida na reta final com alguns poucos novos membros que começaram a participar. Outra expectativa que a chapa mantém é fazer com que o alunado volte a freqüentar o espaço do primeiro com mais intensidade no período pós-aula, para que possa existir uma maior integração entre os alunos de diversos semestres, uma vez que esta era uma das propostas chefes da chapa, notada pela existência de um Diretor de Entretenimento. Não podendo esquecer as festas, crucial para a visibilidade do DAGV, só temos de esperar a manutenção e aprimoramento destas, que já chegam a ser, sem dúvida, as melhores festas do circuito universitário brasileiro, mas que de maneira alguma podem dar prejuízo, qualquer que seja. Dito uma inovação da Chapa Domus, não poderíamos deixar de comentar a inovação da Chapa Interação ao criar a Diretoria de Responsabilidade Social. O DAGV tem muito a aprender com essa diretoria que, espera-se, conseguir alcançar seus objetivos de fazer o aluno da GV participar em atividades de caráter sustentável e ajudar o alfabetização solidária e o trote solidário a prosperar. Agora ao ponto mais crucial, é a atuação política do próximo presidente, da qual se espera um posicionamento ativo tanto quanto ao panorama nacional, que envolve encontros de estudantes, e um relacionamento ativo com as entidades, tanto da GV quanto fora dela. Finalizando, e valorizando o que a Chapa Domus propunha, fica aqui o convite para que todos os alunos se interessem pela entidade que os representa e que compareçam às reuniões de gestão, que acontece semanalmente às quartasfeiras às 17 horas.

Caros alunos(as), É com enorme prazer que nós da Chapa Interação escrevemos para vocês um pouco do que somos e do que acreditamos ser de grande valia a vocês. O D.A.G.V. é uma entidade sem outro fim além de propiciar ao aluno os elementos necessários à boa convivência e à melhoria contínua de todos os processos que tangem ao aluno: das festas inesquecíveis às pesadas conseqüências de uma dependência oriunda de aulas mal ministradas por professores medianos, passando pela disponibilidade de um Xerox bem estruturado ou uma grife que nos orgulhe em expor a marca, da qual com tanto esforço merecemos fazer parte. Brigaremos para concretizar o que nos propusemos a fazer, dando especial atenção à situação acadêmica na GV. Acompanharemos de perto o desenvolvimento do curso “rereformulado”, a negociação da mensalidade, a concretização da esperada dupla-graduação com Economia, entre tantos outros assuntos que são de seu interesse. Manteremos você informado de tudo aquilo que acontece no DAGV. Tema mais do que visto em todas as disciplinas, Inovar é um dos nossos lemas e o faremos desde a tomada de decisão à implementação de novidades que incrementem o nosso cotidiano e tornem o dia-a-dia no DA cada vez mais prazeroso. Novas opções de entretenimento no primeiro andar, novas festas - como as cervejadas à tarde - novos artigos para a grife do DAGV, uma nova forma de catalisar e oferecer soluções às demandas do aluno junto à Coordenadoria: essas certamente são pautas da nossa chapa e que muito apreciaríamos compartilhar com você, aluno(a) e parceiro(a) , que queremos ter ao lado para engrandecer a nossa Entidade primeira. Ressaltamos que estamos abertos à opinião dos alunos, reforçando o intuito de representá-los através do Diretório Acadêmico. Julgamos essencial romper a barreira que foi criada entre a entidade e seus membros de maneira a enriquecer os debates e cultivar novas ideias. Agradecemos o voto de confiança e frisamos que nos comprometemos a realizar tudo a que nos propusemos. O apoio dos alunos será imprescindível nessa jornada que visa única e exclusivamente agregar aos alunos e à nossa formação. Não fique parado, faça acontecer: INTERAJA!


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ELEIÇÕES 2009 AFUERA BUSTO KENNEDY Caros correligionários, Informo que a Afuera Busto Kennedy - Los Hijos de Lugo oficializou sua candidatura ao DAGV. Como candidato a presidente, me inspirei muito em Fernando Lugo, e espero que possa ter um contato tão próximo com o povo quanto ele teve. Destaco a atuação importantíssima dos nossos diretores de Métodos Contraceptivos, de CAPOVIS, de Suínos Revolucionários, de Picaretagem e de Captação de Novos Filhos para que tal objetivo seja cumprido. Lembro que nossa proposta é focar a atuação do DAGV no seu core business, qual seja, a geração de filhos por parte de sua diretoria com a comunidade geveniana. Desta forma, os cargos formais relacionados com política, gestão financeira e gestão de eventos foram preenchidos com membros comprometidos com o core business, sendo que estas atividades serão separadas, embaladas, classificadas pelo risco por agências de ilibada reputação, divididas, e vendidas como investimentos seguros de longo prazo no mercado futuro. Por fim, agradeço o apoio dos nossos diversos patrocinadores, com destaque para a Maternidade Pro-Matre, a Associação Religiosa Contra-Camisinha de Saquarema do Sul, a Testemunhas de Jeová Unidos, e a Malvessi Associados. Estes ideais estão de acordo com o estudo apresentado em nossa carta programa, a seguir. Estudo Psicosócioeconômicosomático Sobre a Sociedade Tupi-Paraguai em Momentos de Estresse Pós-Traumático devido a Informes Presidenciais Sexuais – Verficiações Empíricas de uma Realidade Virtual Tridimensional Paralela Evidentemente, a consulta aos diversos militantes acarreta em um processo de reformulação e modernização da gestão inovadora da qual fazemos parte. Por conseguinte, a adoção de políticas descentralizadoras talvez venha a ressaltar a relatividade das direções preferenciais no sentido do progresso. A prática cotidiana prova que a complexidade dos estudos efetuados oferece uma interessante oportunidade para verificação do investimento em reciclagem técnica. Todas estas questões, devidamente ponderadas, levantam dúvidas sobre se o julgamento imparcial das eventualidades deve passar por modificações independentemente do processo de comunicação como um todo. Por fim, agradeço o apoio dos nossos diversos patrocinadores, com destaque para a Maternidade Pro-Matre, a Associação Religiosa Contra-Camisinha de Saquarema do Sul, a Testemunhas de Jeová Unidos, e a Malvessi Associados. Énaidê (naverdadenãoénemmaisnoDAGV), Fábio Kann, The Boss.

FBK ’N PINK A Chapa FBK´n´PINK – Em busca do Magnum de Ouro – acredita que já é hora do DAGV deixar de ser um ambiente tão masculino. A aluna geveniana precisa de maior espaço e liberdade para expressar sua opinião... Neste sentido, a chapa tem a proposta de ser DA mulher PELA mulher... Gente, vai ser MARA!! E aposto que você está se perguntando: por que o Magnum de ouro? ALÔU! Nós, diretoras da FBK’n’PINK pretendemos durante a gestão nos focar no Magnum de Ouro. Pra quê cuidar dos problemas dos alunos que bombaram no último semestre ou que o professor bombou de falta? Isso é muito chato! O legal mesmo é buscar o palito de ouro e achar os R$100.000,00!!! Além disso, no tempo livre, faremos algumas pequenas mudanças: 1.O espaço Colocaremos um fim nos sofás pretos e fedidos, vamos colocar pufes cor de rosa, carpetar o chão, aromatizar o ambiente (pra ver se disfarça aquele cheiro nojento de banheiro)... Vamos nos livrar daquela mesa de sinuca e do pebolas que tomam o maior espaço!!! Por que não ter um centro de relaxamento, com manicures e pedicures a disposição?? 2.Moda DAGV Contrataremos estilistas certificados para trazer as tendências de Milão para o D.A.. Chega de moletons “uniforme do dia da Educação Física”... Vamos colocar a estampa da estação na cara do D.A.!! E mais: Lançaremos uma nova linha com patrocínio da Victoria´s Secret... Agora você poderá adquirir também a linha Lingeries Sexys DAGV (Sim, haverá ingressos para assistir ao desfile apenas para as mulheres!!)!! 3.Acadêmico A chapa FBK´n´pink – Em busca do Magnum de ouro – também cuidará de assuntos sérios. Patrocinaremos cursos como: • Administrando seu cartão de crédito • Planejamento Tributário (com Eliane Tranquese) • FAMA – como aumentar a SUA • Diversificando seu portfólio amoroso • Investindo em Liquidações • Mantendo relações com investidores 4.Festas: Vamos ao que realmente interessa!!! • Giocondas: PINK Elefant!! Para cada convite feminino deverão ser vendidos 5 masculinos... E mais!! Campanha “escolha VOCÊ o seu Stripper!!” • Giovannas IN PINK: Homens e mulheres de Rosa (porque o verdadeiro homem SABE usar rosa...) • Quintais e outros eventos: Sempre regados a Champanhe, vinhos, e saquês, com direito a garçons de sunga BRANCA servindo quitutes! • Acabar com as CERVEJADAS: no lugar, as CHAMPAGNHADAS!!! Muito mais fino né! "Textos escrito por ocasião das campanhas ao Diretório Acadêmico, disponibilizados pela Gazeta Vargas no sítio: http://issuu.com/gazetavargas"


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Edição #79

ESPAÇO ABERTO

INOPERÂNCIA OU APATIA?

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xiste alguma inoperância institucionalizada no DAGV ou apenas uma apatia generalizada entre os graduandos da EAESP? Foi exatamente esta a pergunta que, certa vez, me vi obrigado a fazer ao presidente do Conselho Federal de Administração. À época, não mais que dois anos, lamentávamos sobre a mais tradicional escola brasileira de administração não ter sequer um mísero aluno presente no ENEAP (Encontro Nacional dos Estudantes de Administração Pública). Fossem outros tempos, o DAGV estaria, senão organizando o evento, incentivando calorosamente a participação de seus associados. Oorre que nas três últimas edições do ENEAP nenhum estudante da FGV compareceu. Nenhum. A lembrar das ligações históricas entre o curso de administração pública e a FGV, o número zero torna-se por demais assustador. Nem durante o ENEAP Floripa, em 2007, quando eu era Coordenador de Marketing, houve presença da FGV. Quantas foram as vezes que liguei para o então presidente do DAGV! Enviei cartazes, mídias para divulgação interna; indaguei sobre a delegação da FGV. Diziam-me ser difícil organizar uma delegação na EAESP por inúmeros motivos, mas que os membros do DAGV iriam representar. Se houve divulgação interna, não sei. Representação, posso afirmar que não. É uma pena que os estudantes da GV tenham perdido a oportunidade de ficar cinco dias discutindo o futuro dos estudos, da profissão.

CRÔNICA

Pela primeira vez, estudantes de todas as regiões do Brasil se reuniram e foi realizado o I Fórum dos Coordenadores do Curso, além da integração política, festiva e acadêmica. No ano passado, o ENEAP Ouro Preto reuniu quase 600 estudantes de Administração Pública em um hotel maravilhoso. A comunidade acadêmica trouxe uma série de avanços com o II Fórum dos Coordenadores do Curso. Mas alunos de graduação da FGV: zero. É sabido lá fora como a pós-graduação em Administração Pública é forte na EAESP. Foi esta fama que me trouxe até aqui. Mas fiquei com sérias dúvidas acerca da graduação. Tomara que tenha sido apenas desleixo das diretorias anteriores do DAGV, e não apatia dos graduandos. O ENEAP 2009 será novamente em São Paulo. E o DAGV já foi o organizador desse evento aqui.. Desta vez será a USP: os alunos de Gestão de Políticas Públicas da EACH. Ainda há tempo de responder áquela questão. Se os graduandos da FGV se omitirem pelo quarto ano consecutivo, há realmente uma apatia generalizada. Mas se os ventos mudarem de direção e neste ENEAP São Paulo a FGV marcar presença, talvez o erro tenha simplesmente derivado da omissão de gestões passadas do DAGV. Vamos acompanhar o desenrolar deste futuro. Leandro Damasio Ex-Presidente da FENEAP Mestrando em APG / EAESP

“Mas se os ventos mudarem de direção e neste ENEAP São Paulo a FGV marcar presença, talvez o erro tenha simplesmente derivado da omissão de gestões passadas do DAGV”

O VAZIO ICONOCLASTA

Rafael Hernandez Jabur vermelho se mostrou dinamicamente insustentável. O azul estaticamente. Culpa do nosso apego pelo poder? Vai além disso. Culpa do nosso prazer em estarmos certos, ou melhor, da nossa ânsia, necessidade para que a paz interior se faça, de que um bocado de nós esteja presente na construção do que imaginamos ser correto. Mas o que imaginamos ser certo? É corrente um processo auto-destrutivo. Para colocarmos um pouco de nós nas cabeças alheias, constantemente destruímos à nossa vontade. Nossa sociedade se encontra numa situação nada agradável. Velhos desiludidos e jovens sem crença. Isso se deu pelo inacabável fuzilamento das verdades. As saraivadas vêm da filosofia ou da história. E se tornaram tão banais que, hoje em dia, sabemos que se uma idéia ainda não tem um projétil instalado em suas proposições, logo o terá por conta de algum fato ou pensador. Isso retira todo o nosso piso. A juventude já percebeu que não adianta ter ideais fundamentados em proposições sólidas o bastante, que sucumbem diante do primeiro tiro bem dado. O que cria uma crescente multidão que critica os que têm. E ficam no vazio. Mas há uma saída. É justamente nos guiar baseados em fundamentos não-sólidos – não-suscetíveis a fatos ou pensadores. São os que não nos trazem desalentos. Aquelas cores vislumbradas diante do lago que não exigem nenhuma aula de óptica. Aquela saudade que não exige nenhuma explicação bioquímica. Aquelas amizades que não exigem nenhuma teoria sociológica.

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COLUNA E

PERDENDO O TREM

xiste perder o trem da história e existe o caso do Brasil. Pois perder o trem, meio mundo sempre consegue. Países do Oriente Médio, em especial os árabes, sempre foram campeões em deixar escapar pelas mãos -fosse por incompetência própria, fosse por ingerência estrangeira- as possibilidades que se vislumbravam no hori zonte para seus países; E g i t o , Líbano, Irã, a lista é extensa. E a nossa vizinha, Argentina, que até o começo do século XX era um país com futuro mais do que promissor, não parece ter sido capaz de ir além do Peronismo, uma forma burra e banal de um clientelismo cínico que, num país não autodestrutivo, jamais conseguiria se firmar como opção política no século XXI. A Argentina hoje lembra um filme de Bergman, feito com linguagem de novelas da Globo, para alguém que esperava ver Parque dos Dinossauros 5. Mas o Brasil é um caso à parte, todo especial. Este não foi um país que conheceu sua liberdade somente após a Segunda Guerra. Este não foi um país que se envolveu em enormes e custosas guerras de caráter regional e por vezes mundial. Este foi, isso sim, um país que sempre teve as possibilidades mais incríveis de tornar-se bem sucedido, mas prefiriu continur como uma promessa vaga. Muitas foram as vezes em que o Brasil deixou de tomar a decisão consciente, bem planejada. Ao invés de uma República, escolhemos um Império, à época da independência; quando se observava uma revolta, fosse ela separatista ou não, ignorava-se qualquer mensagem, sugestão ou anseio dos beligerantes em favor da proteção dos interesses da Capital; quando finalmente veio a República, optou-se por uma continuação do oligarquismo autoritário já predominante. Fomos um dos últimos países a libertar seus escravos e, após uma ditadura fadada ao fracasso,

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Rafael Kasinski

tristemente terminada –tarde- em meio à hiperinflação, ainda nos sobraram as Organizações Globo de herança. E tudo isso sem contar o grande projeto da administração Fernando Henrique Cardoso, que viu o Brasil transformar-se num serviço de resultados financeiros rápidos e exorbitantes (em outras palavras, eróticos), com a sociedade civil pagando a fatura. Hoje, após décadas a fio de péssimas e lamentáveis escolhas, de acomodações históricas de caráter B, nós podemos observar alguns dos frutos a colher: n o s s o lugar no ranking de educação Pisa (entre os últimos cinco), nosso índice Gini, nossos IDH’s e nossa política. Esta última anda por aí nos noticiário, mas como de praxe, não é uma discussão a respeito de ideias ou projetos, mas viagens que parlamentares não deveriam fazer; parlamentares que nos dias que seguem às principais denúncias, ficam com cara de adolescente que voltou para casa chapado, foi fazer uns ovos e botou fogo no local. Tem até deputado que nos ilustra o mundo real, elocubrando a respeito da ineficácia e insignificância da Opinião Pública. Este sim, um servidor que se importa com a educação de sua constituinte... Mas as circunstâncias podem ser generosas. No Brasil, este caso sempre tão único e especial, elas são generosas sempre, apesar de não parecê-lo. Para esclarecer: quando foi a última vez em que houve um prorrogado período de tempo (não sei, vamos chutar, cinco anos?) livre de grandes, cínicos, grotescos casos da mais podre corrupção? Já houve em algum momento? São tantos momentos consecutivos de alma cívica falida ou inexistenente que não é mais do que coincidência que há uma eleição para Diretório Acadêmico da EAESP/EESP. É um momento que já não possui o simbolismo que poderia ter. Mas ele está aí.


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GAZETA VARGAS

Perder mais esse trem, claro, não seria, no Brasil, novidade, muito pelo contrário. Mas podemos pelo menos nos darmos conta da situação presente para ver primeiro se não há motivos para se aplicar um pouco de otimismo. Se tomarmos como válido o conceito da micropolítica, e mais, que este tipo de política é o que mais influi no teor e formato do mundo em que vivemos, a eleição deste semestre para a próxima gestão do DA é de interesse geral. Pode-se até num ato de gentileza aceitar festas e eventos como foco principal do eleitor, mas esta eleição tem um valor que, pelo menos em teoria, é sério, tangível, quase. A isso, a felicidade de haver quatro chapas concorrendo das quais as duas com maiores chances de serem eleitas se descrevem como não sendo da situação. (Aliás, pelo menos nas mensagens que as duas chapas, Domus e Interação, marketeiam, não se vê uma chapa de situação) Dando o benefício da dúvida às ditas cujas, é um momento político de mudança, e as mensagens são geralmente positivas. Até agora, então, não há do que reclamar. Mas e como fica o desafio de sucessão? Seria sábio recordar que a gestão que está de saída, a Impacto, deixou um legado financeiro merecedor de muita admiração, tendo reduzido o passivo do Diretório de maneira drástica; e por ter influenciado de maneira muito positiva o curso de Economia na EESP. Mas também deixou um déficit de nenhuma maneira desprezível na sua comunicação direta com os alunos, a representação acadêmica tendo sido objeto de muita insatisfação (o que não deixa de ser uma lástima para a própria Impacto, que não permitiu, assim, que muitos alunos ficassem sabendo das conquistas da gestão). Tal sucessão, então, fica até mais difícil por ter as duas principais campanhas propondo serem diferentes da atual gestão: elas ficam com a responsabilidade de serem financeiramente prudentes e inteligentes e mais comunicativas e representativas; no entanto, se omitem de compartilhar de qualquer legado possível. Esta eleição, vemos, é bastante representativa da situação, digamos, de eleições estaduais, talvez até o contrário. Além do óbvio (os eleitos nominalmente só chegam ao cargo se eleitos), os que chegam aos cargos só são dignos destes se eleitores fizerem escolhas inteligentes e fundamentadas. O corpo dicente da FGV nunca dá a impressão de ser dos mais interessados, mas talvez a presente onda de escândalos políticos, onde fica à prova não só o caráter de nossos representantes como o dos seus eleitores, também, sirva como catalista de algum processo de ação consciente. Porque não é duro, não é de maneira nenhuma impensável, ver alunos da EAESP/EESP votando em quem deu mais camisetas, filipetas, canetas e beijinhos durante a campanha. Mas não é –longe disso- impensável vir a observar alunos votando em ideias, propostas, projetos.

Edição #79 O eleitor brasileiro até fez isso algumas vezes, como nas eleições de 1978, ou até na de Lula em 2002 (apesar desta última declaração poder conter algum ponto de ingenuidade), então o exemplo, apesar de infrequente, não é desconhecido. E não é que membros de algum DA futuro, Interação ou Domus, venham a utilizar o dinheiro do caixa do Diretório para viagens VIP, ou bacanais. A questão fundamental é que o Brasil e, claro, seus cidadãos (eu, tu, eles, a Hebe Camargo, todos) perdem o trem da história porque poucos são os que, em momentos potencialmente cruciais (eleições crises financeiras mundiais, CPI’s do Futebol), param para pensar no que estão fazendo e no que podem fazer. Chegamos em frente à urna e, um dia depois, não nos lembramos em quem votamos para deputado; chegamos à urna e não sabemos o projeto daqueles em quem votamos; chegamos a urna ou porque somos obrigados a isso, ou por ritual. No caso do Estado, tudo bem!, a possiblidade é real de desperdício do dinheiro do contribuinte, de patrimonialismo, de agressão à opinião decente das pessoas. No DA, cujo raio de ação é significativamente menor, o caso é outro, é de praticar cidadania e civismo em um ambiente como que de laboratório, onde podemos errar –feio, até- mas ainda reparar os danos e tentar de novo. Nele pode-se aprender política que visa algo além do indivíduo que a pratica, ou pelo menos além de um interesse privado e imediatista (túneis super faturados, viagens para mulher ir à Paris e pensar que é feliz). Teremos, na GV, mais um ano para ver se aqueles que decidem politicar e administrar o fazem para tirar um sarro ou transformarem-se em pessoas melhores, mais corajosas. Naturalmente, ninguém ficará surpreso se alunos votarem porque ganharam uma camiseta; niguém ficará chocado se a próxima gestão do Diretório ficar aquém do esperado. E o Brasil, como já foi observado, pelo menos no futuro próximo, continuará a oferecer seus políticos como exemplos gritantes do que há de podre na política e na humanidade. Eles estarão sempre aí, ou a se fingirem de inocente ou a nos retratar a vida como ela é. E a Vida continuará a propor estudá-los para estudar a nós mesmos. Esta eleição de DA que vemos agora, em outras circustâncias, poderia até nos dar emoções hollywoodianas, mas nosso país a banaliza. Quem sabe essa eleição (por mais tolo e meio-que-campanha-do-Obama que isso possa parecer) não nos surpreenda, e lenta e gradualmente nos disperte do confuso sono sem sonhos que vi vemos, onde seguimos perdendo a hora para depois, tendo perdido o trem, chegarmos à pé no destino final, ver que a festa já acabou, que o croquete está frio, a Coca sem gás, e nós sem dinheiro para paga o táxi de volta.

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EVENTOS E

2O SEMINÁRIO DE MKT

ntre os dias 4 e 7 de maio o DAGV promoveu um ciclo de palestras que batizou de “2º Seminário Anual de Marketing”. O primeiro evento foi uma palestra com Eduardo Fischer. Durante o evento, o publicitário não se cansou de gabar-se de sua invejável trajetória profissional, cansando a beleza dos gevenianos com seu inofuscável brilho. Mas a diversão do Seminário não parava por aí: na terça-feira (dia 5), o diretor de inovação da Nestlé, Mário Castellar, que com muita descontração, discorreu sobre seu papel na empresa. Assuntos como estratégias de competição, vantagens comparativas, novos comportamentos e mídia foram abordados na exposição. Um coffe-end da Parmalat aguardava a todos no Clube dos Professores. Ironicamente: uma palestra da Nestlé apoiada pela Parmalat... Na quarta-feira, mais um show de talentos: o multi-uso Manuel Tavares de Almeida Filho, presidente de quase todas as empresas em que trabalha, contou sobre seus passos em direção ao sucesso profissional. O presidente do Banco LusoBrasileiro (e mais algumas coisas) destacou os principais pontos que lhe foram fundamentais para o seu sucesso profissional, humildade, honestidade, parceria, diversificação, profissio-

Alípio Ferreira e Mariana Moreira

nalismo. Uma das atrações da noite foi seu sogro, que lhe fez extensos elogios. A propósito, boa parte plateia pertencia ao clã Tavares de Almeida. Para finalizar o Seminário, a presidente da AMPRO (Associação de Marketing Promocional), Elza Tsumori, teve uma simpática conversa com a plateia sobre seu trabalho e sobre o Marketing Promocional. Infelizmente, porém, poucas pessoas compareceram ao encerramento do Seminário. Num balanço geral, o II Seminário de MKT correspondeu às expectativas: trouxe pessoas bem sucedidas no ramo para discursar ao aluno geveniano sobre suas trajetórias e desafios.


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GAZETA VARGAS

Edição #79

ESPAÇO ABERTO

SPED FISCAL: O CERCO ESTÁ FECHADO

AGORA O LEÃO TEM UM ALIADO DIGITAL PARA QUE SUA MORDIDA SEJA MAIS PRECISA

U

m assunto que tem sido foco de muitas discussões a cerca da crise atual, e apontado como um possível fator gerador desta crise é a falta de veracidade e qualidade nas informações geradas e apresentadas pelo setor financeiro das organizações. Pensando no controle maior, e com certeza também em uma maior arrecadação de tributos pagos à receita, o governo federal instituiu pelo Decreto n º 6.022, de 22 de janeiro de 2007, o projeto do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal (PAC 2007-2010).

Esclarecimentos sobre o sistema

(texto base: www.Receita.fazenda.gov.br/Sped) Constitui-se em mais um avanço na informatização da relação entre o fisco e os contribuintes, de modo geral, consiste na modernização da sistemática atual do cumprimento das obrigações acessórias, transmitidas pelos contribuintes às administrações tributárias e aos órgãos fiscalizadores, utilizando-se da certificação digital para fins de assinatura dos documentos eletrônicos . O projeto envolve três grandes projetos: A escrituração Digital, Escrituração Fiscal Digital e a NF-e ( Nota fiscal eletrônica ) – Ambiente Nacional . Apesar do projeto já entrar na obrigatoriedade a partir do mês de setembro de 2009, os desafios a serem enfrentados na posterior eficiência do sistema em se ter um cruzamento de dados é muito grande, uma vez que o projeto envolve muitos tipos de organizações, tanto da esfera pública quanto na iniciativa privada. Algumas informações a respeito do intuito do projeto são esclarecidas no site na receita , dentre elas estão: xx Representar uma iniciativa integrada das administrações tributárias nas três esferas governamentais: federal, estadual e municipal. xx Manter parceria com 20 instituições, entre órgãos públicos, conselho de classe, associações e entidades civis, na construção conjunta do projeto. xx Firmar Protocolos de Cooperação com 27 empresas do setor privado, participantes do projeto-piloto, objetivando o desenvolvimento e o disciplinamento dos trabalhos conjuntos. xx Possibilitar, com as parcerias fisco-empresas, planejamento e identificação de soluções antecipadas no cumprimento das obrigações acessórias, em face às exigências a serem requeridas pelas administrações tributárias. xx Fazer com que a efetiva participação dos contribuintes na definição dos meios de atendimento às obrigações tributárias acessórias exigidas pela legislação tributária

contribua para aprimorar esses mecanismos e confira a esses instrumentos maior grau de legitimidade social. xx Estabelecer um novo tipo de relacionamento, baseado na transparência mútua, com reflexos positivos para toda a sociedade. Uma troca de informações mais eficiente através da internet para fins tributários trará muitos benefícios, como a eliminação do gasto excessivo de papel e dos devidos gastos com o seu armazenamento, simplificação das obrigações acessórias, uniformização das informações que o contribuinte presa às diversas unidades federadas, e um conseqüente aperfeiçoamento do combate à sonegação entre outros. A maioria dos contribuintes já se utiliza dos recursos de informática para efetuar tanto a escrituração fiscal como a contábil. As imagens em papel simplesmente reproduzem as informações oriundas do meio eletrônico. A facilidade de acesso à escrituração, ainda que não disponível em tempo real, amplia as possibilidades de seleção de contribuintes e, quando da realização de auditorias, gera expressiva redução no tempo de sua execução. No futuro, com o pleno engajamento dos órgãos envolvidos, o que possibilitaria um cruzamento de dados por parte de órgãos tanto municipais, estaduais, federais e também da iniciativa privada, o governo pretende emitir as declarações de imposto de renda baseando-se em seu banco de dados, e uma vez confirmada pelo declarante , será assinado, reenviado para a receita que então após este processo irá requisitar o valor a ser tributado.

“No futuro, o governo pretende emitir as declarações de imposto de renda baseando-se em seu banco de dados”

Daniel Vasconcelos Parreira 20 anos , aluno do 2º ano da graduação em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Paraná Trabalha no setor Fiscal/controladoria na Bematech S/A Filial Curitiba, e participa do programa de pós graduação e mestrado em contabilidade, desenvolvendo pesquisas no campo da ecossocioeconomia, principalmente com pesquisas no sul do Brasil. (Daniel.Parreira@bematech.com.br) Agradecimentos: Gustavo do Carmo Alves Silva - depto. de impostos Martinelli Advogados, Joinvile - SC gustavo@martinelli.adv.br


gazetavargas@gvmail.br

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ESPAÇO ABERTO DOSSIÊ: GOSSIP GIRL.

“V

ocê não é bem vindo aqui.” Ao ouvir essa pachorra no intervalo aqui da GV fui transportado às escadarias de Constance Billard, Manhattan, e num episódio em que me sentia um ladrão de vestidos, perguntei-me se a frase era realmente séria e fui atrás do que queriam dizer com aquilo. Como bom imbecil, parti da minha associação. O que me levou a assistir mais de uma temporada de “Garota Fofoca” (tradução livre). Esse desgaste me valeria uma coluna aqui nesta Gazeta, em respeito ao auditório. Assim como Diogo Mainardi está para Lula, eu estaria para Garota Fofoca. Mas não pretendo me juntar à platéia, e depender do seriado como Mainardi depende de Lula. O que fiz então foi reunir todas as minhas críticas e enterrar de vez essa obsessão.

Soltando os cachorros, parte I:

• Cotas: Não há negros no seriado. E como todos os personagens de lá são esteticamente agradáveis, todo negro na visão do seriado é feio. Mas é muito inconveniente falar desse assunto. Que levaria a argumentos sobre políticas públicas de inclusão social de negros no mainstream descativando a leitora. • Aquém do bem e do mal: A aparente superação do maniqueísmo no seriado (Chuck apaixonado e Nate cafa) não tem relevância artística alguma. Os atores mudam de conduta como mudam de roupa. Mas não levam consigo aquela margem que existe nessa mudança, o peso dela, difícil de transpor à atuação. No entanto essa crítica é geral. Ao transitar entre meu quarto e a cozinha pude constatar isso. Diante da tevê ligada no Caminho das Índias, um pai invadia a casa de sua ex-mulher (presumo) e começava a bater na bunda de sua filha. Por um breve instante entendi que fosse algum tipo de piada, uma graça que pais fazem com filhos. Quando me dei conta da seriedade da cena, pois a mãe chorava em desespero e a empregada acudia, disparei a rir. Todos os atores globais são assim, não sabem abrir uma porta com naturalidade, até trocos recebem artificialmente, forçam a barra quando drogados ou bêbados. Enfim, atuariam melhor se não atuassem! Li num blog que o Tony Ramos ao interpretar um pai de família em novelas (seu papel mais comum) consegue “desinterpretar” o pai de família que realmente é. Íncrivel isso. • Inverossimilhança: Conceber o seriado como algo próximo à realidade, ou até mesmo como a realidade em que vivemos é ultrajante. Personagens rasos e tramas (aka fofocas) simplificadas demais. Como se traição passasse junto com o episódio. Estico ainda mais o argumento. O seriado é completamente avesso à realidade. Trata de temas densos como amor, relacionamento e família de forma consumível. Não há captura do drama real, apenas do clímax, o que nos deixa a consumir expectativas que temos diante dos desfechos e das tensões. • Literatura en passant: Qual o ponto comum do magnata Dan Brown, a frustrada da Hermione, os vampiros de Twilight e Serena? A satisfação rasa, o consumo. A arte, na contramão desse entretenimento com gosto de cheddar, trabalha a satisfação de modo a nunca realizá-la. Há sempre a perspectiva da possibilidade. Até porque a satisfação de fato

é a extinção do prazer. O que difere a gastronomia da fome. A ambiguidade da conclusão. • Compostura feminina: Leitoras, ao se sentirem plenas com literatura de prateleira e seriado folhetim, disfarcem. Não denunciem o quão pouco sofisticado é o gosto de vocês. Enquanto casais curtem o pós-coito ao som de “Clair de Lune.” Pessoas reconstroem sensações passadas ativadas pela memória de Proust. Percebem a narrativa que há no sabor de um vinho. Acessam a finitude da existência num filme de Bergman, exploram os limites da linguagem em Borges, vocês, leitoras, se satisfazem com o fato de Vanessa ter dado pro Chuck, aliás, QUEM não deu pro Chuck em Garota Fofoca. Talvez o Nate, ainda. Se a sua satisfação se resume a uma Avada Kedavra, reveja o quão interessante você é ao menos. • Conclusão: A única satisfação possível este tipo de entretenimento, que se assemelha a um Doritos, é a de causar no seu interlocutor um estado de suspensão cerebral. Só pode ser esta a resposta. Alcancei esse estado numa partida de futebol. Aliás, o intuito do futebol é não te fazer pensar. Lembro de um artigo do Mainairdi em que ele abria dizendo que “futebol é a coisa mais estupidificante que existe.” E confessava mais adiante, “o que eu não quero é não ter razão.” O que até de certa forma concilia o bom gosto do mau gosto, o último te preserva das afetações do primeiro.

Cupins no canil, parte II:

Leitora, se você passou por todos esses argumentos ludibriada pelo que disse, escreva na sua agenda: rever minha capacidade crítica. Há um ponto comum em todos os meus ataques: eu e minha suprema arrogância. O que facilita o combate a eles. Desembarco de mim, portanto, para prestigiar as mais perspicazes. Suponho que uma leitora de Stendhal (seus livros começam com citações desse escritor realista) que tenha em suas mãos um objeto como “Upper East Side” não possa ficar no meio do caminho da ironia, morninha. Em vários momentos da minha suspensão cerebral a razão me cutucava: isso é pra valer? É real? Assistir a ironia adquirir outro sentido foi desesperador. Ainda pior neste caso, pois o sentido foi de autorizar a gostar do que é considerado “idiota e less cool”. Esse fenômeno é recente, acontece com fãs do Zé do Caixão, Malhação, White trash parties e karaokês na Liberdade, não esgotando por aí. A ironia é uma figura faceira. Seu uso requer posição. Ou é fria, ou é quente. Ironia morna passa despercebida. Machado, Eça, Stendhal eram partidários da ironia que “esculhambava com gentileza”. Acadêmicos na função de timecops dos conceitos desesperariam com o que essa mulher tem feito com a ironia. Similar ao desespero de Kant, que se remexe em seu túmulo a cada vez que um ministro do STF pronuncia a expressão “dignidade humana” No funeral da ironia, morta pelo seu suicídio, meu texto padece. E agora, enfim, descubro que quem não é “bem vinda aqui” é ela própria, que apresenta comportamento suicida quando mal utilizada. Até quarta, leitoras. Michelzinho XOXO.


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GAZETA VARGAS

Edição #79

HUMOR Eduardo Miyamoto “Então quer dizer que um menino de 10 anos tentou te asssaltar?” “Não era um menino, era uma menina. E ela tinha 12 anos.” Membro da Gazeta “Quando você morre, você não é mais membro da Gazeta.” Membro esclarecendo que não poderemos enviar textos do além. “Aí GV, pega meu currículo. Você vai ser meu patrão.” Fecapeano já de olho nas oportunidades de emprego.

“Jovem, não vou poder comparecer à reunião. A porta da frente de casa foi pintada hoje e não pode ser fechada até a noite pra não marcar. Como estou sozinho, não posso sair. Quer dizer, estou preso em casa com a porta aberta.” Membro da Gazeta justificando sua ausência na reunião “Se você estivesse no motel com a sua namorada e a camisinha custasse R$20, você pagaria?” Professor de marketing tentando explicar que as circunstâncias influenciam o valor do bem.

E NA FALTA DE MODALIDADES EM QUE A GV É CAMPEÃ NO ECONOMÍADAS... ...sugerimos o Jan-ken-po, pedra-papel-tesoura. Segue entrevista com um dos maiores nomes do esporte:

Lenda do Jan-ken-po paga o preço da fama (Traduzido e condensado do site www.worldrps.com)

Três títulos mundiais. Quatro vezes eleito o melhor atleta do mundo na modalidade. Respeitado e querido por muitos. Esta é a ficha de Rob Krueger, canadense de 37 anos, que pode ser considerado o melhor atleta de jan-ken-po de toda a história moderna. Entrevistamos o campeão em sua casa espaçosa, na aconchegante Des Moines, localizada a 45 km de Quebec, poucos dias após sua consagração no Mundial de Toronto: World RPS: Rob, como é a sensação de ser uma verdadeira lenda viva do joquempô? Rob Krueger: Estranho. Não me sinto como um ídolo, ainda me surpreendo toda vez que um garoto vem me pedir autógrafo ou tirar uma foto. Por estas coisas eu me sinto bem, mas a falta de privacidade realmente incomoda. Michael (Jordan, ex-astro do basquete) dizia que a fama é traiçoeira, e estou sentindo isso agora. World RPS: O assédio te incomoda? Rob Krueger: Em momentos, sim, mas se eu escolhi essa vida, tenho que me acostumar. World RPS: Falemos então do último Mundial. Como foi suportar a pressão de entrar como favorito, e as críticas que diziam que você estava acabado? Rob Krueger: Gosto da pressão, dos apupos da torcida. Fiz a minha melhor preparação e estava muito confiante. World RPS: Fale sobre sua preparação para o Mundial. Rob Krueger: Após as eliminatórias de junho, comecei os treinamentos aqui mesmo em Des Moines. Fui para Toronto em novembro, onde meu treinador, o grande Isaias Swonsen, me preparou com grande afinco. Pela manhã, um treino físico no Glessen Park, e após um almoço rico em carboidratos, três horas seguidas de treinamento tático. Dormia cedo, e descansava apenas uma vez por semana. O esforço valeu a pena. World RPS: Três títulos mundiais são o suficiente? Já pensa em parar? Rob Krueger: Me perguntaram isso depois do segundo título (risos). Mas aquele ano, em Frankfurt, percebi que a única

coisa que sei fazer é jogar janJan-ken-po, eu amo este esporte. World RPS: Na semifinal, o japonês Naki Nahirito chegou a abrir 1x0. Você pensou que tudo estaria acabado? Rob Krueger: Isaias me ensinou a sempre acreditar nos meus sonhos. Apesar dele vencer o primeiro ponto, usando a pedra, eu sabia que tinha condições de vencê-lo. Usei a técnica “Edward” (tesoura-tesoura-tesoura), que nunca me decepcionou mesmo nos piores momentos. Conheço a técnica de Nahirito, eu sabia que ele tentaria a “Embalado a vácuo” (papelpedra-papel). Já na final, contra Rigaux, após o primeiro movimento acabar empatad o (pedra x pedra), vi que ele poderia desistir da “Barbeiro de Sevilha” (pedra-tesouratesoura), que eu acreditava que ele usaria. Então arrisquei com a desconhecida “Um Punhado de Dólares” (pedra-papelpapel), que foi ideal para combater a “Avalanche” (pedra-pedra-pedra) escolhida por ele. Foram momentos de glória. World RPS: Te surpreendeu o nível técnico do Mundial? Rob Krueger: Sim, o que me surpreendeu foi o fato de países sem tradição chegarem asàs quartas-de-final, como Salviedo (o hondurenho Hector Salviedo) e McCallister (Jason McCalister, Irlanda do Norte). Essa globalização do esporte é muito benéfica. Mas claro que o que me deixou mais feliz foi chegar à final com meu compatriota Marc Rigaux. World RPS: E os planos para o próximo ano? Rob Krueger: Fui nomeado Embaixador do Jan-ken-po pela Federação, pretendo levar o esporte à África, trabalhar com crianças. Também pretendo fazer um bom papel na Liga Canadense, e trazer mais alegria para Des Moines, meus amigos e minha família.




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