ZH - Dez anos depois de comemorar revitalização, Centro de POA tem o triplo de imóveis vagos

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Geral

ZERO HORA DOMINGO, 20 DE FEVEREIRO DE 2011

CENTRO RENOVADO

O coração da Capital volta a ser cobiçado

FOTOS JEFFERSON BOTEGA

Após décadas de êxodo de pessoas e negócios, o centro da Capital começa a receber uma nova leva de moradores, pontos comerciais e serviços, um dos sinais mais festejados de sua revigoração

SUZANA ENGLERT Relações públicas que está se mudando com o marido para um apartamento de 210 metros quadrados, na Praça Dom Feliciano

As mudanças no Centro serviram de incentivo. Apostamos na revitalização

ITAMAR MELO

D

epois de um tenebroso mergulho no abandono e na degradação, o bairro que serviu de farol para os gaúchos ao longo dos séculos volta a ter luz.Revigorado pelo investimento de milhões de reais em restaurações e pela retirada do comércio informal que atravancava suas ruas, o Centro vive um momento de virada. Um dos sinais mais festejados é a chegada de uma nova leva de moradores, que promete reverter a sangria populacional responsável pela debandada de 15 mil pessoas, um terço do total,entre 1980 e 2005. O notável é que a motivação dos recém-chegados é a mesma dos que procuravam um endereço na região em seu período áureo, os anos 40 e 50 do século passado, quando o bairro era sinônimo de elegância. A geração que desembarca agora escolhe o Centro porque ele se tornou glamouroso mais uma vez. Em grande parte, trata-se de um movimento de jovens antenados, com profissões ligadas à criação. É uma turma formada por designers, pu-

blicitários, arquitetos e artistas que reformam apartamentos com décadas de história para conferir-lhes um ar contemporâneo. São as águas passadas do Centro movendo novos moinhos.

Moradia é lastro de recuperação Um prédio da Avenida Siqueira Campos recebeu uma dezena de moradores com esse perfil. Os publicitários Ismael Goli, 34 anos, e Mariana Balestra, 30 anos, foram dos primeiros a chegar, cinco anos atrás. O casal trocou o Menino Deus por um apartamento de 220 metros quadrados com vista para as ilhas do Delta do Jacuí em praticamente todas as janelas. – Sou gourmet, e o Mercado Público é onde acho ingredientes que não encontro em outro lugar – elogia Goli. Uma das pessoas mais indicadas para explicar a opção do casal e o que ela significa para Porto Alegre é justamente a mãe de Mariana Balestra, a professora da Faculdade de Arquitetura do Uniritter Maria Isabel

Marocco Milanez.A arquiteta enxerga, depois de décadas de declínio, a existência de uma ação orquestrada para a recuperação da área central. A grande reviravolta, na sua avaliação, foram as obras do Monumenta. Uma parceria entre a prefeitura e o Ministério da Cultura, o programa investiu desde 2002 perto de R$ 12 milhões no restauro de edificações públicas e privadas e tem uma série de obras em andamento, totalizando R$ 21,8 milhões. – Quando uma área é recuperada, a tendência é de que surjam iniciativas no entorno. Esse processo gerou um movimento de retorno, tênue ainda, de jovens formadores de opinião. Isso é importante: a moradia é o lastro da recuperação – observa a professora. Um indício de que Maria Isabel pode estar certa é um fenômeno percebido por outra moradora do edifício da Siqueira Campos. Em 2005, quando mudou com o marido para o local, a designer Márcia Steyer, 45 anos, deparava com reações de preconceito sempre que mencionava morar no Centro. – As pessoas faziam cara feia. Agora, telefonam para saber como

Na escolha do apartamento com vista para o Delta do Jacuí, Ismael Goli (ao lado) apostou em atrações como proximidade com o Mercado Público

conseguir apartamento aqui – conta. A nova fase também está permitindo a vinda de quem já se sentia atraído, mas era repelido pela situação de abandono e deterioração. O arquiteto Mário Englert, 55 anos, passou parte da infância brincando na Praça da Matriz, perto da residência do avô. No final dos anos 90, quando decidiu mudar-se do bairro Petrópolis, enamorou-se de um edifício situado na Praça Dom Feliciano. Mas não foi possível convencer a mulher, a relações públicas Suzana, 56 anos. O casal acabou no Moinhos de Vento. No ano passado, quando decidi-

ram-se por nova mudança, o Centro estava diferente. Desta vez, foi fácil convencer Suzana. Ela e o marido se mudaram para um apartamento de 210 metros quadrados no prédio da Dom Feliciano em janeiro e estão no meio de um processo de reforma que inclui a derrubada de paredes e a interligação de ambientes. A nova fase se reflete nas estatísticas do mercado imobiliário. Em alguns meses de 2010, o Centro perdeu pela primeira vez o posto de bairro com mais imóveis usados à venda. itamar.melo@zerohora.com.br


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