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Os carros de 1959

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Austin Healey

Austin Healey

Muita inspiração

A criatividade ao fim de uma década

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o Ford Galaxie de 1959 marcou a transição da ousadia da década com o visual comportado que viria nos anos 60

Alguns dos automóves que mais admiro foram lançados em 1959. O Chevrolet Impala, como modelo independente (em 1958 ele era uma versão superior do Bel Air), o Mini, o Austin Healey e o Fusca nacional. Nesse ano, outros modelos já existentes atingiram seu ápice de ousadia e sofisticação, como o Cadillac Eldorado, em sua quarta geração. Mas há outros carros igualmente interessantes, um pouco menos famosos do que os listados, que poderiam muito bem figurar em uma importante lista de desejos.

Vamos começar com um bem conhecido, o Ford Galaxie. Nós, os brasileiros, ficamos bem íntimos do Galaxie quando ele foi lançado no Brasil, em 1967, trazendo luxo e conforto antes inexistentes em qualquer modelo nacional.

O Galaxie foi o primeiro carro de passeio da Ford no país e foi produzido até 1983, nas versões Galaxie, LTD e Landau.

O Galaxie americano, no entanto, foi lançado nos Estados Unidos em 1959, como uma versão superior ao Fairlane 500, com seu novo nome aproveitando a popularidade dos assuntos espaciais que o país vivia naquele momento.

O Ford Galaxie também era o top da marca naquele país, sendo que em 1962 ele foi promovido a Galaxie 500 e depois LTD, em 1965. Até então, o modelo não era tão atraente quanto seu rival Chevrolet, ano a ano, pelo menos na minha opinião, mas a sua terceira geração, de 1964, chegou a uma beleza atemporal. Foi a geração que desembarcou no Brasil dois anos depois.

Ford Galaxie 1959 skyliner, com capota rígida escamoteável de acionamento elétrico e kit continental do estepe

essa é a terceira geração do Ford Galaxie, de 1964. Foi esse modelo que fez, e ainda faz, muito sucesso no Brasil

Em sua terra natal, o Ford Galaxie ainda teve uma quarta geração, em 1969, com uma bela reestilização, mas que não ficou tão marcada como a anterior. Seu último ano foi 1974, quando já não era um carro tão bonito, porque já trazia algumas características visuais que marcariam a maioria dos grandes carros americanos da década seguinte. A partir do ano seguinte, passou a ser chamado apenas de Ford LTD.

o Jaguar Mark 2 era um sedã médio com bastante esportividade.

Do outro lado do Atlântico, outro ícone surgia em 1959. O Jaguar Mk2 é, ainda hoje, um dos sedãs médios da marca inglesa mais consagrados, o preferido pelos grandes pilotos de competição ingleses da época. O Jaguar Mark 2 substituiu o Mk1 com três motores de seis cilindros em linha disponíveis, de 2.483 cm3 , de 3.442 cm3 e de 3.781 cm3, sendo que este último, com potência de 223 cv, também era utilizado no esportivo Jaguar E-Type. O Jaguar Mark 2 foi produzido com esse nome até 1967, quando o maior motor foi descontinuado e as duas versões remanescentes foram rebatizadas de 240 e 340, com produção até 1969. O modelo não teve sucessor.

o belo dKW F12 Cabriolet, que foi produzido em tiragem limitada, era a evolução do pioneiro dKW Junior

Da Alemanha, chegou, em 1959, o pequeno e popular DKW Junior. O destaque do modelo era o motor de três cilindros dois tempos dianteiro, com tração dianteira, a mesma configuração com a qual chegou aqui o nosso DKW Vemag, só que com cilindrada de 741 cm3 .

O carro já havia sido apresentado no Salão de Frankfurt dois anos antes, com o nome de DKW 600 e motor de 600 cm3, mas só teve início de produção em 1959, com o motor maior e com o nome de Junior.

Em 1963 o carrinho perdeu o nome e o interesse, passando a chamar DKW F11, com motor ligeiramente maior, de 800 cm3 . Mesmo com um motor um pouco mais potente, de 900 cm3 e 45 cv, e com o nome de F12, o interesse pelos motores dois tempos estava caindo e a produção foi encerrada em 1965. Em 1964 houve uma versão bem restrita do belo DKW F12 Cabriolet.

Chevrolet Bel Air 1956 conversível: a mais alta classe em uma linha popular

Mais um americano. A marca Buick representava um pouco mais de luxo e sofisticação em relação à Chevrolet, ambas pertencentes ao grupo General Motors. E em 1959, como não poderia deixar de ser, a Buick apresentou um novo carro que, apesar de não ter hoje a fama de um Impala ou de um Cadillac, era um modelo belo e muito marcante. O Buick LeSabre foi o resultado comercial de um dos carros-conceito mais importantes dos anos 50, de mesmo nome, e, apesar de não ter as ousadas soluções estéticas do show car mostrado oito anos antes, seguia um padrão visual diferente do que a marca estava acostumada. O Buick LeSabre foi produzido até 2005 em oito gerações, já não mais com a forte identidade original, da qual começou a se afastar a partir da segunda geração do modelo, de 1962, que tinha a cara dos anos 60.

Da França, um automóvel curioso, em diversos sentidos. Como alguns ancestrais conterrâneos, O Panhard PL, lançado em 1959 e produzido até 1965, não tinha grade dianteira destacada, apenas uma pequena abertura para a entrada de ar para a refrigeração do motor, um boxer de dois cilindros e 851 cm3, refrigerado a ar por ventoinha, como o do VW.

Outra curiosidade era a abertura do capô, que levantava inteiro, com faróis e tudo, dando amplo e fácil acesso para reparos mecânicos. O PL do nome do modelo teve origem em Panhard et Levassor, que era o nome original do fabricante. Essa marca ficou notória por introduzir diversos sistemas mecânicos revolucionários.

A estranha perua sueca saab 95, com motor doistempos de três cilindros. Abaixo, o skoda octavia

Agora da Suécia. A perua Saab 95 era, também, um veículo um tanto estranho, mas bem simpático. Tinha tração e motor dianteiro dois tempos de três cilindros, em uma concepção parecida com a do nosso conhecido DKW, pois tinha câmbio de quatro marchas na coluna, sistema de roda livre e as portas dianteiras suicidas, ou seja, abriam para trás. Da Tchecoslováquia, claro, um Skoda. O modelo mais famoso da marca é o Octavia, produzido de 1959 até 1971. Ganhou esse nome por ser o oitavo modelo lançado pela marca Skoda.

o BMW 700 tinha motor traseiro de dois cilindros opostos, o mesmo das motocicletas

Os carros da BMW parecem ter sempre a mesma identidade visual, como a grade dianteira dividida, seja lá qual for o tamanho ou o formato. Mas a marca alemã produziu alguns modelos de aparência mais comum.

O BMW 700, produzido de 1959 a 1965, nem poderia ter a famosa grade dianteira, uma vez que tinha motor traseiro flat-twin de 700 cm3 , o mesmo utilizado nas motocicletas. Com carrocerias sedã e cupê, ambas de duas portas, o 700 foi o último BMW projetado para o segmento dos carros populares.

A marca japonesa Datsun também tem um modelinho de 1959 pra lá de simpático, pouco conhecido, que é o 2000 Sports. O pequeno roadster foi o precursor da família Z, tanto é que também usava o nome de Fairlady, assim como o Datsun 240Z. A primeira geração do Datsun Sports foi produzida em pequena escala até 1961, apenas 20 unidades com motor de quatro cilindros de 988 cm3 – o que o torna o mais raro dos Datsun – mas a segunda geração teve grande produção em série até 1970, sendo exportado para os Estados Unidos com volante do lado esquerdo e tornando-se um sucesso, competindo no mercado com os pequenos roadsteres ingleses.

Um carrinho – ou um carrão, para os italianos – pelo qual eu sempre tive uma grande simpatia, era o Fiat 1800. Sedã de quatro portas, com uma versão perua, era o verdadeiro carro da família italiana nos anos 60.

Lançado em 1959 com motor de 1.800 cm3, teve versão alongada com motor de 2.100 cm3 para ser usada por diplomatas, mas o que o tornou popular foi a versão simplificada de 1963, com motor de 1.500 cm3 .

o Fiat 1800 se tornou o verdadeiro carro da família italiana, nos anos 60

Mais um carro popular francês pouco conhecido, o Citroën Bijou, um cupê quase tão simplório quanto o que lhe serviu de base, o famoso Citroën 2CV. Com carroceria de fibra de vidro, o motor de dois cilindros e 425 cm3 não foi suficiente para boa receptividade do mercado o inglês, alvo dos franceses. Mesmo sendo de plástico, era mais pesado do que o 2CV. Apenas 210 unidades do Bijou foram produzidas, o que o torna um raro e desejável clássico.

o Maserati 5000 GT era feito sob encomenda para grandes personalidades dos anos 60

o primeiro Maserati 5000 GT, chamado de Xá da Pérsia

Um italiano de nome famoso tão raro quanto estranho. O Maserati 5000 GT, produzido sob encomenda em pequena escala de 1959 até 1966, era um cupê de duas portas baseado no 4500 GT com carrocerias criadas por oito carrozzieri diferentes.

O primeiro deles, chamado de Xá da Pérsia, foi feito para Mohammad Reza Parlev, que ficou impressionado pelo desempenho do carro original. Alguns detalhes do carro foram inspirados na arquitetura barroca da antiga Pérsia. Cada mercado refletia o gosto dos motoristas naqueles anos 50. Os ingleses, ousados nos esportivos, eram mais conservadores nos sedãs, mesmo que estes tinham grande dose de esportividade. O Bentley S2 é um bom exemplo disso.

O desempenho era um dos grandes atrativos do luxuoso carro, que vinha equipado com o novo motor V8 Roll-Royce da Serie L, substituindo o comportado seis em linha da versão S1. O Bentley S2 foi produzido de 1959 até 1962.

studebaker Lark de primeira geração

Nos Estados Unidos, os novos carros de 1959 não eram apenas os exuberantes sedãs e conversíveis com rabos de peixe quase descomunais. Algumas marcas, mesmo as ousadas como a Sudebaker, antecipavam a década seguinte com modelos de linhas mais retas e simplificadas. É o caso do Lark, sedã comportado que foi produzido até 1966. A primeira geração do Lark teve boas vendas, pois ao fim da década já existia o desejo de carros menores e mais econômicos, ao mesmo tempo em que as três grandes marcas, que ditavam as regras de mercado, ainda não tinham seus compactos para vender. Por fim entre os automóveis mais representativos que surgiram no ano de 1959, o inglês Triumph Herald é um daqueles carros não lembrados com facilidade mas interessantes o suficiente para figurar nas melhores coleções. Compacto, configurado como duas portas e quatro lugares, o Triumph Herald era, antes de tudo, bem elegante.

o Triumph Herald Cabriolet, de quatro lugares Foi produzido nas configurações cupê, sedã, conversivel e perua, com carrocerias assinadas pelo designer italiano Giovanni Michelotti e com motor de um litro. Vendeu muito bem na Inglaterra até seu último ano, 1971. O Triumph Spitfire, pequeno roadster de dois lugares, foi baseado no Triumph Herald. É claro que outros modelos foram introduzidos no ano de 1959, alguns com muita importância entre nós, como o Simca Chambord. Mas esse certamente merece maiores detalhes sobre a sua história, que será contada em breve. l

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