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Fusca

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Pelo Mundo

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O queridinho do Brasil

fenômeno mundial, o nosso fusquinha passou a ter produção nacional em 1959

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Ahistória do Fusca é uma das mais interessantes entre todas, por ser riquíssima e, também, bastante complicada. Até mesmo os historiadores entram em desacordo em relação ao início do carrinho, lá pelos anos 30, tal é a quantidade de informações conflitantes a respeito.

Mas aqui, e agora, vamos nos ater à história do “nosso” Fusca, o Volkswagen brasileiro, que teve seu início de produção no dia 3 de janeiro de 1959 e término em 28 de junho de 1996. Olha aí, mais um carro cheio de história que também chegou no último dos anos 50!

O prmeiro fusca nacional, que ainda não era chamado assim. O espelho retrovisor externo não era item de série

O primeiro Fusca foi oficialmente importado para o Brasil em 1950, exatamente como era produzido na Alemanha, pela Brasmotor, que já era conhecida por importar carros. Logo em seguida, começou a montar o carrinho em São Paulo, em forma de kit, pelo regime CKD (vinha parcialmente desmontado). Isso até 1953, quando a Volkswagen do Brasil assumiu a operação, que culminaria com a construção da fábrica da Anchieta, em 1956, em São Bernardo do Campo.

A fábrica foi inaugurada em 1957 com a produção da Kombi nacional e, em 1959, os primeiros VW Sedan começaram a ser produzidos naquele local. O novo Fusca nacional ainda tinha componentes importados da matriz, com índice de nacionalização de 54%, mas algumas chapas da carroceria já eram estampadas aqui. A maior diferença entre o último Fusca montado em 1958 e o primeiro fabricado aqui em 1959 era o vigia traseiro retangular, de maior tamanho que o famoso oval, que substituiu o duas janelas em 1953. O modelo alemão já tinha o vigia maior desde 1958, mas os montados aqui naquele ano ainda tinham a janela traseira oval.

A partir daí, o Fusca começou sua escalada como fenômeno nacional. A indústria brasileira era ainda muito inscipiente, com apenas três anos de vida, e a simplicidade do “fusquinha” conquistou a maioria dos motoristas brasileiros, acostumados com o estilo norte-americano. Tanto é que, já ao fim do seu primeiro ano, foi o carro mais vendido no Brasil, posto que ocupou pelos 24 anos seguintes.

O casal da TV John Herbert e Eva Wilma, rendendo homenagens ao fusca, assim como fizeram com a Romi-Isetta

A história do Fusca brasileiro não é tão complicada quanto ao do seu irmão alemão, mas, ainda assim, difícil de ser contada em extremos detalhes. Mesmo não parecendo por fora, a cada ano o Fusca recebia muitas modificações de projeto, que iam sendo introduzidas aos poucos. As novidades mais importantes, do ponto de vista estético, eram fáceis de serem percebidas, mas muitos pequenos detalhes eram alterados sem que ninguém de fora da produção ficasse sabendo. É claro que seria impossível listar aqui todas as mais importantes novidades introduzidas no Fusca brasileiro ano a ano, mas as mais notáveis jamais saíram das mentes que qualquer apreciador da história do Fusca. O primeiro Fusca nacional já tinha as maçanetas quadradas, com botão, diferentes das maçanetas arredondadas, de “puxar”, que continuaram a ser oferecidas na Kombi. O volante também era novo, em forma de cálice, diferente do volante plano da versão anterior.

O motor do Fusca era o 1200, com câmbio de quatro marchas, sendo que a primeira sincronizada surgiu apenas em 1961. Até então, os incautos que tentavam engatar a primeira marcha com o carro em movimentos escutavam uma sonora “arranhada”. A menos que soubessem utilizar o recurso da dupla debreagem…

Como eu já havia mencionado algumas vezes, eu também vim a esse mundo no ano de 1959 (talvez, por causa disso, tenho tanto apreço aos automóveis contemporâneos), por isso, a menos que eu fosse um bebê de outro mundo, não poderia ter acompanhado a evolução do Fusca desde o início. Mas lembro de muitos detalhes que iam sendo alterados ano a ano, principalmente devido aos carros de teste que meu pai trazia para casa (além, é claro, de ouvir seus relatos sobre cada mudança). Posso ser traído, um pouco, pela memória de criança, mas em casa tínhamos um Fusca 1959, o da minha mãe, e meu avô também tinha um de mesmo ano. Lembro bem que, às vezes, o carro da minha mãe apagava, e ela nem ficava preocupada: bastava virar a torneira de gasolina para a posição reserva, como em uma motocicleta, e seguir até o posto mais próximo. O Fusca ainda não tinha o marcador de nível de combustível e a torneira ficava logo acima do acelerador.

Outro detalhe inesquecível era a garrafinha de plástico embaixo do painel, que, ao ser apertada, lavava o pára-brisa.

As novidades eram empolgantes: em 1962 as lanternas traseiras ficaram maiores e ganharam uma posição na cor laranja, para os piscas, que também foram para os paralamas dianteiros. Acabava, então, a era das “bananinhas” laterais. Em 1964, a luz da placa ficou mais larga.

O Volkswagen 1965 chegou com uma enorme novidade: o teto solar. Para quem curte e conhece esse acessório, o teto solar do Fusca 65 era uma maravilha, de metal, com acabamento igual ao do teto e acionado por uma manivela escamoteável. Mas a mania que o brasileiro tem de dar importância à sua imagem, principalmente a de machão, infelizmente, acabou com uma alegria efêmera: apelidado de “cornowagen”, o Fusca com teto solar original de fábrica foi repudiado pelos compradores. E mais: a maioria dos que haviam comprado com o item mandaram fechar o tal teto. Ninguém queria ser chamado de corno. As poucas unidades que sobraram, então, hoje são consideradas relíquias de um passado obscuro…

Em seu segundo ano de produção nacional, o fusca ainda não havia recebidos as primeiras melhorias

sendo um veículo essencialmente popular, o fusca teve uma versão Pé de Boi e foi muito usado em frotas públicas

Foi em 1966 que o Fusca teve uma das mais significativas alterações, geralmente ignorada pela maioria dos “conhecedores” do modelo. Com a maior evolução programada para o ano seguinte, a adoção do motor de 1.300 cm3, o Fusca 66, ainda com motor de 1.200 cm3 , incorporou algumas das melhorias que só viriam no ano seguinte. Como os limpadores de para-brisa, que passaram a parar do lado do motorista e não mais do lado do passageiro, melhorando o campo de visando em dias chuvosos. E o vigia traseiro fica ainda maior, mesmo que, sem a comparação visual direta entre os dois tamanhos, muitas vezes não se percebe a diferença. Esse Fusca 1966 de última série ficou conhecido como “modelinho” e costuma confundir os entendidos, que acabam achando que alguma coisa não é original.

A versão definitiva do novo Fusca chegou em 1967, com estardalhaço. Apelidado de “Tigre”, devido ao motor de 1.300 cm3, mais potente, ele acabou sendo o porta-voz de muitas melhorias já introduzidas no “modelinho” de 1966. Foi também no Tigre que o comutador de farol alto/baixo passou do pé esquerdo para uma chave na alavanca do pisca. Mas ainda tinha o sistema elétrico de 6 volts não o de 12 volts, o que seria divulgado, oficialmente, apenas no Fusca de 1968. Só que, para manter as informações sempre com uma pequena dúvida, alguns 67 já saíram com 12 volts. Sei disso porque tenho dois Fusca 1967 originais, um 6 volts e um 12 volts.

Expostos nos pontos de venda, as concessionárias VW, o Fusca “Tigre” tinham uma longa cauda que se mexia, ligada a um mecanismo elétrico embaixo da tampa do motor, que ficava meio aberta. Como na fotografia abaixo.

À esquerda, o super fuscão, chamado de Bizorrão, e à direita uma versão mais despojada do fuscão 1500

Outra grande evolução no Fusca aconteceu em 1970. A primeira série ainda era igual ao 1969, que passou a ter, entre outras inovações, o espelho retrovisor externo em forma de raquete. Já a segunda série marcou uma guinada no visual do carro, adotando os para-choques altos de lâmina única iguais aos da versão européia de dois anos antes. Foi aí que veio o Fuscão, cujo motor de maior cilindrada, de 1.500 cm3 , exigiu a adoção da tampa traseira “gorda”, com aberturas para melhor refrigeração. As rodas passaram a ter fixação por quatro parafusos e a nova lanterna traseira passa a ter luz de ré.

Para manter uma versão ainda com motor de 1.300 cm3 e rodas de cinco furos, o Fusca mais simples manteve as lanternas traseira e não “mereceu” as aberturas na tampa do motor. Mas ganhou os novos para-choques e o apelido de “Fusquinha”, para diferenciá-lo do “Fuscão”.

A partir daí, o Fusca foi ganhando pequenas novidades ano a ano. Em 1973, os faróis ficaram “de pé” e, no ano seguinte, surgiram as grades em forma de meia-lua nas colunas “C”.

Em 1974 veio a versão especial que hoje é o delírio dos fuscamaníacos: o Bizorrão. Com uma indiscreta caixa de ar de plástico preto na parte externa da tampa do motor, o Volkswagen 1600S tinha motor de 1.600 cm3 com dois carburadores, bancos reclináveis, volante esportivo, conta-giros e rodas de 14 polegadas com pneus radiais opcionais.

Até 1986, ano do primeiro “fim” do Fusca, muita coisa foi alterada no modelo, como as lanternas traseiras grandes e redondas, estilo “Fafá”, o motor a álcool de 1.300 cm3, ignição eletrônica, alternador, e, finalmente, em 1983, a adoção oficial do nome “Fusca”. Sete anos depois, o Fusca volta com o apelido de Itamar e entra na isenção de impostos prevista para carros com motores de até 1.000 cm3 (tinha 1.600 cm3, mas foi criada uma exceção para motores refrigerado a ar). Isso provocou uma razoável sobrevida para o modelo, que, apesar de ainda ter seu carisma, já não era mais visto como aquele carrinho bacana de sempre. O Fusca brasileiro teve produção encerrada, definitivamente, em 1996. l

mInHAHIsTóRIACOm O fusCA

O fusca está na terceira geração da família, prestes a entrar na quarta geração. A cor das rodas está errada Pode ser que vocês já tenham lido sobre a minha história com o fusca, mesmo assim, eu conto de novo. Desde pequeno, fusca não tinha vez em minha casa, com exceção dos carros de teste que meu pai trazia (me diverti muito com o cornowagen, lá na praia). Ele dizia que o motor 1200 era fraco e não permitia preparação, por isso me acostumei com os carros maiores, principalmente o simca. mas eis que tudo mudou em 1967, pois o motor 1300, completamente diferente do antigo, podia ser “envenenado”, em especial com a troca dos kits de cilindro e pistões para aumentar a cilindrada. foi quando os fuscas apareceram lá em casa: quatro deles foram preparados para serem carros de instrução para a escola de pilotagem, meu pai comprou um para ele (bem envenenado, por sinal) e até o meu avô, que morava conosco, comprou um, “zero” km. E esse é o meu fusca especial. Em 1972, com problemas de visão devido à diabetes, meu avô vendeu seu impacável fusquinha para meu pai, que o guardou na garagem e o esqueceu. Pelo menos eu pensava assim. Com 12 anos de idade, o fusca era minha diversão da tarde, após a escola. um dia, cansado de tomar chuva de moto, pedi um carro para meu pai, que me disse: – Você já tem um! Pensa que eu não sei que você sai todos os dias com o fusca? Esse foi, então, o meu primeiro carro. Hoje, esse é meu pior fusca. Claro, imaginem o que eu fiz com o carrinho até 1978, quando comprei meu fiat 147? Ralei, envenenei, rebaixei, furei, pintei e despintei. Até que um dia, já aposentado, fiz uma tosca restauração. Ele merece uma nova restauração, que está nos planos. História ele tem. Está hibernando há muito tempo entre outros fuscas, alemães, brasileiros, mexicanos, com câmbios automáticos e manuais. Paciência, fusquinha.

O fuscão 1972 é um bom representante da segunda grande evolução do fusca brasileiro

saudade do fuscão preto 1970. Era da família. fizeram parte, também, da escola de pilotagem, em Interlagos

Meu Fusca é diferente!

Tudo pode acontecer com um Fusca

Essa história de customização vem de longe. Muito popular entre jovens norte-americanos nos anos 50, a moda chegou ao Brasil logo nos primeiros anos da nossa indústria. Principalmente nos anos 60, a oferta de acessórios para os modelos nacionais era grande, sendo que a maior parte dos itens era mesmo para o Fusca. E não faltaram equipamentos bizarros, como é o caso do capô de Rolls Royce. E a moda pegou.

Muitas formas de customização foram feitas em cima do Fusquinha, para quem lembra dos anos 60. Vidros bolha, coloridos, alteração da tampa do motor, embutindo a placa, ar-condicionado e para-choques especiais eram alguns dos itens, mas as reformas radicais, alterando completamente a estrutura e o visual do carrinho, parecem ser as preferidas. Veja alguns exemplos de transformação radical tomando-se por base o Fusca nacional. l

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