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Mini Carros
o sonho das crianças dos anos 60
Um garoto de sorte ganhou este Gurgel Junior ii na tampinha do refrigerante Cerejinha
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na conversa dos garotos dos anos 60, entre assuntos corriqueiros co- mo álbuns de figurinhas ou futebol de botão, um deles era sempre polêmico e com grandes possibilidades de discussões acaloradas: o carro do pai. Adultos dessa geração devem lembrar da primeira pergunta, de um moleque para outro, logo ao se conhecerem: “que carro tem pai tem?” Na impossibilidade de um garoto de dez anos de idade poder ter – ou pelo menos escolher – o carro que mais gostasse, entre aqueles que via nas ruas ou nas páginas das revistas, era no carro que seu pai dirigia que estavam todos os desejos dos pequenos. No mínimo, era a velocidade máxima desse veículo, que podia ser um pacato sedã ou um apimentado esportivo, o parâmetro mais importante em uma conversa sobre automóveis. Mas havia um desejo maior, comum a todos, que poderia transferir o objeto das conversas para algo mais pessoal: um mini carro.

Gurgel Junior ii e o Gurgel Junior


Gurgel Junior no salão do Automóvel marco GTo, o mais desejado dos mini carros da A.V.L.

Expedito e o Gurgel Jr. ii na pista da fábrica Toda linha de mini carros da A.V.L, a alegria da garotada

Comigo não foi diferente. Passava minhas férias em cima de uma bicicleta, empinando pipa ou montando modelos em escala, mas queria mesmo um mini carro.
Nas vizinhanças da casa da minha avó, onde havia um enorme terreno e uma pistinha própria para bicicletas, um garoto da minha idade ficou famoso no bairro, só porque ganhou um mini carro na tampinha do refrigertante Cerejinha. Virou o herói da meninada, ganhou o apelido de Cerejinha e eu nunca soube o seu nome.
Mas conhecia bem o carrinho: era um Gurgel Junior II, evolução do primeiro mini carro do João Amaral Gurgel, o Gurgel Jr.
O Gurgel Junior foi uma das atrações do Salão do Automóvel, mas era muito feio, não atraiu a criançada. Já o segundo era uma bela criação no formato de um clássico dos anos 50, sucesso imediato. Me apaixonei por ele quando meu pai foi experimentá-lo na pista de testes da fábrica. Ele parecia um urso de circo enfiado no carrinho, mas eu gostei.
Logo veio a concorrência: o empresário Nerces Gaspar Alexandre me fez perder o sono por meses, criando os mini carros mais bonitos que já se tinha visto. O Marco GTO, o Mini Mustang, o Mini Puma, o Mini Corcel e muitos mais, incluindo um maravilhoso mini fórmula.
A cartada final para minha obssessão foi a abertura de uma loja A.V.L. – Alexandre Veículos Ltda. – na esquina de casa. Eu não saía mais de lá, até que um dia, a consagração: saí de lá dirigindo um mini carro.


o mini Karmann-Ghia era uma belezinha
o primeiro Fapinha, de 1970 o buguinho A.V.L. era equipado com um motor Pasco 2T, da Lambretta 175


Apesar de sonhar com o Marco GTO, o mais bonito dos mini carros da marca até aquele momento, ganhei um buguinho A.V.L., que era o mais barato de toda a linha. Depois vieram outros ainda mais bacanas, como o Mini Mustang, o Mini KarmannGhia, o Mini Puma e o Mini Corcel. Bacana mesmo era o Fórmula A.V.L., mas este teria a desvantagem de não poder levar um amigo ao lado, nas brincadeiras.
Um colega do primário ganhou um Fórmula A.V.L. e se aventurou nas pistas. Nos encontrávamos na escola (Liceu Coração de Jesus) e no kartódromo de Interlagos, ele pilotando um mini carro e eu um kart. Se nessa época eu achava que o kart era de uma categoria “superior”, o bom piloto acabou fazendo bela carreira em competições, ganhou campeonatos de mini carros, passou para as motocicletas – correu no mundial (hoje MotoGP) – e chegou à Fórmula Indy. Trata-se do Marco Antônio Greco, o Lagartixa.
O buguinho era meu bom companheiro. Eu chegava da escola e ia direto pra garagem, às vezes engolindo o almoço, e ia pra rua. Isso apesar de eu ter assinado um documento dizendo que não iria sair sem um adulto (guardo esse papelzinho amassado até hoje). E levava um galão de gasolina, porque o tanque era pequeno e não dava para rodar por horas. Às vezes voltava só ao anoitecer.
Com o motor original até que poderia dar, mas eu troquei o lerdo motor estacionário Briggs&Stratton por um potente motor Pasco, dois tempos, com 175 cm3 de cilindrada, o mesmo que equipava a Lambretta mais potente. Só não consegui instalar o câmbio de três marchas da motoneta, fiquei com a precária transmissão original A.V.L.
Outros fabricantes dividiram o mercado com a A.V.L., sendo que o mais conhecido foi a Fapinha, dos irmãos Tognocchi, que continuou com a produção e a comercialização de mini carros até os dias de hoje. l

A Fapinha produz hoje o jipe Power sport, o mini sport e o buggy Cross Dream

o mini Fórmula 1, da Fapinha o PrimEiro mini CArro





O primeiro mini carro deveria mesmo ser algo especial, pois foi uma criação de Ettore Bugatti para seu filho Roland, de quatro anos. Era o Bugatti Baby, de 1926, réplica em meia escala do Bugatti Type 35, que acabou ficando tão conhecida que foram produzidas 500 unidades para seus clientes.
Atualmente há uma nova réplica sendo produzida, desta vez em uma escala de 75% do tamanho real, para que adultos também possam “brincar”. Também com uma produção de apenas 500 unidades, o Bugatti Baby II tem motor elétrico e custa a partir de 30 mil euros, chegando a custar até 60 mil euros.
