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Golpe da China no ano do tigre?

A China prepara o cenário para crescer em 2022 e sair dessa letargia provisória em que imergiu nos últimos meses de 2021. Espera-se que a economia do gigante asiático avance a um ritmo entre 5% e 5,5%.

A1 de fevereiro começou o ano chinês – o ano do Tigre – e entre 31 de janeiro e 6 de fevereiro tiveram lugar os festejos. Mas antes de quererem começar com o Tigre, quiseram fechar o ano do Boi celebrando o facto de a economia ter crescido cerca de 8,1% em 2021 (face aos 4% do último trimestre do ano), superando as previsões dos economistas. As exportações voltaram a apoiar este avanço. Por sua vez, deixa-se um alívio para a economia com um corte das taxas de juro oficiaispor parte do Banco da China de 2,95% para 2,85%. Tudo isto imerso num contexto de instabilidade, desaceleração e incerteza económica nos últimos trimestres. Quererá a China dar o golpe no ano do Tigre?

A ATIVAÇÃO DAS POLÍTICAS ECONÓMICAS (FISCAIS E MONETÁRIAS) VAI APOIAR O MERCADO DE AÇÕES

2021 foi um ano complicado para a economia chinesa e para o mercado financeiro. O COVID, a variante ómicron, e a estratégia de tolerância para controlar a pandemia, que representa o confinamento estrito, afetaram a evolução da economia. A isto juntam-se situações especiais em determinados setores.

Reformas regulatórias, como no setor da educação ou a regulação das cotações das empresas chinesas fora do mercado chinês, fizerammossa nas cotações destas empresas. Desde julho que a sombra regulatória tem estado mais presente no setor tecnológico com medidas anti-monopólio, armazenamento de dados ou o controlo dos vídeo-jogos. A volatilidade do mercado imobiliário com o caso Evergrande, que chegou a merecer a classificaçãode novo Lehman marcou os últimos meses, semeando a desconfiançanum setor que representa um terço do PIB chinês. A crise energética, com cortes de fornecimento, também golpeou a economia. 2022 pode ser o ano de renascimento do gigante asiático. Concorrem diversos acontecimentos na China que levarão as autoridades a preparar o terreno para a sua celebração. Em primeiro lugar, os jogos olímpicos em Pequim que já tiveram lugar em fevereiro. Depois, na segunda metade do ano, celebra-se o Congresso Nacional do Partido Comunista da China, o seu XX aniversário.

AGENDA ECONÓMICA

Como antecâmara destes acontecimentos, em dezembro de 2021 teve lugar a Conferência Central de Trabalho Económico da China, onde se estabelece a agenda nacional para a economia e na qual se declarou como prioridade a estabilização do crescimento. Neste encontro reconheceram-se pressões de queda sobre o ciclo económico devido à contração da procura e aos choques da oferta. Tudo parece indicar que a China prepara o cenário para crescer em 2022 e sair desta letargia provisória em que se afundou nos últimos meses de 2021. Espera-se que o avanço da economia este ano se situe num intervalo entre 5%-5,5%. Poderá, com isso, ter-se chegado a um mínimo na valorização dos ativos? Poderá ser esta uma das regiões em que há que estar investido em 2022? A ativação das políticas económicas, tanto fiscaiscomo monetárias, vai apoiar o mercado. No âmbito fiscalplaneia-se o fomento do investimento em infraestruturas e a potenciação do setor imobiliário. Depois da falta de confianç nos promotores imobiliários, que provocou uma queda das ações no setor da construção, o Governo decidiu apoiar o mercado de habitação. O relaxamento de impostos também está na agenda. O

impulso do consumo interno, sobretudo na atual situação de restrições devido à política de COVID zero, é uma prioridade. O objetivo é potenciá-lo e que se converta num elemento chave, juntamente com as exportações, do crescimento em 2022.

POLÍTICA MONETÁRIA

Quanto à política monetária, parece estar num ciclo distinto do resto das economias. Enquanto as autoridades monetárias como a britânica, a norueguesa e a norte-americana começam a sua política restritiva, o Banco Central Chinês anuncia um corte de taxas. Contrariamente às outras zonas geográfica teriam margem para isso, já que as pressões inflacionistasnão são tais na região.

Tudo isto apoiaria o impulso credíticio, muito difamado nos últimos meses , sendo a estabilidade financeira um dos objetivos da política monetária chinesa. As ações ver-se-ão favorecida por esta redução de taxas.

A transição energética é outra fonte de atratividade para as ações chinesas. A citada Conferência Central de Trabalho Económico de dezembro pôs em ênfase o apoio à descarbonização com medidas para acelerar a instalação de energias renováveis.

Assim, as empresas chinesas estão muito focalizadas em segmentos como o solar ou os veículos elétricos. Pelo lado da política estrutural espera-se um relaxamento da regulação dos setores antes mencionados (educação e tecnologia), embora ainda não se tenha declarado oficialmentenenhuma intenção a esse respeito. No entanto, parece que a tormenta regulatória amainou, de tal forma que a correção que se tem vindo a produzir em alguns setores poderá dar-lhes um certo empurrão em 2022.

Para além destas medidas que apoiam o mercado, espera-se uma melhoria geral da cadeia de fornecimentos para 2022.

No lado geopolítico, as relações com os Estados Unidos continuarão a imprimir uma certa volatilidade.

Portanto, parece que as estrelas se estão a alinhar para que os problemas da economia chinesa surgidos em 2021 se minimizem. Ainda paira no ambiente a incerteza em torno do mercado imobiliário, principal preocupação, com a permissão do COVID. Ao mesmo tempo que acontece a potenciação do crédito para ativar a economia e a estabilização financeira O apoio à transição energética e à descarbonização da economia é a parte mais positiva juntamente com o apoio às infraestruturas.

Como diz um provérbio chinês: “Se não se entra no esconderijo de um tigre, como se pode capturar um tigre?”

A OPINIÃO DE

ÁLVARO ANTÓN LUNA Responsável de Negócio para Portugal e Espanha, abrdn

O CLIMA A MUDAR: HORA DE INVESTIR NA ADAPTAÇÃO

Se a humanidade quer fazer face às dramáticas e aceleradas mudanças provocadas pelo aquecimento do planeta, não há mais alternativa do que investir no clima. Em todo o mundo há oportunidades para que os investidores se impliquem a ajudar os países e as empresas a aumentar a sua resistência contra os extremos climáticos. Uma análise da Munich Re demonstrou que vincular a adaptação e os seguros, por exemplo restaurando os recifes de coral que reduzem os danos das tempestades, ou planifiando para aliviar as inundações, poderá representar uma redução dos prémios e um retorno do investimento seis vezes maior. Estas oportunidades aumentarão. No Reino Unido, que recentemente sofreu milhares de mortes relacionadas com o calor e já perdeu milhares de milhões de libras em danos por inundações, um relatório da Comissão de Mudança Climática descobriu que os riscos físicos estavam subfinanciads e ignorados. Há que celebrar o aumento da atenção dos investidores relativamente às causas da mudança climática e os planos de redução de emissões, mas agora há uma necessidade urgente de investir na resiliência climática. Ambas as coisas são complementares e devem estar em paralelo. Chegou o momento dos investidores despertarem para a realidade da mudança climática e investirem não só na mitigação das suas causas, mas também na adaptação às suas consequências.