Tempo Livre Setembro 2015

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to emen Supl págs. 20

TurismoViagens outono/inverno 2015

N.º 27 | Setembro 2015

Helena Águeda Marujo, psicóloga

“Esquecemos a fraternidade…” José Frade

Turismo em alta

Viajar é descobrir

Cidade das Tradições Parque de Jogos 1.º de Maio 18, 19, 20 de setembro

Desporto

Viagens

Inscrições abertas para os Torneios INATEL

Oito dias no Egito para ver as Joias do Nilo


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TL Setembro 2015 // FUNDAÇÃO INATEL // 3 // SUMÁRIO

// EDITORIAL

4 Notícias

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Novo ciclo de atividades e tempos livres

Entrevista Helena Águeda Marujo

10/11 Cultura Cidade das Tradições

13 Viagens Maravilhas do Nilo

14/16 Tema de capa Turismo em perspetiva

18/19 Desporto cresce em Aveiro e Coimbra

20 Os Contos do Zambujal

21 Culturando

E

m setembro, abre-se o novo ciclo de atividades no trabalho e na escola, e é também o tempo dos tempos livres valorizados pelas iniciativas INATEL, que têm pontuado com tanto eco este ano em que cumprimos oito décadas de existência. O período estival de 2015 vem registando maior procura de viagens e de alojamento INATEL e, perdoem-nos a imodéstia, temos sabido responder à altura das expectativas dos associados. De modo geral, as nossas unidades hoteleiras bem como os nossos circuitos turísticos merecem renovada confiança dos que nos demandam neste verão. Para os que ficam de fora das propostas de lazer, hoje quase banais para a maior parte de nós, reeditamos a nossa iniciativa da “Aldeia dos Sonhos” ao encontro de aspirações por realizar entre os nossos compatriotas residentes nos pequenos lugares (com menos de 100 habitantes). Acompanha este TL o habitual encarte das viagens do Outono e Inverno próximos. A nossa oferta de passeios e destinos para os próximos meses é

extremamente apelativa. Em especial, a primeira experiência de turismo e voluntariado, que estamos a promover com destino a S. Tomé e Príncipe, já a partir deste mês, regista uma onda de interesse solidário que ultrapassa as nossas melhores expectativas. O nosso esforço em prol do Património Cultural Imaterial conhece também este mês um novo impulso com as edições 2015 da “Cidade das Tradições” e do “Festival INATEL da Canção”, bem como a nova iniciativa “Os Melhores Talentos Portugueses”. Ao mesmo tempo, arranca a nova época desportiva da Fundação, com novas propostas para todos e para a qual temos as melhores expectativas. No regresso ao trabalho, podem uma vez mais contar com os retemperadores momentos de lazer para todos que a INATEL oferece! I

Presidente da Fundação INATEL

22 Em cena no Trindade

23

// TOME NOTA

Arquitetura dos Tempos Livres

Bolsas voluntárias

formando ficará obrigado a dar à

oportunidades para que os

fundação 7 horas de trabalho. O

formandos desenvolvam

A Academia INATEL vai atribuir

conceito permite facilitar o

atividade nas áreas de

Bolsas voluntárias aos

acesso às formações e criar

aprendizagem selecionadas.

24 Tempo Digital // Língua Nossa

25

formandos que manifestem

Ecrãs: novos filmes em cartaz

interesse, e para todos os seus Cursos Técnicos no ano letivo de 2015/16. Estas Bolsas consistem em descontos, até um máximo de 70%, que os formandos podem vir a obter por curso ou unidade de formação de curta

26

duração, em troca de trabalho

Motor // Palavras Cruzadas //

voluntário nos serviços da

Sugestões

INATEL na área formativa que se encontrem a desenvolver. Por cada 10% de desconto, o

Jornal Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Fernando Ribeiro Mendes Vice-Presidente: José Manuel Soares; Vogais: Jacinta Oliveira e Álvaro Carneiro Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Diretor: Fernando Ribeiro Mendes Coordenação editorial: Teresa Joel Logótipo:Fernanda Soares Design: José Souto Fotografia: José Frade, Isabel Santiago Henriques (colaboradora) Redatora principal: Sílvia Júlio Redação: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169062 LISBOA, Telef. 210027000 Colaboradores: Carlos Blanco, Ernesto Martins, Eugénio Alves, Gil Montalverne, João Cachado, José Baptista de Sousa, Joaquim Diabinho, José Lattas, Mário Zambujal, Sofia Tomaz Publicidade: Comunicação e Marketing/Vanda Gaspar Tel. 210072392; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA., Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Queluz de Baixo, 2730-053 Barcarena. Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484 Preço: 1,00 euro Tiragem deste número: 84.029 exemplares


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4 // NOTÍCIAS // TL Setembro 2015

PortuGo.pt Novo portal de serviço público

Academia INATEL Novas formações Gestão e Animação em Turismo Sénior e Turismo Acessível e Inclusivo são duas novas pós-graduações, organizadas pela Fundação Inatel, em parceria com Escola Superior de Hotelaria do Estoril, que começam em setembro. Em outubro, vão também iniciar dois cursos: Curso Técnico em Turismo e Receção de Hotel. Ambos são constituídos por unidades de formação de

O

portal portuGo.pt, projeto da Fundação Inatel que conta com a colaboração do escritor e viajante Gonçalo Cadilhe (na foto), deverá ser apresentado no outono. Objetivo: reposicionar a Inatel Turismo como uma das melhores marcas em Portugal para o planeamento de tempos livres, assente em valores de sustentabilidade, responsabilidade e solidariedade. Esta plataforma de serviço público vai agregar e pôr em contacto fornecedores e consumidores, catalisando ainda encontros entre os

intervenientes do turismo social, sustentável e solidário. Subjacente a esta ideia, está também a divul-

gação da ética do turismo (Código Mundial do Turismo) a clientes e parceiros. Será assinado um compromisso ético para salvaguarda do ambiente e dos recursos naturais, e privilegiar a criação de emprego local e regional. Este portal pode vir a tornar-se a primeira opção de consulta em Portugal sobre Turismo de Natureza, Turismo de Voluntariado, Turismo Ativo e Inovador, Turismo de Património e Cultura Regionais. A zona Centro será a região piloto do portuGo.pt que irá, progressivamente, abranger todo o país. I

curta duração (25 horas cada). Estes cursos integram formação “on job” nos serviços INATEL e desenvolvem-se em regime pós-laboral. Os desempregados têm 50% de desconto. Há também bolsas de âmbito social e bolsas voluntárias para os formando interessados. No anterior Curso de Turismo e Animação Cultural, os formandos realizaram 130h de formação em contexto de trabalho nos serviços da INATEL ou em entidades parceiras da fundação, como hotéis, agências de viagens,

Viagens em setembro e outubro

associações e empresas de

Abrir Portas à Diferença

turismo. Para saber mais, consulte o sítio www.inatel.pt,

O

programa Abrir Portas à Diferença, dirigido a todos os cidadãos portugueses portadores de deficiências ou incapacidades permanentes (grau igual ou superior a 60 por

App o Tempe Livr

t atel.p livre.in o p m e http://t

cento), decorre em setembro e outubro, nas unidades hoteleiras INATEL Caparica (13 a 18 de setembro), Oeiras (20 a 25 de setembro) e Foz do Arelho (27 de setembro a 2 de outubro).

As candidaturas estão a decorrer através do preenchimento de um formulário online disponível em www.inatel.pt ou nas lojas INATEL. Mais informações: inatelsocial@inatel.pt/ Tel. 210027142. I

Veja o vídeo da entrevista a

pode ler sobre o papel das bandas

Helena Águeda Marujo,

filarmónicas em Portugal. Através

especialista em Psicologia Positiva,

do seu tablet ou smartphone,

na App Tempo Livre Digital, através

acompanhe a versão online do TL

do endereço

e aceda a outras informações de

http://tempolivre.inatel.pt.

âmbito cultural, desportivo, de

Destaque ainda para um artigo que

turismo e lazer para toda a família.

envie e-mail para academia@inatel.pt ou ligue para 21115604/038


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TL Setembro 2015 // NOTÍCIAS // 5

Turismo e Voluntariado em São Tomé e Príncipe

Uma viagem para “semear vontades”

P

ara a I edição da viagem Turismo e Voluntariado em São Tomé e Príncipe, que se realiza de 22 de setembro a 1 de outubro, foram recebidas 172 candidaturas em tempo útil. Depois da fase de entrevistas, foram selecionadas 10 pessoas (prevê-se que em todas as edições desta viagem participem 70). “Uma curiosidade interessante é que houve quem quisesse entregar pessoalmente as cartas de motivação e os currículos, sobretudo as pessoas mais velhas. Percebi que havia a intenção de vermos a figura e a forma como se expressavam. As idades não são decisivas para nada”, afirma Elisabete Claro, da direção de Turismo. O perfil de quem vai nesta viagem é multifacetado. Jovens e seniores estão representados em áreas tão variadas como educação, saúde, ambiente, informática, relações internacionais. “Vão semear vontades”, diz a coordenadora da iniciativa. “Achei que poderíamos fazer viagens com a vertente de voluntariado para ajudar às necessidades do destino, neste caso São Tomé.” O projeto de turismo e voluntariado foi pensado em conjunto com a Associação Alma Mater Artis. Em março deste ano, a Fundação Inatel e a AMA, fizeram o primeiro trabalho de campo para o reconhecimento de algumas necessidades locais. “São Tomé é uma terra muito rica, em natureza e ajudas. Mas a ajuda não está distribuída equitativamente. O que vamos passar aos habitantes, que têm a perspetiva de que a Europa é o eldorado, é a ideia de que se apro-

50

na Anos EL INAT

// COLUNA DO PROVEDOR

Manuel Camacho provedor.inatel@inatel.pt

vida é feita de coincidências. Se algumas não passam disso mesmo – coincidências – outras há que nos levam a pensar e a acreditar que, por vezes, as coisas não acontecem por acaso. Como sabem, a Fundação INATEL, FNAT quando nasceu, está a comemorar os seus 80 anos de existência. Pois bem, também a rádio pública nacional, então Emissora Nacional de Radiodifusão, inaugurada oficialmente a 4 de agosto de 1935, está a comemorar oito décadas até fevereiro do próximo ano. Se pensarmos que a rádio é ainda hoje considerada o mais democrático meio de comunicação, talvez a coincidência não tenha sido completamente casual – sobretudo se nos lembrarmos que estávamos em 1935. Por outro lado, os objetivos da então FNAT e hoje Fundação INATEL também não terão sido estabelecidos por acaso. Os tão recordados “Serões para Trabalhadores”, promovidos pela então FNAT, eram habitualmente transmitidos pela Emissora Nacional de Radiodifusão. O facto a reter é que duas importantes, históricas e sólidas instituições nasceram, neste País, no mesmo ano. E a realidade é que atualmente ambas estão de parabéns pelos exemplares 80 anos de serviço público prestado aos portugueses. Provavelmente… não é por acaso. I

A

veitarem as mais-valias da ajuda podem evoluir e realizar-se mais rapidamente e melhor do que saindo do país. São Tomé tem muito potencial”, sublinha Alexandre Teixeira. Continuidade Que trabalho de voluntariado poderá ser feito numa dezena de dias? – é a questão que se levanta. É a própria mentora do projeto que responde: “Estes 10 dias dão para fazer umas visitas, sentir um bocadinho a terra e as pessoas. Pretendemos que os voluntários continuem connosco, que possam ficar em contacto com as pessoas que têm necessidades, fazendo voluntariado à distância.”

Alexandre Teixeira, por sua vez, dá o exemplo de alguém que irá participar nesta viagem e que pode dar uma ajuda na elaboração de manuais escolares: “Há ajuda excessiva em São Tomé, o que provoca uma realidade díspar. Dentro de uma turma, os miúdos têm manuais escolares diferentes, porque não há iguais para todos – e há quem não tenha. Ensinar assim é complexo e dificulta o trabalho. Pegar num rol de manuais e criar um novo manual poderá ser feito à distância. O voluntariado não tem de terminar ao fim de dez dias, pode haver continuidade noutra perspetiva”, propõe o responsável pedagógico da AMA. I

Completam, no mês de setembro, 50 anos de ligação à Fundação INATEL os associados: Daniel Augusto Machado, de Viseu; Fernando Gonçalves Esteves, de Lisboa; João Carvalho Gonçalves, de Sintra; José Conceição Monteiro, de Almada.


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TL Setembro 2015 // FUNDAÇÃO INATEL // 7 // XIX CONCURSO “TEMPO LIVRE” DE FOTOGRAFIA Grande Vencedor Fausto Lima Oeiras Associado n.º 198088

Prémio Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na brochura INATEL Turismo até ao montante de 1000 euros. A este prémio concorreram todas as fotos premiadas desde dezembro de 2014. O prémio tem a validade de um ano. Mais informações sobre o Regulamento: www.inatel.pt (Fundação/“Tempo Livre”/edição de abril de 2013) T. 210027000/ tl@inatel.pt


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8 // ENTREVISTA // TL Setembro 2015

Helena Águeda Marujo, psicóloga

“Esquecemos a fraternidade…” O II Congresso Português de Psicologia Positiva, sob o tema “Comunidades Positivas e Bens Relacionais: Construção da Felicidade Pública”, realiza-se entre os dias 11 e 13 de setembro no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas – Universidade de Lisboa. O TL falou com Helena Águeda Marujo, especialista em Psicologia Positiva, que nos convida a ser felizes nos lugares onde trabalhamos

H

abituámo-nos a ouvir falar em felicidade como uma busca individual. Hoje pensa-se nela como uma causa que tem de ser partilhada e colocada ao serviço dos outros. Só seremos felizes se o colega do lado também o for. Se houver reconhecimento do mérito e da dedicação nas organizações. Numa palavra, justiça. As empresas começam a refletir sobre um tema que a ciência identifica como vital para haver colaboradores mais felizes. A felicidade pública não se tem manifestado especialmente em Portugal. Do que falamos quando nos referimos à felicidade pública? É um tema que vem da economia, apesar de ser do tempo dos romanos. Lisboa já foi chamada Felicitas Julia Olisipo – a cidade da felicidade. Este conceito de uma perspetiva pública da felicidade sublinha, sobretudo, uma visão de felicidade latina diferente da anglo-saxónica. A etimologia da palavra felicitas tem como raiz os conceitos de virtuosidade, fertilidade, o que é muito diferente da ideia de happiness – aquilo que vem de fora. A felicidade pública é um convite a dois elementos centrais. Por um lado, a felicidade como um bem comum, coletivo, partilhado. É a ideia de que só deverei ser feliz se também forem o colega do lado ou o vizinho da frente. Por outro, o conceito da felicitas como um espaço de virtuosidade, criação de sistemas humanos – escolas, organizações

de trabalho, hospitais, vizinhanças – que sejam promotores das virtudes humanas. A minha equipe de investigação, no ISCSP–UL, lançou a Plataforma para a Felicidade Pública, em março deste ano, com o objetivo de investigar e promover uma felicidade que seja pensada no bem comum. É também uma forma de termos uma perspetiva crítica sobre algumas das nossas práticas sociais e coletivas, que nem sempre são éticas, respeitadoras, quer no contexto laboral quer no contexto político e por aí fora. Portanto, é um convite a uma reflexão e a uma investigação, mas sobretudo uma nova consciência de que a felicidade não pode ser um objetivo individual – é um objetivo comunitário que se alimenta dos bens relacionais, da qualidade das nossas relações. Trazer a felicidade a debate parece uma coisa fútil… [risos] Essa questão é importantíssima, foi exatamente por causa disso que fomos buscar o modelo da economia. Este conceito de felicidade pública foi reativado por economistas italianos que estão neste momento a trazer um modelo do século XVIII. A associação entre a promoção da felicidade e as perspetivas económicas está cada vez mais em cima da mesa das investigações, mas já na altura se apontava para a importância de se promoverem os bens relacionais, a qualidade da relação entre as pessoas como uma estrutura

basilar. A fraternidade é um tema de investigação relativamente novo, apesar de ser o terceiro pilar da modernidade (liberdade, igualdade e fraternidade). Nós esquecemos a fraternidade… Há qualquer coisa nos processos de reciprocidade que a ciência está a retomar por uma perspetiva económica. Quando trago o tema da felicidade e do bem-estar, nesta perspetiva do coletivo, com a minha equipe de trabalho asseguramos que não estamos a entrar pela futilidade. Não queremos, por exemplo, empresas mais felizes em que simplesmente as pessoas manifestam essa felicidade nos sorrisos, sem assegurarmos o seu bem-estar, a sua qualidade de vida material, relacional, de reconhecimento, de apreço por aquilo que são e fazem. Na definição de Amartya Sen, pobreza é não utilizarmos os talentos das pessoas. Essa visão é também uma tentativa de não permitir que a felicidade seja banalizada. Como é que podemos fomentar a felicidade no local de trabalho, até porque passamos mais tempo com os colegas do que com a família e os amigos? Os estudos que tenho vindo a fazer em empresas nacionais têm mostrado que há uma necessidade desesperada de reconhecimento e apreço. Um dos caminhos para a promoção do bem-estar, no contexto laboral, é o reconhecimento da pessoa e das suas práticas naquilo que dá à organização. Nós temos

dificuldade em saber lidar com a crítica – em fazê-la e em recebê-la –, como temos também dificuldade em saber dar e receber valorização – e isso é vital para as pessoas. Há uma sede enorme de organizações de maior proximidade, e isto é um desafio cultural. Temos uma cultura muito hierarquizada, com altos níveis de distanciamento entre as pessoas, num momento em que estamos numa ‘época do rizoma’ – raízes subterrâneas todas as mesmo nível debaixo da terra e que se vão espalhando, criando nós de ligação, em alternativa ao modelo de árvore, de hierarquização das nossas relações. Há aqui um convite para as organizações promoverem a participação efetiva e ativa dos trabalhadores. Estamos a caminhar para práticas mais ligadas à meritocracia. Quem faz melhor, quem se dedica, quem se esforça, deve ser recompensado por isso. Muitos emigrantes portugueses dizem que se sentem valorizados e têm perspetivas de crescimento, nos lugares onde trabalham. Por cá, fala-se da dificuldade em implementar a meritocracia. A falta desse reconhecimento é causa de infelicidade pública em Portugal? Sim, é uma. Estamos num momento de perda de direitos e de qualidade de vida a muitos níveis, e isso afeta-nos individual e coletivamente. Uma das maneiras de as pessoas sentirem que há justiça dentro das organizações é criar sustentabilidade na


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TL Setembro 2015 // ENTREVISTA // 9 José Frade

“Os meus pais sempre fizeram férias na Inatel, e os meus sogros também. Este lado do lazer acessível, mas de qualidade, e de alguma cultura que a Inatel continua a trazer são essenciais numa sociedade que trabalha tanto”

qualidade das nossas vidas. Há aqui um elemento essencial de reconhecimento do mérito que é sentirmos que há justiça. É importante alimentarmos e promovermos este elemento de justiça. Quando estamos a pôr em prática aquilo em que somos melhores, fluímos, estamos mais motivados no trabalho e sobretudo sentimos que há uma qualidade de respeito pelo indivíduo e pelo coletivo. Quando há uma qualidade humana presente nas lideranças, as pessoas entregam-se e vemos coisas extraordinárias a acontecer. Florbela Espanca escreveu: “Sou talvez a visão que alguém sonhou.” Podemos sonhar com a

visão da felicidade dos portugueses, mesmo em épocas de crises sociais e económicas? O tema da felicidade entrou na história da Europa quando houve crises económicas e sociais. Há uma necessidade de os grupos humanos, numa altura em que as coisas estão mais difíceis, regressarem ao essencial. É impossível uma sociedade não se sonhar. Todas as histórias sobre o futuro que nos contam hoje são de medo, seja na área da sustentabilidade do planeta, seja na empregabilidade, desvalorização da formação e da educação, ou na descrença dos nossos sistemas democráticos. Se não for cimentada uma confiança,

ficamos com um muro à frente dos olhos e não é possível nenhuma sociedade viver – muito menos aqueles que têm a responsabilidade de educar gerações novas – se não conseguir ter a esperança como horizonte. Nas organizações onde trabalhamos nem sempre as coisas correm bem, mas isso não significa que haja aqui uma “ausência de felicidade”. Isso também é importante para se encontrarem caminhos mais criativos. É vital. O que nós sabemos na psicologia positiva é que o negativo tem muito mais peso que o positivo. Se tivermos uma pequena história difícil no meio de muita coisa que correu bem, quando chegarmos a casa, ao fim de um dia de trabalho, o que vamos partilhar é o acontecimento menos bom. Por isso, temos de o sobrecompensar. Como é que isso se exercita? Na maneira de comunicarmos uns com os outros. Se tiver de criticar um colaborador, e quiser assegurar que a nossa relação floresça, numa organização que queremos frutificar, preciso de três coisas positivas, pelo menos, para compensar uma negativa. E nas relações de proximidade íntima, por cada coisa negativa, precisamos de cinco positivas para compensar. Se tenho de fazer uma crítica, consigo também relevar as coisas boas do trabalho daquela pessoa. Que papel reconhece à Fundação Inatel para promover a felicidade pública? O que eu conheço mais de perto da fundação cruza-se com um elemento vital que é o equilíbrio da vida pessoal e profissional, onde entra aqui uma proposta de lazer, para um descanso merecido com condições acessíveis. Os meus pais sempre fizeram férias na Inatel, e os meus sogros também. Este lado do lazer acessível, mas de qualidade, e de alguma cultura que a Inatel continua a trazer são essenciais numa sociedade que trabalha tanto. I Sílvia Júlio


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10 // CULTURA // TL Setembro 2015

Que vivam as bandas Setembro tem um dia dedicado às bandas. A comemoração da efeméride marcada para dia 1, em Faro, numa parceria entre a Fundação Inatel e a Direção Regional da Cultura do Algarve, tem o apoio do município local e do Turismo algarvio. A pretexto da data, o TL foi saber qual o papel das bandas filarmónicas no país

E

xistem à volta de 700 bandas filarmónicas e fanfarras em Portugal. Cerca de metade é associada da Fundação Inatel. Esta área desenvolveu-se na instituição pelas mãos do maestro Silva Dionísio, de origem militar. Victor Esteves, que foi diretor do departamento cultural, recorda o papel da fundação, através dos Centros de Cultura e Desporto (CCD), no estímulo à expressão cultural e artística destes agrupamentos musicais e culturais: “As bandas filarmónicas eram os conservatórios locais, as escolas de música de aldeias e cidades, que tiveram um crescimento qualitativo, não só do ponto de vista dos instrumentos, mas também do repertório – e aí o Inatel foi determinante. Muitos que tiveram formação de jovens músicos seguiram as suas carreiras, quer na aprendizagem quer

como instrumentistas. Uns foram para o conservatório, outros criaram pequenas formações musicais. A formação feita ao longo dos anos na Inatel, nos vários períodos, determinou o aumento qualitativo dos instrumentistas e a diversidade musical.” Uma história secular A história da atividade das bandas filarmónicas em Portugal remonta ao primeiro quartel do século XIX. Estes agrupamentos musicais não profissionais no país estiveram na origem do que é hoje o movimento associativo popular. Augusto Flor, presidente da Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto (CPCCRD), constata que, atualmente, muitas bandas filarmónicas “são o alfobre de milhares de crianças e jovens que descobrem nas suas Escolas de Música o gosto por esta

arte maior e por isso pode afirmarse que existe um fortíssimo movimento musical filarmónico. Para além da música, apreendem ainda os valores da vida em comunidade, solidariedade e respeito uma vez que, em cima de um palco, chegam a juntar-se três gerações de músicos.” André Granjo, que começou por aprender aos sete anos o estudo do clarinete na escola da Banda Filarmónica da Mamarrosa, e que hoje é maestro da banda da União Filarmónica do Troviscal, confirma que foi no seio desta realidade que aprendeu a “ser e a estar presente num grupo”. É também por isto que o antropólogo e investigador Augusto Flor frisa a importância das bandas na coesão e prevenção social de riscos associados à juventude, aos adultos e idosos. “Previne comportamentos desJoão Paulo

Banda da Escola de Música da Juventude de Mafra

viantes e processos de isolamento e depressão.” Valias culturais, sociais e económicas O maestro André Granjo sublinha ainda outras mais-valias culturais, sociais e económicas que as filarmónicas trazem ao país: “Muitos concelhos não têm uma escola oficial de música que lecione cursos vocacionais de música, mas têm uma banda que faz o papel de iniciação musical a muitas crianças e jovens. Do ponto de vista social, representam, em muitas localidades do país, a força mais ativa em associativismo, de educação e participação cívicas. Economicamente, as bandas consomem instrumentos musicais e fardamentos, dão trabalho a jovens músicos e ajudam a dinamizar as localidades onde se inserem.” A participação em festas religiosas, a cobertura musical em touradas, os concertos e o apoio da maioria dos municípios são algumas das fontes de rendimento das bandas filarmónicas. Porém, há festas que vão desaparecendo, bem como os orçamentos disponíveis para as que vão sobrevivendo. André Granjo considera que o Estado pode ajudar as bandas filarmónicas, valorizando mais o seu contributo: “O texto que criou o Dia das Bandas Filarmónicas fala das bandas em todas as suas facetas, mas não as trata como agentes artísticos. Muitas bandas estão a fazer um repertório de altíssima qualidade, têm público e não são reconhecidas como tal. Não digo que a Administração Central precisa de dar mais dinheiro, basta que lhes dê relevância, porque isso influenciava imediatamente o tipo de políticas dos agentes das autarquias e a visão que têm sobre as bandas”, sugere. I


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TL Setembro 2015 // CULTURA // 11

Parque de Jogos 1.º de Maio, 18, 19, 20 de setembro

Cidade das Tradições A iniciativa da Inatel, com o objetivo de preservar e divulgar as artes e práticas culturais tradicionais, tem este ano como convidada a Região de Turismo do Centro de Portugal

C

oncertos de palco, exposições e demonstrações de artesanato, oficinas de música, dança, e artes e ofícios, folclore, brinquedos e jogos tradicionais, atividades ao ar livre, teatro de robertos, cinema documental marcam mais uma vez presença num evento que, na sua 3.ª edição, se constitui já como uma referência na capital dedicada à diversidade de expressões e linguagens das artes e culturas tradicionais. A Cidade das Tradições é um

grande evento festivo que promove a livre participação e a partilha de conhecimentos entre públicos e artistas, reunindo associações culturais e comunidades, agentes culturais e artísticos envolvidos diariamente na missão de preservação e divulgação das artes e práticas culturais tradicionais, nas áreas da música, dança, teatro, cinema, literatura, artes e ofícios e gastronomia tradicional. A Fundação Inatel, no cumprimento da sua missão de consultora

Entrada livre Apresentação: Júlio Isidro Organização: Fundação Inatel Co-organização: Câmara Municipal de Lisboa Região convidada: Turismo Centro de Portugal Parceria: Grupo RTP Apoios: ATL – Turismo de Lisboa, Portugal Sou Eu, Comissão Nacional da UNESCO, Junta de Freguesia de Alvalade

da UNESCO para a salvaguarda do Património Cultural Imaterial, dinamiza projetos e ações de valorização que promovem a recuperação, divulgação e difusão de práticas culturais de tradição, com o objetivo de dar continuidade à transmissão de saberes antigos, aliando repertórios tradicionais à renovação de estilos e de interpretações, devolvendo às comunidades a consciência e os utensílios para uma salvaguarda partilhada do património coletivo português. I

// CONCERTOS possibilidades de abordagem, fazendo para ela uma música nova,

Fernandes, "acarinhou esta iniciativa especial", onde "os

o coletivo Danças Ocultas consolidou uma estética muito

arranjos ampliam o que os originais já continham, dando novo corpo e

próxima do universo clássico da "música de câmara", da pequena

dimensão às melodias, aos contrapontos e harmonias que este

formação instrumental, acústica,

grupo de concertinas já explora".

onde cada instrumento

Amélia Muge 18 setembro, às 21h30

desempenha uma função musical. A junção com uma Orquestra de

A abordagem de Amélia Muge à música tradicional baseia-se em

Cordas – a Orquestra Filarmonia das Beiras – é natural e vem

novas leituras de um património cultural e musical ligado a novas

evidenciar o carácter universal da proposta artística: entre o passado

correntes de intervenção neste domínio, que evidenciam sobretudo

e o futuro, produzindo sentido, em

a base intercultural do nosso passado e promovem a inovação a

contemporânea.

Toques do Caramulo

Serenata a sua expressão artística

À frente da Orquestra Filarmonia das Beiras estará o maestro

20 setembro, às 19h

mais autêntica.

A cumprir 15 anos de estrada, os Toques do Caramulo reinventam-se

Os grupos de músicos e cantores, envergando o traje académico de

continuamente, fazendo música nova das velhas cantigas e levando

calça, batina e capa de cor negra que confere solenidade ao

demonstrado que Amélia Muge é um dos talentos fundamentais da

o público a surpreender-se com o repertório esquecido da Serra do

momento, cantam à noite nas praças e ruas da cidade, palco

música portuguesa.

Caramulo. Com amplo

privilegiado da canção de Coimbra, dedilhando temas

partir da tradição. Vários trabalhos editados nos anos recentes e uma colaboração profícua com outros artistas e projetos, têm

Ocultas e que, segundo Artur

19 setembro, às 22h Desenvolvendo aptidões de execução da concertina e novas

Todos os dias A Canção de Coimbra é um género musical enraizado num folclore urbano, popular e académico, de influências regionais e locais, tendo na

diálogo com a estética

António Vassalo Lourenço, profundo conhecedor da música dos Danças

Danças Ocultas e Orquestra Filarmonia das Beiras

Canção de Coimbra

reconhecimento nacional e internacional, este é um espetáculo de forte energia musical e interação com o público, fazendo de cada

conhecidos que falam da cidade e da vida dos estudantes ou que

concerto uma grande festa para

acompanham as palavras de nomes maiores da poesia

todas as idades.

portuguesa.


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12 // ARQUIVO HISTÓRICO // TL Setembro 2015

O Sonho de Higino

‘Mesmo para se chegar até este ponto foi necessário usar-se de muito boa vontade, constante optimismo e ousadia tal, que alguns a classificaram de loucura.’ (Higino de Queirós, «1.º de Maio» 26 Out. 1840: 8)

E

m ano de comemorações do 80.º aniversário da Fundação INATEL, não podíamos deixar de recordar aqui Higino de Queirós (1900-1960), o homem que esteve na origem e afirmação desta grande obra – primeiro na qualidade de Presidente da Comissão Administrativa (1935-1941), depois como Presidente da Direcção (1941-1950). Tudo terá começado em finais de 1934, quando a Comissão do Centro de Estudos Corporativos, de que Higino fazia parte, resolveu organizar, por proposta sua, uma colónia de férias para filiados dos Sindicatos Nacionais, num terreno da mata da Caparica. A ideia, simples na aparência, ocultava um desígnio maior: a criação de uma obra social visionária que, associa-

Em cima, Higino de Queirós, 1947 e panorâmica de «Um Lugar ao Sol», Alegria no trabalho, Mar. 1948: 56. Ao lado, «Um Lugar ao Sol», c. 1965 / Óscar Coelho da Silva. Fundação INATEL | Arquivo Fotográfico

da a um certo conceito de progresso e welfare, respondesse eficazmente às emergentes necessidades da sociedade portuguesa e, simultaneamente, fosse dotada da necessária robustez que lhe permitisse sobrevir, como sobreveio, aos

mais conturbados momentos da história do séc. XX, projectando-se neste século XXI. Constituída em 13 de Junho de 1935, os primeiros anos da F.N.A.T. foram quase inteiramente dedicados à edificação de uma colónia de

férias para os trabalhadores. Questionado por Dutra Faria se pretendia criar na Caparica ‘uma grande aldeia’ de férias, Higino de Queirós respondeu enfaticamente: ‘Perdão. Queremos mesmo fazer daqui uma cidade. Talvez até uma grande cidade.’ («Diário de Lisboa, 16 Ago. 1938: 4). Inaugurada a 31 de Julho de 1938, com 7 pavilhões para 70 pessoas, a obra foi dada por concluída uma década mais tarde, com a construção dos últimos 6 pavilhões, num total de 30 e capacidade para 1000 colonos («Alegria no Trabalho» Mar. 1948: 42). I José Baptista de Sousa [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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TL Setembro 2015 // VIAGENS // 13

Joias do Nilo Uma viagem de oito dias ao Egito acompanhada pelo egiptólogo José Sales, professor e investigador, e autor de várias obras sobre o Egito antigo, é uma proposta para viajantes interessados na história das grandes civilizações

“Tudo ali é impenetrável, quieto, mudo, eterno: o ar, o céu, os túmulos. É de uma beleza bárbara”. (In O Egipto – Notas de viagem, Eça de Queiroz)

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reino dos antigos faraós desde sempre nos fascinou pela cultura milenar e imponência arquitetónica, com monumentos ímpares e mistérios inexplicáveis. É o caso de Luxor, considerado o maior museu do mundo ao ar livre, e as ruínas dos complexos de templos em Karnak e Luxor. Logo em frente, do outro lado do rio Nilo, encontram-se os monumentos, templos e túmulos da Necrópole de Tebas, que inclui o Vale dos Reis e o Vale das Rainhas.

// Viagens INATEL Maravilhas do Nilo

setembro, às 18h

De 14 a 22 de novembro

Entrada Livre: Associados Inatel,

Partida: Lisboa

mediante inscrição prévia.

Preço por pessoa desde: 1.855€

Informações: Tel. 211 155 779/

Masterclasse de Egiptologia

Lojas INATEL/turismo@inatel.pt/

Palácio da Independência, 17 de

www.inatel.pt

A riqueza tanto arquitetónica como cultural fazem de Luxor a cidade mais monumental que alberga os vestígios da antiga civilização egípcia. Uma das melhores formas de locomoção nesta região é navegando pelo extenso rio, o segundo maior do mundo, por isso, será essa a opção para fazer alguns per-

cursos durante três dias, com visitas ao templo de Edfu dedicado ao deus Hórus, ao templo de Kom Ombo, à grande barragem de Assuão, ao templo de Filae ou aos templos de Abu Simbel: templo grande de Ramsés II e templo pequeno da sua esposa Nefertari, e figuras míticas da história da humanidade.

O Cairo é uma metrópole fervilhante, com milhões de habitantes vindos de todo o Egito, e um excelente ponto de partida para se visitar Mênfis e Sakara, a antiga capital com magníficas ruínas, que juntamente com o complexo das pirâmides de Gizé são Património Mundial desde 1979. Milhares de pessoas já visitaram o museu de Mit-Rahina com o Colosso de Ramsés II, a pirâmide de Teti e complexo de Djoser, onde se incluem o muro das cobras, o pátio do heb-sed e a pirâmide escalonada de Djoser. São muitos os monumentos, templos, sítios arqueológicos e belezas naturais que conduzem o nosso imaginário para um cenário das Mil e Uma Noites. I


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14 // TEMA DE CAPA // TL Setembro 2015

Turismo em perspetiva Viajar Há diferentes perspetivas pelas quais vale a pena olhar o turismo. Novas tendências que aproximam o conhecimento entre os povos… Por Sílvia Júlio (texto) e José Frade (fotos)

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iante dos nossos olhos, o Tejo. O Cristo Rei parece acolher de braços abertos os que estão por cá e os que chegam. A ponte une margens e pessoas. Os turistas param nas esplanadas de Lisboa para saborear as vistas que refrescam o olhar. No Miradouro de Santa Catarina está o Adamastor, que recorda uma história de superação de heróis do passado. Que atravessa o passado e o presente. E que ajuda a pensar o futuro. É mesmo ali, naquele lugar, onde se cruzam nacionalidades e se ouvem diferentes línguas, que se vai falar das novas tendências do turismo. As lentes não podem estar apenas focadas na perspetiva económica, realça Graça Joaquim, professora na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE) e investigadora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia – Instituto Universitário de Lisboa (CIES-IUL). Para irmos mais longe neste setor, Graça Joaquim considera que o turista não pode ser encarado como “uma carteira com pernas”: “O turismo tem de ser olhado não apenas do ponto de vista económico, mas na relação com os outros, na promoção de projetos e parcerias para potenciar o turismo para todos.” “Podemos ter uma visão mais alargada. O turismo é troca de culturas, é conhecimento do outro, e desempenha um papel fundamental na cidadania europeia e global”, acrescenta. Por sua vez, o presidente do Turismo de Portugal, João Cotrim de Figueiredo, rejeita a crítica de que se olha para o turista como a tal “carteira com pernas”. “Se não fosse uma atividade economicamente sustentável não havia forma de o desenvolver, mas o nosso sucesso tem-se baseado no contrário, não tendo essa visão do turista


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TL Setembro 2015 // TEMA DE CAPA // 15

é “colecionar experiências” como mealheiro ou de carteira que é preciso esvaziar.” A indústria da paz A Organização Mundial de Turismo confirma que Portugal recebeu o maior número de sempre de turistas no ano passado. Mais de 17 milhões ficaram hospedados no nosso país. As receitas turísticas em 2014 ultrapassaram os 10 mil milhões de euros, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística. Em que se baseia o sucesso do turismo no nosso país? – Perguntamos nós. Quem nos visita, diz João Cotrim de Figueiredo, é o nosso maior embaixador. Quem desfruta das nossas paisagens, diversas de norte a sul e ilhas, menciona que o melhor que encontra aqui, e nos diferencia de outros destinos, é o acolhimento caloroso. “O que as pessoas referem como sendo o melhor que jamais tiveram – e aí estamos muito perto de ser os melhores do mundo – é a capacidade autêntica e genuína de receber que faz a diferença entre umas férias boas e umas férias extraordinárias.” Diz-se que não temos um sorriso para turista ver. Sai-nos da alma, que não é pequena. “Gostamos verdadeiramente que as pessoas nos visitem e se sintam em casa”, constata o responsável pelo Turismo de Portugal. É também por isto que Portugal anda nas bocas do mundo. Quando abordamos o tema do turismo, é importante lembrar as valias da relação uns aos outros. A aproximação às realidades locais, o conhecimento da história coletiva, refletida nos monumentos, culturas e tradições, que aproxima as pessoas: “A componente de interrelação humana que perdura, muito para além da visita, do conhecimento que os povos ganham uns dos outros, é um fator de aproxi-

“O que as pessoas referem como sendo o melhor que jamais tiveram – e aí estamos muito perto de ser os melhores do mundo – é a capacidade autêntica e genuína de receber que faz a diferença entre umas férias boas e umas férias extraordinárias”

mação e de paz”, sublinha João Cotrim de Figueiredo. O turismo é também designado como a indústria da paz. Quanto melhor nos conhecermos uns aos outros, menos vontade sentimos de entrar em conflito. Este é um percurso em desenvolvimento: “É um processo que ainda está em curso. Não é num par de décadas que se inverte um processo antagónico de séculos, mas está a fazer o seu caminho. E o turismo contribui grandemente para essa aproximação”, afirma.

Presidente do Turismo de Portugal

Turismo para Todos Viajar é um sonho de muitos. Nos programas de televisão, não raras vezes ouvimos os concorrentes desejarem um avultado prémio monetário para poderem viajar. Em muitos países, a viagem é vivida como um culto. Por cá, o povo diz “que é só para quem pode”: “No Reino Unido e na Austrália, por exemplo, a viagem é considerada como um direito. Nós vemo-la

como um luxo”, constata Graça Joaquim, que escreveu a tese de doutoramento ‘Viajantes e Turismo: narrativas, modos de vida e representações sociais’, e vai ser editada, em setembro, pela Mundos Sociais, com o título Viajantes e Turismos: narrativas e autenticidades. Para que o turismo chegue a todos, a investigadora realça a importância de se pensar no turis-

João Cotrim de Figueiredo

mo como um direito – não na perspetiva da regulamentação, mas na do discurso: “O discurso sobre o turismo é cada vez mais restritivo. Diz-se que é bom para a economia, porque cria emprego e dá dinheiro. Não se ouve ninguém a dizer que o turismo é bom porque aproxima as pessoas. As palavras são performativas. Quando começaram os ataques ao turismo em Lisboa, não se viu nenhum dirigente local e central a defender o turismo pelas questões da cidadania e da aproximação das culturas. Tem de passar mais pelo discurso dos governantes, da academia e não só.” João Cotrim de Figueiredo considera que o desenvolvimento do setor vai facilitar o acesso das pessoas ao turismo, criando nichos para (quase) todos os gostos, interesses, idades e bolsos: “Haverá sempre franjas da sociedade que terão dificuldades em aceder a qualquer uma dessas ofertas turísticas. Cabe às instituições públicas – e, nesse caso, a Inatel é um excelen-


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16 // TEMA DE CAPA // TL Setembro 2015 te exemplo – de tornar possível fazer turismo para essas camadas da população que não o poderiam fazer de outra forma.” O Turismo Social, hoje designado de Turismo para Todos, “deve ir para além da mera facilitação da viagem e do alojamento – deve promover a própria vontade de conhecer outras realidades e de, através de acordos que se possam estabelecer, levar as pessoas a passar férias dentro e fora do território nacional. Isso é possível fazer porque, crescentemente, as instituições da Segurança Social e de apoio à terceira idade têm essas preocupações e são comuns entre países. Esse tipo de intercâmbios não será difícil de fazer”, vaticina o presidente do Turismo de Portugal. “Mil milhões de turistas…” Encara-se hoje o turista de uma maneira diferente em relação ao passado. É um indivíduo mais informado, exigente, livre, com acesso a transportes e a um amplo leque de escolha dos destinos turísticos. Quando alguém decide viajar, tem quase a totalidade dos destinos turísticos no mundo à sua disposição. As preferências e os gostos alteram-se com facilidade e tem de

haver uma forte capacidade de adaptação, dinamismo e reinvenção neste setor, que é um dos mais competitivos do planeta: “O que temos detetado do lado do turista é que essa exigência se refle-

“O discurso sobre o turismo é cada vez mais restritivo. Diz-se que é bom para a economia, porque cria emprego e dá dinheiro. Não se ouve ninguém a dizer que o turismo é bom porque aproxima as pessoas” Graça Joaquim Docente na ESHTE e investigadora no CIES-IUL

te numa insatisfação com um produto que seja demasiado massificado ou igual em vários pontos do planeta. Procura-se autenticidade, aquilo que é diferente, e um contacto muito mais próximo com as realidades locais – e isto no passado não era assim. Há muitos países que dependem ainda em boa parte do desenvolvimento do turismo a partir de resorts e de empreendimentos que têm muito pouco de local”, nota Cotrim de Figueiredo. Portugal nunca chegou a ter uma oferta turística massificada à semelhança de outros concorrentes com grandes indústrias hoteleiras e “acaba por beneficiar do carácter autêntico e genuíno” que tem para dar aos que nos visitam. E já se sabe que os turistas são fundamentais

para que a tradição se mantenha e se renove. Há aqui valores novos para onde vale a pena olhar, quando se reflete o tema do turismo: “A componente mais ostentatória da viagem e do turismo e do lazer decaiu bastante. As pessoas valorizam muito mais aquilo que é genuíno do que a fachada ou a projeção do estatuto”, considera aquele responsável. A mensagem do Vaticano intitulada “Mil milhões de turistas, mil milhões de oportunidades” para o Dia Mundial do Turismo, que se assinala a 27 de setembro, diz que a globalização do turismo pode levar “ao nascimento de um sentido cívico individual e coletivo”. E enfatiza que “já se atenuou o conceito clássico de ‘turista’, ao passo que se reforçou o de ‘viajante’, ou seja, daquele que não se limita a visitar um lugar mas, de alguma forma, a tornar-se parte integrante dele. Nasceu o ‘cidadão do mundo’: não mais ver, mas pertencer; não ‘curiosar’, mas viver; não mais analisar, mas aderir.” O turismo sustentável é cada vez mais uma preocupação. E aqui, quando falamos em sustentabilidade, referimo-nos a três pontos: económico, social e ecológico: “As novas tendências estão ligadas às questões da ética, da responsabilidade social, do turismo voluntário e solidário. Há uma multiplicidade de tendências que tem a ver com as experiências. As experiências turísticas estão a crescer exponencialmente. O turista é um colecionador de experiências. O que faz as pessoas felizes são essas práticas”, conclui a investigadora do CIES-IUL. I


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18 // DESPORTO // TL Setembro 2015

Torneios INATEL

Yoga Laboral ao ar livre

Inscrições nas modalidades coletivas

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m setembro tem início o processo de inscrição de equipas e jogadores nos quadros competitivos organizados e promovidos pela Inatel para a época 2015/16 nas modalidades coletivas. Todos os interessados podem contactar o gestor de desporto ou loja INATEL responsável pela área onde se inserem. O início

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das competições está previsto realizar-se de forma faseada, à semelhança de épocas anteriores, a partir do mês de outubro. I Todas as informações relativas ao processo de inscrição e início de competições serão igualmente disponibilizadas em desporto.inatel.pt e facebook.com/desportoinatel.

INATEL no Festival Bike A 12ª edição do Festival Bike Portugal, evento dedicado ao mundo da bicicleta, decorre de 16 a 18 de outubro, no Centro Nacional de Exposições, em Santarém. A Fundação Inatel será representada pela direção de Desporto para dar a conhecer as atividades destinadas a estas modalidades e, ainda, as valências e facilidades que a hotelaria INATEL pode oferecer aos amantes do ciclismo e btt. Durante o certame serão divulgadas as provas de Mhytic Ride 2016, constituída por três etapas, que se realiza na Serra da Estrela, entre 23 e 25 de abril, e outras iniciativas como Piódão Ultra Trail e EstrelAçor Ultra Trail, para os apaixonados por estas modalidades e pelo desporto ao ar livre, em geral, interessados por atividades muito diversificadas.

s práticas físicas e mentais do yoga são cada vez mais procuradas pelos benefícios que proporcionam, nomeadamente, melhor flexibilidade corporal, melhoramento de postura, diminuição de dor, aumento de autoconhecimento, maior concentração, atitude mais positiva, diminuição de ansiedade, melhor integração social, maior serenidade. Em suma, uma vida com mais qualidade ao alcance de qualquer pessoa. Quem experimenta reconhece os efeitos benéficos, sentindo a diferença que os motiva a continuar. A prova disso é que desde 2013, data de lançamento do projeto Yoga Laboral na Fundação Inatel, com uma aula por semana, durante a hora do almoço, aberta a todos os colaboradores, o número de participantes tem vindo a aumentar. Os colaboradores da Inatel recentemente tiveram uma aula ao ar livre, aproveitando a época estival e a proximidade da natureza no jardim do Campo dos Mártires da Pátria, dentro da cidade de Lisboa. E deixaram um desafio a todos os interessados. I Mais informações: desporto.inatel.pt e em facebook.com/desportoinatel


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TL Setembro 2015 // DESPORTO // 19

Desporto cresce em Aveiro e Coimbra

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m Aveiro, terra onde o futebol é rei, na época 2014/2015 participaram 25 equipas e cerca de 900 atletas, numa competição sempre muito emotiva e altamente disputada, chegando às finais equipas históricas do futebol INATEL. O título distrital da época foi para o CCD Pigeirense, Campeão Nacional em título e que representou Portugal nos Jogos Mundiais da CSIT, em junho passado, em Itália. O ACD Lavandeira, outro mítico do nosso torneio, foi vicecampeão distrital, com a passagem à fase Nacional assegurada. Ainda em Aveiro, a Taça Reconhecimento coube ao CCD Nadais, vencedor do Reguenga da Palhota, estreante de grande nível técnico. Em Coimbra, com atividade desportiva mais diversificada, participaram cerca de 1100 atletas em Futebol, Futsal, Voleibol e Pesca Desportiva. No Futebol, Oliveira do Hospital, GD Bobadelense, alcançou pela primeira vez o título distrital, seguido pelos vizinhos de São Gião. Já na Taça Reconhecimento, o GDR da Chã, Figueira

da Foz, venceu com larga vantagem o GD Alvôco das Várzeas, em final disputada em maio último, com muito público no Municipal de Condeixa-a-Nova. Em Futsal manteve-se a grande participação dos CCD de Coimbra, em especial de Clubes que trocam a competição federada pelos torneios Inatel. O vencedor foi o GD de S. Martinho da Cortiça, acumulando com o título Nacional, conquistado em junho no Algarve. Após um interregno de uma época, a pesca desportiva voltou em força a Coimbra e Aveiro, com um circuito de três provas, nos rios Mondego e Arunca e na Quinta da Boavista-Ílhavo. Os vencedores representaram os seus Clubes nos nacionais de pesca, em Monte Real. Para além dos quadros competitivos tradicionais, no futuro, e à semelhança daquilo que já é o sucesso do Trial INATEL Piódão, Coimbra e Aveiro terão uma oferta desportiva mais abrangente, sobretudo em atividades que aproveitem as excelentes condições naturais desta região para a prática de atividades de aventura e outdoor. I


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20 // LAZER // TL Setembro 2015 // OS CONTOS DO ZAMBUJAL

Sonhadores

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alta uma semana para Brunildo Paiva receber em sua casa Helga Teodorica, vão, enfim, fazer-se casal coabitando. Brunildo chamou pedreiros para obras de restauro e modificações convenientes, dormiu num sofá entre mobiliário espalhado. Depois foi a fase das pinturas. Por causa do cheiro. Sentiu que não pregaria olho ali e ligou para o sempre prestável amigo Duarte contando dos tormentos em véspera de tão desejada alteração na sua vida. Garantiu-lhe a pintura das paredes, que em dois dias, vá lá três, a tinta deixava de ser problema. Entretanto, continuaria aquela obra importante. Duarte confirmou, de imediato, que era amigo para todas as ocasiões: – Homem, vem dormir a minha casa, sabes que tenho só um quarto, mas é enorme, já lá pernoitaram quatro. Brunildo meteu num saco a pouca roupa necessária, escova e pasta de dentes, máquina de barbear, espuma, água-de-colónia, desodorizante de sovacos. Agradeceu muito a atenção e deu uma olhadela ao quarto, realmente vasto, com duas camas, uma junto à parede, a outra do lado oposto. Dormiu regaladamente. Pela manhã encontrou o amigo com ar preocupado. – Que foi, pá? – Brunildo, meu caro, é embaraçoso abordar o assunto mas tenho de te dizer: tu falas muito enquanto dormes. – Incomodei? – Nada. O problema é que sonhas com mulheres e aventuras e não é em silêncio. Verbalizas. – Tu não me digas. Mas terá sido uma excepção, um acaso, não é o meu estilo quando acordado,

quanto mais a dormir. – Veremos na próxima noite. Mas para que não julgares exagero da minha parte, dormes com um gravador ligado junto à almofada. Brunildo riu-se e anuiu: – Aposto que a gravação só regista o meu respirar tranquilo e inocente. Não foi isso que aconteceu. Dispuseram-se a ouvir a gravação e lá soava, nítida, a voz de Brunildo: “Ana, amor, deixa apertar-te nos meus braços!” (pausa) “Boa ideia, Letícia, termos vindo para esta pousada e vibrarmos intensamente com o contacto dos nossos corpos… (pausa) “Outra? Okay, Doedata, bem sabes que contigo nunca me canso.” Desesperado, Brunildo desligou o gravador e entrou em pânico. Aproximava-se o dia em que passaria a dormir com Helga Teodorica, a mulher da sua vida, iriam aqueles sonhos absurdos traí-lo com palavreado parvo? – Duarte, meu amigo, vamos experimentar mais duas noites. – Acho conveniente. As gravações das duas noites foram quase idênticas à primeira, o que mudava era o nome das intervenientes: “Oh, Pavette, que bom

ter vindo de França para me proporcionar uma noite destas!” (Pausa) “Às oito, Dominguinha? E levas aquele traje de veludo grená com enfeites de cabedal e as botas altas?” (Pausa). “Sim, Florentina, aliás também adoro rebolar-me contigo na carpete!”. E mais, e mais. Brunildo pensou em desistir do combinado, mentir a Helga Teodorica dizendo que afinal não gostava dela, o melhor seria nem começarem. Todavia, rejeitou a ideia, Helga bem sabia como ele a adorava, mandava-lhe flores dia sim, dia não, acompanhadas de poemas só ao alcance de um verdadeiro poeta loucamente apaixonado. Helga Teodorica gostou logo do hall, passou à sala, aprovou as cores. Abraçou Brunildo e beijou-o, sôfrega.

Não houve propriamente noite de núpcias, Brunildo adormeceu no seu quarto, sonhou no que tinha de sonhar, quando se levantou já Helga preparava o pequeno-almoço na cozinha José Frade

– Espera, querida, temos tempo. – Abriu uma porta e exclamou: – Aqui é o teu quarto. – O meu quarto? – Pois. Maior que o meu, já te mostro. – Camas separadas, Brunildo? Ele tinha estudado o assunto: – Para tua comodidade, querida. Esqueci-me de te dizer, mas eu ressono como um trombone, revolvome na cama, chego a dar pulinhos. Livro-te desse horror. Ela deixou-se cair na cama destinada e disse, baixinho: – Esta não esperava eu! Não houve propriamente noite de núpcias, Brunildo adormeceu no seu quarto, sonhou no que tinha de sonhar, quando se levantou já Helga preparava o pequenoalmoço na cozinha. – Bom dia, linda flor – saudou ele. – Bom dia, querido, ainda pensei que me visitarias mas deves ter dormido com um anjo. – Um anjo, dizes bem. Na noite seguinte, deitado, Brunildo leu três capítulos de um romance, por mero acaso erótico, já se devia ter apresentado, pensou, no quarto de Helga. Atravessou o corredor, abriu a porta devagarinho e anunciou, risonho: – Aqui estou! Sem resposta. Avançou, descalço, percebeu então que ela dormia a sono solto e seria indelicado acordá-la. Ia retirar-se quando ouviu a voz da amada adormecida, sim, mas falando: “Não me tente, Ricardo, olhe que eu sou comprometida. Devia tirar a sua mão daí…” (Pausa) “Luís, temos de encontrar-nos mais vezes. Já não suportava as saudades.” (Pausa) “Você, Nuno, seu maroto, deve ter aprendido no Kama Sutra!”. Brunildo retirou-se, pé ante pé, e foi sonhar para a cama dele. I


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TL Setembro 2015 // LAZER // 21

// CULTURANDO

“Machinas Fallantes” Preservar um património esquecido

“A música gravada, como as novas linhas férreas que ligavam o país às capitais europeias, tinha a capacidade de viajar, levando e trazendo trechos sonoros (…). Os discos recriavam a sonoridade dos teatros da cidade, as canções boémias das tabernas, tanto quanto as canções regionais das aldeias (…).” 1 ransportando-nos directamente para o tempo das “machinas fallantes”, em que as apresentações do fonógrafo à sociedade portuguesa se anunciavam como “sessões de alta magia”, a investigação inédita conduzida por Leonor Losa conta a história da implementação da indústria da música gravada em Portugal, desde a primeira notícia alusiva publicada na revista O Occidente, em 1878, um ano após a invenção de Edison. Esta edição, copiosamente ilustrada e de qualidade gráfica superior, representa um verdadeiro marco na produção académica e literária dedicada a um património cultural ignorado, considerado “de pequena escala” e de parca relevância em termos historiográficos, desvendando-nos um mundo até agora desconhecido de efervescência industrial e comercial, envolvendo artistas, músicos, actores de teatro

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e de revista e bandas filarmónicas, nas primeiras décadas de XX. Constituindo um autêntico inventário de partituras, catálogos de discos, documentação de empresas discográficas, lojas, lojistas, empresários, artistas, anúncios e iconografia, a obra destaca-se por se fazer acompanhar de um CD incluindo 20 fonogramas restaurados, documentos raros que trazem a público, pela primeira vez, vozes gravadas há mais de cem anos. São canções, cançonetas e fados, inestimáveis fontes primárias de época, que documentam o "Fado de Coimbra" que será reinterpretado por José Afonso no "Fado das Águias", fados da I República que ainda hoje se ouvem, mas também trechos dos momentos empolgantes que acompanharam a queda da monarquia, o monólogo de Hamlet, de Shakespeare, na voz do grande actor Eduardo Brazão, ou encontros com pronúncias antigas e processos vocais que reconhecemos nas discografias de Max e António Mafra. A originalidade desta obra revela-se na sua capacidade de viajar através dos sons, tornandonos agentes activos nessa descoberta que se aproxima da recuperação de um velho álbum de fotografias de família, do qual ecoam as vozes e cançonetas dos nossos antepassados. I Sofia Tomaz [A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]

1) Leonor Losa, Machinas Fallantes. A música gravada em Portugal no início do século XX. Lisboa: Tinta da China, 2013, com CD anexo (20 faixas sonoras).


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22 // LAZER // TL Setembro 2015

// EM CENA NO TRINDADE

Teatro latino-americano em Lisboa Pela segunda vez consecutiva o Trindade torna-se um palco para o teatro latino-americano, com a mostra “És cena”, apresentando espetáculos, debates e workshops em torno da expressão teatral. Mas há mais, muito mais, para ver neste início da temporada

C

olômbia, Chile, Uruguai, Argentina, Brasil, República Dominicana e Portugal são os países com os quais os sete espetáculos estabelecem ligações, na sala principal, em setembro. Dia 2, uma coprodução lusocolombiana, Vai Vem de Angela Valderrama, encenado por Juan Carlos Agudelo com a Associação Ajagato, que há mais de vinte anos, a partir de Santo André é um esteio da prática teatral no sudoeste alentejano. No dia 4, a presença do Chile através de Inferno, criação e interpretação de Felipe Cabezas, encenação Berty Tovias. Dia 5, La valija, encenação e interpretação da uruguaia Valentina Cayota Moreni, atualmente em residência na Companhia Olga Roriz, com música de André Santos. Da Argentina, dia 8, Evita, y yo!, Historia de dos Argentinas, espetáculo criado e interpretado por Sonia Belforte.

ratura barroca do Novo Mundo e manteve uma controvérsia com o padre António Vieira). O último espetáculo no Trindade é dia 13, (a mostra prolonga-se até dia 19 com apresentações no Teatro Municipal Amélia Rey-Colaço, em Algés, e no Teatro Miguel Franco, em Leiria), El Cruce sobre el Niágara, de Alonso Alegria, encenado por Sierra Colección, Fausto Mateo e Francis Cruz, da Companhia Flor de Bethania Abreu, da República Dominicana. A mostra tem um conjunto de atividades paralelas, com entrada livre, destacando-se a exibição de El Funeral de Neruda, filme baseado na peça de Luís Sepúlveda e Renzo Sicco, dia 9, às 19h, e a presença de Guillermo Heras, consultor artístico da Mostra, que irá falar sobre o potencial do programa Iberescena para o tecido artístico nacional, e sobre a cena latino-americana contemporânea, dias 11 e 12. I

Dia 10, A peleja da voz com a língua – Saudade, criação e interpretação de Numa Ciro, atriz, cantora, compositora e psicanalista brasileira que tem desenvolvido um trabalho performativo de canto à capela, à qual são incorporados elementos do teatro, artes plásticas, dança, poesia e literatura. A peleja da voz com a língua é um tríptico (A viagem, O amor e A saudade) criado a partir

de uma residência artística de Numa Ciro em Lisboa, durante o ano de 2012. No dia 11, Los Ritos del Retorno ou las Trampas de la Fé, interpretada por Clara Inés Ariza, mais uma produção colombiana, pela companhia Teatro Tierra, uma encenação de Juan Carlos Moyano, a partir de textos de Octavio Paz, Eduardo Galeano e da freira Juana Inés de la Cruz (que marcou a lite-

Mais dramaturgia portuguesa

contemporâneos. Encenado por

Conferências do Trindade

Rute Rocha, com direção musical

A 15 de setembro António Filipe

de Artur Pispalhas e Ana Cloe, tem

Pimentel, investigador, professor e

// BREVES Um Novo Dia – um musical sobre o amor Eduardo Barreto, encenador e

A associação Gato que Ladra tem

no elenco Ana Cloe, Catarina

diretor do Museu Nacional de Arte

realizador residente em Londres há

persistentemente desafiado

Thane, Cristina Cavalinhos, Ivo

Antiga, problematiza, no quadro

23 anos, regressa ao Trindade com

dramaturgos e escritores

Marçal, João esteves, José Mateus,

histórico dos museus nacionais, a

o musical de Laurence Mark

portugueses para a criação dos

Pedro Barbeitos e Salomé

experiência do MNAA enquanto

Whythe que tem tido enorme êxito

seus espetáculos. Com Sete

Marques. Sala estúdio, 10 de

projeto de desenvolvimento da

internacional. Nesta apresentação

Pecados Mortais ou as Técnicas de

setembro a 4 de outubro, de 4ª a

comunidade. No dia 6 de outubro,

conta com os atores Rúben

Legítima Defesa – Bloqueios,

sáb. 21h45, domingo às 17h.

Paula Gomes Magalhães, autora do

Madureira, Sissi Martins, Pedro

Retenções e Alavancas, Miguel

Conversa com o público dia 24 de

livro O Chiado e os seus teatros no

Pernas e Joana Manuel. Tudo gira

Castro Caldas volta a trabalhar com

setembro.

tempo de la Belle Époque, procura

em torno da vida de dois casais,

este grupo num espetáculo que,

fazer um retrato do Chiado, na

um à beira do divórcio, o outro às

tendo como ponto de partida uma

viragem do século XIX para o século

portas do casamento. De 30 de

visão contemporânea de “Os sete

XX, destacando aquela que era uma

setembro a 24 de outubro.

pecados mortais” de Bertolt Brecht,

paixão nacional: o teatro. As

desafia o espectador a questionar-

conferências são à terça, no Salão

se sobre os “pecados mortais”

Nobre, às 18h30, com entrada livre.


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TL Setembro 2015 // LAZER // 23

// ARQUITETURA DOS TEMPOS LIVRES

Casa de Chá da Boa Nova

Á

lvaro Siza Vieira é escolhido pelo professor Fernando Távora para trabalhar no seu gabinete de arquitetura, num espírito de diálogo e consciência de passagem de testemunho. Fernando Távora escolhe o lugar e entrega ao seu discípulo a execução do projeto para enroscar a Casa de Chá na encosta rochosa, tal como Raul Lino havia feito em 1912 na casa do Cipreste em Sintra. Na freguesia de Leça da Palmeira, em Matosinhos, junto ao Farol, localiza-se na zona da Boa Nova, a Casa de Chá da Boa Nova. Trata-se de uma conhecida casa de chá e restaurante, instalada no edifício que foi uma das primeiras obras (1958-1963) do arquiteto Álvaro Siza Vieira, classificada Monumento Nacional em 2011. Cuidadosamente integrada num afloramento rochoso, a dois metros da água, com o Atlântico em fundo, é um dos locais mais procurados pelos amantes da arquitetura, pelos apreciadores de uma boa refeição e, sobretudo, pelos que gostam do lazer e disfrute do tempo livre, dos que apreciam uma boa refeição ou mesmo um chá a contemplar o mar. O método de projetar de Álvaro Siza Vieira assente na preocupação de integrar a preexistência no projeto e este no lugar ao longo do seu trabalho valeu-lhe o Pritzker em 1992. Trata-se do mais distinto galardão alguma vez atribuído à arquitetura portuguesa. O projeto desenrola-se na encosta voltada a sul com amplas janelas localizadas de modo a permitir o controlo da entrada de luz e a permitir uma distinta

observação do mar como se tratasse de uma sala de espetáculo. Dada a proximidade do mar os materiais estruturais em madeira foram substituídos por betão para fazer face ao rigor do clima. No interior, com exceção das paredes exteriores que foram cobertas de estuque e pintadas de branco para refletir a luz natural, a madeira de mogno reveste tetos e chão e dá forma aos vãos e ao mobiliário da Casa de Chá.

Sustentabilidade e austeridade são conceitos que se aplicam a esta obra e que vão ser uma constante na prática de Siza Vieira, patente na escolha dos materiais. Esta foi uma das primeiras obras do “novo modernismo” de Siza Vieira que caracteriza o modernismo emergente no cadinho, iniciado por Carlos Ramos na anterior geração, da Faculdade de Arquitetura do Porto. Fernando Távora, figura de grande importância na formação de Álvaro Siza Vieira, formou-se na Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), no período em que Carlos Ramos era figura marcante na formação de arquitetos e que viria a ascender a diretor da escola no início dos anos 50. Fernando Távora passou a lecionar na ESBAP, pela mão de Carlos Ramos. Atualmente a Casa de Chá da Boa Nova é dirigida pelo chefe Rui Paula . I Ernesto Martins


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24 // LAZER // TL Setembro 2015

// TEMPO DIGITAL

// LÍNGUA NOSSA

Solução de problemas

Colocação do pronome átono

C D

esejamos sempre trazer aqui as mais recentes novidades no mundo digital em acessórios úteis e acessíveis. E a dificuldade reside na escolha. Algo que faltava solucionar para muitos utilizadores era a forma eficiente de transferir fácil e rapidamente ficheiros, fotografias, vídeos ou simples documentos, entre os diversos dispositivos que usamos no nosso dia a dia, nomeadamente smartphones, tablets e computadores portáteis. Pois está resolvido com um pequeno acessório. Esses nossos dispositivos têm pelo menos uma entrada USB ou miniUSB. Aquela única onde se ligam os carregadores dos smartphones é de facto uma mini. Portanto a Hama lançou o Laeta Twin FlashPen, uma espécie de “pendrive” que tem fichas USB em cada uma das extremidades: uma micro-USB 2.0 para tablets e smartphones e uma standard USB 3.0 para a ligar a computadores, portáteis ou não. Está disponível com quatro capacidades diferentes: 16, 32, 64 ou 128GB. Mas a Hama foi mais longe. Apresenta também o 2in1 USB Card Reader. É de facto um acessório 2 em 1 pois tem também uma porta USB e outra micro USB, tornando-o compatível com smartphones, computadores e tablets. Mas em vez da memória

flash possui um leitor para cartões de memória SD e microSD sem necessidade de adaptador. Preço recomendado 9,99 euros. Problema resolvido. Também já mostrámos aqui o que pode ser chamado a reinvenção do cubo. O bloco de tomadas em forma de cubo onde todas elas estão perpendiculares em relação umas às outras e podem por isso ser todas utilizadas independentemente do formato das fichas. Pois a Allocacoc, representada pela Esotérico, apresenta agora a evolução natural do conceito PowerCube, criando a possibilidade das tomadas serem ligadas ou desligadas à distância. O novo PowerCube Extended Remote (com extensão eléctrica) tem um interruptor numa das faces. O PowerRemote é um interruptor plano, com o mesmo design, que pode ser colocado em praticamente qualquer lado, no chão, na parede, sobre ou sob o tampo de uma secretária, na mesa de cabeceira, etc. e controla, à distância e sem fios, um ou mais PowerCube ExtendedRemote. Com alcance de 25 metros, sem precisar de pilhas (pressionar o botão gera a sua própria energia) é uma solução perfeita para ligar e desligar todos os equipamentos em qualquer sala evitando consumos em stand-by. I Gil Montalverne [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

onsultório linguístico é um quadro de referência ao qual Língua Nossa não se adequa. Tal não significa, porém, que não seja sensível às dúvidas muito pertinentes que me são colocadas, quer verbalmente quer por escrito, acerca de questões cujo esclarecimento, afinal, me mobiliza como uma quase inevitabilidade. Pois bem, recentemente, a frequência com que tenho sido interpelado acerca da correcção da colocação do pronome átono determinou a decisão de partilhar convosco este assunto desafiante, tarefa que tentarei concretizar sem correr o risco de assumir e, muito menos, promover a relação consultor/consulente. Em primeiro lugar, tenha-se em consideração que, geralmente, o pronome átono se coloca entre o auxiliar e o verbo principal. Tomemos o clássico exemplo dos verbos dizer (principal) e dever (auxiliar): deve-se dizer sempre que a mentira é inconveniente. Contudo, nas locuções verbais, quando o verbo principal está no infinitivo, pode dar-se a ênclise: deve dizerse o que é correcto. Convém lembrar que o conceito de locução verbal abrange dois ou mais verbos com valor de um, ou seja, expressão sempre composta por um verbo auxiliar e outro principal. Nas locuções verbais, conjuga-se apenas o verbo auxiliar, pois o verbo principal assume sempre uma das formas nominais, ou seja infinitivo, gerúndio ou particípio. Aliás, além do infinitivo, nos casos de vou cantar-vos ou de conseguiram radicalizar-se, a ênclise ao verbo principal também pode ocorrer quando este está no gerúndio: ia recordando-se. Hoje

em dia, bem se pode afirmar que, tanto no discurso oral como no registo escrito, a ênclise ao verbo auxiliar, como no exemplo, devolhe perguntar, ou a ênclise ao verbo principal, em devo perguntar-lhe, será mais uma questão de estilo do que de sintaxe. Como já verificaram, nos casos vertentes, as noções de ênclise e próclise são de tal modo evidentes que não carecem de explicitação. Finalmente, cumpre chamar a atenção para determinadas circunstâncias de acordo com as quais é inequívoca a necessidade de anteposição ou próclise do pronome átono ao verbo auxiliar. Por exemplo: quando a locução verbal é precedida de negativa > Não lhe devo perguntar > Ninguém nos quer ofender; frases iniciadas por pronomes ou advérbios interrogativos > Quem lhe deve perguntar?> Como te ias recordando?; frases que manifestam desejo ou que começam por palavras exclamativas > Oxalá te vás afastando!; em longas frases, com orações intercaladas e subordinadas > No aeroporto, antes de aceder à sala de embarque, à medida que os ponteiros avançavam para as despedidas finais, sempre havia maneira de nos defendermos da curiosidade alheia. I João Cachado [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

*Licenciado em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, actualmente aposentado, foi professor, técnico superior e dirigente, nos Ministérios da Educação e dos Negócios Estrangeiros. É autor de materiais didácticos para o Ensino de Português no estrangeiro.


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TL Setembro 2015 // LAZER // 25

// ECRÃS

Woody Allen, Ozon e Miguel Gomes na “rentrée” Setembro traz, ainda, a criação recente dos lendários estúdios Aardman e um documentário assaz invulgar sobre o mundo da alta costura Cinema A Ovelha Choné: O Filme, de Mark Burton e Richard Starzak | GB / França, 2015, 1h25 Animação. Estreia a 3.

Criatividade não falta aos célebres estúdios Aardman, precursores da animação ‘claymation’ (vá de retro, 3D!) e mestres na arte da comédia burlesca com bonecos construídos de tecidos costurados à mão, argila, plástico, lã e couro. Em “Shaun the Sheep Movie” (título original) a proeza criativa supera todas as expectativas. É para rir, quase sem parar.

Depois do enorme sucesso internacional de “Tabu”, Miguel Gomes põe em cena uma fábula épica e surreal, de (des)encantamento e esperança

Ricki e os Flash, de Jonathan Demme | EUA, 2015, 1h42 Com: Meryl Streep, Ben Platt, Kevin Kline. Estreia a 3.

O realizador de “Selvagem e Perigosa”, “O Silêncio dos Inocentes” e “Filadélfia” regressa à ambiência da pop-rock (de que foi um fã, nos idos anos 80) com um sensível melodrama sobre uma mãe ‘roqueira’ que tenta reconquistar o afecto da família. Uma Nova Amiga, de François Ozon | França, 2014, 1h48 Com: Romain Duris, Anaïs Demoustier, Raphaël Personnaz. Estreia a 10.

Ozon (re)visita o tema da identidade (e ambiguidade) sexual. Uma mulher que entra em depressão após a morte duma grande amiga descobrirá no marido desta uma razão forte para voltar a sentir o gosto de viver. Na atmosfera respira-se, por vezes, os universos de Hitchcock e Almodóvar.

O mundo da indústria da moda a partir de um olhar abrangente (e privilegiado) da lendária casa Christian Dior com destaque para “os bastidores da criação da primeira colecção de alta costura de Raf Simons, o novo director artístico”. Para a revista “Elle” trata-se do “melhor filme sobre a moda”.

professor universitário de filosofia em crise existencial e o seu relacionamento com uma jovem aluna. Alguma ironia, não pouca pungência e, sobretudo uma reflexão interessante sobre o racionalismo e/ou a falta que “ele” faz… As Mil e Uma Noites: Volume 2, O Desolado, de Miguel Gomes |

em crise à beira mar plantado e de um realizador que desiste de o filmar entregando essa tarefa a uma tal “bela Xerazade” que vai dando conta do recado mas sem incomodar muito o Rei. Depois do enorme sucesso internacional de “Tabu”, Gomes põe em cena uma fábula épica e surreal, de (des)encantamento e esperança. Prémio “melhor filme” no festival de Sydney. I

Homem Irracional, de Woody Allen

Portugal /França /Alemanha, 2015,

| EUA, 2015, 1h34

2h11

Dior e Eu, de Frédéric Tcheng |

Com: Joaquin Phoenix, Emma

Com: Crista Alfaiate, Chico Chapas,

Joaquim Diabinho

França, 2015, 1h26

Stone, Parker Posey. Estreia a 17.

Luísa Cruz. Estreia a 24.

[O autor escreve de acordo com a

Documentário. Estreia a 10.

Um drama sombrio centrado num

Segundo tomo da saga de um país

antiga ortografia]


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26 // LAZER // TL Setembro 2015

// MOTOR

// SUGESTÕES

Novo Mazda2: a importância de ser pequeno Luís Negrão Médico da Fundação

O

novo Mazda2 oferece mais de tudo: é maior com uma distância entre eixos mais longa, tem um interior mais espaçoso e conta com um conjunto de sistemas de segurança ativa i-Activsense, que complementam o generoso nível de equipamento para um pequeno citadino. Neles inclui-se o Active Driving Display, o primeiro headcup display do segmento, bem como o sistema de conectividade para smartphones MZD Connect. O construtor nipónico melhorou de modo efetivo a segurança contra as colisões, sem qualquer ganho de peso, através de uma carroçaria e de um chassis mais robustos. Mais é menos também noutros domínios, nomeadamente na redução das emissões dos consumos e do ruído no habitáculo. Num segmento dominado por motores de pequena cilindrada, as mecânicas de dimensão ideal da Mazda são uma lufada de ar fresco, sendo perfeitamente adequadas para uma utilização segundo a filosofia “Jinba Ittai” de condutor-e-viatura-como-um-todo, patenteada pela Mazda. Ao conduzi-lo sentimos um inspirado grau de confiança de posse e utilização. Tudo isto surge envolto pelo extraordinaria-

Portuguesa de Cardiologia

Dia Mundial do Coração No próximo dia 29 de Setembro é assinalado o Dia Mundial do Coração, que pretende ser uma chamada de atenção para as doenças cardiovasculares que no mundo são a principal causa de morte e de

mente atrativo design Kodo – A Alma do Movimento aplicado no exterior, abrigando níveis de ergonomia e uma cabina de toque fresco e agradável, concebida para que os ocupantes esqueçam que estão num modelo subcompacto. A Mazda reduziu de modo significativo o peso do modelo agora apresentado em relação ao seu antecessor. Desta vez, o peso do novo Mazda2 manteve-se mas há mais conteúdos, aumentaram-se as dimensões – é 14 cm mais longo e mais alto que a geração anterior – mas também integra um conjunto de sistemas líderes na classe de segurança, conectividade e entretenimento. Adicionalmente a carroçaria tornou-se 22 por cento mais rígida, embora seja 7 por cento mais leve. Em suma, o novo Mazda2 tem todas as características necessárias para se impor rapidamente no mercado automóvel.I Carlos Blanco

incapacidade. A WorldHeartFederation lança todos os anos, este desafio a todas as Fundações de Cardiologia. Parece que começa a haver cada vez mais dias Nacionais e Mundiais que dias do ano. Todos os dias são dias de qualquer coisa. Do coração, da saúde, da doença, de tanta coisa que, no fim, fica a dúvida se valerá a pena haver tantos dias assim. Acontece que um terço do nosso dia é passado a trabalhar. Outro terço é passado a dormir. As outras oito horas que sobram perdem-se, mal semeadas, ao longo do dia. Habitualmente queixamo-nos do tempo que perdemos com futilidades e esquecemo-nos do tempo que podemos ganhar com coisas que são importantes. Podemos aproveitar alguns minutos das

// PALAVRAS CRUZADAS // Por José Lattas

horas que nos sobram para estarmos 1

HORIZONTAIS: 1-Discretas; Algum. 2-Falaras; Mineral

2

3

4

5

6

7

8

9 10 11

com a nossa família e com os nossos amigos a fazer algo que o nosso coração

que faz parte do granito. 3-Interceder; Abortar. 4-Óbice

1

(inv.); Livre. 5-Aspergir; Aparece. 6-Nota musical (inv.);

2

Bem sei que no “face” estamos lá todos.

Enganos (inv); Alcançar. 7-Vapor; Marmita de cortiça,

3

Bem sei que no “face” partilhamos as

com tampa e asa, em que se conserva a comida quente

4

nossas vivências e as nossas alegrias,

5

mas isso é feito com o esforço de um clik

e é muito utilizada pelos pastores e trabalhadores rurais alentejanos. 8-Veneras; Aia. 9-Aconselhas; Apensa. 10Fúteis (fem.); Observar. 11-Abreviatura da frase inglesa, usada pela marinha, para pedir socorro; Comentara.

6 7

também possa postar “gosto”.

apenas. A ideia é sair da clowd, é vir para o terreno, é partilhar em conjunto com os

8

amigos e com a família. É fazer um

VERTICAIS: 1-Partido; Coesos. 2-Circulos; Pessoa que

9

“gosto” não com um dedo, mas com um

sofre do gosto doentio da violência física. 3-Tanque em

10

que se pisam e reduzem a líquido certos frutos; Folgas.

11

Carta de jogar; Fechas; Sufixo com o sentido de lugar

Soluções

plantado. 7-Brotar; Período normal e usual, que vai da

1-CALADAS; TAL. 2-ORARAS; MICA. 3ROGAR; GORAR. 4-SAM; DESATE. 5-L; REGAR; SAI. 6-IS; SOTAG; IR. 7-GAS; TARRO; A. 8-ADORAS; AMA. 9-DITAS; ADITA. 10-OCAS; ANOTAR. 11-SOS; GLOSARA.

que se trituram os grãos, nos moinhos; Crescidos. 9Fitas; Cale. 10-Honrai; Embaraçar. 11-Borralho; Pira.

É certo que é mais um dia mundial. É certo que é mais um de muitos outros. A

4-Vergas; Chefe etíope. 5-Conceder; Camarinhas. 6-

sementeira às colheitas. 8-Pedras rijas, cilíndricas, com

abraço entre todos.

diferença está no proveito que cada um de nós é capaz de tirar com mais uma mensagem positiva para a vida. Saiba mais em: www.fpcardiologia.pt


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