Tempo Livre Março/Abril 2017

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DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL 3.a SÉRIE • 1€ N.0 4• Mar-Abr 2017

Entrevistas arménio carlos Carlos Silva

25 Abril de



ÍNDICE

TL mar-abr 2017 3

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22 23 Passatempos //

Entrevista: Arménio Carlos

Desporto: Clube Rugby de São Miguel

Na mesa com Leopoldo Garcia Calhau

Coluna do Provedor // Musicando

Contos do Zambujal

Turismo Sustentável

CIG celebra 40 Anos no Trindade

Entrevista: Carlos Silva

Viagens: Madeira e Porto Santo

Conferências “Desafio 2030”

Teatro da Trindade – 150 Anos

Agenda

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Editorial

E eduardo gageiro

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Opinião de Fernando Catarino

capa

Fotografia

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“7 Maravilhas de Portugal” no Piódão

duardo Gageiro nasceu em Sacavém a 16 de Fevereiro de 1935. Empregado de escritório na Fábrica de Loiça de Sacavém de 1947 a 1957, conviveu diariamente com pintores, escultores e operários fabris, que o influenciam na sua decisão de fazer fotojornalismo. Com 12 anos publica no Diário de Notícias, com honras de primeira página, a sua primeira fotografia. Começa a sua atividade de repórter fotográfico no Diário Ilustrado em 1957. Foi fotógrafo do Diário Ilustrado, O Século Ilustrado, Eva, Almanaque, Match Magazine, editor da revista Sábado, Associated Press (Portugal), Companhia Nacional de Bailado, da Assembleia da República e da Presidência da República. Trabalhou, nomeadamente, para a Deustche Gramophone – Alemanha, Yamaha – Japão e para a Cartier. Atualmente é freelancer. É membro de honra do Fotokluba Riga (ex-URSS), Fotoclube Natron (ex-Jugoslávia), Osterreichisdhe Fur Photographie, O.G.Ph Viena (Áustria), Gold Year de Honra (Novi Sad, ex-Jugoslávia) e Excellence F.I.A.P. (Fédération Internationale de l’Art Photographique – Berna, Suíça). (Biografia completa em www. eduardogageiro.com). As palavras de Lídia Jorge, em 2008, são eloquentes: “Podíamos falar sobre Eduardo Gageiro sem dizer coisa nenhuma. Se uma imagem vale por mil palavras, algumas fotos de Gageiro valem por mil imagens. Fotos emblemáticas como o Calvário, a Amargura, a Pureza, o Salgueiro Maia a morder o lábio, o Soares triunfante da varanda de Santa Apolónia, bastavam para revelar um homem perseverante, astuto, consciente, um homem-máquina, com grande-angular e fotómetros nos olhos e um radar incorporado que lhe lê a realidade antes mesmo de a ver. Ou, como já alguém escreveu: Dizem que os fotógrafos não são pessoas como as outras. Consta que caminham com metade dos olhos entre as mãos e não fazem separação entre o seu corpo e o Mundo, como as crianças e os animais.” (Catálogo da exposição “Eduardo Gageiro – Rapaz de Sacavém, fotógrafo do mundo”, Museu de Cerâmica de Sacavém, fevereiro de 2013).

FRANCISCO MADELINO Presidente da fundação inatel

Inatel: do Fascismo à Democracia

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Inatel faz este ano 82 anos. Nasceu em 1935, em pleno início do Estado Novo, dois anos após Salazar se iniciar como Presidente do Conselho de Ministros. Constitui, com a Mocidade Portuguesa e a Censura, os grandes instrumentos da doutrina fascista da massificação das massas populares. Marechal Carmona foi o seu primeiro responsável. O que fez com que a FNAT tenha passado quase intacta para o regime democrático, na sua matriz fundamental identitária até hoje, a de promover o lazer junto dos trabalhadores e dos pensionistas e dinamizar a cultura popular? Que esteja, inclusive, associada, simbólica e eternamente, à instituição do regime democrático, através do célebre comício do Primeiro de Maio de 1974? Que, na Constituição de 1976, tenha sido incluído um artigo, responsabilizando o Estado pela existência de centro de férias para os trabalhadores, claramente feito à medida do seu objeto? Creio que manteve sobretudo por duas razões: primeiro, porque o objeto da sua existência faz sentido e ligou-se geneticamente à vivência popular e associativa portuguesa; depois, os movimentos democráticos e populares, como aconteceu com muitos dos sindicatos corporativos, foi-se introduzindo nas suas estruturas, e nas Casas do Povo, tornando-as instrumentos de ação popular. Depois, não é por acaso que o seu objeto seja matéria tratada pela OIT numa Convenção de 1924, tornando-o universal. Hoje, a Inatel, entidade de economia social e solidária, com quase duas dezenas de hotéis, muitas infraestruturas desportivas e culturais, e ligada, sem igual, às sociedades etnográficas e musicais, está na vanguarda das ideias democráticas e progressistas do seu tempo, nacionais e mundiais, nomeadamente a promoção das sustentabilidades planetária e social e do diálogo intercultural. Este número do Tempo Livre é assim dedicado a Abril e a Maio. Em Portugal, primaveras da democracia e da dignidade de quem trabalha. Nele, duas entrevistas aos responsáveis das Confederações Sindicais, estas associadas aos nossos órgãos de gestão. A Inatel alimenta-se e mobiliza-se, no seu objeto e na sua função, pelas grandes utopias mobilizadoras dos movimentos progressistas dos séculos XX e XXI, as questões social e ambiental e a democracia.

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Reportagem

As 7 Maravilhas de Portugal estão de volta e tiveram o lançamento oficial na unidade hoteleira Inatel Piódão

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á lugares que se perpetuam na memória de quem os visita, que surpreende os menos experientes e que têm o condão de tornar um lugar num verdadeiro conto de fadas. A aldeia do Piódão é um desses locais. Situado numa das encostas da Serra do Açor, em Arganil, longe de ser encontrada sem ser procurada, Piódão é uma das Aldeias Históricas de Portugal que concorre às 7 Maravilhas de Portugal – Aldeias de Portugal. O programa regressa depois de 2012 terem sido eleitas as praias de Portugal. É no Piódão, na conhecida Aldeia Presépio, que encontramos uma das unidades hoteleiras da Fundação Inatel, aquela que recebe os aventureiros que se atrevem a descer as ruas estreitas que nos levam até à aldeia. E foi esta a aldeia escolhida para o lançamento oficial do programa 7 Maravilhas de Portugal – Aldeias de Portugal, com a conferência de imprensa na unidade da Inatel. O porquê da escolha do Piódão parece óbvio nas palavras de Luís Segadães, presidente das 7 Maravilhas: “Piódão é das aldeias mais características de Portugal – como outras – e fez parte de uma short list onde queríamos fazer programação. Vamos mostrar outras aldeias, durante um ano. Mais no verão, durante o programa da RTP.” A RTP será mais uma vez a anfitriã do programa das 7 Maravilhas com a apresentação de Catarina Furtado e José Malato. Para ambos faz todo o sentido a RTP continuar ligada a este projeto: “Devolve

Piódão o lugar aos portugueses aquilo que de melhor temos: património, gastronomia, e agora, com esta ideia extraordinária, com as aldeias. Piódão, uma aldeia onde vivem 64 pessoas, é uma delas”, explicou Catarina Furtado. José Malato confessa que “já sentia saudades de fazer parte deste cenário que envolve as 7 Maravilhas”. As inscrições terminaram no dia 7 de março. As aldeias candidataram-se em 7 categorias – Aldeias-Monumento; Aldeias de Mar; Aldeias Ribeirinhas; Aldeias Rurais; Aldeias Remotas; Aldeias Autênticas; e Aldeias em Áreas Protegidas. Serão selecionadas 49, as aldeias pré-finalistas, e reveladas a 7 de abril. As votações e galas serão entre julho e agosto, na RTP, e a gala final será a 3 de setembro. Para Daniel Deusdado, diretor de programas da RTP, faz todo o sentido a RTP estar ligada ao património, às aldeias de Portugal, na procura de um país mais homogéneo: “As aldeias são uma alternativa às praias e às cidades e contribuem para o despovoamento do território e garantir que o meio ambiente das aldeias continua preservado, nesse sentido era muito importante para nós [RTP] contribuirmos para isso, porque sem um território bem preservado que ninguém acredite que vai continuar haver qualidade de vida nas grandes cidades.” Quem não podia estar mais feliz e entusiasmado com a chegada das 7 Maravilhas ao Piódão é o Rui, e outras gentes que continuam a dar vida à aldeia, assim como o presidente de Arganil que fala de sorriso rasgado e de coração cheio de


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Fotos: Beatriz Maduro

Francisco Madelino e José Alho, presidente e vogal da Fundação Inatel, receberam Eduardo Cabrita, ministro-adjunto, Ricardo Pereira Alves, presidente da Câmara Municipal de Arganil, Luís Segadães, presidente das 7 Maravilhas, Daniel Deusdado, diretor de programas da RTP, e os apresentadores Catarina Furtado e José Carlos Malato na conhecida Aldeia Presépio

onde tudo começa uma das aldeias mais caraterísticas de Portugal. Para Ricardo Pereira Alves, presidente da Câmara Municipal de Arganil, é fácil falar de Piódão: “É a maior autenticidade e maior ingenuidade de uma aldeia que faz parte das aldeias históricas de Portugal.” O Rui vive no Piódão e tem a sua casa de xisto, típica da aldeia, com artesanato local e o melhor para aquecer os estômagos mais exigentes. Desde o licor de mirtilo e licor de castanha e mel, passando pelas compotas e pelo pão que chega todas as manhãs à aldeia, há ainda o queijo de ovelha e o queijo de cabra para acompanhar e para fazer as entradas do almoço. Esse, que é saboreado à lareira para não arrefecer, vai desde o cabrito, à chan-

fana, passando pelo borrego da serra da Estrela e para a sobremesa, a tigelada e o arroz doce. O Rui, assim como outros moradores e trabalhadores na aldeia, sabe que o facto de estarem a 40 km da escola mais próxima e dos hospitais pode ser um entrave ao crescimento da aldeia, mas também é isso, a sua localização que se confunde muitas vezes com o nevoeiro, que torna o Piódão um lugar encantado. Tem a certeza que vão vencer numa das categorias das 7 Maravilhas e não deixa de insistir na importância que o Piódão tem para o concelho e para as aldeias envolventes: “Piódão é um cartão de visita para o concelho de Arganil.” Para José Alho, vogal do conselho de

administração da Fundação Inatel, ver o Piódão e outras aldeias onde a Inatel está localizada, como Vila Ruiva, Linhares da Beira, a concorrer às 7 Maravilhas de Portugal é um orgulho. E estar ligado a este projeto faz sentido porque a Inatel foi fundadora das aldeias históricas, e tem como missão, nas palavras de José Alho, “não ser apenas uma entidade comercial, queremos assumir um papel de agentes de valorização de território de componente económica e social, e que tem aqui uma expressão corporativa efetiva e estratégica”. Luís Segadães conta com o apoio da Fundação e outros parceiros: “Procuramos parceiros onde possamos elevar locais do país com novas unidades hoteleiras. Mostrar um lado de Portugal que é menos visto, menos conhecido, e a Inatel Piódão tem umas das melhores vistas de Portugal.” O ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, também não deixou escapar a beleza da Inatel Piódão, localizada na Aldeia Presépio, e elogiou: “A aposta da Inatel numa estrutura deste tipo para que se crie condições para um turismo de qualidade, com esta ligação fortíssima ao território, património natural, aos valores que possibilitam transformar este espaço em espaços de oportunidade” faz com que se acredite que “não estamos aqui a fazer nada que tenha uma dimensão fatalista, não. Há aqui oportunidades, há aqui condições únicas de turismo de natureza, cultura e descoberta de património”. E acrescenta que a estratégia de fazer crescer e empreender as aldeias de Por-

tugal passa pela “fixação de populações qualificadas, hoje com níveis elevados, e que encontram nestas regiões qualquer atividade, desde o Turismo às novas tecnologias”. Após uma visita pela aldeia com os convidados, Catarina Furtado, José Malato, Luís Segadães, Francisco Madelino e José Alho, presidente e vogal do conselho de administração da Inatel, entre outras entidades, era na unidade hoteleira Inatel Piódão que todas as questões dos jornalistas iriam ser respondidas. E depois das 17h00 do dia 7 de fevereiro estava lançado oficialmente mais um programa que faz das Aldeias de Portugal, “não um problema, mas uma oportunidade que tem a ver com a nossa identidade”, nas palavras de Ricardo Pereira Alves. E a resposta à questão “As aldeias e Portugal vão ter mais visibilidade a nível nacional e internacional?” é óbvia e unânime, “sim, claro que sim”. Este ano o programa conta com 2,5 milhões de euros de orçamento global, que trará um retorno de milhões de sorrisos e abraços, de descobertas por um Portugal que se esconde atrás de montanhas e de gentes que esperam todos os dias por alguém novo, uma visita inesperada que lhes devolva o sentido de viverem ali desde o dia em que nasceram, de alguém que lhes explique que estão a fazer mais pelo país do que muitos já tentaram fazer atrás de um ecrã de computador. A eles, um obrigado. Que o património, a tradição e as memórias não se percam atrás de uma montanha. Maria João Costa


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TURISMO SUSTENTÁVEL

tradições num mundo global Como podem as populações, num mundo global, preservar os seus hábitos, usos e costumes? Como defender a cultura local, conservando o que é distinto dos outros? O mote está lançado para a reflexão que se segue

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i-los que chegam. Ei-los que partem. Buscando, noutras paragens, ouvir histórias que não ouvem em mais nenhum lugar do mundo. Noutras aragens, entre outros povos, querem ver, experimentar e sentir o que não há noutro local do planeta. Adaptamos as palavras da canção de Manuel Freire para falar de turismo, de quem procura experiências únicas, e não da dureza da emigração, “onde o suor se fez em pão”. Todavia, são, sobretudo, eles, os emigrantes, que longe do país tentam não esquecer a matriz que os sustenta, através da gastronomia, da cultura e da língua que vão transmitindo aos filhos e netos. Para que não percam as raízes. Mesmo que estejam nos antípodas do mundo a receber outros estímulos. “Os emigrantes possuem múltiplas identidades e são embaixadores dos países de origem nos países de acolhimento e embaixadores dos países de acolhimento nos países de origem. Todos nós vivemos processos de aculturação independentemente de sermos emigrantes ou não. As culturas locais e as tradições são processos dinâmicos, em constante mudança e reinvenção. E os emigrantes contribuem para a globalização das suas culturas e para a sua valorização”, explica Graça Joaquim, investigadora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia – Instituto Univer-

sitário de Lisboa (CIES-IUL) e professora na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE).

Valorizar o que é único

de ‘glocalização’. Note-se que as marcas globais também já começaram a rever as suas estratégias entrando em diálogo com o local onde se instalaram – é a tal glocalização: agir localmente, pensando globalmente. No Japão, uma cadeia famosa de restauração introduziu hambúrgueres de peixe para consumo do mercado nipónico. Em Portugal, apostou nas sopas, valorizando esse hábito antigo português.

Se, por um lado, a globalização parece empurrar para a estandardização, tudo parece igual em todo o lado, aqui ou na China; por outro, pode estimular e valorizar a diferença. Hoje, as tradições e a cultura local são conservadas e preservadas também para consumo turístico. “A globalização Identidade nacional, regional e de bairro tem sido um dos fatores determinantes na A discussão em Portugal sobre a preservavalorização das culturas locais e das tra- ção do que nos distingue dos outros podições. E da sua mediativos tem vindo a ser feita. zação. É exatamente por A sensibilidade para o as“A globalização tem sunto já existe. Contudo, vivermos num mundo globalizado, onde partisido um dos fatores para Graça Joaquim, que lhamos tanto ao nível da estuda a área turística há determinantes na cultura popular de masmais de 30 anos, falta ainsas, dos consumos, das da mobilizar a sociedade valorização das tecnologias, dos transporcivil, através da “criação culturas locais e tes, das viagens e do tude associações de base rismo, que, o que é único, local que debatam o das tradições” específico e diferente de tema, em termos de coocada cultura é fortemente peração e sinergias entre valorizado e tem cada vez mais estatutos os vários atores: associações, instituições nacionais e internacionais de proteção”, públicas e empresas”. A docente realça: “A sublinha a investigadora. questão do que é único, específico e difeA globalização tem múltiplas dimensões rente é absolutamente crucial para que as e funciona a várias escalas. A escala local pessoas se revejam numa identidade que é um dos elementos centrais da globali- seja local, regional e nacional. Todos somos zação, que tem uma forte componente cidadãos do mundo; no nosso caso somos,


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Fotos: José Frade/arquivo

essencialmente, cidadãos europeus, mas as pessoas querem sentir uma identidade nacional, depois uma identidade regional e uma identidade de bairro.” “Não é incompatível querer viajar para a Ásia e pertencer à minha associação de bairro, participando nas suas atividades. Eu preservo melhor aquilo que me distingue se tiver uma lógica de abertura. O local e o global não são antagónicos. Ao mesmo tempo que as pessoas vão ver um filme de Hollywood, também querem ou-

A investigadora Graça Joaquim considera que a sociedade civil em Portugal é frágil. É necessária a “criação de associações de base local” que cooperem com outros atores, como instituições públicas e empresas, para que se preserve o que é “único, específico e diferente”

vir fado vadio, pertencer ao seu grupo, a vem o envolvimento nas comunidades a uma associação local. É tudo planetário, que se pertence para perpetuar a memória mas, em simultâneo, também é tudo espe- e fazer o que ainda não foi feito: “Nós, em Portugal, temos um envolvimento muito cífico e diferente”, acrescenta. Há algumas décadas (não muito longín- baixo na sociedade civil, comparativaquas) associavam-se algumas tradições aos mente com outros países europeus. Temos muitas associações, mas grupos sociais desfavorepouca gente envolvida. cidos. Hoje, estima-se, até “Se não defendermos A nossa sociedade civil é com algum orgulho, coifrágil”, constata a investisas que no passado eram as tradições e gadora. olhadas de soslaio, que a cultura local, “Se não defendermos estavam conotadas com as tradições e a cultura a pobreza. Eis exemplos ficamos perdidos. local, ficamos perdidos. na gastronomia: a sardiO sentimento O sentimento de pertennha, a cavala e as migas. ça e identidade é funA alimentação dos pobres de pertença damental. Quando essa está a ser reinventada por e identidade é identificação não existe, nomes reconhecidos da quando as pessoas se cozinha. Na música, por fundamental” sentem arredadas daquisua vez, o fado é cantalo que é delas, criam-se do por gente nova, que se veste de outra maneira, e tocado com sentimentos de hostilidade e ressentioutros instrumentos. Quem não se lembra mento que, no contexto do turismo, são de a Amália ser criticada nos anos 60 por gravíssimas. É preciso articular a questão cantar poetas? As tradições são reinventa- da proximidade com a questão da disdas e reconstruídas em todas as gerações. tância global, que são complementares”, alerta. Apesar de todo o mundo ser composto Sentimento de pertença Quando se conhece o que é nosso, apren- de mudança, tomando sempre novas quade-se a valorizar o que faz parte da iden- lidades, como escreveu Camões, é o cotidade, aquilo que nos define enquanto nhecimento do que somos e de onde viepovo. A escola é primordial para transmitir mos que nos leva para onde temos de ir. e ajudar a refletir sobre a História. Depois, Sílvia Júlio


Opinião

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Das Lezírias ao Atlântico Nunca o Turismo foi tanto e tão importante como agora. E, pelas previsões que nos chegam de economistas, políticos e “stakeholders”, é mais do que certo que continuará a crescer. Como, e até quando, é questão que convém não escamotear Por Fernando Catarino

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UNESCO, a agência internacional que tutela a actividade, apela, neste ano de 2017, a que se olhe o tema do Turismo, pelo prisma da sustentabilidade e como factor de aproximação e diálogo intercultural capaz de promover a Paz e o Desenvolvimento mais harmonioso entre as nações. As considerações que se seguem visam, na sua quase ingénua singeleza, contribuir para este objectivo. Tomo como referência a parte do nosso território cujos valores naturais e culturais melhor conheço. Primeiro, pelas raízes familiares, por ter nascido em Ourém. Mais tarde pela experiência que a vida académica me proporcionou quando, repetidamente, usei estas paragens nas visitas e aulas de ecologia da paisagem, como um vastíssimo laboratório. Imagine-se que vamos em voo rasante de Lisboa a Almourol. Há o Mar da Palha, sapais e salinas as margens verdes dos salgueirais, elásticos, indiferentes à violências das cheias que os fustigavam antes das barragens. Há areais e paúis pre-

ciosos como o Boquilobo e pequenas alvercas, relíquias de antigos meandros do rio. Almourol ergue-se das águas no pequeno afloramento granítico e é forçoso subir sobre o pinhal sobrevoar a albufeira do Castelo de Bode e rumar a Tomar banhado pelo Nabão na protecção do Convento de Cristo. Para Oeste, bem perto, está a ressurgência da frescura inesperada das águas do Agroal. Ourém com seu ar de fortaleza medieval é um local ideal para observar a extensão da paisagem de colinas do maciço estremenho que pela descontinuidade do “arrife” acompanha na sua encosta nascente a vasta depressão do Tejo e das lezírias. A Paisagem calcária é complexa na sua diversidade de depressões e afundamentos de dolinas e poljes, a fratura estratigráfica que separa Aire dos Candeeiros, surgem encostas de fortíssimos declives como em Minde e Alvados e que terminam na modelação erosiva da Fórnea, que abre a vista para os longes da costa atlântica desde a Boa-Viagem, Nazaré e a Peniche. Para sul segue-se a elegante série das alturas dos Candeeiros, que no seu término se aproximam de Montejunto e, daqui, às alturas do maciço eruptivo de Sintra.

Trata-se de um espaço vasto e muito díspar na sua morfologia, no constante contraste das paisagens e nos recursos naturais que encerra, onde é possível, em aprazíveis etapas de poucas dezenas de quilómetros desfrutar de enorme riqueza no contraste das formas geológicas e geográficas e das marcas de ocupação humana. São atractivas e valiosas as marcas culturais das fortificações, monumentos e igrejas, como Santarém, Tomar, Ourém, Fátima, Leiria, Batalha e Alcobaça e Porto de Mós. Mas o “recado” que me compete aqui deixar é que se conheçam melhor e se dêem a conhecer as valências menos exploradas da Biodiversidade. Pela via do Turismo da Natureza, é de esperar que a riqueza de recursos da Fauna e da Flora associados a paisagens e reforçar a motivação para, repetidamente, explorar sítios tão apelativos como as lezírias, a diversidade geomorfológica do maciço calcário estremenho e o Oeste das matas e pomares até à costa atlântica. [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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O início das comemorações dos quarenta anos da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género foi feito de e por mulheres para cidadãos iguais em direitos e em deveres

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Teatro da Trindade Inatel recebeu no dia 7 de março a cerimónia, “40 anos de Conquistas” que marca o início das comemorações dos 40 anos da CIG, Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género sobe o mote “Até à Igualdade”. Uma iniciativa conjunta com os Gabinetes do ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, e da Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Catarina Marcelino. As portas abriram às 21h00 e foram Maria Elisa Rodrigues e Rita Ferro Rodrigues, duas feministas, que conduziram uma noite onde mulheres de todas as áreas deram o seu testemunho, falaram das adversidades, de uma luta inacabada e da necessidade urgente em exigir a igualdade de géneros. Desde a política à vida militar, passando pelas artes, pelas diferentes etnias sociais, foram muitas as que pisaram o palco, que se fizeram ouvir, como são exemplo Ana Bola, Isabel Abreu, Maria do Céu Guerra, Maria João Luís, e muitas outras, que foram acompanhadas por momentos musicais interpretados por Aldina Duarte, ARS Nova, Baton, Ceifeiras de Pias, Celina da Piedade, Noel Gouveia, Mimicat, Mísia, Rita & Revolver e Rita Redshoes. Na mesma noite foram homenageadas duas mulheres que contribuíram para a discussão de uma sociedade mais justa, que não queimaram sutiãs mas que fizeram com se incendiasse o tema. Maria de Lourdes Pintassilgo e Maria Isabel Barreno. Maria de Lourdes Pintassilgo que, para

40 Anos a lutar pela igualdade além de ter sido a primeira mulher a exercer um cargo ministerial, primeira a chefiar um Governo e primeira a concorrer à Presidência, esteve na origem da atual CIG quando em 1975 alterou a Comissão para a Política Social relativa à Mulher para a Comissão da Condição Feminina. Ela, que foi uma das muitas mulheres que teve que conquistar um lugar que não era permitido às mulheres. Uma conquista que nas palavras de Maria de Belém não devia existir. “O que é errado é que (as mulheres) tenham que o conquistar, porque isto (igualdade de género) é uma coisa natural.” Para Maria Isabel Barreno, uma das Três Marias, a conquista de direitos também não foi “natural”, mas sentou-se no banco dos réus sem recuar nas letras que escreveu sobre as mulheres. Foi em 1973, que a escritora, ao lado de Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa entrou no Tribunal da Boa-Hora para a primeira audiência do julgamento acusadas pelo Estado português de terem escrito um livro pornográfico e atentatório da moral pública e bons costumes, Novas Cartas Portuguesas, um julgamento que ficou classificado, a nível internacional, como a primeira causa feminista internacional. Para Ana Bola, uma das que pisou o palco, as comemorações e homenagens fazem sentido, e são obrigatórias. “É obrigatório porque é uma luta que temos todas que levar para a frente e se a minha visibilidade servir para motivar alguém, vou sempre fazê-lo”, e acrescenta que “muito se fez ao longos destes 40 anos

(…) mas nunca é demais relembrar que as mulheres continuam a ser tratadas de forma diferente em relação aos homens”. A secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Catarina Marcelino, mostrou-se mais otimista ao afirmar que “hoje começa-se a perceber melhor o significado do feminismo”, e que o é que preciso ser feito é uma estratégia de educação para a cidadania nas escolas, fortes e eficazes, porque só pela educação é que conseguimos diminuir a violência doméstica e de género em Portugal”. Uma opinião partilhada pelo ministro-adjunto Eduardo Cabrita, que alerta as gerações mais novas, ao afirmar que são eles que “têm que garantir a continuidade, a garantia da consolidação – porque há riscos de retrocesso – e a afirmação destas conquistas, e que elas se tornem algo verdadeiramente irreversível”. Conquistas no mercado de trabalho, o acesso à educação, onde passámos de elevados níveis de iliteracia para uma representação feminina de 60% no universo dos estudantes universitários, direitos sociais, como a despenalização da interrupção voluntária da gravidez e o acesso à tomada de decisão política a partir da lei da paridade. Sobre para quando uma mulher como chefe de governo, novamente, é a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem quem fala, “é só uma questão de tempo”. As mulheres devem continuar a se exigentes “ser exigentes connosco próprias. Cumpre exigir afirmação, atenção e caminhar em frente em igualdade de género, de oportunidades, de salários, de igualda-

de dentro e fora de casa”, reforçou Maria do Céu Guerra que não deixou de marcar presença e deixar o seu testemunho como mulher nas artes do espetáculo. O palco do Trindade não foi uma escolha aleatória, para Rita Ferro Rodrigues, uma das fundadoras do projeto Capazes, “o Teatro da Trindade Inatel é uma casa maravilhosa, dirigido também ele por uma grande mulher”, Inês de Medeiros, diretora do teatro e vice-presidente da Fundação Inatel que reforçou o facto de a Fundação estar sempre presente “nas grandes causas”. Sobre as mulheres, a diretora do Teatro dá mérito ao sexo feminino, “nós mulheres não podemos querer ser reconhecidas como se fossemos de um gueto, as heroínas de um gueto, não somos, somos mais de metade da população e portanto estar a reconhecer o mérito de grandes mulheres é estar a reconhecer o mérito de um povo inteiro”. E é de mérito que Rita Ferro Rodrigues partilha com as Capazes. Uma Associação Feminista que tem como objetivo promover a informação e a sensibilização da sociedade civil para a igualdade de género, defesa dos direitos das mulheres e empoderamento das mesmas, definindo-se assim como entidade promotora de uma ocupação igualitária das mulheres no espaço público, e foi com as Capazes que se associou às comemorações dos 40 anos CIG, mas é como Rita, como mulher, que reforça, “É importante que os homens percebam que esta também uma luta deles. Igualdade, mesmos direitos cívicos”.

Maria João Costa


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Entrevista

Arménio Carlos o “o 1. de maio consolidou o rumo” O secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN) recorda o período que trouxe a liberdade e a democracia a Portugal. Na altura era um jovem a viver um momento decisivo, “ou ficava em Portugal, era recrutado e ia para a Guerra Colonial, como muitos amigos, ou saía do país para fugir à guerra”. O rumo mudou com a Revolução dos Cravos – mas, hoje, “a democracia está doente quando a liberdade é questionada”

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inha 19 anos quando ouviu cantar à boca cheia “o povo é quem mais ordena”. Meia dúzia de dias depois tivemos a celebração do 1.º de Maio, no antigo Estádio da FNAT. Que memórias guarda desse dia? Entrei para a Carris em 28 de janeiro de 1974 e logo em fevereiro participei num abaixo-assinado para reclamar aumentos de salários. No início de março estava a ser chamado para levar uma reprimenda do engenheiro, que procurava indagar quem era o responsável do abaixo-assinado. Perante o silêncio e a grande solidariedade que se instalou nos trabalhadores oficinais de Cabo Ruivo da Carris, nada foi dito. Entretanto, aconteceu o 25 de Abril e passámos de uma noite escura, sem perspetivas de futuro, para um dia de sol radioso. Portanto, o 1.º de Maio tem um significado especial para nós. Foi o primeiro em liberdade, e um momento marcante para o processo revolucionário. Se é certo que no dia 25 de Abril tinham saído à rua muitas dezenas de milhares de pessoas – e a sua participação foi determinante para encaminhar o processo que os militares desenvolveram contra o regime fascista –, o 1.º de Maio consolidou e marcou o rumo. Desde logo, na área do trabalho... As grandes reivindicações, apresentadas naquele 1.º de Maio, são as que têm a ver, por exemplo, com a liberdade sindical, a exigência de ratificação pelo Estado Português da Convenção n.º 87 da Organização Internacional do Trabalho, o direito de greve, o salário mínimo nacional... Duas semanas depois estava a ser implementado, (três contos e trezentos, na altura), que abrangeu mais de 50% dos trabalhadores no ativo.

A exigência de libertação dos presos políticos, a reintegração dos trabalhadores despedidos ilegalmente nas empresas… Um conjunto de reivindicações que acabaram por ser determinantes e são hoje um suporte daquilo que muitas vezes afirmamos – e corresponde à verdade – os direitos conquistados com Abril. Consegue reproduzir o caminho que o levou ao estádio, na avenida Rio de Janeiro? As expressões das pessoas, as palavras de ordem…? Era uma alegria esfuziante! Era o sentimento de quem finalmente era livre. Era como um passarinho aprisionado na gaiola e sentia a liberdade de poder voar, rir, andar, conviver e dizer sem qualquer tipo de condicionamentos o que pensava. Era um sentimento muito forte nas ruas, o que levou a que a manifestação saísse da Alameda D. Afonso Henriques e que cerca de um milhão de pessoas se deslocasse em grande apoteose para o estádio que foi pequenino, muito pequenino. Portugal estava a dar os primeiros passos na democracia. Quando saiu dali, como é que o jovem Arménio Carlos pensava dar o seu contributo ao país? Sentia-me mais revigorado e, acima de tudo, com muita esperança. Estávamos a sair de uma sociedade fascista, que retirava a esperança aos jovens. Naquela altura estava a viver um momento crucial da minha vida, ou ficava em Portugal, era recrutado para a Guerra Colonial, como muitos amigos, ou saía do país para fugir à guerra. Como nunca gostei de tropa nem de ser mandado, encontrava-me numa situação muito difícil, porque também estava a pensar casar. Até desse ponto de vista, o 25 de Abril foi ótimo. O 1.º de Maio deu-me a perspetiva de

que era possível melhorar as condições de vida e de trabalho, alterar as regras de funcionamento das relações laborais dentro das empresas, ter uma intervenção sindical adequada, no âmbito da responsabilidade de cumprir os deveres perante a entidade patronal, mas também de exigir mais direitos. É membro do PCP desde 1977. Volvidos 40 anos acredita da mesma maneira na dita “sociedade nova liberta da exploração do homem pelo homem”? Continuo a acreditar, e até de uma forma mais convicta. Porque aquilo que vivemos há uns anos a esta parte é uma política que renega um conjunto de valores, causas e princípios que são fundamentais para a valorização do trabalho e dos trabalhadores, e particularmente para a dignificação do ser humano. Não será fácil atingir a tal sociedade que preconizamos – mas entre pensar que é possível, ou desistir face àquilo que se considera impossível, nós optamos pela primeira. Continuamos a acreditar. Os últimos acontecimentos em Portugal confirmam que valeu a pena resistir. Valeu a pena demonstrar, como dizia Mandela, tudo parece impossível até ser feito. Hoje acabamos por ter uma solução política em Portugal que poucos pensariam que pudesse ocorrer. A sua consolidação vai depender – e muito – daquilo que o governo quiser fazer. Se pensar que as opções devem ser assumidas com aqueles que estiveram na primeira linha da luta para derrubar o PSD e CDS, e também para afastar a troika e a política de direita, estamos no bom caminho. Se, entretanto, ceder aos interesses instalados e aos privilégios que alguns não querem perder, então será uma frustração que todos pagaremos

muito caro. Esse é o grande desafio que temos hoje, participar no presente para que as coisas se consolidem e, sobretudo, se desenvolvam na perspetiva que defendemos. Esta é a responsabilidade do movimento sindical. Considera que existe um sentimento generalizado na sociedade portuguesa de que os sindicatos não têm força? A CGTP tem sofrido com isso? Há a ideia de que os sindicatos já passaram de moda. Alguém dizia que no ano 2000 deixariam de existir – e continuam cá. Os sindicatos da CGTP tiveram um papel importante para aquilo que se passou particularmente na altura da troika. Passa-se a ideia de que os sindicatos não respondem e estão desajustados da sociedade – nada mais enganador. Porque com uma sociedade cada vez mais desumanizada, do ponto de vista das relações laborais, a precarização, que devia ser de exceção, começa a tornar-se a regra. Hoje há uma significativa redução dos rendimentos e uma desvalorização das profissões e qualificações. Mais do que nunca, se os trabalhadores não tiverem as suas organizações, dificilmente conseguirão resistir a esta pressão de individualização das relações de trabalho. Se até aqui era importante ser sindicalizado, agora ainda é muito mais. Começa a haver da parte dos jovens trabalhadores um sentimento de abertura e de participação no sindicato, como algo que configura qualquer coisa de pertença. Nós queremos que os jovens adiram aos sindicatos. Não para lhes dizermos o que têm de fazer, mas para que contribuam com a sua intervenção para dinamizar o funcionamento da discussão, de compromisso e de ação. E que sejam os protagonistas da construção


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das propostas, reivindicações e estratégia sindical. Apesar do decréscimo do número de sindicalizados, a CGTP tem notado que há mais jovens a entrar para o movimento sindical? Temos notado uma entrada significativa de jovens. Nos últimos dois anos entraram mais de quatro mil até aos 30 anos para os sindicatos da CGTP. Tivemos, ao longo do período do governo do PS de Sócrates, e do PSD e CDS, uma destruição significativa do nosso tecido produtivo. Calculamos na ordem dos 540 mil postos de trabalho que desapareceram no espaço de cinco anos. Ora, isso reflete-se. Muitos desses postos de trabalho eram ocupados por trabalhadores com vínculos efetivos. Grande parte deles não regressa ao mercado de trabalho. Outros tiveram que emigrar. Uma boa parte do emprego que está a ser criada é precária. Entre outubro de 2013 e janeiro de 2017, 83% dos empregos criados são precários. Há um nível de exigência muito maior da parte dos sindicatos em procurar trazer trabalhadores para o seu seio, porque grande parte deles está com vínculos precários. O medo existe mesmo nas empresas e o assédio moral não é um slogan. Continuamos a ter empresários que pensam que as suas empresas são bunkers, onde a liberdade e a democracia ficam à porta, porque ali dentro só mandam eles. Isso quer dizer que a democracia está doente quando a liberdade é questionada. Está desiludido com o rumo do país, um pouco diferente da canção do Sérgio Godinho, “só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação”? Já passaram muitos anos e o refrão do

Godinho continua certíssimo. Não estou desiludido depois de todo o caminho que fizemos, depois de estarmos confrontados com o governo do PSD/ CDS e a troika, e hoje encontrarmo-nos numa situação diferente. A CGTP teve o seu papel, uma linha de intervenção adequada à realidade que se verificou há uns anos. Neste momento tem uma estratégia que, não sendo idêntica à anterior, é sobretudo mais desafiante, porque antes não tínhamos interlocutor. O governo recusava-se a negociar, a discutir, a responder às propostas da CGTP. E agora, queremos que este governo não só dialogue, mas, acima de tudo, dê eficácia a esse diálogo. Há pouco falava que a democracia está doente. Referia-se a quê? Nalgumas vertentes do funcionamento da vida da sociedade portuguesa está mesmo doente. Uma delas é a área laboral e social. Há uma doença que precisa de ser tratada. Quando falamos do trabalho, não falamos só da venda da força do trabalho – falamos daquilo que o trabalho significa para o desenvolvimento da sociedade em todos os domínios, da sua importância para as funções sociais do Estado. Degradação da qualidade do emprego e mais precariedade correspondem a baixos salários. E menos contribuições para a Segurança Social. Logo, menos proteção social. Logo, reformas mais baixas. Se queremos que o Estado tenha um papel preponderante para o desenvolvimento de políticas económicas e sociais que assegurem a coesão económica, social e territorial do país, então temos de valorizar o trabalho, dar-lhe qualidade, acréscimo de valor, reconhecimento. Esse é o grande desafio que se coloca a este

“Primeiro de Maio de 1974… Era uma alegria esfuziante! Era o sentimento de quem finalmente era livre. Era como um passarinho aprisionado na gaiola e sentia a liberdade de poder voar, rir, andar, conviver e dizer sem qualquer tipo de condicionamentos o que pensava”

governo: reconhecimento do papel dos trabalhadores para o desenvolvimento da sociedade. As pessoas continuam a sentir que a página da austeridade não foi virada. E os sindicatos têm estado menos barulhentos nos últimos tempos… Com o anterior governo não havia espaço para discussão, só havia espaço para contestar. Não havia nenhuma lei que saísse e correspondesse minimamente ao que pretendíamos. Era sempre a cortar, tínhamos de resistir e mobilizar forças. O que tivemos no último ano foi uma resposta a um conjunto de reivindicações: reposição de salários, de direitos… Tem ouvido muitas pessoas dizer que ainda não sentem, na prática, melhorias nos seus rendimentos? Por isso mesmo é que nos últimos tempos têm começado a surgir lutas no plano do setor privado e na administração pública a chamar a atenção para problemas que têm de se resolver. Olhamos para os trabalhadores e ainda recentemente fizemos um balanço: em termos do quadro do pessoal, dois em cada três trabalhadores têm um salário bruto que, no máximo, atinge os 800 euros, o que quer dizer que o líquido vai parar aos 680 euros, no máximo. Detetámos quase um milhão e 800 mil trabalhadores. Portanto, é muita gente que precisa de ser bem tratada, valorizada, sobretudo neste momento da vida nacional. Precisamos de promover políticas que vão ao encontro da necessidade de motivar as pessoas. Virando agora a página para outro assunto, ainda tem tempo livre? Raramente. Só tenho um tempo livre para mim e que tem de ser assegurado todas as semanas: encontrar-me com os meus filhos, pais e netos. Pode ser ao almoço ou ao jantar, mas tenho de me encontrar com eles. Nem tem tempo de ir ao Belenenses? Não. [Risos] Esta época acho que só fui ver um jogo. Creio que foi com o Nacional. Ser do Belenenses não é uma forma de estar bem com todos? [Risos] Eu sou mesmo do Belenenses, não é para me dar bem com todos. Sou sócio desde os 12 anos. Como avalia o funcionamento e a existência da Fundação Inatel, antiga FNAT, uma das raras instituições da ditadura que se manteve, e também graças aos sindicatos que tiveram um papel importante? A Fundação Inatel tem um papel importante do ponto de vista dos tempos livres, da cultura, mas pode e deve ir mais longe. Sabemos que a vida está difícil para todos. Naturalmente, a Inatel também tem de ter um funcionamento do ponto de vista administrativo, económico e financeiro, mas sabemos que muitos trabalhadores, com rendimentos mais baixos, não têm capacidade para aceder aos campos de férias. E aí, temos de ver que medidas a adotar para que esses trabalhadores também possam aceder ao seu espaço, não só porque leva a que esses associados sintam a Inatel como pertença, mas também para que possam usufruir das instalações e serviços de uma estrutura que tem como objetivo os tempos livres e outros momentos culturais. O turismo sénior, de alguma maneira, também permitia isso, mas também houve cortes… Lá está, a população grisalha também foi das mais afetadas pelos cortes. Agora é que se começa a verificar a reposição de rendimentos. Sílvia Júlio


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Entrevista

Carlos Silva “Temos de Ganhar consciência Cívica” O secretário-geral da União Geral de Trabalhadores (UGT) partilha com o jornal Tempo Livre as memórias do adolescente que viveu o 25 de Abril, sentindo “festa no ar”. Não sabia muito bem o que se estava a passar, mas intuía “um tempo novo”. Seis dias depois, quando ouviu Mário Soares e Álvaro Cunhal, no 1.º de Maio, admirou-se por “falarem tão bem sem olharem para o papel”. Despertou ali a vontade de, um dia, vir a falar também assim, sem precisar de folhas à frente. E abriu-se um novo capítulo na sua história. E na História do país

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inha 12 anos quando ouviu que “o povo é quem mais ordena”, no dia 25 de Abril de 1974. Que memórias tem desse período? Tinha mudado há dois meses para Sacavém. Nasci em Alfama, e andava no Liceu Pedro Nunes. No dia da revolução saí de casa dos meus pais e apanhei a camioneta normalmente para Lisboa. Quando cheguei à escola não havia alunos. Fui ter com o meu professor de físico-químicas, o célebre Rómulo de Carvalho [António Gedeão], e a sua adjunta, a professora Alcina do Aido. Perguntaram-me: “Os seus pais não ouviram na rádio? Há aí uma revolução!” E mandaram os meninos para casa. Telefonaram ao meu pai que tinha vindo para o cinema Tivoli, onde trabalhava. Fui ter com ele à estação de correios, no largo do Rato, para irmos para casa. Depois acompanhámos pela televisão, começámos a apanhar os comunicados da Junta de Salvação Nacional. Era um miúdo. Havia tropa na rua, os tanques do Salgueira Maia na avenida de Berlim, frente aos bombeiros da Encarnação. Havia aquela movimentação toda, jovens e menos jovens na autoestrada do Norte – eram ali as portagens, anos mais tarde passaram para Alverca – na revista às viaturas para saber-se quem eram os infiltrados, aqueles que eram de extrema-direita, os reacionários… Tudo isto foi um tempo novo. Acima de tudo, o que mais me impressionou foi a alegria do meu pai quando percebeu que, um dia mais tarde, eu não tinha de ir para África, para

o Ultramar vestir a farda. O irmão dele foi o primeiro soldado caído em Angola, uns meses antes de eu nascer, em 1961. E o seu nome está no Monumento aos Combatentes do Ultramar [em Belém]. António da Cruz Silva é o primeiro nome gravado na pedra. E no liceu, como foi vivido esse tempo novo? Eu andava no primeiro ano, naquela altura Curso Geral dos Liceus, o que é hoje o sétimo ano. Os mais velhos entravam nas Reuniões Gerais de Alunos (RGA). Logo um mês ou dois depois do 25 de Abril passou o filme O Couraçado de Potemkin, numa das salas do Liceu Pedro Nunes. Percebi qua havia qualquer coisa nova, pelo grande envolvimento dos cidadãos, de uma forma geral, dos mais jovens no liceu e dos mais velhos na rua. Todos os dias havia notícias, muitos militares, a Junta de Salvação Nacional, os governos, a saída dos governos… Fui acompanhando com naturalidade. E na escola falávamos dessas questões. Recorda-se de algum episódio em particular? Quando o Comando Operacional do Continente (Copcon), com seis chaimites, se posicionou à porta do Pedro Nunes, mandado pelo Otelo Saraiva de Carvalho, para invadir o liceu... A minha professora Judite Redinha disse aos alunos na sala: “Meninos, temos a tropa à porta! Quem quiser ir embora, vai; quem não quiser ir, fica.” Não ficou ninguém. Eu saltei pela janela. Atravessei o Cemitérios dos Ingleses e fui para a

rua Saraiva de Carvalho, para casa de uns primos. Tudo o resto tinha muito a ver com as intervenções dos alunos nas RGA, e eu ouvia muito que era preciso os alunos organizarem-se, defenderem-se. Estávamos num tempo novo. Havia liberdade, tinham de se construir novas regras, tínhamos de abandonar um conjunto de dogmas que existia na sociedade portuguesa, nomeadamente na escola. Havia a trilogia: Deus, Pátria, Família. Nas escolas havia o crucifixo. Eu até sou católico, mas percebi que havia grandes alterações que estavam para vir... A suspensão da guerra em África, o regresso dos retornados, assisti a situações com muita preocupação. Tinha família em Angola, o meu tio faleceu lá. Havia todas estas divisões que não se falava dantes. Mesmo quem não discutia política começou a discutir, nomeadamente em minha casa. Entrávamos todos na discussão. Foram momentos extraordinários! Seis dias depois foi ao antigo Estádio da FNAT no 1.º de Maio celebrado já em liberdade? Fiquei por cima da tribuna onde estava o Mário Soares e Álvaro Cunhal. Fui com os meus amigos do Pedro Nunes e os de Sacavém. Havia a cintura industrial em Sacavém: a Fábrica de Loiça, a siderurgia, as grandes fábricas. Havia aquele operariado, onde o Partido Comunista tinha grande influência; já antes do 25 de Abril se mobilizava. Mesmo no associativismo, o Sport Grupo Sacavenense, onde eu participava, e

o Clube Recreativo de Sacavém eram ninhos de discussão política. As pessoas começavam a mudar o discurso, porque havia condições para discutir a democracia, a liberdade, o poder, os primeiros-ministros que se sucediam uns aos outros… Fui acompanhando as coisas como qualquer jovem da minha idade. Que emoções viveu o adolescente Carlos Silva nesse 1.º de Maio? Ena pá, nunca tinha visto tanta gente junta! A única vez que vi uma multidão foi na inauguração da ponte sobre o Tejo, hoje 25 de Abril, teria talvez cinco ou seis anos, e os meus pais e avós levaram-me ao Terreiro do Paço. Quando morei em Alfama, as nossas multidões eram no Santo António. Vendíamos cravos aos estrangeiros e pedíamos umas moedas. [risos] No Estádio 1.º de Maio só via gente por todo o lado. Mandaram os miúdos mais leves para a pala. E lá fui eu e os meus amigos. Aquilo foi uma coisa empolgante, com militares, marinheiros, tudo gritava: “Viva Portugal!”, “Viva o MFA!”, “Liberdade, Liberdade, Liberdade!” A palavra “Liberdade” ecoava com grande alegria. Apesar dos 12 anos, o que mais reteve naquele Dia do Trabalhador? Foi um momento de junção do povo. Na altura era uma novidade. Os miúdos no meio daquela gente toda, aqueles discursos inflamados... Eu ouvia e percebia uma coisa que me lançava para a vida: a capacidade de intervenção. Foi uma coisa que me ficou para sempre. A capacidade de eles falarem sem olharem


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para o papel. Já diziam os meus amigos e família que eu era um miúdo que falava bem. Dois ou três anos depois, em 1976 ou 1977, ainda era menor, fui eleito para a direção de uma associação que ainda hoje existe na minha rua, em Sacavém, o Grupo Familiar Olival do Covo. Nunca mais me esqueci daquelas intervenções, e depois comecei a participar nas RGA do Liceu Pedro Nunes. Gostava de participar. Houve ali um clique: falar sem olhar para o papel. Eu ouvia em casa: “Fala sem olhar para o papel!”. O que faziam os seus pais? O meu pai era legendador de filmes numa empresa chamada Grafilme, por cima do Tivoli, a minha mãe trabalhava na Lusomundo, fazia a revisão de todas as fitas que vinham dos Estados Unidos para serem exibidas em Portugal. No sentido metafórico, o filme que se seguiu ao 25 de Abril era aquele que queria ver? Percebemos mais tarde que a liberdade e a democracia mudaram radicalmente a face do nosso país. O país evoluiu mais em 40 anos do que eventualmente em 500 ou 600. Sempre nos virámos muito para África, para o Brasil, mas continuávamos a viver para o Fado, Futebol e Fátima. O português tinha muita necessidade de emigração, mas também havia a crença de que o país, com a entrada para Europa, um dia havia de evoluir e atingir os padrões europeus de desenvolvimento. Acho que esse filme, na verdadeira aceção da palavra, chegou

“No Estádio 1.o de Maio só via gente por todo o lado. Mandaram os miúdos mais leves para a pala. E lá fui eu e os meus amigos” “Fiquei por cima da tribuna onde estava o Mário Soares e Álvaro Cunhal”

em alguns momentos, mas noutras matérias ficou para trás. O que falta para chegarmos às carruagens da frente? Gostaria, por exemplo, que os trabalhadores portugueses tivessem salários à média europeia. O discurso em Portugal está focado no Salário Mínimo Nacional (SMN)... Eu fico satisfeito por perceber que, muito por influência da UGT, anualizámos – nos últimos anos – e vamos continuar a anualizar aquilo que antigamente era discutido a cinco ou seis anos. Atingir os 600 euros em 2019 é bom? É bom, porque também empurra os restantes salários. Empurra ou haverá cada vez mais pessoas a ganhar o SMN? Empurra os restantes salários, e esse é o grande desafio que temos na negociação coletiva. É também o que falta fazer. Recuámos durante a troika... Já tivemos uma negociação coletiva pujante. O sindicalismo tem vindo a diminuir. Quantas pessoas estão afetas à UGT? Temos cerca de 400 mil. Há cinco anos era meio milhão. Nós já tivemos em Portugal cerca de dois milhões de sindicalizados. Que leitura faz desse decréscimo? A excessiva individualização das relações de trabalho, o contrato individual de trabalho. Os mais jovens a não quererem ficar vinculados a sindicatos. Também se criou uma imagem na sociedade portuguesa: o melhor que tem cada um são os seus méritos, conhecimentos, qualificações e aptidões. Portanto, vamos desenvolvê-los num ambiente individualista. Tudo estimula o individualismo que se sobrepõe ao coletivo. As gerações mais novas são as que menos se sindicalizam. Só na casa dos 30 anos é que a maior parte dos trabalhadores dá passos no sentido de aderir aos sindicatos. Criou-se uma ideia antissindical. O liberalismo tem esse perigo, dizer que quem for sindicalizado perde regalias. Há portugueses que dizem que não vale a pena ser sindicalizado, porque pouco muda nas suas vidas. As pessoas continuam a precisar de trabalhar para comer e honrar os compromissos assumidos, secundarizando a defesa dos seus direitos... É uma forma de pensar evolutiva do momento em que vivemos, no contexto atual a nível mundial. Temos ultraliberalismo e muitos liberais em vários governos da Europa. E, sobretudo, a troika que fustigou muito a vida do nosso país. Por que razão é importante ser-se sindicalizado? Se as pessoas estiverem unidas e sindicalizadas, o sindicato que as representa vai reivindicar a aplicação de uma tabela salarial em função da carreira profissional e da categoria que desempenham. Fazemos um esforço para dizer a todos que se forem sindicalizados podem ter um salário muito melhor… É importante que os trabalhadores percebam que, para melhorarmos as condições de trabalho, é bom que deem força aos sindicatos. São eles que denunciam. É licenciado em Estudos Europeus, com frequência da pós-graduação na mesma área. O que tem de mudar para que os cidadãos não se sintam arredados da democracia nem da justiça social? O caminho é... Os políticos quando se candidatam a cargos de responsabilidade terem a consciência de que as pessoas ao

votarem neles querem que cumpram a palavra. É o que não tem acontecido ao longo de muitos anos, de forma geral. Isso afasta o cidadão da política. Como cultivar a cultura de verdade? Acima de tudo temos de ganhar consciência cívica, de maior participação na vida do país. Temos de perceber que o exercício do direito de voto é algo que nos foi dado pela democracia. Ao longo das últimas décadas as pessoas foram ficando desiludidas. O 25 de Abril mudou realmente Portugal de uma forma extraordinária. Há muitos que pensavam que isto ia ser um amanhã cantado. As coisas não são assim. Temos de trabalhar para isso, no presente. Então, como exigir mais verdade? Tem a ver com a cultura, com a educação das pessoas. Tenho sempre dito que temos de falar a verdade, para que as pessoas acreditem em nós. O meu pai era um homem simples. Se há algum legado que me deixou foi o de ser um homem que conseguiu transmitir aos filhos uma noção do que é estar bem com a vida e com Deus. Ele dizia-nos, muitas vezes: “A educação vem do berço.” Eu sou daquelas pessoas que acreditam que a verdadeira alma portuguesa reside na província – não quero atacar ninguém das cidades, eu nasci em Lisboa. A minha mãe é da Lousã, o meu pai era de Celorico da Beira. Nos provincianos, homens e mulheres, o aldeão de Trás-os-Montes, os rudes do Alentejo que trabalham de sol a sol, as pessoas das aldeias da minha serra da Lousã, que ainda continuam a pastorear o gado, vê-se muito aquele brilho nos olhos de quem prescinde do materialismo, das questões mundanas para ser arreigadamente português. E quando a gente vê ao sábado e ao domingo uma grande parte das famílias na minha terra juntarem-se em casa dos pais, isso é das melhores coisas que podemos herdar da verdadeira portugalidade. Portugal construiu-se através das suas famílias. Foi a família sempre um padrão fundamental do nosso crescimento. É membro do conselho geral da Fundação Inatel. Que contributo dá esta instituição ao país? A Inatel ainda continua a ter uma grande representatividade na sociedade portuguesa com centenas de milhares de associados. Modernizou-se e é uma entidade do nosso tempo. Continua a desempenhar um papel muito relevante na vida do país. Independentemente de pertencer ao conselho geral, também sou associado da Fundação Inatel há muitos anos. Como é que o líder da UGT goza o direito aos tempos livres? Estar com a família é um tempo livre. É o meu hobby. É talvez dos momentos mais felizes. Gosto muito de ter gente em casa. Gosto muito de cozinhar um bom cabrito, bacalhau à lagareiro, chanfana ou umas coisas mais comezinhas como trutas de escabeche – tudo se faz com boa vontade. Sou um bom marido, um bom pai, um bom filho, amigo dos meus amigos. À chegada reparei que cumprimentou os seus colaboradores com afabilidade, tanto na receção como no andar onde se encontra o seu gabinete. É sempre assim? Um líder que não saiba transmitir uma relação de respeito e amizade pelos outros nunca será um verdadeiro líder. Eu cultivo a amizade, porque facilita muito a gestão de uma grande organização como a UGT. Um líder não se impõe, aceita-se. Sempre preservei esses valores toda a vida. Sílvia Júlio


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Rugby

Coragem, rapidez, suor e sem medo O Clube Rugby de São Miguel tem com a Fundação Inatel uma relação de sete anos. É no Parque de Jogos 1.º de Maio que treina e ensina os futuros campeões, e é no mesmo relvado que recebe, pelo sexto ano consecutivo, a BullDog Cup. A união é “fortíssima”, e nem o novo complexo do clube nos separa

H

á contacto físico. Há gritos de guerra e há uma “terceira parte” em todos os jogos que não é para todos, mas o rugby é mesmo para todos. É um dos desportos mais inclusivos. São 15 as posições que precisam de ser ocupadas, e nelas cabem os mais baixos, os mais altos, os magros, gordos, lentos e rápidos, ninguém fica de fora. No Clube de Rugby de São Miguel, que já conta com 11 equipas e mais de 250 atletas, ainda há espaço para mais um. Para mais 100. A completar 47 anos no dia 31 de março, o Clube de Rugby de São Miguel é hoje considerada uma das melhores escolas de rugby português nos escalões de formação. Com idades entre 4 e os 40 anos, é no Parque de Jogos 1.º de Maio da Fundação Inatel que aprendem pela primeira vez a teoria dos “5 P” e é no mesmo campo que percebem que, mesmo com “idade para ter juízo”, não dá para deixar o rugby. Miguel Teixeira, diretor desportivo há sete anos, não esconde a felicidade de fazer parte do clube e não hesita em dizer que abdicou de muito para estar à frente da “família” que viu nascer. Uma equipa que apesar dos quase 47 anos de história teve paragens pelo meio, mas “quando voltou, voltou com força.

Neste momento somos a quarta melhor lão Sub18 e treinador adjunto da equipa equipa a nível nacional dos escalões de masculina de seniores. Está há três anos Sub8 e Sub14, e a quinta melhor em to- no clube, acredita que é na diferença dos dos os escalões. Nestes jogadores que está o méri7 anos há uma energia to e mostrou-se muito engigante que está a contatusiasmado com a 6.ª ediA completar 47 minar aqui Alvalade com ção da BullDog Cup, que anos no dia 31 de o enorme apoio da Funacontece nos dias 1 e 2 de dação Inatel e de todas as abril, no Parque de Jogos março, o Clube famílias Miguelistas que 1.º de Maio e que, pela pride Rugby de São fazem parte desta matilha meira vez, vai estar aberta BullDog”. dos escalões sub8 até aos Miguel é hoje Com a Fundação a “liconsiderada uma veteranos. gação é fortíssima”. O priSão esperadas 8 mil pesmeiro treino no Parque de soas, 1200 atletas, numa das melhores Jogos 1.º de Maio foi no que conta com a jorescolas de rugby festa dia 21 de novembro de nalista e escritora Andreia 2009, e apesar de em seVale como madrinha e português nos tembro a equipa de rugby com o atleta internacional, escalões de de São Miguel estrear um Frederico Oliveira, como novo complexo desportipadrinho. formação vo, a ligação com a Inatel Pedro Murinello é treivai continuar, aliás, como nador da equipa de senioreforça Miguel, “as escolinhas de rugby res masculinos há três anos mas já conta mais pequenas são Escola de rugby São com mais de 20 de anos de carreira. Miguel Fundação Inatel. E temos imenso Começou na equipa de Cascais, pasorgulho”. sou pela Costa da Caparica, onde levou a No campeonato nacional estão as equi- equipa para 1.ª divisão, esteve nas equipas pas de Sub14, Sub16, Sub18 e seniores de rugby do Belenenses e do Benfica. masculinos e femininos. Sobre a equipa atual, não poupa elogios: António Jardim é treinador do esca- “Uma equipa que tem projetos ambicio-

sos como o que vai acontecer com o novo campo. E é uma equipa desafiante por serem seniores, é diferente a forma como se lida com eles e com a formação.” Pedro precisa de lidar com 50 homens, mas confessa, entre gargalhadas, que é mais fácil treinar 50 homens do que 50 mulheres. A média de assiduidade aos treinos é de 30 atletas, e estão todos motivados, e é isso que faz com que se sinta afortunado por treinar o São Miguel. Apesar dos resultados e da equipa não estar a conseguir alcançar os objetivos propostos no início da época, Pedro tem definido como próxima etapa subir mais 2 a 3 lugares na classificação. Ser campeão está fora dos planos mas não é motivo para perder a garra e a bravura. Francisco Bandeira joga rugby desde os 4 anos, tem 26 e é o Pilar número 3. Pilar significa ser grande. Ser forte. E ser feliz a jogar rugby. “Não vamos ser campeões nacionais mas estamos no bom caminho. Temos sobretudo um bom projeto, com pessoas a chegar aos sénior e a criar bases para quem vem a seguir. Acredito que vamos chegar lá com muito trabalho.” Já teve a oportunidade de jogar na equipa do Belenenses mas está há 4 anos no São Miguel, um clube diferente porque “isto não é uma equipa, isto é uma família, é isso que tem de diferente.” Os futuros campeões são jogadores como o Tiago, que joga na equipa dos Sub18 e que vê no Francisco uma inspiração. Tem 16 anos, joga há 11 anos rugby e há 5 no Clube de São Miguel, e é pilar. O Tiago pede conselhos ao Francisco, que lhe diz sempre: “Não deixes de ser quem és, vai para todos os jogos com a ética que tens sempre.” Francisco acredita em Tiago, “vai ser um excelente jogador, vai ser melhor do que eu.” Tiago explica a escolha de jogar rugby e a surpresa dos pais quando pediu para começar o treinar. “Eu não gostava muito desporto e os meus pais ficaram surpreendidos. Eu era mais gordinho e mais pequenino e era por isso que vim parar aqui, porque todos podem jogar.” Mas acrescenta que no clube há preocupação com a escola: “Se tivermos más notas não nos deixam jogar”, confessou o futuro engenheiro. Já o Diogo Bruges, o mais velho do clube, o tio da equipa de seniores, não consegue dedicar-se apenas à profissão de bancário. O rugby é uma paixão desde pequeno e impossível de abdicar, mesmo com as dificuldades que vão surgindo. “Não é fácil conciliar com a vida pessoal quando tens treinos à segunda, quarta e quinta-feira e jogos ao sábado, mas tem que ser.” Diogo está há um ano no São Miguel, já foi campeão nacional em equipas como a de Cascais, CDUL Rugby, e Sporting, um dos principais rivais da equipa que representa hoje. Conta que quando desceu as escadas pela primeira vez para treinar no São Miguel teve medo de não ser bem recebido. Mas aconteceu o contrário. Isto é uma família.” Uma família que já conta com vários troféus: cinco campeonatos nacionais, um campeonato nacional de “sevens”, um campeonato nacional de “beach rugby”, duas taças de Portugal, cinco “beach rugby cup”, duas finais ibéricas e uma “sevens cup”. A formação vai continuar a ser a aposta do clube, e a ligação com a Fundação Inatel é para continuar e durar “fortíssima”. O próximo grande momento será a BullDog Cup, com casa na Inatel, e será um fim de semana onde o espírito de família, de união, de aprendizagem vão estar presentes. Serão dois dias “5 estrelas”.

Maria João Costa


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Madeira e Porto Santo

Pequenos paraísos azuis do céu

ta de cortar a respiração. Depois descemos em direção à costa norte, com destino a Ribeiro Frio, local conhecido como ponto de partida para alguns passeios nas levadas. Mais uma saída. Vamos à cidade de Machico, onde João Gonçalves Zarco desembarcou pela primeira vez na ilha. Após uma paragem panorâmica continuamos pela costa, em direção à Ponta de São Lourenço. De regresso ao interior, a próxima paragem é no local conhecido como Penha d’Águia no Porto da Cruz. Continuamos até Santana, vila caracterizada pelas pequenas casas triangulares cobertas de palha. Chegados ao último dia, logo pela manhã visitamos a Igreja de Nossa Senhora do Monte, subimos em direção à Eira do Serrado, com paragem no Pico dos Barcelos, para desfrutar da magnífica vista sobre a baía do Funchal.

Duas ilhas atlânticas. Ambas solares e deslumbrantes. A beleza das paisagens fascina os viajantes. E também poetas que ali nasceram. “Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,/ eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia” (Herberto Helder)

A

brisa é cálida. Passeamos pela zona antiga do Funchal. O Mercado dos Lavradores, construído em 1941, expõe legumes e frutos exóticos, orquídeas, estrelícias, antúrios e flores secas de todas as cores. Segue-se uma visita ao Jardim Botânico, para apreciar inúmeras plantas tropicais de todo o mundo. Daquele miradouro a vista sobre a cidade é deslumbrante. No segundo dia vamos pela costa sul, com uma paragem na vila piscatória de Câmara de Lobos. Continuamos em direção ao Cabo Girão, o promontório mais alto da Europa. Seguimos para a Ribeira Brava. Depois de uma breve paragem continuamos até à costa norte atraves-

sando a Encumeada. Passagem por São Vicente, uma das mais antigas povoações da ilha, conhecida pelas pitorescas ruas e igreja barroca. Seguimos para Seixal e chegamos a Porto Moniz para ver as piscinas naturais. O regresso será feito pelo Paul da Serra, o único planalto da ilha (cerca de 1.600 m de altitude), com tonalidades surpreendentes em todas as estações do ano. Segue-se outro passeio. A primeira paragem é na Camacha, uma bela e pequena vila situada a poucos quilómetros do Funchal, muito conhecida pela indústria de vime e pelos grupos tradicionais de folclore. Continuamos em direção ao terceiro pico mais alto da ilha, o Pico do Arieiro (1.818 m de altitude), que oferece uma vis-

Ilha dourada

Circuito na Madeira Partidas de Lisboa ou Porto: 19 a 24 de junho; 24 a 29 de julho; 7 a 12 de agosto; 4 a 9 de setembro.

Porto Santo Partida de Lisboa: 11 a 18 de junho; 18 a 25 de junho; 25 de junho a 2 julho; 2 a 9 de julho; e mais datas até outubro. Informações: Tel. 211155779 | turismo@inatel.pt | www.inatel.pt

O Inatel Porto Santo Hotel, entre a montanha e a praia, a cerca de 100 metros do mar, é um bom porto seguro para sete noites de sossego. O ambiente é acolhedor, confortável, tranquilo. Logo no primeiro dia descansamos o olhar no infinito, deixando o corpo descontrair nas areias douradas. Depois caminhamos ao longo de nove quilómetros de areal limpo, com uma brisa que renova os sentidos. Se a paisagem persiste na memória a gastronomia também não fica atrás, sobretudo para quem aprecia a boa mesa. Destacam-se, entre outros pratos, filete de espada com molho de maracujá, bife de atum com milho frito, espetada de carne regional, lapas grelhadas. No programa está prevista uma visita à ilha, com um guia local, para melhor apreciarmos este extraordinário pedaço de terra abundante em paisagens de contrastes naturais.


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Na mesa com

“E Leopoldo Garcia Calhau

ste prato remete-me para a terra do meu pai, Vila Alva e também para as sextas-feiras passadas em Beja na Tasca do Manel Pereira, mas aqui já noutra fase da vida. Este prato foi sendo preparado ao longo do tempo e houve um dia que descobri um fornecedor de cabeças de borrego perto do Café Garrett. Quase de imediato pusemos em prática este prato, que descrevo como o mais emocional de todos. Faz-me lembrar a família, e em particular o meu avô, os meus pais, os amigos e o ‘nosso’ Alentejo. Aqui a cabeça vinha aberta ao meio e era desossada à mesa por nós. No Café Garrett teria que vir de forma diferente, daí termos recorrido a outro prato para chegarmos à nossa cabeça, que mais não é que uma espécie de ensopado de (cabeça) de borrego.”

Ingredientes (para 4 pessoas) 2 cabeças partidas ao meio; marinada: vinho branco, azeite, alhos, colorau, salsa, coentros, sal e pimenta preta.

desossamos com cuidado para ficarmos com os miolos inteiros, os olhos inteiros, a restante carne deverá ser picada grosseiramente. Importante, reservar o que sobra da marinada depois de assar, com o que fica da carcaça fazemos um caldo de carne. Primeiro assamos as carcaças juntamente com alhos franceses e cebolas. Depois regamos com vinho branco para ficar com os sucos. Depois aproveitamos esses sucos e com os ossos fazemos o caldo. Deixamos ferver primeiro, e depois deixamos reduzir em lume brando algumas horas. No final coamos o caldo e reservamos.

Preparação Primeiro lavar bem as cabeças (“sangrar”). Fazemos uma marinada à base de vinho branco, azeite, alhos, colorau, salsa, coentros, sal e pimenta preta. Trituramos a marinada, que fica com uma consistência duma sopa e de cor verde, e depois cobrimos as cabeças. Deixamos marinar durante pelo menos 4 horas no frio. Depois são assadas durante 30 minutos a 180º. Quando estiver frio

Para servir Aquecer o caldo juntamente com folhas de hortelã. Colocar a carne tépida num prato. Colocar o caldo a ferver sobre a carne e servir. Fazer umas tostas de pão alentejano para depois serem barradas com o que restou da marinada. Servir a tábua de tostas com a marinada juntamente com o “ensopado de cabeça de borrego”.

Cabeça de Borrego


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Ciclo de conferências

“Desafio 2030 – Uma Agenda para o Desenvolvimento Sustentável”

A

Fundação Inatel organiza um ciclo de conferências para debater os 17 objetivos da Organização das Nações Unidas (ONU), no âmbito da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável. A proteção da vida marinha, a erradicação da pobreza e da fome, saúde de qualidade, as cidades e as comunidades sustentáveis são alguns dos objetivos em discussão. A primeira conferência teve lugar no Inatel Flores Hotel, Açores, no dia 25 de março, dedicada ao tema “Proteger a vida marinha” (objetivo 14 da Agenda 2030: conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos para o desenvolvimento sustentável). Contou com a participação dos oradores convidados, Ricardo Serrão Santos, eurodeputado, Gui Menezes, secretário Regional do Mar, Ciên-

cia e Tecnologia, António Domingos Sousa Abreu, presidente da REDBIOS (Rede de Reservas da Macaronésia e África Ocidental) e Emanuel Gonçalves, biólogo marinho. E, ainda, José Carlos Pimentel Mendes e Paulo Alexandre Almeida dos Reis, presidente da câmara municipal de Santa Cruz das Flores e vice-presidente do município das Lajes das Flores, respetivamente. Nuno Sá, especialista em fotografia de vida selvagem, apresentou a exposição “Mero

– Uma espécie icónica nos Açores”, patente ao público nos espaços do hotel. Neste encontro fez-se também uma homenagem póstuma ao oceanógrafo Mário Ruivo, cujo nome foi atribuído a uma sala de conferências no Inatel Flores Hotel. Os próximos debates, entre os meses de maio e outubro, realizam-se em Lisboa (objetivo 2: erradicar a fome), Coimbra (objetivo 3: garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades), Porto (objetivo 1: erradicar a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares), Manteigas (objetivo 15: proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, travar e reverter a degradação dos solos e travar a perda de biodiversidade) e Loulé (objetivo 11: tornar as cidades e comunidades inclusivas, seguras, resilientes

e sustentáveis). Os debates prolongam-se até 2018 em diversas localidades do país. Recorde-se que a 1 de janeiro de 2016 entrou em vigor a resolução da ONU intitulada “Transformar o nosso mundo: Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável”, constituída por 17 objetivos, aprovados por unanimidade por 193 Estados-membros, reunidos em Assembleia-Geral, “que visam resolver as necessidades das pessoas, tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, enfatizando que ninguém deve ser deixado para trás”. A Fundação Inatel promove este ciclo de 17 debates, ajustando a discussão de cada tema às especificidades e dinâmicas locais e regionais do nosso país, cumprindo a sua missão histórica de contribuir para uma sociedade melhor através de múltiplas iniciativas e em harmonia com os objetivos da Agenda 2030 das Nações Unidas.


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Alertas da Deco

“Quem tem medo de Virginia Woolf?” no Trindade

Alimentação saudável não é missão impossível

A

“T

enho 65 anos e ultimamente sinto que estou a ganhar peso e menos mobilidade. Gostaria de alterar o meu comportamento alimentar e estilo de vida, mas não sei como. Podem indicar-me alguns conselhos práticos e acessíveis?”

O relato

desta leitora é comum a muitos portugueses que com o avançar da idade sentem que se torna mais difícil emagrecer. Uma das razões para tal dificuldade é a perda de massa muscular em ambos os géneros. Para aumentar a massa muscular e perder mais facilmente massa gorda, é necessário intensificar gradualmente o tipo de exercício físico. Faça exercício pelo menos três vezes por semana e, no mínimo, uma hora em cada sessão. O exercício aeróbico, como a corrida e o ciclismo, permite um bom desgaste de calorias, mas caso não consiga praticá-lo pode traçar outras estratégias como por exemplo: fazer mais caminhadas com os amigos e prefira subir as escadas, em vez do elevador. Como bem refere para ter sucesso nas suas intenções, o melhor é mudar as escolhas alimentares, tornando-as mais saudáveis e equilibradas. O ponto de partida é gastar mais e comer menos, mais vezes ao dia e aumentar a qualidade nutricional das refeições. Comer mais fruta e hortícolas devem fazer parte integrante dos hábitos alimentares. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo mínimo diário de 400 g de fruta, legumes e hortaliças, o que não é missão impossível: 180 g de legumes e hortaliças crus correspondem a duas chávenas almoçadeiras completas; se estiverem cozidos, bastam 140 g, ou seja, uma chávena almoçadeira cheia; uma peça de fruta de tamanho médio tem cerca de 160 g. Contas feitas, uma dose de salada, uma de sopa e uma peça de fruta por dia garantem a ingestão mínima recomendada pela OMS. Se possível, opte por fruta e legumes da época, pois aproveita todo o sabor e a melhor relação entre qualidade e preço e poupará na sua carteira. Sugestões para um dia de refeições saudáveis sem alterar o orçamento familiar: Comece o almoço e o jantar a comer sopa rica em hortaliças e legumes. Aposte em hortícolas de cores vivas, ricas em vitaminas e minerais como brócolos, couve lombarda ou roxa, pimentos, cenouras, etc.; Inclua a salada como acompanhamento; Substitua os doces por uma peça de fruta rica em vitamina C (laranja, kiwi, tangerina, morango, maçã, entre outras); Coma fruta e hortícolas cruas (por exemplo, cenouras) entre as refeições; Acrescente alface ou tomate às sandes; Evite aperitivos ricos em sal e gordura (como queijos ou patés) durante as entradas; Experimente novas receitas que apostem em legumes, hortaliças e fruta; Substitua os néctares e os refrigerantes por sumo 100% de fruta. Não se esqueça de que os sumos naturais devem ser bebidos, preferencialmente, assim que são feitos, (passado algum tempo, perdem a sua riqueza em vitaminas).

Circuito nacional BTT Inatel

A

Fundação Inatel volta a entrar nos circuitos de BTT e, desta vez, não pedala sozinha. De março a outubro de 2017 a Inatel promove o Circuito Nacional de BTT que irá percorrer o país de norte a sul. Cria-se assim uma rede nacional de competições e de circuitos lúdicos que, de outra forma, estariam isolados. De Entre-os-Rios até Sines, passando por Alcanena, São Pedro do Sul, Oliveira do Hospital, Piódão, Manteigas e Linhares da Beira, serão mais de 10 as etapas previstas. O final do Circuito será com a já conhecida prova Bike Race da Fundação Inatel, que entra na 3.ª edição. A decorrer nos dias 6, 7 e 8 de outubro vai percorrer as aldeias históricas de Portugal, entre elas Piódão que concorre às 7 Maravilhas de Portugal. A Fundação Inatel pretende assim continuar a promover o desporto e aliar a atividade física ao melhor do nosso país como as paisagens naturais. A competição não é o fundamental, o essencial é viver e estar bem, é para aí que pedalamos!

Arte, Escola e Comunidade em mais cidades do país

A

o longo deste ano os encontros de Arte, Escola e Comunidade decorrem em Braga e Coimbra nos dias 28, 29 e 30 de abril, em Lisboa e Évora a 26, 27 e 28 de maio. O projeto cruza o universo escolar e a comunidade através da arte. As criações surgem a partir da investigação da cultura, de códigos e linguagem de uma comunidade ou universo escolar, potenciando o questionamento abrangente por parte da plateia. Pretende-se que as pessoas intervenham na própria criação artística, tornando-a sua, compreendendo-a e passando-a às suas próprias comunidades. Recorde-se que este projeto nasceu no Trindade em 2010, assumindo o teatro da Inatel como um espaço de confluência de projetos artísticos ligados à escola e à comunidade, criando uma oportunidade de mostra de espetáculos, de discussão, debate, trocas e convívio.

lexandra Lencastre e Diogo Infante protagonizam a peça de Edward Albee, numa versão e encenação de João Perry, no palco do Teatro da Trindade Inatel, em Lisboa, de 12 de abril a 11 de junho. Em Quem tem medo de Virginia Woolf?, um dos grandes clássicos da dramaturgia norte-americana, os atores portugueses interpretam Martha e George, um casal de meia idade numa relação amargurada, eternizado por Elizabeth Taylor e Richard Burton, no filme realizado por Mike Nichols (EUA, 1966). George (Diogo Infante) e Martha (Alexandra Lencastre) regressam a casa, de madrugada, vindos de uma festa na universidade onde ele leciona. O pai de Martha, diretor da universidade, apresenta o novo

corpo docente, do qual faz parte um jovem professor (José Pimentão), que está acompanhado pela sua mulher (Lia Carvalho). Martha convida-os a ir a sua casa. Quando os convidados chegam, George e Martha discutem. Inicialmente, o jovem casal manifesta algum desconforto, mas à medida que a noite avança, e o álcool começa a surtir efeito, deixam-se envolver no mundo tumultuoso e perturbador dos anfitriões. O serão transforma-se num monstruoso duelo psicológico entre George e Martha, com inevitáveis repercussões nos convidados. O espetáculo, produzido pela Força de Produção, está em cena de quarta a sábado às 21h00 e aos domingos às 16h30.

Domingo com música em abril

O

salão nobre, do Teatro da Trindade Inatel, recebe o Chmann Trio para um concerto, dia 30 de abril, às 11h00. O Chmann Trio, que nasceu da vontade dos três elementos partilharem palcos, em 2015, é constituído por músicos com carreiras orquestrais e camerísticas, professores da ESART, Escola de Música da Póvoa de Varzim, músicos participantes em várias formações de reconhecimento nacional e internacional, nomeadamente na Orquestra Gulbenkian, Orquestra

de Câmara de Cascais e Oeiras, Orquestra de Câmara Portuguesa e Orquestra Sinfónica Euro-Atlântica, e obteve várias distinções nacionais e internacionais a solo e em música de câmara. O ensemble escolheu a formação de um trio de cordas clássico, que na época da sonata em trio barroca era constituída por dois violinos e um violoncelo, mas que a partir do período clássico passou a ser constituído por um violino, uma viola e um violoncelo. A paixão pela música contemporânea e concreta levou-os a homenagear um compositor da atualidade, Christopher Bochmann, razão pela qual se intitula Chmann Trio. O programa inclui Canon (J. Pachelbel), Marcha Radetzky (J. Strauss), Trio n.º 1 Op. 9 - Allegro con Brio (primeira parte) e Scherzo (L. V. Beethoven), Aubade (G. Enesco), Trio n.º 7 (Francisco Lacerda), Serenade – 1.º andamento (E. Dohnányi), Trio Satz (F. Schubert), Andamento do Divertimento n.º 1 (J. Haydn).


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Coluna DO provedor

Musicando Por Luís rei

Elas nunca se foram embora

Manuel Camacho

provedor.inatel@inatel.pt

C À

semelhança de Lena D’Água que este ano participou no Festival da Canção com “Eu Nunca Me Fui Embora”, Né Ladeiras e Dulce Pontes, apesar de residirem fora dos grandes centros artísticos, acabam de dar óptimos sinais de vida. “Outras Vidas” e “Peregrinação” são dois discos recentemente editados que merecem a nossa atenção.

Feiticeira da saudade Em Novembro de 2016, a norte-americana Susan Palma-Nidel (flautista principal na Orpheus Chamber Orchestra de Nova Iorque) passou pela nossa capital para lançar o disco “Lisboa Íntima”. Numa declaração de amor à música lusófona, aí podemos escutar entre recriações de temas como “Alfama” de Ary dos Santos / Alain Oulman ou “Verdes Anos” de Carlos Paredes, Ivan Lins e Carlos do Carmo em luxuoso dueto no “Fado Ultramar” e Né Ladeiras a interpretar as modas populares “Ó Que Estriga Tenho na Roca” (de Trásos-Montes com um dobro abluesado de Mário Delgado) e “José Embala o Menino” (da Beira Baixa). Dois temas que causaram a agradável surpresa de constatarmos que a voz límpida e intensa de Né Ladeiras, 23 anos após a edição do seminal “Trazos-Montes” (e 16 anos após o último álbum de originais “Da Minha Voz”) continua com as mesmas propriedades encantatórias. Enquanto suspirávamos por uma possível sequela de “Traz-os-Montes”, eis que Né Ladeiras nos brinda agora com o álbum “Outras Vidas”. Obra criada a partir da figura romana de Avita, que começou a ser desenhada há já oito anos, após Né Ladeiras ter visitado a estância arqueológica de Cardilium, em Torres Novas (onde viveu) e leu a frase “Viventes Cardilium et Avitam Felix Turre” (Cardilium e Avita vivem felizes na Torre) inscrita num mosaico romano. Da resposta à ideia de alguém ser feliz num chão desconhecido, Né Ladeiras, Tiago Torres da Silva (que volta

a escrever os poemas destas oito canções) e Amadeu Magalhães (produtor e multiinstrumentista) ergueram uma obra folk, nómada, fresca e intemporal, que presta igualmente a homenagem a outras mulheres marcantes como Greta Garbo, Frida Khalo, Madre Teresa de Calcutá e Violeta Parra e que, por isso, navega por muitos mares. Em “O Silêncio dos inocentes” e “Castelos no Ar” há electrofolk dançável que evoca o Realejo (projecto que Amadeu Magalhães partilha com o construtor de sanfonas Fernando Meireles). Em “Canção de Avita” revisitam-se ambientes sefarditas e do Al-Andaluz de Rádio Tarifa e de La Banda Morisca. Na “Feiticeira da Saudade” há mais pop “celta” nunca desligado dos aromas regionais: cordofone minhoto e percussão beirã. Em “Noites de Assuão” sente-se um ar árido, dolente e nostálgico que parece vir da Arménia, soprado pelo duduk de Djivan Gasparyan. “À QueimaRoupa” apresenta-nos o melhor bordão (gaita de foles e sanfona) que a folk mais rústica da Península Ibérica possui. Em “Pano Cru”, para além de ecos de música mexicana jarocha, o cavaquinho do Amadeu parece fazer a viagem marítima que este cordone fez até chegar ao Havai e ter tomado a forma de ukelele.

A viagem interior e emocional de Dulce Pontes Onze anos após o lançamento do duplo álbum de originais “O Coração Tem Três Portas” (oito após a colectânea “Momentos”), Dulce Pontes regressa às edições discográficas com mais uma obra conceitual, de autora, que transborda géneros musicais. “Peregrinação” é um álbum duplo que inclui os discos “Nudez” totalmente em português e “Puertos de Abrigo” com canções em castelhano, galaico-português e inglês. É uma viagem interior e emocional de Dulce Pontes criada e arranjada ao piano na cave de sua casa em Bragança. Um disco que exibe, uma vez mais, a costela de fadista de Dulce Pontes em muito boa forma. Em “Nudez” há

notáveis interpretações de “Alfama” e de “Grito” embalada com a guitarra portuguesa de Marta Pereira da Costa. Mas, “Nudez” mostra acima de tudo a compositora que nutre uma estranha atracção pelo risco, pela experimentação. Oferece-nos uma versão muito personalizada, quer de “Nevoeiro” (poema de Fernando Pessoa”) em modo de marcha desconjuntada com as percussões e concertina de Amadeu Magalhães (eterno cúmplice) e o safoxone de Hubert Jan Hubeek, quer de “Grândola Vila Morena” (José Afonso) com um pianinho em fundo que mais parece uma caixa de música (ou um dos pianos de Pascal Comelade). Mexe e revira a música popular portuguesa, ora através de criações originais (Vá de Retro”), ora com arranjos improváveis (“Cantiga da Roda”), ora pela forma com que venera a criação original desse fado-vira (que o grego Zorba gostaria de ter dançado) que é “Bailados do Minho”. “Puertos de Abrigo”, mais do que o tributo a territórios com uma língua comum que tão bem a têm recebido, é a prova da versatilidade artística de Dulce Pontes. Irrepreensível interpretação do flamenco “Astúrias” do argentino Raúl Carnota com a mágica guitarra de Daniel Casares e do tango “Maria de Buenos Aires” de Astor Piazzolla e Horacio Ferrer em que Dulce surge acompanhada pela Roma Sinfonietta. Belíssima a leitura de duas das sete cantigas de amigo (“Ai Eu Ondas Vin Veer” e “Ondas do Mar de Vigo”) do jogral medieval galego Martin Codax que o gaiteiro Carlos Nuñez lhe deu a conhecer. Mas o topo desta “montanha” é sem dúvida o resgate de “Barro Y Altura” do charanguista argentino de ascendência boliviana Jaime Torres, interpretado com a mesma magia indígena de outras selvagens e indomáveis vozes como as de Mariana Baraj e Charo Bogarín. “Outras Vidas” de Né Ladeiras e “Peregrinação” de Dulce Pontes serão, seguramente, dois dos grandes discos de 2017. [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

ada vez mais, nós portugueses, temos que aprender a ser positivos. Basta de atitudes de “velho do Restelo”, basta de achar que os outros são sempre melhores que nós, basta de discutirmos o acessório em vez de nos concentrarmos no essencial. Vamos aprender a ter orgulho de quem somos, sem complexos de sermos realmente diferentes – e ainda bem que assim é! Na cultura e no desporto, da arquitetura ao cinema, do atletismo ao futebol, nos emigrantes que pela sua qualidade nas mais variadas áreas afirmam-se por esse mundo fora, no exemplo do País democrático que somos – em tudo isto há fortes razões para nos sentirmos orgulhosos do País que temos e do povo que somos. Podemos andar distraídos, mas a verdade é que somos solidários, pró-ativos, interessados e humanistas. Só assim se entende que muitas associações e instituições como é a Fundação Inatel continuem a ser uma referência em Portugal. Sabemos que, como em todo o lado, nem sempre tudo corre pelo melhor – é natural. No entanto, o que importa é dar destaque ao que está bem e procurar soluções para o que está mal sem lamentações nem desânimos. Vamos ser portugueses ativos e bem-dispostos, porque até a melancolia do “fado” já tem hoje uma “leitura” diferente. Se mais não bastasse, vejamos como as nossas cidades são vistas lá fora: Lisboa considerada a melhor cidade do mundo pela Revista Wallpaper, ao ser agraciada com o “Designs Awards” 2017, o Porto considerado o melhor destino turístico europeu... Vamos lá mudar a nossa atitude – porque MELHORES já nós somos.


20 TL MAR-ABR 2017

Durante as décadas de sessenta e setenta, do século XX, o Trindade viveu um importante período da sua missão cultural. Após a aquisição do teatro pela Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT) foi palco de vários encenadores, atores e cantores líricos que entraram nas páginas da história do teatro em Portugal

150 ANOS Trindade

Um teatro para o grande público

O

s herdeiros de José Loureiro, proprietário do Trindade, devido à diminuição de afluência do público nos teatros da zona do Chiado, decidem vender o edifício à FNAT pela quantia de oito mil contos, em 1962. A FNAT respeitou os compromissos anteriormente assumidos e manteve a atividade da Companhia Nacional de Teatro, de Ribeirinho [Francisco Ribeiro], dirigida pelo encenador, tradutor, poeta e dramaturgo António Manuel Couto Viana, que leva à cena, entre 1962 e 1967, textos de Arthur Miller, August Strindberg, David Mourão-Ferreira, Guillaume Apollinaire, Heinrich von Kleist, Nicolai Gogol, Samuel Beckett, William Shakespeare, entre outros. No início deste ano, na apresentação da temporada 2017, Inês de Medeiros, diretora do Teatro da Trindade Inatel, anunciou que será lançada “uma biografia de Ribeirinho, da autoria de Sofia Patrão, em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Autores, que se associou às comemorações dos 150 anos”.

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Um teatro renovado Em 1967 o teatro é sujeito a obras de remodelação. Depois da decoração escolhida, coordenada por Maria José Salavisa, “a velha sala oiro e grenat do Trindade iria dar lugar a uma espampanante sala oiro azul”, referencia Tomaz Ribas (in O Teatro da Trindade – 125 Anos de Vida). A pintura do teto manteve-se intacta com um conjunto de 12 medalhões, da autoria de Jorge Procópio, que retratam grandes figuras do teatro português, entre outros, Almeida Garrett, Bocage, Correia Garção, Gil Vicente, Sá de Miranda. Destaque, ainda, para o famoso friso do proscénio com a Trindade, uma criação de Leopoldo de Almeida, 1923, e o enorme lustre que ainda hoje fazem parte da ornamentação da sala, atualmente designada por sala Eça de Queiroz. Ao longo daquele ano celebra-se o primeiro centenário do histórico teatro (18671967), o Trindade torna-se numa casa de espetáculos para o grande público, e sede da Companhia Portuguesa de Ópera.

Ópera no Teatro da Trindade A Companhia Portuguesa de Ópera foi fundada por José Serra Formigal, vice-presidente da FNAT, nos primeiros anos da década de sessenta. Esta “entusiástica e esforçada iniciativa” pretendia criar um cen-

3 1 – Fachada principal do Teatro da Trindade, após as obras realizadas pela FNAT, aquando da aquisição do teatro, em 1962 2 – “A Vingança da Cigana”, ópera de Leal Moreira, cantada no Trindade pela Companhia Portuguesa de Ópera, em 1963 3 – Eunice Muñoz, na peça “Duelo”, de Bernardo Santareno, representada no Trindade pela Companhia Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro, em 1971 [Fotos publicadas em O Teatro da Trindade – 125 Anos de Vida, de Tomaz Ribas]

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tro de formação e produção de ópera com cantores nacionais e realizar espetáculos de ópera e opereta de caráter popular. Dirigida por Serra Formigal, a companhia desenvolveu “o mais criterioso e positivo e o maior projeto nacional no campo da ópera”, segundo Tomaz Ribas, destacando-se no panorama teatral português, quer aos níveis pedagógico, cultural e artístico, quer, ainda, na criação de novos públicos. As óperas que subiram ao palco do Trindade foram diversas, Boémia (Puccini), Serrana (Alfredo Keil), Barbeiro de Sevilha (Rossini), A Vingança da Cigana (Leal Moreira), Traviata (Verdi), Rigoletto (Verdi), Amigo Fritz e Cavalleria Rusticana (Mascagni), Palhaços (Leoncavallo), Tosca (Puccini), A Condessa Caprichosa (Marcos Portugal-Frederico de Freitas), Elixir de Amor (Donizetti), Madame Butterfly (Puccini), Lucia de Lammermoor (Donizetti), Rita (Leoncavallo), Inês Pereira (Rui Coelho), Fausto (Gounod), Wherter (Massenet), Don Pascoal (Donizetti), As Variedades de Proteu (António Teixeira), O Segredo de Suzana (Wolf Ferrari), Carmen (Bizet), Bodas de Fígaro (Mozart), Manon (Massenet), A Cambial de Matrimónio, A Escada de Seda e Adina (três óperas de Rossini), Amélia Vai ao Baile (Gian Carlo Menotti), O Corcunda do Califa (Franco Casanova), La Rondine (Puccini), Orfeo e Eurídice (Gluck), Andrea Chénier (Giordano), Lakmé (Leo Delives), Flauta Mágica (Mozart), Il Matrimonio Secreto (Cimarrosa), Rosas de Todo o Ano (Ruy Coelho), Don Quixote (Massenet), Il Tabarro (Puccini), Ida e Volta (P. Hindemith), e Telefone (Gian Carlo Menotti). A Companhia Portuguesa de Ópera, que funcionava como um verdadeiro centro e escola nacional de formação e preparação de cantores líricos portugueses, por onde passaram, entre outros, Álvaro Malta, Fernando Serafim, Hugo Casais,

Luís França, Zuleika e Elsa Saque, seria “compulsivamente” extinta pela própria FNAT, em 1975.

Trindade acolhe a Companhia Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro Depois do incêndio que devastou o Teatro Nacional D. Maria II, em 1964, a Companhia Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro, que esteve temporariamente noutros teatros, instalou-se no Trindade entre 1970 e 1974. Durante este período foram apresentados vários espetáculos, entre outros, O Último Inquilino e O Rei Está a Morrer (Ionesco), O Duelo (Bernardo Santareno), Calígula (Albert Camus), A Farsa dos Almocreves e Clérigos da Beira (Gil Vicente), A Gaivota (Anton Tchekov), Hedda Gabler (Ibsen), Anfitriões (Camões), Adriano VII (Peter Luke), O Concerto de Santo Ovídio (Buero Vallejo), Sábado, Domingo e Segunda (Eduardo de Filippo). Recorde-se que integravam o elenco da companhia, Amélia Rey Colaço, Eunice Muñoz, Mariana Rey Monteiro, Madalena Sotto, Cecília Guimarães, Henriqueta Maia, Glória de Matos, José de Castro, Rogério Paulo, Pedro Lemos, Varela Silva, João Perry, Rui Pedro, Paiva Raposo, Maria Dulce, Luís Filipe, Josefina Silva, Eduardo Jacques, Elisa Lisboa, Paulo Renato, Baptista Fernandes, Curado Ribeiro, Carlos Wallenstein, José Amaro e Neniche Lopes. Muitas personalidades das artes de palco cruzaram este teatro. Os sons dos calorosos aplausos continuam a vibrar naquela sala. Com o 25 de Abril, também marco histórico no Teatro da Trindade, especialmente pela diversidade da oferta cultural, abrem-se as cortinas para diferentes espetáculos de teatro, ópera, dança, opereta, a par de sessões de cinema, exposições e conferências. Teresa Joel


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José Carlos Ary dos Santos é homenageado no dia 25 de Abril, às 21h30, no espetáculo “Era uma manhã de AbRYl”, com a coordenação de Tiago Torres da Silva, produzido pelo Teatro da Trindade, em parceria com a Sociedade Portuguesa de Autores, e apoio da Associação 25 de Abril.

VER

OUVIR

Fabricantes de sonhos Há que tempos não via um filme de Cecil B. DeMille no grande ecrã? Cinema Eusébio - História de uma Lenda, de Filipe Ascensão | Portugal, 2017. Documentário. Em cartaz. “Filme-tributo” a um dos maiores, – raros e singulares –, ícones do futebol mundial de quem este ano se assinala o 75.º aniversário do seu nascimento. Destaquese os depoimentos de António Simões, Hilário da Conceição, Flora da Silva Ferreira, Sir Bobby Charlton, Rui Costa, Luís Figo, Cristiano Ronaldo, entre outros. Sonhos Cor-de-Rosa (Fais de Beaux Rêves), de Marco Bellocchio | Itália/França, 2016

organização do movimento operário revolucionário que haveria de marcar o mundo de forma avassaladora desde os finais do século XIX. Os Dez Mandamentos, de Cecil B. DeMille | EUA, 1956. Com: Charleston Heston, Yul Brynner, Anne Baxter, Vincent Price. Exibição 14 abril, às 16h, no CCB. É, juntamente com “Quo Vadis” e “Ben-Hur”, um dos grandes clássicos do “filme bíblico” de culto da década de 50. A espectacularidade da obra ficou bem patente na grandiosidade dos efeitos especiais (p. ex., o episódio da travessia do Mar Vermelho), na partitura musical do compositor estreante Elmer Bernstein e, obviamente, na enorme capacidade visual e narrativa de DeMille. No ecrã gigante do grande auditório do Centro Cultural de Belém. The Zookeeper’s Wife, de Niki Caro | EUA, 2016. Com: Jessica Chastain, Daniel Brühl, Johan Helderbergh. Estreia prevista 20 abril. Baseado em factos reais, o filme narra a história de determinação e esforço de um casal de tratadores do jardim zoológico de Varsóvia no salvamento de centenas de judeus durante a ocupação nazi.

Com: Bérénice Bejo, Valerio Mastandrea, Guido Caprino. Estreia prevista 9 abril. Um jornalista regressado da guerra dos Balcãs recorre à psicanálise para superar o passado traumático de infância provocado pela morte da mãe. Subtil, terna e cruel homenagem ao amor materno. O Jovem Karl Marx, de Raoul Peck | França/Alemanha/Bélgica, 2016. Com: August Diehl, Stefan Konarske, Vicky Krieps. Estreia 20 abril. Os anos de glória da juventude de Karl Marx, Friedrich Engels e Jenny Marx, passados entre Paris, Bruxelas e Londres, na

A Ilha dos Cães, de Jorge António | Portugal/S. Tomé e Príncipe/Angola, 2015. Com: Nicolau Breyner, Ciomara Morais, Ângelo Torres. Estreia 20 abril. Após sucessivos adiamentos, chega finalmente aos ecrãs a adaptação do romance “Os Senhores do Areal”, do escritor angolano Henrique Abranches. Trata-se de um drama de acção ambientado numa ilha-fortaleza que outrora serviu de prisão a opositores políticos e para a qual está perspectivada a construção de um resort, alvo de ameaças sucessivas por parte de uma matilha de cães selvagens. Derradeiro trabalho de Nicolau Breyner.

Afirmação e consolidação do mercado independente Televisão Inesquecível, um programa de Júlio Isidro | RTP-Memória, sábados às 23h e domingos às 18h. É uma das “jóias da coroa” do canal público. Convidar personalidades de diversas áreas das artes e do espectáculo, da Rádio e da Tv, e com eles partir à viagem pela memória dos tempos é fazer história viva.

DVD Eu, Daniel Blake, de Ken Loach | GB/França/Bélgica, 2016 Com: Dave Johns, Hayley Squires, Dylan McKiernan. Edição Midas Filmes. O cineasta do realismo social regressa em força ao universo dos mais desprotegidos e “descartados” do sistema e à sua habitual visão crítica da sociedade e dos tempos difíceis em tom virulento, contra a privatização dos serviços públicos, a burocracia e a estigmatização social. Uma ousadia premiada em Cannes com a “Palma de Ouro” e partilhada por públicos e cinéfilos.

E ainda... Judaica – Mostra de Cinema e Cultura, regressou a Lisboa no final de março com a exibição, no Cinema S. Jorge, do filme “Negação” interpretado pela actriz Rachel Weisz. O programa desta 5.ª edição, extenso e variado, (comissariado por Rui Tendinha) integra antestreias nacionais, – entre as quais, “O Jovem Karl Marx”– , debates, concertos, gastronomia e literatura. A “mostra”, que se estenderá a Cascais, Belmonte, Castelo de Vide e se prolongará até Junho, conta com a participação de Irene Pimentel, Eli Rosenfeld, Cristina Norton, César Santos Silva, Esther Mucznik, João Pinto Coelho, João Paulo Esteves, Sofia Afonso Ferreira, entre outros convidados.

Joaquim Diabinho [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

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advento da internet deu uma nova voz a artistas independentes e proporcionou uma verdadeira aproximação entre o público e o artista nunca antes atingida, obrigando a indústria musical a readaptar-se a novos contextos. Proponho aos leitores uma viagem pelas sonoridades independentes que fizeram e fazem parte da história da música, uns em franca ascensão, outros já parte integrante de um imaginário coletivo. Como primeiro exemplo disso temos o projeto Noiserv, que nasce em 2005 pela mão de David Santos através de uma demo gravada e divulgada na internet. Muito aclamado pela crítica e já com uma carreira internacional, Noiserv apresenta-se como One Man Band rodeado de teclados e outros instrumentos vários, fazendo uso de loops, convidando-nos a embarcar numa viagem contemplativa. Influenciado por bandas como os islandeses de post-rock Sigur Rós, os Ingleses Radiohead ou o norte-americano Jeff Buckley, Noiserv estará no dia 15 de abril no Teatro Garcia de Resende, em Évora. Os portugueses The Gift nasceram na cidade de Alcobaça, na cena independente. O grupo inicial de quatro elementos, hoje sobejamente reconhecido pelo público, iniciou a sua carreira num concurso de bandas local, tendo sido catapultado para o sucesso pela sonoridade característica e a voz poderosa

de Sónia Tavares. Recentemente fez uma colaboração com o vanguardista Brian Eno, músico, compositor e produtor Britânico, exímio no uso dos sintetizadores. Eno, que integrou os primeiros álbuns dos Roxy Music, produziu vários álbuns de artístas como: David Bowie, Laurie Anderson, P.J. Harvey, New Order, U2, Coldplay, entre outros. Produzido também por Eno, surge o novo álbum dos The Gift, “Altar”, que inclui temas como “Love Without Violins” e “Clinic Hope”, singles divulgados na web, que já obtiveram enorme sucesso. A banda irá apresentar-se a 19 de abril no Centro Cultural de Belém e a 21 do mesmo mês no Centro Cultural de Vila Flor. A 3 de maio é a vez de Coimbra no Convento de S. Francisco e a dia 5 no Cine-Teatro Avenida, em Castelo Branco. Com influências da música erudita e do jazz, o rock progressivo, movimento dos anos 70 que nasceu em terras de sua majestade, estará representado este ano no Gouveia Art Rock. Festival único no país, e raro a nível internacional, traz a banda Jethro Tull a Portugal. A banda Inglesa do final dos anos 60, que conta com uma legião de fãs à escala global, é caracterizada por letras e composições musicais complexas, tendo como figura central o líder icónico Ian Anderson e a sua flauta. O Gouveia Art Rock existe desde 2003 e tem trazido a Portugal os maiores nomes deste género, atraindo público de todo o mundo. Este ano brinda-nos com os Jethro Tull no TeatroCine de Gouveia, a 7 de maio. A primeira escolha do público continua a ser os espetáculos ao vivo numa altura em que a indústria musical aposta numa forte cultura de festivais e grandes eventos, cada vez mais descentralizados. Novos horizontes e novas estratégias para a promoção da música junta protagonistas e agentes – só falta você! Susana Cruz


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Os contos do zambujal

O golo da vitória e a filha do presidente

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ma onda de entusiasmo e nervosismo agita as bancadas do velho campo do Lourivelense Futebol Clube. Nem um lugar vazio. Os adeptos do Desportivo de Canjares também acorreram em massa. É o jogo final e decisivo para a conquista do título de campeão e aos visitantes basta um empate. Há uma estrondosa ovação quando as equipas entram no rectângulo. Na frente do grupo de Lourivales vem o capitão, José Rebolino, até há pouco o ídolo dos adeptos do clube e da filha do presidente da Direcção. Nota-se, no rosto franzido de Rebolino, uma tensão que ultrapassa a vontade de ganhar o jogo. No último mês a sua popularidade desceu, ultrapassada pelo reforço de Inverno, Titiquiri. José Rebolino sofre. A massa associativa parece ter esquecido os altos serviços que tem prestado ao emblema e todos os incentivos e os mais quentes aplausos vão para a novidade, Titiquiri. Pior, a própria filha do presidente da Direcção, que enchia de mimos o herói de Lourivales, inclusive a horas mortas, no balneário deserto e disponível, parece agora desinteressada e fã de Titiquiri. Todos parecem encantados por esse ridículo nome, Titiquiri, e logo na estreia ressoava um imenso coro – Titiquiri! Titiquiri! –, de cada vez que o desengonçado tocava na bola, mesmo sem jeito nem trambelho. Hoje, neste jogo decisivo, A luta é dura, as Rebolino está disposto a defesas portammostrar quem é quem, reconquistando a preferência -se como muros, dos adeptos e da filha do os guarda-redes presidente da Direcção. Cabe-lhe a primeira grande parecem elásticos, jogada da partida, uma série chega-se aos 90 de fintas concluídas com minutos com o zero um remate a rasar a barra. ouvir aplausos, mas a zero, mas Rebolino Esperou o que ouviu foram assobios e gritos: “Estúpido! Devia ter não desiste passado a bola ao Titiquiri”. Perturbado, distinguiu mesmo a voz de falsete da filha do presidente a reclamar o passe para o Titiquiri. Sentiu-se traído por todos, por ela em particular. Iria mostrar, porém, que era homem de brio e jogador de classe, muito melhor que o desengonçado Titiquiri, esse não dava uma para a caixa mas parecia ter-lhe roubado o apreço dos adeptos e da filha do presidente da Direcção. Chegou-se ao intervalo com um empate sem golos, resultado que não serviria a ambição do Lourivelense se

persistisse até ao final. Mas ali estava ele, disposto a ganhar o jogo, voltar ao pedestal da glória e aos braços da filha do presidente. Nem o desanimava o facto de a claque já nem apoiar, gritando pelo clube – Lourivales! Lourivales! – nem, como tantas vezes acontecera, incitando-o a ele como esperança maior: “Rebolino! Rebolino! Rebolino!”. Agora, o que atroava os ares era o grito musical e ritmado: “Titiquiri! Titiquiri! Titiquiri!”. A certo passo, Rebolino teve imensa vontade de rir. Desse reforço pé-de-chumbo nada havia de esperar, coitado do Lourivales se não fosse ele, José Rebolino, craque, a resolver a contenda. Assim havia de voltar a filha do presidente da Direcção. A luta é dura, as defesas portam-se como muros, os guarda-redes parecem elásticos, chega-se aos 90 minutos com o zero a zero, mas Rebolino não desiste, enquanto há vida há esperança, quatro minutos extra podem ser suficientes. Acontece, aos 93, o milagre. Num ressalto, a bola pinga para Titiquiri, plantado como um poste à entrada da área. Atrapalhou-se, caiu, mas, com surpresa geral e irritação dos bravos de Canjares, o árbitro decidiu-se por penalty. Penalty! Titiquiri abraça-se à

bola na clara intenção de lhe pertencer o chuto a onze metros. Rebolino corre, saca-lhe o esférico, há-de ser ele, tem de ser ele, a marcar o golo triunfal. O desentendimento prolonga-se, por fim impõe-se a vontade férrea de Ribolino, indiferente ao coro das bancadas: “Titiquiri! Titiquiri! Titiquiri! Por fim, o silêncio: guardião e rematador frente a frente, o público mudo, a roer as unhas, Rebolino toma balanço, arranca, chuta com toda a força da sua raiva, a bola embate no peito do guarda-redes e volta ao campo de jogo. Breve desalento dos adeptos de Lourivales – e breve – porque, inesperadamente, saído não se sabe de onde, o reforço de Inverno aparece a dar um chutozinho e faz o golo triunfal! O jogo acaba de imediato. Os novos campeões envolvem-se num cacho festivo, os adeptos pulam de contentamento. Isolado ficou Rebolino, sentado na lama, a observar de longe uma euforia de que não partilha. Vê Titiquiri levantar a taça e com o braço livre em volta da cintura da filha do presidente da Direcção. Futebol é um jogo cruel. [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

Mário Zambujal


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Passatempos

agenda inatel

Palavras cruzadas POR josé lattas 1

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ATIVIDADES CULTURAIS E DESPORTIVAS

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Lisboa

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Gir’Arte – Visita guiada ao Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, 29 de abril, das 10h00 às 13h00, para toda a família. Tel. 210 027 150 | cultura@inatel.pt

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VERTICAIS: 1-Suga; Prestamista. 2-Cobiçosa; Capaz (inv.). 3-Alado; Filtrar. 4-Moenda; Nome de letra; Argon (s.q.); Popa. 5-Pega; Pintor francês (1832-1883). 6-Macho; Gentilezas.

7-Pronome demonstrativo, que precede o substantivo ou o substitui; Absorvem. 8-Prefixo de origem grega, com o sentido de negação; Selénio (s.q.); Sufixo, com o sentido de agente ou instrumento de acção; Amerício (s.q.). 9-Embezerrar; Salsa-da-lagoa. 10-Sedento; Atribulação. 11-Saco de couro ou pano, ordinariamente fechado com cadeado; Girara.

Soluções: 1-MI; MALTA; FM. 2-A; AOS; ANA; A. 3-MAS; AML; MEL. 4-AVAL; U; SUBA. 5-IDEM; TEAR. 6-ADO; AMO; RIR. 7-GA; ÂNIMO; OO. 8-I; CREMARA; D. 9-OMO; TOM; IDA. 10-TOAR; S; APOR. 11-ABREM; AMORA.

Horizontais: 1-Nota musical; Bando; Férmio (s.q.). 2-Contracção de preposição e artigo (pl.); Nome feminino. 3-Contudo; Área Metropolitana de Lisboa (sigla); Lisonja. 4-Garantia; Cavalgue. 5-Que significa o mesmo; Aparelho ou máquina, para o fabrico de tecidos. 6-Sufixo que designa o território de um titular; Prefiro; Escarnecer. 7-Gálio (s.q.); Esforço; Sono infantil. 8-Incinerara. 9-Elemento de composição de palavras, que exprime a ideia de ombro; Diapasão; Abalada. 10-Convir; Aplicar. 11-Cavam; Cidade e freguesia, do concelho do Seixal.

Sudoku POR Jorge Barata dos Santos Problema n.0 2 Prencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado.

Évora

Exposição Caos até 17 de abril, na Galeria Inatel, Palácio do Barrocal. É apresentada como uma meticulosa construção em torno de lugares destinados à contemplação, cuja desordem neles contida foi outrora domesticada e administrada em doses inteligíveis limpando os excessos, facilitando a leitura ao espetador. O caos, delimitado em retângulos, é apreciado a uma distância segura. No entanto, ao contrário da criança que observa um animal selvagem contido numa jaula, aqui o visitante é incentivado a aproximar-se e a desejar, por um momento encontrar-se lá dentro. A mostra é organizada pelo Núcleo de Artes Visuais da Universidade de Évora e pela autarquia. Aberta ao público de terça a sábado, das 14h00 às 18h00.

“Fada Juju e a Festa dos Sentidos”, um espetáculo inclusivo da autoria de Ana Rangel, baseado nos livros “Som e Silêncio”, “Amizade sobre Rodas” e “Fada Juju e a escola mágica” de Paula Teixeira, com encenação de João Ascenso, no Teatro da Trindade. A Fada Juju, que ainda não conseguiu descobrir a sua vocação, Noa, a sua melhor amiga, Margarida, que não consegue andar, Tomás, que é cego, e Gaspar, que é surdo, formam um quinteto que vai derrubar barreiras, medos e preconceitos. De 19 abril a 27 maio. Para público em geral, sábado às 16h00 e domingo às 11h00.

Porto

Gir’Arte – Visita guiada à Casa da Animação, 22 de abril, das 10h00 às 13h00, para toda a família. Tel. 210 027 150 | cultura@inatel.pt

Exposição de Fotografia “Islândia – Natureza Sublime”, do artista Júlio Pereira. A mostra pode ser visitada até finais de abril na Galeria Inatel, Rua do Bonjardim, 501, de segunda a sexta-feira, das 9h00 às 18h00. Soluções:

Évora | Beja

Campeonato Interdistrital de Tiro ao Alvo – Provas programadas até junho: SC Alcaçovense, 29 de abril, no Pavilhão Multiusos Alcáçovas; CCP São Miguel, 6 de maio; GD Bairrense, 14 de maio; Os Amieirenses, 3 de junho. As provas a realizar entre maio e junho decorrem nas respetivas sedes dos CCD organizadores.



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