Tempo Livre Julho/Agosto 2017

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DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL 3.a SÉRIE • 1€ N.0 6• JUL-Ago 2017

Turismo social tradição com futuro



ÍNDICE

TL JUL-Ago 2017 3

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Ciclo Mundos

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Opinião de Helena Freitas

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Viajando com livros

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A Casa na árvore

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Memórias de Júlio Isidro

Viagens: Miami e Cruzeiro

Na mesa com Marta Bártolo

Coluna do Provedor Musicando

Entrevista: Ana Mendes Godinho

15 Campo de Férias Inatel

18 Notícias

20 Teatro da Trindade

capa

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Contos do Zambujal

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Passatempos Agenda

Editorial

FRANCISCO MADELINO Presidente da fundação inatel

Fotografia

Furtado d’Antas. - © Fundação Inatel | Arquivo Fotográfico

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urtado d’Antas, autor da fotografia que escolhemos para ilustrar a capa do presente número do jornal Tempo Livre, foi um fotógrafo jornalístico que contribuiu para diversos periódicos durante o Estado Novo, incluindo o jornal 1.º de Maio e a revista Alegria no trabalho, órgãos oficiais da F.N.A.T. (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho), com a qual colaborou ocasionalmente nas décadas de 1940 e 50. Registo de um dia de verão de 1952 na praia da Colónia de Férias “Um Lugar ao Sol” da F.N.A.T., atual Unidade Hoteleira da Caparica, a fotografia capta um momento de descontração dos veraneantes oriundos da classe trabalhadora, sendo percetível, a par do movimento que sugere e da genuína alegria espelhada em muitos rostos, certa heterogeneidade, quer etária, quer nas indumentárias, umas mais descontraídas, outras mais conservadoras. Inaugurada em 31 de julho de 1938, com 7 pavilhões para 70 pessoas, a Colónia de Férias “Um Lugar ao Sol” foi dada por concluída uma década mais tarde, com a construção dos últimos 6 pavilhões, num total de 30 e capacidade para 1000 colonos. Corporização da visão de Higino de Queirós, primeiro Presidente do Conselho de Administração da F.N.A.T., que em entrevista ao Diário de Lisboa de 16 de agosto de 1938, se lhe referiu como a edificação de “…uma cidade [do lazer]. Talvez até uma grande cidade”, a Colónia de Férias “Um Lugar ao Sol” foi, em muitos aspetos, um empreendimento verdadeiramente revolucionário. Metáfora de uma obra social visionária que, associada a um certo conceito de progresso e welfare, contribuísse para a melhoria das condições de vida das massas trabalhadoras, facultando-lhes o acesso a atividades de lazer que até aí eram apenas praticadas pelas elites, a ‘grande cidade’ de Higino de Queirós, cuja primeira pedra foi lançada em 1935 com a criação da F.N.A.T., continua a afirmar-se, agora sob a designação de Fundação Inatel, como uma obra essencial na promoção do bem-estar e do lazer das populações, nas suas mais diversas variantes. Foi precisamente esse espírito inovador e, de certo modo, progressista, presente na criação da F.N.A.T. e que sobreveio na atual Fundação Inatel, que Furtado d’Antas soube bem fixar com a sua objetiva. José Baptista de Sousa

Turismo Social, com história e com futuro

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Inatel nasceu como o contraponto às ofertas de lazer que as organizações de trabalhadores, por toda a Europa, foram criando, a partir dos seus sindicatos, ou então dos serviços sociais públicos, que iam nascendo, com o Estado Social e com as instituições solidárias de Economia Social. Em França, por exemplo, lembra-se o cheque-férias e os centros de férias dos comités de empresa. A FNAT, criada em meados dos anos trinta do século passado, foi a alternativa que o Estado Novo, de cariz corporativista e fascista, criava, face à dinâmica das chamadas lutas de classes ou de movimentos cívicos igualitaristas. Foi a partir do fomento do lazer e da cultura popular, junto das classes operárias e rurais, e da instituição dos centros de férias para os ativos trabalhadores e pensionistas, com uma forte ligação a sindicatos política e administrativamente controlados, que se foi construindo a Inatel. De uma forma ou outra, a Fundação surgiu, perante o povo português, com uma hipótese de ter férias a preços mais baratos. A Caparica, depois Oeiras, e muitos outros sítios, iam surgindo assim, ligados a sítios de lazer disponíveis para pessoas com parcos rendimentos salariais ou com pensões diminutas, que iam se formando do Sistema de Previdência que ia crescentemente abrangendo uma parte da População. Com a Democracia, a Inatel abriu-se ainda mais à convergência com as linhas tendência do seu tempo da Economia Social e Solidária, da promoção do turismo para todos, inclusivo, com forte ligação às comunidades locais e à sua diversidade cultural, ao usufruto da história dos territórios e à riqueza e preservação da Natureza. A essa convergência a Fundação trouxe a sua relação com os sindicatos, as associações locais desportivas e culturais, as associações humanitárias e recreativas e a tradição das casas do Povo, e surge como um membro pleno e militantes das ideias de turismo social e sustentável e da Agenda 2030 da ONU. O direito ao lazer é um direito inalienável de qualquer pessoa, como deve ser o da educação e do acesso à cultura e ao saber. Este direito ao descanso e ao lazer foi uma das grandes exigências dos movimentos cívicos e laborais após a Revolução Industrial. A FNAT, e agora a Inatel, surgiram como respostas, com diferenças, para essas exigências de igualdade de oportunidades. Caro leitor e associado, disfrute deste número do Tempo Livre, dedicado a esta reflexão sobre o turismo social, num tempo em que o Mundo vai redescobrindo Portugal como lugar de lazer, de beleza e de cultura.

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Fotos: Beatriz Maduro

Ciclo Mundos e Festival Músicas do Mundo inseparáveis A apresentação do cartaz da 2.ª edição do Ciclo Mundos e da 19.ª edição do Festival Músicas do Mundo decorreu no Teatro da Trindade Inatel, no dia 13 de junho. O regresso de dois palcos que são de todos e para todos

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epois de seis meses de espetáculos numa das mais belas salas de espetáculo do país, Teatro da Trindade Inatel, o Ciclo Mundos regressa com novos nomes da música do Mundo, mas com a mesma filosofia e fortalecimento da parceria com o Festival Músicas do Mundo, que escolheu o mesmo palco do Ciclo Mundo para apresentar o cartaz de 2017. Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara Municipal de Sines, afirma que a parceria é “muito interessante”, e acrescenta: “aprofundamos a parceria e sem dúvida que vamos continuar porque o objetivo não passa só pela música, mas sim pelo turismo, cultura e os valores da Inatel.” Sobre a 19.ª Edição do Festival, Mascarenhas fala do maior cartaz dos últimos anos, mais de 50 concertos, surpresas, “e sobretudo, reconhecimento de um grande festival e de uma grande parceria”. Para Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, uma segunda edição do Ciclo Mundos em Lisboa é a resposta a um dos maiores desafios do século XXI, “intercultura, num planeta que chega para todos e onde somos capazes de aceitar o outro como ele é, como ele pensa”. O Festival Músicas do Mundo, considerado o Melhor Festival da Península Ibérica, alimenta-se da mesma ideia, e deixa claro que este projeto não está direcionado apenas para um “nicho”, “é um projeto que mobiliza em todo o mundo e Portugal aquilo que é mais comum nos povos”. Em 2016 foram mais de 10 concertos


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em seis meses – de junho a dezembro – no Teatro da Trindade. A diversidade cultural esteve marcada em cada concerto que percorreu o mundo. De Ana Tijoux a Ester Rada, passando por Jambinai, Dan Sorte Skole, Metá Metá, foram muitos os que surpreenderam o público, e foi o público quem pediu uma nova edição. Desta vez, depois de Natacha Atlas e Mário Lúcio será Yasmine Handan, 11 de outubro e Iva Bittová & Paolo Angeli, 12 de dezembro a terminar mais um Ciclo. Carlos Moniz marcou presença e realçou o trabalho da Fundação na cultura e nas diferentes formas populares destacando o impacto do Ciclo Mundos “quanto mais difícil de compreensão forem alguns artistas mais se vai alargando essa procura do que não é hábito”. Raquel Bulha, comunicadora e apresentadora, afirmou que o Ciclo tem a capacidade de “proporcionar aos lisboetas e arredores contacto com estas músicas que também são altamente cativantes e que as pessoas precisam de ver mais, de estar mais presentes”. E presente também vai estar o público no Festival Músicas do Mundo. António Chainho explica o sucesso do FMM pelo facto de dar a conhecer o que não se ouve noutros palcos, “as pessoas não têm conhecimento da música árabe, da música oriental, da música africana já para não falar da música indiana que é considerada uma das mais avançadas do mundo”, e de 21 a 29 de julho têm a oportunidade de conhecer, em Porto Covo e Sines. Chainho acrescentou ainda o facto de “consumirmos” cada vez mais música portuguesa nos festivais, incluindo o Fado, motivo de satisfação para o músico que vai abrir o Festival Músicas do Mundo, primeiro concerto, dia 21 de julho, às 19h00, em Porto Covo. Durante a gala assistiu-se ao espetáculo de Dane Estrela e Sopa de Pedra. Para Danae, cantora e compositora, a viver em Portugal, cidade pela qual se apaixonou depois de ter nascido em Havana e crescido em Santiago, e onde encontrou “a sensação de terra, e onde partilho e onde crio, toda a minha bagagem cultural e a minha herança cultural”. De pé descalço, viaja com o público por África e Europa, piscando o olho ao estilo latino, um concerto que abriu de novo o ciclo. Também as Sopa de Pedra estiveram presentes, portuguesas, grupo vocal feminino, juntas desde 2012, deixam o melhor do canto a capella, com canções de raiz tradicional, por onde passam. A fechar a noite, num concerto aberto ao público, foi Natacha Atlas quem encheu o Teatro da Trindade Inatel. Para a ver, passaram por lá a vocalista dos Orquestrada, a apresentadora Filomena Cautela e a atriz Benedita Pereira, que admitiram ir “à descoberta”, assim como Pedro Caeiro e Miguel Nunes que já conheciam o trabalho da mulher do jazz. A jornalista Cândida Pinto, uma fã incondicional de Natacha também não podia faltar. Natacha Atlas pisa o palco entoando o seu lado europeu, o egípcio, sem esquecer o médio oriente, e talvez por isso, por ser tão versátil, faz dela uma cantora transversal, sem fronteiras. Sem fronteiras, tem sido o caminho do Festival Músicas do Mundo, um caminho que se cruza com o Ciclo Mundos, e é por isso que eles escrevem mais um capítulo juntos. Mais um de muitos.

Maria João Costa

Entrevista Mário Lúcio

o conto (e o canto) do alforriado despido de todos os medos

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rtista completíssimo e exministro da Cultura de Cabo Verde, Mário Lúcio foi uma das figuras no regresso do Ciclo Mundos ao Teatro da Trindade Inatel, no passado dia 13 de junho, naquele que foi provavelmente o concerto-tertúlia mais emotivo desta programação da Fundação Inatel iniciada no verão de 2016. A 29 de julho, Mário Lúcio regressa ao nosso país e ao Castelo de Sines para, na 19.ª edição do FMM, o principal festival nacional de músicas do mundo, apresentar as origens, a evolução e as irmandades transcontinentais do funaná registadas no álbum “Funanight”. Mais do que uma viagem pelo tempo e pelos lugares deste ritmo criado na Ilha de Santiago, este não disco (como Mário Lúcio se refere a “Funanight”) é sobretudo “um grito despido de todos os medos, despido de todas as prováveis interpretações ou críticas”, por quem já passou o Cabo das Tormentas e sobreviveu. O álbum “Funanight” parece-me o terceiro capítulo de uma trilogia iniciada com o “Badyo” ao qual se seguiu “Kreol”. É mais uma viagem que faz como se estivesse a contar uma história para um livro que surge publicada em disco. Sim, é verdade. Ainda não tinha tido essa percepção. Mas faz sentido. O

“Badyo” foi a primeira viagem que fiz para compreender os ritmos da Ilha de Santiago, mas não os ritmos na Ilha de Santiago. Porque esses ritmos viajaram para a Ilha do Fogo, Santo Antão, São Nicolau, São Vicente… Quis ver como é que sofreram todas as transformações nas várias ilhas. No “Kreol” quis compreender de onde é que esses ritmos tinham vindo até chegarem à Ilha de Santiago para partirem depois para as outras ilhas. Fiz essa viagem em diário de quilómetros pelo Senegal, Mali, Martinica, França, Portugal, Cabo Verde, Cuba e Estados Unidos para perceber esse fenómeno da crioulização da música. E o “Funanight” é uma viagem ao meu interior para encontrar as minhas raízes numa memória que é a infante de todo o músico: – Qual foi o meu chamamento para a música? Com que música? Em que momento? Fui procurar a síntese desta trilogia porque quando viajamos para dentro de nós encontramos as respostas. “Funanight” é um disco dedicado a um só género musical, o funaná, mas é provavelmente o disco mais ecléctico que já gravou. Retrata o funaná desde as origens, à expansão pelo mundo e ao regresso a Cabo Verde [transformado]. O funaná é o ritmo mais ecléctico que temos em Cabo Verde. É o ritmo que mais se trabalhou em termos de estilização nos últimos anos por vários grupos

como o Bulimundo, Finaçon, Tubarões, Livity, Rabelados e compositores como o Code Di Dona, Kaká Barbosa, Norberto Tavares e que um dá o seu cunho pessoal, segundo a região onde nasceu, a época, etc. Quando fazemos esta viagem pelo funaná percebemos que nós temos o funaná morna, ao qual chamamos o funaná lento, cuja temática é basicamente o lamento, a tragédia, as viagens a São Tomé, os martírios, as fomes, etc. Depois há o funaná samba que é um pouquinho mais alegre, de salão, que é muito misturado com a cadência de outras ilhas, basicamente de São Nicolau. Depois temos funaná corre cavalo, funaná kaminhu di férru e agora temos um ritmo contagiante que surgiu nas periferias da capital chamado cotxi pó. Um ritmo fogoso, quase techno, cheio de loops, que está a conquistar o ghetto, mas também a Cidade da Praia e a outras ilhas. Nesse percurso, os músicos dos instrumentos electrónicos experimentaram sintetizadores, guitarras eléctricas, pedais de distorção, efeitos, arranjos complexos, instrumentos diversos como o Piano Fender Rhodes, saxofone, trompete, várias coisas, até funaná rock. Dentro da história recente do funaná, o Paulino Vieira foi mestre nisso. Pegou no funaná mais castiço da Ilha de Santiago, que se chamava pó di terra, e introduziu uma guitarra de distorção e efeitos. No meio


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faz um solo extraordinário, o mais Jimi Hendrix possível. Tudo isso abriu-nos caminhos. Por isso é que é possível gravar vários discos de funaná sem repetir um único ritmo como acontece neste disco. Falava do lado mais rock do funaná. No “Funanight” há um tema que é o “Nandinha” no qual teve a oportunidade de ir buscar o Zeca Nha Reinalda, a ilustre voz de Finaçon. Um tema que eles já tinham gravado há mais de trinta anos. Sim. O tema ouvi por acaso em 1985. Acho que foi gravado em 1984. Estava a estudar em Cuba há um ano. Quando regressei de férias em 85... Em casa de um amigo arquitecto Pedro Gregório, chamado aliás O Arquitecto... Ele foi o primeiro arquitecto reconhecido em Cabo Verde, até que trocou o nome de registo pelo nome da profissão... Ouvi essa música e percebi imediatamente que o grupo Finançon queria fazer algo de diferente do Bulimundo que tinha muita influência rock, porque o Katchás tinha muita influência de Eric Clapton, John McLaughlin e de Al Di Meola. Claramente, ele utilizava isso mais para esse lado do blues, do pop rock. O Finaçon que entrou em ruptura com o Bulimundo… Saíram elementos como o Zeca, o Zezé, depois juntaram-se a eles outros elementos que pertenceram ao Bulimundo... Parece que quiseram dar um grito de rebeldia e que a ruptura não fosse apenas em termos pessoais, mas que fosse também em termos de novas ideias musicais. Havia ali vários compositores, várias ideias, vários estilos, eram músicos que tinham vindo de outros grupos, de outras experiências musicais. Essa música tinha um sintetizador muito forte, era rouco, rasgado, a imitar exactamente uma guitarra com distorção. A forma como faziam os interlúdios muito batidos, muito acentuados com guitarra, acho que quiseram partir a loiça e para aquela época já era muito. Ficou-me na memória e disse que um

dia ia gravar essa música de acordo com a memória que eu tinha do funaná. 32 anos depois, quando já estava a meio da preparação do “Funanight”, gravei este tema. Então chamei o jovem Sorin Araújo, filho da Terezinha Araújo, cantora dos Simentera. Ele é um dos grandes metaleiros de Cabo Verde, mas de nível mundial. Pedi-lhe um arranjo, ele fez-me uma versão muito lenta, ele sentiu a música como um lamento. Mas eu disse que essa música era um grito, uma estratégia que o Finaçon utilizava. E passámos o beat para 110, 120 bpm. Eles trouxeram-me esta música e disse: É o que eu quero. Fiz um outro arranjo de funaná tradicional no mesmo beat. Na mistura é que juntámos as duas coisas e deu esse fenómeno que também surpreendeu Cabo Verde e conquistou o público cabo-verdiano de uma maneira que nunca antes tinha visto. E convidei o Zeca Nha Reinalda para cantar nessa música, no dia de apresentação do álbum no Auditório Nacional em Cabo Verde. Na terceira música, o público já estava completamente em transe. Lembro-me de ter dito para comigo: “O espectáculo está apenas a começar. Tens de aguentar este público senão não consegues fazer uma hora de espectáculo”. Havia muita coisa para ouvir e para conversar. Fomos indo, fomos indo. Quando chegou ao “Nandinha” foi a explosão, como se um cano de água tivesse rebentado. No final da música, a plateia pôs-se furiosamente de pé a aplaudir. Não estavam à espera daquela mistura do funaná com o heavy metal. Depois coloca-se água na fervura com uma balada. A energia dos seus espectáculos tem de ser doseada... Com certeza. A forma como canto, mesmo que a música tenha uma batida ou um groove muito acelerado, há alguma calmaria a fazer o equilíbrio na minha voz e nas minhas linhas melódicas. O próprio disco tem temas como o “Cutelo Baxo” que é uma

“A forma como canto, mesmo que a música tenha uma batida ou um groove muito acelerado, há alguma calmaria a fazer o equilíbrio na minha voz e nas minhas linhas melódicas” viagem cósmica. Isso faz com que o espectáculo seja exactamente como a vida, com momentos de explosão e de recolhimento. Há em “Funanight” também uma interligação entre o funaná e o reggae na versão crioula que fez de “Who The Cap Fit” de Bob Marley. Acha que existe esta ligação através do espírito libertador? O funaná tem ligação com vários ritmos crioulos. Não é por acaso que um dos instrumentos fundamentais, sem o qual dificilmente o funaná seria tocado, é a caneca ou cowbell. Parece tão secundário mas é ele que dá a toada. O cowbell é usado na música haitiana, cubana. Há muitas ligações entre estes países e nós escolhemos uma terceira via. A forma de tocar é diferente. Quando o Bulimundo se formou, foi buscar um baixista que é um caso único do mundo. Chama-se Silva. Ainda está a tocar. É um rapaz dos seus dois metros e dez. Parece o antigo jogador de basquete Kareem Abdul-Jabbar. Ele é uma das peças fundamentais do funaná tal e qual

o escutamos hoje. Onde é que ele foi buscar aquele baixo? Não sei se foi de propósito, ou se foi uma benção divina, mas toca igual ao Aston Barrett, baixista do Bob Marley, que é fundamental para a música poder respirar e ganhar aquela cadência, de dois em dois tempos, de três em três tempos, cinco... Fazer essa jogada inesperada de onde é que vai entrar o baixo. O funaná, no acordeão diatónico, é completamente afogado pela mão esquerda que faz o baixo contínuo permanente. Vi essa ligação musical. Mas a nível social, são músicas que coincidiram com o final da escravatura. Os instrumentos estavam lá, os cânticos também. No final do Séc. XIX, quando os homens ganharam a liberdade, faziam-se festas todas as noites. Muitos escravos que tinham poupado alguma coisa foram à falência quando descobriram as lojas, os bailes, as festas. Mas era a celebração da liberdade. O reggae e o funaná tiveram um papel fundamental, como o forró e o xaxado no Brasil. São vários ritmos provenientes da necessidade de se dançar aos pares. O funaná foi o primeiro género caboverdiano a ser dançado aos pares. Há essa similitude, essa libertação, essa libertinagem. No estudo que elaborou, conseguiu perceber como é que era o funaná, antes de chegarem os instrumentos europeus? Apenas voz e ritmo percutido no corpo? Na verdade, antes dos europeus chegarem a Cabo Verde não havia nada. As ilhas eram desertas. Não era como Cuba ou como a Jamaica em que havia uma população autóctone. Os instrumentos que entraram começaram a conformar vários géneros musicais. Porque havia os chamados escravos domésticos. Daí a palavra crioulo que quer dizer criado. Eles dominaram o violão, o violino, o piano. Foram fazendo várias músicas. Tocaram valsas, marchas, polcas, contradança, mazurka. Ao mesmo tempo, os escravos no campo


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batiam no próprio corpo para produzir som. Depois fizeram tambores. Muito poucos tambores por causa da escassez das árvores e da pele dos animais. Usaram conchas e búzios. Nasceram vários géneros musicais. O funaná em si é um caso interessante porque o nome é recente. A música, a forma de se cantar já existia, mas não tinha esse nome. Ia-se cantando a capella. Quando o instrumento [acordeão diatónico] apareceu, o primeiro nome que se deu à música produzida por esse instrumento foi badju l’gaita. Baile de gaita. Havia também o baile de violino ou de piano em que se tocavam marchas, mornas, vários ritmos que tinham vindo com esses instrumentos. Porque é que chamam gaita à concertina? O instrumento ganhou vários nomes, que têm muito a ver com a emigração, com os marinheiros e com os pescadores. O instrumento conhecido como acordeão era o cromático. Quando se fabricou o acordeão diatónico ganhou vários nomes em vários países: concertina, sanfona, porque não havia um nome para o instrumento. Porque o diatónico é muito complexo e não quiseram chamá-lo de acordeão. Havia um conflito inclusive com o acordeão entre a igreja católica e a protestante. Em Cabo Verde deu-se o nome de gaita por causa da semelhança sonora que havia com os instrumentos galegos e irlandeses que os marinheiros conheceram na rota da pesca da Baleia, em Massachusetts. Depois, o funaná é uma onomatopeia. Quando mais tarde

passamos do badju l’gaita para este instrumento que faz fun / na / na, fun / na / na. Como aqui, em tempos, utilizouse o termo fungagá. São onomatopeias relativas a instrumentos. Fantástica descrição [risos]. Neste “Funanight” há ainda uma profunda relação com a música zulu sul-africana, sobretudo ao nível da riqueza das polifonias vocais. E isso já vem desde os tempos dos Simentera com vozes muito harmoniosas que faziam lembrar Ladysmith Black Mambazo. Exactamente. Como é que isto acontece? Acho que tem a ver com um segredo que a ciência guarda. O nosso maior arquivo são as células. E já está provado que o coração tem seis mil vezes mais capacidade de armazenamento do que o cérebro. Mas também faz isso por causa de ramificação. Cada célula guarda milhões de informações. Não só informação física, ADN, etc., mas também informações de memória. Eu também me questionava de onde vinha este fascínio pela música sul-africana. Alguém na minha ascendência remota deveria ter tido essa sina. Desde os Simentera, como bem reparou. Não foi a ouvir o “Graceland” de Paul Simon ou Johnny Clegg and Savuka, nos anos 80? Não sei. Ouvi muito o “Graceland” de Paul Simon e lá descobri Ladysmith Black Mambazo, mas o engraçado é que quando tinha seis ou sete anos de idade dava primazia à polifonia. Sempre gostei. Daí também o meu fascínio para o canto

dos Rabelados, que é o único canto que temos na cultura cabo-verdiana, de forma tradicional. Porque vem do canto Gregoriano. São homens que saíram em guerra com a igreja e se isolaram e guardaram essa forma de fazer a missa cantada. Era esse o meu fascínio. Brincava muito com os meus irmãos ao fazer muitas vozes. Ainda hoje, nos meus discos, faço todos os coros. De mulheres, de crianças. Porque continuei brincando. Não perdi a voz que tinha de criança. Neste tema do Bob Marley, quem faz as três vozes femininas sou eu [risos]. Basta entrar em transe e chega-se lá sem nenhuma alteração no computador. De facto, em todos os meus discos há essa carga polifónica, desde os Simentera até “Funanight”, mas mais para o lado da África do Sul. Provavelmente é um gene que existe em mim que me leva a procurar ainda mais essas raízes remotas. Por último gostaria de saber se o facto de ter exercido um cargo governativo, à semelhança do que aconteceu com Gilberto Gil no Brasil, ou com a Susana Baca no Perú, altera a forma de escrever um poema, de compor uma canção. Tem agora uma outra visão das coisas? Muda sempre. Qualquer acontecimento na nossa vida, que significa um elemento novo, vai acrescentar, vai-nos mudar. Vejo alguma mudança nos casos da Susana Baca, do Gilberto Gil e do Youssou N’Dour, porque o artista cresce muito na gestão dos conflitos. O artista recebe aplausos, não é um homem de conflitos. De repente, está lá para dar a cara, o peito, gerir vários egos, várias ignorâncias e

várias sabedorias, curvar-se quando tem de se curvar, submeter-se quando tem de se submeter, ser firme quando tem de se ser firme, etc. Tudo isto feito numa perspectiva de que nós somos aquilo que somos e viemos para exercer segundo o que somos com todas as consequências que isso tem. Há também uma espécie de contenção, de fiscalização permanente. De um trabalho diário duro. Você não tem tempo para estar com os amigos, ser animal de vez em quando, perder a cabeça, etc., etc. Isso vai ficando contido. O que é muito bom, porque logo a seguir há uma vontade extraordinária de dar o grito. No meu caso, há essa sensação de escravo alforriado e então nesse momento penso que não tenho mais nada a perder. Só ganhei. Agradeço a Deus por este ganho. E vou explodir, vou fazer aqui uma loucura. Este disco está destinado a ser um não disco. Devia de ser de platina antes de ter sido gravado para que se lhe atirassem todas as pedras e não se partisse [risos]. É um disco de metal, de pedra basáltica, despido de todos os medos, despido de todas as prováveis interpretações ou críticas, porque não me interessa. Já estou na pós-análise. Como alguém que sobreviveu a um naufrágio, ou alguém que se perdeu no deserto. Essas experiências transformam-nos para sempre. Quando se aceita tudo o que nos acontece na vida, tudo é um acréscimo. Isso dá um upgrade extraordinário à nossa forma de escrever, de dizer as coisas. As metáforas amadurecem. Luís Rei [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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Opinião

DR

Turismo Sustentável para o Desenvolvimento

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Por Helena Freitas

decisão de assinalar 2017 como o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento, acontece num momento em que a comunidade internacional assume um compromisso com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, aprovados pela Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de 2015. É portanto uma conjugação oportuna e desejável, na perspetiva dos entendimentos e da confirmação de uma agenda política para um desenvolvimento global mais harmonioso e mais justo. O setor do turismo assume uma crescente importância na economia global e de forma muito evidente na economia portuguesa, constituindo uma alavanca fundamental para a prosperidade dos territórios. Trata-se de uma tendência que parece resultar de uma dinâmica imparável, resistindo a crises de natureza económica, e a todo o tipo de ameaças terroristas. De acordo com dados da Organização Mundial do Turismo, a previsão do crescimento do turismo mundial até 2020 é de cerca de 4%. Os efeitos económicos do turismo assumem uma relevância crescente nos países destinatários, e fazem-se sentir quer nas atividades turísticas diretas, ou seja, alojamento, restauração, serviços de trans-

porte, e animação turística, quer num tes sobre o ambiente e sobre a qualidade e conjunto de outras atividades que dele sustentabilidade dos ecossistemas e recurbeneficiam indiretamente, como sejam, o sos naturais, sob pena de condenarmos os comércio, a indústria, as comunicações, o elementos atrativos que nos distinguem. 2017 é o Ano Internacional do Turismo setor bancário e as empresas seguradoras. Portugal tem feito um percurso muito Sustentável, e é por isso também uma eficaz na concretização de uma estratégia oportunidade para avaliarmos o impacte da atividade turística nos de afirmação turística no territórios e prevenir os mundo, registando uma seus efeitos mais controprocura crescente, e senPortugal tem versos. Essa estratégia imdo mesmo um dos países feito um percurso plica, desde logo, colocar europeus que apresenta a sustentabilidade como uma evolução mais signimuito eficaz na condição para viabilizar as ficativa enquanto país desconcretização de apostas no setor, e conditinatário. O impacto desta cionar o que for necessário evolução é notável, admiuma estratégia para garantir o equilíbrio tindo-se que em Portugal de afirmação dos usos e a preservação o turismo ocupa, direta ou dos recursos; é preciso anindiretamente, 10% da poturística no tecipar e estudar os cenápulação ativa. mundo, registando rios e desenhar as melhoSe é certo que este impacres soluções. to positivo na economia uma procura Portugal deve continuar nacional deve encorajar crescente, a trabalhar para ser um o apoio político à atividadestino competitivo, mas de, também é fundameno argumentário será tanto tal incentivar a qualidade e a diversidade da aposta assente numa mais sedutor quanto melhor souber privimatriz genuína e identitária dos nossos legiar a sintonia com os territórios, inteterritórios, privilegiando uma visão am- grando objetivos de sustentabilidade, fapla, programática, e orientada para o todo vorecendo a preservação da natureza e a nacional, tendo em conta o conjunto das salvaguarda dos benefícios das comunidaregiões e a diversificação da oferta interna, des, a harmonia das cidades, das vilas e das mas não deixando de acautelar os impac- aldeias, e a qualidade da oferta integrada.


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Viajando com livros

Pessoa, uma casa para o mar absoluto O dia a dia de Fernando Pessoa deixou-lhe marcas profundas. Solitário inveterado, umas vezes alheio ao que o rodeava, outras, à procura dos vínculos da cidade consigo próprio e os outros, fez da rotina das «secretárias velhas do escritório» e das «paredes reles dos quartos de aluguer» símbolos da sua independência e liberdade interior Por António Valdemar

O

s lugares e trajetos, que percorria, «a pobreza das ruas intermédias da Baixa usual», «a náusea da quotidianidade enxovalhante da vida», eram o chão sobre o qual o seu sonho se erguia. «Por que fiz eu dos sonhos /a minha única vida?» Já a morar com a família, em Campo de Ourique, no primeiro andar do número 16 da rua Coelho da Rocha, sem a instabilidade do hóspede que transita de bairro em bairro, do Carmo para a Estefânia, do Conde Redondo para Benfica, admitiu a hipótese de possuir uma casa em Cascais. Enquanto o Estoril se transformava numa praia cosmopolita, com os grandes hotéis, os restaurantes famosos, a agitação do Casino, os espetáculos de música, as competições desportivas, Cascais permanecia com a tranquilidade de uma vila remota e aberta ao mar. Continuava com os seus habitantes tradicionais e uma frequência própria entre os meses de junho a setembro. Contudo, as velhas famílias da nobreza haviam entrado em decadência. A época de grande movimentação e convivência mundana de Cascais principiara, em 1870. O rei D. Luís escolhera a cidadela como uma das residências de Verão. Passou a ser – afirmou Ramalho Ortigão – «a plena vida da corte, o centro mais completo da vida elegante em Portugal». Sucediam-se as partidas de pesca, as reuniões no parque da Duquesa de Palmela, as noites, na cidadela, presididas pelo rei. «Os homens – observava Ramalho – que quiserem fazer o que se chama a entrada no mundo a investidura social, devem procurar esta praia para abrir a brecha, para penetrar na praça». Mas não deixava de recomendar ao burguês com a ambição de carreira política que, para ser recebido por essa sociedade, ciosa de pergaminhos e repleta de convencionalismos, «em que se pegam os touros, em que se toca a guitarra, em que se dança o fado», que havia regras de jogo a cumprir. O burguês não deveria tocar o fado, não deveria pegar os touros, não deveria beber, nem fumar. Nem, muito menos, «deitar para traz o chapéu dando-lhe um piparote». «Isso» – conclui Ramalho – «faziam os fidalgos»... Teria de se apresentar «fácil, complacente, obscuro, nulo»; teria de ir à confissão, à missa e à comunhão, teria de mostrar um ligeiro «ar idiota, inofensivo, pascácio». Este comportamento garantia «um sucesso infalível». Assim aconteceu ao longo de 40 anos, nos reinados de D. Luís, de D.

Carlos e, ainda, de D. Manuel. Proclama- to. Não posso, infelizmente, abandonar os da a República, a 5 de Outubro de 1910, e escritórios onde trabalho (não posso, é clao exílio da família real para Londres, sur- ro, porque não tenho rendimentos), mas giu uma nova classe política. Cascais pas- posso, reservando para o serviço desses sou a ser outra. escritórios dois dias de semana (quartas e É então que Fernando Pessoa, por duas sábados) ter de meus e para mim os cinco vezes, pensou ter casa em Cascais: quan- restantes». do namorava Ofélia e, anos depois, ao Em Cascais Fernando Pessoa encontraconcorrer para bibliotecário e conservador ria o Caminho da Serpente? A via iniciática do Museu Castro Guimarães mas não con- era uma das suas fontes de conhecimento. seguiu ser admitido, por falta das habili- Através da sabedoria hermética procurava tações oficiais exigidas para desempenhar «Reconhecer a verdade como verdade,/e o cargo. ao mesmo tempo como erro;/ viver os conContudo, a irmã Madalena e o cunhado trários, não os aceitando;/ sentir tudo de Francisco Caetano Dias tinham casa em todas as maneiras, e não ser nada no fim, São João do Estoril. Ali Fernando Pessoa se não o entendimento de tudo./ Quando se instalava, às vezes, aos fins de semana. o homem se ergue a este píncaro,/ está liAs fotografias com a irmã, o cunhado e os vre,/ como em todos os píncaros,/ está só,/ sobrinhos Manuela e Luís Miguel mos- como em todos os píncaros,/ está unido tram Pessoa em família. ao céu,/ a que nunca está A ligação a Cascais e ao unido,/ como em todos os Estoril ficou ainda regis“Cascais aproximava píncaros». tada nas Cartas de Amor Um dos sítios emblemáFernando Pessoa do ticos de Cascais constituiu, para Ofélia e, em especial, no Livro do Desasaliás, o cenário para Ferencontro possível sossego, de cuja edição, Pessoa colaborar com a luz, o sol, as nando organizada por Teresa numa mistificação com árvores, o silêncio Rita Lopes, extraímos Aleister Crowley e que teve citações que se deparam repercussão nacional e ine, sobretudo, do no decurso deste artigo. ternacional. A retificação Guincho ao Cabo Era o tempo em que os de um horóscopo de Croda Roca, o ponto comboios circulavam dewley, feita por Fernando vagar. Ainda não havia Pessoa, estabeleceu uma geográfico mais dormitórios de Lisboa, com aqueocidental da Europa, correspondência a explosão anárquica da le mago que se considerava com a amplitude construção civil. Pessoa, herdeiro do legado esotéquando lhe apetecia, dirico de Cagliostro. Até que do mar e com a rigia-se até à estação do veio expressamenreinvenção do mar” Crowley Cais do Sodré e ia-se até te a Lisboa para consolidar Cascais. Sentia «o prazer uma relação pessoal. Terão de ir, uma hora para lá, sido recíprocos os laços de uma hora para cá, vendo aspectos sempre identificação, de tal modo que, juntamenvários do rio e da foz atlântica», (...) «cada te, com Pessoa, Crowley fabricou o seu casa por que passo, cada chalé, cada casita próprio suicídio, na Boca do Inferno, a isolada caiada de branco e de silêncio em fim de se libertar da não menos excêntricada uma delas num momento me con- ca e impetuosa «mulher escarlate» que o cebo vivendo, primeiro feliz, (...) cansado acompanhava, e sua assistente nas prátidepois», (...) «pela arte especial que tenho cas ocultistas, Hanni Larissa Jaeger. de sentir ao mesmo tempo várias sensaIndependentemente destas peripécias, ções diversas, de viver ao mesmo tempo Cascais aproximava Fernando Pessoa do – e ao mesmo tempo por fora, vendo-as, encontro possível com a luz, o sol, as áre por dentro sentindo-as – as vidas de vá- vores, o silêncio e, sobretudo, do Guincho rias criaturas». ao Cabo da Roca, o ponto geográfico mais «Preciso cada vez mais – escreveu tam- ocidental da Europa, com a amplitude do bém, numa carta – de ir para Cascais» (...) mar e com a reinvenção do mar. Muito «Cheguei à idade» (...) «de realizar a minha daquilo que Álvaro de Campos celebrara obra literária, completando umas cousas, na Ode Marítima e que Cecília Meireles, no agrupando outras, escrevendo outras que outro lado do Atlântico, deu como título estão por escrever. Para escrever essa obra de um dos seus livros de poemas – o Mar preciso de sossego e um certo isolamen- Absoluto.


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A Casa na árvore A árvore da chuva dourada em flor na Rua Fernão Lopes, ao Saldanha, Lisboa. Em baixo, pormenor de flores e cápsulas de sementes

Há 246 anos, a árvore da chuva dourada floriu pela primeira vez na Europa Por Susana Neves

A viagem de Luan Shu E nviado à China, em 1740, o padre jesuíta francês Pierre-Nicolas le Chèron d’Incarville tinha por missão converter ao catolicismo o imperador Qianlong e descobrir novas espécies vegetais. Mas o imperador, seguidor do budismo tibetano, não se mostrou interessado e interditou-lhe o acesso aos seus jardins em Pequim. No entanto, uns anos mais tarde, ao ver uma planta (Mimosa pudica) encolher-se ao ser tocada – que o jesuíta fizera crescer a partir de sementes enviadas de França –, Qianlong, também poeta, calígrafo e pintor, ficou tão encantado que lhe abriu as portas do jardim imperial. Ao manter uma relação cordial com o imperador, o padre Incarville viria não só a introduzir plantas europeias na China como seria o responsável pela introdução de espécies vegetais chinesas na Europa, entre outras: a árvore-do-céu, o mogno da China, a acácia-do-Japão e a árvore da chuva dourada (Koelreuteria paniculata Laxm.), tema desta crónica. De três em três anos, uma caravana russa de camelos ligava a China à Europa, trazendo muitas e apetecíveis mercadorias (entre elas, o chá) e correspondência científica. Incarville mantinha uma relação epistolar com alguns botânicos russos, enviando secretamente pacotes de sementes. Chegava a apelar ao sigilo para evitar ferir susceptibilidades dos seus compatriotas franceses, com os quais também se correspondia. Num desses pacotes seguiram as sementes redondas e escuras da árvore da chuva dourada, uma espécie que na China se distinguia, por ser plantada junto dos túmulos dos mais importantes funcionários do Estado. Segundo o texto clássico chinês sobre ritos e rituais (Zhou Li), nos cemitérios, junto aos túmulos, eram plantadas simbolicamente cinco espécies de

árvores: os pinheiros destinavam-se aos imperadores; as tuías, aos príncipes; a árvore da chuva dourada, aos funcionários; a acácia-do-Japão, aos estudiosos; os salgueiros, ao povo.

As sementes enviadas para a Rússia deverão ter chegado cerca de 1750, porque no quente Verão de 1771, o botânico de origem finlandesa, Erik Laxmann, afirma ver a árvore florir pela primeira vez, vinte anos

depois de ter sido plantada nos jardins de Inverno da Academia de São Petersburgo. Emocionado, nesse mesmo Verão, a 5 de Agosto, escreve uma carta ao famoso cientista Carl Linnæus, enviando-lhe uma folha da árvore e uma breve descrição em latim. Numa publicação científica de 1772, e por homenagem ao botânico alemão Joseph Gottlieb Koelreuter, que descobrira o papel dos insectos na polinização cruzada das plantas, Laxmann decide baptizar a delicada árvore da chuva dourada, chamada na China de Luan Shu, com o pesado nome de Koelreuteria. Um nome que não faz justiça à sua beleza subtil. No verão deixa cair para o chão milhares de pequeninas flores amarelas, logo “transformadas” em sementes, protegidas por cápsulas em forma de lanterna chinesa, que as transportam como um balão de ar e as iluminam se a luz as atravessa. No Outono, as cápsulas já castanhas contrastam com as folhas verdes escuro, depois amarelas e vermelhas, persistindo mesmo depois de a árvore ficar despida até à floração seguinte. Luan Shu não se diz de uma só maneira na China nem o seu valor é exclusivamente ornamental. As suas sementes e a casca eram usadas para fazer espuma e serviam como sabão (daí pertencer à família das Sapindáceas); em tempos de fome comiam-se as folhas; das flores obtinha-se a cor amarela e eram utilizadas na farmacopeia chinesa para tratar a conjuntivite e o excesso de produção de lágrimas. Recentemente, descobriu-se que esta árvore não é apenas resistente à poluição urbana e ao vento marítimo, mas limpa solos contaminados, removendo metais pesados que se encontram no chão de zonas mineiras abandonadas.

[A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]


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MEMÓRIAS DE JÚLIO ISIDRO

FLOWER POWER, O PODER DE UMA FLOR “A memória é o perfume da alma” A partir de hoje estarei aqui a partilhar convosco memórias de uma vida cheia de acontecimentos inesquecíveis e outros desejavelmente esquecíveis, pessoas e outros seres que parecendo pessoas não eram, aventuras e porventura algumas desventuras, se não, não seria uma vida como a de toda a gente. Aspirem o perfume da memória e divirtam-se

A

geração dos anos 60 sonhou, sofreu e venceu. Acreditou que a paz era possível e bateu-se por ela, às vezes de uma forma desordenada e até violenta, mas acreditou que a cantar também era possível mudar o mundo. Essa geração, agora grisalha, continua a acreditar no slogan “Make love not war/ Façam amor, não a guerra” e que um dia a imaginação também chegará ao poder. Claro que os tempos mudaram, o romantismo tem andado retirado das vidas de muita gente, mas a guerra pela paz, é um sonho que um dia será realidade. Pois nos primeiros dias deste mês de Agosto, 3, 4 e 5, a praia de Carcavelos vai ser um pouco do nosso Woodstock ou da ilha de Wight. O Flower Power Festival Cascais é um acontecimento único no nosso país. Numa viagem pela memória dos chamados bons velhos tempos – como se todos os tempos não fossem bons – junta as famílias para saborearem em harmonia os sons do tempo “em que o teu pai era miúdo” ou “o avô namorava com a avó” e “o tio tinha ido para o Ultramar”. As rádios não tinham play lists e davam a ouvir os jovens Beach Boys lá da Califórnia com camisas às flores. Pois vão estar no palco em tributo aos rapazes da praia, The Beach Boys band, que soam tal qual os originais. Que “Good Vibrations” vamos ter, enquanto os surfistas vão poder andar na crista das ondas ao som de “Surfin’the USA”. No rock daquele a rasgar, vão estar no palco os míticos Ten Years After que recordo de ter visto ao vivo no Marquee Club em Londres há muiiitos anos! Mesmo depois da perda do genial guitarrista Al-

vin Lee não vão dar descanso às pernas e braços menos exercitados. E, têm como convidado o nosso UHF António Manuel Ribeiro que deve estar em brasa para entrar nesta cena. Não sei se algum português terá estado no Festival de Woodstock em 1969, mas agora vão poder entrar no espírito da coisa com a Woodstock Band a recriar temas de Joe Cocker, Jefferson Airplane, Janis Joplin, The Band, muitos outros, e a colaboração especial de Nuno Barroso. E se têm saudades de David Bowie, não percam o concerto mágico de David Brighton com a Space Oddity Band que até impressiona pela semelhança com o génio que nos deixou há tanto e tão pouco tempo. Há um dia para as famílias se balancearem com o reggae que chega com os ja-

maicanos Inner Circle que são são “Bad Boys” na canção, e os californianos Big Mountain, os tais que fizeram do tema “Baby I love your way” os desejos mal contidos de muita gente nova. E portugueses? Os Taxi estão de volta! Não vêm de Uber e chegam à praia de Carcavelos directamente do “Cairo” a mascar “Chiclete”. É um sensacional retorno desta banda que tenho o orgulho de ter lançado em televisão no meu Passeio dos Alegres há trinta e tal anos. Claro que vão fazer todos os temas que sabemos de cor, acrescidos de novidades de que destaco o novíssimo “Reality show” que invadiu a internet e muitas rádios. Há tanto para reviver nestes três dias de Flower Power com os pais de olhos no ar a recordarem os seus tempos, e os filhos ou até netos a confirmarem de ouvido que também já havia grandes músicas antes daquelas que lhes vendem como se o mundo tivesse começado hoje. Haverá tendas com roupa de época, cabeleireiro para cortes daquele tempo, artesanato, pinturas psicadélicas para a miudagem e as coisas boas de comer que fazem mal, mas é só hoje, à disposição. Apareçam, tragam a família e uma flor, porque a Paz é possível. [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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Entrevista Ana Mendes Godinho secretária de Estado do Turismo

“Ainda há pouco conhecimento do que existe para lá do litoral” Ana Mendes Godinho, 45 anos, é licenciada em Direito, mas tem sido na área do turismo que tem feito a sua carreira. Assumiu a secretaria de Estado em Novembro de 2016 e o grande desafio que tem pela frente é criar condições para que esta deixe de ser uma actividade sazonal e confinada ao litoral. O Governo, garante, está a mobilizar todos os esforços para que o turismo seja um motor de desenvolvimento regional. Os turistas estão desejosos de conhecer a autenticidade de Portugal e quando a descobrem “ficam deslumbrados”, assegura

P

assa as semanas a viajar pelo país e conhece bem os produtos que estão a ser desenvolvidos nas várias regiões com o objectivo de levar o crescimento do turismo para lá do litoral. Recusa, contudo, que haja turismo a mais, mesmo em Lisboa. O Oeste é o seu lugar de eleição, onde passa férias desde criança, mas todos os anos escolhe uma região para ir com os três filhos. As férias, confessa, são também um laboratório de experiências para testar as iniciativas que estão a ser construídas e comunicadas. A sazonalidade é um dos principais desafios que se colocam ao desenvolvimento do turismo em Portugal. Como é que se ultrapassa este obstáculo? A sazonalidade é uma das fragilidades da actividade turística, assumida desde o início por este Governo. Aliás, na Estratégia do Turismo para os próximos dez anos, que construímos com todos os players e com as regiões, foi identificada como um dos factoreschave que temos de trabalhar. Só se tivermos uma actividade turística sustentável ao longo de todo o ano, conseguiremos ter emprego estável e desenvolvimento regional equilibrado; e não uma actividade que só ocorre em determinadas alturas do ano, com picos de procura. Assumimos claramente que nos íamos concentrar em grandes objectivos. Um deles passa por promover actividades que tragam procura turística ao longo do ano ao nosso território. Para isso, temos de garantir acessibilidade aérea e voos

regulares durante todo o ano. Dou o exemplo concreto do Algarve. Grande parte dos voos estavam concentrados no Verão e tivemos de trabalhar com as operadoras aéreas dirigindo-nos aos mercados que viajam fora da época alta, como é o caso da Escandinávia. O segundo objectivo é garantir que os nossos destinos estão preparados para receber as pessoas ao longo do ano e têm motivos de atracção. Decidimos, no âmbito da estratégia, identificar em articulação com as regiões os produtos que podemos desenvolver mais. Um dos produtos em que estamos a apostar para diversificar a oferta é o “Portuguese Trails” – quer a pé, quer de bicicleta – e os caminhos associados ao turismo religioso. Fizemos também uma grande aposta [no turismo ligado à] organização de eventos internacionais, congressos e eventos corporativos de empresas. Estamos a ultimar uma plataforma online para mostrar a oferta nesta área, associada a uma campanha de comunicação. Esses novos produtos estão a ser testados em algumas regiões? Qual tem sido o retorno? Assumimos que queríamos testar no Algarve, porque é uma região onde a sazonalidade tem efeitos muito graves. Estamos a testar “Portuguese Trails” e a iniciativa “Algarve 365”, porque sabemos que se diversificarmos a oferta estamos a atenuar os grandes picos de desemprego que existem no Algarve fora da época alta. Os efeitos já se fizeram sentir em 2016: dois terços do crescimento ocorreram fora da época alta.

Portugal é conotado como um destino de sol e de praia. Como é que se muda esta imagem? Aquando da construção da estratégia para os próximos dez anos, fomos também aos nossos mercados emissores perguntar como é que eles nos viam hoje e quais eram as expectativas que tinham. Esse trabalho decorreu entre Fevereiro e Setembro de 2016 e foi muito interessante verificar que Portugal estava muito conotado com a ideia de um destino de sol e praia e que havia pouco conhecimento do que existe para lá do litoral. Temos feito um esforço de mostrar o outro Portugal, para que não haja um desconhecimento tão grande antes de as pessoas cá chegarem. Temos feito um grande trabalho no sentido de trazer jornalistas para conhecerem o interior, as nossas aldeias, a nossa gastronomia e os nossos vinhos, o Douro, os nossos caminhos, também ligados a Fátima e aos roteiros marianos que existem no Norte. Tem sido muito interessante perceber o impacto positivo que estas notícias têm tido na capacidade de comunicar Portugal de uma forma diferente. Que impacto foi esse? É possível medir? Em 2016, tivemos 16 mil artigos na imprensa internacional sobre Portugal. Este ano, entre Janeiro e Junho já chegámos aos 16 mil. Portugal está claramente na moda. Corremos o risco de a moda passar? Acho que é mais do que uma moda. O nosso objectivo é que as pessoas tenham vontade de cá vir. Portugal foi eleito por várias operadoras com o


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DR

destino a não perder em 2017. O que sentimos é que temos uma grande capacidade de impressionar bem quem nos visita e que estamos a conseguir fidelizar as pessoas.Com exemplos notórios até no efeito que isto tem no número de estrangeiros que decidem comprar casa em Portugal. As pessoas vêm uma vez, gostam muito; vêm duas vezes, ficam deslumbradas; vêm três vezes e decidem comprar casa. Temos de ter a capacidade de mostrar Portugal que ninguém conhece. Curiosamente, um dos títulos da CNN sobre o nosso país era, precisamente, “o segredo mais bem guardado da Europa”. O crescimento do sector do turismo nota-se sobretudo em Lisboa e no Porto. Como é que se estende ao resto do país? Este ano estamos a ultrapassar todos os crescimentos que alguma vez tivemos. De Janeiro a Abril, tivemos um crescimento acumulado de 20% das receitas turísticas e estamos a crescer muito fora da época alta e nas zonas menos turísticas. Os crescimentos percentuais maiores são no Alentejo, Açores, Centro e Norte, o que nos deixa particularmente confiantes de que o caminho é este. Temos de apostar em mostrar estes outros produtos, porque quando os conhecem as pessoas ficam deslumbradas. Outro número muito importante é que de Janeiro a Abril o turismo criou 39.700 postos de trabalho. Apesar desse crescimento, o rendimento médio anual dos trabalhadores do sector é 33% inferior ao conjunto da economia. Como é que se resolve este problema? Esse é um dos grandes desafios

“Nos últimos anos, o interior ficou completamente abandonado. Se não houver uma política pública activa de promoção daquelas regiões, nunca mudaremos nada” “Temos uma grande capacidade de impressionar bem quem nos visita e estamos a conseguir fidelizar as pessoas”

assumidos na Estratégia do Turismo. Um dos objectivos que temos é valorizar as pessoas que trabalham no sector, mas só conseguimos fazer isso se aumentarmos também o nível de qualificação das pessoas – que é baixo – e se diversificarmos os mercados. Retomo a pergunta de há pouco, como é que se desenvolve o turismo em regiões mais desertificadas e onde a oferta de serviços é reduzida? Com políticas públicas activas. É um erro pensar que o mercado funciona sozinho. Nos últimos anos, o interior ficou completamente abandonado. Se não houver uma política pública activa de promoção daquelas regiões, nunca mudaremos nada. É preciso contrariar tendências naturais, se não dermos uma atenção especial a estes territórios, eles não vão conseguir, por si, afirmar-se. Como é que se articula o Programa Nacional para a Coesão Territorial com a Estratégia do Turismo? No âmbito do Programa Nacional para a Coesão Territorial, assumimos um programa especial de valorização do interior (o Valorizar) em que identificámos produtos tipicamente dos territórios de baixa densidade em que o Estado quer apostar. Criámos um programa com uma dotação de dez milhões de euros e o insucesso que ele teve foi o excesso de procura. Temos 250 projectos apresentados por empresas e municípios do interior, o que me obrigou a duplicar a dotação. O que fizemos foi dar foco, dizendo que a nossa prioridade neste momento é o desenvolvimento de produtos no interior e estamos a comunicar estes projectos. Dentro do que são as competências públicas estamos a tentar, com algum sucesso, mobilizar os esforços para que o turismo seja um motor do desenvolvimento regional. Qual o papel do turismo social nesta estratégia? Na Estratégia do Turismo é assumido como prioridade que o turismo seja um instrumento para criar emprego e para garantir que promove a integração social e as condições de vida das populações locais. Temos bons indicadores relacionados com o aumento do número de turistas portugueses, resultado do novo enquadramento económico e da reposição de rendimentos. Mais uma vez, o Estado tem de intervir na correcção das assimetrias e naquilo que o mercado naturalmente não faz. Estamos a trabalhar com a Inatel para relançar um programa de turismo social que foi descontinuado, para que as pessoas que não têm tanta disponibilidade possam ter férias e também porque esta é uma importante ferramenta para alargar a actividade ao longo do ano. Estamos a falar de pessoas com mais de 55 anos que podem viajar ao longo de todo o ano. O turismo interno em Portugal representa 30%, em França representa 60%, temos uma margem enorme para crescer. Como é que se vende o interior aos estrangeiros? Vende-se mostrando aquilo que as pessoas definem como um luxo: autenticidade com inovação. É o que temos feito. O que mostramos nas viagens que temos feito com jornalistas estrangeiros é o que é genuíno, mostramos o que as pessoas não conhecem, desfocados do tradicional que é mostrar as praias. Estamos também a trabalhar com os operadores para que montem o produto cá.

Em Lisboa há bairros onde a pressão começa a atingir níveis preocupantes. Não há um risco de a cidade ficar apenas para os turistas? O turismo tem de assumir metas de sustentabilidade social. Tem de ser, em primeira mão, uma actividade que beneficia os residentes. O que é preciso é ir monitorizando e criar mecanismos que permitam valorizar as populações locais de modo a que sintam o retorno da actividade na melhoria das suas condições de vida. Sem dúvida que há situações pontuais que têm de ser vistas casuisticamente mas não transformemos isso num mito urbano de que há turismo a mais. O turismo tem sido a nossa principal alavanca [económica] e tem tido também uma grande capacidade de gerar emprego e de melhoria do espaço público. Não quer dizer que não tenhamos de monitorizar e de antecipar. É isso que estamos a fazer. Está satisfeita com o perfil do turista que recebemos em Portugal? Os problemas que ocorreram recentemente em Albufeira prejudicam a imagem do país? Em termos globais estou satisfeita. Mas claramente esses modelos [de que fala] não são os que nós queremos. A mensagem que passo aos operadores e aos nossos empresários é que este não é o turismo que queremos. Para isso há outros destinos. Em 2016, os turistas franceses lideraram em termos de receitas. Em 2017 mantémse essa tendência? Este ano quem está a liderar as receitas é o Reino Unido. Ainda não sentimos o efeito do Brexit, nem da desvalorização da libra, que é o efeito mais preocupante na procura. A seguir, e quase ex aequo, surgem Espanha e França. Estamos com um crescimento de 30% do mercado chinês. Muitos dos turistas chineses entram em Portugal por Espanha, o que faz com que a maior parte do tempo que dedicam à Península Ibérica se concentre em Espanha. Ter um voo directo de Lisboa permite contrariar isso e garantir que estão cá mais tempo e que gastam mais. A sustentabilidade passa também por crescer mais em valor do que em número de turistas. Tem um sítio de eleição onde faz férias? Desde sempre que vou para o Oeste. Procuro também ir dividindo as férias de modo a que os meus três filhos conheçam o país. Assumo isso como uma obrigação na educação deles. No ano passado seleccionámos os Açores, este ano fomos ao Gerês. As minhas férias são também um laboratório de experiências para testar os produtos. Quais são os locais a não perder em Portugal? Consigo recomendar locais em várias regiões do país. Nos Açores, recomendaria um mergulho num vulcão, que é uma experiência única e inesquecível. No Douro, um passeio de comboio junto ao rio, que não existe em mais sítio nenhum senão aqui. No Centro, recomendaria um mergulho na história de um aldeia de xisto, ordenhar uma cabra e a fazer o queijo com o leite. No Alentejo, recomendaria uma praia fluvial no Alqueva, no Algarve faria um passeio de bicicleta pela Via Algarviana e na Madeira uma levada. É uma pessoa mais de campo ou de praia? Adoro estar sempre a experimentar coisas diferentes e não consigo ficar dependente de uma coisa ou de outra. Raquel Martins [A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]


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MIAMI E CRUZEIRO NAS CARAÍBAS

Navegar por águas azuis

A viagem começa em Miami (Estados Unidos da América). Continua a bordo do navio MSC Divina, com escalas nos portos de Ocho Rios (Jamaica), George Town (Ilhas Caimão), Cozumel (México), Nassau (Bahamas). Uma travessia para ver alguns dos mais belos lugares do mundo

MIAMI E CRUZEIRO NAS CARAÍBAS Partidas de Lisboa, Porto e Faro: 30 de novembro a 9 de dezembro Informações: Tel. 211155779 | turismo@inatel.pt | www.inatel.pt

S

ol e mar. Temperaturas aprazíveis. No início de dezembro, enquanto o frio se faz sentir na Europa, o clima tropical da Florida convida a passear pelas praias de areia branca e mergulhar nas águas temperadas do Atlântico. Uma visita panorâmica pela cidade, com passagem por Downtown Miami, Coconut Grove, Miami Beach, e zona Art Déco, faz parte do programa. Mais tarde, no porto de Miami tratam-se das formalidades de embarque para prosseguir viagem a bordo do MSC Divina. Este navio, inspirado na atriz Sophia Loren, parece ter o charme da época áurea das companhias de cruzeiros, com uma decoração requintada, desde as elegantes escadas em cristais Swarovski, ao Pantheon Theatre e Casino Veneziano. O bem-estar durante a navegação é complementado por atividades desportivas, de lazer e entretenimento.

Vistas maravilhosas Primeira paragem: Jamaica Ocho Rios, uma antiga vila de pescadores rodeada pelo mar azul do Caribe, é um dos destinos mais conhecidos. A sua

ros habitantes vivem na ilha, desde então, e muitas das antigas tradições permanecem enraizadas até hoje. Durante a visita à aldeia podem ver-se casas tradicionais com telhados em palha, jardins medicinais, técnicas de culinária e cerimónias.

Quarta paragem: Bahamas principal atração é a “Cascata do Dunn”, uma magnífica queda de água com cerca de 200 metros.

Segunda paragem: Ilhas Caimão Depois de conhecer George Town passa-se pela praia das “Sete Milhas”. A seguir visita-se a famosa quinta de tartarugas, “Turtle Farm”. O centro de pesquisa, fundado em 1968, tem tido um papel vital na proteção e conservação destas espécies marinhas ameaçadas e em vias de extinção. Segue-se uma visita à fábrica “Tortuga Rum Cake”, onde se prova o famoso bolo de rum das Caraíbas.

Terceira paragem: México Cozumel, considerado o lar do povo maia, foi um importante local nas antigas rotas de comércio. Descendentes desses primei-

Nassau mantém o encanto dos tempos antigos combinado com a sofisticação moderna da capital. Mansões, catedrais e fortalezas do século XVIII foram cuidadosamente preservadas. Ao sair da cidade percorrem-se algumas aldeias ricas em história e património.

Quinta e última paragem: EUA De volta à Florida. Após o desembarque, o programa inclui, ainda, uma visita ao Parque Nacional de Everglades. Esta região pantanosa, próxima de Miami, tem uma impressionante biodiversidade onde mais de 300 espécies de aves e répteis encontram o seu habitat natural. Depois de uma experiência perto da natureza selvagem segue-se um almoço num restaurante local. Mais tarde, a deslocação para o aeroporto de Miami encerra a viagem em solo americano.


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Desporto

Campeão do mundo de futebol é português GDC Seiça vence campeonato do mundial de futebol amador no torneio da modalidade nos World Sports Games, em Riga, Letónia

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epois da vitória do Campeonato Nacional de Futebol da Fundação Inatel 2016/2017, o GDC Seiça rumou aos CSIT para criar oportunidades, rematar e marcar em campo. Começaram com 4-0 aos israelitas do Ben Gurion e 2-0 aos italianos do AICS – os ex-campeões mundiais em título. A meia-final foi com outros israelitas, desta vez, os do Hapoel Bank Leumi, vencido no penálti inicial defendido pelo guarda-redes André Vieira. Na final, a 17 de junho, não foi preciso jogar para vencerem, pois os israelitas do Hapoel Hasmal Darom não compareceram no local do jogo à hora agendada. As justificações variaram entre ter sido o clube a forçar a falta de comparência por motivos religiosos, e possível erro na comunicação sobre a hora da final. Motivos à parte, a taça já ninguém pode tirar ao Seiça, nem o orgulho e a euforia com que viveram o momento, a

equipa que participou e jogou, e a equipa que ficou, mulheres, filhas, namoradas, famílias que vibraram tanto como eles. No dia da chegada ao aeroporto, no dia 19 de junho, os campeões tinham um mar de gente vestido a rigor para os receber. Foram 3 autocarros completos que saíram de Ou-

Sobre os World Sports Games Os World Sports Games são um evento internacional organizado de dois em dois anos e onde se disputam entre 15 a 20 modalidades competitivas e não competitivas e atividades culturais e lúdicas. Este ano, participaram cerca de 8 mil atletas. Estes jogos não são para atletas profissionais mas para amadores, homens e mulheres, jovens e menos jovens, de diferentes países e culturas de todo o mundo.

rém com destino ao aeroporto de Lisboa. André Santos, diretor do GDC Seiça recebeu um abraço apertado da Carlota, a filha mais velha, enquanto espera pela Francisca que vivia intensamente o momento na barriga da mãe já com 37 semanas. “Não há palavras para descrever este momento, é fantástico, é fabuloso, é momento louco, com pessoas lindas, com jogadores fantásticos, com uma moldura humana incrível”, as lágrimas, o momento, impediam-no de falar. Sob o comando de Armando Pessoa, que tem somado vitórias no clube, também ele vibrou com a vitória e afirmou que toda a equipa estava consciente das dificuldades que iam ter pela frente: “No início achámos que ia ser extremamente difícil mas depois do primeiro jogo acreditamos que podíamos ser campeões e fomos. Com muito querer, muita garra, e com um grupo muito unido.” E acrescenta que depois desta vitória o “desporto amador sai mais valorizado”. Fuma, o capitão, encaminhou sempre a equipa para um objetivo comum, onde a união era a base, dentro e fora do campo sempre com o foco na taça. Filipe seguiu as diretrizes do capitão e esteve sempre perto da baliza adversária, rematou e marcou. “Sabe sempre bem, é especial, foi a primeira competição internacional pelo Seiça, fizemos o nosso papel e deixamos o distrito de Santarém muito bem representado e com a fasquia muito alta.” A fasquia fica ainda mais alta para o distrito quando, semanas mais tarde, o Seiça se sagra campeão nacional de futebol da Fundação Inatel contra o Nadais.

Maria João Costa

Campo de Férias Inatel – inspira e expira diversão

O

s mais pequenos voltam a dar tréguas aos pais durante as férias do verão com o Campo de Férias Inatel no Parque de Jogos 1.º de Maio. De junho a setembro, para jovens e crianças, dos 6 aos 14 anos. Num ambiente onde o desporto e o ar livre se fundem, são muitas as atividades que põem os mais novos a mexer. Para Susana, coordenadora do Campo de Férias há seis anos (depois de 2 anos como monitora), é notória a satisfação de quem participa: “Os miúdos que nos acompanharam voltam e é engraçado ver o crescimento e perceber que querem continuar connosco.” Psicóloga de formação não deixa de mostrar paixão por se dedicar aos mais novos durante as férias, um trabalho que não passa ao lado a quem confia os filhos. Cristina, mãe do Miguel Maria não esconde que o que a faz voltar “é a qualidade da equipa que está com os jovens, estão nos padrões mais altos. As pessoas não sabem que a Inatel tem aqui uma equipa muito bem preparada para trabalhar com os jovens”. Miguel é um dos 17 que acompanhou a primeira semana de férias no Campo da Inatel. A cadeira de rodas não o atrapalha, joga futebol, pratica natação e é o primeiro a dizer: “Estar em casa fechado a fazer o quê? Aqui sempre aprendo alguma coisa”. E já aprende com a Susana há três anos. Mas quem aprende é a coordenadora, “o Miguel é uma força da natureza, consegue fazer tudo e tem-nos ensinado bastante”. Rui é pai de três filhos, a Beatriz de 10 anos frequenta o campo de férias e justifica a escolha por ser bem localizado e por conseguir ter a filha num local seguro durante o horário do trabalho. A Beatriz chega a casa transpirada. Do ténis, ao minigolfe, passando pelo circuito de arborismo, badminton e natação, sem esquecer as gincanas, difícil é chegar a casa sem um pingo de suor. O Gabriel dispensa correr muito, mas a mãe, Sara, faz de tudo para obrigar o filho a mexer-se e a afastá-lo dos ecrãs de casa: “É uma criança das novas tecnologias, é importante ter um sítio onde pode ter um espaço para se divertir, para ficar mais ativo.” As inscrições são semanais, mas há quem opte por estender por mais uma, mais duas ou até mesmo por mais dez semanas. Susana explica que todas as crianças que entram para o Campo de Férias “só estranham até à hora de almoço do primeiro dia, depois disso já estão todos à vontade”. Eles gostam e os pais agradecem, e a Inatel repete para não lhes falte nada.


16 TL JUL-AGO 2017

Fotos: Beatriz Maduro

FOTORREPORTAGEM

A FUNDAÇÃO INATEL NA 19. EDIÇÃO DO FESTIVAL MÚSICAS DO MUNDO – FMM a

A Inatel volta a estar presente no Festival Músicas do Mundo – Sines. Depois da experiência em 2016, repetem em 2017 e desta vez como parceiro principal do festival com o palco Inatel em Porto Covo, de 21 a 23 de julho. Foram três dias de “aquecimento” para a semana que se avizinhava em Sines, de 24 a 29 de julho. Três dias de um mundo que cabia na praça de uma aldeia da Costa Vicentina.

Fundação Inatel em Porto Covo

Concerto de abertura do FMM 2017 com Mestre António Chainho e o fadista André Baptista, uma jovem promessa de Sines que se encheu de orgulho ao lado do mestre da guitarra portuguesa.

Leila McCalla, cantora norte-americana, apresentou o seu segundo álbum a solo – A Day for the Hunter, a Day for the Prey. A violoncelista assumiu a sua voz com um disco dedicado à ligação centenária entre o Haiti (terra dos pais de McCalla) e a comunidade crioula do estado da América, Louisiana.

Gustavito (acompanhado da banda Bicicleta) interpretou a música Camaleão borboleta como sendo a mais conhecida do público porque foi o tema que o músico brasileiro compôs a meias com o grupo Graveola que passou pelo mesmo palco há um ano.

Waldemar Bastos atuou depois de Costa Neto & João Afonso. No ano em que celebra 35 anos de carreira, o músico angolano fez-se acompanhar do inseparável violão e deixou que o público se entregasse a “Muxima”.

Vindo de Guangxi, uma região do Sudoeste da China, os Mabang, que usam instrumentos ocidentais e tradicionais para criar melodias com influências de folk, rock, reggae e ska. Deixaram Porto Covo ao rubro na segunda noite do festival.

A Orquestra Latinidade subiu ao palco Inatel no último dia do Festival na praça do Marquês. Um projeto lisboeta, que junta oito músicos, entre eles portugueses, espanhóis, brasileiros, argentinos e italianos, e o Basel Rajoub Trio (Síria/Itália/Áustria).


TL JUL-Ago 2017 17

Na mesa com

Marta Bártolo

“D DR

Pedro aires

e meu Pai, trago um gosto antigo de preparar comidas, de apurar o paladar. Abracei a sua herança, tingi-a com as cores da minha formação em Arquitetura, e hoje, o À Mesa, é essa ternura e sabedoria materializadas. Apostei na qualidade e na alma única da comida de raiz mediterrânica. A melhor matéria-prima, os produtos da estação, a investigação contínua, a inovação aliada ao saber tradicional. Nesta festa dos sentidos, a excelência e o detalhe marcam a diferença.”

Ceviche de Salmão fresco ou Atum com citrinos Ingredientes 2 Lombos de salmão/atum fresco, limpos de peles e espinhas; 1 cebola roxa; 1 pera abacate madura; 1 maçã verde; 3 a 4 rabanetes; 1 malagueta; 3 pimentos pequenos, vermelho, amarelo e laranja; sumo e raspa de 2 ou mais limas; azeite, sal e pimenta q.b.; 1 molho de coentros frescos. Preparação Comece por primeiro cortar em pequenos cubos os lombos de salmão e mariná-los com um fio de azeite, sal e pimenta q.b. mais a raspa e sumo de 1 lima, no frigorífico... Terá de avaliar a seu gosto o tempero final enquanto prepara a restante receita (mais ou menos lima, azeite, sal

e pimenta). Numa taça coloque metade da pera abacate também cortada em pequenos cubos e metade da maçã verde com casca, regando logo de seguida com sumo de lima e metade de 1 lima cortada em quartos de rodelas muito finas com casca. Pique um pouco (talvez metade) de 1 cebola roxa, bem como os rabanetes com casca em finas rodelas e acrescente ao preparado anterior. Pique muito picadinho parte dos 3 pimentos e em rodelas muito finas a malagueta, acrescente ao preparado anterior. Entretanto retire do frio os lombos de salmão marinados e junte ao preparado bem como as folhas de coentros a gosto. É necessário que retifique os temperos, principalmente a lima que deve sobressair mas não anular o gosto dos restantes ingredientes. Sirva tal como na fotografia logo de seguida com uma salada bem fresca.


18 TL JUL-AGO 2017

ACADEMIA INATEL – Formar é uma prioridade “Certifica o teu futuro”. É assim que a Fundação Inatel apresenta a atividade formativa 2017/2018 com novos cursos e novas áreas, inovando para tornar a Academia conhecida como marca formativa da fundação, afirmando-se no país, não só na formação específica, mas também na formação-oficina, a formação prática.

Com início em setembro: Pintura mural - Formadora Rocío Matosas Fotografia de publicidade e produto (módulo 2) - Formador Jorge Simão

Com início em outubro:

Teatro musical – Formação de atores (3.ª edição) - Coordenação Claudio Hochman Teatro da reminiscência – Oficinas da memória - Formador Luís Cruz Vamos escrever um filme - Formador Vicente Alves do Ó Escrita criativa literária - Formadora Filipa Melo Construção de instrumentos musicais - Formador Carlos Guerreiro (Gaiteiros de Lisboa) Cavaquinho - Formador José Carita Concertina - Formadores Vitor Rosa e Hermínio Carneiro Viola dedilhada - Formadores José Carita e Rogério Pires Dança contemporânea, movimento e música – Cruzamento entre a dança contemporânea e danças tradicionais - Formadores Filipa Francisco e António-Pedro Dança Indiana - Formadora Diana Rego Fotografia digital - Formador Carlos Carvalho Artes decorativas - Formadora Ana Brito Pintura - Formador Francisco Carrola Cerâmica e Olaria - Formadores Fernando Sarmento e Stefania Barale Azulejo/Pintura de cerâmica - Formador Hernâni Cardoso Joalharia em esmalte - Formadora Sofia Serrano

Inatel apoia Volta a Portugal

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Volta a Portugal em Bicicleta está de regresso de 4 a 15 de agosto, com início em Lisboa. A Fundação Inatel volta a estar presente pelo 5.º ano consecutivo. Cinco anos a apoiar um evento que percorre Portugal há 90 anos. Ninguém fica indiferente às bicicletas

que passam tão perto de casa de muitos portugueses, desde Vila Franca de Xira, Castelo Branco, subindo até ao Douro, passando pelo Minho, sem esquecer o concelho de Lousada que regressa ao mapa da prova, terminando, depois de 11 dias e 1.626,7 Km de prova, em Viseu.

Informações e inscrições: academia@inatel.pt

Vá de Férias com Saúde, Vá de Férias com Inatel Chega o verão e nesta época do ano, a preocupação é ter um Plano de Férias. Mas já pensou em ter o seu Plano de Saúde? Então, está na altura de pensar em ver todos os serviços incluídos no Plano Inatel Saúde. Na Inatel procuramos disponibilizar serviços que vão ao encontro do que procuram e necessitam, permitindo: - Poupar nos gastos de saúde (consultas de especialidade, entre 30 e 35 euros) em vários Hospitais e Clínicas privadas em todo o país (contamos com mais de 29.000 Prestadores na nossa Rede) - Utilizar de imediato e sem exclusões de doenças pré-existentes. - Tem assistência médica onde estiver – pode chamar o médico ao seu local de estadia 24/dia, mesmo que esteja de férias e paga apenas 15 euros (serviço disponível apenas em Portugal continental e ilhas). Enfim temos a solução para todos os que procuram Prevenção e Poupança na Saúde e que gostam de ter os seus planos bem definidos e sem surpresas. E qual a idade limite para ter este Plano, pergunta você? Não há!… miúdos e graúdos, estão todos convidados a conhecer o Plano Inatel Saúde, com mais detalhe, nas lojas Inatel, em www.inatel.pt, ou através do Telefone 210 027 143. O mote está dado, quer tenha oito ou oitenta anos, tenha o seu Plano de férias sem esquecer a sua Saúde.

Palco Inatel no Festival Músicas do Mundo

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parceria da Fundação Inatel com o Festival Músicas do Mundo e com a Câmara Municipal de Sines ganha ainda mais força. A Fundação marcou presença no Festival em 2016, a partir de uma parceria com o mesmo, e em 2017 volta a repetir o feito, mas desta vez com um lugar de destaque em Porto Covo.

Entre 20 e 22 de julho, o início da 19.ª edição do FMM, artistas como António Chainho, Waldemar Bastos, Nessi Gomes, passaram pelo palco Inatel, o palco presente na aldeia nomeada para uma das 7 Maravilhas das Aldeias de Portugal, Porto Covo. Um novo “arranque” para o Festival e “música” para a Fundação Inatel.

GDC Seiça bicampeão nacional Fundação Inatel

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equipa de Ourém sagrou-se novamente campeã na final contra o Nadais, no dia 9 de julho, no Parque Desportivo de Ramalde. Depois de terem sido campeões do mundo do futebol amador no “International Workers and Amateurs in Sport Confederation”, em Riga, na Letónia, foi em solo português que levaram mais uma taça para casa com os golos de Filipe e Rodrigo. O Nadais não foi para além de um golo de Pombos, sagrando-se assim a equipa vice-campeã do campeonato nacional de futebol da Fundação Inatel.


TL JUL-Ago 2017 19

Coluna DO provedor

Musicando Por Luís rei Natacha Atlas: as novas avenidas do etno-jazz de aroma árabe

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O Ciclo Mundos regressou em 2017 no passado dia 13 de Junho ao Teatro da Trindade Inatel. A abrir esta segunda temporada, esteve uma convidada de luxo.

nglo-egípcia nascida na Bélgica, Natacha Atlas é uma diva global que, à semelhança do seu ADN multi-étnico sempre soube estar e evoluir entre vários géneros e universos musicais. Das electrónicas multiculturais britânicas dos anos 90, ao etno-jazz mediterrânico da actualidade, Natacha Atlas tem construído uma sólida carreira de intérprete em língua árabe e inglesa com uma banda de suporte cada vez mais refinada. Em Lisboa, apresentou repertório do seu último álbum “Myriad Road” de 2015, produzido pelo pianista e trompetista franco-libanês Ibrahim Maalouf Há cerca de nove anos, quando gravou “Ana Hina” com Harvey Brought, começou a trilhar um caminho mais acústico em detrimento das electrónicas. Qual foi o principal motivo para essa mudança? Penso que tinha chegado a uma altura em que já tinha feito muita coisa com as electrónicas e queria explorar diferentes caminhos na música. Conheci o Harvey Brought porque estava a trabalhar com a Jocelyn Pook em música para um filme [“The Merchant of Venice”]. Descobri que poderíamos fazer muitas coisas numa ambiência mais jazzística e acústica. Para mim, foi curioso porque está numa fase em que queria descobrir e aprender coisas novas. O que é que aprendeu? Uma miríade de possibilidades? Sim. Uma miríade de possibilidades de fazer coisas de forma acústica. Também queria olhar para as antigas canções árabes dos anos 40, 50, 60. Queria prestar uma homenagem a esses artistas que ouvia na minha juventude. Queria fazer algumas versões dessas canções não apenas de forma acústica mas num estilo mais de jazz contemporâneo. Não iria usar electrónica porque tinha uma visão diferente para isso. Conhecei a explorar esta direcção e comecei a gostar. Era mais introspectivo. As pessoas estavam mais atentas às canções, à prestação dos músicos. Para mim, foi também uma oportunidade de aprofundar técnicas de canto, de aprender escalas árabes. Foi uma fase de estudo e de descoberta. Mas eu não tenho nada contra música festiva. Gostei muito desse período da minha vida e o facto é que neste momento também tenho estado a trabalhar com os Transglobal Underground. Vamos iniciar em Setembro/Outubro uma digressão com os membros originais do projecto. Isso é muito divertido, estou a gostar mesmo muito. Através deste percurso acústico e jazzístico que tem trilhado, há uma banda que tem crescido

muito consigo e que se apresenta agora com um som muito mais refinado. Sim. Desde “Ana Hina” fiz muito mais coisas acústicas e tradicionais. Conheci o Sami Bishay [actual compositor e violinista] e também conheci o trompetista Ibrahim Maalouf que é muito famoso em França. Ambos queriam que eu fizesse um álbum mais jazzístico mas que mantivesse a minha identidade, os aromas árabes. Mas que tivesse igualmente mais canções em inglês. Voltou a ser bom para mim, porque pude voltar a aprender e a estudar durante este processo de gravação de “Myriad Road”. O Harvey Brought deixou o grupo porque precisava de focar-se mais na criação de arranjos para grupos corais e isso fez com que eu entrasse ainda mais no território do jazz. Como é que surgiu a oportunidade de começar a trabalhar com o Ibrahim Maalouf? Quando dei um concerto em Istambul, o Smadj, tocador de alaúde, convidou-me para cantar e convidou também o Ibrahim para tocar trompete. Conhecemo-nos. O Ibrahim conhecia o meu trabalho, disse-me que eu o tinha inspirado enquanto músico que vai à sua raiz e que a trabalha com elementos contemporâneos e ocidentais para produzir música que inspire os franceses a olhar para outros estilos de música, mas também para fazer música de um modo moderno. Que seja francesa, mas que inclua um feeling árabe. Por isso, ele queria produzir-me um disco e o desenrolar do processo aconteceu de forma muito natural. Porque ele é libanês, trompetista, muito ambientado com a música de fusão. O Smadj, para além de tocar muito bem alaúde, é outro músico que balança entre acústica e tradições árabes e as electrónicas. Só poderia aparecer aqui num tema de “Myriad Road”. Sim, sem dúvida. É um músico que ora grava de forma mais acústica, ora mais electrónica. Há já muito tempo que tenho vindo a trabalhar com mú-

sicos que gostam de explorar “novas avenidas”. Em “Myriad Road” há também aromas brasileiros, cortesia do flautista Cláudio “Cacau” de Queiroz. Como é que ele veio aqui parar? O Ibrahim tem imensos contactos de uma série de músicos de diferentes áreas. Ele sentiu que havia uma canção que ia numa direcção brasileira quando a começámos a ensaiar e ele propôs colocar aqui uma flauta. Disse-lhe que seria óptimo. Além disso, deu-me uma ideia para o novo álbum que estou a preparar. Irei explorar aromas brasileiros, mas com percussão. E esse disco que está a preparar terá alguma narrativa especial? É um pouco conceitual. A canção brasileira será provavelmente a mais feliz e positiva. Terá ambiências jazzísticas, mas será mais sombrio. Todas as letras abordam a visão de um futuro distópico influenciado pela actualidade. Temos o Trump que representa o ego extremado, o egoísmo, uma natureza predadora. No outro lado, temos Corbyn e outras pessoas com consciência social, preocupadas com o ambiente e em ajudar o próximo, em criar melhor condições sociais e ambientais não só para os seus filhos, mas também para a população mais idosa. Parece-me que o lado negro está em vantagem. Este disco olha para ambas as perspectivas. Parece-me que este será o seu álbum Billy Bragg… [risos] Talvez. Posso sugerir-lhe um título? “Talking with Nitin Sawhney about politics” [fazendo alusão a “Talking with the Taxman About Poetry” de Billy Bragg]. É que, nos últimos tempos, tem trocado muitas mensagens de índole político-social com o Nitin Sawhney no Twitter. Sim. Somos velhos amigos. Começámos a tocar na mesma altura, há cerca de 25 anos atrás, trabalhámos juntos em diferentes projectos. Tive oportunidade de jantar com ele em Londres a semana passada e já não o via há um ano e meio, dois anos. Mas estamos sempre a comunicar via Twitter. Apoiamo-nos mutuamente, sobretudo no que toca ao universo da política. Simpatizamos muito com o Jeremy Corbyn, porque este homem representa o outro lado. Da esperança e de um futuro melhor para os mais jovens. Frequentemente, partilhamos ideais comuns. De facto, o último álbum do Nitin Sawhney [“Dystopian Dream” de 2015] no qual tive oportunidade de colaborar [em “Can’t Breathe”] é também ele muito distópico.

Manuel Camacho

provedor.inatel@inatel.pt

N

os últimos tempos, muitas têm sido as catástrofes ambientais que por todo o lado assolaram o planeta. Se em tempos era fácil prever o clima e os “desvarios” da natureza nas mais diversas épocas e zonas, hoje essa previsão é quase impossível, dadas as transformações climáticas que ocorrem a todo o momento. Desde 1972 em Estocolmo e depois no Rio de Janeiro, em Berlim, Genebra, Kyoto, Johanesburgo de novo no Rio de Janeiro e mais recentemente em Paris, os esforços que vêm sendo feitos para mudar o rumo dos acontecimentos mostramse infrutíferos. Os consensos são difíceis e os acordos assinados são, por vezes, posteriormente denunciados, como aconteceu recentemente com os EUA. O efeito de estufa provocado por atividades humanas menos recomendadas está na origem do excessivo aquecimento global, responsável por diversas catástrofes ambientais, como o degelo e as inundações. Em 2012 a conferência do Rio+20 exigiu no seu documento final “O Futuro que queremos”, metas concretas, como a redução de emissões poluentes e a preservação das áreas naturais. De que é que se está à espera para obrigar todos os países – e já são 193 participantes – a cumprir as regras fundamentais para o respeito pelo desenvolvimento sustentável? Para não voltarmos a ler e ouvir que o “homem” é o culpado de todas as catástrofes, basta que se tenham em conta 3 fatores: legislação ambiental rigorosa, ética e educação. Se formos por aí, talvez ainda seja possível atuar a tempo.

[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia] 100 95 75

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ciclo_mundos_jornal_tempo_livre_yasmine_e_iva_arte_final 6 de julho de 2017 01:52:52


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Trindade

A SURPRESA DA MÚSICA Sobem ao palco do Teatro da Trindade, em Lisboa, até ao final da temporada, alguns dos melhores cantores, guitarristas e pianistas, entre eles, Dead Combo, Salvador Sobral, Vitorino, Frankie Chavez, Mário Laginha e Tcheka

O

ciclo Há Música no Trindade, pela mão do produtor, António Miguel Guimarães, traz “o que melhor se faz atualmente na música popular portuguesa, passando pela música brasileira e caboverdiana, pelo rock, pelo fado e world music e até pela inspiração jazzística”. Convidado pela diretora artística do teatro, Inês de Medeiros, o produtor diz ao TL que “qualidade, originalidade da proposta, adequação à sala e garantia de um espetáculo novo e ou apresentação de CD” foram os principais critérios. E acrescenta: “Tudo à volta da voz, da guitarra e do piano. Tudo o que é necessário para descobrirmos algo novo e nos surpreendermos.” Apresentar uma programação de grandes vozes e instrumentistas, no Trindade, foi desafiante em que medida? É sempre um desafio encontrar e desenvolver um projeto específico. Aqui trata-se de trazer ao Trindade a música e a atenção de novos públicos a esse facto. Um fio condutor e uma comunicação adequada a esse propósito foi o desafio.

A sala tem características únicas, bela acústica e uma imagem clássica – quis encontrar artistas e espetáculos que tirassem o maior partido destas características do Teatro da Trindade. O ciclo Há Música no Trindade em torno da voz, da guitarra e do piano nasce assim. Os três pilares, três instrumentos base da música popular, adequam-se em absoluto a esta sala. O que tem de especial este palco? A proximidade e intimidade, entre artista e público! Quer o artista quer o público estão muito próximos, é difícil encontrar outro espaço assim no nosso país e com estas características acústicas quase perfeitas. Aqui estiveram, recentemente, Tatanka, Yamandu Costa, e José Manuel Neto. Que balanço faz dos três primeiros espetáculos? Foram três momentos únicos e belíssimos do ponto de vista da criatividade dos artistas e da sua relação com o público. Todos eles ficaram supersatisfeitos com o resultado. Como espectadores vimos aqui grande virtuosismo e emoções à flor da pele! Foram muito bons estes espetáculos. O acolhimento do ciclo tem correspondido às suas expectativas? O desafio era dizer Há Música no Trindade! E essa mensagem está claramente a passar. Nos músicos, nos media e agora, progressivamente, chegará ao público. O esforço de comunicação tem de continuar para que as pessoas tenham acesso à informação. No entanto, a insistência ao longo do tempo é fundamental. Perder

concertos Salvador Sobral: 6 e 7 de outubro | Vitorino: 13 e 14 de outubro | Frankie Chavez: 27 e 28 de outubro | Mário Laginha e Tcheka: 15 e 16 de dezembro

público é fácil. Recuperá-lo e criá-lo é um trabalho em que o tempo e a consistência das propostas são fundamentais. É produtor e diretor artístico do festival O Sol da Caparica. Com esta mostra de estilos diversos celebra a sua paixão pela música? Trabalhar com músicos, com artistas e espetáculos tem sido a minha vida profissional e pessoal desde os anos 80. Escutar, usufruir de boa música e propor novas músicas a outros pode dizer-se que

é uma paixão. Os espetáculos de Salvador Sobral, em outubro, esgotaram em pouco tempo. Quando planeou este ciclo não imaginava que isso pudesse acontecer... Não, naturalmente, pois selecionamos o Salvador ainda antes de sabermos que ele ia participar no Festival da Canção e ainda menos podíamos imaginar o que aconteceu a seguir. Mas tínhamos uma certeza: de que estávamos perante um belíssimo cantor e por isso o propusemos. A internacionalização de muitos dos nossos artistas é valorizada pelos portugueses? Os portugueses orgulham-se dos seus cantores, artistas, desportistas quando estes têm sucesso lá fora. Mas os portugueses desconhecem que temos imensos artistas com carreiras internacionais fantásticas, mas cuja informação não passa nos meios de comunicação nacionais. É uma pena este facto. Trovante, António Pinho Vargas, Rui Veloso, Jorge Palma, Madredeus, Sétima Legião, Maria João e Mário Laginha, são alguns dos artistas com quem trabalhou. A música portuguesa continua a surpreendê-lo? Os compositores e artistas não têm parado de produzir, e bem, música impressionante! Na realidade temos tido uma explosão de criatividade e qualidade que tem acompanhado o período pós25 de Abril. As grandes alterações que a democracia proporcionou à nossa população, o acesso à educação, o ensino artístico, o consumo cultural, as melhorias de condições de vida... Tudo isto nos tem brindado com novas gerações de artistas cada vez mais bem preparadas a que se junta o acesso à informação cultural e musical através da internet. Tudo isto cria um melting pot super criativo que nos traz novidades diárias. Teresa Joel


TL JUL-Ago 2017 21

As candidaturas para “Aldeia dos Sonhos” terminam a 15 de setembro. A iniciativa da Fundação Inatel realiza os sonhos de localidades com menos de 100 pessoas, com especial atenção para as que estão geográfica e socialmente mais isoladas. Nas últimas edições foram escolhidas as aldeias de Ouguela (2014), São Miguel do Pinheiro (2015), e Rio de Onor (2016). O regulamento e o formulário digital de inscrição estão disponíveis em www.inatel.pt

VER

OUVIR

Ressonâncias e despertares Um punhado de filmes, assinados por cineastas maios ou menos consensuais e com talento para “dar e vender”, chegam estes meses às salas envoltos num único denominador comum: imperdíveis

Claudio Monteverdi

Música e história

Cinema Lady Macbeth, de William Oldroyd | Reino Unido, 2016 Com: Florence Pugh, Christopher Fairbank, Cosmo Jarvis. Em cartaz. •Um drama poderoso, carregado de desejo e paixão, repleto de ressonâncias contemporâneas, sobre a emancipação feminina, a desilusão amorosa e as relações de classe, ambientado numa comunidade rural da era vitoriana. Um filme que evoca Shakespeare e Dostoievski. Dunkirk, de Christopher Nolan | EUA / Reino Unido / França / Holanda, 2016 Com: Tom Hardy, Cillian Murphy, Aneurin Barnard, Mark Rylance. Em cartaz. •Duas coisas saltam de imediato à vista: que a histórica operação de resgate – em maio de 1940 – de mais de trezentos mil soldados aliados fustigados pelo poderio bélico nazi nas praias de Dunquerque constituiu uma prova grandiosa de abnegação humana, de determinação, organização e resistência e a confirmação do talento técnico-formal de Christopher Nolan, um cineasta incomparável. Clash, de Mohamed Diab | Egipto / França, 2016 Com: Nelly Karim, Hani Adel, El Sebaii Mohamed. Em cartaz. •Parábola, em registo de ‘mise-en-scène’ teatral, sobre o Egipto de hoje, com o olhar cravado no passado – a confiscada “primavera” de Morsi e da irmandade muçulmana – e a raiva e as esperanças de um povo. London Town, de Derrick Borte | Reino Unido, 2016 Com: Natascha McElhone, Jonathan Rhys

Meyers, Dougray Scott. Estreia prevista 3/8. •Na Inglaterra dos anos 70, o despertar de um adolescente para as realidades sociais, políticas e o sentido da responsabilidade, que um dia se “prende de amores” pela banda de “punk rock” The Clash e o seu influente letrista, vocalista e guitarrista Joe Strummer, a quem o filme presta tributo. A Vida de Uma Mulher, de Stéphane Brizé | França, 2016 Com: Judith Chemla, Jean-Pierre Darroussin, Yolande Moreau. Estreia prevista 10/8. •Do mesmo realizador de “A Lei do Mercado”, uma adaptação forte e fiel do romance “Une Vie”, de Guy Maupassant, segundo a crítica francesa que elogia a atmosfera romanesca, a fluidez narrativa, as imagens – poderosas na sua plasticidade –, e a interpretação feminina principal. Wiener-Dog – Uma Vida de Cão, de Todd Solondz | EUA, 2016 Com: Greta Gerwig, Danny DeVito, Julie Delpy. Estreia prevista a 17/8. •A sinopse dá o mote: “histórias entrelaçadas de pessoas que tiveram as suas vidas modificadas após o contacto com um simpático cachorro da raça Dachsund, que espalha alegria e felicidade por onde passa nas suas viagens pelos quatro cantos do país”. Todd Solondz, o cineasta estadunidense independente que adora dissecar as relações humanas, servindo-se de armas portentosas – humor negro, cinismo, sátira… – faz o resto. E bem, na opinião da generalidade da crítica.

Joaquim Diabinho [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

A

ssistimos nas últimas décadas ao crescimento de inúmeros festivais no país. Os municípios fazem esforços e investem no desenvolvimento local através de áreas como o turismo e a cultura. Neste sentido, é dos festivais que têm como pano de fundo a narrativa da música erudita e o património arquitetónico de que iremos falar. Já com 25 anos de história e com o objectivo de potenciar a cultura, património e turismo da zona Oeste do país, teremos a decorrer, ainda durante o mês de julho, o Cistermusica – Festival de Música de Alcobaça que integra este ano na sua programação a estreia absoluta da ópera Inês de Castro, de Giuseppe Giordani (1793). Esta foi a primeira de dezenas de óperas inspiradas na história de Pedro e Inês. Esta ópera não é executada desde o século XVIII e nunca foi editada, pelo que foi solicitado pelos organizadores do festival a edição da partitura para a ocasião. A apresentação contará com um elenco de seis cantores portugueses, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigidos pelo Maestro João Paulo Santos. O concerto será gravado pela Antena 2 e editado para CD. Neste festival poderemos ainda ouvir obras de João Domingos Bomtempo, Bach, Monteverdi, Shubert e Mozart. Os locais dos concertos serão o Mosteiro de Sta. Maria de Alcobaça, o Convento de Sta. Maria de Cós, o Cine-teatro de Alcobaça, o Centro Cultural Gonçalves Sapinho, Igreja Matriz de São Martinho do Porto e Casa da Cultura Teatro Stephens. Destacamos a participação neste festival da Banda Sinfónica de Alcobaça, Camerata de Sopros Silva Dionísio, Orquestra de Câmara Portuguesa e Coro do Teatro Nacional de São Carlos, entre outros agrupamentos. No mês seguinte

teremos como cenário a linda vila de Óbidos com a Semana Internacional de Piano de Óbidos (SIPO) cuja primeira edição teve lugar em 1996. De 8 a 21 de agosto o burgo medieval é “assaltado” por um encontro internacional de jovens músicos, contendo na sua programação masterclasses, exposições e concertos. Contando com um público intergeracional, este festival é já uma referência nesta região. A harmonia brilhante e a voz poética do som do piano, instrumento importantíssimo na história da música ocidental, é celebrizado em Óbidos através da junção de uma grande concentração de talentos nacionais e internacionais, aliada a uma excelente programação onde se podem ouvir obras de Scarlatti, Beethoven, Ginastera, Prokofiev, Lopes-Graça, Debussy, Ravel, Liszt, Schumann entre outros. Finalmente, e já para setembro, o Festival dedicado ao compositor italiano do final do renascimento Claudio Monteverdi que decorrerá no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Este ano comemorase 450 anos do seu nascimento, pelo que, poderemos ouvir durante todo o mês o compositor de madrigais renascentistas e grande impulsionador da ópera. Destacamos na programação deste festival, a obra Vésperas de Nossa Senhora, publicada em 1610. Esta obra emblemática, escrita na contra-reforma, assume o nascimento do período barroco – época que se caracteriza especialmente pela renovação da linguagem musical em que a música se liberta da modalidade dando lugar à definição da tonalidade e a sua consolidação. Estará no CCB a 14 de setembro. Convidamos assim os leitores para uma experiência sensorial diferente que contribui para a revitalização local, a descoberta de lugares históricos e audições memoráveis. Susana Cruz


22 TL JUL-AGO 2017

Os contos do zambujal

REGRESSO AO PARQUE

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ara fugir aos apertos maiores do trânsito rumaram à praia pelo nascer do dia. E desde cedo foram alterando a exposição dos corpos ao sol com os mergulhos nas ondas da maré alta. Assim se divertiram até André dizer: - Vamos para casa. São horas do almoço. - Só mais um mergulho – pediu Luísa correndo para o mar. Passou tempo demasiado para um mergulho só, André, impaciente, acercouse da rebentação e chamou: - Luísa! Então? - Vou já. Agora é que dou o mergulho da despedida. Ele caminhou de regresso ao ponto onde haviam deixado as roupas. O rosto de André Vestiu-se. Olhou de novo não mostrou sinais e na multidão dos que se banhavam descobriu Luísa de recordações nadando de costas. E logo quando a condutora um mergulho. E outro. Sentou-se e esperou com imobilizou o a irritação em crescendo. veículo no parque Veio o momento em que considerou ter já esperado de estacionamento demais e afastou-se em agora deserto passadas largas pelo passadiço de madeira sobreposto ao areal. No parque de estacionamento, o carro escaldava. Estendeu a toalha sobre o banco e rodou a chave da ignição. Arrancou para casa.

L

argos minutos depois, Luísa chegou ao lugar onde o casal deixara os seus pertences. Ao princípio não entendeu a ausência do companheiro. Mas não tardou a notar que as roupas e o saco dele já não se encontravam junto da bata de linho, a bolsa e as sandálias dela. Ainda correu em biquíni pelo passadiço, pesquisou pelo parque de estacionamento e concluiu, espantada, que ele tivera a desfaçatez de a deixar ao abandono. Chorou de raiva. Desesperada, abordou banhistas que se aproximavam das suas viaturas interrogando da possibilidade de a levarem de volta à cidade, dado que “um malentendido” a deixara sem transporte. Encontrou,

enfim, a compreensão de duas turistas louras e tostadas. Franquearam-lhe lugar no jipe e, mal se acomodou, Luísa retirou da bolsa o telemóvel para expedir um sms furibundo: “Nunca mais te kero ver.” A resposta veio rápida: “Ok, qdo voltares já ka não estou.” Assim ficaram.

D

ois meses passados, meses longos sem se avistarem ou trocarem sinais de vida, Luísa e André quase chocavam ao dobrarem uma esquina da cidade. Chovia grosso. Estacaram surpresos pelo inesperado do encontro e sorriram como se não existisse passado. - Olá, Luísa, que bom ver-te – disse ele. - André, tudo bem contigo? Pareces óptimo – disse ela. - E estou. Tal como tu, Luísa, deixa olhar-te dos pés à cabeça. Um encanto! - Obrigada. Mas vê como chove, não tarda estamos como pintos caídos no tanque. - Procuremos um bar para um copo? Peço-te. - Concordo, André, mas eu escolho o bar. Para já, abrigamo-nos no meu carro, está aqui a vinte metros. - Compraste um carro, Luísa? - Usado. Mas está como novo, anda daí. Enfiaram-se no utilitário de Luísa, ela ligou o motor e deu asas às escovas do pára-brisas. - O teu carro é um mimo mas não é aqui que podemos tomar um copo a festejar o reencontro. - Calma, vamos a caminho. - Com esta chuva não vejo por onde andamos. Conversaram sobre a perícia de Luísa na condução, a importância dos pneus, os embaraços do trânsito. Rolavam já na malha de auto-estradas por onde se chega e parte da cidade, André comentou: - Deduzo que estás na fase de entusiasmo pela condução. Vamos longe, parece. - Falta pouco. E julgo, André, que gostarás de voltar ao bar da praia que tantas vezes frequentámos. Ele soltou uma gargalhada. - Esse? Pensei que estaria encerrado mal

acabasse o Verão. - Aberto, juro. O rosto de André não mostrou sinais de recordações quando a condutora imobilizou o veículo no parque de estacionamento agora deserto. Tal como deserta a sala. Escolheram a mesa de onde melhor se apreciava a agitação do mar. - Boa ideia, Luísa. E que tomas? Para mim, venha um gin tónico. - Eu limito-me a um sumo, sabes a regra, se conduzir não beba. Conversaram sobre a vida em geral, não, em concreto, sobre a vida de cada um deles, passada ou actual. - Outro gin – pediu André, de longe, ao empregado solitário. - Não posso demorar muito, desculpame, segredou Luísa depois de uma olhadela ao relógio. - Deixa lá as horas, menina. Este não é um dia extraordinário, surpreendente, feliz? - De acordo. Mas depois desse teu segundo gin, partimos, certo? - Certíssimo. Brindo ao acaso que permitiu ter agora a tua companhia. - Obrigada pelo cumprimento. Falando e beberricando, André esvaziou o copo e, cada vez mais exuberante, pediu: - Outro gin, se faz favor? - André, estás a exagerar. - Querida, um dia não são dias e este é um dia especial. Não sentes isso? - Mas tenho horas. E tu começas a ficar embriagado. - Eu? – Riu-se, bamboleando o corpo e levantando os braços – Embriagado por ti, filha, não entendes? Bebo para saudar o teu reaparecimento. E vai mais um. Senhor empregado, um ginzinho, faça favor. Aonde vais, Luísa? - Só ali. Demorava. André entreteve o tempo com outra festiva bebida, depois dormitou com os cotovelos na mesa e a cabeça entre as mãos. Acordou ao sentirse abordado pelo empregado do bar, um senhor de casaco e bigode brancos. - Desculpe, mas são horas de fechar. Na época baixa o estabelecimento encerra ao princípio da noite. Tem aqui a continha. Atarantado, pagou e em passos inseguros tomou o caminho da porta. O vazio do parque de estacionamento mostrava a realidade cruel: Luísa partira para a cidade, abandonando-o à sua pouca sorte. Soltou um urro de raiva e com raiva dedilhou no telemóvel: “Nunca mais te kero ver”. A resposta veio breve e curta: “Ok.” [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

Mário Zambujal


TL maIO-JUN 2017 23

Passatempos

agenda inatel

Palavras cruzadas POR josé lattas 1

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ATIVIDADES CULTURAIS E DESPORTIVAS

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VERTICAIS: 1-Arsénio (s.q.); Acirras; Voz da cabra. 2-Estômago; Bebedeiras. 3-Vamos!. 4-Gemido; Ligava; Assento.

5-Designação de cada uma das antigas lendas escandinavas; Auscultar. 6-Cores; Divulgar. 7-Cervos; Apara. 8-Einsténio (s.q.); Recorda; Artigo definido (fem. pl.). 9-Prezo. 10-Irrito; Vírgula. 11-Rádio (s.q.); Aparência (pl.); Alcançar.

Évora

Serões à quinta-feira, no Pátio da Fundação Inatel, Rua Serpa Pinto, 6, com entrada livre, até setembro. Grupo Coral da Associação Cultural e Recreativa Casa dos Almocreves, 17 de agosto; Grupo Coral Feminino da Granja Flores de Abril, 24 de agosto; Banda da Casa do Povo de Lavre, 7 de setembro.

Horta

CCD Fest – Centros de Cultura e Desporto (CCD), das Ilhas do Pico e Faial. Atuações da Sociedade Filarmónica Euterpe Castelo Branco, 17 de agosto, às 21h30, no Largo do Infante, Horta; Grupo de Cantares Recordar é Viver, 17 de agosto, às 21h00, e Sociedade Filarmónica União Ribeirense, às 22h30, no Jardim da Baleia, Lajes do Pico.

Soluções: 1-AMUAS; VETAR. 2-SA; IATES; FA. 3-LA; GOA; CI. 4-PA; LANDE; OC. 5-I; AI; SOVA; A. 6-CALAS; SOMAR. 7-A; AVOS; CO; A. 8-SO; ANOTA; CS. 9-PI; DAI; PO. 10-MA; PARRA; MI. 11- ESTER; ASSAR.

Horizontais: 1-Embezerras; Proibir. 2-Apelido de muitas figuras ilustres portuguesas; Embarcação de recreio, a motor ou à vela (pl.); Nota musical. 3-Adiante; Antiga possessão portuguesa, na Índia; Cento e um, em numeração romana. 4-Rapaz; Bolota; Partícula do dialecto provençal. 5-Além; Pancadaria. 6-Ocultas; Juntar. 7-Bagatelas; Cobalto (s.q.). 8-Título de um livro de poemas de António Nobre; Comenta; Césio (s.q.). 9-Em matemática, a razão entre a circunferência e o seu diâmetro; Abonai; Polónio (s.q.). 10-Feminino de mau; Folha da videira; Nota musical. 11-Heroína hebraica, do livro com o mesmo nome, esposa do rei persa Xerxes; Queimar.

In.Tradição, Animação Itinerante, aos sábados, entre as 10h30 e as 12h30, no centro histórico de Santarém. Participações do Rancho Folclórico da Ribeira de Santarém, 26 de agosto; Rancho Folclórico e Cultural do Covão do Coelho, 2 de setembro; Rancho Folclórico Os Camponeses de S. Vicente do Paúl, 16 de setembro; Rancho Típico de Foros de Salvaterra, 23 de setembro.

Vila Real e Bragança

Encontro de Jogos Tradicionais, 10 de setembro, em Sabrosa. A iniciativa, organizada pela Fundação Inatel, em parceria com a Câmara Municipal de Sabrosa, conta com a participação dos distritos de Coimbra, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real e Bragança.

Sudoku POR Jorge Barata dos Santos Problema n.0 4 Prencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado.

Santarém

Lisboa

Domingos com música: Concerto da associação cultural Cultivarte – Quarteto de Clarinetes de Lisboa, 24 de setembro, pelas 11h30, no salão nobre do Teatro da Trindade Inatel.

Encontro de Teatro da Fundação Inatel, entre 2 de setembro e 28 de outubro. O festival, em colaboração com autarquias da região transmontana e duriense, apresenta espetáculos de oito grupos cénicos, com entrada livre.

Portalegre

Soluções:

Rota dos Coretos do Norte Alentejano: Sociedade Musical Nisense, Nisa, 1 de agosto, 21h30; Associação Cultural Recreativa Musical 1.o de Dezembro, Campo Maior, 13 de agosto, às 21h30; Banda Municipal Alterense, Alter do Chão, 14 de agosto, às 21h30; Banda União Artística de Castelo de Vide, Castelo de Vide, 21 de agosto, às 21h00; Sociedade Musical Euterpe, Portalegre, 9 de setembro, às 16h, Banda Juvenil do Gavião, Gavião, às 18h, Filarmónica do Crato, às 21h; Filarmónica do Crato, Gáfete, 16 de setembro, às 21h00; Orquestra de Ponte de Sor, Ponte de Sor, 23 de setembro, às 18h00.

Viseu

All Day Palace, dois dias de Desporto e Aventura, nas Termas de S. Pedro do Sul. Sábado, 26 de agosto: Torneio de Canoagem, às 9h30; Torneio de Tiro ao alvo e Workshop de Xadrez, às 14h30; Domingo, 27 de agosto: Trail Running (13 km), Caminhada Inatel Palace (6 km), às 9h30; Torneio de Malha, às 14h30. Inscrições e informações: inatel.viseu@inatel.pt | Tel. 232423762


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