Tempo Livre Janeiro/Fevereiro 2018

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DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL 3.a SÉRIE • 1€ N.0 9• Jan-fev 2018

Ano Europeu do Património Cultural



ÍNDICE

TL Jan-FeV 2018 3

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Entrevista: Iva Bittová e Paolo Angeli

Fotorreportagem Manteigas

Fotorreportagem Ciclo Mundos

9 Viajando com livros

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capa

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A Casa na árvore

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Memórias de Júlio Isidro

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Entrevista: Diogo Infante

Viagem: Açores

Desporto: António Raminhos

Campeonato gastronómico

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Teatro da Trindade Inatel

Contos do Zambujal

Coluna do Provedor | Notícias

Passatempos | Agenda

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Editorial

FRANCISCO MADELINO Presidente da fundação inatel

património cultural

S ilustração

susa monteiro

usa Monteiro vive em Beja, cidade onde nasceu. Estudou Realização Plástica do Espectáculo na Escola Superior de Teatro e Cinema, e cinema de animação no CITEN. Durante alguns anos trabalhou como figurinista, caracterizadora e aderecista para o teatro e para o cinema. Em 2009, com a inauguração da Bedeteca de Beja e do Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja (onde é responsável pela linha gráfica e co-organizadora), deixa definitivamente as artes do espectáculo e passa a dedicar-se exclusivamente à banda desenhada e à ilustração. Nos últimos anos ilustrou livros para diversos autores: António Torrado (Pato Lógico), Afonso Cruz (Alfaguarra), Susana Cardoso Ferreira (Oficina do Livro), etc. E ilustrou cartazes e panfletos para várias instituições e projectos (Casa da Música, Palavras Andarilhas, Almarte – Festival de Artes na Rua, La Guarimba International Film Festival, entre outros). Publica regularmente ilustrações e bandas desenhadas em vários álbuns, fanzines, jornais e revistas. Tem exposto frequentemente o seu trabalho em festivais de Banda Desenhada e galerias, individual e colectivamente. Publicou recentemente o livro Sonho pela editora Pato Lógico. E está actualmente a ilustrar dois livros para o público infantojuvenil, um para a Pato Lógico outro para a Bruáa editora.

A

s comemorações dos anos que simbolizam um tema são ainda uma boa forma de o lembrar e realçar a sua importância. Neste ano de 2018, a União Europeia escolheu o Património Cultural. Se há coisa que a velha Europa tem mais valiosa é a sua herança cultural, física e imaterial. Uma herança rica, diversa, criativa e humanista. Na diversidade está a base da Europa das Nações. No humanismo e tolerância europeus ao diferente está a base do projeto da União Europeia e das suas potencialidades para o diálogo intercultural e a Paz. O ano de 2018 é também o ano em que se comemora um século do fim da Primeira Grande Guerra, que atolou a Europa de mortos e de ódios, no século passado. Os nacionalismos, os imperialismos e as diferenças culturais foram, nesses tempos, fontes de guerra, e não causas de riqueza e de diálogo. Hoje, a capacidade de dialogar, entender o outro, unir as diferenças, sem as apagar, e transformá-las em misturas de criação e fontes de novas ideias e de liberdade, são grandes desafios para o Mundo e para a Humanidade. Em tempos de populismos e nacionalismos, a Cultura, agora, mais que nunca, deve e tem de ser fonte de Paz e Beleza. A Inatel sempre esteve, na sua História, nascida entre as Grandes Guerras do século XX, no centro da divulgação e promoção do nosso património cultural, mas também em aprofundar umas mais profundas heranças nacionais, o cosmopolitismo, a nossa capacidade de por heranças culturais distintas em diálogo. A Inatel é ainda consultora da UNESCO para o Património Mundial da Humanidade, reconhecendo assim, esta organização das Nações Unidas, as suas competências e vocação culturais. Este número do Tempo Livre é assim, também, uma dedicatória àquilo que faz o Homem, a Cultura, evocada neste Ano Europeu do Património Cultural.

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Entrevista Iva Bittová & Paolo Angeli

Precisamos de conversar sobre música improvisada A temporada de 2017 do Ciclo Mundos terminou, no passado dia 12 de dezembro, com um notável e improvisado diálogo entre a checa Iva Bittová e o sardo Paolo Angeli. Um improvável encontro entre uma compositora e violonista avant-garde de múltiplos recursos vocais e um instrumentista e construtor de um cordofone preparado de 18 cordas, híbrido entre guitarra, barítono, violoncelo e bateria que, além de exímio músico, é um ávido conversador

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ouco antes do espectáculo no Teatro da Trindade Inatel, o Tempo Livre teve a oportunidade de dialogar informalmente com os dois músicos que mantêm viva a paixão de estudar e de descobrir diariamente novas formas musicais. Como é que se conheceram? Que motivações tinham para trabalhar em duo? Iva Bittová - O Paolo tem melhor memória. Paolo Angeli - Lembro-me que era um grande fã da sua música e a vi em concerto em Bolonha num grande momento da sua vida artística... Iva Bittová - Já não tenho mais desses momentos… (risos). Paolo Angeli - Sou mais novo do que a Iva e, para mim, ela é como uma lenda. Vê-la a fazer digressões por Itália, com diferentes projectos: a solo, a duo, com o Techno Mit Störungen. Iva Bittová - Isso foi há muito tempo, há 20 anos atrás. Paolo Angeli - Sim, em 92, 93... Iva Bittová - Já não existe mais. Paolo Angeli - Era mesmo um grande fã dos projectos da Iva Bittová. Nessa altura, organizámos um pequeno festival na Sardenha (que agora é grande), Isole Che Parlano, e convidámo-la para dar um concerto a solo. Desde essa altura que nos mantivemos em contacto e tornou-se muito natural começarmos a tocar juntos. Iva Bittová - Sim. Penso que temos a mesma abordagem na forma como criamos música em palco, sobretudo na forma como improvisamos, como comunicamos com outros músicos. Muito abstrato mas ao mesmo tempo muito real. Tentamos sempre construir uma narrativa enquanto improvisamos. E sou muito inspirada pelo temperamento e pelas melodias sardas. Também adoro o instrumento, a voz e o registo a solo do Paolo. Toco violino, não construí um instrumento complexo, faço coisas simples, mas temos laços muito fortes em comum.

Ambos têm uma forma muito especial de abordar os concertos. É muito importante interagir com a audiência em cada concerto que dão? Iva Bittová - Preciso de tocar ao vivo. É o mais importante para filtrar a energia e as ideias sobre aquilo que pensamos no diaa-dia. Absorvo-as e ponho-as na música, ofereço-as à audiência e, geralmente, ela devolve-me essa energia. Penso que é o mais importante. No início dos concertos a solo, com a banda, com a orquestra ou com o Paolo preciso sentir, a partir do primeiro momento, que as pessoas estão ligadas. Há muitos anos que toca em formato de duo com um outro parceiro e conterrâneo Vladimír Václavek. O que é que espera dele (ou do Paolo) quando partilham um palco? Iva Bittová - Preciso de ouvir da parte deles novas ideias para criar algo inesperado, mas musical. Mas o mais importante é tentar encontrar uma mesma linguagem de forma a oferecer algo novo à audiência. Como se constrói o alinhamento de música improvisada para um espectáculo como o vosso? Paolo Angeli - Há diferentes formas de ser um improvisador, como esse não idiomático que não gosta de tocar canções que são como um tabu. O que eu gosto na Iva é que tanto pode estar num registo muito livre, como pode focar-se numa ideia que pode ser uma canção que ela interpreta há mais de vinte anos e que está sempre a mudar a forma como a aborda. Na Sardenha é muito complicado escrever uma composição do princípio ao fim. Dividimo-la em pequenas partes, em módulos e mudamos a organização dos elementos. Com a Iva há sempre uma base de improvisação na forma como as interpretamos. É mais material, é como cozinhar. Iva Bittová - É como uma jornada. Como ir a um sítio onde nunca estivemos e tentar construir algo novo. Para si, abordar uma canção da Sardenha é uma forma de descobrir algo novo?

Iva Bittová - Sempre. Sou muito inspirada pela folk, por música autêntica de todo o planeta. Gosto de ouvir os ornamentos, as frases musicais que usam, como constroem dinâmicas. É como pintar um quadro bonito, ou, como disse o Paolo, é cozinhar com muitas especiarias ao dispor e então, a cada momento, escolhemos aquelas que ficam melhor. Como é que começam a improvisar? Com uma melodia, com um drone? Paolo Angeli - Depende, se estivermos num teatro com 30 pessoas em que vemos a cara de toda a gente, ou num grande palco com 1000 pessoas, ou se tivermos tido uma viagem desgastante. Podemos tocar mais forte, mais intenso, ou mais soft, mais relaxado. Tocar a solo é diferente de tocar em duo. Podes tocar sempre aquilo que o outro não quer. Penso que o duo tem uma dinâmica de comunicação muito intensa. É mais fácil tocar em trio do que em duo, porque em duo mais facilmente percebes se o teu parceiro está em palco ou não. A energia não chega se não estiveres disposto a comunicar. Gosto de tocar com a Iva. Nunca fizemos uma digressão e por isso nunca nos saturámos de tocar as mesmas coisas muitas noites seguidas. É sempre uma alegria quando nos juntamos. Estamos na era da globalização. A Iva chegou com a sua história. Não é música da Morávia, é música da Iva Bittová que ela interpreta. Quando ela canta não sei o que está a cantar (risos). Iva Bittová - Obrigada (risos). Paolo Angeli - Tento digerir toda esta informação e articulá-la na minha memória. No primeiro concerto estudei muito composição. Punha uma nota aqui e era ali. No concerto seguinte era diferente. Estava continuamente a ser surpreendido. O que é preciso é tocar. Também tens estado a tocar de forma muito intensa com o teu espectáculo a solo. Ainda agora editaste um duplo álbum ao vivo – “Talea” – gravado em vários continentes em que mostras

um vastíssimo repertório que vai mudando de concerto para concerto. Tens composições para cinco ou seis horas de espectáculo. A que se deve esse desenvolvimento profícuo do teu lado de compositor? Paolo Angeli – A improvisação é uma forma de explorar o material. É como olhar para uma coisa que nos emprestaram. Não faz sentido estarmos sempre a viajar e tocar em todos os concertos o mesmo repertório. Normalmente, a minha ideia acerca da música é a de tentar surpreender-me diariamente. Então autopressiono-me. Há concertos em que o público é muito receptivo, gostou muito e aplaudiu de forma efusiva mas para mim foi terrível. Não houve nada de novo naquele espectáculo. É como olhar-me ao espelho e não ver mudanças. Iva Bittová - És muito crítico contigo (risos). Ele muda muito e surpreende-me muitas vezes. Paolo Angeli - A sério? Iva Bittová - Eu trabalho muitas vezes em cima dos erros. E tento surpreender-me quando sou bem-sucedida. Paolo Angeli - E como te sentes com isso? Iva Bittová - Gosto. É normal. Paolo Angeli - Humano? Iva Bittová - Sim. Paolo Angeli - Perguntam-me sempre. Porque é que começaste a improvisar? Aconteceu desta forma. Comecei a tocar a solo, toquei muitas composições e cometi muitos erros em que era impossível tocar de forma correcta muita dessa música. Senti que a improvisação põe cá para fora toda esta energia. E torneime improvisador sem ter decidido ser improvisador. Descobri que após exteriorizar a tensão fico mais relaxado para tocar a composição. Claro que isto era no início, há 20 anos atrás. Hoje em dia, em alguns espectáculos, toco composições que já não tocava há 15 anos. Corro o risco de o fazer em palco e se cometer erros assumo que é uma coisa humana. É bom cometer erros.


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beatriz maduro

Iva, continua a viver nos Estados Unidos? Que oportunidades tem para evoluir na forma como improvisa? Costuma tocar muito com os músicos de jazz da “downtown” nova-iorquina? Iva Bittová - Desde 2007 que tenho uma casa na floresta [em Hudson Valley no Estado de Nova Iorque]. Vivo lá porque quero aprender mais sobre música e este é um óptimo sítio para tocar e conhecer músicos. Há muita competição, grandes músicos. Tens de trabalhar muito afincadamente para lá estar, para tocar com regularidade. Para mim é como frequentar uma universidade. Conheço pessoas que gostam da minha música. Recebo muitos convites e toco com muitos grupos variados: duos, trios, bandas. Mas continuo a viajar frequentemente até à Europa onde há muita inovação. A minha ideia agora, porque estou a ficar mais velha (risos), é abrir uma escola de voz nos Estados Unidos. Para ensinar técnicas de canto? Iva Bittová - Para desenvolver a capacidade de improviso, de se expressarem. Há muitos estudantes que nunca cantaram, tenho cantores profissionais de ópera que querem aprender como mudar e criar outra expressão, usar a voz de outra forma. Uma enorme variedade de estudantes que gosto de satisfazer. Também sou muito inspirada pela forma como eles trabalham e pelo que eles extraem das minhas aulas. Um dos álbuns mais recentes que lançou é “Fragments” (2013) dividido em doze fragmentos numerados. O 12 é um número importante neste disco. É uma forma cabalística de fazer as coisas? Iva Bittová - Os números sempre foram importantes para mim. Guardam segredos. O meu número mais divertido é o 7. Paolo Angeli - 12? Também é o meu número. Fui guarda-redes. Se vires os meus CD, verás que todos eles têm 12 faixas. Iva Bittová - Mas não foi combinado.

“Sou muito inspirada pela folk, por música autêntica de todo o planeta. Gosto de ouvir os ornamentos, as frases musicais que usam, como constroem dinâmicas” Iva Bittová Decidi gravar uma só composição e o produtor dividiu-a em 12, 9 ou 7 partes. Os números são importantes. Estou sempre ligada a notas. Desde os tempos ancestrais os números sempre foram importantes. Há intenção de gravar um disco a duo? Paolo Angeli - Ainda não decidimos. Como também não decidimos tocar juntos. Aconteceu. É algo que poderá acontecer mas que não será planeado. Iva Bittová - Não fazemos pressão para entrar em estúdio. Apenas gostamos de tocar juntos. Talvez um dia surgirá. Mas poderão editar um disco ao vivo… Paolo Angeli - Ao vivo é o meu formato de disco preferido. Iva Bittová - Quando improviso, construo o momento certo, a magia com a audiência. É como uma fotografia daquele momento. Paolo Angeli - Mas poderá acontecer

num estúdio, numa igreja com uma boa acústica que nos motive a gravar. Para vocês, parece-me que não é necessário ter um disco para vender concertos. Os programadores confiam nos vossos nomes, certo? Paolo Angeli - Sim, não enviamos material. Eles têm muita curiosidade em ver que estamos a fazer e confiam em nós. O promotor assume esse risco. Tenho uma questão para a Iva: Disseste que gostas de ensinar técnicas vocais. Neste momento qual é a tua relação com o violino? Iva Bittová - Paolo, neste momento estou mais focada no canto. Continuo a ensaiar mas neste momento não estou a conseguir cumprir o tempo de prática necessário como 4 ou 5 horas diárias. Mas, por exemplo, no último ano em que estive no Rajastão, comprei um violino belíssimo local. E também há uns anos atrás estudei violino barroco. Agora tenho uma maior variedade de sons para criar nova música. Estou focada em escrever nova música porque quero terminar os estudos universitários e, então, começar a compilar todas as técnicas e sons de violino. Penso que isso afecta a minha voz e a muda um pouco. Falou no violino do Rajastão. Também toca sentada e a fazer glissandos contínuos? Iva Bittová - Nunca me sento. Toco à minha maneira. Preciso de estar a andar. Depende da minha saúde. Satisfeito, Paolo? Paolo Angeli - Sim. Tinha curiosidade em fazer esta pergunta porque sempre foste uma violinista excepcional com uma personalidade incrível e, nos últimos 10 anos, pareces mais focada na voz. Iva Bittová - Sim, porque há mais liberdade e porque toco com muitos músicos diferentes. Paolo Angeli - Quando improvisamos com alguém é muito importante conversar, descobrir coisas novas, muito mais do que tocar juntos. Quando vais tocar já és amigo e aí tocas de forma diferente. Gostei do que ela disse: Quando fazes demasiados concertos

“Gosto de tocar com a Iva. Nunca fizemos uma digressão e por isso nunca nos saturámos de tocar as mesmas coisas muitas noites seguidas. É sempre uma alegria quando nos juntamos” Paolo Angeli deixas de ter tempo para te focares na tua música. O meu sonho é continuar a desenvolver ideias na guitarra mas nem sempre é possível. É muito delicada. O público é um espelho perigoso. Muitas vezes o público espera que te mantenhas igual, que toques esta canção, aquela composição. Mas se pretenderes ser músico durante toda a vida, precisas de descobrir coisas novas diariamente. Senão a profissão de músico é como qualquer outra. Mais um dia no escritório. A minha ideia é ter oportunidade, estudar e descobrir música continuamente. Iva Bittová - Podes fazer isso. Tudo tem a ver com a forma como organizamos o tempo.

Luís Rei [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, Carlos Seixas, programador e diretor artístico do Ciclo Mundos e do Festival Músicas do Mundo, Elida Almeida, cantora cabo-verdiana, Diogo Infante, diretor artístico do Teatro da Trindade, e Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara Municipal de Sines, na apresentação da programação da 3.ª edição do Ciclo Mundos.

fotorREPORTAGEM

Apresentação da 3.a edição do Ciclo Mundos Dez concertos da world music, de fevereiro a novembro, no Teatro da Trindade

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arranque da 3.ª edição começou com Zap Mama, dia 9 de fevereiro, depois da apresentação dos espetáculos programados para este ano, no Trindade. Nos dias seguintes, 10 e 11 de fevereiro, foi a vez de Elida Almeida subir ao palco, com concertos esgotados. Para o presidente da Fundação Inatel,

Francisco Madelino, o terceiro ano do Ciclo Mundos vem mostrar ao público que “é possível ter projectos multiculturais e interculturais, que façam das diferenças entre os povos um motivo de união e de criatividade artística”. E acrescenta: “A Fundação Inatel é vista como uma coisa ligada a públicos ou movimentos culturais não

Atuações do grupo Coral de Beja, e da companhia de dança Pálinka, formada por cinco artistas que vivem a dança cigana/romani, no átrio do Teatro da Trindade.

tão inovadores, mas isso não corresponde à realidade da nossa ação, e este projeto é muito mobilizador e ilustrativo disso mesmo.” Um projeto que cresce em parceria com o Festival Músicas do Mundo de Sines, com quem nasceu há três anos.

Maria João Costa (texto) Beatriz Maduro (Fotos)

Concerto de Zap Mama, 9 de fevereiro. Zap Mama é um projeto de Marie Daulne, a diva belga-congolesa, com outros músicos, que levam ao palco influências musicais que vão desde o R&B, hip-hop, jazz a sons tribais.

Zap Mama, no camarim, após o concerto da sessão de abertura da 3.ª edição do Ciclo Mundos.

Concerto de Elida Almeida, 10 e 11 de fevereiro. Com uma voz suave e quente, a jovem cabo-verdiana apresentou o segundo álbum, “Kebrada”, lançado no final de 2017, onde afirma a sua identidade africana, a energia latina e os ritmos caboverdianos do batuque, funaná, coladera e tabanka.

Os concertos do Ciclo Mundos, Zap Mama e Elida Almeida, entre 9 e 11 de fevereiro, levaram ao Trindade 1250 pessoas. Elida Almeida, numa sessão de autógrafos após o concerto.



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fotorREPORTAGEM

Cerimónia de descerramento da placa de inauguração da unidade hoteleira requalificada

Fachada principal da unidade hoteleira de Manteigas

INATEL MANTEIGAS Porta aberta para saúde bem-estar e natureza

A

Fundação Inatel inaugurou a requalificada unidade hoteleira de Manteigas, em novembro, com a presença do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva. Já é possível usufruir de um edifício completamente remodelado, com a construção do novo passadiço, que consiste numa ligação climatizada entre o edifício principal e o termal, permitindo a comodidade aos hóspedes de usufruírem da totalidade dos serviços das Termas sem se deslocarem pelo exterior; e melhoramentos no edifício termal, tanto a nível de circulação de pessoas, como para conforto de quem procura a unidade. O objetivo é promover o turismo de saúde e bem-estar, e o turismo de natureza será outra das prioridades, associando-se aos programas do Natural.pt, uma marca do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, e não é indiferente que do ponto de vista paisagístico, o hotel dispõe de uma localização extraordinária, perfeita em qualquer época do ano. Maria João Costa (texto) Beatriz Instalações das Termas

Maduro (Fotos)

Exterior jardim

Sala de estar, Bar e Restaurante

Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, junto à placa da inauguração

Visita à unidade hoteleira e complexo termal de Manteigas, pelo ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, presidente e vogais da Fundação Inatel, Francisco Madelino, José Alho e Álvaro Carneiro, presidente da câmara municipal de Manteigas, Esmeraldo Carvalhinho, presidente da junta de freguesia de Fornos de Algodres, Manuel Fonseca, entre outras entidades convidadas, e dirigentes da fundação.


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Viajando com livros

Pascoaes: a terra, o rio, a casa DR

Há em cada região do País poetas, escritores e artistas, cuja obra interpreta e representa o espírito do lugar. Teixeira de Pascoaes é um deles. Mas pela sua dimensão cósmica transcende o regional e ganha amplitude nacional e universal Por António Valdemar

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ascoaes e a sua obra enquadram-se num país de névoas e de chuvas, tão diferente do Portugal solar, o Portugal das claridades do sul, do Alentejo escaldante de Fialho e Manuel da Fonseca; e do Algarve luminoso de Teixeira Gomes, a irradiar Agosto Azul. Pascoaes caracterizou esse outro Portugal de brumas opressivas: «Nuvens, rochedos, fontes murmurosas, / eu sou, na vossa noite, a luz do amor. / Em mim, o luar é sonho que alvorece,/ em mim a fria terra é sentimento / e nos meus versos chora a voz do vento» (Cantos Indecisos). Ou, então: «As coisas que me cercam silenciosas, / são almas a chorar que me procuram» (Vida Etérea). E ainda: «Eu sei tirar das cousas o seu íntimo/ sinal harmonioso e transcendente./ A espiritual imagem desprendida/ das formas e das cores, vem morrer/ nos meus ouvidos de alma... e ali renasce» (O doido e a morte). Têm dentro de si o Marão, o Tâmega e, mais ainda, a casa de São João de Gatão. O pequeno grande mundo familiar é um dos seus mais fortes vínculos: «misteriosa casa,/ onde tu, ó sombra minha esvoaças!/ E entremostrando vai teu esqueleto/ de pedra e teus postigos sem vidraças.../ Negros fundos buracos que parecem/ esse olhar das caveiras, insondável/ e sempre fixo em nós, com a insistência/ da quietação, da inércia imperturbável» (As Sombras). Este local de Amarante distingue-se das próprias regiões vizinhas. Na paisagem física, na flora, na fauna e na ocupação humana. Reflete-se em toda a criação literária de Pascoaes. Incorpora o espírito do finisterra ibérico que, ao longo dos séculos, definiu um modo de vida e uma expressão de cultura. Isto lhe bastou para aprofundar a relação do homem com o universo, o enigma do ser, o sentido mágico e trágico da vida. Tinha or-

gulho em confessar: «Sem esta terra funda e fundo rio/ que ergue as asas e sobe em claro vôo;/ sem estes ermos montes e arvoredos/ eu não era o que sou» (Vida Etérea). Será possível, no século XXI, continuar a ler Pascoaes e motivar as gerações atuais para a sua poesia e para as obras de interpretação biográfica que dedicou a grandes figuras universais? A interrogação não é de hoje. Quando, em 1977, se comemorava o centenário do nascimento de Pascoaes e que reuniu personalidades tão diferenciadas, mas unânimes no reconhecimento do génio de Pascoaes, Eugénio de Andrade avançou com esta afirmação que procurava ser perentória: «Dentro dos nossos conceitos de poesia Pascoaes é, entre todos os nossos grandes poetas, o mais difícil de recuperar». Apesar da profunda transformação que se verificou na poesia, da erradicação implacável de obras e autores que se julgavam com lugar cativo na posteridade, Pascoaes não foi atingido. Manteve os seus adeptos e conquistou admiradores nas várias gerações atuais. Muitas vezes, em consequência da reação a um certo excesso de imposição de Fernando Pessoa e da sua obra ortónima e heterónima. Entre outros contributos houve a reedição (Assírio e Alvim) de quase todas as obras de Pascoaes; surgiram numerosos estudos de investigação literária, muitos dos quais no âmbito universitário e que abriram novas pistas e reflexões em torno da criação de Pascoaes como poeta e, também, como biógrafo de São Paulo, de São Jerónimo, de Santo Agostinho, de Napoleão e de Camilo Castelo Branco. O empenhamento de ensaístas e críticos tem decorrido, enquanto também se verificou a publicação de antologias da obra poética organizadas e prefaciadas por Jorge de

Sena, Alfredo Margarido e Mário Cesariny. Sophia de Mello Breyner, em 1953, no número dos Cadernos de Poesia dedicado a Pascoaes – que falecera em dezembro de 1952 – deixou um depoimento que esclarece algumas das objeções que já se formulavam. «É um poeta – escreveu Sophia – à margem de tudo quanto não seja a própria Poesia. Poucas obras sustentam um confronto com a sua. É uma obra inteiramente colocada em frente da eternidade. Uma obra que passa para além de todas as negações. Mesmo os grandes poetas, se os lemos depois de Pascoaes, nos parecem terrivelmente homens de letras. A sua poesia é a Poesia – por isso se falou sempre pouco e mal da obra de Pascoaes» (...) «Pode-se dizer – observou ainda Sophia – que havia em Pascoaes falta de sentido crítico. Mas o sentido crítico é sempre o sentido crítico duma época e, por isso, envelhece e envelhecendo engana-se». A obra de Pascoaes que descobre e recupera não apenas o valor e o sentido de cada coisa, por mais comum ou mais transcendente que sejam, é uma poesia aberta, sem um circuito fechado. Corresponde, na torrencialidade do seu ímpeto, à definição de Rimbaud: «Liberdade livre». A casa de São João de Gatão onde escreveu quase toda a obra agarrou-o à terra, para dialogar com a água, o sol, a escuridão e o vento. Representou o centro, o eixo, o rosto mais visível de inquietações íntimas. Foi o espaço de confronto no seu labirinto: «Em mim as cousas vagas têm um nome; diante de mim as almas tomam vulto» (Terra Proibida). Para concluir: «o sonho e o amor/ são tão reais que, às vezes, nos parecem tangíveis e palpáveis; pode ver-se!/ E quase choram, sim, quase entristecem,/ numa vaga lembrança do que foram.../ Ah! O espírito existe; existe e vive!/ E tudo o que o espírito criou,/ em sua alegria ou dor amarga/ na terra e céu, estático, ficou» (As Sombras). A memória do poeta perdura na velha casa como ele próprio desejava: «Ó velha casa, depois da minha morte, vaguearei, nos teus corredores, nas tuas salas, quando a sombra e o silêncio invadem tudo... Debruçar-me-ei nas tuas janelas, abertas, sem ruído, vendo o luar encoberto das horas mortas. Vaguearei no teu jardim; e entre as sombras das árvores, serei uma sombra mais...» (Verbo Escuro). Pascoaes coloca-nos perante um horizonte que o levava a surpreender, nas metamorfoses da luz e na opacidade da noite, seres fantásticos que coabitam em ambientes naturais e universos oníricos. «O ser imaginário espiritual – afirmou –, existe, sim;/ é vivo e verdadeiro:/ tem existência cósmica e real/ como o rochedo e o fogo. É a essência mãe./ Sombra originária, a luz escura/ que depois de encarnar em corpo trágico,/ nesse corpo se exalta e transfigura,/ em sentimento eterno» (As Sombras). Tão próximo e distante dos que o rodeavam, debatendo-se com a impossibilidade de vencer inibições que o angustiavam, Pascoaes, ao longo de uma existência implacavelmente solitária, faltou-lhe a outra vida. E assim procurou que a poesia fosse maior do que o poeta.


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A Casa na árvore

A história de uma aroeira monumental no concelho de Avis envolve mártires, papas, resina e virtude Por Susana Neves

A grande fazedora de chuva

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empre que a seca ameaçava os rios e ribeiros do montado de sobro, e os baldes descendo ao fundo do poço regressavam quase vazios, a população de Valongo (concelho de Avis), unida numa mesma aflição, ia à igreja, virava a estátua de São Saturnino de costas para a porta, e depois cozinhava papas debaixo da aroeira (Pistacia lentiscus L.) secular, que ainda hoje se encontra junto à igreja. Por vezes, mal se acabavam de comer as papas (eram sobretudo destinadas às crianças), começava logo a chover, talvez por bondade do santo mártir padroeiro de Valongo, ou da árvore (da família das Anacardiáceas, à qual pertencem também o cajueiro e a mangueira), ou resultado da boa conjunção das energias de todos. Tendo em conta a dramática descida do nível da água da barragem do Maranhão, observada no final do ano passado, e o excelente estado de conservação da aroeira (classificada de interesse público desde 1995, mede actualmente 10,5 metros de altura, e tem 5 metros de largura

de tronco), somos levados a pensar que o rito ancestral, propiciador da chuva, foi abandonado e já não há quem faça as papas. Mas há ainda quem se lembre de as comer e de as cozinhar. Numa gravação sonora, captada muito recentemente por José Grilo, ex-presidente da Freguesia de Valongo (desde 2013, integra a União das Freguesias de Benavila e Valongo), ouve-se Luísa Nunes Cordeiro e José Inácio Coutinho, ambos nascidos na década de 30 do século passado, assegurarem a eficácia do ritual desde que todos os procedimentos fossem cumpridos. “Os condimentos eram dados por sete Marias, virgens”, sublinha Luísa Nunes Cordeiro. As papas eram cozinhadas “debaixo das pernadas da aroeira, que de tão longas tocavam o chão”, conta José Inácio Coutinho. Dois dias depois do ritual, a estátua de São Saturnino voltava à sua posição costumeira, de frente para a porta da Igreja. O facto da aroeira de Valongo ter comprovadamente mais de 600 anos e um porte de árvore gigante seria suficiente para

garantir a sua singularidade dendrológica e importância histórica a nível mundial, uma vez que é comum apresentar-se apenas na forma arbustiva e nem mesmo na ilha de Quios, na Grécia, onde há espécimes muito antigos, usados na produção de resina – as célebres “lágrimas de Quios” ou mástique – chega a atingir tais proporções. A utilização da aroeira de Valongo num culto que envolve São Saturnino, missionário romano cristão assassinado por não querer renunciar a Cristo, acrescenta-lhe uma mais-valia por a fazer participar numa tradição simbólica que desde a antiguidade greco-romana, através de um conjunto de mitos, histórias e lendas, associa a aroeira à integridade. Vejamos como a lenda de São Saturnino evoca outros textos, desde logo o texto bíblico (Daniel 13, versos 22-23), referente à história de Susana e os velhos. Ameaçada por dois velhos juízes que a desejam sexualmente, a bela e delicada Susana prefere rejeitá-los e ser fiel ao marido (honrando a Deus), sabendo de antemão que ao fazê-lo será

Aroeira monumental situada junto à igreja de Valongo (concelho de Avis) e pormenor das folhas e tronco.

condenada à morte. De modo análogo, num mito grego, a ninfa Diktina, longamente perseguida pelo rei Minos, decide preservar a sua integridade – aqui entendida como virgindade –, atirando-se ao mar. E também ainda no martirológio romano, santo Isidoro de Quios, marinheiro da frota imperial de Roma, é decapitado por não querer voltar à idolatria pagã. Nestes três exemplos, a aroeira está sempre presente como “cúmplice” da virtude. Senão vejamos: Susana não chega a ser condenada à morte por apedrejamento porque o profeta Daniel, ainda criança, se dispõe a interrogar os velhos juízes, que por despeito e vingança a acusavam de trair o marido com um jovem. Ao perguntar qual era a árvore junto da qual Susana cometera adultério, Daniel obtém respostas discordantes. O primeiro juiz inquirido refere uma aroeira (lentisco), o segundo, aponta um carrasco (ou carvalho). Do que se conclui que ambos mentem. Por seu turno, a ninfa Diktina não chega a morrer afogada mas, por intermédio da deusa Artemisa, é transformada numa aroeira para que a sua virgindade seja intocável. E por fim, segundo as lendas de santos, as muitas torturas infligidas a Isidoro de Quios, antes de ser decapitado, provocam a compaixão das aroeiras, fazendo-as chorar. Estas lágrimas evocam as referidas “lágrimas de Quios”, gotas de resina que saem de pequenos golpes feitos nos ramos de aroeira. Já em 1566, o sultão de Constantinopla, ávido por essas mesmas gotas de resina, conquista a ilha grega de Quios somente para controlar o comércio de mástique e proporcionar às mulheres do seu harém a “pastilha” que mastigavam diariamente para protegerem as gengivas e conservarem o bom hálito. [A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]


TL Jan-FeV 2018 11

MEMÓRIAS DE JÚLIO ISIDRO

D

e degrau em degrau, Simone foi subindo a escada da vida. Sempre em frente, sempre para cima, mesmo que por vezes parada numa curva apertada, mas de cabeça erguida porque esta mulher que se define como “chamo-me Simone e canto cantigas” não veio a este mundo para se passear por jardins floridos. Simone de Oliveira estreou-se em público no primeiro Festival da Canção Portuguesa, realizado no cinema Império em 1958. Ainda não era o da RTP, apenas o da rádio com transmissão directa através da Emissora Nacional. Adivinho que nesse dia terá dito no camarim, “eu não entro”, tal como passados estes anos todos, ainda hoje o diz, mas não faz. Entra, empurrada por uma alma mais forte do que ela própria imagina, canta, encanta e enche o palco de sentimentos e emoções. Antes do nosso, vence nos anos seguintes, o Festival da rádio. E depois grava um disco de quatro canções, repartidas por quatro caloiros. Canta, “Sempre que Lisboa canta” e é da cidade que a viu nascer que parte, país fora, em espectáculos onde agarrava o público com aquelas mãos que de forma voluptuosa nos cativam e fascinam. Simone entra no mundo da canção de uma forma avassaladora, vence o Festival da Figueira da Foz, e em 1964 dá um ar do seu trajecto dramático com canções de amor sofrido, como “Sempre tu amor” e “Alguém que teve coração”. Nesse mesmo ano participa no 1.º Grande Prémio TV da Canção Portuguesa na RTP, e interpreta mais dois temas de amor, “Olhos nos olhos” e “Amar é ressurgir”. Não ganha, porque a “Oração “ de António Calvário apela ao nosso sentido místico, mas promete a si própria que um dia a medalha de ouro iria pertencer-lhe. Foi no ano seguinte, 1965 que o “Sol de Inverno” aquece a alma dos jurados, espalhados pelas capitais de distrito. Bela, sensual, aparentando uma força, que supera a sua fragilidade, Simone é eleita Rainha da Rádio e voa para o Brasil onde participa no primeiro Festival Internacional da Canção do Rio de Janeiro para cantar do poeta David Mourão Ferreira, “Começar de novo”. Os nomes das suas canções são o reflexo da sua forma de viver e amar, “Nos meus braços outra vez” “Pingos de Chuva” ou “Fúria de viver”. Expõe-se, e a sua vida íntima é prato de substância da coscuvilhice nacional, a inveja, o despeito, a ‘moralidadezinha’, vão corroendo a sua imagem, mas Simone é ela própria no direito de viver a sua vida como quer.

SIMONE – 80 DR

DR

Simone canta no seu Musical. Em baixo, Simone, Júlio Isidro e Nuno Nazareth Fernandes, autor da “Desfolhada Portuguesa”

Em 1969 volta a ganhar o Festival RTP da Canção com a “Desfolhada portuguesa”, música de Nuno Nazareth Fernandes e poema de José Carlos Ary dos Santos. Aquele verso, “quem faz um filho, fá-lo por gosto”, é considerado quase pecado. A resposta vem do público que é sempre quem mais ordena. A chegada a Portugal vinda do Eurofestival é uma das maiores manifestações de que há memória por causa de uma cantora e de uma canção. Uma cantora que perde a voz logo a seguir. Parada entre dois degraus da escada,

Simone deita a mão a tudo e de tudo faz bem, jornalismo, rádio, apresentação de espectáculos e teatro. Ganha a voz, quando alguém lhe diz, “Simone tu és capaz”, Carlos do Carmo com quem ela interpreta um dueto, decerto depois de ter dito mais uma vez, “eu não entro”. Esta crónica não é nem pretende ser a biografia de Simone de Macedo e Oliveira, nascida no dia 11 de Fevereiro de 1938. Com a sua segunda voz, chegou aos nossos dias, continua a lutar, a dizer o que lhe vai na alma, a amar com a mesma força com que detesta, a acreditar num mundo

melhor, e a subir mais degraus, agora com algum esforço, desta escada que não quero, não queremos que tenha fim à vista. Simone tem 80 anos e as rugas que o tempo lhe trouxe, as amarguras, as alegrias, as derrotas, as vitórias, as mãos, sempre aquelas mãos que nos envolvem e cativam. Está no palco a fazer de si própria no espectáculo “Simone, o Musical” e aquelas sete letras da palavra saudade, provocam lágrimas que escondemos recatadamente numa “Conversa de camarim”. [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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Entrevista

diogo infante UM HOMEM DE TEATRO NO TRINDADE Aceitou de imediato a ideia de dirigir e programar o Teatro da Trindade. A Fundação Inatel quer ter um navio de muitas histórias a navegar nestas águas da cidade. É Diogo Infante que vai ao leme deste teatro, lugar de afetividades. Foi ali que se estreou como encenador, e tanto a sala Eça de Queiroz, que respira essa patine antiga, como o ressoar das palavras de hoje fazem do Trindade um lugar, no coração da cidade, e Lisboa hoje, vive muito deste bairro, alto, e Diogo Infante quer fazer parte deste corpo de criatividade

O

que o levou a aceitar o convite para este cargo de director artístico e programador do Teatro da Trindade? Há em primeiro lugar uma questão afetiva. Tenho por este teatro uma enorme ternura, não só porque foi aqui que me estreei como encenador, mas porque a configuração da sala principal, a relação palco/plateia, a acústica e sobretudo, a energia que emana do espaço, fazem do Trindade, na minha opinião, a melhor sala de teatro de Lisboa. Depois, é claro, porque acreditei e acredito, que posso desenvolver um projeto artístico que sirva o Trindade e a cidade. A programação ainda tem a marca da anterior diretora, só em setembro vai tudo mudar o que espera de facto mudar no Trindade? O paradigma. Quero implementar uma nova lógica de programação, assente essencialmente em temporadas teatrais com espetáculos, com carreiras de longa duração. O Trindade deixará de ser um espaço essencialmente de acolhimento, para passar a ser um centro de produção teatral. Claro que isto só será possível através de parcerias e sinergias que se materializam em projetos e espetáculos, de e com criadores, cujas estruturas

teatrais tenham o mesmo tipo de visão e de ambição. A programação do Trindade vai ser mais mainstream, ou que estilo vai impor ao teatro? Se entenderem Shakespeare como mainstream, certamente que sim. O critério passará sempre por textos de qualidade, clássicos ou não, capazes de despertar no grande público a curiosidade, o impulso que os leve a sair de casa e vir ao teatro passar um serão. Já disse que não quer um teatro vazio, mas que programação está a pensar? Essencialmente uma programação teatral, diversificada, capaz de atrair públicos diversificados. Da comédia, à tragédia, passando pelo musical e pelo teatro para a infância, creio que é possível, dentro dos limites orçamentais disponíveis, chegar a mais gente. Gostaria que o Trindade mantivesse um cunho de abrangência de públicos e que estes se pudessem contaminar. Haverá ainda espaço para concertos e outros géneros de artes performativas, mas que ocuparão um espaço mais reduzido neste projeto. O Trindade dispõe ainda de uma sala Estúdio, cuja escala se presta a projetos mais intimistas, mais jovens e mais contemporâneos. O teatro deve ter uma programação própria, para que se identifique ou deve

variar? Tentarei, sobretudo, que o teatro tenha uma identidade artística própria, que se projete nos conteúdos mas também na imagem do Trindade, na forma como nos projetamos e como comunicamos. Quero promover uma relação de proximidade e confiança com os nossos públicos, fazêlos sentir que o Trindade é deles, é nosso, é de todos nós. Sobretudo acredito na democratização do acesso à cultura e este projeto procura devolver ao Trindade esse espaço privilegiado de contacto com o grande público, com uma oferta regular de produção teatral, tirando partido da sua localização única e de um legado histórico com 150 anos. Também já disse que quer deixar uma marca, onde, no teatro, no cinema, na televisão? Creio que me referia a uma ambição pessoal de sentir que o meu contributo como artista, seria válido e consequente, se possível, em todas as áreas que mencionou. A Fundação Inatel aumentou o orçamento para o Teatro da Trindade, no entanto, é o orçamento mais baixo com que trabalhou, o que pode fazer? Estou, juntamente com o presidente do conselho de administração da fundação, Francisco Madelino, empenhado em tentar captar financiamento privado,

criando um pacote de contrapartidas atrativo para os nossos parceiros, com o objetivo de dotarmos o teatro de melhores condições financeiras para que possamos dar uma expressão ainda maior à missão que abraçámos. Já estabelecemos vários contactos e aguardamos respostas. Estou optimista que consigamos esse reforço que nos permita materializar ainda mais projetos e com mais impacto. É ator sempre e já em março vai estar em palco, não quer deixar também essa marca? Quero também dar o meu contributo enquanto ator a um projeto que me é muito querido. Não consigo dissociar em absoluto, o ator do diretor artístico. Nem sei se é desejável. Creio que essas valências também me definem e podem, em certo momento, constituir uma mais-valia, que não hesitarei em usar se entender que podem ajudar o projeto que agora abracei. Sei que tem projetos já pensados e prontos para o cinema, primeiro em curta metragem depois em longa, quando é que poderemos ver o que está a fazer ou a pensar fazer? A curta metragem terminei-a apenas há duas semanas, está neste momento em montagem. Depois há que fazer as misturas e a música, e esperar pelo melhor. A verdade é que estou muito


TL Jan-FeV 2018 13

Carlos Ramos

orgulhoso, não poderia ter pedido uma melhor estreia como realizador, com um elenco de notáveis que confiaram em mim e na história que escrevi. Creio que, conforme o resultado final, o produtor Tino Navarro, irá definir uma estratégia, passe ela por fazer um circuito de festivais de cinema ou uma eventual e pouco provável carreira comercial. Para já temos garantido o apoio da RTP, que inclui a exibição do filme em data a anunciar. Quanto à longa metragem, aguardo a abertura dos concursos para primeiras obras, onde irei concorrer. O Teatro da Trindade está no coração da cidade de Lisboa, o que pode ser a partir de agora? Idealmente, um ponto incontornável no panorama teatral lisboeta, onde as pessoas se habituem a ir com frequência, com a garantia de que seja que espetáculo for, será certamente memorável. Não quer um teatro de acolhimento, até onde pode ir com esta ideia de teatro e acha que vai ter apoio da Fundação Inatel? Já conto com o apoio do conselho de administração da Inatel, na pessoa do seu presidente, que me deu liberdade e autonomia para desenvolver um projeto artístico que entendesse adequado. Creio que reconheceram em mim a experiência necessária para abraçar esse desafio. Tive

Nada me deixa tão orgulhoso quando ouço dizer que sou um homem do teatro e por enquanto sou do Teatro mas da Trindade!

oportunidade de partilhar muitas das ideias que aqui expus e que mereceram um franco acolhimento e apoio. As nossas relações têm sido próximas e cúmplices, e creio que há um entendimento claro daquilo que me proponho fazer, dentro dos recursos disponíveis. A sala Estúdio tem sido como que um viveiro de novas experiências, é assim que vai continuar? Não me esqueço que foi lá que me estreei como encenador. Dou muita importância aos novos talentos e naturalmente que a sala estúdio tem essa vocação. Vamos, juntamente com a Inatel, relançar um prémio de dramaturgia, cujo texto vencedor será produzido por nós e encenado por um criador convidado para o efeito. Como é que está o teatro nacional, esta ideia de sucesso é apenas uma visão irrealista da real situação? Creio que de um ponto de vista criativo estamos muitíssimo bem servidos. Há uma série de plataformas criativas que finalmente tiveram acesso a meios de produção sérios. A generalidade das estruturas/teatros com capacidade de produção própria tem investido em projetos e criadores contemporâneos, cujos espetáculos/performances tem carreiras tendencialmente mais curtas, não chegando a sedimentar correntes

de público. São um público mais erudito ou nichos de público que se esgotam rapidamente. A outra realidade paralela é que algumas estruturas do teatro independente têm vindo a ser progressivamente penalizadas, numa política cultural pouco clara, cujo exemplo máximo foi o encerramento da Cornucópia. Vivemos por isso tempos de alguma turbulência no meio e há um clima de inquietação. Pessoalmente creio que é possível uma convivência saudável entre uns e outros, sendo que quando gerimos dinheiros públicos não nos podemos esquecer de que a ideia de serviço público implica uma reflexão séria e altruísta. Até onde acha que pode chegar como diretor do Teatro da Trindade? Não consigo nem quero fazer futurismo. Para já tenho um contrato de três anos que tenciono honrar com muito entusiasmo, depois se verá. Quer deixar uma marca no teatro e na vida artística portuguesa, hoje com 51 anos, como é que um dia quer ser lembrado? Não que faça muita diferença, mas ainda só tenho 50! Nada me deixa tão orgulhoso quando ouço dizer que sou um homem do teatro e por enquanto sou do Teatro mas da Trindade!

José Carlos Barreto


14 TL JAN-FEV 2018

desporto

“Nunca houve confusões no António Raminhos,

36 anos, pai das Marias e humorista, trabalha em televisão, rádio e teatro, e ainda tem tempo para encestar no campeonato de basquetebol da Inatel com os “Lobos da Malveira”

P

orque é que as pessoas têm esta ideia da Inatel ser para os mais velhos? Talvez porque havia aquelas excursões para os idosos. Mas eu acho que isso é muito uma ideia dos anos 90, 2000, já não é tanto

assim. Costumam implicar contigo por jogares na Inatel? Fazem alguns comentários? Claro que sim, mas isso é malta que nunca veio cá, nunca jogaram na Inatel, se viessem experimentar é que viam o que custa, porque a malta aqui leva isto muito a sério. Eu sou igual aqui como sou noutros sítios. Eu disse, “vou jogar na Inatel e quero lá saber se as pessoas me conhecem ou não”, e fico mais nervoso quando estou a jogar do que quando estou num espetáculo, mesmo que sejam só três pessoas a ver na bancada. A sério, porquê? Porque não estou na minha zona de conforto. Jogo e até tenho feito umas exibições porreiras, mas é engraçado porque sinto-me sempre mais nervoso. No início desta época aconteceu um episódio engraçado, fizemos um jogo de treino e na bancada começaram todos a filmar. O meu pensamento foi “fogo, isto é mesmo para ver se eu faço asneira e partilharem nas redes sociais”. Mas isto é bom para mim, este receio, ajuda-me a trabalhar esta área, a capacidade de relaxar. Já ouviste alguma coisa da bancada que não gostaste? Não, não, até pedem para tirar fotos no final. Às vezes até me sinto constrangido porque os outros jogadores, das equipas adversárias podem pensar que sou vedeta, mas não é nada disso. Mas afinal, onde é que podemos ver o teu talento para o basquetebol? Eu jogo no clube hiperativo da Malveira, somos os Lobos da Malveira, os “Malveira Wolves”, para internacionalizar a coisa. Comecei a treinar lá em 2011/2012, ainda eles estavam no campeonato federado, em 2014 decidimos vir para a Inatel, e este ano já temos duas equipas na Inatel. Já foram campeões? Não, isso não. Nós levamos a sério em termos de atitude, não significa que sejamos campeões. Eu pelo menos levo isto mesmo a sério e ralho com a malta que não leva. Como é que surge o teu interesse pelo basquetebol? Eu nunca cheguei a ser federado no basquetebol, joguei basquete e vólei no Sporting quando era miúdo, tinha obviamente a ver com a altura, e aos 18, 19 anos comecei a meter-me com as miúdas e deixei o desporto. Quando voltei ao basquetebol, voltei a recuperar todo o interesse que tinha no desporto, de ver jogos até às tantas da manhã, de treinar e acompanhar mais a modalidade, e de agarrar a bola, porque aquilo que

a malta mais gosta no basquetebol é de bater a bola. Sentes-te forçado/pressionado a ter piada na tua equipa? Os teus colegas estão à espera que tenhas piada? Não, é malta tranquila. Eu gozo com eles, eles gozam comigo, é mesmo muito tranquilo. Há aqueles jogadores que eram federados antes de jogarem na Inatel e que jogam, obviamente, melhor do que eu e que estão sempre a gozar, mas eu não digo nada, tenho que me aguentar, que remédio. Se eu gozo com os outros, quem sou eu para não deixar que gozem comigo? Quantos treinos têm por semana? Teoricamente dois, mas eu tento ir pelo menos a um treino. Isso tento sempre. Como faço muito desporto, em termos físicos estou tranquilo, e termos técnicos já estive pior, não está mau. Quantos cestos por jogo? Tendo em conta que são períodos de 8 minutos, faço 2 a 3 cestos e 2 a 3 assistências, normalmente. E o que é a tua mulher diz sobre quereres jogar basquetebol, de passares ainda mais tempo fora de casa? Ela acha bem que eu me entretenha, desde que continue a dar apoio lá em casa. Aliás, isso é uma das desvantagens da Inatel, porque os jogos e treinos são sempre às 8h da noite. Ela já assistiu a algum jogo? Ela nunca viu nenhum jogo. Mas houve um jogo na Malveira que teve a maior audiência de sempre. Eu fiz um anúncio, uma brincadeira/pomo ao nosso jogo com o Carlos Andrade, jogador do Benfica, onde eu brinco com um vídeo e digo: “Fizeste muita coisa, mas nunca jogaste no Inatel, isso é que devias de ter feito.” Foi num jogo contra Queluz, há dois anos (2016). O vídeo foi muito partilhado. Já pensei em fazer mais. As filhas, as tuas Marias, interessam-se pelo basquetebol? Gostam mais de natação. Já assistiram a um jogo mas estavam mais entretidas em subir e descer escadas da bancada. Na Inatel há muito esta relação familiar dentro das equipas, sentes isso nos Lobos da Malveira? Nós somos muito gozões uns com os outros, isso tem a ver com a nossa união. É tudo malta que se dá bem, então gozamos muito uns com os outros. Acabam os jogos e vamos logo estragar tudo a comer hambúrguer ou outras coisas, fazemos sempre jantares de Natal, fim de época, é fácil estarmos juntos e reunimos sempre muita gente. Como é que reagem os jogadores das outras equipas quando te vêem no outro lado do campo? Eu às vezes encontro malta amiga nas outras equipas com quem joguei, como a malta da RTP, e vão sempre mandando bocas, mas é tranquilo, e nunca houve confusões nos nossos jogos da Inatel, apesar da Liga Inatel ter fama do

contrário. E tu, nunca te meteste em confusões? Eu não. Eu faço sempre uma coisa supra irritante, não reajo. Uma vez consegui expulsar um jogador com quatro ou cinco faltas porque eu estava sempre em cima dele – que é uma coisa que eu faço bem no basquete, defender – e ele fazia-me tudo, pisava, dava cotoveladas, e eu ria-me e ele ainda ficava pior. E faço o mesmo no trânsito, as pessoas buzinam e eu rio-me e pronto, ficam piores do que estragadas. Estás sempre a dizer que és parvo, e que só dizes coisas parvas… Mas são coisas parvas estudadas e pensadas. O que é que te diferencia em relação aos outros humoristas? Somos todos diferentes no sentido em que cada um tem o seu estilo e desde que se seja genuíno… o que eu acho que as pessoas se identificam mais comigo é que eu não sou diferente do que eu sou aqui, fora daqui ou nos palcos. A forma como reajo num palco é exatamente igual se for na rua ou noutro sítio. Eras jornalista no A Capital. Quando o jornal fechou viste aí uma oportunidade de fazer humor? Fui para o mundo do desemprego, comecei a ver muita comédia, programas como o “Levanta-te e ri” e comecei a escrever umas coisas na mesma altura do boom dos blogues. Foi nessa altura que comecei a escrever mais, comecei a interessar-me muito por comédia e naturalmente surgiu. O Carlos Moura foi o meu mestre, atuamos um ano juntos e a partir daí comecei a ter mais propostas. E se é para ganhar o mesmo que ganhava como jornalista, optei por fazer o que eu gosto. O que é que ainda queres fazer? Esta vida é muito instável, não posso pensar muito no que ainda vou fazer. Tenho isto agora, e depois logo se vê. Não posso pensar muito, nem fazer muitos planos. Por exemplo, agora sei que até abril tenho a minha vida orientada (RTP, Teatro, Rádio), depois de abril tenho ideia de alguns projetos online que quero fazer, coisas que ainda só estão na minha cabeça. Mas pronto, funciona muito assim. Arrastaste a família contigo nesta aventura de fazer humor… Já estávamos juntos, eu já era casado, com a minha mulher foi natural. Ela sempre me apoiou. Usa-la como cobaia nas tuas piadas? Sim, eu digo-lhe: “Ouve lá esta…”, e ela diz: “Sim, está giro.” Já sei que não tem piada. Quando começaste com as Marias tiveste muitos comentários negativos. Ainda te incomodam esses comentários? Os comentários negativos já não me afetam como afetavam antes, no início afetavam muito, agora nem por isso.


TL Jan-FeV 2018 15

nos nossos jogos da Inatel”

“Fico mais nervoso quando estou a jogar do que quando estou num espetáculo”

Lês os comentários das redes sociais? Quando são muitos, passo os olhos e comento um ou outro. Mas antes, quando comecei a fazer os vídeos, os comentários negativos incomodavam mais. Os vídeos surgiram por acaso e sem maldade, são um reflexo daquilo que já fazíamos… Eu estou sempre a fazer asneira com as miúdas, mas são coisas partilhadas entre nós, são brincadeiras que elas fazem comigo e eu com elas; e quando começo a receber comentários negativos sobre isso fez-me muita confusão, porque as pessoas não estavam a perceber o que eu queria fazer, e eu sei o que tenho em casa, sei a relação que eu tenho com as miúdas, e então isso fazia-me confusão. Mas ao mesmo tempo tinha muitas reações contrárias, comentários como: “Os teus vídeos fazem-me lembrar a relação que eu tinha com o meu pai”; “Quem me dera que eu tivesse tido essa relação com

os meus pais e isso ajuda-me a pensar nisso”; “Quando for pai quero ter as mesmas brincadeiras, quero ser assim”. “As Marias” vão acabar? É possível. Tem que ser, faz parte da vida. Os vídeos são sempre feitos com o consentimento delas, mais agora porque estão mais crescidas. Sempre que tenho uma ideia pergunto se elas concordam. Há pouco partilhei no instagram um vídeo delas a correr à frente de um carro, algo que já fazíamos, porque eu não crio as situações para o vídeo, as situações já existiram, o que faço é gravar quando voltamos a fazer. E com este vídeo foi o que aconteceu, perguntei: “Querem fazer aquela brincadeira de correr na estrada? E posso gravar?”... “Podes”, e pronto. Quando eram pequenas… Fazia câmara oculta senão não tinha uma reação espontânea. E hoje as miúdas pedem-me para ver os vídeos delas quando eram mais pequenas, e isso responde ao objetivo que eu tinha quando comecei a fazer os vídeos. Eu não tenho muitas recordações da minha infância, e criei os vídeos para isso, para elas se verem, para verem como eram. E quando elas estão a ver os vídeos eu estou a olhar para elas, estou com aquele sorriso, e isso para mim é o suficiente. Já te arrependeste de alguma coisa que tenhas publicado? Sim, já aconteceu, mas mais eu do que quem está à minha volta que dizem sempre que não devia ter apagado, mas isso só aconteceu duas vezes e já não me lembro muito bem o que foi. Hoje tenho mais atenção com aquilo que publico, mas nos espetáculos ao vivo digo tudo como os malucos, aí não poupo ninguém. Qual a importância que o humor tem na tua vida, e o impacto do teu humor na vida de quem te acompanha? No outro dia recebi um dos maiores feedbacks que podia ter recibo. Estava no ginásio e uma senhora veio ter comigo e disse-me: “Eu tenho um filho com síndrome de Asperger”, e eu pensei, “Bem o que é que eu já disse sobre isto que já vou levar na cabeça”. Respondi que sabia porque tenho um primo que também tem, estava familiarizado. E ela contou-me: “O meu filho nunca quer ir para a escola, nunca quer sair do carro, e agora, desde que te ouve na RFM, ele entra no carro, vai para escola e assim que terminas de falar ele sai do carro para ir para as aulas.” Isto para mim foi incrível. Uma pessoa uma vez disse-me que eu fazia comédia para mostrar o outro lado, para dar a outra perspetiva da realidade e isso faz sentido. Eu tenho a tendência de numa má situação dizer uma parvoíce, e com isso não pretendo magoar, nem ofender, é só desconstruir, aligeirar, dar outra perspetiva da realidade. Há quem goste e há quem não goste.

Maria João Costa


16 TL JAN-FEV 2018

Viagem

DR

Açores: Flores e São Miguel Duas encantadoras ilhas Do profundo azul do Atlântico à paisagem verdejante, o vento murmura um verso camoniano: “Verdes são os campos”. Entre florestas de Laurissilva, flores diversas, prados, rochas, cascatas e lagoas, descobrimos uma nascente de encantos naturais que despertam a plenitude dos sentidos

C

hegamos ao Inatel Flores hotel. Do quarto virado para o mar, quando os dias são luminosos, avista-se a ilha do Corvo. Ali lembramos o que disse Raul Brandão, no livro que resultou da sua viagem, em 1924, aos Açores: “Já percebi que o que as ilhas têm de mais belo e as completa é a ilha que está em frente”, (As Ilhas Desconhecidas). Em poucos dias percorremos uma das mais pequenas ilhas do arquipélago açoriano. O programa inclui passeios por vários miradouros, onde se podem contemplar paisagens de uma beleza em estado puro. Ao longo do percurso podem contar-se dezenas de cascatas. Na zona central da ilha encontramos as misteriosas sete Lagoas: Funda, Branca, Seca, Rasa, Comprida, Lomba, e Negra, a mais profunda da região. Seguimos para a Aldeia da Cuada, depois vamos em direção à freguesia mais ocidental da Europa, Fajã Grande. Visita-se a cascata do Poço do Bacalhau. Continuamos rumo à Rocha dos Bordões, um dos monumentos naturais mais famosos dos Açores, que resulta de um fenómeno geológico caracterizado por um conjunto regular de altas colunas basálticas. No regresso percorremos a parte sul das Flores, com passagem pelo concelho das Lajes, onde se situa o porto que serve toda a ilha. Para os amantes de caminhadas na natureza há uma grande variedade de trilhos pedestres. Para os mais aventureiros há imensas atividades: passeios de jipe, caça submarina, mergulho subaquático, canyoning, expedições ao Corvo. Uma viagem de barco à volta da ilha pode permitir, dependendo das condições meteorológicas, observar golfinhos ou baleias, habituais visitantes destas paragens.

FOTOS: JOSÉ FRADE/ARQUIVO TL

Lagoas, crateras e poetas

CIRCUITO FLORES E SÃO MIGUEL

15 a 21 de julho | 5 a 11 de setembro | 6 a 12 de outubro Informações: Tel. 211155779 | turismo@inatel.pt | www.inatel.pt

Aterramos em Ponta Delgada, cidade onde Natália Correia teve o seu primeiro contacto com a “mátria”, em 1923. Lembramos também, entre outros ilustres micaelenses, Antero de Quental, que ali nasceu em 1842. Duas grandes vozes insulares da literatura portuguesa, cujas obras podem ser revisitadas a qualquer momento. Sem marcação prévia. Iniciamos a nossa aventura pela costa sul da ilha de São Miguel, em direção às Furnas. Visitamos Lagoa e Caldeiras, onde se prepara o afamado cozido das Furnas. Depois de provar este prato, num restaurante da região, segue-se um passeio pelo jardim botânico do parque Terra Nostra. Continuamos pela costa norte com paragem na plantação de chá e fábrica Gorreana. Regressamos pela Serra de Água de Pau, com subida até à Lagoa do Fogo, onde podemos apreciar um dos mais belos cenários da ilha. No dia seguinte subimos ao maciço montanhoso das Sete Cidades. Paragem nos miradouros do Pico de Carvão e Vista do Rei para ver os lagos verde e azul que formam a Lagoa das Sete Cidades. Descida ao vale onde é possível visitar esta emblemática freguesia no interior da cratera. Continuamos pela costa norte, contornando a ilha a partir do extremo ocidental, passando pelas freguesias Ferraria, Mosteiros e Capelas. De tarde, no regresso a Ponta Delgada, visitamos uma plantação de ananases em estufa. Antes de partir da ilha de São Miguel ainda passeamos pelo centro histórico de Ponta Delgada, acompanhados por um guia local, para conhecer os monumentos e locais mais emblemáticos: Portas da Cidade, do século XVIII, Portas do Mar, Igreja Matriz de São Sebastião, de estilo gótico, Igreja de São Pedro, Mercado da Graça, Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Santuário do Santo Cristo, Campo de São Francisco.


TL Jan-FeV 2018 17

CAMPEONATO GASTRONÓMICO INATEL

Os melhores pratos

O

campeonato gastronómico põe à prova iguarias e especialidades regionais e os cozinheiros dos diferentes hotéis Inatel, aos fins de semana, até 26 de maio. As próximas provas serão disputadas entre as unidades hoteleiras de Cerveira/Entre-os-Rios, São Pedro do Sul/Entre-os-Rios, e Albufeira/ Foz do Arelho, Castelo de Vide/Albufeira, 9 e 10; Foz do Arelho/Albufeira, Foz do Arelho/Castelo de Vide, 23 e 24 de março. A avaliação dos pratos é feita pelos clientes, mediante o preenchimento de

Castelo de Vide Jardim Hotel

um formulário entregue antes da refeição. O campeonato é disputado em três fases. Na primeira fase a nível regional são apurados os dois melhores participantes de cada região que seguem para a segunda fase, onde se decidem os três finalistas. A prova final decorre no hotel da Foz do Arelho, 25 e 26 de maio, com a participação de duas equipas convidadas, as unidades hoteleiras das Flores e de Porto Santo. Nas próximas edições do Tempo Livre publicaremos mais receitas dos vários hotéis Inatel.

Piódão Hotel

POEJADA DE BACALHAU

CABRITO ASSADO NO FORNO COM MIGAS SERRANAS

Ingredientes 4 postas de bacalhau demolhado; 500 g pão de trigo caseiro; 1,50 dl azeite; 1 molho de poejos; 4 ovos; 1 queijo de ovelha; sal q.b.

Cabrito Assado Ingredientes (10 pessoas) 3,5 kg cabrito; 50 gr alho; 100 gr sal grosso; 200 ml azeite; 30 gr pimentão doce; 250 ml vinho branco; 20 gr ervas aromáticas; 300 gr cebola; 3 folhas de louro; 100 gr banha.

Preparação Corte o pão às fatias. Corte o queijo (meia cura ou fresco) aos quartos. Lave os poejos, corte as partes tenras e piseas ligeiramente. Num tacho, aloure os poejos no azeite acrescente água temperada com sal e coza o bacalhau. Depois de cozido retire-o. Leve novamente ao lume o tacho e deite no caldo o pão e esmigalhe-o, deixando o preparado sobre o grosso. Momentos antes de servir, parta os ovos e coloque-os um a um dentro do tacho

para escalfarem. Por cima disponha o queijo e deixe cozer um pouco. Coloque o bacalhau na poejada e sirva imediatamente.

Preparação: Cortar o cabrito em pedaços. Num recipiente coloque o alho, um fio de azeite, pimentão doce, ervas aromáticas, sal, louro e vinho branco. Esmague tudo para que fique uma massa. Com essa massa barre o cabrito, deixando a marinar de um dia para o outro. Coloque num tabuleiro o cabrito com um pouco de banha e leve ao forno a assar.

Migas Serranas Ingredientes (10 pessoas) 2 kg caldo verde fresco;1 lata de feijão-

-frade (800 gr); 1 broa de milho; 50 gr alho; 50 ml azeite; 20 gr sal grosso; 250 ml vinagre vinho branco. Preparação: Coza o caldo verde em água temperada com sal. Depois de cozido, escorra bem e reserve. Num tacho, coloque o azeite, o alho picado e deixe alourar, depois junte o feijão-frade e misture o preparado anterior. Coloque o caldo verde juntamente com o miolo da broa. Envolva tudo muito bem e tempere por fim com



TL Jan-FeV 2018 19

Os próximos tempos nos palcos do Teatro da Trindade Carlos Ramos

Neste período de transição para a atual direção artística de Diogo Infante, destacam-se duas produções na sala Eça de Queiroz, principal palco do Trindade: O Deus da Carnificina, uma comédia negra de Yasmina Reza, e um musical baseado na obra O Principezinho, de Saint-Exupéry. Em paralelo, na sala Estúdio, são apresentados o espetáculo-instalação Conversas de Corpo e, um projeto educativo que liga as escolas ao Teatro e à Literatura, Ulisses – Uma Odisseia Sonora

O DEUS DA CARNIFICINA A 1 de março estreia O Deus da Carnificina, texto de Yasmina Reza, com adaptação, tradução e encenação de Diogo Infante. Uma comédia negra centrada na natureza violenta da condição humana. «O Deus da Carnificina é uma tragédia cómica ou uma comédia trágica se preferirem, onde a natureza humana e toda a sua evolução social, intelectual e psicológica se desmorona quando impulsos primários e básicos são despoletados por uma discussão parental. Nada nos tira do sério ou potencia o nosso lado animalesco e protetor como uma investida contra os nossos filhos. Este espetáculo constitui uma oportunidade para explorar vários registos de comédia negra onde o sarcasmo, a ironia e o cinismo são instrumentos a que o texto recorre e que os atores naturalmente integram no jogo, e que, no combate que se adivinha, provocam risos. Alguns são risos nervosos, descontrolados por vezes, como quem assiste a um funeral e se ri perante uma situação trágica, mas que aos nossos olhos resulta, involuntariamente, caricata, ridícula até. Quando olhamos ao espelho, por vezes, o nosso reflexo é adulterado pelo nosso cérebro, de modo a que a perceção dos nossos receios mais profundos, seja suavizada, como que nos preparando para uma realidade não desejada. O Deus da Carnificina tem esse mesmo efeito em nós. No fundo desejamos não ser nenhuma das personagens aqui retratadas, mas não nos conseguimos impedir de identificar determinados comportamentos, que embora condenemos nos são demasiadamente familiares», Diogo Infante. O Deus da Carnificina está em cena até 29 de abril, conta, no elenco, com Diogo Infante, Jorge Mourato, Patrícia Tavares e Rita Salema. Uma coprodução Teatro da Trindade Inatel e Plano 6.

O PRINCIPEZINHO Musical em cena a partir de 10 de março até 29 de abril que nos transporta pelos vários imaginários da famosíssima obra de Saint-Exupéry. A história encantadora de um rapazinho com cabelos cor de ouro e de um piloto perdido no deserto. Música, canções, atores, personagens

no espaço, em nós. O chão é coberto por diferentes texturas e podia ser o chão da casa, do quarto, do parque… O espetáculo-instalação Conversas de Corpo é uma criação de Clara Bevilaqua e Guilherme Calegari, que asseguram também a interpretação. A direção artística está a cargo de Fernanda Bevilaqua. Uma coapresentação Teatro da Trindade Inatel e Lagoa Coletivo.

ULISSES – UMA ODISSEIA SONORA

Yuji Kodato

De 29 março a 28 abril na sala Estúdio, pela mão de Teresa Sobral, apresenta-se um espetáculo pensado para os jovens, onde a história-poema sobre Ulisses é contada de forma clara e estimulante, e que pretende criar uma aproximação à “Odisseia” de Homero, obra recomendada no Plano Nacional de Leitura. Sófocles fez dele um cínico, Eurípides um demagogo, Platão o protótipo do mentiroso, Shakespeare o modelo do político e Giraudoux o ancestral de todos os embaixadores céticos e indiferentes. Dante fê-lo chegar ao canto XXVI do Inferno. Nós, fazemos dele um rei punk e contamos as suas aventuras e desventuras numa Odisseia sonora que deixa todos agarrados à cadeira. Ulisses – Uma Odisseia Sonora conta no elenco com José Raposo, Miguel Curado e Teresa Sobral e música de Miguel Sobral Curado. Uma produção do Teatro da Trindade Inatel.

mads schmidt rasmussen

virtuais em 3D e efeitos visuais de vídeo mapping criam uma cenografia que nos transporta para o mundo fantástico d’O Principezinho: do deserto, às paisagens verdejantes, passando pelo asteroide B612, pelo planeta do rei ou pelo mundo do geógrafo. Estreado originalmente em Espanha, onde foi um enorme sucesso, este musical conta em Portugal com a encenação e adaptação de Pedro Penim (membro fundador do Teatro Praga e vencedor de um Globo de Ouro e do Prémio SPA Autores) e a interpretação de Mariana Pacheco, Paulo Vintém, Joana de Brito Silva, José Lobo e Diogo Bach, numa produção Universal

Music com Àngel Llàcer, Manu Guix e La Perla 29 (Espanha).

CONVERSAS DE CORPO Até 31 de março está em cena na sala Estúdio um espetáculo-instalação para e com crianças dos 0 aos 3 anos, as suas famílias e amigos. Ao longo de 45 minutos acompanhamos o encontro e as peripécias de dois performers e a sua ressonância no tempo,


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BTT INATEL Circuito Nacional de volta aos trilhos

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circuito nacional de BTT Fundação Inatel percorre o país de norte a sul, de março a outubro, com passagem por 11 etapas. A primeira partida em Grândola e Oliveira do Hospital, agendada para 11 de março, na 4.ª Maratona BTT “Serras de Grândola”, organização Clube BTT Grândola, e na 12.ª Maratona de BTT – Oliveira do Hospital, organização BTT Lazer da ARCC. Mais tarde seguem-se os distritos de Beja, Setúbal, Leiria, Coimbra, Vila Real, Viseu e Guarda. O circuito de BTT pretende levar o desporto e o turismo de natureza a todos, aos mais competitivos e aos que procuram apenas um momento de lazer, com família,

A

amigos, ou individual, sem limites de idade e de vontade de pedalar. Este circuito reúne as melhores provas de BTT do país em parceria com os CCD (Centros Culturais e Desportivos) da Fundação Inatel.

para o desenvolvimento do instrumento e, mais nomeadamente, para o reportório português e para o acordeão”. Após a entrega de prémios, Jorge Ferreira interpretou as obras dos laureados numa estreia emitida em direto para a Antena 2. Durante a entrega de prémios, Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, realçou a importância de promover a cultura popular portuguesa: “O acordeão está muito ligado a esse imaginário, mas não ficamos por aqui – sublinhou –, a fundação quer continuar a apoiar outros projetos que se desenvolvem em Portugal e que fazem esta ligação entre a tradição e a inovação.” A 2.ª edição do Prémio Composição para Acordeão já está a decorrer e termina no próximo dia 31 de maio, com a revelação dos vencedores.

POPular – Inatel na Rua

Em Viana do Castelo, Funchal, Viseu, Leiria, Bragança, Faro, Lisboa e Braga

A

terceira edição do POPular decorre em Viana do Castelo, 5 a 7 de abril, Funchal, 19 a 21 de abril, Viseu, 29 de abril a 1 de maio, Leiria, 24 a 26 de maio, Bragança, 7 a 9 de junho, Faro, 21 a 23 de junho, Lisboa, 12 a 14 de julho, e em Braga, 26 a 28 de julho. Do teatro à dança, da música à etnografia, o POPular – Inatel na Rua conta com a participação dos Centros de Cultura e Desporto (CCD). Esta iniciativa, organizada pela Fundação Inatel, com a parceria das câmaras municipais locais, pretende divulgar as práticas culturais tradicionais apoiadas pela fundação, no cumprimento da sua missão e enquanto entidade consultora da Unesco para a salvaguarda do património cultural imaterial.

Coluna DO provedor

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Entrega de Prémios Composição Acordeão Fundação Inatel e a Associação Folefest juntaram-se na promoção e desenvolvimento do acordeão e do reportório português. No passado dia 7 de fevereiro mais de 150 pessoas marcaram presença no Teatro da Trindade para assistir à entrega de prémios da 1.ª edição do Prémio Composição para Acordeão. O 1.º prémio não foi atribuído por se tratar de um júri muito exigente, o 2.º prémio foi atribuído ao compositor Hugo Vasco Reis, pela obra Metamorphosis and Resonances for accordion solo, e o 3.º prémio coube a Gerson de Sousa Batista, pela obra Os Suspiros de Dédalo. O diretor da Associação Folefest, músico e compositor, Jorge Paulo Ferreira, espera que esta primeira edição do prémio de composição “seja um marco importante

Inatel no Campeonato das profissões

eja foi palco de mais uma edição do Campeonato das Profissões, entre 25 de fevereiro e 2 de março, com o objetivo de apurar o campeão nacional em cada uma das profissões a concurso, que poderá vir a assegurar a representação de Portugal na 6.ª edição do Campeonato Europeu das Profissões, que decorrerá na Hungria, em setembro deste ano, e na 45.ª edição do Campeonato do Mundo, que terá lugar na Rússia em agosto de 2019. Estas provas dirigem-se a jovens entre os 17 e os 25 anos, que concluíram ou se encontram a frequentar um percurso de qualificação, em modalidades de educação e formação profissional. Durante cinco dias são colocados à prova nas mais diferentes áreas e profissões a concurso, avaliados e qualificados à próxima fase. Os campeonatos têm lugar de 2 em 2 anos e reúnem os classificados com as melhores pontuações na fase de pré-seleção, que disputam entre si o título de campeão nacional em cada profissão. Os campeões da fase nacional candidatam-se a uma participação nos Campeonatos Europeu e Mundial das Profissões, organizados, respetivamente, pela WorldSkills Europe e pela WorldSkills International. A Fundação Inatel tem estado cada vez mais presente e ativa na qualificação e certificação escolar e profissional, sendo esta uma das missões a que se propõe cumprir diariamente. O Campeonato das Profissões faz parte da ‘caminhada’ a percorrer, apoiando a formação, não apenas dos mais jovens, mas a formação contínua, ao longo da vida que ‘estes jovens’ terão que continuar a praticar.

Concurso “Novos Textos” Vencedores anunciados no Dia Mundial do Teatro

N

o próximo dia 27 de março são anunciados os vencedores da XXI edição do “Novos Textos”, no Teatro da Trindade. A concurso estão 27 textos. O júri é constituído pela atriz e encenadora Cucha Carvalheiro, pela diretora artística da companhia de “Teatro da Terra” Maria João Luís e pelo dramaturgo Rui Pina Coelho. A Fundação Inatel, com o intuito de estimular a escrita dramatúrgica e aparecimento de novos autores, criou em 1991 o Concurso Inatel | Teatro Novos Textos. É um dos concursos mais antigos na área da escrita para teatro, tendo duas vertentes, Grande Prémio Inatel e Prémio Miguel Rovisco, destinado a jovens dramaturgos até aos 25 anos.

Manuel Camacho

provedor.inatel@inatel.pt

E

xcuse Me” – assim se chama o primeiro álbum lançado por Salvador Sobral, no dia 2 de agosto de 2016. No entanto, até março de 2017, salvo alguns círculos mais interessados e bem informados, poucos sabiam dos conteúdos, qualidade e mesmo o género deste álbum. Acontece que a 5 de março de 2017, a canção de Luísa Sobral “Amar pelos Dois”, cantada por Salvador Sobral, vence o Festival da RTP da Canção. Indiscutivelmente a canção era e é linda; mas ainda assim muitos opinavam que “não era festivaleira”, que o “rapaz” parecia estranho, que era demasiado simples para as sofisticadas coreografias do Euro festival… Enfim, aquela atitude muito habitual de quem não entende e por isso põe em dúvida quase tudo. Mas em 13 de maio a representação portuguesa, com a canção “Amar pelos Dois” cantada por Salvador Sobral, ganhou o Festival da Eurovisão. E não foi de qualquer maneira: Portugal teve a mais alta classificação da história do Festival, foi uma das três únicas canções interpretadas na língua oficial do país, e o Salvador apresentou-se em palco apenas acompanhado de um microfone. A sua qualidade musical, emocional e interpretativa foi suficiente para deixar rendida toda uma plateia, a Europa e o mundo. E tudo de uma maneira simples, despretensiosa e autêntica. Não foram necessários efeitos especiais, cenários psicadélicos, nem sequer elevar os decibéis. Apenas uma melodia harmoniosa, vestida de palavras contidas e fáceis de entender, apoiadas por uma orquestração muito bem conseguida. Era a confirmação de que, quando há qualidade e conteúdo, qualquer obra de arte será sempre tanto mais rica quanto mais simples e genuína. A partir daí não foram poucos os elogios e prémios atribuídos a Salvador Sobral, quer a nível nacional quer internacional. Mas ele ali estava, como se nada fosse com ele; com a naturalidade daqueles que simplesmente sentem o prazer que a sua arte e talento lhes dá e por isso mesmo não se sentem o centro do mundo, nem de coisa nenhuma. Obrigado Salvador pelo grande artista de referência que és no meu País e espero em breve ver-te no velhinho Teatro da Trindade como estava previsto. Quando chegares de novo aos palcos, era bonito que alguns te dissessem... Excuse me!


TL Jan-FeV 2018 21

O Ciclo Mundos regressa ao Trindade, com artistas de diferentes nacionalidades que trazem o melhor da música do mundo ao coração de Lisboa. A Fundação Inatel, em parceria com o Festival Músicas do Mundo de Sines, apresentou a programação da 3.ª edição do Ciclo Mundos, a começar com Zap Mama e Elida Almeida, em fevereiro, anunciando o regresso de Bachar Mar-Khalifé, mas agora em Trio, em maio, Alibombo, Yazz Ahmed, Las Maravillas de Mali, e Tank & The Bangas, em junho. No mês de setembro, Gaye Su Akyol, outubro, Park Jiha, e Mamadou Diabaté, em novembro.

VER

OUVIR

Heróis e amantes Uma mão cheia de filmes de cineastas de culto, como Steven Spielberg, Eastwood, Guillermo del Toro, Paul Thomas Anderson, entre outros. Obviamente, imperdíveis cinema The Post, de Steven Spielberg | EUA, 2017 Com: Tom Hanks, Meryl Streep, Alison Brie, David Cross, Sarah Paulson. •O cinema de Spielberg não é, como se sabe, só “aventura” e aparato tecnológico é também revisitação histórica, como o comprovam “Amistad”, “A Lista de Schindler”, “O Resgate do Soldado Ryan” e “Lincoln”. Em “The Post”, a sua mais recente obra, é o poder da imprensa norte-americana nos idos anos 70 que vem à baila, através da denúncia do real envolvimento político e militar do Pentágono na guerra do Vietname. A Forma da Água, de Guillermo del Toro | Canadá / EUA, 2017 Com: Sally Hawkins, Octavia Spencer, Michael Shannon, Richard Jenkins •Mais do que uma fábula de amor ao jeito de a “bela e o monstro”, – entre uma empregada de um complexo militar científico e uma criatura anfíbia humanóide aí enclausurada para estudo – del Toro filmou a revelação do lado negro do ser humano. Subtil e poderoso. Todo o Dinheiro do Mundo, de Ridley Scott | EUA, 2017 Com: Mark Wahlberg, Christopher Plummer, Michelle Williams, Olivia Grant, Charlie Plummer •Um thriller psicológico, baseado em factos reais, – que é também uma reflexão sobre o poder do dinheiro – à volta do sequestro do neto de um magnata do petróleo na Roma da década de 70 Roma, 1973. Linha Fantasma, de Paul Thomas Anderson | EUA, 2017 Com: Daniel Day-Lewis, Lesley Manville, Camilla Rutherford, Vicky Krieps •A essência dramática do filme joga-se na

relação entre Reynolds Woodcock, o célebre costureiro londrino da realeza, actrizes e da “socialite” dos anos 50 e Alma, uma jovem mulher de carácter forte que rapidamente ascenderá à condição de musa e amante. Do mesmo autor do megalómano “Magnolia” e do prodigioso “Haverá Sangue”. 15:17 Destino Paris, de Clint Eastwood | EUA, 2017 Com: Anthony Sadler, Alex Skarlatos, Specen Stone, Jenna Fischer, Judy Greer •Seja qual for o género e as personagens, a obra de Eastwood continua, sobretudo nos últimos anos, a pisar os terrenos da morte e dum certo “voyeurismo”. Último tomo da trilogia do “herói americano”, (“American Sniper”, “Sully – Milagre no rio Hudson”) o novo filme do autor de “Imperdoável” aparece centrado no acto de coragem de três norte-americanos que evitaram, em 21 de agosto de 2015, um ataque terrorista num comboio que ligava Bruxelas a Paris. Maria by Callas, de Tom Volf | França, 2017 Documentário. Estreia a 22/2. •Uma homenagem bastante interessante a esse grande ícone feminino de voz única, produzido quarenta anos depois da sua morte. Excelentes são as imagens (algumas raras) de arquivo onde pontificam Onassis, Marilyn Monroe, Alain Delon, Yves SaintLaurent, J.F. Kennedy, Luchino Visconti, Winston Churchill, Grace Kelly e Liz Taylor, entre outros.

Televisão Literatura aqui e em toda a parte | Série magazine, terças, à noite na RTP-2 Apresentação de Pedro Lamares e Filipa Leal. É por causa deste programa, raro na fórmula, – que faz apetecer gostar da leitura – que vamos tendo orgulho na televisão pública e nos pequenos “milagres” que ela ainda nos pode dar. Benditos sejam os livros. Há muitos para descobrir e amar.

Joaquim Diabinho

[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

“How does it feel, to be on your own”?

E

ntrou 2018 em força e já com uma agenda repleta de concertos de qualidade a nível nacional. No entanto, em janeiro tivemos notícias devastadoras: a morte de Ray Thomas, flautista, vocalista, compositor e fundador da banda britânica progressiva Moody Blues; Dolores O’Ryan vocalista do grupo pop/rock Irlandês Cranberries, que conheceu sucesso nos anos 90 e ainda Madalena Iglésias. Esta última ligada à história da música portuguesa com a interpretação do conhecido “Ele e Ela”, composição vencedora do Festival da Canção em 1966, de Marco Canelhas. É com pesar que presto neste espaço a minha sentida homenagem a todos eles. Depois do sincero e justo tributo iniciamos a nossa viagem sonora por terras americanas com a esperada visita do grande músico e poeta Bob Dylan. O cantautor controverso de estética folk, country, blues and rock, que deu voz à geração dos anos 60 na escolha do caminho da liberdade, vem a Lisboa no dia 22 de março ao Altice Arena. Considerado pela revista Rolling Stone como o maior representante das canções de protesto de todos os tempos foi vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 2016 pela sua poesia. Detentor de uma expressão poética sem igual, Dylan escreve sobre política, emoções, relações, ideias e embalanos nas suas canções que revelam a sua arte e genialidade. A não perder! Ainda em março, Yann Tiersen revisita o nosso país para apresentar o seu mais recente álbum, “Eusa”. Com datas

marcadas para 13 de março no Coliseu do Porto e a 15 de março no Convento de São Francisco em Coimbra. Com uma estética intimista, o músico francês multi-instrumentista iniciou a sua carreira discográfica no início dos anos 90 e é sobejamente conhecido do público português através das bandas sonoras para as películas “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, ou “Goodbye Lenin”. O Londrino Benjamin Clementine regressa aos nossos palcos para apresentar o seu mais recente álbum “I Tell a Fly” a 26 de março no Centro Cultural de Viana do Castelo, 27 de março no CAE da Figueira da Foz e a 29 de março no Campo Pequeno em Lisboa. Com o seu primeiro álbum “At Least For Now” conquistou uma legião de fãs e ganhou em 2015 o Prémio Mercury Prize. O último destaque vai para a banda de rock alternativo que conquistou o nosso público, os canadienses Arcade Fire. O concerto será a 23 de abril no Campo Pequeno em Lisboa. A banda nasceu e cresceu na primeira década do século XXI e conseguiu criar uma identidade muito própria tendo vindo a reinventar-se ao longo do tempo. Vêm apresentar, neste concerto, o quinto álbum “Everything is now”, lançado em 2017. Como já é hábito nesta coluna, em alternativa à rotina, convido os leitores a novas ou já conhecidas experiências auditivas. O que não faltam são bons motivos para uma noite diferente. “How does it feel, to be on your own/ with no direction home. /A complete unknown, like a rolling stone” (Bob Dylan). Susana Cruz


22 TL JAN-FEV 2018

Os contos do zambujal

NOITES REVOLTAS

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meu problema, senhor doutor, é um problema terrível: a insónia. Não uma insónia trivial, aborrecimento de uma noite, mas insónia contínua, prolonga-se por sucessivas noites, é desesperante. Já tomei, sem nenhum sucesso, todos os comprimidos e pastilhas recomendadas pelos amigos e familiares que têm ou tiveram dificuldade em adormecer. Tudo em vão. A insónia persiste, noites e noites de olho arregalado. Depois, o senhor doutor sabe como é: o que nos ocupa a cabeça são os maus pensamentos. Existem longínquos, que julgávamos já ter esquecido, erros antigos e o avolumar de pequenas falhas de comportamento às quais nunca demos importância. Mas na noite de insónia chegam, dos confins do tempo, as outras recriminações e, na inversa, acessos de raiva contra bons amigos, por isto ou por aquilo, lá vem a lembrança de uma desconsideração. Às vezes tento reagir, levanto-me e vou para a sala com um livro ou uma revista. Mas isso não é reagir, é aceitar a insónia como uma fatalidade. Mais tarde volto à cama, Zilda, a minha mulher, dorme a sono solto, então invejo-a, mas logo me censuro, eu não devia invejar, nunca fui invejoso, mas apetecia-me roubar para mim aquele sono dela. Não roubo, mas quase. Como o senhor doutor deve saber, um sujeito a contas com uma insónia dificilmente se mantém imóvel. Dou voltas e voltas na cama, então a Zilda incomoda-se, reage com azedume e egoísta como é, barafusta pela quebrazinha no sono dela e despreza a minha total ausência de sono. Nessa altura os pensamentos dão mais um salto, que erro meu Deus, que erro eu cometi ao ter-me enamorado por ela voltando as costas à terna Laura. Com a Laura seria diferente, dar-me-ia toda a atenção, acredito que me cantasse canções de embalar. Pensando na Laura a minha insónia agudiza-se pelo arrependimento de a ter trocado por esta Zilda impiedosa, egocêntrica. E então revivo as horas passadas com Laura e isso, em vez de me tranquilizar, mais faz rodopiar a mente no parafuso da insónia. E é isto, senhor doutor. Haverá remédio para este sofrimento?

Quinze dias depois.

E

m cheio, senhor doutor, em cheio. Durmo como uma pedra, mas começo a ter saudades das noites de insónia. Por causa dos pesadelos. Adormeço cedo mas logo sou atacado por pesadelos horríveis, talvez derivados dos noticiários quanto ao que acontece no mundo. O aquecimento global, o degelo no Ártico, a subida dos níveis do mar, de repente é como se tudo estivesse a acontecer na minha rua, agito-me num pesadelo de inundações que me arrastam. É a incerteza da economia e os estoiros financeiros, a ameaça do desemprego, tudo se desenha nos meus pesadelos como realidades que tombassem em cima de mim. As guerras, os terrorismos, vejo-me no meio e vítima desses horrores. Naturalmente, os pesadelos tornam-me inquieto e irrequieto. Dou voltas e reviravoltas na cama como se quisesse livrar-me e lá está a Zilda com insultos. “É impossível dormir com alguém como tu” – diz ela. Terá alguma razão mas tudo seria diferente se eu dormisse com a Laura, a Laura é diferente, a companhia dela garante a paz, de dia ou de noite. Sem insónias nem pesadelos. Entretanto vou padecendo em sonhos maus, o último foi eu ter perdido as chaves do carro e andar numa azáfama a ver se as encontrava, por fim consegui, apressei-me a caminho de carro e já ia chegar tarde ao escritório, corri como um louco e quando cheguei ao local, nada, tinham-me roubado o carro. Acordei a transpirar. Veja bem, senhor doutor, o problema agora é dos pesadelos.

“Às vezes tento reagir, levanto-me e vou para a sala com um livro ou uma revista. Mas isso não é reagir, é aceitar a insónia como uma fatalidade. Mais tarde volto à cama, Zilda, a minha mulher, dorme a sono solto, então invejo-a”

Mário Zambujal

Quinze dias depois.

N

a mouche, senhor doutor, na mouche. Acabaram-se os pesadelos e durmo alegremente toda a santa noite. Vejo-me a passear junto a um mar azulinho e calmo, as pessoas são carinhosas para mim, as recordações são sempre de momentos felizes. Tanta felicidade, porém, leva a manifestar-me em voz alta incomodando a Zilda, num sonho recente eu quase gritei “olha que lindo dia!” e ela berrou “estamos a meio da noite, estúpido.” Sonho com primaveras, flores, gente contente, paz no mundo, mesas postas com os acepipes da minha preferência, também já surpreendi Zilda com o grito “olha, olha, açorda de poejos com ovo escalfado!” Não foi o mais grave. O problema aconteceu quando eu, passeando num laranjal em dia de sol luminoso, apertei as mãos que se me estendiam e disse, alto e bom som: “Adoro-te, Laura.” Esse foi o momento em que Zilda pulou na cama e sentada, lívida, de dedo espetado, gritou: “Desaparece! Fora desta casa.” De pronto lhe fiz a vontade. A casa é dela e eu estava arrependido de alguma vez ali ter entrado, todos os meus sonhos doces corriam para a Laura, e agora também as pernas queriam correr, mas estava-se pelas quatro e meia da manhã, hora imprópria para tocar à campainha e bradar: “Sou eu, amor, finalmente cheguei.” De modo que me sentei no degrau e adormeci com a cabeça encostada à ombreira. Veja, senhor doutor, como dormir é fácil quando não temos o peso das preocupações. E para meu regozijo foi a Laura que me acordou, passeando aquela mãozinha terna pelos meus cabelos. De um pulo me perfilei na frente dela e a minha voz ganhou um tom solene: “Juntos, e para sempre, Laura.” Ela retirou a mão da minha cabeça mas manteve aquele sorriso de imensa ternura quando falou: “É tarde, Virgolino. Já não és o homem dos meus sonhos.”


TL Jan-Fev 2018 23

Passatempos

agenda inatel

Palavras cruzadas POR josé lattas 1

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ATIVIDADES CULTURAIS E DESPORTIVAS

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BRAGANÇA

Teatro – 17 de março, às 21 h, espetáculos: “A Mandrágora”, de Nicolau Maquiavel, adaptação do Grupo de Teatro Alma de Ferro, de Moncorvo, em Vila Flor; “8 dias”, autoria e encenação de Acácio Pradinhos, pela Associação dos Artistas Macedenses, em Moncorvo.

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ÉVORA

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HORIZONTAIS: 1-Proscrito. 2-Clarões; Manto. 3-Ventos que sopram na costa de Portugal do Norte a Noroeste; Pronome. 4-Cério (s.q.); Gorda. 5-Cidade alemã, nas margens do Rio Reno; Finório. 6-Estúpido. 7-Estilo; Manifestes. 8-Querubim; Fruto da tamareira e de outras palmeiras. 9-Gasto; Mendelévio (s.q.). 10-Epiderme (inv.); Rádio (s.q.); Delata. 11-Em mineralogia, diz-se dos sólidos, cujos átomos ou moléculas oferecem uma disposição irregular.

VERTICAIS: 1-Doutor (abrev.); Segada; Zinco (s.q.). 2-Apelido do navegador português, que dobrou o Cabo Bojador; Advérbio. 3-Género de plantas umbelíferas; Escoadouro. 4-Rojões. 5-O mais pequeno, dos países bálticos; Conveniência. 6-Ástato (s.q.); Aparelho ou máquina, para fabricar tecidos. 7-Diminutas. 8-Não indicar o nome, para não ser identificado. 9-Nota musical; Bagatela; Estrôncio (s.q. – inv.). 10-Escolher; Expediente. 11-Ouro (s.q.); Arrojo.

Exposições, 19 abril a 19 maio, na Galeria Inatel, Palácio do Barrocal: “Áureas – Reflexões duma Cegonha”, de Gaëlle Pelachaud (França). Livros de artistas, com ênfase no estudo sobre cegonhas. Contribuição poética de Maria Sarmento; “Love letters between my grandparents”, de Andrea Brasch (Dinamarca), composta por vídeos, colagens e jogos de computador.

LISBOA

Domingos com Música – Almost6 apresenta a obra “Pedro e o Lobo”, de Sergei Prokofiev, no salão nobre do Teatro da Trindade, 6 de maio, às 11h30. O grupo Almost6 surgiu em 2007, com o objetivo de interpretar música numa

Soluções: 1-DESTERRADO. 2-RAIOS; E; OPA. 3-NORTADA; TU. 4-CE; ROTUNDA. 5-ESSEN; ZORRO. 6-I; ASININO; U. 7-FORMA; DIGAS. 8-ANJO; TÂMARA. 9-DESPESA; MD. 10-ZET; RA; TRAI. 11N; AMORFOS; A.

Sudoku POR Jorge Barata dos Santos Problema n.0 7 Prencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado.

Soluções:

formação pouco usual em Portugal, explorando as potencialidades do trompete nos seus vários registos. São membros do grupo e mentores do projeto Festival Internacional de Trompete, Sérgio Charrinho, trompetista na Orquestra Metropolitana de Lisboa, professor na Academia Nacional Superior de Orquestra; Ricardo Carvalho, trompetista na Banda Sinfónica da GNR; Filipe Coelho, professor na Escola Profissional da Metropolitana e no Conservatório Nacional; Carlos Silva, trompetista na Banda Sinfónica da GNR, professor na Escola profissional de Artes da Beira Interior e Conservatório Metropolitano de Lisboa; Óscar Carmo, trompetista na Orquestra de Câmara Portuguesa; João Duarte, músico associado (percussão).

PORTALEGRE

Espetáculo Solidário a favor da Associação dos Bombeiros Voluntários de Portalegre – participação da Sociedade Musical Euterpe, Orfeão de Portalegre e Grupo de Cante “Os Lagóias”, 8 de abril, às 16 h, no Centro de Artes do Espetáculo/Câmara Municipal de Portalegre.

PORTO

Exposição de Fotografia – “kinani”, de Yassmin Forte, 6 de abril a 4 de maio, na Galeria Inatel, Rua do Bonjardim. Mostra de Teatro Amador, até 28 de abril. Programa: “ElRei Seleuco”, Juventude Unida de Mosteiró, 17 de março, no Auditório d’Os Plebeus; “Viúva, Porém Honesta”, Grupo Teatral Freamundense, 24 de março, na Associação Recreativa de Canidelo; “Palcos da Vida”, Grupo Dramático e Musical Flor de Infesta, 27 de março, no Auditório de Gondomar; “Que Vida, Zé!”, Companhia de Teatro de Santo Tirso, 7 de abril, no auditório de Marco de Canavezes; “Os Pires de Sacavém”, Teatro Amador Independente, 14 de abril, no auditório da Associação de Socorros Mútuos Freamundense; “Do Céu Cai um Anjinho”, Associação Social Recreativa Cultural e Bem Fazer Vai Avante, 21 de abril, no Espaço Social e Cultural de Mosteiró; “O Crime da Aldeia Velha”, grupo Artamega, 28 de abril, no auditório do Centro Paroquial de São Bartolomeu de Fontiscos.

SANTARÉM

Dia Mundial da Poesia – “Consultório Poético”, 21 de março, nos espaços comerciais da cidade, entre as 10h30 e 14h30. A poesia enquanto terapia para os males da alma. Os atores vestidos de terapeutas vão ao encontro dos cidadãos, fazem o diagnóstico e prescrevem a receita correta, neste caso, o poema certo para cada pessoa. “Entre Idades”. Centro de Apoio Social da Carregueira, 19 de março, às 14 h; Associação Cultural e Recreativa de Alburitel, 23 de abril, às 15 h. Projeto intergeracional baseado na música tradicional portuguesa, com o objetivo de promover o envelhecimento ativo e a inclusão de cidadãos portadores de deficiência.

VIANA DO CASTELO

POPular – Inatel na Rua, 5 a 7 de abril. Concertos, cinema ao ar livre, teatro, documentários, arruadas e baile popular, no centro histórico da cidade.

VILA REAL

Comemorações Dia Mundial do Teatro, 23 a 25 de março. Programa: “O Chá de São Cornélio” (adaptação da peça “A Mandrágora”, de Maquiavel), pelo grupo do Centro Cultural Lordelense, 23, 21h30, na Casa do Povo do Pinhão; “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carrol, adaptação pela Associação Cultural Fórum Boticas, 24, 21h30, no Teatro Auditório Municipal de Alijó; “Hotel Paraíso”, de António Torrado, adaptação pela Associação Vale D’Ouro, do Pinhão, 25, 15h30, no Teatro António Augusto de Assunção, em Favaios.


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