Tempo Livre Outubro/Novembro 2016

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NADADOR-

sALVADOR ,

TARZAN da

UMA LENDA

Caparica

NOTÍCIAS Futebol inatel

“somos uma família”

Espírito desportivo

Figueira da foz

Como se fazem campeões

DIRETOR - FRANCISCO MADELINO

JORNAL BIMEStrAL

um mar de vida

3ªSÉRIE

1€

Nº1

OUTUBRO-NOVEMBRO 2016

Ciclo Mundos kalhor e diabaté

INATEL.PT


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ÍNDICE 4

Homenagem Para sempre Tarzan

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Futebol INATEL Unidos pelo desporto

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Viagens Figueira da Foz

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Agenda

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Na mesa com Carlos Capote

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Espírito desportivo: “É importante motivar jovens que estão a começar”

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Ciclo mundos: Kayhan Kalhor & Toumani Diabaté

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Fotorreportagem 18.a edição do Festival Músicas do Mundo

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Crónica Coluna do Provedor

eDITORIAL Renovar o Rosto em Corpo São

O

Jornal Tempo Livre é uma das imagens mais conhecidas da Fundação Inatel. Liga-a, há décadas, com os seus associados. Trouxe-lhes, e traz, narrativas, estórias e eventos, sobre o Portugal que nos acolhe e como Ele se liga ao Mundo. Foram várias as formas que já assumiu, mas sempre associadas à robustez do seu caminho e da sua afetividade com os associados. Uma regeneração, mas sempre fazendo jus à sua história e à missão Inatel, que são as de dinamizar a oportunidade do lazer, do desporto e da cultura para todos, numa forte ligação à portugalidade e aos seus valores genéticos. Não é apenas o formato gráfico que se altera. São as colunas de opinião, os articulistas, a forma de narrar, em textos e reportagens contagiantes, a forma como as atividades da Fundação, e os agentes delas, vivem nos seus territórios, e de que espírito e sentir se faz este mundo português. O Jornal faz esta nova aparição assim, precisamente, com a comemoração, justa, do legado dum colaborador que personifica historicamente a ideia de generosidade e apego a causas nobres da Fundação. O momento, a forma e o conteúdo dos dois eventos são siameses. António Gonçalves Ribeiro, nadador-salvador na Caparica, resgatou centenas de banhistas, nas mais antigas e emblemáticas instalações da agora chamada Inatel. As renovações não significam crítica ao trabalho que se fez. Pelo contrário. Decorrem, neste caso, da exigência em manter vivo um projeto entranhado e bem sucedido entre a Inatel e o mundo onde desenvolve as suas atividades. A renovação é um imperativo, para estar à altura da dimensão deste projeto.

Jornal Tempo Livre | email: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação Inatel Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 Lisboa Diretor Francisco Madelino Publicidade Tel. 210027000/ publicidade@inatel.pt Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484 Preço 1 € Tiragem deste número 140.000 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa do Controlo de Tiragem Estatuto editorial publicado em inatel.pt

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Para sempre Tarzan

De banhista a herói da Caparica ao Sol» e durante 51 anos é a casa que escoSe há pessoas que nascem com Lugar lheu para viver. um propósito, com uma missão, Entre os anos na tropa – de 1943 a 1945 – e a passapela Estiva na Rocha de Conde de Óbidos, em o António Gonçalves Ribeiro, gem Santa Apolónia, António conseguiu ficar efetivo na Tarzan da Caparica, é uma dessas FNAT, era aí que estava a sua grande paixão, salvar pessoas, que nasceu para salvar pessoas. vidas. E morreu com a certeza de Tributo à coragem Foi com o traje de nadador salvador que ganhou missão cumprida. fama e a alcunha de Tarzan, um tributo à sua cora-

E

duardo recorda o pai com lágrimas nos olhos e com orgulho de ter ido para a Costa “agarrado às calças dele”. Hoje, sabe que os filhos também cresceram à sua imagem, “isso teve influência na maneira de ser deles (história do avô). Quando temos uma coisa boa não a queremos perder. Há menos desvios porque temos alguém em que nos retratamos e não podemos fugir muito desse caminho”. Filho de pai pescador, de homem do mar, António foi um dia à escola e nunca mais voltou porque tinha que ajudar o pai na pesca. Aos 14 anos, saiu de casa para a Lagoa de Albufeira para ganhar a vida como pescador. Com 16 anos já conseguia ganhar 6 mil réis a arranjar redes, mas foi aos 17 que descobriu que tinha “barbatanas” nos pés quando numa prova de natação na Costa da Caparica saiu vencedor e ficou com o lugar de banheiro no Conde de Proença-a-Velha. E é em 1939, com 17 anos, que entra na FNAT como banheiro da praia da Colónia de Férias «Um

perto. Empoleirado no escadote, apitava e acenava quando via o perigo aproximar-se e todos lhe obedeciam o gesto. Enquanto foi banheiro da praia da FNAT não houve registo de quem tenha perdido a vida no mar, foram mais de 400 pessoas salvas e chegaram a ser 16 de uma só vez. A partir de 1950 tinha a ajuda da mulher, Germana Rodrigues Maria, com quem casou em 1943. Ela ajudava a armar barracas e toldos e ainda ia avisando os mais aventureiros para não se atirarem para o mar quando o Tarzan assim o entendia. Mais tarde, juntaram-se outros homens para o ajudar dentro e fora do mar. Pai de dois filhos, Eduardo e Eduarda, que cresceram com ele n’Um Lugar ao Sol e com ele aprenderam a escola da vida. Eduardo acabou por ficar pela Costa até aos 18 anos, e foi naquela praia, onde o pai era aclamado de “Tarzan, o homem que não deixa ninguém no mar” que conheceu a mulher com quem acabou por casar, era ela campista e levou o Eduardo para outras aventuras.

gem e velocidade dentro de água. Eduardo, conta que o pai, antes de Tarzan já era conhecido como bom nadador, chamavam-lhe Roaz, como os golfinhos. Ele entrava no mar, da Costa até Cova do Vapor e desaparecia. Ficavam intrigados com tal destreza e comentavam, lá no local onde o António tomava o seu pirolito, que ele conseguia ser melhor do que o Tarzan dos filmes do Johnny Weissmuller. A partir daí foi sempre Tarzan. Como pai, e como Tarzan era alguém que “metia muito respeito, muito competente e respeitado por todos os que frequentavam a praia”. Entre as 10 Arriscar a vida pelos outros horas e as 12h30, “hora do banho” na Colónia de Quando fala do pai, Eduardo não consegue esconFérias, Tarzan tinha sempre o apito e o boné por der as lágrimas, e a única aventura que quer ver concretizada é uma homenagem ao seu pai, quer que todos se lembrem do Tarzan como “alguém que arriscava a vida para salvar a vida dos outros e que Condecorações o fez vezes sem conta. Uma pessoa excecional no a António Gonçalves Ribeiro que fazia. Não tinha estudos mas era doutor na sua Cruz Branca – A bem da Humanidades pelos área de mar. Foi uma pessoa invulgar, uma pessoa Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique como há poucas”. Medalha de Ouro de Mérito e Dedicação da Henrique Nabais subescreve as palavras de EduarCidade de Almada do e foi ele quem começou por fazer, em conjun-


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Quando fala do pai, Eduardo não consegue esconder as lágrimas, e a única aventura que quer ver concretizada é uma homenagem ao seu pai

Eduardo, filho de António G. Ribeiro e, à direita, Henrique Nabais

Lembra-se do Tarzan e do físico corpulento que impunha e lembra-se de Eduardo, com quem jogou anos mais tarde no Belenenses e que a vontade de homenagear Tarzan, 40 anos mais tarde, os voltou a juntar. “Já tinha perdido as esperanças, de tanto batalhar com o Henrique”, agradeceu Eduardo à Fundação INATEL por demonstrar interesse em homenagear o Tarzan na unidade hoteleira da Costa da Caparica. Voltar ao mesmo lugar de há 40 anos e ver como tudo parece tão diferente aperta o coração de quem regressa. “Tenho saudades de ter aqui os pavilhões… faltam as pessoas e os pavilhões”, ouve-se o Henrique suspirar de saudade.

Hotel da Caparica renovado to com a Associação Gandaia e o Jornal Notícias da Gandaia, a primeira homenagem ao Tarzan, em 2013, e o lançamento de uma petição para que uma das ruas da Costa tivesse o nome do António Gonçalves Ribeiro, o Tarzan da Caparica. “Achei que devia agitar as águas. Tenho interesse em homenagear uma pessoa que conheci na colónia de férias e que salvou 400 pessoas.” Nos anos 50, Henrique passava férias com os pais na FNAT, ficava num dos pavilhões destinados para as famílias. Filho de funcionário público foi ali que cresceu, que aprendeu a andar de bicicleta, a andar de patins e foi ali, ao ar livre, que viu as melhores sessões de cinema da juventude.

Hoje, há uma nova piscina para os hóspedes do hotel, inaugurada em julho deste ano; as antigas camaratas dos funcionários da colónia deram lugar ao hotel Sol 3; os pavilhões desapareceram, assim como a casa de cinema que fica perto da lavandaria, e essa ainda continua no mesmo local, na casa amarela. A casa dos correios e do administrador também continuam, assim como altifalante onde se ouvia: “Chama-se ao telefone a Senhora D. Maria, faça o favor de vir à receção”, mas dali já não se ouve nada. Em 1999 foi feita a reestruturação de toda a unidade da Caparica. Depois do Sol 3, renovaram o antigo refeitório que passou a ser sala de eventos, o bar e restaurante também foram renovados, assim como a sala de reuniões que ganhou uma nova vida em

2009. Quem o diz é o atual diretor, João Dionísio, que faz questão de contar a história de Um Lugar ao Sol aos clientes que por cá passam e conta que ouve pelas ruas do Hotel os avós a recordarem com os netos os passeios que se faziam até à praia, a hora do banho, a hora do Loto e do Voleibol, e de como se enchiam os pavilhões e a praia de gente. Hoje a animação é outra, os fins de semana são de baile, o bar e restaurante são ocupados por pessoas da Caparica, por curiosos e associados que ficaram sempre ligados a este Lugar ao Sol. A rua principal da unidade continua a ser o caminho escolhido por muitas famílias para irem à praia e a piscina olímpica continua muito apetecível para quem só quer dar uns mergulhos no verão. Já se fazem planos para o futuro na unidade, aumentar o número de quartos é um deles, mas nessa altura podemos já não encontrar Raquel Paraíso. Está há 42 anos no hotel, entrou em 1972, com 16 anos. Fez tudo. Aprendeu a costurar, lavava, secava a roupa, limpava os pavilhões, cuidava da roupa dos retornados (e casou com “o mais jeitoso deles todos”), esteve no bar e voltou para a lavandaria. Hoje está sozinha na casa amarela mas em tempos já foram 17 mulheres. Continua a ser elogiada por deixar a roupa impecavelmente branca e passada a ferro, um trabalho do qual se orgulha: “Tenho gosto em ver que as pessoas ficam satisfeitas.” Confessa-se cansada mas sente-se em casa, “não digo que isto é o meu emprego, digo que isto é a minha casa; toda a gente vai e eu fico; parece que é meu ou do meu pai, uma herança que ganhei”, e sabe que vai ser difícil virar as costas, “vai-me custar muito mas um dia vai ter que ser”. “É preciso ter muito amor à casa; eu dei muito à casa, mas a casa também me deu muito; nunca nos faltou com o ordenado nem com o comer”, foi um pequeno Paraíso, a sua vida na FNAT e depois INATEL faz jus ao nome. Dos 40 anos de dedicação leva muito mais do que os calções que lavou e passou do Tarzan, leva a juventude, o homem por quem se apaixonou e o dia do casamento, que também foi celebrado na colónia, e leva um baú de memórias que poucas vezes é aberto. Mas são as memórias de quem cá está, são as vontades de querer que a memória não atraiçoe que fazem com que homens como o Eduardo e o Henrique queiram perpetuar a história do Tarzan, e que fazem com que a Raquel não deixe a máquina de costura parar. Tarzan da Caparica será salvo na Costa para que o seu apito jamais perca o ‘pio’. Maria João Costa

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futebol Inatel

Unidos pelo desporto “Somos uma família” O Grupo Desportivo e Cultural de Seiça e o Centro de Cultura e Desporto de Pigeiros, que disputaram a final da Taça de Futebol do Campeonato INATEL, vivem para o associativismo, vivem das pessoas e para as pessoas. Trazem amigos, primos, irmãos, e fazem com que quem está longe se sinta parte deles.

V

iver em Seiça é viver numa freguesia a poucos quilómetros de Ourém com a mais recente mercearia da Berta, a mãe do Titi, “o jovem promissor da terra”. O Cereal é ponto de encontro para preparar o início da próxima época. O Tiago, Titi para os amigos, abriu a loja com a mãe, da foice à maçã, vendem o que é essencial, e o que as pessoas vão pedindo para não se deslocarem a Ourém. Ali fazem-se as compras do dia, fortalecem-se amizades e passa-se toda a informação ao Fialho, o novo treinador adjunto. O Fialho regressa a casa, já foi jogador e capitão no GDC de Seiça, mas hoje volta com uma nova responsabilidade, “quero dar continuação à excelente época que fizeram no ano passado”, afirma. André, diretor do Seiça, faz parte da casa há seis anos. Depois de deixar de jogar no Olival sentiu que podia fazer mais pela freguesia e recuperou o futebol INATEL. Com 39 anos, comercial de pro-

fissão, já deu várias alegrias ao grupo com um título nacional, duas finais distritais e dois títulos Disciplina. “Está muito bom”, diz, e é para continuar. Dois novos reforços e um campo em relva sintética são as principais novidades da nova época. Quem também já venceu campeonatos e rematou muitas vezes à baliza da FNAT foi o presidente da Junta de Freguesia, Custódio Henriques, associado da Fundação desde 1968, e sócio n.º 4 do GDC de Seiça. Jogava na equipa da Fábrica Militar do Braço de Prata e ao fim de semana rematava na baliza do Seiça. Como era filho de ferroviários não pagava as viagens de comboio, e fazia tudo para estar perto da bola. Hoje a ‘bola’ é outra. Pensa na festa dos 500 anos da freguesia, no próximo ano, e conta com a INATEL, instituição que aos seus olhos “tem um papel importante na dinâmica do país, desde o futebol, às filarmónicas e ranchos folclóricos”. “Sou o Fernando, de futebol percebo pouco, só assino papéis e tenho chatices”, assim fala o presidente do GDC de Seiça. Diz que faz tudo o que é preciso, tem orgulho no grupo que viu crescer desde 1974 e do qual nunca saiu. Já passou por todos os cargos administrativos. É quem patrocina os equipamentos há vários anos. O GDC de Seiça, campeão nacional, foi 1.ª página de jornal e destaque na Seiça TV, “uma brincadeira que tem três anos”. É Florivaldo Martins, de 67 anos, que lhe dá vida. Começou como uma brincadeira mas é levada muito a sério, percebe que faz cada vez mais sentido mantê-la: “Há emigrantes que acompanham o grupo a partir da Seiça TV.” As notícias de Ourém também marcaram o momento da vitória do Seiça contra os Pigeiros na final da Taça. Jorge, diretor e jornalista desportivo, confessa que quando viu a equipa chegar, percebeu “que ha-

via um brilhozinho nos olhos”. E não esconde que passou todas as emoções para o papel, “o jornal chega a vários pontos da Europa e se nós transmitirmos um pouco da emoção daquilo que foi, devemos fazê-lo, para as pessoas se sentirem parte do momento”. A Carlota, filha de André, faz parte do GDC de Seiça há seis anos. Vai aos jogos todos, tem um equipamento à medida. O tio e padrinho fazem parte da equipa, mas segredou que é o seu tio Rafa que marca mais golos. O padrinho, Fuma, é capitão da equipa, está sempre de olho nela a partir do campo. A mãe diz-se “culpada”, porque “metemos o bichinho na Carlota”. A mãe faz parte do grupo de Teatro e é uma das muitas mulheres que faz questão de ir aos jogos, de apoiar e mobilizar o grupo, dentro ou fora da freguesia. “As mulheres são muito bem acolhidas, mesmo as que não gostam de futebol. Aliás, já estão a angariar dinheiro para irem com os jogadores à Letónia.”

“O segredo está na união do grupo”

Há possibilidade de os campões de Seiça representarem a INATEL na CSIT – Confédération Sportive Internationale Travailliste et Amateur, em junho de 2017. Enquanto esse dia não chega, o treinador Armando Pessoa renova por mais uma época, depois de ter tido apenas três derrotas e a vitória numa final nacional. Continuar com o “mister” era um desejo para a equipa. Aos 55 anos ainda tem muito para dar ao futebol, mas sabe que “superar o que a equipa fez o ano passado vai ser extremamente difícil. O segredo está na união do grupo”, e é nessa união que vai continuar a dar corpo, para que o “músculo” não perca a força. Jorge Marques faz parte desse corpo há 46 anos. É o adepto mais velho do Seiça. Já foi jogador, treina-


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“é o associativismo e as coletividades que mais fazem falta à sociedade” CCD Pigeiros ter perdido na final contra o GDC de Seiça.

A mesma paixão

“Pigeiros é um fenómeno. Como é que uma terra com 800 habitantes em Santa Maria da Feira, com sete freguesias a rodeá-la, já foi tema de tese universitária e tese das Novas Oportunidades? Como é que uma coisa tão pequena é tão falada? E tem sempre 20 ou 30 pessoas que querem jogar aqui.” As palavras são de Carlos Alberto, vice-presidente, do CCD Pigeiros. Entrou em 1999 como presidente, teve vários cargos na direção, e tem orgulho em ter sido um dos que deu de novo vida ao futebol INATEL com a legalização dos estatutos. O Élvio é uma figura da terra, um dos fundadores do futebol em Pigeiros. Conta que o futebol federado surgiu em 1976, mas houve sempre, em paralelo, uma equipa da INATEL, “não ao nível do que há hoje, esta começou em 1975”. Não se cansa de gabar que sempre tiveram boas equipas mas traz a modéstia com ele quando se lhe pergunta o que fez pelo futebol em Pigeiros: “Fiz o que tive possibilidade de fazer.” O campo de futebol foi construído por ele e gente da terra – sócios e amigos. A primeira quota de sócios (100 escudos de jóia) foi para as obras. Há um novo campo prometido, que está em construção. Os jogadores e dirigentes esperam que seja curto o tempo de espera para o Pigeiros ter um relvado sintético. O Troféu Manuel Oliveira Pé d’Arca, criado para homenagear o mecenas da freguesia, que doou o terreno para o campo de futebol, é um dos que o Pigeiros quer voltar a conquistar. O 1.º troféu ficou em Pigeiros, mas querem continuar com a iniciativa, com adversários mais fortes para dignificar este troféu. Quem também dignifica Pigeiros são os emigrantes. E de emigrantes vive o Pigeiros. Desde 2004 sente-se uma fuga dos mais novos para países como a Suíça e Luxemburgo, a crise assim os obrigou. Mas mesmo longe fazem questão de se manterem a par. São eles, com destaque para Domingos Mota, que faz parte da direção, e vem de propósito da Suíça ver as finais do Pigeiros, que oferecem o equipamento ao clube. Este ano enchem o peito quando se fala da nova camisola, igual à da seleção do Luxemburgo (preto e vermelho), e querem levá-la à Letónia, ao encontro da CSIT. Depois de Turim, Estónia e Lignano Sabbiaddoro, esperam representar a INATEL no próximo ano. Convívios, rifas e peditórios ajudam para que o sonho se mantenha vivo até junho de 2017.

dor, vogal, ator, encenador, diretor. Conta, de olhos presos no dia 24 de junho de 2016, que chorou. “Não consigo expressar em palavras aquilo que senti quando ouvi o apito final no Parque de Jogos 1.º de Maio.” Jorge é um daqueles que recorda com saudade o tempo do verdadeiro associativismo, e afirma que “hoje é difícil criá-lo, mas é o associativismo e as coletividades que mais fazem falta à sociedade”. O Filipe, Fi para os amigos, prefere jogar na INATEL por conseguir ter momentos de convívio, conciliar com a profissão de Higienista Oral, e ainda ter tempo para namorar. Com 25 anos, já está no clube desde os 19, e por enquanto não pensa sair, tem um título de melhor marcador para ganhar (perdeu por apenas um golo na época passada). China, ou antes, Cláudio, tem 32 anos e está no grupo desde 2006, é dos mais velhos do grupo. Diz, com pouco fôlego, depois da corrida de aquecimento, que as equipas da INATEL estão cada vez mais “Somos o Porto, Sporting jovens. Há sangue novo a correr pelos relvados. O e Benfica da INATEL” Pigeiros concorda com o China, apesar da distân- A fidelização do CCD Pigeiros com a INATEL é cia e de serem rivais dentro do campo, não fosse o motivo de alegrias. Para Carlos Alberto “é impensável ir para o federado. Íamos apagar toda uma história – era indigno sair de uma instituição que ainda este ano lançou um livro onde o Pigeiros teve destaque”. Otília, adepta desde os 14 anos, também ganha destaque nas histórias do CCD de Pigeiros. Filha da sócia mais velha de Pigeiros defende o clube como pode. Hoje, Otília fica por casa, a serrar madeira e a martelar o milho. A fábrica de calçado onde trabalhava fechou, mas recusa parar. Quando o cunhado era vivo e jogava no Pigeiros era mais assídua nos jogos, mas continua sócia e diz-se de Pigeiros com a mão no peito.

“São pessoas genuínas. Enquanto tivermos estas raízes o Pigeiros vai continuar”, comentou Carlos Alberto que conhece cada pessoa da terra. Carlos deu-nos a conhecer a fábrica de chapéus Costas Largas, onde são feitos à mão os chapéus da Guarda Nacional Republicana, das confrarias, e em tempos, os chapéus usados pela polícia em Londres. É lá que se encontra o Paulo, presidente e jogador do Pigeiros, e quem deu nome à empresa. Paulo joga há 10 anos na INATEL. Já jogou futebol semiprofissional, foi aí que teve o nome de Costas Largas, era quem se sobressaía no Arrifana e no Juniores do F.C. Porto. O irmão, o mestre Elísio, fala desses tempos como um pai fala de um filho, ele que já trabalha com chapéus há 43 anos foi quem desafiou o Paulo a entrar nesta aventura. Há 20 anos, numa rua estreita de Pigeiros, Elísio lançou o desafio de abrir a fábrica. Com maquinaria que tem mais de 200 anos e as mãos de um mestre, juntos fizeram acontecer uma bela fábrica. Com eles vieram Amílcar e Maria José. Amílcar está na fábrica há dois anos, é o diretor, o faz tudo, mas já se deixou deslumbrar pela arte e até mesmo pelo Pigeiros. A Maria José, costureira, só vai aos jogos quando a equipa já está na final, mas tem em casa alguém que não vive sem o futebol, o marido, António. Irmão do Paulo e do Elísio, que foi jogador e capitão no Pigeiros, venceu campeonatos e hoje, a convite do irmão, faz parte da direção e é o cozinheiro de serviço: sexta-feira é dia de arroz de cabidela do António. O Vítor, treinador, aprova a cabidela, as sextas-feiras e as noites mais longas. Mas não deixa de reforçar que “aqui há uma obrigação e sentido de responsabilidade, por isso é que temos estado no topo da INATEL”. “Mister” há cinco anos, não podia ficar afastado do CCD Pigeiros, “acho que devo muito àquela gente; de todos os clubes foi onde conheci as melhores pessoas, o melhor balneário, onde partilhei muitas conquistas, e nem no Nacional tive isso”, recorda a altura em que lhe foi feito o convite para ser treinador. “Quando cheguei era um futebol popular sem grandes recursos ”, destaca a evolução das equipas, sublinhando a força dos Pigeiros: “Digo aos meus jogadores que não jogam num simples clube, jogam no clube que tem mais títulos… Nós somos o Porto, Sporting e Benfica da INATEL.” Um treino por semana parece suficiente para o grupo que já foi quatro vezes campeão nacional. O plantel não sofreu muitas alterações ao longo dos anos e é um grupo jovem. No início da nova época já são conhecidas quatro contratações, Antunes, Ronaldo, Pinta e Cindy, jovens com vontade de vencer. Querem a taça no final da época. A Cindy não vai jogar, é tesoureira e a única mulher do CCD. É adepta desde que se conhece como gente, incentivada pela família, entrar no grupo era uma questão de tempo. Começou esta época mas acredita que é para durar. Carlos Daniel, o “matador”, é capitão e melhor marcador dos últimos seis anos. Diz que vem aos treinos e aos jogos para “matar o bichinho do futebol”. E também para recuperar o que perderam, a Taça Distrital e Taça Nacional. Vítor, Vitinha, tem a mesma sede do Carlos, quer voltar aos jogos depois de um incidente que o impediu de jogar. Chegou a treinar com o Rafa, jogador do Benfica, nos juniores do Feirense. Vítor fala com alegria desse ano e tem orgulho no percurso do colega. “Basta ser jogador do Pigeiros para conquistar as miúdas”, quem o diz é o Henrique, o parte-corações da equipa. E basta um querer para se conquistar um pouco mais de terra, um pouco mais de gente; basta um mexer-se para fazer crescer e perdurar grupos e centros culturais e desportivos como o de Seiça e Pigeiros. É a rivalidade que os une e que faz com que ganhem sentido. E é a INATEL que os vê crescer e os apoia para que o associativismo, o convívio, a família fora de casa ganhe cada vez mais adeptos. Maria João Costa inatel.pt


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Viagens

Figueira da foz Um Mar de Vida Pelo mar adentro é para onde areal. Descemos até ao Forte de Santa Catarina, nos finais do século XVI, que reforçava se dirigem logo os olhos. Cerca edificado a defesa da foz do Mondego juntamente com a de 15 quilómetros de praias e um Fortaleza de Buarcos e o Fortim de Palheiros. O Forte, com o seu farol, é uma referência da cidalongo areal. Uma imensidão que de. Marca o ponto de viragem entre a frente do rio parece ajudar a ver mais claro o e a frente do mar. que ainda há para descobrir na O peixe fresco Na foz do rio Mondego está José Tomaz, 68 anos, Figueira. a pescar. Hoje leva para casa dois robalos e meia

do Porto, da Foz do Douro, e deixou-se atrair pela Figueira. “Apaixonei-me pela Gala e fiquei… O mar é a minha paixão, é aquilo que eu gosto.” Conta que por ali passam sobretudo espanhóis, “eles vêm cá de uns anos para os outros, compram pescada fresca de qualidade”. Vemos ainda à venda no mercado bancos pequenos de madeira e cestos de verga que fazem lembrar outros tempos. Memórias que remetem para as nossas infâncias.

H

Dirigimo-nos depois à Praça Velha onde está o Pelourinho, de coluna salomónica, com as armas nacionais esculpidas numa das faces do capitel, executado em pedra lioz, como nos informa o mapa turístico cedido no município. Homenagem na Praça Velha aos militares da Grande Guerra. Também aqui se recordam os combatentes no Ultramar do Concelho da Figueira da Foz. A dois passos dali está a Praça Nova. A pé facilmente se vai de um lado ao outro. A visita pode ser saltitante, à descoberta, sem rotas traçadas, que permitem desfrutar da cidade andando com a brisa da Figueira a tocar no rosto. É também assim que se descobrem os lugares e as pessoas. Os tempos e os modos de viver. Encontramos Marta Furtado, 36 anos, antropóloga, que acompanha as visitas na Casa do Paço. É de Coimbra, tirou o curso na cidade dos estudantes, mas é na Figueira que gosta de viver. Marta explica que a Casa do Paço é um espaço para exposições, conferências, teatro e outro tipo de atividades e que “tem um espólio de azulejos único – é um dos maiores painéis do mundo de azulejos holandeses ainda no seu local original. Estão aqui

á gente de todas as idades a pedalar na marginal. Famílias a passear com carrinhos de bebé, pessoas a caminhar ou a correr, consoante a energia e os objetivos, outros, ainda, estão virados para o mar a fazer exercícios em aparelhos de ginástica. Coisas simples, pequenos grandes luxos ao alcance dos que gostam de desfrutar da vida ao ar livre. A variedade é muita. Também o Parque das Abadias, no coração da cidade, tem um amplo espaço verde onde existem equipamentos acessíveis aos amantes da vida saudável. Ziguezagueamos embalados pela curiosidade. Continuamos o caminho até ao Bairro Novo. O Casino Oceânico, que é hoje uma discoteca, mas que mantém a fachada, está em frente ao Casino da Figueira, onde se realizam grandes espetáculos, por um lado, e jogos de sorte e azar, por outro. Neste bairro há lojas e esplanadas. Veem-se alguns turistas. Aproximamo-nos da Torre do Relógio, uma obra de José António de Aguiar durante o Estado Novo, e do Sweet Atlantic Hotel, um dos edifícios mais altos da Figueira, com cerca de 75 metros. As vistas alargam-se para o extenso

dúzia de sarguetas. Nascido na freguesia de São Julião, este figueirense sabe vender bem o seu peixe. Que é como quem diz, a sua terra: “A melhor cidade do mundo é esta. Eu conheço a Europa, África… e muitas cidades de Portugal… Mas aqui encontro tudo: serra, praia, campo e peixe fresco todos os dias...” Enquanto fala, olhamos para a embarcação de pesca que se aproxima do porto. As gaivotas rondam o barco. Saímos dali e vamos ao Mercado Municipal Engenheiro Silva. Cruzamos com um carteiro de bicicleta que seguia velozmente o percurso para entregar as cartas ao destinatário. Chegamos, entretanto, a um dos nossos destinos. As bancas de hortofrutícolas e pescado enchem de cores e de vida um lugar que é muito visitado por turistas. Ângela Almeida, 53 anos, é peixeira há quinze. É

Fim de ano na Figueira da Foz

30 dezembro a 2 de janeiro Partidas de Faro, Setúbal, Lisboa e Leiria Tel. 211 155 779 | turismo@inatel.pt | www.inatel.pt

À descoberta


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Fotos: José Frade

desde que foram colocados, a partir de 1706. Diz-se que houve um naufrágio de um barco holandês que deu à costa e trazia este espólio azulejar”. “Na altura,” acrescenta, “os donos desta casa adquiriram os azulejos. O sobrinho de D. João de Melo, Bispo-Conde de Coimbra, era o proprietário, depois de o tio morrer, em 1704”. Há quatro salas com azulejos (cerca de 7000 produzidos em Roterdão, na olaria Delftsevaart) com três motivos: paisagens pintadas a azul-cobalto, os cavaleiros em manganês e cenas bíblicas. Esta e outras indicações detalhadas podem ser dadas pela Marta. Quem tiver a oportunidade de lá ir, que

espreite pela varanda. A nossa guia aponta para a beleza natural: “A zona envolvente é muito bonita. Temos a parte do estuário e a marina… Aqui também dá para usufruir de passeios de barco… No tempo em que foi construída esta casa, o rio Mondego passava mesmo junto dela. Ali mais à frente existem as salinas...”

O tempero da vida

É para lá que vamos. Atravessamos a ponte Edgar Cardoso. Seguimos as indicações do EcoMuseu do Sal. A visão dos viveiros e dos flamingos enchem-nos os olhos. Bem como a de uma pequena pirâ-

mide de sal. Entramos num armazém de madeira. Vemos António Romão, 80 anos, de Lavos, que há mais de sete décadas tem no sal o tempero para o seu ganha-pão. “As pessoas admiram-se quando vêm cá. Há quem pense que a gente faz sal a chover. Eu digo que não. É como as cobras. Quando veem sol saem da toca, quando veem chuva vão para a toca. Com as salinas é a mesma coisa.” Mas ele está mesmo por lá no inverno para vender a colheita do verão: sal grosso e flor de sal. E explica a diferença: “A flor de sal é como quando a gente ferve uma cafeteira de leite e fica a nata por cima. As águas aqui nas marinhas são a mesma coisa. Quando a temperatura é grande cria aquele laço por cima, depois vamos com um peneirinho e apanhamos. Não podemos chegar ao fundo, porque vem a pedra grossa.” Este ano apanhou perto de 200 quilos de flor de sal e 100 toneladas de sal grosso. Um saco de vinte quilos de sal grosso é vendido a três euros e apenas um quilo de flor de sal pode ser adquirido pela mesma quantia.

Descansar o olhar

Vamos embora que se faz tarde. O pôr do sol está a chegar e ainda queremos visitar o Cabo Mondego, onde, em julho, foi gravado um Prego de Ouro. A comunidade científica reconheceu a existência de sedimentos, fósseis e microfósseis da era bajociana, “que transformam o local no único do mundo a servir de referência global deste período do Jurássico Médio”, segundo o sítio da câmara municipal. Antes de chegarmos ao farol, paramos no Miradouro do Cabo Mondego. Lê-se que a requalificação naquele espaço foi feita com madeira proveniente das ações de desbaste na serra da Boa Viagem. Dali avista-se Buarcos e a Figueira da Foz… e o mar. Sempre o mar. Descansa-se o olhar. E respira-se fundo. Ainda há tanto para ver na Figueira. Muito mais. Cada um escolhe os lugares que o ajudam a oxigenar mais os dias. Sílvia Júlio inatel.pt


10 TL OUT-NOV 2016 •

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Mais informações EM INATEL.PT


• TL OUT-NOV 2016 11

Na mesa COM

Carlos Capote

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ste era um prato que os caparicanos faziam antigamente, porque pescavam robalos, sargos ou pregados. Confecionavam este prato para poderem tirar partido de um caldo. Aprendi a fazê-lo com o meu avô, Manuel Capote.”

Massa do caldo do robalo

Ingredientes (para quatro pessoas): 1 robalo (1 kg); 2 cebolas (médias); 4 tomates maduros; 800 g de batata; 1 dl de azeite; 1 ramo coentros (ou salsa); 150 g de massa (cotovelinhos); hortelã; sal e pimenta q.b. Preparação: Depois de amanhado parta o robalo em quatro e tempere com sal meia hora antes de ir ao lume. Num tacho coloque as batatas aos gomos, o tomate desfeito, a cebola às rodelas, azeite e pimenta. Cubra com água e deixe levantar fervura. Quando a batata estiver quase cozida, coloque o peixe em cima. Acrescente água e coentros. Assim que a batata estiver cozida sirva o prato, reservando o caldo para ser coado. Ao caldo acrescente mais água, coza a massa e sirva com hortelã.

inatel.pt


12 TL OUT-NOV 2016 •

ESPÍRITO DESPORTIVO

Uma vitória treinada no Estádio 1.o de Maio “é agradável motivar jovens que estão a começar” Luís Gonçalves, que conquistou a medalha de bronze na prova dos 400 metros T12 (deficiência visual), nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, no Brasil, treinou na pista do Estádio 1.º de Maio. O TL falou com o atleta e o treinador, Nuno Alpiarça, para saber como se fazem campeões.

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cientista e inventor Thomas Edison dizia que “talento é 1% de inspiração e 99% de transpiração”. Quando Luís Gonçalves subiu ao pódio, Nuno Alpiarça escreveu no Facebook que esta vitória era “muito saborosa”. A cereja no topo do bolo depois de muito esforço: “Este trabalho prolongou-se ao longo de quatro anos. Durante este tempo consolidámos uma parceria treinador-atleta em que ambos tivemos de abdicar muito para atingir este objetivo.” Nuno Alpiarça é professor de atletismo no Centro de Formação Desportiva, Desporto Escolar e treinador de um grupo de atletas paraolímpicos na pista do 1.º de Maio. Perguntamos-lhe se motivar uma pessoa para ser campeã com necessidades especiais é um exercício igual ao que se faz com qualquer outro atleta. “O segredo é conhecer muito bem com quem estamos a trabalhar e definir uma estratégia de motivação, de acordo com a sua personalidade e os seus objetivos”, responde o treinador. A primeira dificuldade que se encontra para o tra-

balho com atletas com deficiência é a escolha dos locais de treino. O Luís, por exemplo, está dependente dos transportes públicos para se deslocar. Outro aspeto a ter em linha conta é a opção do horário dos treinos: “Dado tratar-se de um atleta com deficiência visual treinamos de manhã ou ao início da tarde, de modo a fazê-lo sempre com luz do dia, evitando os períodos em que a pista tem mais utilizadores. Para além disto e de algumas especificidades, e adaptações técnicas importantes, o seu treino é muito parecido com o de um atleta sem deficiência.”

“Muito trabalho para se chegar lá”

O medalhado Luís Gonçalves chama a atenção de que o “desporto paraolímpico é sério”, não é algo de “coitadinhos de reabilitação”. “Quer um atleta olímpico quer um atleta paraolímpico têm muito trabalho para conseguirem chegar lá.” Ao lugar reservado dos campeões. O Estádio 1.º de Maio está adaptado para os treinos das pessoas com deficiência, mesmo para

competições tão exigentes como os Jogos Paraolímpicos? Interessa-nos conhecer a opinião de quem utiliza regularmente este espaço: “Tem muito boas condições de treino para pessoas com deficiência, mas sem problemas de mobilidade, porque o acesso entre o balneário e a pista tem de ser feito pelo exterior do estádio. Um espaço coberto junto à pista seria uma mais-valia para a prática do atletismo, especialmente em dias de chuva”, sugere o atleta. “Para além de se localizar numa envolvente muito agradável, reúne todas as condições para realizar os treinos de pista que tenho planeados.” “O Estádio 1.º de Maio assistiu ao meu crescimento e à minha primeira competição, um campeonato regional de Lisboa, em 2006”, acrescenta. Luís Gonçalves tem partilhado ali a sua experiência com alunos de atletismo do Desporto Escolar: “É muito agradável encontrar e motivar jovens que estão a começar a prática do atletismo.” O futuro dirá se também eles chegarão, um dia, ao pódio.


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Ciclo Mundos

Próximos concertos Ciclo Mundos no Teatro da Trindade INATEL

31 de outubro – Criatura | 10 e 11 de novembro – Salif Keita | 30 de novembro – Bachar Mar-Khalifé | 16 de dezembro – Waldemar Bastos

Kayhan Kalhor & Toumani Diabaté Variações de um raga curdo-mandinga O Ciclo Mundos recebeu, no início de setembro, o diálogo entre dois virtuosos instrumentistas e principais embaixadores das suas culturas: a música clássica persa do curdistão iraniano para kamanche e a música milerar griot do Império Mandinga para a kora de 21 cordas.

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ayhan Kalhor, iraniano de sangue curdo, virtuoso intérprete de kamanche. Instrumento de cordas friccionadas com arco que, ao ter sido transportado para o mundo ocidental, esteve na origem da rabeca e, consequentemente, da viola de gamba, do violoncelo e do violino. Excelso instrumentista e improvisador que integra a Silk Road Ensemble do violoncelista norte-americano de ascendência chinesa Yo-Yo Ma e que se apresentou recentemente no FMM de Sines e na Gulbenkian com o tocador de baglama turco Erdal Erzican. Toumani Diabaté, griot maliano e mestre do kora de 21 cordas, já perdeu a conta das vezes que tocou em Portugal. A solo, em duo num registo mais clássico, quer com o seu filho Sidiki, quer com o não menos genial tocador de kora Ballaké Sissoko, com a Symmetric Orchestra, a sua grande orquestra de cerca de duas dezenas de músicos griots num formato totalmente festivo, ou em experimentações afro-cubanas e afro-brasileiras nos projetos Afrocubism (com Elíades Ochoa) e Curva da Cintura (com Arnaldo Antunes e Edgard Scandurra). Em todos eles, Toumani aproveita as pausas dos espetáculos para dar memoráveis lições de kora. Sobre os materiais de que é feita. Sobre a capacidade de extrair em simultâneo o ritmo, a melodia e, acima de tudo, o improviso, com dois dedos polegares e os dois dedos indicadores. No Ciclo Mundos do Teatro da Trindade INATEL, Kayhan Kalhor e Toumani Diabaté apresentaram, a 8 de Setembro, o segundo espetáculo conjunto de uma mini-digressão de nove datas que se iniciou quatro dias antes na Alemanha e que passou ainda pela Suíça, Lituânia, Holanda, França

e Bélgica. Músicos que nunca se tinham encontrado e que tiveram menos de uma semana para ensaiar e definir o repertório deste espetáculo. Nesse dia, conversaram com o Tempo Livre sobre este diálogo de improviso e virtuosismo a quatro mãos. Como é que surgiu esta colaboração? Kayhan Kalhor – Foi uma proposta do agente do Toumani. Já se conheciam? KK – Ainda não nos conhecíamos. Tivemos muito poucos dias de trabalho, mas não foi difícil encontrar uma base comum. O Toumani é um músico excecional. Estou a apaixonar-me por esta música. A nossa relação musical que temos desenvolvido tem sido fantástica para mim. E que música é esta? Persa? Maliana? KK – É música cem por cento improvisada. Não é maliana, não é turca ou persa. Apenas música. Para nós, tem uma magia especial. É algo que não existia antes, mas cuja raiz tem milhares de anos. Toumani Diabaté – É uma forma muito especial de realizar um concerto. Não falamos, não paramos de tocar, não damos oportunidade à audiência de bater palmas durante o espetáculo. Tocamos uma peça composta por variações. Começamos lento, vamos para diferentes níveis, dimensões, velocidades. É como um raga indiano. O Kayhan afirmou recentemente que procura tocar com músicos que representam para si um desafio. O Toumani é um desafio? KK – Sim. Se reparar, vimos de culturas diferentes. Ele de África, eu do Médio Oriente. De qualquer forma, o princípio em cada género musical é o mesmo. É um grande desafio para ambos. Não há muitos músicos que queiram sair da sua zona

de conforto, sobretudo aqueles que já têm uma carreira cimentada. Não precisam fazer isto, apenas de continuar a tocar o seu repertório. Respeito muito o facto de ele ter aceitado envolver-se em projetos desta natureza que é o de criar música nova. Para mim é a mesma coisa. Dá-nos mais uma chance de tocarmos música para uma nova plateia. Envolve muita curiosidade, questões, desafios. Para nós, músicos, é muito importante tentarmos fazer coisas que ainda não tínhamos feito antes. Qual é o ponto de entendimento que faz com que dois músicos que ainda não se conheciam antes e com tão poucos dias de ensaio terem desenvolvido de forma imediata, profícua, este trabalho? TD – O ponto de encontro deste trabalho é o da paz e do amor. É uma grande ambição de tocar música. Eu venho de uma família griot com grandes tradições musicais e o Kayhan também vem de outra família de grandes e profundas culturas do Curdistão. A música que vamos tocar não é contemporânea. A música para kora e kamanche é de há várias centenas de anos atrás. Eu não preciso de conhecer a música do Curdistão ou do Médio Oriente, nem o Kayhan necessita de conhecer a música Mandinga para nos entendermos em palco. As notas são as mesmas, quer na kora, no kamanche, ou na guitarra portuguesa. No Mali, na Turquia ou em Portugal. É fácil tocarmos em duo porque a música é uma linguagem universal. Para mim, que venho de uma família griot, a música é uma forma maior de educação. Para o Kayhan também. Não tocamos apenas música, vamos às raízes de ambas as culturas. Luís Rei inatel.pt


14 TL OUT-NOV 2016 •

Fotorreportagem

A Fundação INATEL na 18 a edição do Festival Músicas do Mundo – FM

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Tudo começa na aldeia de Porto Covo. Podia ser descrita apenas por ter uma rua e uma praça, mas era injusto dizer apenas isso. Porto Covo tem em si muito do mundo, tem as Músicas do Mundo. Depois de Porto Covo, Sines. Quatro dias e quatro noites de festival, onde a música se mistura com a gente, com a cultura, com passado e o presente, e “o mundo é muito mais belo com muitas pessoas diferentes do que apenas com uma harmonização cultural e dos gostos que nos querem impingir”, quem o diz é o Presidente Francisco Madelino.

Fundação INATEL, pela primeira vez, como parceira do Festival Músicas do Mundo em entrevista à TSF.

Segue-me à Capela foram os primeiros a atuar na 18a edição do Festival Músicas do Mundo, em Porto Covo.

Entrevista com Nuno Mascarenhas, Presidente da CM de Sines e Francisco Madelino, Presidente da Fundação INATEL.

Ambiente do Festival em Porto Covo com presença de artistas de rua.

Entrevista à RTP.

Entrevista às irmãs The Unthanks, UM DOS Concertos que marcOU Porto Covo.

Em Sines, o lounge da INATEL. Palco de encontros do mundo das artes.

O lounge da INATEL recebeu convidados do mundo do cinema, teatro e TV.

Criatura abriram o palco principal do FMM em Sines, no Castelo.

Muitos foram os que quiseram estar perto da INATEL durante o Festival.

Entrevista do Presidente da Fundação INATEL, Francisco Madelino, à LUSA, sobre parceria com o FMM.

Até para o ano FMM – Festival Músicas do Mundo.


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Coluna DO provedor

crónica

Manuel Camacho

provedor.inatel@inatel.pt

O A futurologia musical do Ciclo Mundos

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e os lisboetas não puderam ir a Sines, o Festival de Músicas do Mundo veio até à capital. Durante os três meses de verão, o Teatro da Trindade INATEL recebeu no “Ciclo Mundos” uma dezena de espetáculos do circuito da “liga dos campeões” da designada “world music”. Numa parceria inteligente com o certame que tem sido premiado sucessivamente por uma das principais publicações britânicas da especialidade – a revista Songlines – como um dos 25 festivais do mundo (extra Grã-Bretanha) com melhor programação (único da Península Ibérica a merecer tal distinção), o Trindade apresentou um cardápio musical “com espírito de aventura”: o hip hop latino-americano da chilena Anita Tijoux que clama por justiça social e evoca a memória de Violeta Parra; os blues de James “Blood” Ulmer; o ethio jazz e soul da israelita Ester Rada; o transe das danças pizzica e tarantela com efeitos terapêuticos do Cazionere Grecanico Salentino do sul de Itália; as dinâmicas do pós-rock em confronto com a folk milenar sul coreana dos Jambinai; o berço de ouro da música africana – o Mali – em três momentos distintos, com a fusão acústica e de música de câmara entre o virtuoso tocador de kora Ballaké Sissoko e o violoncelista francês Vincent Segal, com o afro-funk-blues-rock dos Songhoy Blues, banda revelação de etnia sonrai (a mesma do mestre Ali Farka Touré) e com o raga experimental e multi-dimensional persa-maliano, 100% improvisado, dos “monstros” Toumani Diabaté (kora) e Kayhan Kalhor (kaman-

che); o Brasil ancestral e contemporâneo, rural e urbano, multicolor, deslumbrantemente desconhecido dos Metá Metá; e a celebração tribal xamânica siberiana dos ucranianos DakhaBrakha. Um alinhamento de luxo que combinou algumas das melhores memórias dos 17 anos de FMM de Sines com estreias arrojadas que marcam a agenda internacional. Toumani Diabaté e Kayhan Kalhor apresentaram no Teatro da Trindade INATEL o segundo espetáculo de uma mini-digressão de dois virtuosos instrumentistas e improvisadores que se uniram uma semana antes para o preparar. Tem sido nesta combinação aberta de estilos musicais (folk europeu, etnojazz, art rock, electro, afrofunk, chicha e cumbia psicadélica, etc.) e de vários nomes consagrados com propostas arriscadas e arrojadas que, como tão bem diz o meu amigo e agente Carlos Bartilotti, o FMM tem oferecido a “música que todos irão querer ouvir e dançar daqui por dois ou três anos”, quer nos festivais de músicas do mundo, quer nos festivais de indie pop-rock e de música eletrónica. É esta “futurologia musical”*, concebida inicialmente em Sines pelo chef Carlos Seixas, que todos os lisboetas (e em breve os portuenses) podem agora degustar no Ciclo Mundos. Ao longo do ano. Aproveite!

ano de 2016 tem sido um período de excelência para Portugal no campo desportivo. Além do futebol – em que, pela primeira vez, nos sagrámos campeões europeus – não foram poucas as modalidades em que, entre medalhas, diplomas e menções honrosas fomos reconhecidos entre os melhores da Europa e/ou do mundo. O desenvolvimento que o desporto em Portugal vive atualmente não acontece por acaso. Foi o empenho, a dedicação e o esforço de muitos que tornou possível esse salto qualitativo que tanto enriquece uma sociedade. Nesse “salto” se incluem, além das entidades oficiais, todo um conjunto de Clubes, Associações e Grupos Desportivos que, não poucas vezes de forma amadora, se lançaram nesta área tão necessária à afirmação de um povo. A Fundação INATEL tem tido, ao longo dos tempos, uma importância fundamental em todo este processo. Todo o Associado pode participar ativamente nas mais diversas modalidades, em equipa ou individualmente, dispondo de técnicos especializados, de equipamentos e de espaços especialmente criados para o efeito. Sejam pró-ativos, informem-se e desfrutem do privilégio de serem Associados desta Fundação.

Luís Rei

*um dos slogans da Vodafone FM que descobre semanalmente novos valores do universo alternativo do pop-rock.

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