Tempo Livre Julho/Agosto/Setembro 2016

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Diretor: Francisco Madelino Diretora-adjunta: Inês de Medeiros

www.inatel.pt

Jornal Mensal 2ª Série | 1€ N.º 35 Julho/Agosto 2016

Ciclo Mundos Juntar tradição à modernidade pela música

Desporto

ista v e r t n E oux j i T a An beça “A ca ma éu ” arma

GCD de Seiça grita vitória e leva a taça para Santarém


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TL Julho/Agosto 2016 // FUNDAÇÃO INATEL // 3 // SUMÁRIO

4 Notícias

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// EDITORIAL

Renovando a Tradição e o Desporto Populares

Francisco Madelino Presidente da Fundação Inatel

Entrevista // Ana Tijoux

8 Destaque // Ciclo Mundos

12 Desporto // Final de Futebol

13 Viagens // Turismo para Todos – SPA

14 Reportagem // Terra Santa

18 A viagem da minha vida // Ângelo Torres

20 Os Contos do Zambujal

21 Arquitetura dos Tempos Livres

23

Fundação INATEL, nos meses de verão, teve duas grandes festas: o encerramento nacional da sua taça de futebol, que envolve milhares de atletas e centenas de clubes, e o Ciclo Mundos, este numa parceria com o Festival de Músicas do Mundo. Uma e outra festa estão no centro da missão INATEL: promover a cultura popular, e nela os projetos intergeracionais inovadores, e dinamizar um direito constitucional fundamental ao desporto, logo de acesso a todos. No Estádio Primeiro de Maio, uma infraestrutura emblemática da Fundação, estiveram milhares de pessoas, em festa, a assistir à Final Nacional. Foi uma festa do desporto popular, demonstrando-se assim a

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ligação da INATEL ao País e ao seu mundo associativo desportivo de base. Foi manifesta ainda a adesão de jovens e mais velhos, terminando-se uma prova onde entraram cerca de uma dezena de milhar de atletas jovens. Esta administração tem, na sua genética, a militância de defender este direito constitucional, traduzido na sua orgânica legal, incentivá-lo e aumentá-lo, apesar de alguns movimentos comerciais, isolados, de pulsão monopolista, e, a concretizar-se, seriam ilegais e limitadores do direito que a Constituição garante, o Conselho de Ministros delegou na INATEL, os Parceiros Sociais cogerem e Portugal respeita há mais de 80 anos. Por sua vez, assistiu-se à participação ativa da Fundação, em Sines, no Festival de

Em cena no Trindade

24 Língua Nossa // Tempo Digital

25 Ecrãs

26 Mesa partilhada com… João de Oliveira // Palavras Cruzadas

Músicas do Mundo, assim como se realiza, no Teatro da Trindade INATEL, o Ciclo Mundos, onde grandes músicos, enraizados nas culturas dos seus povos, desenvolvem projetos inovadores, cosmopolitas e incentivadores do diálogo intercultural, atraindo muitos jovens nacionais. Este projeto é visto, a par de outros, como um elemento fundamental destinado a colocar a Fundação INATEL no centro duma missão institucional, que partindo da tradição, nacional e das nossas heranças culturais internacionais, de renovação e promotora duma maior ligação entre as velhas e novas gerações e a coesão social do espaço nacional com várias origens culturais. Seja nestes domínios, o desporto e a cultura populares, seja ainda no turismo e hotelaria sociais, a Fundação tem uma missão de ligar gerações, de promover a cidadania e o diálogo intercultural, de estar no centro da refundação permanente do Portugal intranacional, rural e urbano, ligado ao mundo, pelo tempo e pelo espaço, com especial enfoque à lusofonia e às américas, às áfricas e às ásias onde andamos. O jornal TL, neste número, traduz estes acontecimentos e esta vontade. n

Jornal Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação Inatel Presidente do Conselho de Administração Francisco Madelino Vice-Presidente Inês de Medeiros Vogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Coletiva: 500122237 Diretor Francisco Madelino Diretora-adjunta Inês de Medeiros Redação Teresa Joel, Sílvia Júlio Logótipo Fernanda Soares Design José Souto Fotografia José Frade Colaboradores Carlos Blanco, Ernesto Martins, Eugénio Alves, Gil Montalverne, Humberto Lopes, João Cachado, José Baptista de Sousa, Joaquim Diabinho, José Lattas, Mário Zambujal, Sofia Tomaz Publicidade Tel. 210027000/ publicidade@inatel.pt Impressão Lisgráfica – Impressão e Artes Gráficas, S.A., Rua Consiglieri Pedroso, 90, Queluz de Baixo, 2730-053 Barcarena Tel. 214345400 Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484 Preço 1 euro Tiragem deste número 80.530 exemplares

Estatuto editorial publicado em www.inatel.pt e http://tempolivre.inatel.pt


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4 // NOTÍCIAS // TL Julho/Agosto 2016

// COLUNA DO PROVEDOR

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Manuel Camacho provedor.inatel@inatel.pt

stamos a viver um momento alto da nossa PORTUGALIDADE. PORTUGALIDADE – este misto de matéria e sentimentos, aliados a uma harmoniosa mistura de culturas e quase novecentos anos de História. Terminada que foi a euforia do Euro 2016, vêm aí agosto e setembro, e com eles os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Mas este sentimento tão nosso intensifica-se a cada ano quando chega o verão e os nossos emigrantes regressam de férias para participarem nas festas populares das suas terras. Mesmo na aldeia mais modesta e recôndita de Portugal, nesta altura há sempre um momento para festejar e/ou partilhar tradições, emoções e histórias. Seja de origem religiosa ou pagã, há sempre um motivo em torno do qual todos se unem para festejar. E sim, é também este sentimento que nos põe um sorriso nos lábios quando vimos as bandeiras de Portugal a despontar de muitas janelas e quando nos arrepiamos ao ouvir a “Portuguesa” cantada por centenas ou milhares de vozes.

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na Anos EL INAT

Fundação Inatel comemorou Dia Mundial do Refugiado no CAR o Dia Mundial do Refugiado, que se assinalou a 20 de junho, a Fundação Inatel marcou presença no Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR) da Bobadela, concelho de Loures. “No nosso coração não há um Dia dos Refugiados; todos os dias são Dias do Refugiado”, assinalou o presidente da República durante esta visita a este centro do Conselho Português para os Refugiados (CPR). Marcelo Rebelo de Sousa garantiu que Portugal “está disponível para receber mais” pessoas e salientou o “esforço” feito pelo nosso país no acolhimento a estes cidadãos. O chefe de Estado admitiu, ainda, a existência de refugiados em “movimento”, mas que são “casos isolados”: “Pode haver um ou outro caso de pessoas ou de famílias que estão

em movimento em Portugal, porque nós somos um país livre: acolhemos os refugiados, mas não controlamos os refugiados. Isto não é um Estado Policial e, portanto, pode haver um ou outro caso de famílias que não são encontráveis durante um período de tempo, são casos isolados.”

Nesta visita estiveram também presentes a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, o ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, a secretária de Estado para a Igualdade e Cidadania, Catarina Marcelino, e o presidente da Câmara de Loures, Bernardino Soares. n

Josefina esteve na 17.ª Mostra de Teatro Internacional de Santo André

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osefina, uma peça dos alunos de Teatro Musical da Academia Inatel, subiu ao palco, no dia 26 de junho, no Auditório Municipal António Chainho, integrado na 17.ª Mostra de Teatro Internacional de Santo André. Esta mostra decorreu no passado de 1 a 26 de junho e reuniu 16 espetáculos apresentados por 13 companhias profissionais. Houve 36 sessões de teatro, 8 para crianças, distribuídas por 12 localidades: Santiago do Cacém, Santo André, Alvalade, Sines, Porto Covo, Grândola, Odemira, S. Teotónio, Vila Nova de Mil Fontes, Setúbal, Beja e Faro. “O público adorou. Josefina é um

espetáculo que encanta a miúdos e graúdos. Pena só termos feito o espetáculo uma noite. Adorava ver a plateia cheia de miúdos”, confessa o encenador Claudio Hochman, até porque “quantos mais espetáculos fazem os alunos, mais crescem. Quantos mais públicos diferentes

enfrentam, mais crescem.” Hochman espera que se possa aproveitar mais este produto que levou um ano intenso de trabalho onde professores e alunos investiram tempo, energia, criatividade e muito esforço. “Adoraria levar esta Josefina a percorrer todo o país”, revela. O espetáculo da Academia Inatel, recorde-se, foi escrito e encenado por Claudio Hochman, com música original de Carlos Garcia e coreografia de Bruno Cochat e letras dos alunos com a ajuda de Tiago Torres da Silva. Josefina esteve também em cena no Teatro da Trindade de 8 a 12 de junho. n

Completam, nesta edição, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados: Adriano Fidalgo, Adriano Cotrim, Maria Brito, de Lisboa; Armando Pinto, de Mogofores; António Ribeiro, Fernando Ruge, Fernando Sereno, Fernando Ferreira, do Porto; Álvaro Crispim, do Estoril; Carlos Leal, de Almada; Fernando Arroteia, de Santarém; Fernando Oliveira, de Vila Nova de Gaia; Guilherme Machado, de Oeiras; José Rebelo, de Leça do Balio; José Silva, de Matosinhos; Joaquim Silva, de Vila do Conde; José Santos, de Mem Martins; Luís Silva, de Viseu; Manuel Pereira, de Barroselas; Salvador Martins, da Marinha Grande.


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TL Julho/Agosto 2016 // NOTÍCIAS // 5

POPular – Inatel na rua Mostra de cultura tradicional em Lisboa

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eatro, dança, música e etnografia, uma mostra de práticas culturais tradicionais decorreu de 28 a 31 de julho à volta do Teatro da Trindade. “Há vários anos que o teatro tem organizado mostras daquilo que é uma das grandes missões da Fundação Inatel: o apoio à cultura popular. Temos mais de 2600 grupos associados, ligados à música, dança, etnografia e artesanato. Normalmente, essa mostra fazia-se dentro do teatro. Este ano decidimos trazêlo à rua para ser mostrado aos lisboetas e a todos os que nos visitam”, afirmou, em entrevista ao Jornal 2 da RTP, Inês de Medeiros, diretora artística do Trindade.

A iniciativa contou com a participação dos Centros de Cultura e Desporto (CCD). Recorde-se que nos CCD é desenvolvido um trabalho associativo, envolvendo muitas pessoas, que dedicam a sua atividade à valorização e divulgação da cultura tradicional portuguesa que nos identifica como povo. “O que é importante é as pesso-

as terem um olhar justo para aquilo que é a cultura popular”, sublinhou a vice-presidente da Inatel. “A cultura popular representa duas coisas: festa e comunidade. Estes grupos mantêm uma tradição, renovam e reinventam. Tentamos recuperar esta noção de festa e comunidade”, acrescentou. POPular – Inatel na rua contou com a parceria da Câmara Municipal de Lisboa e da EGEAC (Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa). Teve, ainda, o apoio da ATL – Associação Turismo de Lisboa, Junta de Freguesia da Misericórdia e Empark. n

App o Tempe Livr

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Este mês, leia a reportagem completa de Humberto Lopes sobre a viagem à Terra Santa. Acompanhe através do seu tablet ou smartphone a versão on line do TL. Aceda também a outras informações de lazer e cultura.


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6 // ENTREVISTA // TL Julho/Agosto 2016

Ana Tijoux “A cabeça é uma arma” A cantora franco-chilena levou a sua energia ao Teatro da Trindade, no âmbito da iniciativa Ciclo Mundos. Jovens, adultos e crianças levantaram-se das cadeiras para dançar ao som de músicas como Antipatriarca, Liberdad e Saca la Voz. O TL entrevistou Ana Tijoux, no camarim, momentos antes de subir ao palco José Frade

filha de pais chilenos, exilados políticos em França durante a ditadura militar de Augusto Pinochet, tendo nascido em Lille. Acontecimentos que a influenciaram na maneira de pensar e na forma de fazer música: “Não pode haver uma separação entre a identidade familiar, o que sou e a forma como observo o mundo”, revela. Seguiu a via da música, porque é assim que se sente melhor a comunicar com o planeta, mostrando as suas ideias para o poder revolucionar, nem que seja um milímetro. No

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entanto, defende que a música é apenas “mais uma ferramenta dentro do pensamento crítico”. Nasceu em 1977. Segundo a astrologia oriental é o ano da serpente. No último verso do tema 1977 diz: “o ano em que nasceu a cobra”. Ao longo de 39 anos, acha que é mais intuitiva ou mais racional para arquitetar o seu percurso artístico? Sinto-me uma pessoa com muitas capacidades de mutação. Tenho muitos defeitos, mas dentro das virtudes, creio que a serpente dá a capacidade de mutação

permanente em termos criativos. Assumo totalmente a mutação, o movimento. Que influências tiveram na sua vida os acontecimentos relacionados com o exílio dos seus pais em França? Tudo. Creio que todas as migrações são políticas – todas. O que influencia totalmente as conversas que tens em casa, o tipo de visão que tens sobre o mundo, as perspetivas, o pensamento crítico, a construção educativa. Tudo isso se articula com uma perspetiva do mundo que tem a ver com a

identidade. Não pode haver uma separação entre a identidade familiar, o que sou e a forma como observo o mundo. Sente-se mais latina ou francesa? Totalmente latina. Jamais vou negar que nasci em França e que tive formação na escola pública francesa. Quando estou no Chile sinto-me cómoda. Não sei como explicá-lo, é algo que te chama, é a tua gente, a tua terra, a forma de comer, a forma como se comunica. Na América Latina há uma coisa muito particular, também na música…


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TL Julho/Agosto 2016 // ENTREVISTA // 7 As suas letras versam sobre o pós-colonialismo, feminismo, ambiente, justiça. Há quem considere que ‘a música é uma arma’. Acha que as suas músicas podem ajudar a matar alguns preconceitos? Creio que a cabeça é uma arma. A música é mais uma ferramenta dentro do pensamento crítico. Não acredito que a música seja a única ferramenta de pensamento crítico social. Acho que é uma tarefa social de todos, quer sejam doutores, sociólogos, engenheiros, agricultores. Creio que a arte é uma ferramenta extremamente bonita porque atravessa muita gente. A propósito do tema Antipatriarca, do disco Vengo... Há mulheres que preferem dizer que são femininas em vez de feministas. Qual é a sua escolha? Não sei, sinto-me feminina, porque tenho um lado masculino muito desenvolvido. E tenho amigos masculinos com um lado feminino muito desenvolvido. Porque digo masculino? Porque se associa sempre o masculino às capacidades de autogestão. Mas isso também é muito feminino. Não tenho os conceitos muito claros. Há coisas que se misturam e até hoje estou a tentar compreender. Creio que a educação que tivemos, inclusivamente na escola, foi extremamente machista sem nos darmos conta. Há, no trabalho quotidiano da nossa sociedade, que limpar a maneira como cada um fala. Eu tenho dois filhos e pergunto-me porque é que o meu apelido está em segundo lugar? Porque é que a mulher está em segundo lugar, mesmo em relação à maternidade? Temos de continuar a questionar-nos. Há pouco tempo li um livro muito interessante... Porque é que são as mulheres que têm de tomar contracetivos todo o mês, quando, na verdade, somos férteis quatro dias e os homens trinta? Nós estamos habituadas a assumir a responsabilidade. É uma violência de género extremamente normalizada. Desnormalizar a violência passa por uma palavra

em casa, na escola, na forma de falar, na música. É uma articulação de pensamento quotidiano. Tem dois filhos, de onze e de três anos. A maternidade alterou a sua visão do mundo e refletiu-se artisticamente? Em todo o sentido. A maternidade é uma mudança radical. É complicadíssimo porque vai afrontar o teu ego, o teu tempo. Quando me perguntam o que mudou na tua vida com os dois filhos, eu questiono: “Perguntam o mesmo aos homens?” Não é muito comum ver nas entrevistas aos músicos: “Mudou por ser papá?” Mas às mulheres perguntam sempre. E isso é muito machista de forma automática. Os homens também mudam. Os papéis são partilhados.

“A luta e a paz não são diferentes. A luta é pela paz. Uma luta por uma esperança de viver neste mundo de maneira diferente. Uma luta por acreditar noutra forma de viver na economia” Quando compreendeu que a música era o seu caminho? A música foi uma via de comunicar. Foi algo natural, cantando muito mal ao princípio. Mas estou convencida que o erro é uma parte fundamental da composição e que todos erramos de forma permanente. A música emociona-me, toca-me e atravessa-me. Foi por aí. Não tem medo de falhar? Sim, obviamente que tenho. Mas a questão não é o medo, é superar o medo. Errar é natural, cair é natural. O erro é necessário, é um método de aprendizagem extremamente importante. O erro também dá outra perspetiva a respeito de algo. Um exemplo que a tivesse obrigado a superar-se? Tenho milhões [risos]. Na indústria musical, quando és jovem tens muitas expectativas... Não sabes tudo o que queres, mas depois sabes o que não queres. E com isto

vai-se construindo passo a passo o caminhar. O que traz a sua música às causas que defende? Não creio que a minha música ‘traga’. Eu alimento-me de muitas causas que observo. A música não vai revolucionar o mundo, a arte não vai revolucionar o planeta, é um acompanhamento histórico do processo social, de coisas importantes que se estão a passar. Não sei se trago algo, mas o processo apaixona-me. Onde é que uma mulher, como a Ana Tijoux, que se afirma e luta pelas suas convicções vai buscar a paz de que precisa? A luta e a paz não são diferentes. A luta é pela paz. Uma luta por uma esperança de viver neste mundo de maneira diferente. Uma luta por acreditar noutra forma de viver na economia. Uma luta por acreditar que há outra forma de viver neste planeta. E por acreditar, finalmente, que teremos outra forma de nos relacionarmos com os outros em sociedade, incluindo na música. Mas onde é que encontra os momentos de tranquilidade? Faço por meditar, de vez em quando, porque este planeta está louco e eu estou louca com ele. Os humanos estão loucos e enlouquecemos o planeta [risos]. Procuro sempre maneiras de estar em casa, fazendo um chá, conversando. A conversa acalmame. Aquela conversa que te muda um milímetro do pensamento: ‘Cresci um pouco ou falta-me aprender muito mais.’ Para mim isso é um momento de calma, paz e também de muita ansiedade. Natália Correia, escritora e deputada portuguesa, escreveu em 1983: “Acho que a missão da mulher é assombrar, espantar. De resto, não é só a mulher, todos os seres humanos têm que deslumbrar os seus semelhantes para serem um acontecimento.” Em que circunstâncias podemos ser um acontecimento para os outros? Quando nós mesmos nos dermos conta. A História o dirá. A História determina o que é ou não

acontecimento. Quando acabamos por mover um milímetro da História ou criar um novo pensamento em todos os âmbitos... Tempo e História determinam quem faz ou não faz um acontecimento. Eduardo Galeano disse: “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.” Qual o eco que estas palavras encontram dentro de si? Um artista tem de se questionar permanentemente e o humano, em geral, de uma forma revolucionária. Não deve cair no autoflagelo mas no questionamento constante para continuar revolucionando. Há que criar um movimento revolucionário em toda a ordem, insisto, na Biologia, Engenharia, Medicina, Música, Arte, Matemática. É uma revolução permanente, uma roda gigante que se vai movendo. Por falar em movimento, para quando um novo disco? O disco Vengo é de 2014 e desde então tenho-me sentido muito lenta no processo de entender como a música se repercute. O tema Antipatriarca, por exemplo, muitas crianças o cantam. E eu digo: ‘Uau! Sou responsável.’ No próximo ano talvez saiam alguns temas, mas gravar um disco tem de ser com calma, sem o stresse da indústria que quer juventude e rapidez. Não quero ir rápido, e está tudo bem. Como é estar em Portugal? É a segunda vez que cá estou. Estou a observar, a sentir... Questiono-me sobre este país que teve tantos anos de ditadura. Ainda estou a tentar compreender, perguntando: ‘como foi?’ Nós tivemos 17 anos, superámos a ditadura. Isso repercute-se no comportamento, sexualidade, educação, música, arte, em tudo. Tenho de vir mais vezes para entender em que é que isso se repercutiu na sociedade portuguesa. Portugal dá-me muita curiosidade. n Sílvia Júlio e Teresa Joel


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8 // DESTAQUE // TL Julho/Agosto 2016

Juntar tradição à modernidade pela música

Ciclo Mundos António Chainho, o Grupo Coral de Beja e Sebastião Antunes atuaram na gala de apresentação do Ciclo Mundos, onde se juntaram Gisela João e Ana Tijoux, no Parque de Jogos 1.º de Maio, em Lisboa, no dia 30 de junho. Uma parceria entre a Fundação Inatel e Câmara Municipal de Sines para a divulgação da música que alia a tradição à modernidade


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TL Julho/Agosto 2016 // DESTAQUE // 9 Fotos: Miguel Coelho

Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, com Júlio Isidro. Na página da esquerda, António Chainho e Carlos Silva e, ao lado, Rogério Samora com o Grupo Coral de Beja

parceria não fique só pela área cultural. Espero estar aqui mais anos para apresentar outro tipo de parcerias.” Música fora dos circuitos comerciais Neste fim de tarde, na Academia Inatel, onde se promove o Festival Músicas do Mundo e se apresenta o Ciclo Mundos, ouve-se a música tradicional portuguesa de António Chainho, Sebastião Antunes e do Grupo Coral de Beja. Entre os convidados está a fadista Gisela João que, ao som da guitarra de Chainho, cantou A Casa da Mariquinhas, uma letra de Silva Tavares já interpretada por Alfredo Marceneiro e Amália Rodrigues. A cantora franco-chilena Ana Tijoux, depois de convidada para subir também ao palco, mostrou uma parte da energia que iria soltar mais à noite num concerto do Ciclo Mundos, no Teatro da Trindade. O apresentador de televisão Júlio Isidro, que ajudou a lançar tantos artistas em Portugal, confessa que descobriu ali uma cantora. “Estive a falar com Ana Tijoux e disse-lhe que estava relativamente informado no que diz respeito à música da América Latina. Assim que falei nos Inti-Illimani e Quila-

payún, disse-me logo que tinha tocado com eles. Contou, ainda, que foi a Cuba e tocou com o Silvio Rodríguez, que também conheço, Pablo Milanez e Violeta Parra. Portanto, hoje descobri uma cantora que está na linha de um determinado período até da História de Portugal, que tem a ver com o pósrevolução, onde todos esses grupos e essa música chegou a ter uma grande preponderância em Portugal e que se foi esbatendo a favor das playlists. Para já, só ouvi a Ana Tijoux a cantar uma cantiga, mas canta muito bem e o guitarrista é excelente.” O veterano da televisão portuguesa afirmou ao jornal Tempo Livre que “a única coisa que vai distinguir os países daqui a uns anos é a sua cultura, mas não a mainstream, que essa vai ser globalizada também. O importante é sabermos que há muita música fora dos circuitos comerciais, que é um outro mundo. Esse mundo está fora do mainstream, está fora das listas para se passarem nas rádios, é a que não faz os seus grammys, mas que tem muita qualidade, sobretudo porque está alicerçada nas raízes culturais.” A partilha da tradição Ligado à cultura, assente nas tra-

t

À

chegada estão fardos de palha cobertos com mantas coloridas tradicionais. Ambientes recriados a recordar retalhos do Alentejo. Ao fundo veem-se dois quadros simbólicos. Um do castelo de Sines durante o Festival Músicas do Mundo em 2010, outro da manifestação dos trabalhadores no dia 1 de Maio de 1974. Histórias que se cruzam, relações entre os mundos do trabalho e da cultura. Para a Inatel, o Ciclo Mundos “reflete e representa os valores e objetivos pelos quais se pauta a atividade da fundação, no âmbito da salvaguarda e divulgação do património cultural imaterial, reafirmando nesta e noutras iniciativas o seu respeito pela tradição cultural popular portuguesa e internacional”. Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, declara na apresentação desta iniciativa que “só tem medo da tradição quem não a tem” e há que “não ter vergonha da essência popular”. Esta parceria é, por sua vez, para a Câmara de Sines, “um reforço da marca Festival Músicas do Mundo junto de novos públicos”. Nuno Mascarenhas, presidente da autarquia, afirma durante a sua intervenção: “Espero que a

dições, e ao trabalho quotidiano está o Grupo Coral de Beja. O porta-voz Rúben Lameiras revela que cantar a tradição “está no sangue”. Bebeu dos seus ascendentes o cancioneiro popular. E que é “normal” o cante alentejano. Para este jovem de 23 anos, o encanto está “nas letras, sonoridade e polifonia”. “É um cante que inicialmente foi cantado a cinco vozes. Hoje é só ponto alto e a malta jovem já faz outras invenções. Temos ali terceiras, quartas, quintas e oitavas vozes, o que torna uma harmonia fantástica.” Este grupo constituído por pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 25 anos cantou: “É tão grande o Alentejo,/ tanta terra abandonada!.../ A terra é que dá o pão,/para bem desta nação/devia ser cultivada.” Rúben diz que a “tradição é o lado bom da vida, porque é onde as pessoas se juntam à roda de uma conversa ou de um copo de vinho para falar das tradições: ‘olha, a minha avó era costureira, o meu avô era alfaiate, eu canto umas modas, e tu não sabes esta moda?’ É um momento de partilha fantástico! Tenho pena de não haver um festival de tradições no Alentejo.” Estar na estreia do Ciclo Mundos é, nas palavras do jovem, “uma janela aberta para todo o mundo; esperemos que mais oportunidades nos surjam com esta vinda aqui.” Entre os convidados estava o músico Carlos Alberto Moniz. Em declarações ao TL, sublinhou que a maneira de defendermos a tradição é com os jovens: “A única forma de manutenção de uma forma de estar de um povo é não esquecendo a tradição, mas também não nos fecharmos no que se fazia só antigamente.” O artista confessa não gostar quando apenas ouve falar “em construir o futuro”. E acrescenta: “Nós temos de construir o presente. E o presente é construído com a junção da tra-


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10 // DESTAQUE // TL Julho/Agosto 2016 José Frade

Os sons do mundo ao vivo em Lisboa O palco do Teatro da Trindade acolhe até ao final do ano concertos que alargam a oferta de música ao vivo, chegando a novos públicos. O diretor criativo do FMM, Carlos Seixas, afirma que este Ciclo Mundos “desafia o público de Lisboa a escutar ao vivo regularmente uma boa aproximação do que será o verdadeiro som do mundo, que não é puro, monolítico, monolinguístico nem monogénero”. Questionado pelo TL sobre o que representa para o Festival Músicas do Mundo trazer este ciclo ao Trindade, ele responde que é “uma honra e um desafio”. E justifica a sua resposta: “O interesse de uma instituição como a Inatel, pela sua história e pelo seu alcance, em associar-se ao FMM Sines valoriza o festival. Depois, é uma forma de manter a chama do festival viva durante mais dias do que aqueles que são os da sua duração em Sines e também um contributo para reforçar a sua presença junto de um público tão importante para nós como é o público da Grande Lisboa.” No Ciclo Mundos atuam alguns grupos que já tocaram no FMM e outros que nunca estiveram em Sines. Segundo Carlos Seixas, teve-se em linha de conta a “qualidade, diversidade e atenção às dinâmicas da música como é feita hoje no mundo, das que estão mais ligadas à tradição às que têm um maior contributo da cultura urbana, das migrações e das miscigenações de toda a espécie”. O vocalista dos U2, Bono Vox, disse um dia que “a música pode mudar o mundo porque pode mudar as pessoas”. Na opinião de Carlos Seixas, “o mundo é demasiado complexo para que um único fenómeno, mesmo tão poderoso quanto a música, o possa mudar. Mas a música pode dar o seu contributo.” A música é, segundo as suas palavras,

Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara Municipal de Sines, Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel e Carlos Seixas, responsável pela programação do Ciclo Mundos

dição e o que se quer fazer para o futuro.” Sente-se otimista em relação ao que aí vem porque tem acompanhado o que é feito por vários músicos portugueses da nova geração: “Estou a par do que esta malta faz e há uma grande preocupação e respeito pelo que os outros já fizeram e na construção do que querem fazer para o futuro. Nunca esquecer que é preciso primeiro construir o presente e depois pensar no futuro. Não há futuro sem presente.”

“uma arte que revitaliza a força do diálogo e evidencia a importância da diversidade combatendo os preconceitos. Acreditamos que a convivência entre culturas não só é uma inevitabilidade como um progresso.”

Tradição à espera dos mais novos Por seu turno, Sebastião Antunes, no final da sua atuação, disse que é possível casar dois mundos que podem parecer desligados: “A tra-

dição só se consegue perpetuar no tempo com o aparecimento da modernidade. Em vez de pensarmos na tradição como uma coisa sempre antiga, eu prefiro pensar que ela é sempre moderna e que se vai renovando a si própria, porque vão aparecendo pessoas com ideias novas sem nunca perderem o contacto com as raízes.” “Com base na música popular portuguesa”, prossegue, “vamos perpetuando-a no tempo até usando máquinas eletrónicas, dando sempre espaço para que possa continuar a ser uma coisa nova”. Uma das músicas que Sebastião Antunes levou ao palco na Academia Inatel foi A Cantiga da Burra. “Como esta música foi gravada com a maquinaria eletrónica e tem uma batida


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TL Julho/Agosto 2016 // DESTAQUE // 11 Miguel Coelho

Miguel Coelho

Miguel Coelho

Miguel Coelho

José Frade

No sentido dos ponteiros do relógio: Carlos Alberto Moniz, Mafalda Luís de Castro, Miguel Nunes, Marta Gil e Pedro Caeiro. Também marcaram presença Sofia Soares Ribeiro e David Esteves, entre muitos outros

Miguel Coelho

Atuação de Sebastião Antunes

// Próximos concertos no Teatro da Trindade Inatel Em setembro: l Dia

8: Kayhan Kalhor e

Toumani Diabaté (Irão/Mali) l Dia

15: Metá Metá (Brasil)

l Dia

22: DakhaBrakha

(Ucrânia)

trance entrou mesmo em discotecas na região de Miranda do Douro. E é isso mesmo que se pretende. Que a música popular portuguesa não seja só para cantar na eira. Também é bom na discoteca aparecer música de cariz popular, que tem uma grande força para mobilizar as pessoas. Não imaginem que a tradição é um museu. A tradição está sempre à espera dos mais novos. Não só a oiçam, não só a apreciem, mas façam-na também”, apela. A música como união entre os povos Quem conseguiu chegar a novos públicos com a guitarra foi António Chainho, que por ali tocou, acompanhado à viola por Carlos Silva, e

silenciou a assistência com sonoridades onde se harmonizaram variações clássicas do fado com “variações à Chainho”, como salientou Júlio Isidro. O guitarrista conta que, na Academia Inatel, foi interpelado por um jovem com lágrimas nos olhos. O rapaz partilhou que não conhecia o trabalho dele, mas que depois de ter assistido ao espetáculo dos 50 anos de carreira de Chainho, no Tivoli, ficou desperto para outros géneros musicais. O jovem contou-lhe, ainda, que estava na apresentação do Ciclo Mundos por ter “interesse em conhecer não só as músicas que nos impõem”. Já no fim do espetáculo, um senhor com uma idade bastante avançada aproximou-se do guitarrista para lhe

dizer: “Fez-me lembrar o Armandinho”, considerado o pai da guitarra portuguesa. “Comoveu-me bastante”, revela emocionado. António Chainho, que levou a guitarra portuguesa a outro tipo de ouvintes, considera positivo a Inatel juntar-se às Músicas do Mundo, porque, “ao fim e ao cabo, talvez não exista mais nada no mundo que possa unir os povos como a música universal”. “A música é uma linguagem entendida em qualquer parte do mundo. É uma das coisas que irá despertar e unir ainda mais a povoação mundial. É importante que, o que a Inatel está a fazer em Portugal, noutros países haja as mesmas entidades que possam fazer a mesma coisa”, conclui. n


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12 // DESPORTO // TL Julho/Agosto 2016

Taça de Desporto Escolar/CNID

Campeões Distritais e Nacionais

A

final nacional da Taça Desporto Escolar/CNID, que decorreu dias 7 e 8 de junho passado, no Estádio 1.º de Maio, onde foram disputadas as modalidades de Andebol, Atletismo, Basquetebol e Ténis de Mesa, teve a participação de 24 escolas nacionais, representadas por 800 alunos do 7.º ano de escolaridade. A Taça de Desporto Escolar/CNID é uma iniciativa promovida pela Direção-Geral da Educação (Divisão do Desporto Escolar) e Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (Direção de Serviço Regional de Lisboa e Vale do Tejo) em colaboração com o CNID – Associação da Imprensa Desportiva. Esta iniciativa tem o objetivo de viabilizar o convívio entre os jovens de todo o país, tendo presente princípios desportivos e de cidadania, estruturantes de estilos de vida

Época Desportiva 2015/2016

O desporto Inatel mobiliza milhares de atletas, nas diversas modalidades desportivas, cuja participação nos campeonatos distritais e nacionais, vem confirmar o papel preponderante que a Fundação Inatel tem desenvolvido, ao longo de décadas, na dinamização da prática desportiva.

saudáveis que a prática do desporto pode contribuir a fomentar. No final da competição foram entregues troféus e medalhas aos três primeiros classificados e certificados de participação a todos os alunos participantes. A cerimónia de entrega de prémios contou com a presença do Ministro de Educação,

Tiago Brandão Rodrigues (na foto), Secretário de Estado da Educação, João Costa, Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, Presidente do IDP-I.P., Augusto Baganha, Diretor do CNID, João Gonçalves, Vogal do Conselho de Administração da Fundação Inatel, Álvaro de Sousa Carneiro. n

Na passada época 2015/2016, os Campeões Distritais, na modalidade de Futebol 11 foram Braga – Calendário; Porto – Altis/Praxe; Aveiro – CCD Nadais; Coimbra – ACR Seixo; Santarém – CCD Amoreira; Lisboa – Clube Petrogal; Setúbal – Vale

Final da Taça de Futebol Inatel

Milhaços; Évora – Alandroal United; Beja – Faro do Alentejo; Açores – Núcleo Sportinguista da ilha Terceira.

A

final da Taça de Futebol da Fundação Inatel, que ocorreu no passado dia 26 de junho, no Estádio 1.º de Maio, foi vivida com intensidade pelos jogadores e adeptos das equipas. De Santarém chegou e venceu o GDC Seiça, contra o CCD Pigeirense. O CCD Pigeirense trouxe de Aveiro os seus adeptos equipados a rigor para o evento. Da terra dos escalabitanos chegou a equipa do Seiça, também acompanhada de fervorosos adeptos. Com apitos, corne-

tas, bandeiras, cachecóis, todos apoiaram as equipas durante a competição. Ao intervalo o CCD Pigeirense e o GCD Seiça encontravam-se sem golos marcados. Marcador 0-0. Tudo por decidir. A taça aguardava pela equipa vence-

dora. O jogo continuou, disputado com fair play entre as equipas, acompanhadas pela equipa de arbitragem nomeada. Na segunda parte do jogo, o primeiro golo acontece. O Seiça marcou ao Pigeirense, equipa mais experiente nestas competições. Emoções à flor da pele. Após o segundo golo do Seiça e o apito final, os adeptos clamaram: ‘O Seiça é campeão nacional’. A equipa GCD Seiça celebrou o momento alto da época desportiva 2015/16 da Fundação Inatel. n

No Futsal, Porto – DCA Sociedade Advogados; Coimbra – S. Martinho da Cortiça; Lisboa – Dragões de Lisboa; Faro – Lagoense. No Voleibol, Porto – Os Mochos; Coimbra – CCD Condeixa; Lisboa – Clube de Voleibol de Oeiras. No Basquetebol, Porto – CPT Matosinhos; Lisboa – Basquete Almada Clube. E, ainda, no Andebol, Lisboa – CCD Tranquilidade. Os Campeões Nacionais, na modalidade de Basquetebol, foram Porto – CCD

// CAMPEÃS NACIONAIS DE TÉNIS

Matosinhos Basket; no Voleibol, Porto – Os Mochos;

As atletas Ana Chaparreiro e Paula

de Leiria, Balaia e Estoril, numa

no Futsal, Lisboa – Dragões

Zoio conquistaram o título de

competição entre quatro equipas no

de Lisboa; e no Futebol,

campeãs nacionais de equipas +45,

sistema de todas contra todas,

Santarém – CCD Seiça.

na final do Campeonato de Ténis,

jogando-se dois singulares e um

As inscrições para a época

que decorreu entre os dias 1 e 3 de

par. As vencedoras Ana Chaparreiro

2016/2017 decorrem no

julho, no Club Internacional de

e Paula Zoio, além de atletas, são

início de setembro. Mais

Foot-Ball (CIF), em Lisboa.

também professoras na Escola de

informações nas lojas

A equipa do Clube Nacional de

Ténis do Parque de Jogos 1.º de

INATEL e em www.inatel.pt.

Ginástica (CNG) venceu às equipas

Maio.


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TL Julho/Agosto 2016 // VIAGENS // 13

Vila Viçosa Princesa do Alentejo A bonita vila alentejana de Florbela Espanca tem história, património e gastronomia para saborear como se fosse poesia DR

D

epois de degustar as iguarias, no restaurante com o nome da poetisa, é hora de visitar um dos mais emblemáticos monumentos de Vila Viçosa. D. Jaime, quarto duque de Bragança, mandou edificar o Paço Ducal em 1501. Porém, as obras que deram a grandiosidade que hoje lhe reconhecemos decorreram até ao século XVII. Reza a história que foi residência permanente da primeira família da nobreza nacional. Depois da Restauração, em 1640, a Casa de Bragança sobe ao trono. O Paço Ducal passou a ser mais uma das várias habitações dispersas pelo reino. No palácio predominam os frescos e azulejos seiscentistas, tetos em caixotões e pintados e lareiras em mármore. As salas acolhem coleções de pintura, escultura, mobiliário, tapeçarias, cerâmica e ourivesaria. No centro da vila ergue-se o castelo medieval. De 1461, quando D. Fernando I recebeu a cadeira ducal, até à inauguração do Palácio Ducal, este monumento foi residência dos Bragança. A sua traça foi conservada até ao início do século XVI. O castelo é considerado uma das joias da arquitetura militar. O Santuário de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, também conhecido por Solar da Padroeira de Portugal, no interior da

fortaleza, é visita obrigatória. Diz a tradição que a imagem de Nossa Senhora da Conceição terá sido oferecida por D. Nuno Álvares Pereira, o condestável do reino, tendo-a adquirido em Inglaterra. Por provisão régia de D. João IV foi proclamada Padroeira de Portugal, em 1646. Todos os anos, a 8 de dezembro celebra-se o Dia da Solenidade da Imaculada Conceição. Os museus da Caça e da Arqueologia são também para descobrir no interior da alcáçova do castelo. Subindo às muralhas é possível ver

um dos postais ilustrados de Vila Viçosa. Uma panorâmica do perímetro urbano que enche o olhar. No dia seguinte, uma visita ao

// Viagens INATEL Vila Viçosa: Cidade Real e da Padroeira de Portugal Partida | Porto, Aveiro, Coimbra e Lisboa Datas | 7 a 9 de dezembro Informações| Tel. 211 155 779 | turismo@inatel.pt | www.inatel.pt

Museu dos Coches da Fundação da Casa de Bragança para ver coupés, carruagens, coches e berlindas. Durante a tarde, a procissão da Nossa Senhora da Conceição ocupa as ruas da vila. O Convento e Igreja dos Agostinhos, classificado monumento nacional desde 1910, cuja igreja acolhe o túmulo de D. Afonso, primeiro Duque de Bragança, é visita inevitável. Antes do regresso a casa, tempo ainda para uma entrada no Centro Ciência Viva de Estremoz, onde se encontra a exposição interativa ‘Terra – Um Planeta Dinâmico’. n


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14 // REPORTAGEM // TL Julho/Agosto 2016

Terra Santa J Um chão três vezes sagrado Do Mediterrâneo ao Rio Jordão, de Nazaré e do Mar da Galileia a Petra, no sul da Jordânia, dos anfiteatros greco-romanos de Jerash às ruelas de Jerusalém e a Belém, nas margens do deserto da Judeia: mais de dois mil anos de História ao alcance daquela que pode ser a viagem de uma vida

ornada das mais estimulantes e, apesar de incontáveis narrativas sagradas e epifanias, jornada intrigante, pelos muitíssimos mistérios que a região toma ciosamente à sua guarda. Jornada por uma terra três vezes santa, tantas quanto as religiões monoteístas que ali nasceram: a cada passo será o viajante lembrado desta milenar pluralidade. O momento culminante da viagem será sempre, para a maioria dos viageiros, a velha Jerusalém, com as suas azinhagas lajeadas e estreitas, os distintos bairros intramuros cujo frenesim varia de acordo com os dias santificados de cada religião; e, sobretudo, os lugares sagrados, os lugares onde a pedra milenar, garantem os livros e a memória humana, continuam a contar histórias primordiais, fundadoras. Lugares como a Basílica do Santo Sepulcro, a dois ou três quase íntimos passos da Via Dolorosa, da Mesquita de Al-Aqsa e do Muro das Lamentações. Se tanto mudou no mundo

desde as estipulações da Tora e do Talmude, desde a fuga para o Egito ou desde a Hégira, quantos gestos se repetem ali, há séculos e séculos, com um sempre renovado fervor? Ao fim de uma semana de peregrinações pelas muralhas anexas à Torre de David, pelas ruelas do bairro cristão em busca de vinho e, também, de pão ázimo e frutos secos – nos dias em que judeus e muçulmanos fecham as suas lojas –, pelas colinas que miram a cidade milenar coroada pela cúpula reluzente da grande mesquita, em sobe e desce até ao Monte das Oliveiras, atravessando o Getsémani, admirando os mosaicos da Basílica da Agonia, a perplexidade do viajante

// Viagens INATEL Peregrinação à Terra Santa e Jordânia Data: 17 a 26 de outubro Informações: Tel. 211155779 | turismo@inatel.pt | www.inatel.pt


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TL Julho/Agosto 2016 // REPORTAGEM // 15

Galileia, relicário de memórias bíblicas Mas antes de se atravessar a porta de Jafa, no lado ocidental, e a de Damasco, virada para norte e para o caminho da Síria, ponto de partida dos táxis coletivos que rumam à Cisjordânia, a Ramallah e a Belém, os roteiros perdem-se em voltas pela paisagem, por outros mapas e cenários. A partir de Telavive podemos caminhar pela praia até à velhíssima Jafa, meio judia, meio árabe, cheia de memórias. Vale a pena a visitação: por detrás da variedade de superfície encontramos uma atmosfera urbana que também avistaremos em Akko, em Beit Sahour e em Nablus. Cumprido o itinerário da arqui-

tetura Bauhaus em Telavive, em duas horas está-se em Akko, cidadezinha árabe que foi pousada de Marco Polo no seu caminho para a China. Ou em menos tempo em Nazaré, a maior cidade árabe de Israel: a partir daí, peregrinos e viajantes podem dedicar-se a um périplo pelos lugares mais emblemáticos da Galileia, a começar pela Basílica da Anunciação. Tiberíades, importante cidade do judaísmo e provável berço do Talmude, não fica longe e o vizinho Mar da Galileia é também um relicário de memórias bíblicas. É ele o lago Genesaré de um rosário de milagres e curas, além de testemunha do Sermão da Montanha, pregado aos galileus a partir de um outeiro próximo. Cafarnaum, Canaã, o monte Tabor: míticos e místicos topónimos de uma geografia que também acolhe, num toque de prosaica e profana contemporaneidade, cenários ecoturísticos. Tesouros jordanos Do cimo do Monte Nebo, na mar-

gem oriental do Rio Jordão, vemos o Mar Morto e Israel do outro lado. O sítio é celebrado porque ali terá Abraão avistado pela primeira vez a terra prometida. Do lado de cá, estamos ainda dentro dos limites da Terra Santa. Dos milhões de turistas que visitam a Jordânia anualmente, uma parte vem pelo ecoturismo e outra, a maioria, pelo turismo religioso ou cultural: Amã e o seu teatro romano restaurado, tão impressivo quanto os seus congéneres de Jerash, lugar onde o assombro do viajante se rende também ao Fórum oval greco-romano, os esplêndidos mosaicos bizantinos da Igreja de São Jorge, em Madaba, o local de batismo de Jesus no Rio Jordão, a sempre misteriosa Petra e o singular deserto do Wadi Rum, à beira do Golfo de Aqaba e da Arábia Saudita. Petra é a grande estrela dos tesouros culturais jordanos e merece um parágrafo. Sabê-lo-á quem se deparou com a curiosidade, não satisfeita, sobre a origem dos Nabateus, povo que abandonou o

deserto para construir esta misteriosa cidade e que deixou ainda como herança os rudimentos da língua árabe. E sabê-lo-á quem, depois de andarilhar por um desfiladeiro, viu irromper diante de si, numa clareira de rocha e poeira, o mais famoso ícone de Petra, o templo Khazneh al-Faraoun. Ou quem, do topo de uma fraga, avistou ao longe o Jebel Haroun (que na Bíblia se chama Monte Hor), local sagrado das três religiões monoteístas do Médio Oriente, e atentou no panorama, lá em baixo. Um panorama de primeira água, arqueologicamente argumentando: o teatro romano capaz de alojar oito mil espectadores, os Túmulos Reais, a Avenida das Colunas, as ruínas de um templo cristão do século VI, adornado com preciosos mosaicos bizantinos. Belém, a Natividade e uma proposta de paz A Praça da Manjedoura é uma ampla ágora que separa e une dois templos: a Igreja da Nativit

condena-se a uma pergunta de delicada resposta, mesmo se a figura do patriarca Abraão, cara às três religiões monoteístas, tenha uma palavra sobre o assunto: como foi possível em assim tão reduzido chão se firmarem as raízes de uma tão diversa humanidade?


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16 // REPORTAGEM // TL Julho/Agosto 2016

"Ninguém te fará mal aqui, mas se tiveres algum problema, liga-me". A Igreja da Natividade tem uma

nobilíssima pátina; é, pode-se dizer, uma inestimável velharia bizantina, com as suas colunas coríntias e

t

dade, com a sua porta baixíssima, e a Mesquita de Omar, em bicos de pés amparados por um minarete alto e elegante. Belém, à beira do deserto da Judeia, é uma referência para as várias comunidades de crentes: ali nasceu o rei David, ali estão o túmulo de Raquel e a gruta onde se crê que nasceu Jesus. Há na cidade uma importante comunidade cristã, embora o número destes crentes tenha vindo a diminuir – muitos emigrados à conta da crise económica. Entre os que permanecem conta-se o comerciante Elias, um árabe cristão que tem uma pequena mercearia a meio caminho entre o mercado e o polémico muro que isola os colonatos judeus do resto da Cisjordânia. As comunidades cristã e muçulmana coexistem em Belém – conjugando-se o verbo com o seu inteiro sentido. É o que diz Elias, ofertando-me, com o sorriso aberto desenhado por baixo de um abastado bigode, uma garrafa de água fresca. "O problema da Palestina não é religioso", assegura. Atrás do balcão há umas prateleiras com bebidas alcoólicas e na parede o calendário mostra uma imagem de Nossa Senhora. Saio da loja com o convite para lá voltar após a estância em Hebron. E com o número de telefone de Elias num papelinho:

uma luz que não é deste tempo. O aspeto de sólida fortaleza – e o apêndice da porta da humildade, que obriga os visitantes a dobrarem-se (e impedia, outrora, os cavalos de entrar) – lembra-nos as aflições destes templos no contexto das sucessivas Cruzadas e disputas religiosas na região. Visitá-la em dia de excursão religiosa russa é um acaso de fortuna, tal a ênfase que veste a peregrinação. Com a ajuda do suave odor do incenso, o ícone bizantino de Nossa Senhora põe a memória a voar para uma nave repleta destas imagens algures no labirinto do Mosteiro de S. Panteleimonos, o mosteiro russo do Monte Athos. Enquanto as devotas ortodoxas se concentram nas orações, é celebrada uma missa na gruta que fica por baixo do altarmor e onde uma estrela de prata com catorze pontas assinala o local do nascimento de Jesus. Antes de deixar Belém há ainda outra visita a fazer, um desvio que leva a uma pequena e insólita igreja ortodoxa. Beit Sahour é uma povoação com séculos de História, onde a comunidade cristã representa cerca de dois terços da população. O Novo Testamento celebra Beit Sahour como o Campo dos Pastores, mas o nome do povoado tem sido citado nos média, desde a primeira Intifada, pela estratégia de resistência pacífica adotada pelos seus habitantes. É lá a sede do Palestinian Center for Rapprochement between Peoples, grupo que procura promover um ativismo sem violência, o diálogo e a convivência pacífica no seio da sociedade palestiniana. Em Beit Sahour, burgo que sobreviveu quarenta e dois dias a um cerco do exército israelita, como me contava Elias, na véspera, não podemos deixar de ouvir a voz do poeta palestiniano Mahmoud Darwish como um símbolo de firmeza desta gente que insiste em aspirar por uma pátria: "Sofremos de um mal incurável chamado esperança".n Humberto Lopes (texto e fotos) Leia esta reportagem na íntegra em:

http://tempolivre.inatel.pt


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18 // MEMÓRIAS // TL Julho/Agosto 2016

// A VIAGEM DA MINHA VIDA

Ângelo Torres “Adoro voltar a Lisboa” O ator, que também é um contador de histórias, gosta mais de chegar do que partir. Mudou tantas vezes de casa e escola, conheceu tantas pessoas e perdeu outras tantas, que talvez por isso sinta necessidade de ter um lugar para aterrar e ficar. Por mais voltas que dê na vida, apetece-lhe regressar a uma viagem de infância que lhe devolveu a autonomia. Porque até aí descobria o mundo ao colo da mãe

A

os catorze, quinze meses, Ângelo Torres dava os primeiros passos na Guiné Equatorial. Começava a explorar o que o rodeava. Mas em breve deixaria de andar. “Até aos três anos fui paralítico. Apanhei uma paralisia infantil, a poliomielite. Quando voltei a andar, agarrado às paredes e aos móveis, a minha mãe agarrou-me pela mão para irmos à escola das minhas irmãs. Devagar, fomos andando até Santa Teresita. Quando cheguei lá, a expressão da minha irmã mais velha marcou-me imenso, porque ela tinha puxado muito por mim. Naquele olhar estava a surpresa, o alívio e o espanto pelo meu esforço. A minha mãe admira-se por ainda me lembrar disto”, começa por indicar a tal viagem que lhe permitiu fazer as seguintes pelo próprio pé. Se não tivesse tido a oportunidade de voltar a usar as pernas, “viajaria na mesma de cadeira de rodas”, afirma com convicção. Mais tarde, aos oito anos, partiu da sua terra natal e foi de barco para Espanha. Uma viagem de 17 dias. A imensidão do mar inquietou-o. “Na altura não sabia nadar, mas ainda hoje tenho a impressão de que se me atirasse, conseguiria fazê-lo. Lembro-me de ter descido as escadas até ao varandim e balancei-me. O marinheiro, Manolo, jura a pés juntos que ia em direção ao mar. Continuo com a sensação de que se caísse, conseguiria nadar.” Ângelo permanece um peixe fora de água mais tempo. Aos 12 anos, sai de Madrid para São Tomé e Príncipe,

um mês depois da descolonização. “Cresci a ouvir falar da independência e, de repente, estava na terra dos meus pais. O que ouvia em casa tinha acontecido. Ver nascer um país é tão emocionante como ver nascer um filho, com a diferença de que aquele era um nascimento coletivo. Todo o mundo dizia ‘viva’, ‘a luta continua, a vitória é certa’. Tínhamos todos o mesmo sonho, íamos todos na mesma direção. Venho de uma família muito politizada. O MLSTP foi criado no quintal do meu avô. Sempre ouvi falar em nomes como Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos… Mas quando cheguei a São Tomé a minha primeira desilusão foi com o aeroporto, que é uma coisa pequena. Eu vinha de Espanha, foi um choque.” O pai levou-o depois a passear de carro pelas roças, que iriam passar a estar sob a sua alçada enquanto ministro do Trabalho: “Juro que naquele

tempo não percebia o porquê de tanto amor àquele pedaço de terra, àquelas árvores gigantescas, macacos a baloiçar, mosquitos… Os quatro anos que vivi em São Tomé questionei sempre ‘porquê?’.” Havia tanto para questionar. Sobretudo, o comportamento do ser humano, após a independência: “Porque é que aqueles camaradas, companheiros e amigos que conheci na Guiné e em São Tomé se tornaram inimigos, viraram as costas uns aos outros? Aquelas pessoas que eu acreditava serem

“Adoro voltar a Lisboa, ver o Tejo… Acho que a saudade nasceu no Tejo. Quando o avião passa pelo Cristo Rei, Monsanto e, depois, na Segunda Circular fazme a graça de passar por cima do Estádio da Luz… É uau!” José Frade

exemplares deixaram de o ser.” Viver noutros lugares, em determinadas circunstâncias, abre os olhos para uma realidade até então desconhecida. Segue-se mais outra viagem até Cuba, onde estuda Engenharia Termodinâmica. Os ânimos aquecem e ali descobre a consciência política. Chega depois a Portugal, em 1986. A primeira memória portuguesa é doce. Quando aterrou em Lisboa, apanhou o autocarro com a mãe. Viu uma pastelaria com uma montra cheia de bolos que pareciam apetitosos. A mãe deu-lhe quinhentos escudos. Gastou tudo em bolos. O doce tornou-se amargo. Próxima paragem: hospital. Não gostou de ficar à espera três horas para ser observado nem do atendimento. Houve coisas que mudaram, outras nem por isso. Volvidos estes anos, diz que já se sente de cá: “Em primeiro lugar sou benfiquista, depois lisboeta.” Adianta que vai pedir a nacionalidade portuguesa. “Adoro voltar a Lisboa, ver o Tejo… Acho que a saudade nasceu no Tejo. Quando o avião passa pelo Cristo Rei, Monsanto e, depois, na Segunda Circular faz-me a graça de passar por cima do Estádio da Luz… É uau! Adoro chegar.” Terminamos este somatório de viagens tal como começámos: com o verbo chegar. Porém, há outros lugares aonde quer regressar: “Não voltei à Guiné nem a Cuba. São etapas que preciso de fechar para me encontrar. Ainda estou em trânsito.” n Sílvia Júlio


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20 // FICÇÕES // TL Julho/Agosto 2016 // OS CONTOS DO ZAMBUJAL

O testamento

E

u, Ervília Adelaide Esparguete Mendes, na plena posse das minhas faculdades físicas e mentais, conforme documentação anexa, aqui exponho as disposições testamentárias a serem cumpridas após o meu passamento. Naturalmente, a par dos valores materiais há os sentimentos e não posso deixar de os realçar num documento desta natureza. Muito em particular no que se refere ao meu cônjuge, Manuel Emiliano Matias Mendes. Completamos quarenta anos de matrimónio à data em que escrevo e assim a presente decisão, que só será revelada após o meu falecimento, não previsto para os tempos mais próximos. Todavia, na possibilidade de o meu referido esposo atingir o estatuto de viúvo, a ele dirijo especiais palavras de encorajamento para o tempo de existência em que me sobreviver. Nunca ele tentou que lhe concedesse estatuto de propriedade em qualquer dos bens da família, todos eles em meu nome por virtude de heranças. Manuel Emiliano nada possuía quando nos unimos pelo casamento, resistindo aos apelos de meus pais e avós, detentores da respectiva fortuna que tenho conservado. O amor falou mais alto. Ainda secretamente noivos, Manuel Emiliano sacudiu-se do seu modesto emprego, e com razão, o irrisório rendimento auferido não aquecia nem arrefecia as finanças do novo casal. Os meus rendimentos bastavam e sobejavam para manter o elevado padrão de vida a que eu estava habituada e ao qual ele, Manuel Emiliano, depressa se habituou. No entanto, digo-te, Manuel, estranhei um pouco que sempre tivesses recusado ocupação como administrador em qualquer das minhas empresas ganhando assim

remuneração por esforço teu. Alegaste, com a tua superior inteligência, que não te furtavas ao trabalho por ser incómodo mas sim pelo receio de não estares à altura de manter os negócios tão lucrativos. E assim temos continuado felizes, excepto nos pequenos dissabores provocados pela tua irresistível atracção por mulheres, algumas delas nossas amigas mas nenhuma, vá lá, pertencente ao Grupo Coral Trinados de Passarinhos, a que tenho a felicidade de pertencer. Muito apreciei que assistisses a parte dos ensaios e espectáculos do Grupo Coral Trinados de Passarinhos. E mesmo quando notei que os teus olhos se fixavam nas coxas roliças da Lalinha Guilhares, e com ela te escapulias a meio da sessão, esses pormenores não arrefeceram o prazer de ter escutado os teus aplausos.

Certo, houve um período em que não tive o gosto da tua presença nas actuações do Grupo Coral Trinados de Passarinhos. Tu lembras-te. Foi quando alojámos em nossa casa a francesa Laurette, a pedido dos meus primos residentes em Bordéus. Nessas ocasiões preferiste ficar em casa, a praticar o Francês e, como sempre, tiveste a minha compreensão. Só não gostei, confesso, quanto te ouvi, agarrado

Pena que tenhas recusado fazer parte do Grupo Coral Trinados de Passarinhos, tens uma bela voz de barítono e podes imaginar o orgulho que seria cantar ao teu lado José Frade

ao telefone, a comunicar com um dos teus pândegos amigos, talvez o Servilhas. Desculpa, Manuel Emiliano, mas achei deselegante aquela frase – “Já papei a francesa.” E isso que interessa se temos sido tão felizes? Pena que tenhas recusado fazer parte do Grupo Coral Trinados de Passarinhos, tens uma bela voz de barítono e podes imaginar o orgulho que seria cantar ao teu lado. Mas isto é uma insignificância no quadro da nossa harmonia que nem foi ensombrada pela tua asneirola de alterares um cheque que te dei para os teus gastos da semana. Meu malandro, meu querido malandrinho, conseguiste transformar mil euros em cento e um mil euros! Lástima que tenhas derretido essa quantia no casino e não pudesses repor na conta os cem mil a mais. Era a intenção, juraste pedindo mil desculpas. Como não havia de desculpar? Nada faria ruir a nossa sólida união, nem mesmo aquela mentirinha de uma excursão com amigos quando, afinal, passaste esses quatro dias com a manicura Gilbertinha. Vim a saber quando recebi a conta do hotel do Algarve, especificando que uma parcela era gasto de “Dona Gilberta”, precisamente por serviço prestado pela manicura do hotel. Zanguei-me, eu? Achei piada e não seria por uma manicura que o nosso enlace deixaria de andar na ponta da unha. Em conclusão, e porque a finalidade de um testamento é ser prático e objectivo, não se alongando em considerações sentimentais, lego todos os meus bens ao Grupo Coral Trinados de Passarinhos. Com uma única obrigação: promover anualmente um espectáculo de beneficência, com receita para o meu possível viúvo, Manuel Emiliano Matias Mendes. Ele ficará agradecido. n


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TL Julho/Agosto 2016 // OLHARES // 21

// ARQUITETURA DOS TEMPOS LIVRES

De Banco a Museu

O

BNU foi criado pela Carta de Lei de 1864, assinada pelo rei D. Luís com a missão de, durante 137 anos, impulsionar o desenvolvimento do império português e agilizar as relações comerciais com a metrópole e fortalecer a indústria, comércio e a agricultura. O Arq. Miguel Evaristo de Lima Pinto desenvolve o projeto e as obras de remodelação do edifício da Sede do BNU em 1866 (em simultâneo com o importante projeto do Teatro da Trindade). Em 1924 os arquitetos Tertuliano Marques, Carlos Ramos e Cristino da Silva criam uma sociedade onde realizam obras pioneiras em betão armado, entre elas a Sede do BNU onde, da necessidade de reconstruir uma parte danificada por um incêndio ocorrido em 1950 e face à aproximação do seu centenário (1964), o Arq. Cristino da Silva concebe o projeto que remodelou e ampliou o BNU, mantendo a fachada pombalina do quarteirão e reconstruindo todo o interior em betão armado. A CGD incorpora a Sede do BNU em julho de 2001 e secundariza-a originando a sua desqualificação por ausência de manutenção. Em 2003 o gabinete Arquiprojecta, concebe o projeto de adaptação a novas funções e inicia as obras de demolição cuja suspensão criou as condições hoje apresentadas. Apesar da demolição quase integral dos interiores, os fragmentos res-

tantes refletem o caráter do projeto do Arq. Tertuliano Marques, bem como a monumentalidade e riqueza dos interiores do Arq. Cristino da Silva e mantem a forte identidade e espírito do edifício. O edifício esteve desocupado até 2008, altura em que acolhe a primeira exposição do Museu do Design (MUDE). Este inicia uma dinâmica na Baixa Pombalina, como importante foco cultural e turístico quer através da qualidade das suas exposições permanentes e temporárias, quer pela sua identidade e espacialidade única exterior e interiores. A futura reabilitação da arquitetura e especialidades tem programa de Bárbara Coutinho e projeto de Luís Miguel Saraiva, vai permitir a abertura dos oito pisos do MUDE, conservando a sua imagem ‘em bruto’ que caracteriza o edifício e vai criar condições de segurança, conforto e acessibilidade a pessoas de mobilidade reduzida e vivenciar todas as áreas do museu. O edifício ocupa o quarteirão, delimitado pelas ruas de São Julião a norte a nascente pela da Prata, pela do Comércio a sul e a poente pela Augusta, para as quais se irá abrir, e acolhe o MUDE que é um Museu dedicado a todas as expressões do Design, com áreas de exposição, criação, convívio, educação, debate e desfrute do tempo livre para alargar o conhecimento sobre o nosso passado comum. n Ernesto Martins


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22 // PALCOS // TL Julho/Agosto 2016

// EM CENA NO TRINDADE INATEL

Eternidade entre quatro paredes O espetáculo Huis Clos vai trazer a eternidade do inferno entre quatro paredes à Sala Estúdio, de 16 de setembro a 9 de outubro Madalena Brandão

U

m homem e duas mulheres fechados numa sala. Têm memórias da vida, mas estão condenados a uma existência conjunta, onde se confrontam com a impossibilidade de domínio pleno do outro. Não há saída, somos aquilo que os outros pensam de nós, e haverá sempre alguém que nos julga, que nos condena, que olha para nós. O TL conversou com o ator e encenador Rui Neto para nos mantermos “de olhos bem abertos”. A peça Huis Clos, de Jean-Paul Sartre, foi escrita durante a ocupação nazi em Paris, em 1944. Que ressonância tem este texto na sociedade atual? Creio que vivemos agora num período diferente, mas similar. A ocupação não é nazi (se bem que existe uma ditadura financeira e um extermínio económico em marcha), mas assistimos a uma Europa fragilizada, fragmentada, sem saber como lidar com os ataques terroristas que surgem todos os dias. Com extremismo político a fomentar a violência das cidades e o declínio de valores sociais que tínhamos como garantidos. Uma Europa que se fecha na violência e no extermínio, onde questionamos quais os nossos próprios princípios e valores. O Huis Clos acaba por ser uma metáfora para a vida, apesar da sua ação se passar na morte. O confronto é entre cada um de nós, e entre nós e os outros, e é nesse confronto que Sartre afirma que “o inferno são os outros”. Cumprimos assim ambos os papéis, de vítima e carrasco. E creio que de uma forma linear isto aplica-se hoje ao mundo. Onde a culpa está de ambos os lados. Assim como a responsabilidade. No início do seu projeto pareceu-lhe um texto datado, sem identificação evidente... Que motivação teve para avançar com esta escolha? As teorias existencialistas de Sartre,

sobretudo nesta peça, refletem sobre a Consciência humana e interessava-me abordar este tema. Os temas que rodeiam as personagens são em si mesmo importantes mas não creio que sejam aqueles que nos atormentam hoje. São fruto de uma sociedade que de alguma forma já não se encontra no mesmo sítio nem da mesma forma. Sofreu uma evolução. E numa primeira instância as situações nucleares da peça hoje têm outro tipo de resolução e de impacto social. Mas essa constatação não deixa de ser importante. O que me fez avançar foi precisamente a possibilidade de comunicação que esta peça tem com o mundo atual e com os grandes temas da Humanidade, e o desafio cénico que isso exige dos atores e da encenação. Mas achei que não fazia sentido nem dar destaque aos elementos mais datados nem contextualizar a ação nos nossos dias. O trabalho do público é precisamente criar essas analogias e desenvolver um pensamento crítico, concordando ou discordando das teorias de Sartre. Hoje podemos encontrar novos sentidos nas teorias de Sartre? Não sei se encontramos novos sentidos nas teorias ou se nos encontramos noutra realidade que nos permite questionar essas mesmas teorias segundo outras premissas. Nem sei se o próprio Sartre hoje concorda-

ria com algumas das suas próprias teorias. Mas é engraçado perceber a evolução de pensamento e comportamento: Para Sartre tornar-se visível aos olhos dos outros é tanto passar a existir no universo do outro, como ver a sua própria existência reduzida pelo olhar do outro (numa impotência perante a impossibilidade de alterar aquilo que o outro pensa e reteve de nós, que será sempre uma visão redutora). Hoje em dia há uma enorme necessidade de nos expormos nas redes sociais, e de nos tornarmos visível a todos – como se ao contrário de nos reduzir, essa exposição nos ampliasse e nos conferisse existência e importância. Creio que Sartre ficaria arrepiado perante o FaceBook. “O inferno são os outros”, frase célebre de uma das personagens. Então, não há fuga possível? Não sei. Nem sei se concordo inteiramente com as premissas que originam essa frase. Interessa-me, no entanto, explorar a ideia de que estamos implicados e somos responsáveis nesse binómio “eu/outros”. Mas não vivo atormentado por achar que os outros dominam a minha existência. Talvez dominem, na medida que percebo que estejamos todos mais à mercê daquilo que pensam de nós, mais do que a real possibilidade de nos verem por aquilo que realmente somos. Aquilo que somos está fecha-

do em nós, e vai connosco. Ficam os atos, fica a forma como interpretaram os nossos gestos, ficam as memórias segundo um ponto de vista e opinião particular de quem as viveu, e talvez tudo isso seja aquilo que nos define, que fique e que perdure. A impotência perante aquilo que o outro pensa sobre nós é que é o inferno – estamos à mercê de quem nos olha e dos seus pensamentos. Mas estas teorias são complexas e torna-se inglório e contraditório quando tento posicionar-me nelas. Encenar Huis Clos pressupõe uma exigência particular no trabalho de ator? Pressupõe sobretudo entender o ponto de vista do autor e fazer escolhas certas que permitam discorrer e comunicar bem a lógica de pensamento em que a ação da peça assenta. O conflito interior das personagens só é conflito se ator e encenador entenderem a problemática existencialista. Senão corre o risco do pensamento se perder nos elementos mais triviais e quotidianos que não creio serem essenciais nesta peça. O que representa para si voltar à Sala Estúdio? Uma possibilidade para continuar a desenvolver o meu trabalho enquanto criador, apoiado em termos técnicos e logísticos. Mas também o desejo de no futuro próximo merecer a confiança para criar um projeto para a sala principal, de forma mais sustentada. Que memórias tem do Trindade? Tem acompanhado o meu percurso, sobretudo enquanto criador. Fiz nele os primeiros projetos de criação coletiva (projeto Híbrida; Batalha), regressei mais tarde com uma criação a solo (Worms), foi neste teatro que fiz o lançamento do meu primeiro livro, com textos para teatro. Tenho muito boas memórias enquanto espectador de muitos espetáculos que vi. n T.J.


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TL Julho/Agosto 2016 // PALCOS // 23 MÚSICA// CICLO MUNDOS utilizando arranjos económicos que ressaltam elementos melódicos e signos da música de influência africana no mundo, explorando o silêncio e o contraponto, fugindo das ideias convencionais. No espetáculo, o trio chama ao palco os músicos

Kayhan Kalhor & Toumani Diabaté, 8 de setembro, quinta-

Marcelo Cabral (baixo), Samba

feira, às 21h30 | M6

Machado (bateria). Com a banda,

Apesar dos 6.500 quilómetros que

Metá Metá revela o lado mais

separam Teerão de Bamako,

pulsante do cd, com grooves

Kayhan Kalhor e Toumani Diabaté

dançantes, e arranjos em que a

têm numerosos pontos em

polifonia explorada pelo trio se

comum. Têm praticamente a

expande para dialogar agora com

mesma idade, iniciaram a carreira

referências do rock, afrobeat e

de solistas muito jovens – Toumani

dos batuques brasileiros em

tinha 5 anos e Kayhan sete – e

geral.

Ossalê (percussão) e Sérgio

fizeram a mesma escolha de aprender a música clássica dos

DakhaBrakha, 22 setembro,

seus respectivos países. Ambos

quinta-feira, às 21h30 | M6

têm a ousadia de ultrapassar as

Um homem e três mulheres

fronteiras da sua arte, graças aos

vindos da Ucrânia e vestidos com

numerosos encontros

trajes tradicionais. Com os seus

internacionais. Então se o diálogo

cantos polifónicos misturam a

entre o kora mandinga e o

tradição com a modernidade. É

kamanché persa é totalmente

um dos grandes fenómenos dos

imprevisível, aquele entre Toumani

últimos anos no circuito das

Diabaté e Kayhan Kalhor é

músicas do mundo. O quarteto

evidente. Fazem-nos partilhar uma

ucraniano DakhaBrakha parte de

preciosa aventura musical e

melodias tradicionais do seu país,

humana.

recolhidas em aldeias onde sobrevivem algumas dessas expressões quase esquecidas, pervertendo-as depois com um amplo dicionário de outras músicas resgatadas às mais variadas geografias – chamamlhe “caos étnico”. Tão bela quanto estranha, esta súmula desafia

Metá Metá, 15 de setembro,

classificações e tanto assenta em

quinta-feira, às 21h30 | M6

harmonias vocais feéricas como

O trio trabalha com a diversidade

toma caminhos de um transe

de géneros musicais brasileiros,

eminentemente físico. DR


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24 // SABERES // TL Julho/Agosto 2016

// TEMPO DIGITAL

// LÍNGUA NOSSA

Boa música em qualquer lugar

uas notícias para quem gosta de ouvir a sua música preferida. Da One For All, marca distribuída em Portugal pela Esotérico, escolha um dos novos receptores de música por Bluetooth SV 1810 e 1820 que permitem, de forma simples, reproduzir sem fios a música alojada nos dispositivos móveis directamente através do sistema de áudio de alta-fidelidade da nossa casa. Basta ligar o receptor ao HiFi pela saída óptica ou ficha de 3,5 mm e activar o Bluetooth. Além de poder transmitir a música armazenada localmente na memória dos dispositivos móveis, é também possível partilhar com o sistema Hi-Fi o sinal de serviços de

D

música como Spotify, Tidal, Deezer ou YouTube sem que isso comprometa a qualidade de som. Autênticos mediacenter especialmente o topo de gama SV 1820 com som até 24 bits 192kHz. Emparelhamento de sistemas estéreo até 3 dispositivos Bluetooth em simultâneo, à distância de 10 metros, estes receptores transformam o HiFi num autêntico media center. É possível inclusive controlar o

estéreo através do smartphone, tablet ou outro dispositivo a partir do conforto do sofá. Mas quem quiser levar a sua música para qualquer lugar, mesmo no exterior, tem a nova linha de colunas portáteis Bluetooth FUGOO XL da Smartaudio com a particularidade de escolher o design, optando entre diversos tipos de cobertura conforme o seu gosto. Um mesmo corpo pode receber diversos tipos de coberturas, para diferentes estilos e utilizações, de acordo com o ambiente. Uma protege da poeira ou mesmo lama e outra dos pingos de água, etc. Uma vez adquirida uma das versões é possível “vestir” o dispositivo com qualquer das suas coberturas intermutáveis: Style XL, Sport XL e Tough XL. Nos quatro lados da caixa e com inclinação de oito graus para garantir o melhor som em 360 graus tem 4 tweeters, 2 médios e 2 graves para 35 horas de utilização contínua. Disponibiliza ainda de um sistema de montagem que permite levar a coluna connosco quer se vá de bicicleta, prancha ou haja apenas um poste por perto, usando alças de ombro e de mão, como acessórios opcionais. n

Gil Montalverne [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

Requerer ou não requerer ão haja a menor dúvida! Em muitas circunstâncias, cada vez com maior frequência, a Administração Pública, tanto a nível central como local, tem feito um concreto esforço de aproximação aos cidadãos. E, de facto, a atestar a veracidade destas palavras, não faltam exemplos de algum e inegável sucesso. Veja-se o caso do famoso Simplex, cuja responsável máxima, a Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, há uns meses, anunciou duzentas e cinquenta e cinco medidas para melhorar a qualidade de vida dos portugueses. E as famosas Lojas do Cidadão, que se multiplicam por todo o país, facilitando o acesso e promovendo uma muito mais rápida resolução das mais diversas questões? Na maior parte dos casos, até há impressos e formulários que facilitam a comunicação. Exagero não será afirmar que, por vezes, basta assinar e está feito o pedido, apresentada a queixa, denunciada a situação. De qualquer modo, de vez em quando, é necessário redigir um requerimento e, não

N

raro, o requerente é confrontado com o problema que hoje pretendo elucidar. Trata-se da conjugação da primeira pessoa do singular do presente do Indicativo do verbo requerer. Pois bem, embora se trate de um composto do verbo querer, a forma correcta é requeiro. Ex: Requeiro a V. Exa. autorização para utilização do recinto previamente identificado, para montagem de uma exposição de artesanato urbano, durante o período matinal. Também as formas do pretérito perfeito são diferentes das do verbo inicial. Assim, tenha-se em consideração requeri, requereste, requereu, requeremos, requerestes, requereram que muito diferentes são de quis, quiseste, quis, quisemos, quisestes, quiseram. Enfim, mais um instrumento do inesgotável ferramental que importa ter à mão para aplicar nas nossas relações com as designadas entidades oficiais. E, convém não esquecer, sempre com a maior correcção gramatical! Não vá o diabo tecê-las…n

João Cachado [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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TL Julho/Agosto 2016 // CARTAZ // 25

// ECRÃS

Fim de Verão cinéfilo Dos cineastas de culto, como Almodóvar, Eastwood, Kurosawa ou Oliver Stone ao mais recente cinema português, o leitor-espectador tem muito (e bom) cinema para ver

A lição de humanismo com que Kurosawa agraciou este admirável hino à natureza (e à amizade) não tem paralelo na história do cinema. Inteligente e belo como um poema de Sophia. Oscars 1976 – Melhor Filme Estrangeiro.

Baseado no livro D’Este Viver Aqui Neste Papel Descripto, de António Lobo Antunes, esta incursão ao território dos sentimentos centrada nas correspondências trocadas entre um jovem militar destacado em Angola e a sua mulher atinge uma vibração nunca vista no cinema português e é mesmo rara no género. Um filme “repleto de tensão e de uma beleza inesquecível”, revista IndieWire ‘dixit’. Magnificamente fotografado a preto e branco.

A Ilha dos Cães, de Jorge António

Milagre no Rio Hudson, de Clint

| Portugal / S.Tomé e Princípe

Eastwood | EUA, 2016

/Angola, 2015

Com: Tom Hanks, Anna Gunn,

Com: Nicolau Breyner, Ciomara

Laura Linney, Aaron Eckhart.

Morais, Ângelo Torres. Estreia

Estreia: 8 de Setembro.

(prevista): Setembro.

A odisseia verdadeira do capitão Chesley "Sully" Sullenberger, o célebre piloto da aviação civil estadunidense, que no dia 15 janeiro de 2009 realizou a proeza de pousar um avião com 155 passageiros em pleno rio Hudson, em Nova Iorque.

Cinema Dersu Uzala, de Akira Kurosawa | Japão / URSS, 1975 Com: Maksim Munzuk, Yuri Solomin, Svetlana Danilchenko. Em exibição, no Espaço Nimas.

A construção de um resort numa ilha-fortaleza, que outrora serviu de prisão a oposicionistas ao regime, está ameaçada pela presença de uma matilha de cães selvagens. Baseado no romance “Os Senhores do Areal”, do escritor angolano, Henrique Abranches. Derradeiro trabalho de Nico Breyner.

Julieta, de Pedro Almodóvar | Espanha, 2016

Cartas da Guerra, de Ivo M.

Com: Adriana Ugarte, Rossy de

Ferreira | Portugal, 2016

Palma, Inma Cuesta, Emma

Com: Miguel Nunes, Margarida Vila-

Suárez. Estreia: 22 de Setembro.

Nova, Ricardo Pereira. Estreia: 1 de

Um melodrama sobre a culpabilidade materna que retoma algumas

Setembro.

das obsessões temáticas (a paixão, a perda, o fracasso amoroso) mais emblemáticas do cinema de Almodóvar. Snowden, de Oliver Stone | EUA, 2016 Com: Joseph Gordon-Levitt, Shailene Woodley, Scott Eastwood, Nicolas Cage. Estreia: 22 de Setembro.

O ousado cineasta norte-americano dos grandes temas incómodos faz a abordagem dos traços psicológicos, comportamentos e motivações de Edward J. Snowden, o ex-funcionário da Cia que denunciou ao mundo a existência de um programa secreto de vigilância global. DVD A influência dos raios gama no comportamento das margaridas, de Paul Newman | EUA, 1972, 1h40 | Edição Alambique filmes

Um tocante e sensível drama familiar (uma viúva amargurada “cria as suas duas filhas num ambiente deprimente e disfuncional”) filmado com exemplar simplicidade. Brilhante é a interpretação de Joanne Woodward. Joaquim Diabinho [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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26 // A FECHAR // TL Julho/Agosto 2016

// MESA PARTILHADA COM...

Receita // SOPA DE CAÇÃO E OVO ESCALFADO

João de Oliveira

H

á memórias gustativas que se misturam com as afetivas. Este chefe vai à infância buscar as coisas simples da vida e trá-las para a mesa de todos. “Quando recebi o convite para esta rubrica não tive de pensar muito nas memórias e pratos da minha infância. Até aos meus 12 anos, as férias de verão, depois de uma quinzena de colónias de férias, eram no Alentejo, Estremoz e Monte da Cotovia. Três meses afastado de Lisboa, com o meu irmão Pedro, no campo junto das minhas tias Isabel e Estrela... Voltávamos diferentes, até na

maneira de falar! Dois pratos enchem-me a memória e levam-me constantemente ao encontro dos sabores desta terra e desta gente: a galinha do campo com tomatada e batata frita e a sopa de cação e ovo escalfado, que a dona Alice fazia, na pequena aldeia de São Lourenço. Esta comida simples preparada com o que havia na horta, com o que ia chegando pelos vendedores ambulantes e ao mercado semanal de sábado, é parte fundamental da minha maneira de cozinhar e encarar cada prato e cada ideia.” n

Ingredientes para 4 pessoas

pouco a pouco a água suficiente

4 postas de cação;1 ovo de

para a quantidade de caldo

galinha (do campo); 0,05Kg

desejado, cerca de 1,5L.

farinha maizena; 0,2Kg fatias de

Temperar com sal e pimenta.

pão do dia anterior; 0,06L de

Adicionar o cação e deixar

azeite; 0,05Kg de coentros; 3

cozer, 3 a 5 m depois de

dentes de alho; 0,1L de vinagre

levantar fervura. Adicionar ao

vinho branco; 3 folhas de louro;

caldo meia chávena de vinagre

1,5L de água; 0,005Kg de sal.

onde dissolvemos previamente a

Preparação

farinha. Escalfar o ovo (opcional,

farinha. Deixar ferver até cozer a Colocar as postas de cação,

se não colocar o ovo corte no

com 3 cm de espessura, durante

vinagre). Cortar o pão em fatias

1 hora, se for fresco, em água,

finas e colocar no prato. Regar

vinagre, sal e louro. Refogue os

com o caldo, por cima colocar o

dentes de alho picados e os

peixe e o ovo escalfado. Colocar

coentros no azeite. Adicionar

os coentros. Servir de imediato.

Restaurante Volver de Carne y Alma – Rua Luís de Freitas Branco 5D, 1600-488 Lisboa – Tel. 217 598 980

// PALAVRAS CRUZADAS // Por José Lattas 1

HORIZONTAIS: 1-Telúrio (s.q.); Distrito de Portugal;

definido (plural); Preces; Érbio (s.q.). 10-Alcovas. 11-

Rubídio (s.q.). 2-Lamentação; Delinquente; Voz do gato. 3-

Celeridade; Associação Internacional de Transporte

Ainda; Ninho. 4-Vádio. 5-Sufixo que traduz a ideia de ocu-

Aéreos (sigla na versão inglesa). VERTICAIS: 1-Caixa; Luxo. 2-Exclamação que se emprega

4

para traduzir espanto; Cachaças. 3-Advérbio, que exprime

5

ornamental; Contracção de preposição e artigo. 6-

afirmação; Rio que banha Leiria; Cálcio (s.q.). 4-Malícia;

Localidade do concelho de Sintra; Memória onde o aces-

Chefe

so à informação é feito mediante o seu endereço e não

Internacionais Rodoviários (sigla); Entra. 6-Laicizar. 7-

político

etíope.

5-Comparecer; Transportes

7

8

9 10 11

7

(informática);

Designa a pessoa que fala; Dor (inv.); Rio da Suíça. 8-

Administração Regional de Saúde (sigla). 7-Elemento de

Brancas; Nasce. 9-Primeiro nome de um político, militar e

9

composição, que traduz a ideia de grande número, pro-

pensador chinês; Camareira; Apelido. 10-Cada um dos

10

fusão; Garante. 8-Animação; Apreciava; Deseje. 9-Artigo

órgãos secretores da urina; Dinheiro. 11-Atoardas; Retirada.

Soluções

6

6

8

armazenados

5

1

ra, originário da Pérsia, cultivado em jardins, como planta

dados

4

2

das Oleáceas, com cerca de três a quatro metros de altu-

dos

3

3

pação, ofício ou emprego; Arbusto pertencente à família

depende

2

11

1-TE; VISEU; RB. 2-AIS; RÉU; MIO. 3-MAIS; C; CAMA. 4-B; MATULÃO; T. 5-OR; LILÁS; AO. 6-RAL; RAM; ARS. 7-MIL; R; FIA. 8-GÁS; VIA; AME. 9-AS; REZAS; ER. 10-L; CÂMARAS; M. 11-ASAS; R; IATA.


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