Tempo Livre Outubro 2015

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N.º 28 | Outubro 2015

Inatel apoia integração de refugiados

ENTREVISTA

Susana C. Gaspar

Presidente da Amnistia Internacional – Portugal

Estudos defendem

Lazer todo o ano A VIAGEM DA MINHA VIDA

Inatel na Feira do Património em Coimbra Uma viagem à mágica e romântica Praga

“EstrelAçor UltraTrail” uniu Katia Guerreiro “Precisava de fazer as pazes comigo” Linhares da Beira e Piódão


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TL Outubro 2015 // FUNDAÇÃO INATEL // 3 // SUMÁRIO

// EDITORIAL

4

Notícias

Lazer e Responsabilidade

6

Entrevista //

Susana C. Gaspar

8

Património cultural // Inatel

na Feira do Património

9

Inatel solidária // Inatel apoia

integração de refugiados

11Desporto para todos // EstrelAçor UltraTrail

12

Viagens // Na mágica

e romântica Praga

13

A viagem da minha vida //

Katia Guerreiro

14/16

Tema de capa //

Lazer todo o ano

18

Mesa partilhada com… //

Chef Vasco Lello

19

Jardim dos títulos //

Possidónio Cachapa

20

Os Contos do Zambujal

C

omo é bem sabido, o foco principal da atividade da INATEL é o lazer. As nossas propostas de atividade para os associados, e para todos os que connosco contactam, mais não são do que convites a tornar os momentos de lazer de cada um em oportunidades de valorização pessoal, familiar e social, ao alcance de todos. Por isso, damos tanta atenção ao património cultural porque ele é um recurso decisivo de aperfeiçoamento da cidadania, de inclusão social e de valorização das pessoas. A nossa atenção e dedicação à salvaguarda e promoção do património cultural nasceu com a FNAT, sujeita embora à vigilância da ditadura e ao folclorismo reacionário da época. Ultrapassaram-se há muito esses limites. Em anos recentes, demos o nosso contributo à candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade e, nessa altura, fomos reconhecidos internacionalmente, sendo-nos conferido o estatuto de consultores da UNESCO para essa matéria. Depois disso, mantivemos, de forma empenhada, o apoio às bem sucedidas candidaturas da Dieta Mediterrânica Portuguesa e do Cante Alentejano. Com esta vertente da nossa ação temos sabido enriquecer as áreas que são a verdadeira razão de ser desta grande instituição – as atividades de ocupação dos tempos livres através do turismo, da cultura e do desporto – de que damos público teste-

munho na grande Feira do Património em Coimbra, entre 9 e 11 de outubro. O nosso trabalho é realizado com enorme sentido de responsabilidade social, através das intervenções solidárias e inclusivas da Fundação. Fiéis aos nossos valores, continuamos a desenvolver programas solidários coerentes com a nossa missão, e, por isso mesmo, não poderíamos ficar alheios à crise humanitária dos refugiados do Médio Oriente. Está já em marcha uma iniciativa que propõe integrar famílias de refugiados no âmbito de um programa solidário da Fundação, que simbolicamente designamos por Programa Aylan, o nome da criança encontrada morta numa praia da Turquia, e através do qual a Inatel se dispõe a assumir responsabilidades na capacitação e inserção na sociedade portuguesa de cerca de uma centena de refugiados. Assim continuamos esta outra grande tradição portuguesa do humanismo e do universalismo do nosso modo de estar no Mundo, enriquecendo por essa via o nosso património cultural com o contributo dos que nos demandam, e combatendo também por cá a xenofobia e os nacionalismos de vistas estreitas, que tanto têm prejudicado a autoridade moral da Europa a que orgulhosamente pertencemos. I

Presidente da Fundação INATEL

21Culturando 22

Em cena no Trindade-Inatel

23

Arquitetura dos Tempos

// TOME NOTA

Livres

24

Língua Nossa // Tempo

Digital

25 26

Ecrãs // novos filmes Motor // Palavras Cruzadas

// Sugestões

“Os Reformados e os Tempos Livres”

reformados idosos de hoje e

O mais recente estudo de Maria

seus comportamentos, por

João Valente Rosa, “Os

comparação com os reformados e

Reformados e os Tempos Livres –

os activos mais velhos de há

Resultado do inquérito à

dezasseis anos”, declara a autora.

população reformada sobre

Maria João Valente Rosa,

actividades de lazer”, prefaciado

professora universitária, doutorada

por Fernando Ribeiro Mendes,

em Sociologia, Universidade Nova

com edição da Bnomics, chega

de Lisboa, é autora e coordenadora

este mês às livrarias.

de inúmeros estudos publicados

“Este livro viaja pelos tempos livres

sobre a sociedade portuguesa,

dos reformados em 2014, com dois

entre outros, em 1999,

objectivos essenciais: conhecer as

“Reformados e Tempos Livres”,

actividades de lazer dos

edições Colibri-Inatel.

perceber os sinais de mudança dos

Jornal Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Fernando Ribeiro Mendes Vice-Presidente: José Manuel Soares; Vogais: Jacinta Oliveira e Álvaro Carneiro Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Diretor: Fernando Ribeiro Mendes Coordenação editorial: Teresa Joel Logótipo:Fernanda Soares Design: José Souto Fotografia: José Frade, Isabel Santiago Henriques (colaboradora) Redatora principal: Sílvia Júlio Redação: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169062 LISBOA, Telef. 210027000 Colaboradores: Carlos Blanco, Ernesto Martins, Eugénio Alves, Gil Montalverne, João Cachado, José Baptista de Sousa, Joaquim Diabinho, José Lattas, Mário Zambujal, Sofia Tomaz Publicidade: Comunicação e Marketing/Vanda Gaspar Tel. 210072392; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA., Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Queluz de Baixo, 2730-053 Barcarena. Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484 Preço: 1,00 euro Tiragem deste número: 85.183 exemplares


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4 // NOTÍCIAS // TL Outubro 2015

// COLUNA DO PROVEDOR

Cooperação Inatel/CPCCRD

Manuel Camacho provedor.inatel@inatel.pt

ace aos escombros resultantes da II Guerra Mundial podemos dizer que o velho continente “bateu no fundo”. Os países envolvidos no conflito atingiram um tal nível de destruição, que em 1945 ninguém acreditava ser possível uma recuperação a curto ou médio prazo. No entanto graças a estadistas de grande visão e a algumas organizações de relevo entretanto fundadas e cujas ações foram fundamentais (NATO, ONU, UE…), a Europa acabou por renascer das cinzas e no final do século XX o velho continente atingia de novo o apogeu que lhe era característico.

F

50

na Anos EL INAT

Hoje, em pleno século XXI, estamos a viver um momento dramático, com milhares de refugiados – maioritariamente oriundos da África e da Ásia Menor – a arriscar a vida na esperança de alcançar a paz e a justiça social no espaço europeu. Em 70 anos muita coisa mudou, mas gostava de poder acreditar que a Europa onde vivemos ainda consegue ser solidária e humana, por forma a ser capaz de restituir a dignidade de uma existência plena aos milhares de seres humanos que a procuram. E se assim for, talvez ainda possamos dizer como Fausto Bordalo Dias…“Europa, querida Europa”. I

Completam, no mês de outubro, 50 anos de ligação à Fundação INATEL os associados: António Silva Valente, do Porto; Adalberto Viana Brito, José Sousa Correia, de Vila Nova de Gaia; Agostinho Esteves Morgado, de Vila Velha de Ródão; Artur Rodrigues Paris, Carlos Filipe Afonso, de Lisboa; Manuel Silva Campos, de Sintra; José Pinheiro Fonseca, da Covilhã; Firmino Matos Rodrigues, João Sousa Rosendo, de Almada.

A

Fundação Inatel assinou um protocolo com a Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto (CPCCRD), com o objetivo de desenvolvimento cultural, desportivo e de atividades de lazer e turismo dos associados de ambas as instituições. A CPCCRD vai colaborar com a Inatel em ações de prática e disseminação de Jogos Tradicionais. Aquela entidade vai ainda cooperar na conceção de conteúdos formativos adequados ao associativismo e ao seu desenvolvimento, monotorização e avaliação em áreas de interesse para a Inatel.

“Estaremos sempre atentos à salvaguarda do património dos jogos tradicionais”, sublinhou Fernando Ribeiro Mendes, presidente da Inatel. Para Augusto Máximo Flor, responsável da CPCCRD, “este protocolo dá um sinal de que na vida social deve haver cooperação. Quem ganha é o movimento associativo”, afirmou. O acordo foi assinado, em setembro último, pelo presidente e vogal do conselho de administração da Fundação Inatel, Fernando Ribeiro Mendes e Álvaro de Sousa Carneiro, respetivamente. Pela CPCCRD rubricou o seu presidente, Augusto Máximo Flor. I


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TL Outubro 2015 // NOTÍCIAS // 5

Abertas as inscrições

Gala Sénior regressa em novembro

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“Gala Sénior” vai regressar no dia 29 de novembro, ao Teatro Politeama, em Lisboa. Esta iniciativa, cuja principal finalidade é reunir todos os participantes num ambiente de convívio e de solidariedade, vai reconhecer o mérito daqueles que mais se destacaram nos programas da Inatel, em 2014 e 2015, e concluir a atribuição de apoios no âmbito dos projetos sociais “Mealheiro Solidário” e “Fundo de Inovação Social”. O programa inclui, ainda, o espetáculo escrito e encenado por Filipe La Féria, “A República das Bananas”, que relembra os acontecimentos marcantes dos últimos anos do país, numa crítica “mordaz

e divertida” à nossa sociedade, às figuras públicas e políticas. O musical protagonizado por Rita Ribeiro, José Raposo e Anabela conta também com a participação de Ricardo Castro, Paula Sá, Ricardo Soler, Bruna Andrade, João Duarte Costa, Patrícia Resende, David Mesquita e Paulo Miguel. A Inatel vai organizar viagens com partidas das capitais de distrito e, à semelhança de anos anteriores, também de outras localidades com dez ou mais pessoas inscritas. Os valores de inscrição situam-se entre os 40 e 60 euros. As inscrições já estão a decorrer. Mais informações: Inovação Social inatelsocial@inatel.pt/tel. 210027142. I

App o Tempe Livr

Fórum Europeu de Turismo para Todos

Veja o vídeo da entrevista a

Inatel será a anfitriã, entre 21 e 23 de outubro, em Albufeira, do Fórum Europeu de Turismo para Todos, este ano dedicado à Inovação. Congressistas de toda a Europa trabalham a Inovação em várias vertentes como na criação de produtos, na comunicação, na distribuição e nos métodos organizacionais do Turismo para Todos. No Algarve estarão presentes os mais importantes atores de Turismo a nível europeu, bem como especialistas na área para procurarem respostas para o futuro de um turismo que se quer cada vez mais responsável, inclusivo, sustentável e acessível. I

l.pt .inate polivre m e /t :/ http

Susana C. Gaspar, presidente da Amnistia Internacional – Portugal, na App TL através do endereço http://tempolivre.inatel.pt. Destaque ainda para as reportagens sobre a viagem Turismo e Voluntariado em São Tomé e Príncipe, que decorreu entre 22 de setembro e 1 de outubro. Através do seu tablet ou smartphone, acompanhe a versão on line do TL e aceda a outras informações de turismo, lazer, cultura e desporto para toda a família.

A


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6 // ENTREVISTA // TL Outubro 2015

Susana C. Gaspar

“Temos de agir” A presidente da Amnistia Internacional – Portugal é também atriz, professora e mediadora cultural. “Ter de viver outra personagem, colocar-me na pele de outro, talvez me tenha levado a ser mais ativista.” Não sabe ao certo o que a levou para o caminho da defesa dos direitos humanos, mas lembra-se bem de ouvir histórias em casa que a interpelaram a não ficar quieta: “Os meus pais passaram fome na ditadura e transmitiram-me que a comida que tinha no prato era de valor” usana C. Gaspar tem fome de mudança. E dá o exemplo fazendo o que está ao seu alcance para mudar o mundo. A injustiça inquieta esta jovem voluntária de 28 anos. Há coisas que a desassossegam, levando-as à cena, para que também outros se sintam tocados: “Ver pessoas a sofrer por inúmeros atropelos aos direitos humanos incomoda-me. Ver que há mulheres que não têm acesso aos seus direitos incomoda-me. Tudo isto me interpela – e sinto necessidade de falar em vez de silenciar ou fingir que não existe.” Assumiu ainda este ano a presidência da Amnistia Internacional. Por que razão lhe faz sentido associar os direitos humanos ao trabalho artístico? Essa associação nem sempre surge, daí também me juntar à Amnistia Internacional (AI) para um trabalho contínuo para esta causa dos direitos humanos. O trabalho artístico é a minha vida profissional. Há aqui uma linha entre a minha vida profissional e a minha vida de voluntária ativista que, muitas vezes, se toca nos meus trabalhos, nomeadamente no espetáculo Lampedusa, com o qual recebi a menção de “Jovens Criadores 2012” pelo Clube Português de Artes e Ideias. Esse espetáculo já falava do tema dos refugiados. Entretanto, fiz também o espetáculo intitulado Corpo-Mercadoria sobre tráfico de seres humanos. Mais recentemente,

S

criei um projeto que vai à história portuguesa do século XIX em que uma mulher desafiou a religião, impôs o profano na sua aldeia e vestiu as filhas de homens. Tem um fundo de discussão que me parece pertinente nos dias de hoje: a igualdade de género. É isso que vou procurando no meu trabalho. Quando me preparo para um novo projeto, [penso] no que é importante levar agora ao público. De que forma é que esta situação mais recente que estamos a viver a tem interpelado para o palco? Neste momento em que nem temos Ministério da Cultura – há apenas uma Secretaria de Estado – não há maneira de pôr tudo o queria dizer no palco. Daí estar tão ligada à AI para poder fazê-lo de outra maneira. Estou a trabalhar num espetáculo intitulado Da Imortalidade, com encenação de Nuno Nunes, da Propositário Azul. É um espetáculo que recupera a epopeia de Guilgamesh, que é muito pouco conhecida, e estreia a 18 de novembro no Teatro da Cornucópia. É uma ótima oportunidade para vermos que, apesar do abismo de milénios, o nosso berço está ali naquelas placas de argila escritas e que foram desenterradas, curiosamente, na Síria e no Iraque, sendo absolutamente reveladoras da nossa essência, no sentido das normas da sociedade, dos valores e desta sede humana de querer conquistar, de querer mais, de destruição da

natureza… O texto é muito forte. Estou a gostar muito de trabalhar não só pela via documental – que é muito do que faço –, mas também na interpretação de um texto que é desconhecido da maioria do público, e que reflete este momento. O teatro é mais do que entretenimento – suscita a reflexão. A arte pode provocar a mudança social… Já vimos isso acontecer em diferentes partes do mundo. Há diferentes ferramentas teatrais, desde o Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, o teatro documental tem esse cariz de atingir uma mudança social por via da reflexão ou até por via interventiva. Há objetos teatrais mais interpeladores, desafiantes para uma mudança. Não quer dizer que a mudança social aconteça ali mas é sobretudo uma alavanca para isso acontecer. Por via educativa também com a Expressão Dramática, Oficinas de Teatro, sobretudo quando vamos introduzindo o conceito de ‘ser cidadão’, de ‘ser parte integrante do coletivo e não somente o eu’. O teatrum é o lugar de onde se vê, que reflete a humanidade, como se estivéssemos a ver um espelho de nós próprios. Quando vemos um espetáculo de teatro, seja Shakespeare ou Tchekhov – está sempre lá a nossa essência. Quando somos confrontados connosco, somos imediatamente desafiados a refletir sobre a temática em cena de maneira diferente. É diferente ler

um livro, ver um documentário ou o telejornal – [ali] é vivo. Já aconteceu algum espectador dizer-lhe: “Isto fez-me refletir, agora vou agir”? Sim, no Lampedusa aconteceu isso. No final do espetáculo vieram perguntar-me o que poderiam fazer, o que estava a ser feito, e eu remetia-os para o movimento da Amnistia Internacional, para o Centro Português dos Refugiados ou outras organizações. Tivemos no público 20 refugiados que, no final, aplaudiram de pé e alguns gritaram: “Bravo!” Foi a sensação mais gratificante que já tive num espetáculo. O final do espetáculo era muito interventivo, de muita reflexão. Quando acabou, levantaram-se imediatamente. Constatámos – atores, equipa técnica, músicos – que conseguimos fazer uma diferença a partir daquele espetáculo. Talvez hoje fizesse sentido retomar esse espetáculo para continuarmos a ser provocados com os novos acontecimentos…


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TL Outubro 2015 // ENTREVISTA // 7 José Frade

Sim, sinto vontade de retomar o Lampedusa, quase como que uma necessidade de um segundo ato. Olhando para 2011 e 2012, falámos da Primavera Árabe, Tunísia, Líbia…Também da Eritreia, que não tinha a ver diretamente com a Primavera Árabe. Agora temos a Síria, o Afeganistão, o Paquistão… Era necessário retomar estes novos contextos. Sem dúvida que agora é mais pertinente levá-lo à cena e dar oportunidade ao público de refletir sobre a questão de outra maneira. Quem sabe, talvez no Teatro da Trindade, que está no coração da cidade de Lisboa e é belíssimo. O contraste também mexe connosco, estando sentados em cadeiras confortáveis a ver um espetáculo deste teor. É quase uma contradição. O mesmo aconteceu comigo quando fui a Lampedusa. A ilha tem uma água translúcida, é um paraíso e, ao mesmo tempo, imagino ali o cemitério. Estava a nadar com os peixinhos e o meu coração ficou do tamanho de uma ervilha.

Gandhi dizia “Seja a mudança que quer ver no mundo”. Como é que cada um de nós pode desassossegar para mudar o mundo sem que pareçamos ingénuos? Só não muda o mundo quem não quer que o mundo mude. Se quisermos ver as coisas no mesmo estado, não fazemos nada. Se quisermos um mundo melhor, mais justo, mais igualitário, temos de agir. Não se trata, apenas, dos ideais da Revolução Francesa – são mesmo ancestrais. Esta busca comum só é feita através de ações. Ingénuo é acreditar que não é pela ação que conseguimos chegar a uma mudança ou que estamos bem assim e que não vale a pena fazer nada, porque nada vai mudar – essa para mim é que é a verdadeira ingenuidade. Em nome da ação tem ido a escolas dar formação sobre direitos humanos. Como é que os mais jovens têm recebido a mensagem? Cada escola é uma escola, cada turma é uma turma, cada aluno é

“Só não muda o mundo quem não quer que o mundo mude” “Sim, sinto vontade de retomar o Lampedusa (…) Quem sabe, talvez no Teatro da Trindade, que está no coração da cidade de Lisboa e é belíssimo” um aluno. Uma coisa tão simples como falar de direitos humanos é ainda novidade. “Eu não sabia que ter um trabalho é um direito, que o lazer é um direito, que a habitação é um direito” – está na Declaração Universal. Há muito, muito trabalho a fazer na educação para os direitos humanos – também na perspetiva dos deveres. A minha liberdade não é toda a liberdade do mundo. A minha liberdade termina onde começa a do outro. Eu tenho o direito de não ser magoada e não tenho o direito de magoar. Quais as questões mais curiosas

sobre os direitos humanos que lhe colocaram nas escolas? Surgem muitas e sempre temas muito complicados, nomeadamente a pena de morte. A pena de morte já foi abolida em Portugal há muitos anos – foi, aliás, o primeiro país europeu a aboli-la. Mas ainda existe a pena de morte em muitos países, em muitos estados. Essa é uma grande causa da AI, desenvolvida desde 1961. Quando vamos às escolas, sobretudo quando há um ataque terrorista na Europa, eles dizem que esse terrorista merecia a pena de morte. Há sempre um aproximar dessa visão radical da justiça. “Aquela pessoa retirou aquelas vidas, então também temos de lhe retirar a vida!”. Isto é uma discussão ainda muito pertinente nos dias de hoje. O que lhes responde? Nós não temos o direito de retirar a vida a ninguém. Mais do que entrar numa perspetiva teórica sobre o que é pena de morte ou a justiça, dou casos concretos de pessoas que foram condenadas à pena de morte. Depois de morrerem, descobriu-se que eram inocentes. São esses casos que eu gosto de trazer à discussão. O que é que ainda não assimilámos sobre esta crise humanitária que estamos a viver? Ainda não assimilámos que é uma responsabilidade de todos. Se todos nos sentíssemos um pouco mais responsáveis pelo mundo que habitamos, não só em relação às pessoas, mas em tudo, já estaríamos noutro grau de assimilação de todas as outras questões, porque há um sentido de pertença: “Eu pertenço aqui, eu estou a viver agora aqui, eu tenho de cuidar, não só do meu quintal mas de tudo o que me rodeia. Tenho de proteger essas pessoas porque um dia posso ser eu a precisar de ajuda!” Acho que o teatro faz muito bem esse papel. A arte de colocar no lugar do outro ou de levar o público a refletir-se naquela personagem ou no texto. É muito importante assimilar o sentido de pertença e de responsabilidade. I Sílvia Júlio


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8 // PATRIMÓNIO CULTURAL // TL Outubro 2015

De 9 a 11 de outubro, em Coimbra

Inatel na Feira do Património A Fundação Inatel vai participar na Feira do Património (FP), a decorrer de 9 a 11 de outubro, no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra

E

vento pioneiro, que pretende promover o setor do património cultural enquanto bem gerador de valor económico e social e fator de atração turística, fomentando e incentivando a criação de emprego, a Feira do Património é direcionada ao público em geral e a todos os que se interessam pelo tema do património cultural. A FP constitui, ainda, uma oportunidade de congregação dos vários agentes do sector – incluindo instituições públicas, fundações, empresas, ateliers de arquitetura e design, operadores turísticos, empresas, universidades e centros de formação – representativos de diversas atividades e ações no terreno, incidindo nas áreas de conservação e restauro, museologia, mediação e produção cultural, atividade municipal, estudo, investigação e associativismo. Presente na FP, a Inatel dará destaque aos diversos projetos desenvolvidos no âmbito da sua missão de consultora da UNESCO para a salvaguarda do Património Cultural Imaterial (PCI), em particular, no que concerne às ações que

// Programa Organizada pela Spira, a Feira do Património conta com uma forte programação cultural paralela que inclui atividades lúdicas e pedagógicas. EM DESTAQUE Talks: Tourism Talks Pro – Turismo Cultural e Criativo. Talks dedicadas a profissionais do Turismo, 9 de outubro, 15h às 18h30 Vídeos Seminário Internacional

“Aproximar” (Vídeo-Wall), Spira

"Internacionalização do

e Associação Mundo Património

Património", 10 de outubro, 9h

| “O Povo que Ainda Canta", A

às 18h30

Música Portuguesa a Gostar Dela Própria

Concertos Entre Salzburgo e Coimbra,

Exposições

Orquestra Clássica do Centro,

“O Mestre Alfaiate e o

10 de outubro, 21h15 | Fado de

Alquimista”, Cristina Rodrigues |

Coimbra, Grupo de Fado

“Cadernos de Memórias”,

Amanhecer, 11 de outubro,

Diários de Viagem de Eduardo

18h30

Salavisa.

// AGENDA CULTURAL

promovem a recuperação, divulgação e difusão dos instrumentos musicais tradicionais e que apostam na formação de novos tocadores, dando continuidade à transmissão de saberes antigos, aliando temas tradicionais à renovação de reportórios e à diversidade de estilos e de interpretações. Os mais recentes projetos centrados na revitalização da prática da Viola Beiroa e na construção da Viola Toeira são exemplo do papel da instituição no desenvolvimento de iniciativas que pretendem devolver às comunidades a consciência e os meios para uma salvaguarda partilhada do património coletivo português e do mundo. Ao longo dos três dias, a Inatel integrará o programa de atividades paralelas da Feira do Património, de que se destaca o Innovation Point como momento privilegiado para a apresentação do projeto educativo Arqueólogos do Imaterial, concebido e desenvolvido com o objetivo de promover a diversidade das práticas do património cultural imaterial no contexto da comunidade escolar. I

// FOTOLEGENDA José Frade

Braga

Leiria

Noite de Fado | 10 de outubro |

20º Acaso – Festival de Teatro| 1

Inatel Braga | Entrada livre

a 31 de outubro | Vários locais

Coimbra

Santarém

Ciclo de Teatro de Outono | 3, 10,

Ópera “Dido e Eneias” de Henry

17 e 24 de outubro | Vários locais

Purcell – Apresentação pública |

| Entrada livre

18 de outubro | Igreja Matriz da

Acordes – Concerto pela

Golegã | Entrada livre

Sociedade Boa União Alhadense | 25 de outubro | Alhadas | Entrada

Vila Real e Bragança

livre

Festival Regional de Teatro Inatel | Até 31 de outubro | Vários locais | Entrada livre

Inatel celebrou o Dia Nacional das Bandas Filarmónicas, no Largo da Sé de Faro, em parceria com a Direção Regional da Cultura, e apoio da Câmara Municipal de Faro.


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TL Outubro 2015 // INATEL SOLIDÁRIA // 9

“Na tradição portuguesa do humanismo e universalismo”

Inatel apoia integração de refugiados

Equipa de Leiria vence I Campeonato Nacional de Matraquilhos Miguel Carvalho, 36 anos, e

A Inatel vai apoiar a integração de famílias de refugiados. Trata-se do Programa Aylan, batizado com o nome da criança, de três anos, encontrada sem vida numa praia da Turquia

Marcelo Vicente, 33 anos, da Associação Cultural Recreativa e Desportiva do Louriçal, do distrito de Leiria, foram os vencedores do I Campeonato Nacional de

A

informação foi divulgada pelo presidente da fundação, Fernando Ribeiro Mendes, na abertura oficial da Cidade das Tradições, que decorreu, em setembro último, no Estádio 1.º de Maio, em Lisboa. Fiel aos seus valores, a Inatel volta a dizer presente numa crise humanitária: “O Programa Aylan será articulado com as autoridades da República, a Plataforma de Apoio aos Refugiados e o Conselho Português para os Refugiados com o objetivo de permitir um segundo passo da integração de refugiados em Portugal, designadamente, através das unidades hoteleiras da rede Inatel, desenvolvendo a sua capacitação e a sua inserção social e profissional na nossa sociedade”, afirmou, recordando o auxílio dado pela instituição aos refugiados da guerra do Kosovo na década de 1990. A iniciativa vai apoiar também as famílias na procura ativa de alternativas de trabalho para todos os seus membros adultos, e ajudar no processo de inserção na comunidade. “Continuaremos esta outra grande tradição portuguesa, a do humanismo e do universalismo do nosso modo de estar no mundo, enriquecendo por essa via, o nosso património cultural com o contributo dos que nos demandam, e combatendo, também por cá, a xenofobia e os nacionalismos de vistas estreitas que tanto têm prejudicado a autoridade moral da União Europeia”, concluiu. Via solidária… A Inatel já está em contacto com a Tutela, a Plataforma de Apoio aos

Matraquilhos Inatel, disputado no Parque de Jogos 1.º de Maio, a 26 de setembro, com a participação de 32 equipas. A partida teve transmissão em ecrã gigante, com relato em direto, recriando o ambiente de um estádio de futebol. Os finalistas derrotados foram Renato Carvalhinho, 23 anos, e Gonçalo Neves, 34 anos, em representação do Rancho Infantil Estrelinhas da Ponte do Areal, do distrito de Coimbra. Ao torneio seguiu-se o concurso O Programa Aylan é o contributo da Inatel para proporcionar a plena integração social dos refugiados, garantindo formação e acompanhamento às famílias

Refugiados e o Conselho Português para os Refugiados. “Vamos articular-nos com as entidades que acolherem os refugiados para depois prosseguir com a formação e emprego. Receberão formação turística, cultural, hoteleira e também em idiomas e depois, provando as competências adquiridas, terão contratos de trabalho nas mesmas condições que cá têm os portugueses. Neste momento – frisou Ribeiro Mendes – pensamos numa via solidária orientada para a autonomização e independência criando oportunidades de trabalho”. Com 16 unidades espalhadas pelo país e com um total de 800 camas, a fundação aproveitará os seus próprios recursos, nomeadamente, os cursos internos de formação em hotelaria, para formar os refugiados nesse âmbito, incluindo formadores em língua portuguesa e inglesa. Prevê-se que esta fase decorra durante seis meses, na qual a Inatel

disponibilizará todo o apoio material e psicológico a estas famílias, em termos de formação e tentará encontrar junto dos estabelecimentos de ensino locais, condições para que as mesmas possam ser acolhidas no seio estudantil, contribuindo-se desta forma para a formação pessoal de cada criança e jovem. As fases seguintes serão da responsabilidade das unidades hoteleiras que os acolherem, sendo que a Inatel garantirá sempre o seu apoio a estas famílias. Os responsáveis das unidades hoteleiras irão ajudar a encontrar soluções de emprego e de habitação para cada uma das famílias que forem acolhidas. Em conclusão, o Programa Aylan será o contributo da Fundação Inatel para proporcionar a plena integração social dos refugiados dos países em guerra, garantindo formação e acompanhamento às famílias associadas a este programa. Sem esquecer que a fundação possui um veículo de extrema importância, a sua massa associativa será chamada a participar, nomeadamente, através de sessões de informação, para que todos possam participar ativamente neste acolhimento nacional. I

“Youtubers 2015”, uma mostra de vídeos criativos de curta duração, que foram votados em tempo real pela plateia, para eleger os vencedores nas categorias de Artes, Desporto e Humor. O encerramento da noite ficou a cargo dos humoristas Eduardo Madeira e Manuel Marques, com um espetáculo de stand up comedy. Esta iniciativa solidária, cuja receita reverteu para o projeto social da Fundação Inatel “Mealheiro Solidário”, teve uma assistência de meio milhar de espectadores, entre outros, Fernando Ribeiro Mendes, presidente da Inatel, e Vítor Fonseca, Selecionador Nacional de Matraquilhos. O evento teve a parceria da Ticketline e colaboração da Associação de Matraquilhos do Distrito de Lisboa.


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TL Outubro 2015 // DESPORTO PARA TODOS // 11

“EstrelAçor UltraTrail” uniu Linhares da Beira e Piódão

Semana Europeia do Desporto A Fundação Inatel, no âmbito da promoção da atividade física pela população sénior, associou-se às comemorações da 1ª Semana

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primeira edição do “EstrelAçor UltraTrail”, organizada em agosto pela Funda ção Inatel e o CCD Associação O Mundo da Corrida, uniu as Aldeias Históricas de Linhares da Beira e Piódão. As dezenas de participantes percorreram 180 km através das Serras da Estrela e do Açor, totalizando mais de 7200m de desnível acumulado positivo, com destaque para as passagens pelo Alto da Santinha (a cerca de 1600m), Monte do Colcurinho (a mais de 1200m), Pico Cebola (a 1400m) e Torre (a 1990m). Com a primeira Base de Vida (Freguesia de Valezim), os três primeiros atletas chegaram com pouco mais de cinco horas de prova. A vantagem foi evidente para os restantes participantes, sendo que na segunda Base (Piódão) o grupo da frente era composto por dois atletas (com mais de uma hora do que o terceiro). Na passagem pela terceira Base (Manteigas) o atleta Luís Mota liderava isolado a prova, chegando à meta num tempo impressionante

Europeia do Desporto, numa parceria com a Associação Seawoman que organizou o evento “Vela +”, no passado dia 10 de setembro, na Marina do Parque das Nações, aberto a todos os participantes com mais de 55 anos. Durante a manhã teve lugar o baptismo de vela enquanto paralelamente decorreram aulas de coordenação motora e de zumba. À tarde a “Seawoman” proporcionou um passeio, com alguma adrenalina, para as dezenas de participantes, incluindo convidados de todas as instituições envolventes.

de 28 horas e 7 minutos, seguido de José Faria e José Manuel Silva. Para além da ‘prova-rainha’, esta primeira edição teve outras provas de distâncias mais curtas e menos complicadas para o atleta comum. As provas com 42 e 22 km, que também partiam de Linhares da Beira, e uma caminhada de 15 km, com partida de Folgosinho, foram realizadas no último dia, permitindo que a chegada dos atletas de todas as distâncias fosse acontecendo ao longo desse mesmo dia. Com

esta iniciativa – um percurso tanto espetacular como difícil –, os organizadores propõem-se criar uma prova de referência em Portugal, que cative portugueses aventureiros e preparados, e capte mais atletas internacionais. As quatro unidades hoteleiras da Fundação Inatel associadas à prova, Linhares da Beira, Piódão, Manteigas e Vila Ruiva, são, registe-se, um excelente cartão de visita para todos os atletas nacionais e os que visitam o nosso país. I

O projeto “Vela +” é um programa de intervenção social na área de desporto e lazer, financiado pelo Instituto Português do Desporto e Juventude no âmbito do Programa Nacional do Desporto para Todos.

Desporto em Évora, Beja e Faro Na época 2015/2016, os distritos de Beja, Évora e Faro vão dar continuidade a diversas modalidades: Basquetebol, Futebol 7, Pesca, Ténis de Mesa, Voleibol e Voleibol Praia.

Milhares de visitantes na Feira Alternativa de Lisboa

Recorde-se que o desporto promovido pela Inatel nos distritos alentejanos e algarvio, durante a época de 2014/2015, movimentou cerca de 1700 atletas. Évora teve competições de Futebol

O

Parque de Jogos 1.º de Maio, em Lisboa, voltou a receber a 11.ª edição da Feira Alternativa de Lisboa, sob o lema “Porque a Vida é Agora – Be More Be Happy!”, que decorreu de 4 a 6 de setembro último. Durante três dias o Parque vibrou com milhares de visitantes neste evento considerado pioneiro, e maior a nível nacional, nas áreas da saúde e bem-estar, medicina e terapias alternativas e complementares, alimentação natural, artesanato ambiental, turismo rural, ecologia e sustentabilidade. Workshops, palestras, demons-

11, Tiro ao Alvo e Futebol de Praia, além da Ginástica de Manutenção e a Zumba, esta última com cariz solidário. Em Beja, onde o número de participantes foi mais elevado, realizaram-se torneios de Futebol 11 e Tiro ao Alvo e Ginástica de Manutenção. Faro, por seu turno, destacou-se na Liga de Futsal com a participação de 16 associações desportivas.

trações étnicas e culturais de várias regiões do mundo, espetáculos de música e dança completaram a programação, promovendo um ambiente de interculturalidade e partilha num espaço inspirador, de co-

nexão, interação e celebração em harmonia com os ritmos da natureza. Esta iniciativa que tem o objetivo transformar positivamente o presente, o futuro e a vida, já tem encontro marcado para 2016. I

Inscrições e informações: Beja – Tel. 284318070 inatel.beja@inatel.pt Évora – Tel. 266730520 inatel.evora@inatel.pt Faro – Tel. 289898940/ inatel.faro@inatel.pt


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12 // VIAGENS // TL Outubro 2015

Na mágica e romântica Praga A capital checa é, cada vez mais, um dos destinos europeus mais procurados, pela sua riqueza histórica, património e vida cosmopolita. Praga é uma cidade mágica e romântica, sobretudo, no fim do ano

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inverno vai chegar à capital checa. É possível que haja neve. Praga é considerada uma ‘cidade-museu’ a céu aberto, declarada Património Mundial pela UNESCO. E quando está coberta de neve torna-se ainda mais fascinante. Nos primeiros dias de visita à cidade, iniciando pelo Castelo onde se vislumbram belas paisagens, salientam-se o Bairro do Castelo, a Catedral de S. Vito, grandiosa obra de arquitetura gótica, o Antigo Palácio Real e a famosa Ruela de Ouro. Atravessando o monumento mais famoso da cidade, a magnífica Ponte Carlos, do século XIII, que liga o Bairro Pequeno à Cidade Velha, temos várias opções: visitar o Palácio Kinski, de estilo Rococó,

subir à Torre da Câmara para admirar a vista panorâmica, ou passear pela Praça da Cidade Velha onde observamos o célebre Relógio Astronómico. Entretanto, se as temperaturas continuarem a descer é uma boa ideia tomar uma bebida quente, no Café Grand Praha, situado no prédio onde viveu Franz Kafka. Depois continuamos o passeio

// Viagens INATEL Fim de Ano em Praga Partidas: Lisboa | Porto | Faro De 29 dezembro a 2 janeiro de 2016 Desde: 999 €

pelo Bairro Judeu. Alguns passos levam-nos ao Museu de Artes Decorativas, onde o cristal da Boémia se destaca numa das maiores coleções de cristais do mundo. Encontraremos muito perto o Rudolfinum, edifício neo-renascentista, composto por diversas salas de concertos e uma galeria que mostra uma coleção de arte moderna. O Rudolfinum foi a sede do Parlamento da Checoslováquia, atualmente é a sede da Orquestra Filarmónica Checa, onde se realizam muitos concertos do famoso Festival de Música da Primavera de Praga. Ficamos com vontade de voltar nessa época. Durante todo o mês de dezembro, Praga tem um dos mais acolhedores mercados de Natal euro-

peus. Pequenas tendas de madeira onde se vende artesanato, decorações natalícias, brinquedos de madeira, iguarias locais que acompanham um vinho quente com especiarias. Aqui é possível fazer uma viagem através do tempo, ao espírito do Natal, regressar às memórias de infância, sorrindo ao som dos cânticos que se ouvem junto à Igreja de São Nicolau. No último dia do ano, é habitual celebrar-se a chegada do Ano Novo na Praça Venceslau. Um instante que pode ter tanto de romântico como de autêntico deslumbramento. À noite, a atmosfera criada pelas iluminações que envolvem os belos edifícios de Praga permanece na memória por muito tempo. I


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TL Outubro 2015 // LAZER // 13

// A VIAGEM DA MINHA VIDA

Katia Guerreiro “Precisava de fazer as pazes comigo” Cada pessoa é um mundo construído de viagens. De geografias interiores e exteriores. De sonhos. Memórias. Sabores. Aromas. E afetos. Olhamos para os lugares e para as pessoas com a bagagem que trazemos no interior. Fernando Pessoa dizia que “as viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos”. Katia Guerreiro fala-nos dos Açores e da viagem que a apaziguou

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asceu na África do Sul, foi para S. Miguel com onze meses e veio para Lisboa nos tempos da faculdade. Katia Guerreiro tem levado a música e a alma portuguesa aos quatro cantos do globo. Já visitou cerca de 60 países dos cinco continentes. Conhece quase meio mundo, mas é aos Açores que precisa sempre de regressar. A fadista diz que é a ‘mão de Deus posta na terra’, por não ser comparável com nada do que viu. É onde está o seu ninho. Talvez por isso não lhe seja difícil eleger S. Miguel como a viagem da sua vida. Lembra-se bem dos momentos vividos na ilha que lhe devolveram um sentido para a existência. Quando estava a terminar o 3.º

ano de Medicina sentiu que devia partir sozinha para se reencontrar. Aterrou na terra que diz ser a sua. Deixou-se ir à descoberta de cantos e recantos que nem sabia que existiam. Cortou em estradas que desconhecia e parou em lugares onde contemplou a natureza, que lhe parecia segredar que aquele era o caminho a desbravar. Foi longe assim. Abriram-se as fronteiras do mundo interior. Num fim de tarde, depois de ir ao Pico da Barrosa, o ponto mais alto da ilha, desceu para a Ribeira Grande e, diante dos seus olhos, tinha o sol a pôr-se. “Foi uma das imagens mais marcantes e mágicas. Queria ficar ali parada no meio da estrada, não deixando que nada me perturbasse. Escrevi sobre

isso nos meus cadernos. Falava da paz que recuperei naqueles instantes de descida para a Ribeira Grande. Era o que procurava nessa viagem.” Katia recorda-se de estar demasiado cansada, naquele ano. Impôs a si própria uma série de regras rígidas para melhorar os resultados dos estudos: “Tornou-se tudo muito duro. Fez-me mal esse rigor. Para conseguir fazer os exames, decidi

“Sempre que volto, vou descobrindo coisas novas. É uma terra que não se esgota e não nos esgota. Tem uma beleza natural infindável” Pedro Ferreira

que teria de me harmonizar com o mundo. Fui para os Açores e acabei por prolongar a viagem. Precisava de fazer as pazes comigo.” É a S. Miguel que vai quando precisa de forças para prosseguir. “Vou lá regularmente porque agora sei que é ali que recupero energias. Sempre que volto, vou descobrindo coisas novas. É uma terra que não se esgota e não nos esgota. Tem uma beleza natural infindável. O mais interessante é deixarmo-nos perder, não irmos nos itinerários traçados e, de repente, entrarmos em sítios paradisíacos que não estão marcados nos pontos turísticos.” Apesar de ir à procura de novos caminhos, precisa de voltar aos lugares de eleição: “Tenho de ir à Lagoa do Fogo – aquela lagoa é minha, qualquer dia coloco lá uma placa a dizer que me pertence [risos], tenho de subir ao Pico da Barrosa, tenho de experimentar sabores que me fazem falta. Tenho de comer bolos lêvedos, maçaroca cozida nas Furnas, filetes de abrótea, carne, queijo fresco… A gastronomia também faz parte da viagem.” Para lá de tudo isso, os lugares tornam-se especiais porque têm gente dentro: “Preciso de ouvir aquele sotaque, que recupero quando lá estou.” Em Lisboa, por vezes, recebe telefonemas que lhe trazem essa fonética de volta. É uma viagem interior aos sons que lhe são familiares. A sua casa está repleta de memórias que a ligam à ilha. E que alimentam o espírito de regresso.I Sílvia Júlio


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14 // TEMA DE CAPA // TL Outubro 2015

Investigadores defendem

Lazer todo o ano Ter tempo livre nem sempre é sinónimo de lazer. E não é preciso estar de férias para apanhar o comboio das experiências novas que enriquecem as nossas vidas. Todos os dias são oportunidades para diversificar o que andamos a fazer Por Sílvia Júlio (texto) e José Frade (fotos)

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o conto infantil “A cigarra e a formiga”, célebre fábula popularizada por La Fontaine, contrapõem-se dois modos de vida. A cigarra canta durante o verão, a formiga trabalha para se acautelar durante o inverno. Tanto a formiga como a cigarra representam dois papéis opostos que podem ser assumidos como objetivos de vida, mas limitam o desenvolvimento da experiência humana e os resultados obtidos em função de cada escolha. “À formiga – observa Teresa

Freire, coordenadora do Grupo de Investigação para o Funcionamento Óptimo (GIFOp) e professora na Escola de Psicologia da Universidade do Minho – falta a vivência de um tempo de ‘não-trabalho’ em que outros interesses podem emergir e com isso um maior conhecimento de si e de outras fontes de bem-estar; à cigarra falta igualmente a vivência de um tempo estruturado pelo trabalho, em que também o conhecimento de si pode ser desenvolvido numa outra dimensão e competência. É na articulação de papéis, na diversidade de atividades e contextos, que as experiên-

cias de vida se podem tornar fonte de desenvolvimento”. Opõe-se labor e lazer, ócio e negócio, semana e fim de semana, dias úteis e dias de descanso, trabalho e férias. E o lazer pode ser transversal em tudo o que se faz. Os especialistas desta área de investigação defendem que a vida pode e deve ser encarada como uma fonte inesgotável de oportunidades e experiências, de momentos e atividades que nos ajudam a sentir melhor em múltiplas circunstâncias. Labor/Lazer As experiências ótimas e de bem-

estar podem ser vivenciadas mesmo no trabalho. Como sublinha Rui Telmo Gomes, investigador do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia – Instituto Universitário de Lisboa (CIES-IUL), “há formas de lazer que já comportam algumas atividades produtivas. Coisas que se fazem por prazer como, por exemplo, as profissões artísticas e culturais. É a ideia de que podemos trabalhar e simultaneamente divertirnos. As fronteiras diluem-se”. “O lazer – acrescenta o sociólogo – é uma categoria que está em redefinição. A formulação mais imediata é tudo o que se opõe a tra-


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TL Outubro 2015 // TEMA DE CAPA // 15

balho, embora já tivéssemos torpedeado essa definição a preto e branco. No presente, temos de pensar que o lazer também é feito de atividades que podem não ser remuneradas no imediato, mas são produtivas do ponto de vista da realização pessoal, e podem mesmo vir a tornar-se fonte de rendimento. Algumas competências pessoais podem treinar-se numa esfera de lazer e terem uma aplicação produtiva. O lazer não é uma coisa estanque, do tipo on-off, ora estou a trabalhar, ora não estou”. Sem estar circunscrito a um tempo ou lugar, o lazer pode ser

Os especialistas desta área de investigação defendem que a vida pode e deve ser encarada como uma fonte inesgotável de oportunidades e experiências

vivido em qualquer momento, até mesmo depois de um dia de trabalho, no percurso que nos leva a casa. Iniciativa e seleção “Se vamos de carro, ou se paramos numa fila, temos várias opções: ou nos resignamos ao aborrecimento e à perda de tempo; ou aproveitamos esse tempo para dialogar com quem vai ao lado (se for o caso); ou ouvimos a música que toca na rádio; ou refletimos sobre algo que até então ainda não tínhamos tido tempo para o fazer; ou aproveitamos para planear o dia seguinte; ou pensamos sobre o que fazer na próxima

oportunidade em que efetivamente o tempo seja ‘livre’. Ou simplesmente assumimos que afinal podemos aproveitar o momento para descansar... ”, lembra Teresa Freire. A investigadora salienta que ter tempo livre não garante uma experiência de lazer ótima, no sentido de alcançar mais harmonia. Como sabemos, deixar o tempo correr passivamente é o contrário da iniciativa e da escolha. A seleção das atividades é crucial, tendo em vista a otimização das experiências, para um melhor desenvolvimento humano. “O importante na escolha é sabermos o que vão representar para nós:


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16 // TEMA DE CAPA // TL Outubro 2015 DR

porque gostamos, porque não nos conhecemos nessa atividade, porque queremos fazer algo completamente diferente do trabalho, porque queremos experimentar coisas novas... Cabe a cada um escolher os momentos, as atividades e as pessoas que nos permitem concretizar este bem-estar que é individual, mas também social e comunitário.” A investigação diz-nos que fatores como ter iniciativa ou sentir que se consegue fazer algo que se escolheu, são fontes de bem-estar e de gratificação. E Teresa Freire adverte: “Quando fazemos uma atividade que gostaríamos de repetir, percebemos não apenas que é boa para nós, mas também que a realização dessa mesma atividade, ao longo do tempo, pode desenvolver mais competências que nos farão sentir gradualmente mais capazes. Falar em desenvolvimento humano é também falar em experiências saudáveis, em que o risco para a saúde é minimizado, porque, por vezes, associa-se à ocupação dos tempos livres atividades e comportamentos que comprometem a saúde física e mental”. Diversificar Não há uma lista única para o lazer. O que conta são as experiências satisfatórias quando nos envolvemos, por opção, em ativi-

dades que nos fazem sentir bem. Quais são os hábitos dos portugueses no lazer? – é a pergunta que se impõe. “Temos observado duas tendências que são contraditórias”, começa por responder Rui Telmo Gomes. “Há – acrescenta – uma tendência crescente dos lazeres da população portuguesa serem preenchidos com um leque de atividades mais diversificadas. No entanto isto acontece lentamente e menos do que nos outros países europeus. Há também uma franja importante para quem a televisão é a referência monopolizadora, mas crescentemente a população mais qualificada e jovem combina televisão e atividade lúdica ligada às novas tecnologias com práticas de saída, passeios, jantares com os amigos… Tendem a aumentar as práticas culturais específicas, como o cinema. O teatro tem algumas oscilações. Juntamos a tudo isto a prática desportiva, a ida ao ginásio, a produção de imagem… Nas últimas décadas tem havido um claro aumento de atividades de lazer, com alguma quebra nas que implicam mais gastos devido à crise”. Os índices de escolaridade que, apesar de terem melhorado assinalavelmente, ainda distam dos países do norte e centro da Europa – o que se reflete também na área do

“Quando fazemos uma atividade que gostaríamos de repetir, percebemos não apenas que é boa para nós, mas também que a realização dessa mesma atividade, ao longo do tempo, pode desenvolver mais competências que nos farão sentir gradualmente mais capazes” Teresa Freire Coordenadora do GIFOp

“Há uma tendência crescente dos lazeres da população portuguesa serem preenchidos com um leque de atividades mais diversificadas. No entanto isto acontece lentamente e menos do que nos outros países europeus” Rui Telmo Gomes Investigador do CIES-IUL

lazer, até porque muitas dessas atividades estão associadas à qualificação académica e profissional. Rui Telmo Gomes aponta para a necessidade de se fazer mais coisas – e diversificadas – fora de casa, onde se cruzam pessoas e mundos diferentes, para um maior enriquecimento social. “Há uma desigualdade nessa diversificação de atividades. A dificuldade está em fazer chegar essa diversidade às pessoas que conhecem pouco ou até podem ter pouca curiosidade e vão ficando cristalizadas.” Tudo isto acaba por espelhar o fraco envolvimento da população no movimento associativo, se compararmos com outros países. “Não sair de casa tem repercussões até do ponto de vista político. A participação cívica é relativamente frágil, e o envolvimento em atividades culturais que façam sair de casa é congruente com esta fraca participação cívica e política.” O lazer de qualidade implica uma postura ativa de conhecimento dos contextos e das oportunidades que existem. Daí a iniciativa ser tão importante. Teresa Freire remata: “Hoje as cidades oferecem muitas oportunidades de envolvimento, muita diversidade de atividades sem custos acrescidos. Por vezes as oportunidades estão lá, falta ir ao encontro delas...” I


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18 // LAZER // TL Outubro 2015

// MESA PARTILHADA COM...

Vasco Lello Chef responsável pelo restaurante Flores do Bairro, recorda-se de uma receita que a sua avó fazia

Receita // SOPA DE TOMATE Para 4 pessoas: 2 kg de Tomate maduro descascado e sem sementes; 1 Cebola média picada; 2 dentes de Alho picados; ¼ Pimento vermelho médio em tiras; ¼ Pimento verde médio em tiras;

“É

uma receita de verão, que já deixa saudades, na altura do tomate maduro e dos figos, ingredientes principais, e que grandes memórias me trazem. Os figos, guardados sobre folhas de figueira num prato de esmalte e os tomates dispostos sobre um lençol no chão de uma sala, que estava sempre vazia, cujo cheiro a fruta madura invadia toda a casa. Era o cheiro do verão no Alentejo! Mas, também pode ser preparada no outono. É uma receita simples e com ingredientes parcos, frugal mas que, respeitando os tem-

75 ml de Azeite; 300 gr de

Junte o tomate, descascado e

Toucinho curado em fatias; ½

cortado aos cubos pequenos.

Pão Alentejano duro; Orégãos; 8

Esfregue o ramo de orégãos

Figos capa rota; 4 Ovos.

entre as mãos diretamente por cima do tacho e deixe apurar.

Comece por fritar fatias finas de

pos certos é mais do que a soma de todos os elementos. É, sem dúvida, uma boa representante da brilhante simplicidade desta região e dos costumes do seu povo. Lembra-me a minha avó e a minha mãe, a satisfação de cozinhar com elas e partilhar uma simples refeição em família e com amigos”. I

Tempere com sal e deixe

toucinho no azeite até ficarem

cozinhar. Junte água e deixe

crocantes. Escorra em papel

fervilhar. Escalfe aqui os ovos.

absorvente e reserve. Refogue

Retifique de sal.

neste azeite a cebola e o alho

Sirva em prato fundo, sobre

até ficarem translúcidos.

fatias finas de pão alentejano

Adicione o pimento em

duro, acompanhando com o

pequenas tiras e deixe por mais

toucinho frito e com os figos

algum tempo em lume médio.

descascados.

Bairro Alto Hotel - Praça Luís de Camões, 2 – 1200-243 Lisboa – Tel. 21 340 8200


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TL Outubro 2015 // LAZER // 19

// JARDIM DOS TÍTULOS

Possidónio Cachapa “Os livros deixam sementes...” a relva de um jardim, talvez imaginário, sentamo-nos junto de diversos livros que queremos ler, com calma, para que os silêncios entrem nas páginas. Algumas vezes, porém, um diálogo com os autores sobrepõe-se aos sons dos pássaros. Este mês fomos ao encontro de Possidónio Cachapa, escritor, realizador, argumentista e professor universitário. Autor de diversos romances, entre outros, Materna Doçura, Viagem ao Coração dos Pássaros, O Mar Por Cima. Qual é o seu jardim de Lisboa? Há vários. Às vezes são recantos ou apenas relvados que atravesso. Diria o jardim do Campo Grande. Depois de arranjado. Ficou bonito, transformado em parque, depois de anos em que acobertava vândalos e tarados. Atravesso-o quase todos os dias e faço muitas vezes, ali, atividades com alunos da faculdade que têm das árvores e das plantas, até esse dia, uma noção de cenário. Quais os sete títulos que gostaria de semear nesse espaço verde? Sete? Um por cada dia da semana? Seria muito. Escritos por mim, diria “Viagem ao Coração dos Pássaros” e nem preciso de passar do título para que se perceba o porquê. Ou

Ornella Ascolese

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o livro de crónicas “O Meu Querido Titanic”, onde Lisboa está sempre presente. De outros, só me ocorre poesia. Do Ruy Belo, do Herberto Helder, de alguma Sophia. E talvez alguns poemas do Al Berto, que falam do ato de amar. E a relva e as árvores são também isso. Locais de amor. Para que os pensamentos desses livros germinem e floresçam, o que será necessário acrescentar ao seu jardim? Mais silêncio. O Campo Grande é

um percurso de corridas de carros a fugir da cidade, sem proteções sonoras de nenhum dos lados. Não há paz sem silêncio para escutar a Natureza e o Tempo. E, ao contrário do que muitos gostam de apregoar e acreditar, é possível e desejável, diminuir a poluição sonora das cidades. Se fosse o jardineiro responsável por, apenas, um recanto escolheria cuidar do ‘canteiro dos poetas’ ou do ‘canteiro dos romancistas’?

Teria de ser o dos romancistas, aquele em que me ‘formei’. Em todos os outros fiz apenas workshops ligeiros, digamos assim. Isto é, incursões breves sobre territórios difíceis e que admiro demasiado para cuidar de ânimo leve. Mas desconfio que o aroma do canteiro da poesia me iria entontecer de forma frequente. Se criasse o seu próprio canteiro, qual seria? O canteiro dos homens simples. Aqueles que vivem e pensam como se fossem uma árvore. Existir com plena consciência do nascer e do pôr do sol. Se houvesse liberdade para levar animais que o acompanhassem na escrita… Cães. Muitos. Gosto de gatos e vivo com eles, mas os jardins foram feitos para os cães e para os homens que gostam deles. Os cães são crianças de língua de fora e raras birras. Acha que os livros morrem de pé como as árvores? Acho que deixam sementes, como as árvores. Por isso, muitos nunca morrerão. Apenas ficarão na terra à espera do tempo certo para nascer e florir. E os frutos das primaveras antigas voltarão a amadurecer debaixo do novo sol. I Teresa Joel


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20 // LAZER // TL Outubro 2015 // OS CONTOS DO ZAMBUJAL

Monólogo do inocente

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ue se passa, Margarida? Assusta-me essa expressão no teu rosto, torcido, a ruga cavada entre os olhos que nem me olham e, sobretudo, ver-te afogueada a fazer as malas. Fazer as malas pode ter significados diferentes, desde o alegre início de uma viagem turística à despedida de um lugar como esta casa e de alguém como eu. Pois é isto que deduzo, pelo teu mutismo e todo esse ar de quem dá de frosques – desculpa usar estas palavras rasteiras, mas antes estas que o teu silêncio hostil. Tudo em ti revela-me um corte na corrente que nos uniu estes oito meses, que eu diria de felicidade plena. Ou não? Fala, mulher, acusa-me de alguma razão de queixa, eu não consigo imaginar, sei sim, que os piores desentendimentos nascem de mal entendidos. Terá sido por me teres visto a olhar para as pernas fabulosas de Hortênsia Júlia, expostas e chamativas de atenção por ela andar com aqueles minúsculos calções, a moda e o calor recomendam que exiba o que tem de melhor, sem desfazer naquele palminho de cara e nos seios duros, posso dizêlo por que os encostou ao meu braço quando se dobrou para apanhar a chave do carro caída no chão. Mas agora diz-me, ao menos responde a esta perguntinha elementar – não viste também tu o pernão da Hortência emergindo da miudeza do calção? Se viste foi porque olhaste. A diferença fatal foi que também olhaste para mim a ver se eu olhava para elas, as pernas, senti-te logo tensa, crispada, que absurdo, Margarida! Neste Verão excelente que felizmente finda, só com uma venda nos olhos deixamos de ver soberbos pares de pernas de mulheres percorrendo as ruas da cidade, natural, é moda e representa liberdade, tristes eram

os tempos em que as coitadas não podiam mostrar nem os artelhos. As pernas de Hortênsia? Confesso que as admirei num relance, posso até ter prolongado essa admiração por uns dez minutos. Que mal tem? Ou então embezerraste por causa daquele gesto amigável dela deixando correr a mãozinha pela minha coxa mais próxima, e que tu observaste espreitando por debaixo da mesa. Mas isso quis dizer o quê? Simplesmente que estava distraída, e qualquer pessoa, quando se distrai, nem sabe onde mexe. Repara, tudo isto é insignificante e não justifica a trabalheira de fazeres as malas. Ah! Anteontem à noite fui levar uns livros a casa da Hortênsia, esqueci-me de te dizer, nem previa que demorássemos tanto à conversa, quando saí encontrei a tua outra amiga, Narcisa, moram no mesmo prédio. Ela saía para o trabalho e admirou-se – “Vasquinho, tu por aqui a esta hora?”. Aposto que te contou. Bem feita, eu devia ter contado logo, de consciência tranquila,

quem não deve não teme. Ouveme, Margarida. Ouve-me e interroga-me acerca do que provocou em ti essa desconfiança, parva. Espera! Andaste a bisbilhotar no meu telemóvel? Desculpa, acho indecente, impróprio de uma mulher de princípios, como tu. É invasão de privacidade, eu seria incapaz de pesquisar no teu telemóvel com quem falas e te manda sms. Agora compreendo. Esta manhã leste, antes de eu ter lido, a estranha mensagem assinada por Ofélia: “Estou outra vez livre, espero-te”. Que me interessa a mim que a Ofélia esteja livre e me espera? Pensa, Margarida, pensa. Essas palavras só teriam alguma gravida-

Confesso que as admirei num relance, posso até ter prolongado essa admiração por uns dez minutos. Que mal tem?

de se fosse eu a enviá-las para ela e não o contrário. Olha, nem responde. Ela é gira mas um bocadinho chata, a última vez que a vi foi num restaurante em Cascais, veio logo meter-se comigo, até a Hortênsia, mulher paciente e tolerante, se chateou e disse: “Vamos embora, Vasco, estaremos mais à vontade na minha casa.” Ofélia? Deixa-me rir. Mas não me apetece rir quando te vejo a fazer as malas. Então, oponho-me, quem faz as malas sou eu, a casa é tua. Hei-de arranjar onde dormir, mando já uns sms informando da situação, o primeiro à Hortênsia, ela é amiga de peito, pode é ter agora a visita dos pais, talvez vá directo a casa da nossa outra amiga Verónica, é uma jóia e sempre gostei daquele quarto enorme com vista para a mata. E tudo isto por causa de uma mensagem maluca da Ofélia? Ai, ai, Margarida, que disparate, e o mais estranho é que não és só tu, a Hortênsia e a Verónica também têm ciúmes da Ofélia. É a vida, sou sempre vítima de mal entendidos. I José Frade


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TL Outubro 2015 // LAZER // 21

// CULTURANDO

Podemos viver sem o Outro? “Uma cidade é multicultural quando irrompem no seu mapa lugares e actividades propositadamente lúdicas e culturais da responsabilidade de grupos minoritários.”1 s conceitos de “nação”, “povo”, “cultura nacional” são, nas narrativas nacionais, unidades deslocadas da sua modernidade e pluralidade, fixadas num espaço de significação arcaico e mítico solidificado pela ideia de tradição e apoiado por metáforas fortemente simbólicas e afectivas, também elas deslocadas no tempo, remetidas para um passado homogéneo, unificado e reificado, inventado, que marginaliza o presente. A dispersão dos povos, as migrações em massa no ocidente, a expansão colonial para o oriente, a formação das diásporas, a partir do séc. XIX, transformaram-se num momento de reunião, num outro tempo e lugar, nas nações dos outros: reunião de exilados, emigrantes, refugiados, contratados, acantonados, de culturas e idiomas estrangeiros ou de fluência sinistra da língua do Outro, reunião de discursos, de memórias, de outros mundos. Como escreveu Homi Bhabha, uma nova teoria da nação terá pois de ser viajante se quer localizar a cultura da nação moderna ocidental. Nas sociedades contemporâneas, a presença do Outro tornou-se inevitável gerando não a consciência dos nossos condicionamentos culturais mas processos de incompreensão recíproca, limitando a partilha, negligenciando a complexidade das relações interculturais e ganhando expressão em formas renovadas de

O

racismo e xenofobia. Nos discursos oficiais proliferam vagos e laudatórios conceitos de multiculturalidade e lusofonia, anunciados mais como estratégias de marketing das cidades e menos como ideias políticas objectivadas para o desenvolvimento da democracia e da cidadania para todos os cidadãos. Neste deserto comunicacional, o Festival Todos – Caminhada de Culturas apresenta-se imperativo e necessário, como proposta de celebração da interculturalidade através da arte, de combate à ideia de bairro-gueto associada à imigração e de abertura da cidade a todas as pessoas de todas as partes do mundo. Caracterizando-se como um “festival nómada na própria cidade, migrando de bairro para bairro e de três em três anos”, obedecendo ao mote “viajar pelo mundo sem sair de Lisboa”, o festival deslocou-se este ano para o bairro da Colina de Sant’Ana, onde se fixará até 2017, para promover a aproximação entre moradores e espectadores, entre culturas e nacionalidades distintas, dando início à aventura de visitar e estudar o território do Campo Mártires da Pátria sob o olhar da interculturalidade, revelando o mapa complexo de culturas que o tempo aqui desenhou com comunidades asiáticas, africanas e de leste. Mais festivais de (e para) Todos precisam-se! I Sofia Tomaz [A autora escreve de acordo com a antiga ortografia] 1

António Pinto Ribeiro,

“Multiculturalismo: entre Hong Kong e a Mouraria” in Questões Permanentes, Lisboa: Edições Cotovia, 2000.


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22 // EM CENA // TL Outubro 2015

Um sedutor no Trindade-Inatel Don Juan, ou Don Giovanni, é uma personagem que desde que Tirso de Molina a criou em 1630 foi objeto de constantes revisitações teatrais implicando autores estrangeiros como, entre outros, Molière, Goldoni, Dumas, e em Portugal, António Patrício, Natália Correia e José Saramago Direitos Reservados

A

ficção faz de Don Giovanni um homem que teve a vida que sempre sonhou. Sedutor irresistível, ateu convicto, semeou sem compaixão um amor infértil, deixando milhares de mulheres a suspirar por uma paixão que nunca foi correspondida. Como contrapondo temos Leporelo, o seu, cada vez menos, fiel aio, que reprova a vida de Don Giovanni, criticando os seus costumes, prevendo-lhe um final infeliz. Tudo isto é agravado pela morte do Comendador, que se suspeita ter sido assassinado pelo próprio libertino, surpreendido numa das suas investidas noturnas pelos quartos das doces donzelas. Don Giovanni irá ser confrontado com este crime e aí ocorre uma revelação surpreendente que evidencia o seu lado sedutor. A adaptação desta peça por Paulo Sousa Costa enquadrou-se no projeto final do mestrado de encenação na Escola Superior de Teatro e Cinema, teve coordenação de Carlos J. Pessoa e apoio dramatúrgico de Armando Nascimento Rosa. Paulo Sousa Costa trabalhou a partir de vários originais como “O Libertino Punido, ou seja, Don Giovanni”, de Lorenzo da Ponte, “O Sedutor de Sevilha e o

Convidado de Pedra”, de Tirso de Molina, “Don Juan ou a Festa de Pedra”, de Molière, “D. João e Julieta”, de Natália Correia, “D. João e a Máscara”, de António Patrício, e “Don Giovanni ou O dissoluto absolvido”, de José Saramago. Os atores são Ângelo Rodrigues, Liliana Santos, António Machado, Júlia Belard, Tiago Costa, Sérgio Moura Afonso, Carolina Puntel e Diogo Filipe. Produção Yellow Star Company. Em cena até

Ionesco revisitado Na sala estúdio sobe à cena um dos textos mais conhecidos de Eugène Ionesco, “A Cantora Careca”, que traz a história de duas famílias inglesas do pós-Guerra, decadentes e pertencentes à burguesia: os Smith e os Martin. O tema central está diretamente relacionado com a dificuldade de comunicação entre as pessoas. Não têm nada para dizer umas

às outras, ficando completamente desconectadas. Seres que deixaram de pensar, absorvidos pelo mundo da alienação, do autismo, da demência, da realidade virtual. Esta criação, feita com o apoio da Máquina Agradável, com cenário e figurinos de Tânia Franco, tem no elenco Alexandra Sargento, Andresa Soares, Fernando Rodrigues, João Cabral, Sofia Brito e Rogério Jacques e vai estar em cena de 15 de outubro a 8 de novembro (5ª a sábado às 21h45, domingo às 17h). I

No próximo dia 3 de novembro,

programação e a comunicação,

no The Place/London School of

pelas 18h30, no Salão Nobre,

visitando alguns projetos de dança

Contemporary Dance, no Laban

Madalena Victorino termina o ciclo

em que a experiência artística se

Centre/Goldsmith’s College,

Conferências do Trindade 2015,

desenvolveu num jogo de

University of London e na Exeter

iniciativa do Projeto Comunidade

intimidades e confrontos entre

University nos anos 70 e 80 no

que apostou no debate sobre a

artistas, territórios, pessoas e

Reino Unido. Criou no Centro

cultura e as artes contemporâneas.

espaços, sem haver o recurso ao

Cultural de Belém o primeiro

Em ‘Chão das Artes’, Madalena

enquadramento formal educativo.

espaço, em Portugal, de fruição

Victorino, reflete sobre o trabalho

Madalena Victorino estudou dança

artística internacional para um

desenvolvido nos últimos trinta

contemporânea, composição

público jovem e é também

anos, que abarca a criação, a

coreográfica e pedagogia das artes

programadora no Festival Todos.

25 de outubro, 4ª a sábado às 21h30, domingo às 18h.

// CONFERÊNCIAS DO TRINDADE


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TL Outubro 2015 // LAZER // 23

// ARQUITETURA DOS TEMPOS LIVRES

Pousada de Santa Marinha da Costa

Pousada de Santa Marinha da Costa (vista nascente)

A

reabilitação de um Mosteiro com alteração da função para Hotel/Pousada reflete a antítese da austeridade monástica e severa que considerou como um dos sete pecados mortais o lazer e disfrute do tempo livre, isto é, da preguiça de todos daqueles que pretendessem gastar tempo a percorrer o país, parando para descansar nas Pousadas que estrategicamente ponteavam o percurso. O Mosteiro de Santa Marinha da Costa, em Guimarães, chegou ao estado de ruína e ficou em condições de ser integrado na nova política do Estado Novo. Encabeçada por António Ferro desde 1939, que pretendia que o património arquitetónico nacional contribuísse para o engrandecimento e consolidação dos ideais do Estado Novo, de que fazia parte a salvaguarda dos edifícios considerados Património Monumental enquanto identidade nacional. Propagandeava-se uma “política de espírito” que visava engrandecer o país evocando as suas grandezas arquitetónicas do passado. Em 1972 o Mosteiro é comprado pelo Estado para o adaptar a Pousada e é convidado o arquiteto Fernando Távora para proceder à sua reconversão. Tratava-se do grande desafio de preservar mais de uma dúzia de séculos de história contidos num equipamento classificado. Com mão de mestre,

Távora transporta o passado para o nosso tempo. O refeitório do convento é reabilitado para sala de refeições e as celas transformadas em quartos. No Mosteiro, que pinta de branco, preserva todos os elementos significativos do passado e cria um novo corpo ao estilo moderno e rebaixa-o, ficando aninhado no terreno, para não retirar notoriedade ao Mosteiro e revesteo com madeira para realçar a diferença. Esta intervenção marca uma nova atitude no modernismo português que integra um diálogo entre a preexistência com respeito pelo seu passado, dos seus valores revelados através da arqueologia e da história e a integração desses valores, em diferentes estilos, na conceção da solução ao estilo moderno. Assim se inicia, se percorre e continua, em permanente transformação, a vida de um edifício durante séculos, na certeza de que mais séculos virão e com eles outras transformações. “Os homens fazem as casas, as casas fazem os homens”. Este é o argumento de Fernando Távora para manter o existente, integrando-o com as novas funções e necessidades de conforto, higiene e qualidade exigidos por um equipamento hoteleiro que foi inaugurado em agosto de 1985. I Ernesto Martins


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24 // LAZER // TL Outubro 2015

// TEMPO DIGITAL

// LÍNGUA NOSSA

Áudio mais puro

Uma famosa redundância

uantas vezes desejamos ouvir rádio ou gravações que possuímos nos nossos dispositivos digitais, sobretudo quando estamos em ambientes ruidosos e não conseguimos ter aquele som puro que desejávamos. Pois já é possível bloquear todo esse ruído exterior com os auscultadores in-ear BoseQuietConfort QC20. A tecnologia inovadora da Bose permite com dois microfones pequenos, colocados em cada auscultador, medir o ruído exterior e o som no interior. Os dados obtidos são analisados pelo microprocessador presente no módulo de controlo que está no fio dos auscultadores. Os cálculos são efectuados numa fracção de milissegundos e o ruído exterior é eliminado com sucesso. E a funcionalidade Aware, exclusiva da Bose, permite não só ouvir música sem interferências exteriores ou com um simples toque num botão, estar a par de tudo o que se passa à sua volta. Leves, pesando apenas 44 gramas, integram um microfone e um controlo remoto para atender chamadas ou interagir com o leitor de música. Para maior conforto os terminais em forma de cone adaptam-se de forma igual a todo o ouvido num ajuste seguro sem necessidade de forçar o equipamento para dentro dele.

Q

Mas podemos melhorar ainda mais a qualidade do som. Todos os dispositivos, quer sejam portáteis, smartphones, NAS ou mesmo servidores dedicados à reprodução de música, geram uma quantidade significativa de ruído e ressonâncias parasitas. Além disso, muitos computadores podem frequentemente contribuir com uma quantidade considerável de poluição no sinal que circula pelos cabos USB até ao sistema de áudio. E é sabido como os circuitos digitais comprometidos por ruído aumentam o jitter (ruído provocado por desfasamento temporal), resultando em distorção que cria um som que chega a ser irritante. Pois podemos ter áudio mais limpo e portanto mais agradável, usando um pequeno acessório USB chamado JitterBug, apresentado pela Esotérico. O seu duplo circuito actua como uma espécie de filtro sobre o ruído indesejado e as ressonâncias parasitas para oferecer música e diálogo mais limpos e apelativos. O resultado é um som mais claro e mais envolvente na música e vozes, resultando numa melhor experiência de áudio. Áudio digital puro e cristalino com o JitterBug da AudioQuest. I Gil Montalverne [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

“(…) dificilmente encontramos um dia em que o tema não seja abordado na imprensa escrita ou falada, sendo mesmo recorrente a sua utilização como principal tema de capa dos jornais e como notícia de abertura de telejornais.” [Corrupção, uma questão de atitude, António João Maia, Público, 6 Set. 2015, p. 37]

E

m epígrafe, com sublinhados meus, apenas dois dos inúmeros e mais ou menos ofensivos golpes que, todos os dias, por todos os meios, nos vão atingindo, através da avassaladora carga de mensagens de que somos indefesos alvos. Portanto, por se tratar de um mero exemplo, fique bem claro não me mover qualquer propósito de desconsideração pelo autor daquelas linhas. Atentem na expressão imprensa escrita. Não hesitem! Claro que se trata de um acabado e rematado pleonasmo, do mesmo calibre de descer para baixo! E, ainda na mesma frase, outra [imprensa], a falada? Bem, aí está-se perante uma total ausência de nexo… Porém, caros leitores, não havendo imprensa que não seja escrita, então, que razão apoiará tão evidente redundância, por um lado, e paradoxo, por outro? A verdade é que não há justificação plausível. Na realidade, ao dizer e escrever imprensa, o que se assiste é a uma substituição do conceito de comunicação social. Esta sim, é uma expressão absolutamente preferível que, por exemplo, concede a inequívoca possibilidade de articulação com escrito(a), áudio (registo oral, ao nível do que é falado), audiovisual, digital e electrónico(a). Afinal, se assim sucedesse, ao referir-se à imprensa, qualquer falante apenas estaria a pensar na comunicação social escrita, cujos

produtos são os jornais diários e periódicos, as revistas ou magazines, generalistas e especializados, a montante dos quais estão os profissionais do ramo, jornalistas e fotojornalistas, etc. Então, analogamente, o que entender como comunicação social falada, e/ou comunicação social áudio? Pois, tão somente, a rádio, produtora das emissões radiofónicas, com os seus trabalhadores, radialistas, locutores e restante pessoal afecto. Finalmente, como fazendo parte da comunicação social audiovisual, a televisão, a internet, os respectivos profissionais e produtos. Dir-me-ão que tais alternativas, apesar da correcção que lhes assiste, exigem a aplicação de um esforço de remediação que não valerá minimamente a pena. E assim sucederá na medida em que, já tão alicerçado e generalizado, o uso daqueles pleonasmo e paradoxo, vai contribuindo para alcançar o poderosíssimo, embora informal, aval da própria comunicação social… Acérrimo defensor daquilo que considero tão pertinente como praticável, jamais me renderei a argumentos que, abrangíveis pela lei do menor esforço – aliás, tão importante no que se relaciona com a evolução fonética – não se aplicam aos casos vertentes. Não, meus senhores, não me conformo! Quando, consciente ou inconscientemente, se diz ou escreve imprensa escrita, incorre-se em algo bem diferente. À falta de melhor designação, costumo classificar o banal fenómeno como manifesto da tão lamentável e lusa cultura do desleixo… I

João Cachado [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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TL Outubro 2015 // LAZER // 25

// ECRÃS

Cinema da exaltação Outubro traz às salas um punhado de filmes para todos os gostos assinados por realizadores veteranos como Ridley Scott, Robert Zemeckis, Terrence Malick, Jean-Jacques Annaud e Patricio Guzmán Perdido em Marte, de Ridley Scott | EUA, 2015, 2h10 Com: Matt Damon, Jessica Chastain, Jeff Daniels. Estreia a 1.

A vertente espectacular de Scott (“Alien – O 8º Passageiro” e “Gladiador”), o seu gosto pelos grandes temas da coragem e da luta pela sobrevivência, sobressaem em força nesta aventura de um astronauta abandonado acidentalmente em Marte, o planeta vermelho.

ma – põe em cena a história de dois refugiados franceses de passagem por Lisboa durante a 2ª guerra mundial. Não admira, por isso, que o filme (rodado num único décor) esteja contaminado por uma atmosfera sufocante e opressiva.

a vítimas do ex-regime chileno do general Pinochet. Filmado na Patagónia, o maior arquipélago do mundo. A Hora do Lobo, de Jean-Jacques Annaud | França / China, 2015, 2h01. Com: Shaofeng Feng, Shawn Dou,

Eu, o Earl e a tal Miúda, de

Ankhnyam Ragchaa. Estreia a 22.

Alfonso Gomez-Rejon | EUA, 2015,

Uma fábula espiritual, sumptuosa e comovente – crítica dixit – sobre o plano de irradicação dos lobos na Mongólia nos finais da década de 60 do século passado durante o auge da revolução cultural chinesa. Quem viu “A Guerra do Fogo” e “O Urso” sabe que Jacques Annaud é um cineasta da exaltação e da ode à vida, capaz de fazer o espectador perder o fôlego.

1h45. Com: Connie Britton, Jon Bernthal, Molly Shannon. Estreia a 15.

The Walk – O Desafio, de Robert Zemeckis | EUA, 2015, 1h40 Com: Joseph Gordon-Levitt, Ben Kingsley, Ben Schwartz. Estreia a 8.

O realizador de “Regresso ao Futuro” evocando o famoso artista gaulês Philippe Petit’s que ousou, em 1974, atravessar as torres gémeas de World Trade Center a caminhar (e a dançar, pasme-se) sob um cabo de aço.

Uma comédia sobre a amizade centrada num jovem estudante do ensino secundário, introvertido e demasiado discreto, que é pressionado pela mãe a visitar uma antiga colega de infância a quem foi diagnosticada leucemia. Prémios do Júri e do público no festival de Sundance.

Cavaleiro de Copas, de Terrence Malick | EUA, 2015, 1h58

Pan: Viagem à Terra do Nunca, de

Com: Christian Bale, Natalie

Joe Wright | EUA, 2015, 1h51

O Botão de Pérola, de Patricio

Portman, Cate Blanchett.

A Uma Hora Incerta, de Carlos

Com: Hugh Jackman, Levi Miller,

Guzmán | França /Chile / Espanha,

Estreia a 29.

Saboga | Portugal / França, 2015,

Jimmy Vee, Cara Delevingne.

2015, 1h22. Documentário. Estreia

Com: Joana Ribeiro, Paulo Pires,

Estreia a 15.

a 22.

Judith Davis, Pedro Lima, Joana de

Revisitação da obra de literatura clássica criada por J.M. Barrie: as aventuras de um órfão na terra mágica e divertida de Neverland e dos perigos que a assolam, designadamente o terrível Barba Negra… Filme para toda a família.

Uma história metafórica sobre o mar (do oceano pacífico), o cosmos e a humanidade que vai muito para além das espectativas. Por exemplo, o título refere-se a dois botões de vestuário encontrados no mar alegadamente pertencentes

Um escritor de comédias em busca da felicidade e do sentido da vida. O autor de “Barreira Invisível” e “A Árvore da Vida” prossegue na via da abstracção poética, sombria e complexa. Joaquim Diabinho

Verona, Filipe Crawford. Estreia a 15.

Para relembrar o drama do exílio nos anos da ditadura, Saboga – um ex-exilado, argumentista e tradutor com carreira no jornalismo e cine-

[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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26 // LAZER // TL Outubro 2015

// MOTOR

// SUGESTÕES

Novo Suzuki Cerelio

Rui Ribeiro Nunes Audiologista

O

novo automóvel compacto da Suzuki inicia agora a sua comercialização em Portugal a um preço inferior a nove mil

euros. O Celerio mantém as características de um veículo compacto, fácil de conduzir, ao mesmo tempo que proporciona um espaço interior que ultrapassa os automóveis convencionais do segmento A e uma capacidade de carga líder da sua classe 1, com 254 litros de capacidade. Incorpora também um novo motor e uma nova caixa de transmissão que oferecem as emissões de CO2 mais baixas da sua classe, um reduzido consumo de combustível e uma condução dinâmica. O design do Celerio personifica três temas principais: "Carroçaria dinâmica", "Interior espaçoso" e "Elevada qualidade”. Tratando-se de um puro citadino, a equipa de desenvolvimento do Celerio apontou para um interior simples, fresco e fácil de utilizar ao criar um design simétrico em volta do painel central. A transmissão manual de cinco velocidades melhorou a eficiência ao nível do consumo de combustível e a suavidade nas passagens de caixa. Para incrementar a eficiência, a perda de binário foi reduzida em 40%, reduzindo o volume de óleo e instalando rolamentos de baixo atrito. Uma maior sincronização e melhor relação de caixa garantem passagens de mudanças mais precisas e suaves.

Diretor Geral Widex Portugal

Ouvir e prevenir Uma alteração da qualidade auditiva, por muito pequena que seja, é suficiente para causar perturbações no processo de comunicação oral, com consequências não só na

Conduzir este Celerio é mais fácil porque não há necessidade de manusear a alavanca de mudanças e a embraiagem. A Suzuki adicionou também um modo de condução "deslizante" que permite uma maior facilidade de condução em situações de maior tráfego e no estacionamento. Assim, o modo manual aumenta o prazer de condução, permitindo ao condutor efetuar as passagens de caixa conforme achar mais conveniente. O novo Celerio possui ainda outros elementos de segurança a destacar: 6 airbags para proteger os ocupantes em caso de colisões frontais e laterais, ESP3 para ajudar a uma condução estável, sistema de retenção em subidas, que ajuda no arranque da viatura (AGS) e controlo de pressão de pneus /TPMS) que ajuda o condutor a manter os pneus com a pressão correcta. Um novo motor e transmissão oferecem um consumo de combustível (4,3l/100km) económico e um comportamento dinâmico. I Carlos Blanco

qualidade e conteúdo da informação recepcionada pelo interlocutor, como também em possíveis alterações comportamentais. Existem vários exemplos diários que ilustram esta realidade, apesar de alguns deles não serem muitas vezes diretamente associados às dificuldades auditivas. Um adulto em ambiente familiar, social ou laboral necessita de uma excelente qualidade auditiva, se quiser ter acesso a todo o conteúdo informativo veiculado na empresa ou pelos familiares e amigos. A exposição ao ruído e à música forte em concertos e através de auscultadores é hoje uma realidade entre os jovens. A falta de sensibilização e desconhecimento relativamente à perda precoce progressiva e definitiva da audição, com este tipo de exposição, necessita

// PALAVRAS CRUZADAS // Por José Lattas

VERTICAIS: 1-Rícino. 2-Gadanho; Liso. 3-Rádio (s.q.); Sistema de unidades baseado no metro, na tonelada e no segundo; Semelhança. 4-Escroques. 5-Refúgio; Essências. 6-Nota musical; Eixo. 7-Solares. 8-Tugúrio; Organização Mundial do Trabalho (sigla). 9-Faz a triangulação de. 10-Lameiro; Preposição indicativa de várias relações; Interjeição designativa de espanto ou ironia (inv.). 11-Tento; Nome vulgar de moluscos anisomiários, muito apreciados.

de ser abordada com várias ações 1

2

3

4

5

6

7

8

9 10 11

1

junto da população. A comunicação verbal é demasiado rápida. Há portanto um grande

2

conteúdo informativo envolvente que

3

é permanentemente perdido pelas

4

pessoas que apresentam dificuldades

5

auditivas, quase sempre nunca

6 7

percepcionado pelo próprio, levando progressivamente a um afastamento da realidade comunicativa em termos

8

familiares, sociais e profissionais. É

9

urgente agir igualmente a nível da

10 11

prevenção. A privação auditiva é hoje considerada uma das causas

Soluções 1-CURVAM; COPO. 2-ANAIS; PA; RU. 3-RH; GINASTAS. 4-RAMAL; LERDO. 5ASTROLÁBIO. 6-P; SI; ACRA; O. 7-AC; SS; IENES. 8-TARTUFO; GMT. 9-OL; ACUSOU; R. 10-VASOS; ILHA. 11-COR; SOLTAIS.

HORIZONTAIS: 1-Alombam; Bebedor. 2-Crónica; Protactínio (s.q.); Ruténio (s.q.). 3-Ródio (s.q.); Acrobatas. 4-Derivação; Acanhado. 5-Instrumento de navegação pelos astros, que se conhece desde cerca 400 a.C.. 6-Nota musical; Capital de Gana. 7-Actíneo (s.q.); Corpo criado por Hitler para sua segurança pessoal e informação política; Unidade do sistema monetário japonês (pl.). 8-Hipócrita; Sigla inglesa de Tempo Médio de Greenwich. 9-Sufixo nominativo de origem latina, que na nomenclatura química é usado em palavras que designam álcoois; Culpou. 10-Penicos; Porção de terra cercada de água por todos os lados e mais pequena que os continentes. 11-Brilho; Desprendeis.

importantes de envelhecimento precoce. Atualmente existem soluções para prevenção e para a reabilitação de todos os tipos e graus de perda auditiva.


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