ARTISTAS FALAM //
disco: sou eu com duas cadeiras, duas canecas de
por causa, mas ao mesmo tempo também te faz
café e um violão, num jardim. Tem uma cadeira,
flutua por causa dos outros timbres. Em outras
teoricamente, pra mim, e uma cadeira tanto pra
músicas que são arranjadas mais pra voz e pro
alguém que ali já sentou, mas no momento em que a
violão, acho que essa soltura fica mais clara.
foto foi tirada, podemos entender a cena de outra
Eu não gravei essas faixas com metrônomo, então
forma: que não tinha ninguém e eu estava comigo
eu respeitei bastante a fluidez do andamento das
mesmo, ou ainda que mais alguém que pode vir a
músicas e acho que tentei buscar esse conceito
sentar na cadeira. Quando eu criei essa ideia de
meio “avoado”, meio rarefeito da coisa. É bem
capa, me veio muito esse conceito: de estar entre
intuitivo isso.
uma coisa e outra, e quando estou entre uma coisa
FV:
Os
devaneios
descritos
nas
canções
e outra, estou sozinho.
podem ser considerados uma “casa”, sem precisar,
você lê alguma coisa específica ou essas ideias
própria matéria-prima?
FV: Pra chegar nessas concepções poéticas,
são fruto de as coisas que você escuta, que vêm da sua cabeça? Ou um pouco dos dois? Chico:
necessariamente, do físico, já que o som é a
Chico: Acho que sim, eu me acho bastante
nesse momento que comentei de estar sonhando,
Eu não sou lá dos melhores leitores,
estar projetando coisas, e é um ambiente em que
então eu não diria que vem da leitura. Eu diria que
eu me sinto confortável, é onde eu estimulo minha
vem mais de devaneios. Eu sonho muito acordado,
criatividade.
é uma coisa que rola bastante – até tempos de escola, faculdade, eu sempre me locomovia a pé, ouvindo música e brisando muito fundo, pensando coisas, imaginando coisas que poderiam vir a ser. Até na época em que eu não pensava em fazer música, eu me projetava fazendo isso. E conforme eu fui projetando coisas, fui construindo coisas a partir dessas projeções. Então vem mais desses devaneios, e tem muito a ver com caminhar na rua e, de repente, me salta uma ideia, tipo “Nossa, isso
é
legal”,
enquanto
isso
estou
andando,
maluco, com o fone de ouvido, sem olhar o que está acontecendo em volta. É parte do processo.
FV: Acho que é por isso que dá pra perceber
alguns momentos em sua música, não só pela letra,
mas pelas notas, que você parece projetar o
futuro, de uma certa forma. Quando escutamos sua música, meio que conseguirmos enxergar o que virá logo menos.
Chico: Sinto que no disco, musicalmente, eu
tive uma busca sonora de fazer algo bem aéreo. Algumas músicas que têm bateria, e mesmo que tenham a bateria – que é um ritmo mais marcado, uma coisa mais pé no chão – elas têm um elemento mais flutuante. É bem sinestésico isso que estou falando, mas, tipo em Quando Eu Estiver, tem bateria, mas tem um teclado com reverb, tem uma nuvem, uma coisa que te mantém com o pé no chão,
FV: Bom, acho que é isso! Obrigada por ter
topado conversar comigo.
Chico: Imagina! Obrigado pelo convite!