FV - COTIDIANA - INVERNO 2020

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ARTISTAS FALAM //

disco: sou eu com duas cadeiras, duas canecas de

por causa, mas ao mesmo tempo também te faz

café e um violão, num jardim. Tem uma cadeira,

flutua por causa dos outros timbres. Em outras

teoricamente, pra mim, e uma cadeira tanto pra

músicas que são arranjadas mais pra voz e pro

alguém que ali já sentou, mas no momento em que a

violão, acho que essa soltura fica mais clara.

foto foi tirada, podemos entender a cena de outra

Eu não gravei essas faixas com metrônomo, então

forma: que não tinha ninguém e eu estava comigo

eu respeitei bastante a fluidez do andamento das

mesmo, ou ainda que mais alguém que pode vir a

músicas e acho que tentei buscar esse conceito

sentar na cadeira. Quando eu criei essa ideia de

meio “avoado”, meio rarefeito da coisa. É bem

capa, me veio muito esse conceito: de estar entre

intuitivo isso.

uma coisa e outra, e quando estou entre uma coisa

FV:

Os

devaneios

descritos

nas

canções

e outra, estou sozinho.

podem ser considerados uma “casa”, sem precisar,

você lê alguma coisa específica ou essas ideias

própria matéria-prima?

FV: Pra chegar nessas concepções poéticas,

são fruto de as coisas que você escuta, que vêm da sua cabeça? Ou um pouco dos dois? Chico:

necessariamente, do físico, já que o som é a

Chico: Acho que sim, eu me acho bastante

nesse momento que comentei de estar sonhando,

Eu não sou lá dos melhores leitores,

estar projetando coisas, e é um ambiente em que

então eu não diria que vem da leitura. Eu diria que

eu me sinto confortável, é onde eu estimulo minha

vem mais de devaneios. Eu sonho muito acordado,

criatividade.

é uma coisa que rola bastante – até tempos de escola, faculdade, eu sempre me locomovia a pé, ouvindo música e brisando muito fundo, pensando coisas, imaginando coisas que poderiam vir a ser. Até na época em que eu não pensava em fazer música, eu me projetava fazendo isso. E conforme eu fui projetando coisas, fui construindo coisas a partir dessas projeções. Então vem mais desses devaneios, e tem muito a ver com caminhar na rua e, de repente, me salta uma ideia, tipo “Nossa, isso

é

legal”,

enquanto

isso

estou

andando,

maluco, com o fone de ouvido, sem olhar o que está acontecendo em volta. É parte do processo.

FV: Acho que é por isso que dá pra perceber

alguns momentos em sua música, não só pela letra,

mas pelas notas, que você parece projetar o

futuro, de uma certa forma. Quando escutamos sua música, meio que conseguirmos enxergar o que virá logo menos.

Chico: Sinto que no disco, musicalmente, eu

tive uma busca sonora de fazer algo bem aéreo. Algumas músicas que têm bateria, e mesmo que tenham a bateria – que é um ritmo mais marcado, uma coisa mais pé no chão – elas têm um elemento mais flutuante. É bem sinestésico isso que estou falando, mas, tipo em Quando Eu Estiver, tem bateria, mas tem um teclado com reverb, tem uma nuvem, uma coisa que te mantém com o pé no chão,

FV: Bom, acho que é isso! Obrigada por ter

topado conversar comigo.

Chico: Imagina! Obrigado pelo convite!


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