Redescrições, Ano 8, número 1, 2018

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uma base normativa de um pluralismo bem-ordenado. Portanto, devíamos redescrever a posição de Rorty na direção de um sereno, mas robusto pluralismo pragmático.

Conclusão: Da Ironia para uma Serenidade Robusta, Pragmática? A reconstrução da mudança de Rorty do ateísmo filosófico para o anticlericalismo político revela que seu rótulo de “virada religiosa” é incorreto somente num sentido muito limitado. Rorty mantém seu secularismo. O engajamento crescente com a religião convencional (cristã) na última década de sua vida foi motivado pela tentativa transformativa de herdá-la. Devido a seu contínuo antiautoritarismo, ele se manteve hostil, ou pelo menos cauteloso ao teísmo. O valor prático da mudança de Rorty para o anticlericalismo consiste numa atitude pragmática consequente em questões de políticas sobre religião. Estendendo Rorty, deveríamos defender um sereno e robusto pluralismo. Sereno na medida em que não reage com refundamentação ou secularismo agressivo ao “retorno dos deuses”. É ao mesmo tempo robusto porque defende nosso modo de vida liberal. De acordo com Richard Bernstein, um companheiro crítico de Rorty, estamos atualmente confrontando um conflito de mentalidades, não um conflito de civilizações. Ao

longo

da

divisão

religioso/secular,

falibilistas

democráticos

enfrentam

fundamentalistas.73 Portanto, falibilistas seculares pragmáticos deveriam reagir ao fervor religioso com políticas pragmáticas robustas sobre religião. Junto aos religiosos colegas cidadãos liberais eles defenderiam o estado constitucional liberal como a melhor solução até agora para conflitos em sociedades multirreligiosas. O lema da mentalidade falibilista deles seria: nem ironia agressiva nem fundamentalismo, mas serenidade pragmática robusta. Haveria ainda algum lugar para a virtude rortyana da ironia nesta visão de um falibilismo pragmático? Eu gostaria de pensar que a figura do ironista liberal é uma personificação útil deste falibilismo pragmático o qual deveríamos defender mesmo em contenda com o fundamentalismo religioso. Ele é um ideal convincente da cidadania democrática, especialmente em nossos tempos de terror. A ironia rortyana pode ser entendida como um passo crucial para um falibilismo moral sereno, se for redescrita. Como Bernstein e outros críticos amigáveis argumentaram, ela contém ainda muitas

73

Ver Richard 2005, 18–38.

REDESCRIÇÕES – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VIII, nº 1, 2018.


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