emilio

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sonho só podia ser uma premonição. Não havia outra explicação. Não havia sonhado nenhuma noite e agora tinha a certeza, aquele seria o dia, podia sentir até no vento, no jeito como balançavam as folhas e os animais se alvoroçavam. Cantarolava alegre enquanto caminhava rumo àquele que, em algum ponto, aguardava-o. Tempo passou e, de repente, deparou-se com o sol aproximando-se do horizonte; algo invisível despedaçou-se em mil pedaços. Olhou para as árvores firmes e em pé e as admirou por isso. Seus músculos não sustentavam mais seu corpo. Inspirar e expirar eram o máximo de energia que poderia dar-se o luxo de dispender. Deixou o corpo cair pra trás, sentindo a terra úmida e cheia de raízes, e, como pedra, assistiu ao tempo e às nuvens passarem. Neste estado de puro sentir, liberto de qualquer emoção que pudesse vir atormentar-lhe a apatia, não existia mais tristeza nem felicidade, apenas calmaria. Com seu corpo encurvado, diminuído, acorcundou-se em direção à terra, como se esta já o chamasse; aninhou-se em posição fetal para ser gestado mais uma vez. Embora dessa vez,, em outro tipo de ventre, por outro tipo de mãe, para enfim voltar a nascer, com sorte, de forma diferente da humana. Talvez flor. Talvez bicho. Mas o que saberei eu disso?

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