Revista espirita 126

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Editorial

150 ANOS DE MOVIMENTO ESPÍRITA - Os bastidores desconhecidos Em 1858, começava a organização doutrinária do Espiritismo. Após o extraordinário sucesso do lançamento de “O Livro dos Espíritos”, em 18 de abril de 1857, Allan Kardec viu-se assoberbado por indagações e questionamentos vindos de toda a Europa, em particular da França. Uma excitação espiritualizada, permeada de anseios místicos, tomava conta de milhares de interessados pela nova e confortadora mensagem. O Codificador temeu pela sorte do Espiritismo. Manifestou sua preocupação aos benfeitores, por meio de Ermance Dufaux. Era 15 de novembro de 1857. Desejou renunciar aos dois empregos que tinha, para dedicar-se integralmente ao movimento inicial. Receava a ação de aventureiros: “Temo que outros me tomem a dianteira”. À angústia manifestada, os espíritos superiores responderam: “Por enquanto, não deves abandonar coisa alguma; há sempre tempo para tudo; mova-te e conseguirás”. Ele desejava editar um jornal espírita. Moveu-se e conseguiu. Em 1.º de janeiro do ano de 1858, circulava o primeiro número da “Revista Espírita”. Ardoroso na fé, ambicionava mais. As reuniões espíritas eram feitas precariamente em sua casa, na Rua dos Mártires, em Paris. Ermance Dufaux tornarase a principal médium. Mensagens grandiosas eram recebidas. A sala não comportava mais de 15 ou 20 pessoas, mas, quase sempre, tinha 30 ou mais. Príncipes e operários ali se acotovelavam. Foi feita coleta de recursos para alugar um espaço e formar uma instituição que congregasse legalmente todos os interessados. Um general influente do exército francês, denominado “X”, simpatizante da nova Doutrina, obteve a autorização necessária. Era 1.º de abril de 1858. Surgia a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, no Palais Royal, Galeria de Valois, onde permaneceria por 1 ano. Transferiu-se, posteriormente, para um salão do Restaurante Donix e, finalmente, se fixou na Rua Passagem Sant’Ana, 59. Na “Revista Espírita” do mês de maio de 1858, editou modesta nota dando publicidade à fundação da Sociedade que teve permissão do prefeito de polícia e do Ministro do Interior e da Segurança Geral, com a finalidade de receber em Paris “os estranhos que se interessavam pela Doutrina Espírita”, além dos associados. Era como ele chamava “um centro regular de observações”. Kardec mais tarde confidenciaria que enfrentou muitas lutas provocadas por freqüentadores animosos e pouco homogêneos. O Espiritismo ficava assim fortemente vinculado a esse ano da graça de 1858. Surgiam o primeiro veículo de divulgação dos princípios espíritas e o primeiro centro espírita na história da humanidade. Mai/ago - 2008

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Ovoidização - grave patologia do perispírito O corpo mental (espírito) modela o corpo espiritual (perispírito) que, por conseguinte, define o corpo físico, assim, o perispírito ou psicossoma, formado de matéria sutil e plástica, é diretamente influenciado pelas ações mentais do espírito. Na falta de estímulo mental os órgãos que compõem o perispírito se atrofiam e se retraem dando início à ovoidização. Essa regressão biológica e da morfologia do corpo espiritual, que define o surgimento do ovóide, caracteriza-se pela contração paulatina da forma humana na perda dos membros, na grande redução do tronco levando, ao final, a uma massa compacta que pode variar em tamanho e coloração. Então, podemos afirmar que o ovóide configura-se pela ausência da forma e pela falência do processo consciente. Essas esferas vivas ou corpos ovóides, como nos “...o perispírito se dilata ou ensinam os espíritos, possuem tamanhos contrai, se transforma: presta-se, entre uma laranja e um crânio humano, numa palavra, a todas as aproximadamente. Essa falta de estímulo metamorfoses, de acordo com a mental é comumente motivada pelo vontade que sobre ele atua.” monoideísmo, que se define na fixação do O Livro dos Médiuns, Allan kardec, pensamente em uma única idéia, onde item 56, FEB. tudo o mais se mostra desinteressante, levando o pensamento a permanente ciclo vicioso. Na obra “Evolução em dois Mundos”, André Luiz explica que as imagens mentais no monoideísmo são repetidas indefinidamente e que o espírito acaba perdendo a noção de espaço e de tempo. Nestas circunstâncias só a reencarnação possibilita a reversão do processo promovendo o despertamento da alma. A desvitalização do perispírito, fruto de um metabolismo vital extremamente reduzido e de pouquíssima atividade consciencial, causada pela ovoidização, significa sempre muita perda de tempo no processo evolutivo. Cabe lembrar, que o patrimônio espiritual, conquistado nos milhões de anos que marcam o surgimento do princípio inteligente até o ser pensante, bem como nas inúmeras experiências reencarnatórias vividas pelo espírito, continua retido e não se perde. No entanto, grande esforço será demandado pela espiritualidade amiga e muitas reencarnações serão imprescindíveis para a devida reconstituição perispiritual. Mas quais são as causas do monoideísmo? O Espiritismo nos mostra que as energias do pessimismo, da autodestruição, da angústia, a focalização do ódio, a revolta, a vingança, o orgulho, nos levam a um processo depressivo de longa duração que pode se transformar em uma idéia fixa. Nos dias atuais, em que a sociedade humana se encontra envolta no materialismo e distante do pensamento religioso, fica a certeza que o número de ovóides está aumentando. No livro “Ícaro Redimido”, prefaciado pelo amoroso Bezerra de Menezes, os autores nos falam sobre os ovóides. A obra citada, que analisa a vida de Santos Dumont no plano espiritual, descreve a possibilidade de ovoidização inerente ao suicida que permanece em sono reparador, pois quando desperta e entra em contato com sua realidade desesperadora e na ausência de recursos íntimos, num instinto de auto defesa, mergulha nas zonas inferiores do inconsciente. Neste caso, o despertar é automaticamente inibido e passa a provocar a retração do metabolismo mental. A ovoidização não pode ser admitida como fantástica ou absurda, pois está submetida às leis divinas e aos mesmos princípios da miniaturização ou restringimento, inerentes ao processo reencarnatório, como nos ensina a literatura espírita, mormente a 2

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referenciada por André Luiz, onde, na oportunidade, o perispírito sofre uma contração. No caso dos ovóides, a miniaturização, ou seja, a contração, ocorre fora do momento de nascer para a vida física, sendo, portanto, uma ocorrência patológica. Lembramos que o perispírito no seu caminhar evolutivo é um organismo energético, impulsionado por duas forças básicas: uma de expansão (caracterizada pelo aumento do metabolismo) e outra de contração (caracterizada pela diminuição do metabolismo). Os momentos do nascimento e da desencarnação são os ideais para a verificação destas forças. Na reencarnação temos o impulso contrativo do corpo espiritual e quando o espírito, por meio do perispírito, entra em contato com o corpo material dispara um impulso expansionista. Os ovóides se alimentam, preferencialmente, das emanações psíquicas de suas vítimas, encarnadas ou não, e comumente se fixam próximos ao centro cerebral, levando o hospedeiro ao esgotamento das energias mentais, causando graves transtornos. As vítimas dos ovóides, pela Lei de Ação e Reação, são as que possuem fatores predisponentes como a culpa, o remorso, o ódio, o egoísmo, onde as suas energias mentais permitem vínculos menos nobres. André Luiz, em “Libertação”, conta o caso de Margarida, que encarnada, sofria um intenso processo obsessivo, sendo vampirizada por dezenas de corpos ovóides atados ao seu cérebro perispiritual por meio de fios sutis. Seus cruéis obsessores utilizavam os ovóides como parasitas espirituais, joguetes de subjugação e tortura. Na espiritualidade inferior os ovóides são usados como armas de perseguição e por isso são temidos, pois levam à depressão, à demência, à loucura etc. A cura do ovóide é demorada e se dá por meio de inúmeras reencarnações. Os autores do livro “Ícaro Redimido” chamam essas reencarnações “frustradas”, de ensaios biológicos de desovoidização, pois produzem verdadeiras aberrações, mas de grande valor terapêutico para o refazimento do molde espiritual. Tais ensaios resultam nas patologias da gravidez, nas deformações embrionárias entre outras. Mesmo assim, ainda nascerão como doentes mentais ou portadores de malformações genéticas. Mas, tristemente, apontam os espíritos, a maioria das vítimas da ovoidização não se restabelecerá completamente e será enviada para humanidades primitivas a fim de seguirem no processo evolutivo. Uma prova física da existência dos ovóides são alguns casos de cisto dermoíde, que é uma malformação embrionária rara e não explicada completamente pela medicina. Consiste em um tumor que surge na região frontal do encarnado apresentando pêlos, glândulas sebáceas e sudoríparas, cartilagens, ossos e dentes. Tais ocorrências demonstram, racionalmente, que junto com a vítima, o ovóide participou de um ensaio reencarnatório, onde intensamente vinculado Bibliografia pesquisada: ao seu hospedeiro no mundo espiritual, e na -Evolução em dois Mundos, André Luiz, psicog. oportunidade da reencarnação, renasceu Chico Xavier e Waldo Vieira, cap. XII e XV, FEB. -Libertação, André Luiz, psicografia Chico jungido a ele. Que a dádiva do conhecimento espírita Xavier, cap. VI, VII e IX, FEB. -Obsessão / Desobsessão, Suely Caldas seja o fanal luminoso na condução dos Schubert, cap. 16, FEB. nossos pensamentos, mantendo-nos -Ícaro Redimido, Gilson Teixeira Freire e vigilantes e cada vez mais imunizados contra Adamastor (espírito), cap. II, VI a VIII, Inede. as patologias da alma. Mai/ago - 2008

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Bezerra de Menezes

Pensamentos doutrinários IX Da série publicada no jornal O PAIZ, no Rio de Janeiro, a partir de 1886. O FIM DO MUNDO SEGUNDO A REVELAÇÃO ESPÍRITA Cada planeta, que não é criado sem um fim - e que hoje sabe-se ter altíssimo fim, qual é servir, como a Terra, de habitação à espécie humana, tem sua evolução, em obediência à lei geral da criação. Como indivíduo do mundo material faz o progresso material, que a ciência determina perfeitamente, marcando-lhe as fases, desde a nebulosa até seu completo desenvolvimento. Como centro de habitação do ser racional, faz o progresso moral, isto é, diz-se mundo mais ou menos adiantado, conforme o é a humanidade que o habita. E ensinam os espíritos que tudo está regulado de modo que ocupem os mundos mais atrasados fisicamente, as gerações humanas também mais atrasadas, e nas mesmas relações, até os mais adiantados. Quando um mundo (um planeta) tem, por sua evolução 4

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material, subido a um grau superior, na escala do progresso material dos mundos, ficando assim em desequilíbrio com as condições de seus habitantes, que não tenham feito igual progresso moral, alguma coisa é preciso, em bem de se cumprir a lei da indispensável correspondência entre a material e moral de cada mundo.

Retrato pintado de Bezerra de Menezes


Se assim não fora, teríamos mundos adiantados com habitantes atrasados, e mundos atrasados com habitantes adiantados, o que é contra a sublime ordem posta por Deus. Em tais casos dá-se o que as escrituras denominaram – fim do mundo, do mundo moral, que não do material. O planeta continua, mudando apenas de condição,

subindo de ordem, passando, por exemplo, de mundo de expiação, como é a Terra e muitos outros, a mundo de regeneração, como são os que lhe estão acima, e a que deve ser nossa aspiração subirmos, porque neste faz-se o progresso humano por entre risos e flores, que não mais a custo de dores e torturas como neste purgatório.

Livro: “Jesus Perante a Cristandade” - 5.ª ed., FEB, cap. V, pág. 89. Autor: Francisco Leite de Bittencourt Sampaio Médium: Frederico Pereira da Silva Júnior “...Percorrendo a História Sacra, encontramos Jesus realizando curas pela ação da lei dos fluidos, e nunca obrando milagres pela derrogação das leis estabelecidas pelo Criador; é assim que não o vemos dando membros ao corpo que os tivesse perdido. O que ele fazia era do domínio da lei dos fluidos, que, por ser desconhecida dos homens, era por eles considerada sobrenatural, e o será até que chegue o momento de lhes serem desvendados os mistérios que o acanhamento da sua inteligência lhes não permite ainda compreender, e aos quais só poderão atingir quando, livres da lepra do pecado, pela prática constante dos ensinamentos do Divino Modelo, puderem receber a luz que se transfunde das páginas do seu Evangelho! Jesus dava vista aos cegos por atrofiamento da íris; restituía a palavra aos mudos por atrofiamento das cordas vocais, enfim, curava os enfermos, mas de enfermidades curáveis, pela simples imposição dos fluidos, que ele conhecia como governador deste planeta, e dos quais dispunha, pelo seu poder absoluto sobre toda a Natureza...”

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O Consolador prometido Se me amais, Guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai de amor, E Ele vos dará outro Consolador

Texto baseado no cap.VI, O Cristo Consolador, O Evangelho segundo o Espiritismo / João (14:15-17 e 26)

Para que fique convosco eternamente. O Espírito de Verdade, A quem o mundo não pode receber, Porque não o vê,

Deve vir mais tarde, E ensinar todas as coisas, contudo, É que o Cristo não pôde, então, Na época dizer tudo.

Nem, tampouco, o conhece. Mas vós o conhecereis, Porque Ele convosco ficará E em vós permanecerá.

O Espiritismo vem, No tempo assinalado, Cumprir a promessa de Jesus, O nosso Cristo amado.

Mas o Consolador, Que é o Espírito Santo, A quem em meu nome o Pai enviará, Todas as coisas vos ensinará,

O Espírito de Verdade Preside ao seu estabelecimento. Ele chama os homens, A todo o momento,

E vos fará lembrar De tudo o que vos tenho dito. Esta passagem apresentada Foi da forma a seguir interpretada

À observância da lei, Ensina todas as coisas, Fazendo compreender o que o Cristo, então, Somente disse por parábolas na ocasião.

No Evangelho segundo o Espiritismo: Jesus promete outro Consolador: É o Espírito de Verdade, Que o mundo, na realidade,

Assim, realiza o Espiritismo O que o Mestre Jesus amado Disse do Consolador prometido: O conhecimento mais apurado

Ainda não o conhece, Pois que ainda não está Suficiente maduro para compreendê-lo, E que o Pai enviará

Das coisas que faz o homem saber De onde vem, para onde vai E porque está na Terra, A lembrança que encerra

Para ensinar todas as coisas E para fazer lembrar O que o Cristo disse na oportunidade. Se, pois, o Espírito de Verdade

Os verdadeiros princípios da Lei. Do bom Deus que a todos alcança, Dando a consolação pela fé, E, também, pela esperança.

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NECESSIDADES FACTÍCIAS Rogério Coelho - MG

“A muitos desenganos se poupa nesta vida aquele que sabe restringir seus desejos...” - O Livro dos Espíritos, questão 926. Afirma o caroável Mestre Lionês1: “...O homem moral, que se colocou acima das necessidades factícias criadas pelas paixões, já neste mundo experimenta gozos que o homem material desconhece. A moderação de seus desejos lhe dá ao Espírito calma e serenidade. Ditoso pelo bem que faz, não há para ele decepções e as contrariedades lhe deslizam por sobre a alma, sem nenhuma impressão dolorosa deixarem”. Segundo Pascal2, “O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura. Quando alguém vai a um país distante, constitui a sua bagagem de objetos utilizáveis nesse país; não se preocupa com os que ali lhe seriam inúteis. Procedei do mesmo modo com relação à vida futura; aprovisionai-vos de tudo o de que lá vos possais servir...”. No mundo maior, ninguém te perguntará: Quanto tinhas na Terra? Que posição ocupavas? Eras príncipe ou operário? Perguntar-te-ão: Que trazes contigo? Não te avaliarão os bens, nem os títulos, mas a soma das virtudes que possuas. Ora, sob esse aspecto, pode o operário ser mais rico do que o príncipe. Em vão, alegarás que antes de partir da Terra pagou a peso de ouro a sua entrada no outro mundo. Responder-te-ão: Os lugares aqui não se compram; conquistamse por meio da prática do bem. Com a moeda terrestre, hás podido comprar campos, casas, palácios; aqui, tudo se paga com as qualidades da alma. És rico dessas qualidades? Sê bem-vindo e vai para um dos lugares da primeira categoria, onde te esperam todas as venturas. És pobre delas? Vai para um dos da última, onde serás tratado de acordo com os teus haveres.”. Restringir os desejos!... Tal a medida exata para se evitar os tormentos voluntários e conquistar a paz no coração, que segundo Fénelon3 “é a única felicidade real que podemos ter neste mundo” de provas e expiações em que ainda vivemos. Portanto, devemos entender que a paz do coração só pode ser conquistada por aquele que já não se deixa escravizar pelas necessidade factícias, uma vez que, tal como competente ourives, sabe reconhecer a jóia verdadeira, no caso, os imarcescíveis tesouros do céu, joeirando-os da ganga dos ouropéis existenciais. 1

Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos - Questão 941 (explicação). Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo - Cap. XVI, item 9. 3 Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo - Cap V, item 23.

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Vianna de Carvalho responde ATUALIDADE DO PENSAMENTO ESPÍRITA Médium: Divaldo Pereira Franco

Tema:

Divulgação espírita Pergunta 1: Do ponto de vista ético-religioso, também da modernidade dos tempos atuais, como será o comportamento da imprensa espírita? É-nos pouco recomendável prever condutas futuras. Todavia, a imprensa espírita, inspirada no exemplo de Allan Kardec, que foi o primeiro jornalista do gênero, deverá ser responsável, honrada, verdadeira, divulgando o bem e ensinando como superar o mal, inscrevendo nas suas páginas variadas as lições de sabedoria e amor que edifiquem a criatura para tornar-se sempre melhor, antes que lhe criar conflitos e situações embaraçadoras, prejudiciais, que somente exaltam o ego e exibem o personalismo doentio nos combates inglórios das acusações sem justificativa. A função da imprensa é dignificar a criatura e orientá-la, instruíla e informá-la, combatendo a ignorância e o mal, porém, ajudando os ignorantes e os maus, a fim de que se reajustem e reconsiderem suas posições, tornado-se úteis à sociedade. 8

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Pergunta 2: Observamos o crescimento vertiginoso nos meios de comunicação, notadamente televisivo, da presença das religiões, com o intuito de influenciar na formação religiosa, cultural, política e social da população; dentro deste contexto, qual deverá ser o papel da mídia espírita? Todo ensinamento bom encontra guarida nas criaturas e as edifica. Embora não nos pareçam corretas determinadas condutas na mídia religiosa, de certa forma preenchem os espaços que estavam sendo utilizados para o sexo alucinado, para as paixões subalternas, para os comportamentos asselvajados, para o exibicionismo vulgar, e para os estímulos perturbadores... Pelo menos são ensinadas lições de dignificação, condutas não viciosas, apresentadas renovações morais à luz do Evangelho, respeito aos bons costumes e convites à reflexão. Os danos, que possam apresentar, parecem-nos menores do que os prejuízos anteriores, infelizmente, ainda prosseguindo em outros horários e em diferentes canais, inclusive naqueles que são de orientação religiosa. O Espiritismo não deve competir, nem se propõe a campeonatos de glorificações terrenas, mas tem uma mensagem nobre a oferecer, e cumpre aos espíritas o dever de propô-la, convidando a pessoa lúcida ou sofrida, culta ou limitada em conhecimentos a ter opção para discernir e examinar. Sem a preocupação, nem a presunção de salvar o mundo ou as pessoas, cabe aos espíritas a atitude de contribuir para que a humanidade seja melhor e mais justa, e a divulgação da Doutrina, bem como a sua conduta moral nela baseada, são os meios hábeis e sábios para tal cometimento. Portanto, todo o esforço que vise à edificação do ser humano dever ser envidado, particularmente, mediante a iluminação das consciências através do Espiritismo. Mai/ago - 2008

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Sede da inteligência

Adriano Henrique - PE

Questão 24. Espírito é sinônimo de inteligência? A inteligência é um atributo essencial do Espírito. Questão 71. A inteligência é atributo do princípio vital? Não (...) A inteligência e a matéria são independentes, porquanto um corpo pode viver sem a inteligência. Mas, a inteligência só por meios dos órgãos materiais pode manifestar-se. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, FEB.

Desde a data de 18 de abril de 1857, quando a Doutrina Espírita chegou à Terra (em razão da publicação de “O Livro dos Espíritos”), que os seres do Além nos mostram e ensinam novos conceitos. Eles trazem-nos soluções para os problemas cotidianos, preparando-nos para a verdadeira vida: a espiritual. Na citação acima, os instrutores do mundo maior afirmam, peremptórios, que a inteligência provém do espírito, e não do cérebro material. Esta idéia foi bastante combatida no passado, como ainda o é hoje. Autoridades científicas e parapsicólogos materialistas tentaram provar o oposto. Todavia, seus resultados foram infrutíferos. Na obra “O Cérebro de Lênin”, o jornalista alemão Tilmar Spengler mostra a acanhada tentativa do neurologista e psicólogo Oskar Vogt em buscar o elemento da genialidade nos complexos neuroniais do líder bolchevique russo. As pesquisas sobre o cérebro de Lênin foram encerradas em 1994, ocasião em que o cientista Oleg Andrianov afirmou: “Na estrutura anatômica do cérebro de Lênin não há nada de sensacional”. Testificamos assim, que a mensagem espírita não está desatualizada nem é “alienante”, como pregam alguns. Pelo contrário, a cada dia, vem recebendo confirmação nos laboratórios científicos mais respeitados do mundo. Lembremo-nos da inesquecível frase do mestre lionês Allan Kardec: “Se algum dia a Ciência provar que nós, espíritas, estamos errados em um único ponto, cabe-nos abandonar este ponto e seguir a Ciência”. 10

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Na sublime iniciação Presença de Emmanuel / Chico Xavier

Quando Jesus nos convocou à perfeição, conhecia claramente a carga de falhas e deficiências de que estamos ainda debitados perante a Contabilidade da Vida. O Mestre, porém, chamava-nos ao preciso burilamento. Urge, assim, penetrar o sentido de semelhante convite, aceitando, de nossa parte, a sublime iniciação. Nas subidas ásperas em demanda aos valores eternos, as Leis do Universo não nos reclamam qualquer ostentação de grandeza espiritual. Criaturas em laboriosa marcha na senda evolutiva, atendamos, desse modo, aos alicerces do aprendizado. Nas horas de crise, os Estatutos Divinos não nos rogam certidões de superioridade a raiarem pela indiferença, e sim que saibamos sofrê-las com reflexão e dignidade, assimilando os avisos da experiência. Renteando com injúrias e zombarias, as instruções do Senhor não exigem de nós a máscara da impassibilidade, e sim que as vençamos de ânimo firme, assinalando-lhes a passagem com a benção da compreensão fraternal. Defrontados por tentações, a vida não espera que estejamos diante delas, em regime de anestesia, e sim que busquemos neutralizá-las com paciência e coragem, entesourando os ensinos de Emmanuel que se façam mensageiras, em nosso próprio favor. Desafiados pelas piores desilusões, não nos pedem os Regulamentos da Eternidade qualquer testemunho de aridez moral, e sim que diligenciemos esquecê-las sem a menor manifestação de desânimo, abraçando mais amplas demonstrações de serviço. Abstenhamo-nos de adornar a existência com expectações ilusórias. Somos criaturas humanas, a caminho da sublimação necessária, e, nessa condição, errar e corrigir-nos, para acertar sempre mais, são impositivos de nosso roteiro. Conquanto isso, porém, permaneçamos convencidos, desde hoje, de que, se por agora, não nos é possível envergar a túnica dos anjos, podemos e devemos matricular-nos na escola dos espíritos bons. Mai/ago - 2008

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Verificação de

conhecimentos doutrinários Baseada na literatura espírita consagrada por Allan Kardec, Léon Denis, Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio, Emmanuel, André Luiz, Humberto de Campos, Joanna de Ângelis, Yvonne A. Pereira, Cairbar Schutel, Vianna de Carvalho entre outros.

Assinale a opção correta e confira o resultado na página 19: 1. Quais são os livros que constituem o pentateuco de Moisés? Êxodo, Levítico, Deuteronômio, Salmos e Números Êxodo, Levítico, Salmos, Gênesis e Números Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio Gênesis, Êxodo, Números, Deuteronômio e Salmos 2. O famoso professor de Allan Kardec, em Yverdum, na Suiça, foi Jean Jacques Rousseau. Voltaire. Augusto Comte. Jean Henri Pestalozzi. 3. Antes da vinda de Jesus, todos os povos eram idólatras e politeístas, exceto o Romano.

Grego.

Hebreu.

Egípcio.

4. A médium de 15 anos que se submeteu às pesquisas do sábio inglês William Crookes, para comprovação da imortalidade da alma, por meio do fenômeno de materialização, chamava-se Katie King. Florence Cook. Catarina Fox. Helen Smith. 12

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5. A reencarnação fazia parte da crença judaíca sob o nome de palingenesia. zootropia. avatar. ressureição. 6. A Bíblia Sagrada é composta pelo Antigo Testamento, Novo Testamento, Atos e Epístolas. Antigo Testamento, Novo Testamento, Apocalipse, Atos e Evangelhos. Antigo Testamento, Novo Testamento e Evangelhos. Antigo Testamento e Novo Testamento. 7. Dos quatro evangelistas, dois não conheceram pessoalmente Jesus. Quais? Marcos e Mateus Mateus e João Lucas e Marcos Lucas e Mateus 8. Foram precursores da idéia cristã, 400 anos antes de Jesus Cristo: João Batista e Sócrates Elias e João Batista Sócrates e Platão Moisés e Sócrates

Batismo de Jesus

9. O imperador romano que mandou incendiar Roma, no ano 64, e depois acusou os cristãos foi Tibério. Nero. Calígula. Júlio César. 10. O livro “Cartas e Crônicas” psicografado por Chico Xavier é de autoria do espírito Hilário Silva.

André Luiz.

Emmanuel.

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A luta de uma paquistanesa pela dignidade humana A revista Seleções Reader’s Digest, de maio de 2008, publica reportagem de Robert Kiener com o título “Uma pode fazer a diferença”, sobre Mukhtar Mai (foto), da pequena aldeia rural de Meerwala, ao sul da província paquistanesa de Punjab. Depois de ter sido estuprada, o caminho que ela Humilhada, superou a teria de seguir, segundo os costumes locais, seria tudo e a todos e deu a cometer o suicídio. Mas ela decidiu viver, para lutar por volta por cima. justiça e ajudar outras mulheres a terem uma vida mais digna. Apoiada pelos pais e fortalecida espiritualmente pelas lições do Alcorão, dizia: “Sou só a primeira gota d’água, mas a chuva virá. E muitas gotas de chuva acabam formando um grande rio”. Seu pai, ela, a mãe e quatro irmãos não sabiam ler, nem freqüentaram a escola. Porém, eram muçulmanos devotos, que rezavam cinco vezes ao dia. Mukhtar tinha uma mente privilegiada e conseguia memorizar trechos do Alcorão. Tranqüila, mansa no falar, essa mulher altiva de 1,70 metros de altura pensava, mantendo os profundos olhos negros voltados para baixo: “O Alcorão me protegerá”. A família de Mukhtar Mai é da casta mais baixa dos Gujjar e vivia de escassos recursos dos campos de cana-de-açúcar e trigo. A casa era de barro e tinham somente poucas cabras e bois, uma vaca e um pedaço de terra. Não dispunham de luz elétrica, telefone, nem água corrente. Mukhtar casou-se aos 18 anos e não teve filhos. Um casamento arranjado. Ela não foi feliz. O divórcio era raro no Paquistão rural – a mulher era malvista, mas os pais a apoiaram e em menos de um ano Mukhtar recebeu do marido o talaq (na lei islâmica, o repúdio do homem à mulher), que a libertou oficialmente do casamento e a permitiu voltar para a casa da família em Meerwala. A agressão ocorreu na noite de 22 de junho de 2002, quando Mukhtar Mai tinha 28 anos. Em 5 de março de 2003, cinco dos seis Mastoi (casta superior) condenados – (quatro por estupro), foram absolvidos e libertados. O sexto teve a pena de morte comutada para prisão perpétua. Os ativistas dos direitos humanos protestaram contra o veredicto. Houve também um protesto internacional e o governo paquistanês ordenou que os Mastoi voltassem à prisão e continuassem presos, à espera de novo julgamento. “O que realmente preciso é de uma escola” – Ghulam, pai de Mukhtar Mai, lhe ensinou a respeitar os mais velhos e a proibia de mentir. “Temos muito pouco, mas possuímos nossa honestidade”, dizia à filha, o que fez com que ela 14

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desenvolvesse um forte senso de certo e errado. Por ordem do governo, a ministra federal para as mulheres, Attiva Inayatullah, deu-lhe um cheque de meio milhão de rúpias, cerca de US$ 8.200, (mais do que seu pai ganharia em décadas). Segundo a ministra, não era uma compensação, mas um pequeno símbolo de “nossa identificação” pelo sofrimento pelo qual Mukhtar passou. Mukhtar, que jamais havia visto um cheque, disse: “Não preciso de dinheiro. O que realmente preciso é de uma escola”. Ela teve essa idéia ao perceber que a maioria das pessoas que com ela se solidarizavam eram educadas. Então, ela concordou em receber o cheque, desde que pudesse usar o dinheiro para a construção de uma escola para meninas. Determinada, comprou um terreno perto de casa e contratou trabalhadores para a construção de uma escola primária. Ela também ajudou, fazendo tijolos de barro e transportando para o local da obra. A Escola Modelo para Meninas Mukhtar Mai tomou forma e abriu as portas em 2004. O governo pavimentou a estrada e trouxe luz e telefone para Meerwala. Acompanhada de guarda-costas da polícia, foi de casa em casa pedir aos pais que enviassem as filhas para a nova escola. A tarefa não foi fácil, pois ouvia sempre a alegação: “Meninas não precisam aprender a ler”; ou: “Só os meninos precisam ser educados”. Mukhtar se comprometeu, então, a mandar uma van para buscar cada menina. A escola não tinha luxo. Em vez de cadeiras, as meninas se sentavam sobre sacos de aniagem. Mukhtar se sentava ao lado de algumas alunas, para Mukhtar Mai e algumas alunas também aprender a ler e escrever. Buscou mais recursos, vendeu seus brincos e uma vaca e quando a imprensa divulgou a história, chegaram muitas doações. Ela então contratou carpinteiros para fazer assentos e carteiras de madeira para as alunas. Foram instalados ventiladores no teto, tornando, assim, agradável o ambiente sufocante das aulas. Com saldo suficiente, abriu uma escola para meninos em Meerwala e outra para meninas numa aldeia próxima. E mais de 700 crianças de todas as castas (inclusive da casta Mastoi) se misturavam livremente nas escolas. A ação benemérita desta notável paquistanesa não parou por aí. Mulheres, algumas estupradas, outras mutiladas, outras espancadas, outras com cicatrizes horríveis no rosto – vítimas de ataques de ácido, ou sem nariz ou orelhas, punição para supostas adúlteras, procuravam Mukhtar. Foi então criada, ao lado da primeira escola, o Centro Mukhtar Mai de Assistência de Crise da Mulher, para o qual Publicado no “Jornal Espírita”, chegavam diariamente, em média, cinco n.º 393 de julho de 2008 - Federação Espírita do Estado de São Paulo vítimas em busca de auxílio. Ninguém Autor: Altamirando Carneiro deixava de ser atendida. Mai/ago - 2008

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Frases que merecem MEDITAÇÃO Extraídas da obra “Ação e Reação”, de autoria de André Luiz e psicografia de Chico Xavier.

“A palavra fácil e bem posta é, muita vez, dever espinhoso em nossa boca, constrangendo-nos à reflexão e à disciplina.” “Em todos os planos do Universo, somos espírito e manifestação, pensamento e forma.” “Quanto mais amplitude em nossos conhecimentos, mais responsabilidade em nossas ações.” “Busquemos, antes de tudo, simplificar.” “Quando a nossa dor não gera mais dores e nossa aflição não cria aflições naqueles que nos rodeiam , nossa dívida está em processo de encerramento.” “Qualquer sombra de nossa consciência jaz impressa em nossa vida até que a mácula seja lavada por nós mesmos, com o suor do trabalho ou com o pranto da expiação.” 16

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“Aqueles que amam realmente, governam a vida.” “O pretérito fala em nós com gritos de credor exigente, amontoando sobre as nossas cabeças os frutos amargos da plantação que fizemos.” “O imenso amor feminino é uma das forças mais respeitáveis na Criação divina.” “Cada um é tentado exteriormente pela tentação que alimenta em si próprio.” “A dor é ingrediente dos mais importantes na economia da vida em expansão.” “A ninguém devemos o destino senão a nós próprios.” “Quando o enfermo sabe acatar os celestes desígnios, entre a conformação e a humildade, traz consigo o sinal da dívida expirante.”


Tribuna LIVRE Pergunta: Que benefícios materiais e espirituais a vinda de D. João VI trouxe verdadeiramente para o Brasil, agora que se comemora os 200 anos de sua chegada a nossa Pátria?

Resposta: Tudo começou em 1807, com as ameaças de Napoleão Bonaparte, imperador francês, feitas a Portugal, aliado da Inglaterra. A Inglaterra estava em guerra com a França. Temendo a invasão de Portugal pelo exército francês, o que ocorreria em 17 de novembro de 1807, a família real embarca em 56 navios, com bagagens e auxiliares. Em março de 1808, toda a corte portuguesa chega ao Rio de Janeiro. A presença de nossos colonizadores imprimiria um novo impulso à administração da colônia e os benefícios logo se fariam sentir. Humberto de Campos, em “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, cap. XVI, nos informa que “O Rio de Janeiro, sob a direção do bondoso príncipe que, debaixo da influência poderosa do Alto, adotara um regime muito mais liberal do que as formas de governo existentes em Lisboa, enche-se de obras notáveis.

O ESPÍRITA responde Grandes instituições se fundam na cidade da mais maravilhosa baía do mundo. Surgem a Escola de Medicina, o Real Teatro São João, o Banco do Brasil, organizam-se os primórdios da Escola de BelasArtes, cria-se a Academia da Marinha, o Conselho Militar, a Biblioteca Real, desenha-se o Jardim Botânico, como novo encanto da cidade, e, sobretudo, inicia-se, com a Imprensa Régia, a vida do jornalismo na Terra de Santa Cruz”. “Entidades benevolentes e sábias, sob a direção de Ismael, espalham claridades novas em todos os Espíritos e, sob os seus generosos e imponderáveis impulsos, as grandes realizações do progresso brasileiro se avolumam por toda a parte, nas mais elevadas demonstrações evolutivas.” A abertura dos portos às nações amigas, decretada por D. João VI, em 28 de janeiro de 1808, foi um ato de política internacional, que propiciaria os primeiros passos para a Independência do Brasil, que se daria a 7 de setembro de 1822, passados apenas 14 anos. Da Independência à Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889, correram céleres 67 anos. Nesse ínterim, tivemos a libertação dos escravos em 13 de maio de 1888, considerado um dos maiores feitos da história nacional. Mai/ago - 2008

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Perdoar é difícil! ...mas vale a pena

Um mal, uma ofensa ou uma deslealdade marcam muito fundo a nossa alma. O mal-estar que nos consome quando alguma menção ou simples lembrança do ocorrido vem à tona, só tem a intensidade indesejada porque fere o nosso orgulho. Admitir o perdão como melhor opção, compreendê-lo e aplicá-lo é tarefa árdua, obstáculo praticamente intransponível. Como aceitar a humilhação, relevar suas conseqüências e na maioria das vezes conviver com o ofensor, trabalhando essa mágoa até que ela não faça mais diferença? Como assimilar no âmago da alma o legado, o exemplo do Mestre Jesus, perdoando na cruz infame os seus agressores? Sabemos que é necessário, é fundamental para nossa evolução, mas por onde começar? O primeiro passo é a oração. Começar orando, pedindo roteiro seguro, força e clareza no raciocínio obnublado, colocando-nos na condição de subserviência a Deus. Implorar para que os sentimentos destrutivos que latejam em nossa alma sejam diminuídos, abrandados até o sufocamento total. Depois é necessário tempo, evitando remoer em nossas palavras ou em nossa memória o que tanto nos feriu. Dentre tantos fatores que vão interferir nesse processo o mais 18

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importante é a fé, responsável pela certeza de que os causadores de nossas dores são infelizes por si mesmos, e sofrerão as conseqüências de suas atitudes sem o gravame de nossa interferência. É desnecessária a nossa torcida para que colham os frutos amargos da semeadura irrefletida. Só a fé embasada pode nos levar a isso. Os momentos de felicidade vão chegando aos poucos, vindo de outras fontes, cobrindo de orvalho o terreno árido que o rancor construiu em nosso coração, até que surjam as primeiras sementes do perdão verdadeiro, que brotarão e se tornarão árvores frondosas, trazendo a sombra acolhedora e o alento tão almejado. Como um fruto abençoado, brota de forma natural a necessidade de socorrermos aquele agressor do passado por reconhecermos com mais clareza a nossa cota de responsabilidade perante o fato que nos incomodou. Trazê-lo para o remanso de seu aconchego para que ele também perceba o quanto de paz e harmonia traz o dever comprido no caminho correto, onde os primeiros passos foram tão difíceis. Amá-lo incondicionalmente nos parecerá mais fácil. Mesmo que este reincida no erro ferindo-nos novamente, agora não será tão profundamente. Teremos então perdoado.


Albert Schweitzer – Síntese biográfica Nasceu em 14/1/1875, em Kaysersberg, Alsácia, Alemanha (hoje França) e faleceu em 4/9/1965, em Lambaréné, Gabão, África.

Doutor em filosofia e teologia, médico e músico organista intérprete de Bach. É considerado um dos precursores da bioética. Em 1913, Schweitzer, tornou-se doutor em medicina e com sua esposa e enfermeira, Hélène Bresslau, foi para Lambaréné, onde às margens do rio Ogooué, com a ajuda dos nativos, construiu seu hospital, e o equipou e manteve com recursos próprios, mais tarde suplementados por doações. Atendeu seus doentes enfrentando dificuldades como o clima hostil, a falta de higiene, o idioma incomprensível, a falta de remédios e instrumental precário. Tratava diariamente dezenas de pacientes e em paralelo ao serviço médico, ensinava o Evangelho com uma linguagem peculiar, utilizando-se de exemplos tirados da natureza sobre a necessidade da ação no bem em benefício do próximo. Com o início da Primeira Grande Guerra, Schweitzer foi levado para a França, como prisioneiro em um campo de concentração. Em 1924, acompanhado de médicos e enfermeiras para dar continuidade ao trabalho missionário, Schweitzer voltou à África Equatorial para reconstruir o hospital. Posteriormente inaugura uma colônia de leprosos. No início da década de 60 havia, em números aproximados, 350 pacientes e seus familiares no hospital e 150 pacientes na colônia de leprosos. Albert Schweitzer jamais abandonou o estudo e a música. Escreveu livros, deu aulas, realizou recitais e fez gravações. Toda a renda auferida por meio do seu talento e empenho pessoal foi direcionada para a manutenção do hospital e da colônia. Impressionou o mundo com sua vida e obra, e em 1952, recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Seu exemplo de caridade e desprendimento material emociona os corações sensíveis e encoraja, ainda hoje, missionários em todo o mundo.

Respostas

Verificação de conhecimentos doutrinários - Páginas 12 e 13 Q.1 - Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Q.2 - Jean Henri Pestalozzi. Q.3 - Hebreu. Q.4 - Florence Cook. Q.5 - ressureição. Q.6 - Antigo Testamento e Novo Testamento. Q.7 - Lucas e Marcos Q.8 - Sócrates e Platão Q.9 - Nero. Q.10 - Irmão X. Mai/ago - 2008

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Curiosidades doutrinárias A reencarnação, nos textos do profeta Jeremias, está patenteada. É inquestionável, como consta na Bíblia traduzida pelo pastor protestante João Ferreira de Almeida. No capítulo 1, versículos 4 e 5: “A mim veio a palavra do Senhor, dizendo: Antes que eu te formasse no ventre materno eu te conheci, e antes que saísse de tua mãe, te consagrei e te constituí profeta às nações”. No versículo 6, Jeremias enriquece mais ainda a idéia de pré-existência, ou da memória anterior, quando acrescenta: “Não passo de uma criança”. Em 16 de agosto de 1886, no auditório da Guarda Velha, na então capital do País, o Rio de Janeiro, diante de centenas de pessoas, humildemente, Bezerra de Menezes declara sua adesão ao Espiritismo. Por que humildemente? Porque na Sessão Ordinária da Câmara dos Deputados, em 1.º de outubro de 1879, na capital do Império, 7 anos antes, ele respondia a uma provocação do também deputado Rui Barbosa, declarando: “Sou católico porque nasci, crieime e peço a Deus a graça de morrer no seio da Igreja Católica”. Jesus tinha outros planos para o bondoso “Médico dos Pobres”. O conhecidíssimo e consagrado escritor, fundador e membro da Academia Brasileira de Letras, Coelho Neto, em sua entrevista intitulada “Conversão” disse: 20

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“Combati com todas as minhas forças, o que sempre considerei a mais ridícula das superstições. Essa Doutrina, hoje triunfante em todo o mundo, não teve, entre nós, adversário mais intransigente, mais cruel do que eu”. Na noite de 14 de setembro de 1924, em palestra na instituição espírita Abrigo Thereza de Jesus, ao declarar sua adesão ao Espiritismo, disse: “A Doutrina da reencarnação a que me vou referir, não é de invenção nossa, senão do livro sagrado, o livro dos livros, pedra fundamental da Igreja: a Bíblia”. A conferência inteira pode ser encontrada na obra “Escritores Fantasmas”, de Jorge Rizzini. Manuel da Nóbrega, o jesuíta que chegou ao Brasil em 1549, seria mais tarde o nosso Emmanuel, o sábio condutor dos passos mediúnicos de Chico Xavier. José de Anchieta, que chegaria depois, em 1553, revelanos Humberto de Campos em “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, capítulo IV, voltaria na condição de Fabiano de Cristo, o modesto frade do Convento Santo Antônio, ainda hoje tão amado pelos espíritas. Mais tarde, pelas mesmas mãos abençoadas de Chico Xavier, Fabiano, em “Falando à Terra”, deunos uma mensagem, intitulada “Caridade”, declarando: “Sem a caridade tudo, na Terra que povoamos, seria o caos do princípio”.


Notícias comentadas “O cérebro é o espírito” Com o título chamativo, matéria da revista VEJA noticia trabalho de pesquisa do cientista inglês Semir Zeki, uma das maiores autoridades na neurologia da visão, dando conta de que no cérebro reside, além da razão, a capacidade de produção e fruição das artes. Essa percepção somente foi possível em decorrência das leituras fornecidas pelas máquinas de neuroimagem que permitem avaliar estados subjetivos vivenciados pelo cérebro. Acrescenta o cientista “Agora, as máquinas de neuroimagem nos permitem avaliar estados subjetivos. Melhor, permitem quantificá-los, pois a atividade numa região do cérebro tende a ser proporcional à intensidade declarada da experiência. Filósofos especulam sobre a beleza. Eu diria que ela é um aumento de fluxo sanguíneo na base do lobo frontal. (...) Estamos caminhando celeremente para conhecermos melhor as funcionalidades do cérebro com suas 100 bilhões de células nervosas e as estimadas 500 trilhões de ligações potenciais entre os neurônios”. (VEJA - 26/9/2007, ed. 2.027) Saudamos o trabalho digno e útil da pesquisa científica ofertando inegáveis benefícios para o progresso das criaturas. Em face da suposição da ciência de que o cérebro é a sede da inteligência e dos sentimentos, não podemos deixar de consignar que o verdadeiro centro não reside no cérebro, ele não passa de um instrumento do espírito. Na questão n.º 24, de “O Livro dos Espíritos” é feita a indagação - “Espírito é sinônimo de inteligência?”, os Espíritos Superiores responderam: “A inteligência é um atributo essencial do Espírito. Uma e outro, porém, se confundem num princípio comum, de sorte que, para vós, são a mesma coisa.” Mais à frente, na questão n.º 370, perguntou-se: “Da influência dos órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais?” A resposta foi incisiva: “Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”. A inteligência é atributo do espírito e é ele quem dispõe do cérebro, não o contrário. A ciência andará a passos mais largos quando considerar o espírito como fonte da inteligência que atua no cérebro e reconhecer que a criatura necessita seguir os princípios gerais estabelecidos por Deus, bem referenciados na Parte Terceira do mesmo livro – “Das Leis Morais” em seus doze capítulos. Mai/ago - 2008

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Notícias comentadas (continuação) Estudo aponta possibilidade de “reprogramar” células Cientistas das Universidades Harvard e Columbia, nos Estados Unidos, conseguiram pela primeira vez transformar células da pele de pacientes com uma doença neurodegenerativa (esclerose lateral amiotrófica) em células do sistema nervoso, iguais às que são destruídas pela doença. O experimento, publicado na revista Science, é mais um avanço nas pesquisas com célulastronco de pluripotência induzida (iPS, em inglês), que há dois anos dividem espaço com as células-tronco embrionárias (CTEs) no palco de celebridades da biomedicina. Ambas têm a capacidade de se transformar em qualquer tecido do organismo, com a vantagem de que as induzidas não requerem o uso de embriões. A transformação, nesse caso, é mediada pela introdução de quatro genes no DNA de uma célula adulta. Os genes funcionam como um software que reformata a célula de volta ao seu estado original (pluripotente), equivalente ao das célulastronco embrionárias que precisam ser colhidas diretamente de um embrião, o que causa objeções éticas à pesquisa. Outro aspecto relevante do método é que as células reprogramadas, por serem do Células-tronco embrionárias paciente, não apresentam risco de rejeição. Existe ainda um longo caminho até que as células-tronco customizadas possam substituir as células lesionadas, restituindo o estado de saúde das pessoas. (O Estado de São Paulo – 31/7/2008) É legítimo ao homem buscar, com os recursos da inteligência e pelo trabalho útil, meios de melhorar a vida material e espiritual. Deve, contudo, observar as advertências de Paulo de Tarso de que “tudo me é permitido mas nem tudo me convém” (1 Coríntios – 6:12). Nas pesquisas com células-tronco, vemos de modo auspicioso a pesquisa com células adultas, afastando, de plano, as implicações advindas com a utilização das células-tronco embrionárias, especialmente em face das advertências contidas nas questões 358 e 360, de “O Livro dos Espíritos - LE”, por não termos o conhecimento suficiente para saber previamente se no embrião existe ou não um espírito ligado para o renascimento (ou naqueles congelados, como refúgio temporário contra inimigos, como lembrou Joanna de Ângelis – “Dias Gloriosos”). Na resposta da questão 707 do “LE” temos um voto de louvor à ciência: “...Por toda parte a Ciência contribui para acrescer o bem-estar. Poder-se-á dizer que já se haja chegado à perfeição? Oh! Não, certamente; mas, o que já se fez deixa prever o que, com perseverança, se logrará conseguir, se o homem se mostrar bastante avisado para procurar a sua felicidade nas coisas positivas e sérias e não em utopias que o levam a recuar em vez de fazê-lo avançar.”. Afinal, a ciência é um dos caminhos da lei do progresso! 22

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Carta ao atual e futuro

ASSINANTE MANTENEDOR Querido(a) irmão(ã), A revista O ESPÍRITA, fundada em 3 de outubro de 1978, jamais deixou de circular em seus 29 anos de existência. Sempre com muito sacrifício, levou para todo o Brasil a mensagem consoladora do Espiritismo Cristão, com a pureza e a beleza propostas por nossos benfeitores sob a égide do Cristo. Cabe colocar, que muitas casas espíritas carentes, mormente no interior, onde há enorme falta de material de divulgação, estão recebendo gratuitamente O ESPÍRITA. Por esta razão, solicitamos à sua nobre consciência, que contribua anualmente com um valor sugerido de R$ 15,00 (quinze reais), ou mediante colaboração espontânea acima deste valor, para que possamos custear as três edições da revista (abril/agosto/dezembro), as postagens dos exemplares que serão remetidos em seu nome e a distribuição gratuita para centenas de instituições espíritas. Ao enviar sua parcela de contribuição, você estará viabilizando a continuação deste trabalho e apoiando os redatores, que lutam com denodo para manterem erguida a bandeira da Nova Fé, e que arcam com os custos desta produção, sem nada receber pelos serviços prestados. Que não nos falte a sensibilidade espiritualizada, entendendo que a luta pela vitória do bem é da responsabilidade de todos.

Contribua com a divulgação da Doutrina Espírita. Preencha o formulário no verso. Mai/ago - 2008

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