Livro Foto&Poema

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Foto & Poema diálogos entre arte e ciência [publicação eletrônica] / Carlos Alberto de Souza, Josie Agata Parrilha da Silva, Paulo Rogério de Almeida (Org.). Ponta Grossa: Proex - UEPG, 2018. 70 p. : il. E-book ISBN: 978-85-63023-42-1 1. Literatura - foto. 2. Foto e Arte. I. Souza, Carlos Alberto de (Org.). II. Silva, Josie Agata Parrilha da (Org.). III. Almeida, Paulo Rogério de (Org.). IV.T.

CDD: B869.1 Ficha Catalográfica Elaborada por Eunice Silva de Novais CRB9/1097


Vol. 1 / 2018 ISBN: 978-85-63023-42-1 ORGANIZADORES: Carlos Alberto de Souza Josie Agata Parrilha da Silva Paulo Rogério de Almeida

REVISÃO Carlos Alberto de Souza Paulo Rogério Almeida

EDITORA: Proex - UEPG

DIAGRAMAÇÃO Juliana Lacerda Paloma Lacerda

EDIÇÃO DE FOTOGRAFIA Carlos Alberto de Souza Hygor Leonardo dos Santos Juliana Lacerda Taís Maria Ferreira

CAPA Juliana Lacerda Loran de Andrade Ferreira Aluno do curso de Licenciatura em Artes Visuais Ilustração - técnica naquim aguado


CONSELHO EDITORIAL DEPARTAMENTO DE JORNALISMO UEPG Angela de Aguiar Araujo, Ma. Ben-Hur Demeneck, Dr. Carlos Alberto de Souza, Dr. Cibele Abdo Rodella, Ma. Hebe Maria Gonçalves de OLiveira, Dra. Maria Lúcia Becker, Dra. DEPARTAMENTO DE ARTES UEPG Josie Agatha Parrilha da Silva, Dra. Maria Cristina Mendes, Dra. Nelson Silva Júnior, Dr. Renato Torres, Dr.

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM UEPG Paulo Rogério de Almeida, Me. Sulany Silveira dos Santos, Dra. Thaisa de Andrade Jamoussi, Dra. Ubirajara Araújo Moreira, Dr. PESQUISADORES INDEPENDENTES Alisson Thiago do Nascimento, Me. Helton Costa, Dr. (Faculdades Secal) Ofelia Elisa Torres Morales, Dra. (Campinas/São Paulo)


SUMÁRIO Prefácio p.7

Poemas

Textos de abertura

Breves reflexões medíocres - Allyson dos Santos p.26 O ardor da fé - Andressa Kaliberda p.27 Garoto - Andreia Spanholi p.28 Saudade de plantão - Anttoniela Orlandi p.29 Daqui de Cima - Carlos Alberto de Souza p.30 O trem que treme - Eloiza Dalazoana p.31 Fatalidade - Gabriela Moreira dos Santos Simões p.32 Adamastor - Germano Busato p.33 Ballet da vida - Hygor Leonardo p.34 Grafite é arte? Josie Agata Parrilha da Silva p.35 Memória - Marcos Cesar Danhoni Neves p.36 Cheiro de leite no trilho do trem - Marisol Luciane Miara p.37 Água - Paulo Rogério de Almeida p.38 Canto XIII - Rosana Divina Furtado p.39 O tempo em versos - Taís Maria Ferreira p.40 Os escrachos e os esculachos - Thaiane de Toledo p.41 Pelo espelho - Thailan de Pauli Jaros p.42

Foto & Poema: diálogos entre arte e ciência p.9 Carlos Alberto de Souza Josie Agata Parrillha da Silva Paulo Rogério de Almeida Imagem, nossa companheira do dia a dia p.10 Carlos Alberto de Souza A poesia: alguns aspectos a serem considerados p.14 Paulo Rogério de Almeida Não sou aquilo que você vê, sou aquilo que sou: um pouco do que você sente, um pouco do que você imagina, um pouco do que você sonha... p.22 Josie Agata Parrillha da Silva

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Depois que você foi embora - Allyson dos Santos p.43 As cores da cidade - Andressa Kaliberda p.44 O tempo - Andreia Spanholi p.45 Muro, Cercas e Soldados - Carlos Alberto de Souza p.46 Parada Rápida - Eloiza Dalazoana p.47 Através do tempo - Gabriela Moreira dos Santos Simões p.48 O tempo - Hygor Leonardo p.49 Época de Ouro - André Ribeiro Pires p.50 Estrangeiros??? - Paulo Rogério de Almeida p.51 Para ver a vida passar - Thailan de Pauli Jaros p.52 Olhei pro céu - Andreia Spanholi p.53 Mundo Moderno - Taís Maria Ferreira p.54 Ruínas da história recente - Andressa Kaliberda p.55 O sol brilha para todos, mas não podemos vê-lo - Antoniella Orlandi p.56 Nessa estrada... - Carlos Alberto de Souza p.57 Santuário - Gabriela Moreira dos Santos Simões p.58 A bola e os sonhos - Andressa Kaliberda p.59 Natureza - Paulo Rogério de Almeida p.60 Praça dos desejos - Gabriela Moreira dos Santos Simões p.61 Sombras das sombras - Thailan de Pauli Jaros p.62 Ver através dos olhos de criança - Gabriela Moreira dos Santos Simões p.63 Dias de tristeza - Carlos Alberto de Souza p.64 Um dia bonito - Gabriela Moreira dos Santos Simões p.65 A cidade da minha alma - Verônica Scheifer p.66 Distante - André Ribeiro Pires p.67 6


PREFÁCIO Dr. Nelson Silva Júnior Departamento de Artes - UEPG Quando olhamos para uma imagem qualquer, seja ela uma cena do cotidiano ou uma peça publicitária impressa ou televisionada, por exemplo, estamos diante de um fenômeno humano, marcado por diversas relações entre a pura contemplação de uma imagem e tudo o que levou à formação dela. Olhar uma rua, seus transeuntes, carros e até os papéis caídos no chão é olhar para a história de todos os elementos ali presentes. Qual a história daquele papel no chão ou das pessoas que ali estão? Como e por que chegaram ali? Contemplar uma imagem é também contemplar as infinitas possibilidades que temos de compreender um pouco mais das pessoas e do mundo que as cerca, ainda que essa imagem não tenha pessoas. Ao olhar para o mundo, poetizamos esse mundo. Damos a ele formas que nos são próprias, particulares, formas singulares de olhar esse mundo. O homem, desde que temos notícia de sua existência, sempre buscou meios e formas para se comunicar, para contar suas histórias, falar de suas emoções. Suas primeiras inserções nesse campo muito provavelmente foram gestuais, ou seja, tentativas visuais de comunicação. Esse homem esperou que alguém contemplasse seus movimentos e entendesse o que ele queria dizer com seus gestos. Assim a contemplação da imagem é que nos permitiu evoluir enquanto espécie. Dos primeiros gestos aos primeiros desenhos na parede da caverna ou aos primeiros grunhidos que antecederam as palavras, o homem revelou sua capacidade de articular conhecimentos e dar forma física a essas articulações, trazendo aí os primeiros sinais daquilo que viríamos

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer, em sua obra “Metafísica do Belo”, fala que a contemplação desinteressada é uma forma de amenizarmos, momentaneamente, o nosso sofrimento existencial. Schopenhauer nos remete ao contato com a Arte em suas mais diferentes formas, sentidos e significados. Empurra-nos ao encontro do significado do Belo, tão íntimo e pessoal, quanto a nossa percepção sobre as coisas mundanas nos permite. Assim ocorre quando nos deparamos com essa complexa e, ao mesmo tempo simples, obra de arte, “Foto e Poema – Diálogos entre Arte e Ciência”. Complexa quando nos leva a olhar o cotidiano, o quase óbvio, na perspectiva de áreas como a Comunicação, a Arte e a Ciência. Complexa quando nos revela em suas primeiras páginas a necessidade da habilidade de ler imagens num mundo cada vez mais visual, de interpretar acontecimentos a partir de uma fotografia. Complexa quando nos fala que a Poesia é emoção e o Poema a representação visual dessa mesma emoção. Complexa quando nos revela que uma leitura imagética plena exige de seu apreciador o desenvolvimento da sensibilidade visual. Quando os autores (organizadores) nos mostram isso, ensinam-nos que o olhar, o simples olhar, não é tão simples como imaginávamos, ainda que espontâneo e natural. Que o ato de olhar uma imagem é repleto de sentidos e significados e que esses podem nos levar da simplicidade à complexidade da beleza, de uma paisagem, de um objeto ou de uma pessoa. Desacomoda-nos pensar que o vermelho que eu enxergo possa ser único; que somente eu o enxergo, quando sempre pensei que todas as pessoas videntes o veem como eu o vejo. Desacomoda-nos pensar que a cor é também uma questão cultural e não apenas física e por isso podemos aprender a olhar, num processo de observar, analisar e apreciar a cor, as formas, as texturas ou as linhas.

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Ainda referenciando-se em Schopenhauer, a Arte e a Ciência têm em comum o mundo como ele se posta diante de nossos olhos e o que as difere é justamente a maneira como elas, Arte e Ciência, consideram esse mesmo mundo. Quando o homem das cavernas misturou barro, ervas e sangue para obter uma substância que pudesse marcar a parede rochosa, usou da Ciência para produzir o que milhares de anos depois seria considerado Arte, dando início a uma relação profícua entre o conhecimento e a expressão humanos. Não existe Arte sem Ciência e não existe Ciência que não possa ser expressa em Arte. A parede das cavernas, as paredes das igrejas e castelos, os objetos, as telas, os palcos, as praças, o barro, as pedras, o corpo, as telas dos computadores e TVs foram e são suportes para a expressão artística, que antes de tudo é uma expressão humana. Expressão que revela que o homem é feito de razão e emoção, de Ciência e de Arte. Não compramos uma roupa só pelo conforto que ela nos proporciona, mas também porque ela, de alguma forma, nos representa. Tomando como exemplo a roupa, ela nos ajuda na criação de uma imagem: a imagem que fazemos de nós mesmos e a imagem que queremos que o outro tenha de nós. As primeiras imagens fotográficas, ainda no século XIX, transformaram o homem por trás da máquina em artista, pois esse não era aquele que apenas acionava um botão, mas aquele que, além de acionar o botão, compunha uma imagem para ser vista, guardada, poetizada pelos olhos ainda encantados com o fenômeno científico da exposição luminosa de uma imagem, fixada numa superfície sensível. A fotografia, hoje tão presente em nosso dia a dia, já foi objeto de indagações, superstições, acusada de acabar com a pintura e empobrecer a Arte, fez surgir uma nova visualidade do mundo e sobre esse mundo. O poeta e crítico francês Charles Baudelaire vivenciou o surgimento e o desenvolvimento da fotografia e afirmava que os fotógrafos da época eram observadores errantes das suas cidades, que agora traziam visões múltiplas, a partir de um olhar em movimento. O pensamento de Baudelaire não poderia ser mais contemporâneo. Assim como o errante, descrito pelo poeta, hoje presenciamos o surgimento de uma cultura imagética crescente, substituindo muitas vezes as palavras e os gestos. Ao nos depararmos com imagens que são recortes de olhares múltiplos, acompanhadas de uma série de palavras em forma de poemas, tornamo-nos errantes observadores, deixados à própria sorte. Sobre as palavras, Schopenhauer diz que o homem rico de espírito, imprime em suas palavras a própria estampa, como um rei que cunha as próprias moedas. A cada página virada (e aqui me permitam a licença poética), presenciamos o encontro mágico entre as palavras (Poesia ou Poema?) e a imagem. Na maioria das vezes, poetas e artistas diferentes que se reúnem e falam aos nossos sentidos de forma tão intima, como se já tivéssemos ouvido aquelas palavras e visto aquelas imagens. Por quê? Porque de fato já ouvimos e dissemos tais palavras e já estivemos em tais lugares, como o errante que, de tantos caminhos que já percorreu, todos os lugares lhe parecem familiares ou as palavras soam como o vento da próxima esquina. Cada página nos toca com a emoção do artista e com a razão do homem ávido por conhecimento, por explicações. Cada página nos toca pela percepção de mestres e aprendizes que, em suas diferentes áreas de conhecimento, de formação, falam uma linguagem tão universal como a imagem de um banco de praça ou como a palavra “tempo”. A obra, composta por 42 poemas e mais de 40 fotos, leva-nos visualmente para os mais diferentes espaços: do interior de um carro, num dia de chuva a um cemitério; do muro grafitado a uma rua de um país distante; do alto de um prédio ao meio-fio de uma avenida; do espelho retrovisor às linhas de um trem. Imagens e palavras que, juntas, nos revelam a singularidade do olhar... a singularidade da palavra...a singularidade do ser. Uma viagem por campos distintos, para ser vista e lida com os olhos que dialogam com a Arte e a Ciência.

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FOTO&POEMA: DIÁLOGOS ENTRE ARTE E CIÊNCIA Carlos Alberto de Souza Josie Agatha Parrilha da Silva Paulo Rogério de Almeida Quando pensamos este e-book, pensamos em reunir a experiência de professores e alunos de três departamentos da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Queríamos envolver em uma mesma produção, ciência, arte, foto e poesia. A primeira parte, científica, é confirmada no início da obra, com a inclusão de três capítulos reflexivos e teóricos sobre imagem e criação. Nosso propósito era criar um projeto diferente e, ao mesmo tempo, que inspirasse as pessoas. O mundo não pode ser tão cinza e triste. Temos que saudar a criação, a cor, a imagem e a escrita. É essa fusão de coisas que nos faz humano, que mostra nosso poder sobre o mundo. O projeto, bem planejado, foi sendo remodelado, adaptado e ganhou corpo. Chegamos então à apresentação do primeiro volume de Foto & Poema: diálogos entre arte e ciência. A obra tem ainda a assinatura da Editora da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (PROEX), da UEPG, que, ao longo dos últimos anos, tem apoiado a iniciativa de grupos de extensão, ao abrir espaço à publicação de e-books nas áreas da cultura, arte e da extensão. Queremos fazer um agradecimento especial à Pró-Reitora de Extensão e Assuntos Culturais, Cloris Regina Blanski Grden, por ter apostado neste projeto que tem por finalidade integrar, pela Extensão, três departamentos da UEPG. Con-

vém salientar, igualmente, que este trabalho é resultado de uma coprodução entre os projetos Foca Foto (fotorreportagem UEPG), Litera Rádio e do grupo de pesquisa INTERART – Interações entre arte, ciência e educação: diálogos e interfaces nas Artes Visuais. Constitui ainda um esforço das linhas de pesquisa Imagem na relação arte e ciência e Processos jornalísticos, representações e práticas sócio-culturais. Os textos de abertura, dos organizadores revelam conhecimento. Revelam uma construção científica que extrapola sua função mais básica, pois liga o conhecimento à criação, proporciona olhares diferenciados, sentimentos e emoções. Reportamo-nos aqui a Paul Valèry (1999)*: “É a execução do poema que é o poema. Fora dela essas sequências de palavras curiosamente reunidas são fabricações inexplicáveis” . Esse trecho nos ajuda a explicar a construção do nosso livro: cada imagem e poema ganha sentido quando reunidos. A organização, seleção e escolha das imagens, criação dos poemas são uma construção poética. É a arte e a fotografia se expressando, o poeta mostrando vida, relevando aventuras, alegrias e dor. É criação. E para quem este livro eletrônico se dirige? Para àqueles que veem as coisas com outros olhos, que procuram a beleza na simplicidade, que sabem ler a palavra ou que se inspiram na palavra ou nas imagens para remontar o mundo, o cotidiano. É isso que Foto & Poema: diálogos entre arte e ciência quer provocar. --------------------------------------

CARLOS ALBERTO DE SOUZA – Professor do Departamento de Jornalismo da UEPG. JOSIE AGATHA PARRILHA DA SILVA – Professora do Departamento de Artes da UEPG. PAULO ROGÉRIO DE ALMEIDA – Professor do Departamento de Estudos da Linguagem da UEPG. *VALÈRY, Paul. Primeira aula do curso de poética (1937). In: Variedades. Trad. Maiza Martins de Siqueira. São Paulo: Iluminuras,1999. p. 179-192. 9


IMAGEM, NOSSA COMPANHEIRA DO DIA A DIA Carlos Alberto de Souza Professor do Departamento de Jornalismo da UEPG Todos os dias, somos bombardeados por milhares de informações difundidas pela televisão, jornais impressos, revistas e internet. Poderíamos acrescentar àquelas que vêm pelas ondas artesianas, principal fonte de informação de informação até o advento da tevê. Antes do surgimento da fotografia, invento creditado ao francês Louis-Jacques Mandé Daguerre, segundo Oliveira e Vicentini (2009), criavam-se imagens mentais sobre os relatos dos navegadores, das civilizações distantes, das grandes epopeias empreendidas nas Américas, Índia, África, com as grandes caçadas de elefantes e felinos. Imaginavam-se as cenas, daquilo que era contado, lido em praça pública, do que vinha escrito em livros ou nos primeiros jornais da era pré-moderna. Por não dispor de equipamentos que registrassem mecanicamente as guerras, as descobertas marítimas e muitos outros acontecimentos do mundo, recorria-se a pintores e ilustradores. Estes procuraram expressar na tela cenas e detalhes das batalhas em campos de guerra, as novas terras e civilizações, as grandes navegações, os paraísos selvagens dos novos mundos. A nobreza e as poucas pessoas letradas (burguesia, clero) tentavam entender o mundo em transformação pelos

relatos dos viajantes, pelas telas e desenhos dos artistas ou por meio dos contadores de histórias, que muitas vezes fantasiavam o relato, gerando medo, desejos, entusiasmos e interesses. Com o advento da imprensa, a data aproximada da invenção de Johann Gutenberg de Mainz é 1450, segundo Briggs e Burke (2006) e, posteriomente, com o surgimento da fotografia, praticamente quatro séculos da era Gutenberg, a compreensão da realidade se torna “precisa e fácil”, especialmente com a popularização da máquina fotográfica, nos séculos subsequentes à consolidação da imprensa escrita e, posteriormente, ao surgimento de novos meios eletrônicos e digitais de comunicação. Foi longo o período de obscuridade, que atingiu o auge na Idade Média. Não se conhecia “nada”. A cabeça do homem era habitada por figuras celestiais e demônios. O processo de ‘libertação’ desse homem, que deixa bem para trás “a Caverna”, começa com o movimento artístico e cultural do Renascimento, com seu berço na Itália. A burguesia ascendente já não suportava o julgo da Igreja e dos Reinos. A ordem social passa a ser orientada por uma nova lógica, mercantilista, que abre as portas ao mundo capitalista, à exploração do trabalho e ao lucro. O mundo foi mudando repentinamente,

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acompanhado de perto por um novo agente, a comunicação de massa, os profissionais da informação, os que hoje conhecemos por Jornalistas. Com a fotografia, os fatos sociais ganham nova dimensão. A imagem passa a ter importância social e a ocupar lugar privilegiado na mídia imprensa, na Televisão e na Internet. Como observa Rodrigo Alsina (2009), somos bombardeados a todo instante por milhares de notícias e passamos a ter acesso a informações de todas as partes do mundo quase que em tempo real. As fotografias de Fenton, da Guerra da Criméia, foram o pontapé para uma transformação na cobertura das guerras. Eventos sociais, manifestações públicas, ações governamentais, competições esportivas, apresentações culturais invadiram nossas casas e a televisão se constituiu como nossa janela para o mundo. Pela televisão, pela internet e, também, por outros veículos jornalísticos, acompanhamos quedas de governos, coroamento de reis, casamento de princesas, campanhas de solidariedade, crises financeiras, traição, corrupção e sofrimento de povos submetidos a ditadores insanos. “Todas as manhãs, as pessoas que querem saber o que está acontecendo no mundo leem o jornal, escutam a rádio, veem a televisão ou navegam pela internet [...] consomem uma mercadoria especial: as notícias” (ALSINA, 2009, p. 9). O jornalismo se especializou em todas as áreas, começou a preparar em universidades mão de obra capacitada e crítica para informar, denunciar, fiscalizar poderes e entender o mundo. O jornalista se torna, nas palavras de Rodrigo Alsina (2009), “um produtor de realidade social”. O desenvolvimento da mídia impressa no mundo, na competição com os outros meios informativos, teve muito a contribuição da fotografia. Ela permitia mostrar a realidade; era a prova incontestável que faltava de credibilidade. Acredita-se que tal fato realmente aconteceu, pois ele foi fotografado. Garantia credibilidade inclusive à própria empresa, responsável pelas notícias e reportagens. Hoje, mais do que nunca, como observou Mafesoli (1995), Debord (2002), vive-se sobre a lógica da imagem. Ela tem força informativa, ela dá sentido à vida, aos fatos e às narrações. Ela revela o que não se pode ver com ‘os próprios olhos’. Cada vez mais dependemos dos meios de comunicação para estarmos sintonizado ao mundo e ao que acontece nele e com ele. O domínio da imagem é tão expressivo que Debord (2002) criou “O conceito de Sociedade do Espetáculo”, para designar esse novo momento social em que a imagem impera. Chama a atenção de forma crítica para esse momento e contexto em que as pessoas vivem. A fotografia revolucionou o mundo, a vida das pessoas, muito mais agora com a internet e dispositivos móveis de telefonia, que alterou significativamente modo de interagir/reagir no seio social e político. Posicionar-se diante dos acontecimentos, das injustiças, da corrupção, da violência, da pobreza e da exploração.

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Hoje, cada vez mais, em função desse volume de imagens, saber ler na essência o que as fotografias têm a dizer, qual o ponto de vista que defendem, que ideologia há por detrás de tal informação, é de suma importância, principalmente em uma sociedade que tem muitos atores, diferentes interesses e ideologias. A imagem ganhou respeito na mídia e hoje obriga jornais e revistas, por exemplo, a valorizá-las em suas capas e editorias. Tratam-se de estratégias informativas e, ao mesmo tempo, mercadológicas para atrair a atenção do leitor. No caso da televisão, do público, dos telespectadores, ávidos por notícias. Somos obrigados a exercitar cada vez mais a habilidade de ‘ler’ imagens, interpretar acontecimentos. Temas tratados por autores como Barthes (1990) Sousa (2002; 2004), Kossoy (2012) e Foltz; Lovell e Zwahlen (2007). Ver o que ela quer passar, o que tem a dizer. Que ponto de vista defende, que interesses estão por trás, que ideologias impregna. Nesse processo, temos que ser sujeitos e estar alertas. O exercício de interpretação e reflexão sobre o que olhamos, o que vemos e como vemos é fundamental em qualquer sociedade constituída por classes. Os que estão no poder, os que detêm os meios produtivos tentam nos convencer que tudo segue de forma normal. As mensagens nos atravessam e acabam nos convencendo pela insistência, pois não estamos o tempo todo alerta. Não estamos atentos ao que os órgãos emissores, os políticos, os intelectuais, a classe rica, os empresários tentam imprimir por meio de suas mensagens. Os meios de comunicação não nos pertencem. Invariavelmente estão ao lado do poder, dos

governos, dos impérios, dos conglomerados industriais. Mas a imagem, o fotojornalismo, proporciona aos homens e mulheres novas experiências e narrativas da realidade. Ela autentica muito do que é escrito sobre o mundo. Kobré (2011) observa que é possível contar histórias inteiras [...] em questões de minuto” (KOBRÉ, 2011, p. 229). Buitoni (2011) questiona: “o que torna jornalística a foto? É o assunto? É o olhar do fotógrafo? É a veiculação numa mídia jornalística?” (BUITONI, 2011, p. 54). A fotografia, observa a autora, tem uma natureza indicial como um elemento fundante de seus usos e aplicações.” O vínculo físico entre o referente e a foto é a pedra de toque que justifica a credibilidade e a veracidade” de uma reprodução técnica.” Segundo Dubois (1994, p. 25), existe uma espécie de consenso sobre a importância de uma imagem fotográfica, seu valor e credibilidade como registro da realidade e de acontecimentos reais. Quem trabalha com a imagem precisa ser ético. Esta é missão do Jornalismo, informar dentro dos preceitos éticos. O profissional, apesar das agruras que tem de enfrentar na profissão, precisa ser fiel aos fatos e a realidade. A fotografia tem, entre outras missões, a tarefa de “documentar a história da sociedade, desenvolvendo-se em consonância com essa. Isso porque seu uso, além de documento histórico, é fundamental no sentido informativo para o seu meio social” (SOUZA; JASPER; KALIBERDA, 2013, p. 2). Os autores explicam que a informação transmitida por meio da fotografia, do fotojornalismo, impulsiona interpretações e emoções sobre o que é transmitido, mobiliza e faz agir, como aconteceu em vários movi-

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mentos mentosrecentes recentespelo pelomundo, mundo,contra contragovernos. governos. AAimagem imagemtem temesse essepoder, poder,um umpoder poderhoje hojemais maisforte forteque queaapalavra, palavra,pois poissua suainformação informaçãoimpacta impactade deforma formadireta diretaeeuniversal, universal,tendo tendo em emvista vistaque quepode podeser ser“lida” “lida”por porqualquer qualquerum umem emqualquer qualquerlugar lugardo doplaneta. planeta.Em Emcrises, crises,ela elaééooestopim estopimpara paraguerras, guerras,manifestações manifestaçõessosociais ciaise,e,inclusive, inclusive,contribui contribuipara paraderrubar derrubar“impérios”. “impérios”.Mas Masela elatambém tambémtem, tem,em emoutros outroscampos camposdo doconhecimento, conhecimento,oopapel papelde dedivertir, divertir,ensinar, ensinar, estetizar estetizaraarealidade, realidade,provocar provocarsentimentos sentimentoseevalorizar valorizarooato atocriativo criativodo dopoeta. poeta. REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS BARTHES, BARTHES,Roland. Roland.AAmensagem mensagemfotográfica. fotográfica.In.In.LIMA, LIMA,Luiz LuizCosta. Costa.Teoria Teoriada dacultura culturade demassa. massa.Rio Riode deJaneiro: Janeiro:Paz PazeeTerra, Terra,1990. 1990. BRIGGS, BRIGGS,Asa; Asa;BURKE, BURKE,Peter. Peter.Uma Umahistória históriasocial socialda damídia: mídia:de deGutenberg GutenbergààInternet. Internet.Rio Riode deJaneiro: Janeiro:Jorge JorgeZahar, Zahar,2006. 2006. BUITONI, BUITONI,D.D.S.S.Fotografia Fotografiaeejornalismo: jornalismo:aainformação informaçãopela pelaimagem. imagem.São SãoPaulo: Paulo:Saraiva, Saraiva,2011. 2011. DEBORD, DEBORD,G.G.Sociedade Sociedadedo doEspetáculo. Espetáculo.São SãoPaulo: Paulo:Contracampo, Contracampo,2002 2002 DUBOIS, DUBOIS,P.P.OOato atofotográfico. fotográfico.Campinas: Campinas:Papirus, Papirus,1994. 1994. FOLTZ, FOLTZ,James; James;LOVELL, LOVELL,Ronald; Ronald;ZWAHLEN ZWAHLENJUNIOR, JUNIOR,Fred. Fred.Manual Manualde defotografia. fotografia.São SãoPaulo: Paulo:Thomson ThomsonLearning, Learning,2007. 2007. KOBRÉ, KOBRÉ,K.K.Fotojornalismo, Fotojornalismo,uma umaabordagem abordagemprofissional. profissional.Rio Riode deJaneiro: Janeiro:Elsevier, Elsevier,2011 2011 KOSSOY, KOSSOY,Boris. Boris.Fotografia Fotografiaeememória. memória.Cotia: Cotia:Ateliê AteliêEditorial, Editorial,2012. 2012. MAFFESOLI, MAFFESOLI,Michel. Michel.AAcontemplação contemplaçãodo domundo. mundo.Porto PortoAlegre: Alegre:Artes ArteseeOfícios, Ofícios,1995. 1995. OLIVEIRA, OLIVEIRA,Erivan ErivanMorais Moraisde; de;VICENTINI, VICENTINI,Ari. Ari.Fotojornalismo: Fotojornalismo:uma umaviagem viagementre entreooanalógico analógicoeeoodigital. digital.São SãoPaulo: Paulo:Cencage CencageLearning, Learning,2009. 2009. RODRIGO RODRIGOALSINA, ALSINA,Miguel. Miguel.AAconstrução construçãoda danotícia. notícia.Petrópolis: Petrópolis:Vozes, Vozes,2009 2009 SOUSA, SOUSA,Jorge JorgePedro. Pedro.Fotojornalismo: Fotojornalismo:Introdução Introduçãoààhistória, história,àsàstécnicas técnicaseeààlinguagem linguagemda dafotografia fotografiana naimprensa. imprensa.Florianópolis: Florianópolis:Letras LetrasContemporâneas, Contemporâneas, 2002. 2002. __________. __________.Uma Umahistória históriacrítica críticado dofotojornalismo fotojornalismoOcidental. Ocidental.Chapecó: Chapecó:Letras Letrascontemporâneas, contemporâneas,2004. 2004. SOUZA, SOUZA,C.C.A.A.de; de;JASPER, JASPER,A.; A.;KALIBERDA, KALIBERDA,A.A.História Históriada dafotografia fotografiaeedo dofotojornalismo fotojornalismoem emPonta PontaGrossa: Grossa:por porum umprojeto projetode deresgate. resgate.In.In.9º. 9º.Encontro EncontroNaNacional cionalde deHistória Históriada daMídia. Mídia.Ouro OuroPreto, Preto,30 30maio maioaa11de dejunho junho2013. 2013. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------CARLOS CARLOSALBERTO ALBERTODE DESOUZA SOUZA Professor ProfessorAdjunto Adjuntodo doCurso Cursode deJornalismo Jornalismoda daUEPG, UEPG,mestre mestreem emComunicação Comunicaçãopela pelaUFRGS UFRGSeeDoutor Doutorem emCiências CiênciasHumanas Humanas(Interdisciplinar) (Interdisciplinar)pela pelaUFSC. UFSC. Autor Autordos doslivros livros“O “Ofundo fundodo doespelho espelhoééoutro: outro:quem quemliga ligaaaRBS, RBS,liga ligaaaGlobo”; Globo”;“Telejornalismo “Telejornalismoeemorte”. morte”.Organizador Organizadordas dascoleções coleçõesImpressão Impressãode deJornalisJornalistata(Univali), (Univali),Coleção ColeçãoImagética Imagética(UEPG) (UEPG)eeMídias MídiasContemporâneas Contemporâneas(UEPG). (UEPG).Coordenador Coordenadordo doProjeto Projetode deExtensão ExtensãoFoca FocaFoto Fotoeedo doProjeto Projetode dePesquisa PesquisaFoFoto&Tec to&Tec

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A POESIA: ALGUNS ASPECTOS A SEREM CONSIDERADOS Paulo Rogério de Almeida Professor do Departamento de Estudos da Linguagem da UEPG Poema ou Poesia? Conceituar um e outro é um pouco difícil, reconhecemos. O Poema é a representação física da emoção, do sentimento, do que vai no íntimo, na alma da pessoa. Quando se fala em Poema, é comum as pessoas pensarem automaticamente em Poesia. E vice-versa. Recordemos que Poesia é uma Arte, que se realiza através da palavra. Podemos, inclusive, comparar a realização da Poesia com as cores para a Pintura, os sons para a Música e os movimentos do corpo para a Dança. Como se trata de uma Arte, a Poesia tem muito a ver com a emoção, palavra esta derivada da Língua Latina e que significa agitação, impulso, movimento. Será que assim estaremos chegando mais perto de uma possível definição? Ou de um entendimento maior? Vejamos: Poesia, sendo Arte, mexe com todas as pessoas de uma maneira completa, integral; trata-se de afeto, corpo, espírito, moral, razão, senso estético. Tudo relacionado ao mesmo sentimento. Vejamos, com mais propriedade. A emoção mexe com os nossos afetos. Por exemplo: o abraço apertado na ou da pessoa amada que há tempos não víamos; o sorriso triste de alguém que sofre em silêncio. A emoção mexe com o nosso corpo. Por exemplo: sensibilizamo-nos com um pôr do sol, um luar, o canto das aves, as formas e cores e perfume de uma

flor, com a suavidade de uma brisa, e, quem sabe, com a fúria de um vendaval! A emoção mexe com o nosso espírito. Por exemplo: a força da fé diante de uma doença, a oração silenciosa e cheia de confiança ou agradecimento, a crença num Espírito Superior ou na vida após a morte. A emoção mexe com a nossa moral, com a nossa ética. Por exemplo: a solidariedade que as causas humanitárias provocam ou a indignação de um poeta diante das injustiças humanas. A emoção mexe com a nossa razão. Por exemplo: a lógica de uma argumentação, a sutileza de uma ironia, a beleza de um teorema, a perfeição geométrica dos favos de uma colmeia. A emoção mexe com o nosso senso estético. Por exemplo: a alegria inexprimível da música, o filme que nos prende e surpreende, a leveza e a precisão dos movimentos de uma dança, a força magnética de um quadro ou de uma pintura. E por aí vai. A Poesia é emoção! Temos repetido bastante. Desses tipos de emoção, relembrados acima, é que o poeta extrai a matéria-prima para os poemas (representação visual, ou gráfica, se preferir). Sim! O poeta procura despertar, em cada pessoa que leia ou veja um poema, emoções equivalentes; o que é, convenhamos, o principal objetivo de uma obra de arte. Pelo menos, supomos que seja, não é mesmo? Se for, podemos então dizer que a emoção é a fonte da inspiração artística. E, lembremos: o poeta é um artista. Mas não só o poeta é um artista. Outros também sentiram a, chamemos, veia poética. Nós podemos aplicar à poesia, muito apropriadamente, o que afirmou o famoso arquiteto franco-suíço Le Corbusier (1887-1965), a respeito de uma de suas obras-primas, a Vila Savoye. Diz ele: “a Vila Savoye é uma machine à emouvoir”. Entendamos: uma máquina de comover, uma máquina de pro-

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duzir emoção. Isso tem muito a ver com o que propõe Fernando Pessoa (1888-1935), considerado por muitos como o maior poeta de Língua Portuguesa. Autopsicografia O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas da roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama o coração. (PESSOA, 1976, p. 164-165). No poema, notamos o “fingimento poético”, isto é, a ficcionalização (que é inerente a toda obra literária), da qual a experiência pessoal é matéria-prima devidamente transformada, isto é, transfigurada, “fingida”, pela imaginação criadora do poeta/artista. Assim é a emoção. Mas, recordemos, para se construir um poema, não basta a emoção. É necessário que o poeta domine ferramentas capazes de transmutar essas emoções em obras de arte. A palavra artística tem que ser muito bem trabalhada; para atingir a finalidade estética a que se propõe: despertar emoção! Para que o poeta possa obter sucesso nessa empreitada, ele precisa reunir, harmoniosamente, dois elementos: a intuição e/ou sensibilidade (seu talento natural); e seus conhecimentos e habilidades técnicas (domínio artesanal). Sobre isso, dois destacados poetas se posicionaram. Primeiro: Horácio, o grande poeta clássico da Literatura Latina, que viveu entre os anos 65 e 8 antes de Cristo, no livro “Arte Poética” (In: “A poética clássica: Aristóteles, Horácio, Longino”, 1981, p. 59).

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Afirma Horácio que o poema digno de aplauso (no original: “poema digno de louvor”) é o que “resulta da harmoniosa cumplicidade” entre o “engenho” (ou seja: o dom natural, a intuição) e a “arte” (ou seja: o domínio técnico e o trabalho). Segundo: Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), na crônica “Autobiografia para uma revista” (1992), afirma: “Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação.” (ANDRADE, 1992, p. 1.344-1.345). Como pudemos notar, sendo Arte, a Poesia também tem sua teoria, sua técnica e suas características. Talvez a característica mais marcante, praticamente ausente nos poemas atuais, é a rima. Ela é a repetição de sons entre dois ou mais vocábulos, a partir da vogal tônica. Essa repetição pode ser de todos os fonemas ou só de alguns, e os sons podem ser exatamente os mesmos ou apenas parecidos entre si. A rima é um dos recursos sonoros mais típicos da linguagem poética, dando-lhe musicalidade marcante. Exemplos: ‘-atas’ nas palavras “cascatas-serenatas-matas”; ou ‘-ória’ nas palavras: “história-gló-ria-vitória”. É o que se pode observar no soneto abaixo, de Olavo Bilac (1865-1918), onde ocorrem as rimas ‘-elas’ e ‘-igas’:

Velhas árvores Olha estas velhas árvores, mais belas Do que as árvores novas, mais amigas: Tanto mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da idade e das procelas... (BILAC, 1963, p. 39). Como a rima é um fenômeno sonoro, pode haver situações em que a escrita seja diferente, mas a pronúncia poderá ser igual ou assemelhada. Por exemplo: água-mágoa; desejo-beijo; brilho-exílio; boca-louca; mortais-incapaz; reis-inglês; tolice-superfície; azuis-cruz; lendária-cesárea; mistério-funéreo. Voltando a Bilac (1963), no poema abaixo, ele emprega a rima ‘desejo-beijo’, um par muito frequente: Beijo eterno Quero um beijo sem fim, Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo! Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo, Beija-me assim! (BILAC, 1963, p. 47).

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Agora, um exemplo de poema modernista em que não existe propriamente um conjunto de rimas e sim a repetição de algumas palavras que têm uma conotação especial para o assunto do poema. À característica poética de usarmos palavras que reproduzem um som característico, damos o nome de onomatopeia. Procedimento fundamental no poema “O relógio”, de Vinícius de Moraes (1913-1980): O relógio Passa, tempo, tic-tac Tic-tac, passa, hora Chega logo, tic-tac Tic-tac, e vai-te embora Passa, tempo Bem depressa Não atrasa Não demora Que já estou Muito cansado Já perdi Toda a alegria De fazer Meu tic-tac Dia e noite Noite e dia Tic-tac Tic-tac Tic-tac... (MORAES, 1968, p. 74).

Essa técnica de se repetir palavra ou palavras tem contribuído e muito para fortalecer a estrutura do poema. O poema drummoniano, “No meio do caminho” (1992), é outro excelente exemplo. A repetição do verso “No meio do caminho tinha uma pedra” funciona como um elemento obsessivamente estruturante do poema em seu todo, numa perfeita harmonia/equação/combinação com a impressão muito forte que aquele simples acontecimento causou no poeta. No meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. (ANDRADE, 1992, p. 891). Em alguns casos, substitui-se a repetição por uma enumeração caótica que consiste em uma sequência não ordenada de palavras ou expressões, dando a sensação de mistura de elementos díspares, mas que têm em comum o fato de pertencerem a uma mesma situação, que ajudam a compor. Um ótimo exemplo é o “Poema sujo”, de Ferreira Gullar (1930-2016), em que o “eu lírico” fala de sua ida forçada para o exílio, levando consigo a lembrança de “coisas” que remetem ao seu meio familiar. Vejamos o trecho abaixo: 17


Garfos enferrujados facas cegas cadeiras furadas mesas gastas balcões de quitanda pedras da Rua da Alegria beirais de casas cobertos de limo muros de musgos palavras ditas à mesa do jantar, voais comigo sobre continentes e mares (GULLAR, 1977, p. 9). A partir de 1950, surgem a Poesia Concreta, o Poema Processo e a Poesia Marginal. A Poesia Concreta é originária do trabalho de três jovens: Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos, o grupo “Noigrandes”. Em 1956, eles fizeram a “Exposição Nacional de Arte Concreta”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Foi a primeira mostra de poemas-cartazes do grupo e atraiu adversários e adeptos. Isso porque o Concretismo apresentava características nunca pensadas ou imaginadas para a arte poética. As principais: a) a intenção de reduzir a expressão a signos concretos e enfatiza a representação gráfica da linguagem; b) o uso de palavras soltas, livres, autossuficientes; c) a busca de poesia espacial, reagindo contra a poesia discursiva, evitando o verso, valorizando os elementos visuais: espaço, brancos, letras, tipos; d) o desejo de uma “matemática da composição”; e) o poema concreto, um objeto em e por si mesmo, não um intérprete de objetos exteriores. Uma mudança e tanto. Exemplo representativo é o poema de Mário Chamie (1933-2011): Lavrador Lavra: onde tendes pá, o pé e o pó, sermão da cria: tal terreiro. Dor: Onde tenho o pó, o pé e a pá, quinhão da via: tal meu meio de plantar sem água e sombra.

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Lavra: Onde está o pó, tendes cãibra; agacho dói ao rés e relva. Dor: Onde, jaz o pó, tenho a planta do pé e milho junto à graça do ar de maio, um ar de cheiro. Lavra: A planta e o pé, e a terra; o mapa vosso; várzea e erva. (CHAMIE, 1962, p. 34). O Poema Processo, surgido no Rio de Janeiro e liderado por Wlademir Dias-Pino (1927-), opõe-se radicalmente ao Concretismo, pois tem por característica a superação da palavra, vale dizer, o poema sem palavras. Importa-lhe a visualização. Dias-Pino (2014) afirmava: “O poema/processo é uma abertura constante: criação/teoria. Desde a reformulação das manchetes diárias nos jornais (colagens), isto como cultura de massa, até seu nível mais elevado, inauguração de processos informacionais. Individualmente o consumidor manipula o poema com suas opções corporais e coletivamente se apropria dos processos políticos e sociais, pela divulgação dos fatos. / Dizendo que só é critério, para julgamento de um poema, a sua funcionalidade, isto é, só o consumo é lógica (e não lógico), defende um princípio socializante.” (DIAS-PINO, 2014, p. 147). A seguir, dois ótimos representantes do Poema Processo: B)

A)

(LAURA DE LEMOS)

(SEBASTIÃO DE CARVALHO)

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Surgida na década de 70, a poesia marginal é assim chamada porque sua impressão e distribuição não são feitas por editoras e distribuidoras. Os livros são muitas vezes rodados em mimeógrafos, o que deu margem a que se falasse de uma “geração mimeógrafo”; às vezes, em “off set” ou processos semelhantes; com pequenas tiragens; os trabalhos têm frequentemente um acabamento material bastante rústico. A venda se dá, geralmente, de mão em mão, sendo realizada muitas vezes pelo próprio autor ou por amigos dele e percorrendo um circuito mais ou menos fixo de bares e/ou restaurantes, portas de cinema e teatros ou mesmo universidades. Um exemplo dessa poesia marginal tem-se em Curitiba, aos domingos, na Feira de Artesanato do Largo da Ordem. A linguagem que aparece nos poemas marginais é extremamente diversificada: há textos próximos da prosa, com temas relacionados ao cotidiano num tom predominantemente coloquial, a ironia e o desprezo ao chamado “bom gosto” marcam essa produção. Preocupam-se, sobretudo, com a expressão, ora de fatos triviais, ora de seus sentimentos, por isso boa parte dessa produção apresenta um tom de conversa íntima, de confissão pessoal. Antônio Carlos de Brito (1944-1987), mais conhecido como “Cacaso”, mostra isso em: O Fazendeiro do Mar Mar de mineiro é inho mar de mineiro é ão mar de mineiro é vinho mar de mineiro é vão mar de mineiro é chão Mar de mineiro é pinho mar de mineiro é pão mar de mineiro é ninho mar de mineiro é não mar de mineiro é bão mar de mineiro é garoa mar de mineiro é baião

mar de mineiro é lagoa mar de mineiro é balão mar de mineiro é são Mar de mineiro é viagem mar de mineiro é arte mar de mineiro é margem (...) Mar de mineiro é arroio mar de mineiro é zem mar de mineiro é aboio mar de mineiro é nem mar de mineiro é em Mar de mineiro é aquário mar de mineiro é silvério

mar de mineiro é sério mar de mineiro é minério Mar de mineiro é gerais mar de mineiro é campinas mar de mineiro é Goiás Mar de mineiro é colinas mar de mineiro é minas (Poema publicado no livro Mar de mineiro: poemas e canções (1982), da série Postal. In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.51-55. Foi musicado pela cantora Miúcha, irmã do compositor Chico Buarque de Hollanda. O poema faz referência ao livro “Fazendeiro do Ar e Poesia até agora”, de Carlos Drummond de Andrade, 1953).

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Talvez, hoje, a Poesia tenha trilhado tantos caminhos novos e desafiadores que esteja meio sem rumo, em termos de nomenclatura ou definição. Talvez o poeta esteja tentando conciliar sua veia poética com problemas do cotidiano: alimentação, filhos, impostos, sobrevivência, enfim. Paulo Leminski (1944-1989), um dos mais famosos poetas paranaenses, mostra muito bem isso em um poema sem título, de 1987: ... eu queria tanto ser um poeta maldito a massa sofrendo enquanto eu profundo medito eu queria tanto ser um poeta social rosto queimado pelo hálito das multidões em vez olha eu aqui pondo sal nesta sopa rala que mal vai dar pra dois. (LEMINSKI, 1995, p. 131)

REFERÊNCIAS A POÉTICA CLÁSSICA: Aristóteles, Horácio, Longino. Trad. de Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix, 1981. ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: AGIR, 1963. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1978. CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. CAMARA, Rogério; MARTINS, Priscilla. (Orgs.). Poesia/poema: Wlademir Dias-Pino. Rio de Janeiro: Europa, 2014. CIRNE, Moacyr; SÁ, Álvaro de. A origem do livro-poema. Revista Vozes, Petrópolis, n. 65, p. 39-44, abr. 1971. CHAMIE, Mário. Lavra lavra. São Paulo: Massao Ohno Editora, 1962, 140p. GULLAR, Ferreira. Poema sujo. São Paulo: Civilização Brasileira, 1977. LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. 1987. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. 136p. MORAES, Vinícius de. Vinícius de Moraes - obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1968. PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976.

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NÃO SOU AQUILO QUE VOCÊ VÊ, SOU AQUILO QUE SOU: UM POUCO DO QUE VOCÊ SENTE, UM POUCO DO QUE VOCÊ IMAGINA, UM POUCO DO QUE VOCÊ SONHA... Josie Agatha Parrilha da Silva Professora do Departamento de Artes da UEPG A área de Artes Visuais contempla o domínio de procedimentos estético-visuais, como leitura, análise e produção de imagens. Engloba, além das tradicionais: pintura, escultura, gravura, outras formas de expressão, como artesanato, arte popular, cinema, televisão, fotografia, mídia, arte digital etc. Enfim, têm como foco central a visualidade. Hoje, mais do que em qualquer período histórico, a imagem se faz presente em nosso dia a dia, em especial pela ampliação do acesso à mídia digital. Alguns autores referem-se ao século XX como o Século da Imagem. Seria o século XXI, o da imagem digital? São várias as questões que podem ser discutidas em relação às imagens. Optamos por discutir sobre a apreciação visual. Essa discussão se faz importante uma vez que, com essa grande quantidade de imagens a que estamos expostos, corremos o risco de sobrecarregarmos nosso olhar e ficarmos desatentos e incapazes de apreciá-las. Acreditamos que, mais do que em qualquer outro momento, é necessário desenvolvermos a sensibilidade do olhar. O que parece inicialmente algo simples, na verdade não o é, pois a maioria de nós não teve essa preparação. Isso porque a educação escolar, de forma geral, inicia-nos na alfabetização da leitura e escrita alfabética, ou seja, a linguagem escrita e ainda nas linguagens matemática, científica, entre outras. Mas, e a linguagem visual? Quantos de nós aprendemos e desenvolvemos nossa capacidade de leitura visual na escola? Essa falta de experiências de leitura visual diminui nossa possibilidade de apreciar imagens, em especial as imagens de representações como desenhos, pinturas, fotografias etc. Aqui se faz importante refletir sobre o entendimento de imagem que temos. Para isso, optamos por fazer essa reflexão a partir da Figura 1: observem atentamente a figura antes de darem continuidade à leitura do texto.

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FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO DO CONCEITO DE IMAGEM. FONTE: ARQUIVO PESSOAL DA AUTORA, 2018 O ideal era termos uma conversa sobre sua interpretação e, só então, apresentaria a que fizemos. Infelizmente isso não será possível, então passo à interpretação original. Na Figura 1, podemos observar uma imagem em forma circular com quatro diferentes representações: terra, água, ar e fogo; esses elementos representam tudo aquilo que existe em nosso mundo e, ainda, suas imagens concretas. O animal que aparece na figura, um camaleão, está com o corpo em fase de mudança fisiológica de sua pele, adaptando suas cores ao ambiente em que está exposto (os quatro elementos); esse processo é conhecido como mimetismo.

Em relação à imagem, representa a possibilidade da mimese, termo filosófico que se refere à imitação. Apesar das imagens serem, aparentemente, do mundo concreto (terra, agua, fogo e ar), na verdade são criadas e recriadas, por meio de representações abstratas, digitalmente etc. A cabeça do camaleão mantém sua cor original para representar as imagens que são elaboradas em nossa mente, nos sonhos... imagens que, na maioria das vezes, não são apresentadas ou reproduzidas para os outros. A representação da imagem da Figura 1 nos aponta a infinidade de possibilidades de interpretações e representações das imagens. Mas, para nossas reflexões, ficaremos com aquelas que podemos visualizar, seja em livros, exposições, computadores, celulares etc. Tais imagens exigem que utilizemos o nosso olhar. Mas esse olhar, essa forma de ver, ultrapassa a questão física, pois, existem outras formas de observar que vão além dos olhos. Como a proposta do presente livro é de concatenar imagens fotográficas e poesias, apresentaremos alguns questionamentos que podem nos ajudar a melhorar nossa capacidade de apreciar as imagens, além dos sentidos. Em relação a poesias, são poucos aqueles que se permitem ser poetas, mas todos podemos ler poesias; na Arte, o mesmo ocorre: não são todos que se permitem ser artistas, mas todos podemos apreciar as diferentes manifestações artísticas, em especial, as imagens. Contudo, temos mais dificuldade nessa leitura imagética, do que na leitura de poemas. Essa dificuldade me reportou a um verso de Cora Coralina¹: “Não é o poeta que cria. E sim a poesia que condiciona o poeta.” Podemos fazer o mesmo com as imagens e as fotografias que irão compor este livro: deixá-las “condicionar” nosso olhar.

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Iniciaremos uma proposta de apreciação das imagens/fotografias que não está baseada em referencial teórico específico de leitura de imagens e sim trará uma proposta de apreciação que contemplará poesia e imagem visual. Nessa forma de apreciação, vamos pensar nas imagens/fotografias como um ser presente, que vai além de uma simples representação e pode e quer se comunicar. Nosso papel será o de, a partir de nosso olhar, buscar compreender o que essa imagem nos comunica. Para ajudar nessa tarefa, utilizaremos alguns trechos da poesia de Clarice Lispector (2018): ”sou como você me vê”. [...] sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar [...] suponho que me entender não é uma questão de inteligência s sim de sentir, de entrar em contato [..] tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras [...] Não me dêem (sic) fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente [...]² Sintetizamos esses trechos de Lispector (2018) pois nos fizeram refletir e nos aproximar de alguns dos cinco problemas apresentados por Aumont em seu livro A imagem. Apresentarei de forma sintética esses problemas: O 1º. problema reporta-se às questões da visão da imagem em si: o que é ver e perceber uma imagem; O 2º. problema sugere que a visão ou percepção visual é uma atividade que requer a utilização de funções psíquicas, intelectuais, de cognição, de memória, entre outras funções. Aumont (1993) explica que a relação do espectador (aquele que observa a imagem) inicia-se pelo exterior (olho) mas relaciona-se com o seu interior (a elaboração imagética no córtex visual e sua compreensão sináptica); O 3º. problema aponta que o espectador terá com a imagem uma relação concreta (o que vê) e abstrata (de acordo com as funções já citadas); O 4º. problema destaca que, ao considerar a relação entre imagem e destinatário, pode-se pensar o funcionamento da imagem: sua relação com o mundo, seu espaço-tempo, suas significações; ¹CORALINA, Cora. O poeta e a poesia. Poemas II. In: Revista verso e prosa. Disponível em: <https://www.revistaprosaversoearte.com/cora-coralina-poemas-ii/>. Acesso em: 13 maio 2018. ²LISPECTOR, Clarice. Pensamentos universais. In: ROSA, Sidneu A. Compêndio definitivo. p. 38. Disponível em: <http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/bsu_data/books/n1388954824906/amostra.pdf>. Acesso em: 13 maio 2018.

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O 5º. problema refere-se às imagens existentes e Aumont (1993) se propõe a abordar algumas especificidades dessas imagens. Entendemos que esses problemas levantados por Aumont (1993)³ na verdade nos dão uma pista de como podemos observar, analisar e, por fim, o que julgamos mais importante, apreciar as imagens... E, a partir dessa atividade coordenada, organizarmos uma proposta de apreciação que contemplará três momentos. Contudo, ao fazer isso, os relacionaremos com trechos dos escritos de Clarice Lispector. Utilizaremos o termo leitor, diferente de Aumont que adota espectador: 1º. momento da apreciação – ver com os olhos: “Sou como você me vê...posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar.” O leitor deve estar aberto a ‘apreciar’ uma imagem; olhar é uma possibilidade que depende da visão. Apenas quem apresenta problemas visuais não pode olhar, mas ver é uma capacidade que necessita de nossa abertura: precisamos estar abertos às possibilidades de ver além de nossos olhos, pois apenas assim poderemos apreciar uma imagem. 2º. momento da apreciação – ver com os sentimentos: “[...] me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...” – Cada leitor terá diferentes percepções a partir das suas funções e capacidades psíquicas, intelectuais, de memória etc. Existe uma relação entre aquilo que se observa (externo) com as questões internas do leitor. Isso nos faz pensar que a apreciação é algo pessoal, individual e a mesma imagem é apreciada e interpretada de forma diferente para cada pessoa. Além disso, essa mesma pessoa pode fazer nova apreciação em outro momento de sua vida, pois, suas memórias, suas emoções, conhecimentos, vão se modificando (é uma função temporal, como definem físicos e matemáticos). Assim, o leitor pode realizar diferentes apreciações da mesma imagem de acordo com o momento de sua vida que ele vivencia. 3º. momento de apreciação: ver o que a imagem quer mostrar - “tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras [...] Não me deem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre” - o leitor, além dessa relação com a imagem: concreta (olhar) e abstrata (sua percepções pessoais) vai além... o contexto em que essa imagem se insere... A imagem que nasceu em um determinado contexto e por determinada pessoa ou grupo, após a sua criação, torna-se, assim, um ser individual que sem sempre representa aquilo que seus criadores almejaram... enfim, ganha vida própria. Esses três momentos podem ser assim sintetizados: abertura para apreciação; possibilidade de diferentes apreciações da mesma imagem de acordo com o leitor; apreciação da imagem como um ser individual. Enfim, sugerimos que, para a apreciação das fotografias e poesias que seguem, deixemo-nos envolver, deixemo-nos ‘condicionar’ em cada criação visual, em cada criação/construção poética. A frase de Lispector pode ser usada para as imagens ou para vocês, leitores: “Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração.” Para isso, você leitor deverá entender a imagem/fotografia como um sujeito que o guiará, deverá deixá-la conversar com você: imagem como cicerone da alma “visiva”... Finalizamos com a frase/título que busca dar voz às imagens: “Não sou aquilo que você vê, sou aquilo que sou: um pouco do que você sente, um pouco do que você imagina, um pouco do que você sonha...”. Sejamos o sonho, ainda que de nós mesmos! ³AUMONT, J. A Imagem. Campinas: Papirus, 1993.

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BREVES REFLEXÕES MEDÍOCRES Allyson dos Santos Acadêmico de Jornalismo da UEPG Acho que me tornei reflexo De tudo aquilo em que não acredito Sorrio quando por dentro, choro Se não entendo o conteúdo, finjo Quando não leio, enrolo Se não gosto da roupa, visto Ao discordar, relevo Quando não dá, desisto Se a cortina está fechada, não abro Quando esfria, deixo de lado os cobertores Se alguma coisa me causa ódio Dou risada com os amigos à mesa do bar Dos reflexos meus Que tanto me incomodam e acomodam Melhor deixar quieto

Foto: Taís Maria Ferreira

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O ARDOR DA FÉ Andressa Kaliberda Acadêmica egressa do curso de Jornalismo da UEPG As pedras frias da cidade bem ali, distante da catedral contemplam, na verdade, o ardor de uma saudade Sentimento queima Arde o coração E o fogo, que cresce sobre a pedra fria abrasa a lembrança de que um dia tudo foi presença. E constância. E na constante monotonia das reminiscências insistentes o ardor da esperança, A espera constante pela reunião naquela que é a única certeza da vida. A vida. E a morte. No entrelaço da sua essência.

Foto: Gabriel Lacerda de Souza

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GAROTO Andreia Spanholi Acadêmica do curso de Artes da UEPG Garoto! Menino! Ô, garoto!! Desce daí! Sai daí! Não mexe aí! Você vai cair! Ô, garoto! Ai, meu Deus! Não tem parada! Calma, mamãe! Ai, meu Deus! Ai, garoto! Vê se para um minuto! Parece que tem pulga na cueca! Pega-pega! Pula-pula! Vê se para um minuto! Eita saúde! Graças a Deus! Graças a Deus teu anjo nunca sai de cena!

Foto: Douglas Mercer do Santos

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SAUDADE DE PLANTÃO Antoniella Orlandi Acadêmica de Jornalismo da FAG No Farol do Saber, Literatura e querer Ecoa na praça A sensação que se alastra E a multidão em canto, Aqui nesse mesmo banco Seu olhar. Seu olhar que vai além Da ressonância Traz melodia fugaz

Sobre essas árvores canta comigo, Canta e esquece, Canta e aquece As suas lembranças de vida Que é unida, mas desentendida... Traz contigo suas certezas e indecisões, Mas faz dela apenas um conjunto de emoções Que a gente viveu E continua vivendo Na capital.

Sentados na grama, Incendiados Na praça da Espanha Vemos a cultura em representatividade, Que incendeia Mas que não se anseia Em arranhar o som desse mundão: Saudade de plantão

Expectativa de vida! Corrida... Estrada de aço, Vai além do cansaço De um sábado à tarde Sobre saber estar à vontade

Foto: Antoniella Orlandi

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DAQUI DE CIMA Carlos Alberto de Souza Professor do Departamento de Jornalismo da UEPG Daqui de cima sou quase onipresente Vejo as meninas na igreja, os sem-teto com papelões para dormir Lá vem o dono do armazém com uma chave grande Duas freiras apressadas para a oração do padre A pomba faz revoos na praça, onde muitos descansam Até ouço o apito do trem Sinto a fumaceira do parque industrial Vejo trabalhadores seguindo para mais um dia de luta E até crianças correndo na praça Mas há poucas árvores. Isso dói São só prédios, ruas, placas, terrenos baldios, estacionamentos E vamos nos acostumando É um ritmo que marca Lá vem João, lá vai Bernadete e um outro homem que não conheço.

Foto: Carlos Alberto de Souza

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O TREM QUE TREME Eloiza Dalazoana Professora de Artes Visuais do Ensino Fundamental e Médio O trem que passa e treme a janela O trem que buzina O trem que atrapalha o trânsito O trem que faz barulho É o trem... Que encanta a criança Que traz progresso Que traz emprego É o trem que passa

Foto: Carlos Alberto de Souza

Que traz consigo a saudade Saudade da Maria Fumaça Saudade de quando se escutava Saudade que treme

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FATALIDADE Gabriela Moreira dos Santos Simões Acadêmica de Letras da UEPG Segure-se! Permaneça seguro. A gravidade machuca Ninguém sai ileso, Nem mesmo os heróis. Não toque o chão, Cuidado! Segura firme, Eu sei que consegue. Você é corajoso, Ousado!

As lágrimas ainda escorrem pelo meu rosto Foram tantas, Eu me afoguei, mas aprendi a nadar Eu te contaria Seu sorriso apareceria

Sei que está aí em cima, Morando em meio ao azul Em algum momento... Quando eu terminar este pavimento Poderei subir Enquanto isso, eu preciso sorrir

Eu sei! Quase perdoo o destino, Mas, não posso deixá-lo ir Por isso, olho para cima E me apego às lembranças

Eu te levantaria, Diria que eles ficaram juntos no final. Mas, eu não sabia, Chorei de emoção Depois chorei minha dor Eu soube! Aquele menino chorou depois, Estava confinado Foto: Mariana Moreno

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ADAMASTOR Germano Busato Acadêmico de Jornalismo da UEPG

Ora, a capital fornece grandes oportunidades Recebendo pessoas com sonhos e ansiedades Onde estes mesmos se apagam Deixando-os vivos apenas de onde chegaram

Abro os olhos, levanto da cama Meio sonolento e baqueado Mais um dia rotineiro Me deixa desnorteado

Desaparecem como se um monstro feroz o engolisse Em uma só abocanhada Regorgitando apenas A saudade da terra amada

Vou na janela, avisto a cidade De repente vem a nostalgia que sinto Fico dominado pela saudade O que me resta é seguir meu instinto Ó meu deus, como está família? Entre esses edifícios e algazarra da capital A minha mente traz pensamentos Com tom quase fatal Saudades da minha terra que não é um grande centro Não tem prédios Não tem semáforos Mas o que ela de melhor tem Sem dúvida, é o que ela traz por dentro. Foto: Juliana Lacerda

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BALLET DA VIDA Hygor Leonardo Acadêmico de Jornalismo da UEPG Adágio! Vamos! Vem para o mundo, você tem tanto a aprender Arriére! Não sofra por medo da queda, é assim que se aprende viver Deixe de lado a frieza de um sentimento singelo Para trás, apenas se o próximo passo for ainda mais belo Arabesque! O completo equilíbrio, é isso que tens de buscar E encontrar num simples sorriso, alguma razão para amar Allegro! Põe tua alma nisso faz do palco tua casa Pois no fundo, a vida é isso, um voo sem bater de asas.

Foto: Renata Cristina de Oliveira

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GRAFITE É ARTE? Josie Agatha Parrilha da Silva Professora do Departamento de Artes da UEPG Tem grafite por toda a parte! Mas Grafite é arte? Olho esse grafite que tem dois personagens e penso muita coisa. Quem é aquele de óculos e ao seu lado é um menino ou menina? O que querem dizer? Se é que querem dizer algo. Menino de óculos: sério, pensativo... Menino ou menina ao lado: sorridente.... Mas grafite é arte? Pra mim grafite é arte e pra outra parte será arte? Estão tão perto e parecem tão distantes: cor, sentimentos que expressam... Um personagem de camiseta preta, óculos pretos, mão na cabeça. Outro personagem de camisa azul e na cabeça será um laço ou um boné? O grafite á antigo... vemos os desgastes, as rachaduras... E tem até um novo grafite/pichação por cima: na boca e nas mãos… Pra mim grafite é arte, e pra outra parte será arte? É arte pra uma parte, pra outra parte é rabisco, pichação!

O grafite está assinado: Jackson. O Jackson pensou, desenhou, pintou, enfim grafitou... Mas veio outro e grafitou ou será que pichou? Queria saber o que Jackson pensou... E porque nesse muro ele desenhou. É arte pra uma parte, pra outra parte é rabisco, pichação! Tem grafite por toda a parte! Grafite se faz, grafite se desfaz.... o sol, a chuva e outros grafiteiros... A cidade se transforma com o grafite. Torna-se uma enorme galeria a céu aberto. O grafiteiro é um artista que não gosta de “apertar” sua arte. Quer sua arte por toda parte...

Foto: Marcus Vinicius de Queiróz Benedetti

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MEMÓRIA Marcos Cesar Danhoni Neves Professor do Departamento de Física da UEM Irmanados na Luta Revolucionária Dois velhos edifícios Sobrevivem às suas maneiras e à de seus donos à degradação da natureza, da política e do Bloqueio imoral. Mas a resistência reside aí na Existência.

Foto: Marcos Cesar Danhoni Neves

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CHEIRO DE LEITE NO TRILHO DO TREM Marisol Luciane Miara Acadêmica egressa do curso de Artes da UEPG Vamos buscar o leite? Já está na hora? Sim. Corre! O trem vai passar ... Vamos contar os vagões e os trilhos E vamos andar na linha ... Para ficar com a cintura fina. Equilibre-se e não caia! Preste atenção! Olha o leite, não derrame ... A mãe vai ficar brava, ande ... Preste atenção! Contou os vagões? Onde? Já passou ... Que pena, a infância voou ... Ficou na lembrança o doce cheiro de leite ... Na lembrança, um caminho, com um trilho de trem que levava até o leite. Entre um trilho e outro, muitas risadas... Verdadeiras gargalhadas de crianças que se divertiam com a caminhada nos trilhos do trem, contavam histórias ... que se perdiam no vasto campo verde, próximo da linha do trem ... E quando o trem chegava apitando de longe ... avisando sua aproximação, como se quisesse dizer: saiam da linha ... vou passar ... não posso parar!

Foto: Arquivo Foca Foto

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ÁGUA Paulo Rogério de Almeida Professor do Departamento de Estudos da Linguagem da UEPG Água. Neste caso, mineral. Saúde. Por toda parte, água em abundância; No entanto, há falta dela, Ao mesmo tempo. Incoerência, Culpa nossa. Como resolver? Não sei. Eu adoro água, desde pequeno. A Natureza é sábia. Um dia, resolve. De um jeito ou de outro. Pode ter certeza. Água. Mineral. Saúde.

Foto: Paulo Rogério de Almeida

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CANTO XIII Rosana Divina Furtado Acadêmica de Artes da UEPG Vê! O céu escuro que aproxima, assim como a vaga memória de dias de outrora onde não existe singela bruma. Bruma esta que me aflora saudades da tua alma que tudo me acalma tão notória aurora! Aaah! Se eu pudesse no tempo voltasse já não estaria mais aqui.

Foto: Carlos Alberto de Souza

Mas o tempo não cabe a mim a grama já se corrói e você não pertence mais aqui.

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O TEMPO EM VERSOS Taís Maria Ferreira Técnica do Departamento de Jornalismo da UEPG Na calada da noite. No amanhecer. A qual quer tempo, não importa! Uns vão, outros vêm. Em meio a tudo isso, onde eu estou? Vem horas, dias e noites. Semanas, meses e anos. O tempo passa E eu o que fiz? Na minha infância brinquei Na juventude vivi Na meia idade trabalhei Na minha velhice curti Meu casamento... Meu filhos... Meus netos... Sou Feliz!

Foto: Taís Maria Ferreira

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OS ESCRACHOS E OS ESCULACHOS Thaiane de Toledo Acadêmica de Artes da UEPG Os gotejos e os bostejos As máculas estranguladas Entrelaçadas por colunas Entreabertas em lacunas Lacunadas nas entranhas.

Foto: Taís Maria Ferreira

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PELO ESPELHO Thailan de Pauli Jaros Acadêmico de Jornalismo da UEPG Pelo espelho eu imploro Não quero voltar Pelo espelho eu choro Nessa falta de ar Pelo espelho eu vejo O passado passou O futuro em frente enfrenta a situação Pelo espelho eu vejo a montanha e o mar Pelo espelho eu vejo Você cansou de amar

Quem sabe o que virá? Quem sabe o que passou? Quem não sabe olha o espelho E finge que gostou O sol ilumina outro mundo, outro mundo não faz sentido Anoiteceu na cidade o mundo já está dormindo A cidade nunca dorme mas também não acordou a bagunça do presente sempre esquece o que passou

Tudo fica pra trás o que passou, passou o mundo é aqui e agora em diante, não acabou Pelo espelho eu imploro pelo espelho eu...

A rocha continua parada o automóvel não parou apesar de todo o pesar o mundo, felizmente, girou.

Pelo espelho eu vejo é hora de parar o retrovisor avisa para não enganar Foto: Carlos Alberto de Souza

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DEPOIS QUE VOCÊ FOI EMBORA Allyson dos Santos Acadêmico de Jornalismo da UEPG Te esperei por entre os bancos vazios E por alguma razão você não veio Até hoje me pergunto Você ficou vazia ou eu fiquei muito cheio? Te esperei por entre os bancos vazios Mas naquele dia me esqueci Foi o meu desejo de ficar Que fez você partir Te esperarei por entre os bancos vazios Durante toda minha vida Mesmo que você não lembre E por mais que você esqueça Daquela garota com quem dancei naquele dia Quem sabe, ela não volta... E encontre-me por entre aqueles bancos vazios.

Foto: Amanda Graziely

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AS CORES DA CIDADE Andressa Kaliberda Acadêmica egressa do curso de Jornalismo da UEPG Bandeiras coloridas Balões por todo lado. Acende a fogueira É São João! Arde o braseiro Do meu coração.

Encantam os olhos e balançam os pés No balanço do Olodum Do forró e do arrasta-pé Cheguem todos! É dia de festa! E a Bahia, de braços abertos, Acolhe seus filhos e agregados No ritmo da hospitalidade.

Da casa do escritor O Pelourinho se acende Ao batuque do tambor Logo toda gente se rende É dança! É comilança! E um amor para aquecer As cores da festança Enchem o turista de prazer. Foto: Andressa Kaliberda

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O TEMPO Andreia Spanholi Acadêmica do curso de Artes da UEPG Vai? Eu já te espero, tic-tac! Nem existe mais, mas eu quero! Tum-tum! Cada vez mais ansiedade, cada vez menos velocidade. O tempo não passa... segunda... terça-feira, eu não vou aguentar! O que posso fazer? O que vou te dizer? Você vai! Boa sorte! Recomeça a espera! Você volta e as horas voam! Já? Beijos! Até breve! Não tão breve! Minhas horas não passam! Meus dias se alongam e você não chega! Tic-tac de novo! Conto os minutos e assim tudo recomeça, segunda... terça-feira...

Foto: Tais Maria Ferreira

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MURO, CERCAS E SOLDADOS Carlos Alberto de Souza Professor do Departamento de Jornalismo da UEPG Muro, soldados cães Inferno Um desejo de liberdade Ditador nazista a liberdade clama Derruba muralhas O ar é novo Vagar sem medo por cidades e campos Abraçar o amigo e saber que vai continuar aí Honrar quem sofreu e sucumbiu Destruir o que separou, construir novos laços Viver, viver sem medo Remontar a cabeça Foto: Carlos Alberto de Souza

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PARADA RÁPIDA Eloiza Dalazoana Professora de Artes Visuais do Ensino Fundamental e Médio Em meio à pressa Tudo deve ser rápido Corre O ônibus já está saindo Corre Vai chegar atrasada Corre

Não se pode parar Nem uma parada rápida é aceita Você deve produzir Você deve trabalhar Você não pode parar Não relaxe Não pare Continue Trabalhe Produza Corre Rápido

Sempre vamos correr Cumprir tarefas Uma atrás da outra Virar madrugadas Não por não ter tido tempo, mas sim Por ter tirado um tempo para respirar

Foto: Carlos Alberto de Souza

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ATRAVÉS DO TEMPO Gabriela Moreira dos Santos Simões Acadêmica de Letras da UEPG Você cresceu, aprendeu e amadureceu. Alimentou muitos sonhos, E alguns se tornaram realidade. Você fez parte da vida de muitas pessoas, Pode ter se sentido só, mas nunca esteve. Você teve amores e amizades. Aconselhou, aconchegou e cuidou. Você lutou e perdeu, mas não desistiu. Persistiu até que suas lutas, venceu. Você errou, mas aprendeu com seus erros, Você compartilhou suas experiências, Sempre tentando ensinar e inspirar. Existiram os momentos das lágrimas e dos sorrisos Das frustações e das conquistas. Você soube aproveitar cada instante. Quando se cansou, ergueu a cabeça e se renovou. Você corrigiu suas falhas. Influenciou para o bem.

Amou, sem olhar a quem. Você viveu, Fez a sua própria história. Agora, o tempo te alcançou. A velhice demora, mas ela chega De mansinho, através do tempo. Você continua vivendo, sorrindo, amando... Devagarinho... capítulo a capítulo, Não acaba enquanto não há fim. O tempo não para!

Foto: Laísa Amaral Braga

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O TEMPO Hygor Leonardo Acadêmico de Jornalismo da UEPG O tempo tudo atropela Os tijolos, as vidraças e qualquer beleza Mas pela fé, quem é que zela Seria ela a maior das riquezas? Se me despojas do dom da saúde, deixa-me a graça de ser. Em plenitude, não se pode ter tudo, mas ainda podemos crer. A foto congela o tempo e o tempo dela se desfaz O homem zela com fé, pela vida que agora jaz.

Foto: Hygor Leonardo

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ÉPOCA DE OURO André Ribeiro Pires Acadêmico de Jornalismo - UEPG Saudades dos velhos tempos, Daqueles que foram se perdendo. Do sol invadindo as salas, E da vibração das ruas cheias. Saudades da bola, pião, pipa. Do tempo que voou sem que notássemos. Saudades das brincadeiras bobas E das reclamações de vizinhos chatos. Saudades! Quantas saudades! Esse tempo passou. Já foi! Lembranças sempre teremos, De um ou vários momentos Saudades do que vivemos!

Foto: Carlos Alberto de Souza

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ESTRANGEIROS??? Paulo Rogério de Almeida Professor do Departamento de Estudos da Linguagem Perto de mim, um parque. Imigrantes. Estrangeiros? Creio que não. Vieram da Europa, não faz muito. Trouxeram cultura, artes, comidas. Prepararam o campo; cultivaram. Criaram animais. Com suas habilidades, Expandiram seu comércio. Distribuíram para todo o Brasil. Laticínios, principalmente. Não são estrangeiros. São brasileiros, Tal qual somos todos nós. Alemães, Holandeses, Italianos, Japoneses, Poloneses, E todos os que compõem este Brasil Que acolhe a todos, de braços abertos.

Foto: Paulo Rogério de Almeida

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PRA VER A VIDA PASSAR Thailan de Pauli Jaros Acadêmico de Jornalismo da UEPG

As piores ideias acabam com o fim O fim do poema ou do folhetim

As melhores ideias vêm nos piores momentos as melhores mulheres se vão com os ventos

Parado no trânsito Quer estacionar estacionar pra quê? Pra ver a vida passar

O passado já foi caiu como luva caiu com o mundo cantando na chuva Os melhores poetas não são bons assim não se entendem com métricas nem na hora do “sim”! Os pingos da chuva não interessam mais no vapor do espelho o caos fica em paz! Foto: Bruna Fernandes

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OLHEI PRO CÉU Andreia Spanholi Acadêmica do curso de Artes da UEPG Olhei pro céu! Olhei pra ti! E tu sabia o que eu dizia! Me vi nos teus olhos! Parte de Minh’alma vive em ti! Por isso só ri! E sorristes! Não me dê o tempo que pedi! Nunca me deixas desamparada! Uma única alma que vive em duas moradas! Amizade eterna! Terna afeição! No céu, na terra ou em continentes separados, jamais ficarão desatados! Confuso sentimento! Até quando tu erras quero que estejas certo ou convicto! Sofro contigo! Se és feliz... sentimento compartilhado e ponto!

Foto: Hellen Gerhards

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MUNDO MODERNO Taís Maria Ferreira Técnica do Departamento de Jornalismo da UEPG Amanheceu o dia. Que roupa vestir? Cabelo arrepiado, café tomado. É hora de ir. Carro empoeirado, portão fechado. Rádio ligado, trânsito congestionado. Tenho que ir. Cheguei ao trabalho. Bom dia falei, ninguém me ouviu. Pareciam Zumbis. O dia findou, o trabalho não. A vida continua Rotina presente, pessoas ausentes, descrentes, impacientes...

Foto: Taís Maria Ferreira

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RUÍNAS DA HISTÓRIA RECENTE Andressa Kaliberda Acadêmica egressa do curso de Jornalismo da UEPG Saudosa lembrança De um tempo não vivido Mas tão relatado Que no coração é guardado Recordações que não são nossas. E são. Histórias de um tempo não tão distante A revolução econômica! O progresso! Que ficaram no passado Com o seu criador, finado.

Os balanços do jardim em ruínas Ainda lembram as brincadeiras das meninas Que ficaram apenas na memória De quem viveu aquele tempo. Tempo que já não volta E das voltas que a vida dá – ironia! Numa área de preservação A história, aos poucos, rui com as paredes do palácio.

Ah! Se as paredes do palácio falassem Quantos encontros as tábuas do pinho presenciaram A elegância da elite de outrora Que agora, compõe o lendário urbano da região.

Foto: Andressa Kaliberda

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O SOL BRILHA PARA TODOS, MAS NÃO PODEMOS VÊ-LO Antoniella Orlandi Acadêmica de Jornalismo da FAG Sim, assim do nada nasceu, surgiu, cresceu viveu, José, Armando Francisco, Fernando. Desde cedo com o violão no dedo, E sem medo de impressionar quem estava à sua volta, via corda a corda. Estranho seria se o som do violão não ecoasse no Largo da Ordem, ou rápido se espalhasse. Casal guerreiro, Sertanejo, de som e de vida.

A visão falha diante da vida canalha. Essência carregada Mesmo sem ter nada. Violão ao som Viola no tom Vivendo da música que para os ouvidos torna-se lar.

Arde forte o canto E assim como eu meu pranto, Para soar nosso casal Que Deus nos abençoe e nos livre do temporal.

Cegueira, vida derradeira. Sob olhar conciso, o que faremos? Em meio ao tão grande caos a que pertencemos? Vida e batalha... Batalha diária! No domingo nas feiras Sentindo o sol Entrando nas veias. Foto: Antoniella Orlandi

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NESSA ESTRADA… Carlos Alberto de Souza Professor do Departamento de Jornalismo da UEPG Nesta estrada, vou me perder É sonho de aventura Numa moto grande e velha Me levar pelo vento ao mar e aos anjos Na Highway One Seguir pelicanos Ver o mar Ter saudades e chorar Sentir a poesia e as montanhas Afundar no oceano platinado pelo sol, na Costa dourada Ver os desenhos dos pássaros no céu Simplesmente esquecer o mundo como fez Kerouac Ir e vir pela Highway One Deixar tudo para depois, tudo pra trás Se achar só na Grande Ponte Vermelha de aço De onde contempla-se Alcatraz e San Francisco Se esconderem na bruma.

Foto: Carlos Alberto de Souza

Foto: Carlos Alberto de Souza

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SANTUÁRIO Gabriela Moreira dos Santos Simões Acadêmica de Letras da UEPG O silêncio, a calmaria Aprecio. O barulho, a agitação Sentiria falta Os detalhes, fazem a diferença É um mundo tão lindo Olha em volta! O meu mundo, o seu Abra os olhos e verá Será!

Foto: Aline Cristina

A simplicidade, uma dádiva É como voar Na leveza, Na beleza, O meu lugar, Onde devo estar É minha morada, é sua moradia Se você não estiver, Não há motivo para eu ficar

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A BOLA E OS SONHOS Andressa Kaliberda Acadêmica egressa do curso de Jornalismo da UEPG Rola a bola pela escola A bola. A mola. Os olhos da criança Na cachola como duas bolas que rolam descobrindo o mundo entre olhares curiosos encantados com a esperança de brincar e manter viva a eterna infância. Na cidade, no campo e na praia. Os olhos da criança como duas bolas fixados na rabiola da pipa de sacola que a faz voar bem alto. No céu.

Foto: Andressa Kaliberda

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NATUREZA Paulo Rogério de Almeida Professor do Departamento de Estudos da Linguagem da UEPG Manhã de verão. Quente e agradável. Um parque. Com águas minerais. A mente começa a “viajar”. Que pessoas vêm para cá? E param um momento em suas vidas atribuladas Sentam, conversam, degustam um lanche, Apreciam a paisagem. As árvores, as poucas casas que estão no entorno. Serão adultos? Serão jovens? Serão crianças? Manhã de verão. Um parque. Com águas minerais. A mente começa a “viajar”.

Foto: Paulo Rogério de Almeida

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PRAÇA DOS DESEJOS Gabriela Moreira dos Santos Simões Acadêmica de Letras da UEPG Meu amor colheu uma rosa Estendeu-a para mim de forma amorosa Fitei seus olhos castanhos escuro Eu encontrei meu porto seguro Para nosso amor não há espaço Nos encontramos em nosso abraço Foto: Carlos Alberto de Souza

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SOMBRAS DAS SOMBRAS Thailan de Pauli Jaros Acadêmico de Jornalismo da UEPG

As malas já estão prontas o café está na mesa abraço de despedida ou seria de carência?

Nas intermináveis horas nas filas do check in esperando o mundo novo Que não acabou pra mim

Quem espera da sociedade não sabe o que esperar luta com unhas e garras mas não encontra quem amar

A estação espera pelo trem ou espera pelo inverno Se espera por muito tempo o tempo vira um inferno

Onde vejo a informação? No impresso ou na própria mão? Onde é a saída? Logo ali, onde acaba a vida.

Quem espera pelo próximo plano Sabe que o futuro virá Mas o que será do próximo ano sem as bênçãos de Iemanjá? Sombras da sobra de um mundo esperando a salvação O que fazer do canto de um mudo Se ninguém ouve a canção? Reflexos na ponte aérea reflexão no elevador o mundo ilumina a lanterna o fundo do poço encara a dor Foto: Carlos Alberto de Souza

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VER ATRAVÉS DOS OLHOS DE CRIANÇA Gabriela Moreira dos Santos Simões Acadêmica de Letras da UEPG O olhar puro Vislumbra o bem Não há muro(s) Atinge o inalcançável Vê além Em seu mundo, Sob sua perspectiva Há inocência que vem do fundo É infatigável Nada abala sua expectativa Há cores e brilho Esperança e amores Não perde o sentimento Aproveita o balanço A vida é um constante movimento Coleção de memórias e aprendizados No caminho, há algumas lágrimas que brotam Experiências que definem os legados Não faltam sorrisos que embelezam a feição Preenchem o ambiente e todos notam

Foto: Marina Viglus

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DIAS DE TRISTEZA Carlos Alberto de Souza Professor do Departamento de Jornalismo da UEPG Na minha casa tinha alegria, nascimentos e natais. Chegadas esperadas, primavera e pássaros. Campos floridos, sementes novas. E um vento que balançava folhas, trazia mudanças. Veio a Guerra. E o silêncio se quebrou Um ar azedo de morte e tristeza A casa já não sorri. Notícias nada boa. Cânticos tristes vêm da capela. Restam mulheres, crianças e velhos. Os jovens não voltaram. É um tempo sem esperença. A guerra não deixa restar, não salva ninguém. Milhares morrem porque não pareciam iguais. Sufocados no gás ou diante de um pelotão Batalhas e campos de concentração. Perdeu-se o direito ao campo, a casa, a vida simples e feliz. A guerra tirou tudo, até dos que venceram. As que passaram não ensinaram nada ou muito pouco A dor não falhará muitas outras vezes.

Fotos: Gabriel Soldi de Souza

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UM DIA BONITO Gabriela Moreira dos Santos Simões Acadêmica de Letras da UEPG Um presente Deus trouxe para mim, Neste dia iluminado pelo sol Sinto cheiro da flor de jasmim, Encantada, ouço o canto do rouxinol Suavemente o vento sopra Como se entrasse por uma janela Circula ao redor, sua face não mostra Acaricia meu rosto de forma singela Olho para o céu azul e sinto orgulho, Com meus pés descalços sobre a grama Caminho lentamente até que mergulho. Por esse sossego minha alma clama

Foto: Bruna Fernandes

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A CIDADE DA MINHA ALMA Verônica Scheifer Acadêmica de Jornalismo da UEPG A cidade que desde pequena eu nunca tinha ido, É como se de lá eu tivesse nascido Os prédios, as luzes, a noite Ainda lembro perfeitamente E de cada momento em que lá passei O carinho da minha mãe mesmo em um hospital E a primeira vez que estive lá sem ela Os sonhos que foram deixados pelas ruas As felicidades compartilhadas em pequenos cafés E de todos os outros sentimentos vividos Mas ainda é como se eu estivesse lá, Mesmo quando vou embora Eu sempre estou lá Indo embora E olhando pela janela do ônibus As luzes dos prédios É pra lá que eu sempre vou voltar Para a cidade que eu não havia nascido

Foto: Taís Maria Ferreira

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DISTANTE André Ribeiro Pires Acadêmico de Jornalismo - UEPG Há quantos dias estou aqui? Já estou distante há um bom tempo. Minha barba cresceu e não percebi. Preciso seguir... Mais um dia cheio! Como estará meu filho? Minha esposa está bem? Preciso seguir... Ando tanto e não chego a lugar algum. Atravesso o país ouvindo histórias, Faço amizades, coleciono lembranças. Tenho saudades de casa. Preciso seguir... Tenho chão pela frente para percorrer. Eu só espero chegar. Esta rotina é atordoante. Um dia, quem sabe, eu fique. Aproveite minha família ao máximo Mas, por enquanto, Preciso seguir...

Foto: Taís Maria Ferreira

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ORGANIZAÇÃO

DEPARTAMENTO DE ARTES - UEPG DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM - UEPG Grupos de Pesquisa Departamento de Jornalismo: Processos Jornalísticos, representações e práticas socioculturais Departamento de Artes: Imagens na relação Arte e Ciência APOIO

UEPG

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