Uso de tecnologias para a promoção da parentalidade positiva no Brasil

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USO DE TECNOLOGIAS PARA PROMOÇÃO

DA PARENTALIDADE POSITIVA E DO

DESENVOLVIMENTO INFANTIL NO BRASIL:

SÍNTESE DO ENCONTRO TÉCNICO

Direitos e permissões:

Este documento é de uso livre e pode ser compartilhado ou utilizado para fins informativos, educacionais e não comerciais, desde que citada a fonte.

Sugestão de Citação:

ALKIMIN, Karina Tollara d’; BARBOSA, Barbara Barros; BIGHETTI, Gabriella; CALGARO, Sheila; FASSON, Karina; MAIA, Sarah; MCCOY, Dana; MELLO, Irene de Queiroz e; PISANESCHI, Paula Crenn; PLUCIENNIK, Gabriela Aratangy; TRIAS, Julieta M.; VIDIGAL, Cláudia de Freitas. Relatório Síntese: Uso de tecnologias para promoção da parentalidade positiva e do desenvolvimento infantil no Brasil. São Paulo, SP: 2025.

APRESENTAÇÃO E CRÉDITOS

COORDENAÇÃO GERAL

United Way Brasil

Gabriella Bighetti - Diretora-executiva

Paula Crenn Pisaneschi - Gerente de Programas de Impacto Social

Banco Mundial

Julieta M. Trias - Economista Sênior, Proteção social e trabalho

Barbara Barros Barbosa - Consultora

Fundação Van Leer

Cláudia de Freitas Vidigal - Representante de País

Karina Tollara d´Alkimin - Consultora de Monitoramento, Avaliação e Aprendizagem

Marina Arilha Silva - Coordenadora de Programas

Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Mariana Luz - CEO

Marina Fragata Chicaro - Diretora de Políticas Públicas

Karina Fasson - Gerente de Políticas Públicas

Sheila Ana Calgaro - Gerente de Sensibilização da Sociedade

Representante da Universidade de Harvard

Dana Charles Mccoy - Marie and Max Kargman associate professor

Manacá

Gabriela Aratangy Pluciennik - Manacá Avaliação e Aprendizagem

Irene de Queiroz e Mello - Manacá Avaliação e Aprendizagem

Projeto gráfico:

Camila Ribeiro

Denilson Melo

Diagramação:

Camila Ribeiro

Denilson Melo

Ilustrações: Andre Mello

Revisão: Mariângela Almeida Ano: 2025

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos a todas as equipes de pesquisa, de governo, de organizações da sociedade civil (OSCs) e representantes das iniciativas apresentadas durante a Reunião Técnica sobre o Uso de Tecnologias para a Promoção da Parentalidade Positiva e do Desenvolvimento Infantil no Brasil, incluindo Afini; Crescer Aprendendo; Família+; Jornada Online Primeira InfânciaJOPI; Nelson, o Nenê; Pé de Infância; Programa de Parentalidade do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP; e Triagem e Estimulação do Desenvolvimento Infantil (TEDI). Agradecemos, também, ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e à Secretaria da Primeira Infância do Recife pela participação presencial no encontro, ao Programa Mais Infância do governo do Estado do Ceará e às prefeituras municipais ao redor do país pela participação virtual.

Apresentação 7

Introdução 8

Intervenções de Parentalidade: Impactos e Desafios para Escalabilidade 10

A Promessa da Tecnologia 11

PARTE I - APRESENTAÇÃO DAS INICIATIVAS BRASILEIRAS

Iniciativa 1: Afini no Ceará - chatbot interativo 19

Visão geral 19

Principais estratégias 20

Mobilização e engajamento 21

Principais resultados 22

Contato 22

Iniciativa 2: Crescer Aprendendo - rede de apoio online 23

Visão geral 23

Principais estratégias 24

Mobilização e engajamento 25

Principais resultados da avaliação 26

Contato 27

Iniciativa 3: Jornada Online Primeira Infância - formação digital 28

Visão geral 28

Principais estratégias 29

Mobilização e engajamento 29

Uso de tecnologias 30

Alcance 30

Principais resultados da avaliação 31

Contato 31

Iniciativa 4: Nelson, o Nenê - comunicação de massa 32

Visão geral 32

Principais estratégias 32

Mobilização e engajamento 33

Uso de tecnologias 33

Alcance 34

Principais resultados 34

Contato 34

Você consegue clicar no título e ir direto para a página que quiser!

Iniciativa 5: Pé de Infância - caixas de ferramentas temáticas e híbridas 35

Visão geral 35

Principais estratégias 35

Mobilização e engajamento 36

Uso de tecnologias 37

Alcance 37

Principais resultados da avaliação 37

Contato 38

Iniciativa 6: Programa de Parentalidade do Departamento de Pediatria da FMUSP - do presencial para o virtual na atenção às famílias 39

Visão geral 39

Principais estratégias 40

Mobilização e engajamento 41

Uso de tecnologias 41

Alcance 41

Principais resultados 41

Contato 42

Iniciativa 7: Triagem e Estimulação do Desenvolvimento Infantil (TEDI)aplicativo para apoio à conduta de profissionais 43

Visão geral 43

Principais estratégias 44

Mobilização e engajamento 45

Uso de tecnologias 45

Alcance 45

Principais resultados 46

Contato 46

PARTE II - PRINCIPAIS APRENDIZADOS COM O USO DA TECNOLOGIA

Principais desafios e soluções para a adesão e o engajamento digital 48

Desenho: Adaptação Contínua e Personalização 51

Implementação: Engajamento e Capacitação Contínua 52

Monitoramento: Coleta de Dados e Feedback Contínuo 52

Escalabilidade: Sustentabilidade e Integração com Programas

Existentes 52

Mensagens Chave 53

Referências 54

APRESENTAÇÃO

As evidências internacionais mostram que os programas de parentalidade são eficazes para promover o desenvolvimento infantil na primeira infância (Jeong et al., 2021; Jervis et al., 2023; Aboud & Yousafzai, 2015). Embora a literatura acadêmica sobre programas digitais de parentalidade seja relativamente recente, diversos estudos sugerem que programas baseados em tecnologia podem ser viáveis e bem aceitos pelos cuidadores, inclusive por aqueles com baixos níveis de letramento digital (Awah et al., 2022; Jäggi et al., 2023; Murphy et al., 2021). Nos últimos anos, têm crescido o interesse e a necessidade de compreender como a tecnologia pode contribuir para alcançar melhores resultados nesse campo. Nesse contexto, um grupo de parceiros decidiu reunir experiências no Brasil que atuam com a temática para conhecer melhor cada uma delas e sistematizar os principais desafios, as soluções e os aprendizados com o uso da tecnologia.

O objetivo desta publicação é sistematizar as experiências de oito iniciativas implementadas no país sobre o uso da tecnologia para promover a parentalidade positiva e melhorar o desenvolvimento infantil. Esta publicação é o resultado de uma reunião técnica e workshop realizados em 7 de novembro de 2024, coordenados pela United Way Brasil (UWB), Banco Mundial, Fundação Van Leer, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e representante da Universidade de Harvard.

Embora esta publicação incorpore as lições aprendidas a partir das oito iniciativas, ela não inclui a descrição detalhada de uma delas, para garantir a devida originalidade e o ineditismo para divulgação científica. Vale ressaltar que há muitas outras iniciativas brasileiras que atuam com o tema e que usam a tecnologia. Dessa forma, o mapeamento realizado é uma amostra do conjunto existente, cujo objetivo foi extrair lições aprendidas que possam orientar o desenho e a implementação de futuras ações.

Esperamos que esta publicação contribua para fornecer exemplos de como o Brasil está utilizando a tecnologia para promover uma parentalidade positiva e melhorar o desenvolvimento infantil na primeira infância. Ainda é necessário realizar mais pesquisas para compreender como aumentar a adesão aos programas, qual é a magnitude dos impactos na vida da criança, como sustentá-los ao longo do tempo, como ampliar a escala das iniciativas e quais são os custos envolvidos.

Gabriella Bighetti

Julieta M. Trias

Cláudia de Freitas Vidigal

Mariana Luz

Dana Charles Mccoy

INTRODUÇÃO

O Brasil enfrenta desafios significativos para garantir oportunidades adequadas de desenvolvimento integral para todas as crianças na primeira infância. As desigualdades sociais impactam diretamente o acesso a serviços essenciais, como saúde, educação e assistência social, aprofundando disparidades desde os primeiros anos de vida. Em 2022, o Brasil ocupava a 14ª posição no ranking global de países mais desiguais, segundo o índice de Gini. Crianças de famílias em situação de vulnerabilidade têm sistematicamente menos oportunidades de desenvolvimento do que aquelas de famílias mais abastadas. Fatores como pobreza, violência, insegurança alimentar, baixa qualidade dos serviços públicos, falta de estímulo cognitivo e negligência parental comprometem o desenvolvimento infantil e perpetuam ciclos de desigualdade.

Com cerca de 18 milhões de crianças na primeira infância, representando 8,9% da população total, o Brasil tem um número expressivo de famílias em situação de vulnerabilidade (Observatório do Cadastro Único, 2024; IBGE, 2023).

Aproximadamente 9,9 milhões dessas famílias estão no Cadastro Único, e 77,3% recebem o Programa Bolsa Família (PBF). No entanto, mesmo com a transferência de renda, 8,8% dessas famílias permanecem em situação de pobreza, demonstrando a persistência das desigualdades socioeconômicas. O cenário é ainda mais crítico nas regiões Norte e Nordeste, onde a pobreza extrema afeta mais de 31% das famílias com crianças pequenas. Em 2023, 40% dos domicílios com crianças na primeira infância enfrentavam insegurança alimentar, reforçando a necessidade de políticas públicas robustas e direcionadas para esse público (Observatório do Cadastro Único, 2024; IBGE, 2023; Salata, Marcos, & Bagolin, 2022).

Embora avanços tenham sido alcançados, como a criação do Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016) e da Lei da Parentalidade Positiva (Lei nº 14.826/2024), desafios estruturais persistem. Cerca de 60% das crianças de 0 a 3 anos não frequentam creches, e apenas 16% das crianças de 0 a 1 ano têm acesso à educação infantil. A mortalidade infantil até 1 ano de idade ainda é o dobro da observada em países desenvolvidos, com taxas especialmente altas nos estados do Amapá, Roraima e Acre, onde os índices superam em 80% a média nacional (IBGE, 2024; UNICEF et al., 2023). O Índice de Vulnerabilidade do Cadastro Único (IVCAD) evidencia essa desigualdade, mostrando que famílias com crianças pequenas apresentam um índice de vulnerabilidade (0,362) superior ao das famílias em geral (0,295). Esses dados reforçam a necessidade de ações intersetoriais articuladas entre assistência social, saúde e educação para enfrentar essas desigualdades (Observatório do Cadastro Único, 2024).

Nos últimos anos, a tecnologia tem sido incorporada em programas sociais para ampliar e qualificar o atendimento, tornando as intervenções mais acessíveis, frequentes e eficazes. Iniciativas voltadas ao desenvolvimento infantil e à promoção da parentalidade positiva vêm adotando ferramentas digitais para aprimorar a formação de profissionais, oferecer suporte remoto às famílias e otimizar o monitoramento dos resultados das intervenções.

Diante desse cenário, esta publicação apresenta experiências brasileiras selecionadas, que promovem a parentalidade positiva e o desenvolvimento infantil, destacando o papel da tecnologia na superação dos desafios enfrentados por esses programas. Para a seleção das iniciativas considerou experiências implementadas no Brasil que tivessem algum tipo de avaliação sobre desenvolvimento, implementação e/ou escalabilidade. A partir dessas iniciativas, busca-se refletir sobre os desafios a serem considerados no momento de desenhar, implementar e avaliar o uso da tecnologia para fortalecer os programas de parentalidade.

O documento está estruturado em duas partes. A primeira discute os desafios comuns dos programas de parentalidade e o potencial da tecnologia para enfrentá-los. A segunda apresenta exemplos de iniciativas brasileiras que integram tecnologia para responder a esses desafios, detalhando visão geral, principais estratégias, mobilização e engajamento, uso da tecnologia, alcance e resultados, além de lições aprendidas, desafios e oportunidades na implementação de tecnologia em programas de parentalidade positiva e desenvolvimento infantil. As análises foram baseadas nos debates realizados durante o evento de novembro de 2024.

Intervenções de Parentalidade: Impactos e Desafios para Escalabilidade

Os programas parentais podem se materializar em diferentes formatos como reuniões em grupo, visitas domiciliares e acompanhamento virtual, incluindo mensagens de texto, chamadas telefônicas regulares e aplicativos móveis.

As intervenções de apoio à parentalidade tem se mostrado como uma estratégia eficaz para fortalecer o desenvolvimento infantil e reduzir desigualdades ao longo da vida. No entanto, a maior parte das evidências se baseia em intervenções conduzidas predominantemente por meio de modalidades presenciais. Essas intervenções, voltadas para o desenvolvimento de habilidades dos cuidadores, promovem interações responsivas e ambientes domésticos estimulantes, beneficiando tanto o desenvolvimento das crianças quanto os comportamentos parentais (Jeong et al. 2021; Jervis et al. 2023). Esses impactos podem ser duradouros, como mostrado pelo programa Reach Up, um programa de visitas domiciliares implementado na Jamaica, que resultou em benefícios de longo prazo, com ganhos cognitivos, psicossociais e comportamentais (Walker et al., 2021). Trinta anos após a intervenção, os participantes apresentaram um aumento de 37% na renda, quando comparados aos que não participaram (Gertler et al., 2021).

A ampliação dos programas de parentalidade, mantendo a qualidade, é um desafio complexo que exige um equilíbrio entre custo, acessibilidade e efetividade. O custo é uma preocupação central, pois expandir os programas para alcançar mais famílias demanda financiamento sustentável, métodos de entrega eficientes e alocação estratégica de recursos, sem comprometer a integridade da intervenção. A acessibilidade também representa um desafio, especialmente para famílias em situação de vulnerabilidade, que podem enfrentar barreiras como falta de tempo, múltiplas responsabilidades e dificuldades de transporte. Garantir a participação requer estruturas de programas flexíveis e estratégias de engajamento adaptadas às diversas necessidades dos cuidadores.

A efetividade em larga escala depende da preservação da fidelidade na implementação do programa, ao mesmo tempo em que permite adaptações necessárias a diferentes contextos. No entanto, à medida que os programas se expandem, muitas vezes ocorre uma queda na qualidade devido à insuficiente disponibilidade e capacitação de profissionais, treinamento inadequado e mecanismos frágeis de supervisão. Superar esses desafios exige investimento contínuo no desenvolvimento da força de trabalho, parcerias institucionais sólidas e sistemas robustos de monitoramento e avaliação, garantindo que a qualidade do programa seja mantida à medida que sua abrangência cresce.

Promessas e Limitações da Tecnologia

A tecnologia digital oferece oportunidades para expandir o alcance e melhorar a qualidade dos programas de parentalidade em países de baixa e média renda. Ao utilizar ferramentas digitais, esses programas podem superar barreiras de tempo, distância e restrições de recursos, oferecendo uma possibilidade para que famílias em áreas remotas e desassistidas tenham acesso e suporte necessário contínuo. Conteúdos digitais personalizados, adaptados aos contextos culturais e individuais aprimoram a qualidade dos programas, enquanto treinamentos/formações online flexíveis ajudam a mitigar a rotatividade de profissionais ao capacitar novos trabalhadores da linha de frente com habilidades essenciais. A capacitação contínua dos facilitadores, especialmente por meio de plataformas digitais, se mostrou uma estratégia eficaz para garantir a continuidade das intervenções e a qualidade dos programas. Esses treinamentos, acessíveis e flexíveis, reduzem o impacto da rotatividade ao capacitar os profissionais de maneira constante e eficiente (RubioCodina et al., 2022).

Além disso, a coleta de dados em tempo real permite decisões mais informadas e feedback contínuo, tornando os programas mais adaptáveis e responsivos às necessidades das famílias. A integração de diferentes fontes de dados, como informações autorrelatadas pelos cuidadores e métricas objetivas, tem se mostrado eficaz para monitorar o progresso e promover ajustes rápidos (UNICEF, 2020). Esse feedback contínuo por meio de mensagens, aplicativos móveis e questionários eletrônicos tem o potencial de aumentar o engajamento das famílias, garantindo que os conteúdos sejam mais relevantes e acessíveis para diferentes perfis de cuidadores (Rubio-Codina, 2022; UNICEF, 2022).

Com a integração da tecnologia, os programas de parentalidade podem alcançar mais famílias, otimizar recursos e complementar intervenções presenciais, contribuindo para melhores resultados no desenvolvimento infantil em larga escala.

No entanto, ainda não está claro se intervenções baseadas em tecnologia podem ser ampliadas com um bom custo-benefício para melhorar o desenvolvimento infantil em países de baixa e média renda O uso de chamadas telefônicas, mensagens de texto (SMS) e plataformas móveis para fornecer ou apoiar diversos programas de saúde (mHealth) cresceu na última década, mas poucos foram direcionados especificamente para promover o desenvolvimento infantil. Metanálises identificaram efeitos geralmente positivos das intervenções digitais de parentalidade no bem-estar dos pais (por exemplo, maior suporte social e autoeficácia), no comportamento parental (como práticas de estimulação positiva) e nos resultados do desenvolvimento infantil (Flujas-Conteras et al., 2019; Harris et al., 2020; Lin-Lewry et al., 2024; McAloon & Armstrong, 2024; Nieuwboer et al., 2013). No entanto, a maioria dos estudos incluídos nessas análises foi realizada em países de alta renda. As evidências sobre intervenções digitais de parentalidade em países de baixa e média renda (LMICs) ainda são limitadas, com impactos variados dos programas (Amaral et al., 2024; Skeen et al., 2023). Além disso, uma revisão recente (Jäggi et al., 2025) não encontrou suficientes estudos publicados que avaliem os efeitos dessas intervenções no desenvolvimento infantil na primeira infância em

LMICs, tornando seu impacto potencial sobre as crianças ainda amplamente desconhecido. No Brasil, um estudo em pequena escala realizado com o envio de mensagens de vídeo e áudio por WhatsApp encontrou um impacto positivo no desenvolvimento da linguagem (Solis Cordero et al., 2023). De forma semelhante, na Guatemala, o envio de mensagens de áudio por telefone melhorou o desenvolvimento da linguagem (Arteaga & Trias, 2022). No Uruguai, um programa de mensagens eletrônicas de seis meses aprimorou as interações linguísticas entre adultos e crianças (Balsa et al., 2023). Durante a pandemia, diversos países adaptaram seus serviços utilizando uma variedade de métodos de entrega remota, como chamadas telefônicas, mensagens de texto, áudios, vídeos e radionovelas.

Na América Latina, diversos países têm adotado tecnologias para apoiar o desenvolvimento da primeira infância em áreas como educação, saúde e desenvolvimento socioemocional. Exemplos incluem os aplicativos Kinedu e Matific, que promovem o desenvolvimento cognitivo e socioemocional das crianças, e plataformas como Afinidata, que enviam sugestões semanais via WhatsApp, Messenger ou aplicativo. Programas como a Teleasistencia UCC no Uruguai oferecem suporte remoto a famílias vulneráveis, e modelos híbridos como o ThinkEqual na Colômbia, combinam encontros presenciais com conteúdo digital via WhatsApp para promover o desenvolvimento socioemocional. Além disso, o programa 1000 Días de Igualdad no Uruguai usa mensagens de texto complementadas por visitas presenciais, enquanto Videolibros enSeñas oferece uma biblioteca virtual em língua de sinais para crianças surdas, promovendo a inclusão educacional em áreas com baixa conectividade (Herrero Tejada et al., 2024). Esses exemplos demonstram como a tecnologia pode melhorar o acesso e a qualidade dos serviços voltados ao desenvolvimento infantil na região.

Modelos híbridos e remotos de apoio à parentalidade têm mostrado ser uma estratégia eficaz para reduzir custos operacionais, permitindo a expansão do alcance dos programas sem comprometer sua sustentabilidade financeira (Rubio-Codina et al., 2022). Esses modelos oferecem a vantagem de atender mais famílias sem a necessidade de investimentos significativos em infraestrutura adicional. Ao adotar plataformas digitais, os custos são consideravelmente reduzidos em comparação aos métodos tradicionais, uma vez que se elimina a necessidade de deslocamento de facilitadores, aluguel de espaços físicos e materiais impressos (UNICEF, 2022).

A adoção da tecnologia nesses programas não é isenta de desafios no desenho, implementação, monitoramento e escalabilidade. No que diz respeito ao desenho, é essencial garantir acessibilidade digital, personalização e adaptação cultural dos conteúdos e equilíbrio entre interação digital e presencial. Quanto à implementação, a capacitação dos profissionais, o engajamento das famílias e a infraestrutura adequada são fundamentais para o sucesso das intervenções. O monitoramento, por sua vez, exige ferramentas eficazes para coleta de dados, feedback contínuo e avaliação do impacto sem comprometer a privacidade dos usuários. Já a escalabilidade depende da sustentabilidade financeira, da integração com sistemas de saúde e educação e da adaptação das soluções a diferentes contextos.

Para garantir que a digitalização traga benefícios equitativos, é essencial considerar os desafios relacionados ao acesso a dispositivos e conectividade. O investimento inicial em tecnologia pode ser necessário para assegurar que todas as famílias tenham condições de utilizar as plataformas digitais, especialmente em regiões com infraestrutura tecnológica limitada. A falta de acesso confiável à internet e a dispositivos adequados pode comprometer a adesão, especialmente em comunidades de baixa renda, onde a conectividade ainda é instável (UNICEF, 2022). Assim, a tecnologia deve ser utilizada estrategicamente para potencializar e complementar os programas de parentalidade, garantindo que o suporte às famílias seja acessível, eficaz e de alta qualidade.

PARTE I

APRESENTAÇÃO DAS INICIATIVAS BRASILEIRAS

Esta seção apresenta as iniciativas que participaram da Reunião Técnica sobre o Uso de tecnologias para a promoção da parentalidade positiva e do desenvolvimento infantil no Brasil, realizada em novembro de 2024.

A Tabela 1 apresenta uma visão geral dos programas brasileiros que participaram da reunião técnica. Esses programas adotam abordagens diversas, porém complementares, para apoiar o desenvolvimento da primeira infância, com um forte enfoque no uso da tecnologia para promover o desenvolvimento infantil. A maioria das iniciativas é voltada para famílias em situação de vulnerabilidade social com crianças pequenas, enquanto algumas têm como público-alvo profissionais da saúde e da assistência social.

Os programas são implementados por meio de aplicativos móveis, plataformas digitais ou mídias de massa, sendo que muitos utilizam um modelo híbrido que combina componentes digitais e presenciais. Embora a escala de implementação varie significativamente, muitos desses programas operam dentro de plataformas escaláveis em diferentes setores, como saúde, educação e proteção social. Destaca-se que vários programas estão integrados ao programa nacional Criança Feliz, o que facilita sua ampliação e escalabilidade

Tabela 1 – Iniciativas brasileiras que utilizam tecnologia

Iniciativa e localidade Organização Objetivo

PúblicoAlvo Desenho Monitoramento Escalabilidade

Parceria com o Poder Público Outros parceiros

1.AFINI

AfiniDataCeará

Promover o desenvolvimento na primeira infância por meio da qualificação das interações entre pais e crianças.

Famílias em situação vulnerável com crianças de 0 a 6 anos. Ele é implementado junto com beneficiários do Programa Criança Feliz.

Chatbot interativo com IA avançada e algoritmo proprietário de recomendação de conteúdo, para orientação parental via WhatsApp ou aplicativo móvel. Pode ser integrado a programas de visitação domiciliar, adaptando-se dinamicamente às necessidades de cada criança.

Coleta de dados em tempo real via chatbot.

Possibilidade de ampliação ao se integrar a um programa existente de visitas domiciliares de ampla escala.

Ministério do Desenvolvimento Social e Governo do Estado do Ceará.

Banco Mundial, Universidade de Harvard, IPECE, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Van Leer.

2.CRESCER

APRENDENDO

UWB - United Way BrasilCeará

Promover o estímulo ao desenvolvimento infantil por meio da parentalidade positiva.

Famílias em situação de vulnerabilidade social com crianças 0 a 6 anos que frequentam instituições de ensino.

Oficinas e rede de apoio híbridas para famílias, com grupos online e mentorias (WhatsApp, Google Meet). Implementação junto à escolas, OSCs e empresas.

Acompanhamento de interações e feedbacks das famílias.

Potencial de expansão para outros estados via rede de educação.

Secretarias de educa-

ção, saúde e desenvolvimento social; escolas públicas de Educação Infantil.

Organizações da Sociedade Civil, empresas, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Van Leer e Fundación FEMSA.

Iniciativa e localidade

3.Jornada Online

Primeira Infância (JOPI)

Organização Objetivo Público-Alvo Desenho

Descobrir BrincandoNacional, 2.994 municípios.

Contribuir para a promoção do desenvolvimento na primeira infância a partir da formação e mobilização de visitadores e supervisores do programa Primeira Infância no SUAS/PCF.

Profissionais da assistência social (Programa Criança Feliz).

Plataforma digital de treinamento/formação remota, do governo, para profissionais com áudios, textos, vídeos. Acesso pelo computador ou celular.

Monitoramento Escalabilidade

Registro de frequência e de adesão à jornada de formação.

Integrado a um programa existente de visitas domiciliares de ampla escala.

Parceria com o Poder Público Outros parceiros

4.NELSON, O NENÊ

Fundação Maria

Cecilia Souto

Vidigal - FMCSV - Nacional.

Sensibilizar e apoiar famílias e cuidadores, com crianças na primeira infância, para a parentalidade positiva e para a importância da promoção do desenvolvimento na primeira infância.

Famílias com crianças entre 0 e 6 anos, em especial as que estão em situação de vulnerabilidade social. Lideranças Comunitárias e comunidades em situação de vulnerabilidade.

Comunicação de massa com IA, vídeos e campanhas educativas via redes sociais. Medição de alcance e engajamento nas redes sociais.

Ampla disseminação via campanhas e parceria com redes de mídia.

*Digital (Instagram, Facebook, Tik Tok, Youtube, Whatsapp, Site)

*TV/Massa (Séries, campanhas em vídeos, peças publicitários (banners)

*Territorial (ações presenciais esporádicas).

Ministério do Desenvolvimento Social.

Fundação

Van Leer, PNUD.

NÃO

Unesco, Itaú Social, Porticus, Labedu, Fundação Roberto Marinho, Globo, Sesame Workshops, Gerando Falcões, JC Decaux.

Iniciativa e localidade

5. PÉ DE INFÂNCIA

Organização Objetivo

PúblicoAlvo Desenho

Monitoramento Escalabilidade

Parceria com o Poder Público Outros parceiros

Allma Hub10 estadosAC, BA, CE, PE, PI, PR, RJ, RR, RS, SP24 municípios.

Promover interações de qualidade entre crianças e adultos de referências considerando a sobrecarga emocional e física de quem cuida.

Famílias com crianças de 0 a 3 anos em instituições de educação ou serviços de assistência social.

Comunicação híbrida e kits de ferramentas para apoio à parentalidade (vídeos em formatos de jornada de formação para incentivar atividades lúdicas).

Feedback qualitativo das famílias e facilitadores.

Escalável através de instituições municipais como escolas, CRAS, e etc.

Mais de 24 prefeituras municipais, como Benevides (PA), Boa Vista (RR), Canoas (RS), Caruaru (PE), Cascavel (PR), Colinas (RS), Mogi das Cruzes (SP), Sobral (CE), Teresina (PI) Uruçuca (BA) e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Fundação Van Leer

6. PROGRAMA DE PARENTALIDADE DA FMUSP

Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo8 estados, 11 municípios.

Fortalecer a parentalidade com a promoção de interações lúdicas ensinadas por visitadores domiciliares.

Gestantes, Pais e cuidadores de crianças 0 a 3 anos beneficiários de Programa Criança Feliz.

Apoio virtual com uma metodologia de visitas domiciliares remotas para atenção às famílias por meio de aplicativo próprio e WhatsApp.

Monitoramento na saúde infantil com assistência do aplicativo.

Integrado a um programa existente de visitas domiciliares de amplia escala.

Ministério do Desenvolvimento

Social, Prefeitura de São Paulo (SP), Prefeitura de Boa Vista (RR) e outras prefeituras ao redor do país.

Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Grand Challenges Canada e Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Iniciativa e localidade Organização Objetivo Público-Alvo Desenho

7. Triagem e Estimulação do Desenvolvimento Infantil (TEDI)

Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG22 estados.

Auxiliar os profissionais de saúde na avaliação, acompanhamento e estimulação do desenvolvimento infantil integral.

Profissionais de saúde e assistência social. Aplicativo móvel para apoio a triagem de desenvolvimento infantil.

Monitoramento Escalabilidade Parceria com o Poder Público Outros parceiros

8.FAMÍLIA +

Espaço Àra, 2 estados, 79 municípios.

Fortalecer as relações família-escola e facilitar a mudança de comportamento dos cuidadores para apoiar o desenvolvimento da criança e promover o bem-estar dos pais ou responsáveis.

Famílias com crianças entre 3 e 5 anos que frequentam instituições educacionais, e professores da rede da educação infantil.

Modelo de apoio hibrido com encontros presenciais e troca de mensagens via WhatsApp.

Registro de avaliações e do uso do aplicativo.

Integração com sistemas nacionais de saúde. Testado parceria com o Ministério da Saúde e gestores de 6 municípios brasileiro.

Acompanhamento de execução e do feedback e interações com as famílias. Integração com rede de educação.

Secretaria Estadual de Educação do Ceará e municípios, Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul e municípios, Prefeituras de Recife e Cascavel. Fundação Van Leer.

Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

Iniciativa 1: Afini no Ceará - chatbot interativo

Visão geral

O Afini1 é um aplicativo de tutoria virtual de promoção do desenvolvimento infantil precoce impulsionado por inteligência artificial para orientar cuidadores e fornecer recomendações baseadas em evidências práticas de cuidado e estimulação com crianças de 0 a 6 anos. Além de oferecer conteúdo educacional, o Afini busca empoderar famílias em situação de vulnerabilidade. O público-foco são as famílias vinculadas a algum programa governamental. Seu uso é gratuito e as intervenções são financiadas por organizações da sociedade civil (OSCs), organismos internacionais e/ou governos interessados. Iniciado em 2017 na Guatemala, pela Afinidata, o Afini atualmente está presente em diversos países2

O conteúdo da Afini inclui mais de 1.500 sugestões de atividades educativas para famílias com crianças de 0 a 6 anos. Todos os materiais foram elaborados com o apoio de especialistas em desenvolvimento da primeira infância e baseiam-se nas cinco dimensões do Modelo de Cuidado Integral (Nurturing Care Framework) desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde, Unicef e Banco Mundial. Diferentemente de outras aplicações que oferecem informações gerais sobre cuidado e criação, o Afini se ajusta ao progresso de cada criança, fornecendo recomendações personalizadas e adequadas às necessidades específicas de cada família.

O Afini está no Brasil desde 2023, com um projeto piloto no estado do Ceará junto ao Programa Mais Infância. Sua implementação no país foi possível a partir de uma parceria com o Programa Primeira Infância no SUAS/Criança Feliz do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Banco Mundial, Universidad de Harvard, Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), David Rockefeller Center for Latin American Studies (DRCLAS), Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV), Fundação Van Leer (FVL) e Harvard University.

O objetivo do piloto foi avaliar o impacto de complementar o programa de parentalidade existente com um assistente virtual, determinar a melhor modalidade de implementação (WhatsApp ou aplicativo) e verificar se o envio de mensagens em maior frequência (uma ou duas por semana) geraria melhores resultados.

Este piloto e sua avaliação foram desenvolvidos em parceria com diversos atores, incluindo Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) do Ceará, Banco Mundial, representantes da Universidade de Harvard, Ipece, DRCLAS, FMCSV e FVL.

1 Versão IOS também disponível

2 Bolívia, Brasil, Chile, El Salvador, Emirados Árabes Unidos, Guatemala, Honduras, México e Peru.

Principais estratégias

Adaptação

Antes da implementação do programa no Ceará, foram realizadas adaptações do material do Afini para o contexto cultural e linguístico do Brasil.

Personalização

Durante o registro na plataforma, os pais inserem a data de nascimento da criança, que serve como um primeiro filtro. A partir disso, gera recomendações de atividades personalizadas para a família. O algoritmo utilizado ajusta as sugestões com base na frequência de uso, tempo de interação, estágio de desenvolvimento e feedback recebido. O conteúdo é projetado para atender às diversas capacidades de conectividade das famílias, com formatos que incluem vídeo, texto e imagens, Para famílias com acesso limitado a dados, a plataforma prioriza formatos de texto ou imagem em vez de vídeos, e também disponibiliza atividades para uso offline. As sugestões fornecidas são simples, divertidas e utilizam materiais comumente encontrados nas casas.

Formação de profissionais

Mais de 150 visitadores domiciliares do Programa Criança Feliz/Primeira Infância no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) foram capacitados no uso das ferramentas disponíveis. A capacitação, com duração de 90 minutos, incluiu treinamento para apoiar as famílias no registro no Afini, seja por meio de um aplicativo ou pelo WhatsApp, de acordo com o grupo de estudo ao qual foram designados.

Disseminação de conteúdo para famílias

Aproximadamente mil famílias beneficiárias do Programa Primeira Infância no SUAS/ Criança Feliz participaram do piloto realizado em 41 municípios no norte do Ceará. O piloto foi conduzido em duas modalidades: por meio do aplicativo do Afini e via WhatsApp. As famílias recebiam uma a duas mensagens semanais, dependendo do grupo ao qual foram designadas. Além disso, elas podiam interagir com o Afini para solicitar atividades adicionais, sem qualquer restrição.

Avaliação de risco de desenvolvimento

O Afini permite monitorar o desenvolvimento infantil por meio da aplicação de um questionário aos cuidadores. Para isso, é utilizado o instrumento “Caregiver-Reported Early Development Instruments (CREDI)”, desenvolvido pela Universidade de Harvard, em seu formato curto. O CREDI é um conjunto de medidas em nível populacional para avaliar o desenvolvimento na primeira infância de crianças desde o nascimento até os três anos de idade (0-36 meses). Ao identificar um risco, a plataforma alerta tanto a família quanto os visitadores domiciliares. Adicionalmente, o Afini permite monitorar outros riscos, oferecendo uma visão mais abrangente das necessidades das famílias e crianças.

Ferramenta de monitoramento

O Afini possui um formato interativo, que coleta de dados em tempo real via chatbot, e permite fornecer informações de monitoramento tanto aos visitadores domiciliares quanto aos CRAS associados. Cada visitador pode visualizar em seu painel (dashboard)

as atividades realizadas pelas famílias e os alertas gerados. Ao mesmo tempo, os CRAS têm acesso às informações agregadas dos visitadores, facilitando o acompanhamento e a gestão.

Mobilização e engajamento

As mensagens são enviadas de forma personalizada, de acordo com a idade da criança, baseadas nos princípios da ciência comportamental. As famílias podem acessar vídeos, imagens e textos. Caso a família não consiga acesso, o tutor reenvia a atividade sem imagens, garantindo que o acesso limitado à internet não impeça o uso da ferramenta.

O Afini foi desenhado considerando os baixos níveis de alfabetização e os custos dos pacotes de dados. Além disso, as mensagens podem ser acessadas offline. O tutor virtual está disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana, e as famílias podem continuar solicitando atividades sem restrições.

Adicionalmente, uma empresa de marketing acompanhou o processo inicial, trabalhando com os visitadores domiciliares para reforçar a adesão à ferramenta.

Uso de tecnologias

O Afini usa chatbot por meio de um aplicativo ou WhatsApp, que simula a interação e o intercâmbio individualizado com cada família, e a inteligência artificial, que personaliza recomendações para as necessidades específicas de cada criança ou de cada família. A aplicação conta também com a possibilidade de utilização de elementos síncronos mediados por tecnologia (ex.: palestras online) e/ou serviços de mensagens, armazenamento e entrega de conteúdos de forma sequencial e automatizada. Além disso, possui uma funcionalidade offline para usuários que não têm conectividade consistente, de modo que possam baixar as sugestões de atividades para uso posterior e assíncrono.

Alcance

A implementação no Ceará alcançou 940 famílias em 41 municípios

Além do Brasil, a Afini beneficiou 135 mil famílias em oito países (Bolívia, Chile, El Salvador, Emirados Árabes Unidos, Guatemala, Honduras, México e Peru).

Principais resultados

Uma avaliação de impacto do piloto, liderada pela representantes da Universidade de Harvard e pelo Banco Mundial, foi conduzida no Ceará para medir o impacto da adição de um chatbot interativo, baseado em celular para estimulação infantil, a uma intervenção parental já existente (Primeira Infância no SUAS/Criança Feliz).

Dos 289 visitadores domiciliares das 1.599 famílias, 60% (169) e respectivas famílias (940) foram alocados aleatoriamente para participar da intervenção digital (grupo de tratamento), enquanto o restante foi designado para um grupo de controle (120 visitadores domiciliares e 659 famílias). Além disso, seguindo um desenho multifatorial 2x2x2, os visitadores domiciliares do grupo de tratamento foram novamente randomizados para diferentes variações no design:

Plataformas de entrega alternativas (WhatsApp vs. App);

Frequência alternativa de mensagens (uma vs. duas mensagens semanais);

Tipo alternativo de mensagens (preferências dos cuidadores vs. necessidades das crianças).

Os dados da pesquisa foram coletados de janeiro de 2023 a junho de 2024. Os resultados preliminares do estudo mostram que:

70% das famílias selecionadas se inscreveram no programa.

93% das famílias inscritas utilizaram pelo menos uma das atividades do Afini e 57,1% abriram pelo menos 10 atividades

Preferência por WhatsApp: as famílias utilizaram o WhatsApp três vezes mais do que o App.

Resultados preliminares: o WhatsApp foi mais eficaz do que o App para melhorar os resultados de desenvolvimento infantil (linguagem, cognição, habilidades motoras e socioemocionais), sendo que a intervenção teve impacto significativo apenas quando entregue pelo WhatsApp. Nenhum impacto foi observado nos resultados parentais.

Contato

Equipe do estudo de avaliação de impacto

Dana McCoy dana_mccoy@gse.harvard.edu

Julieta Trias jtrias@worldbank.org

Equipe Afini

Andreana Castellanos ac@afinidata.com WhatsAapp +1 4015004162

Iniciativa 2: Crescer Aprendendo - rede de apoio online

Visão geral

O Crescer Aprendendo da United Way Brasil (UWB) é um programa que fortalece a capacidade dos municípios em ações voltadas à primeira infância (0 a 6 anos), integrando a metodologia de parentalidade positiva nas políticas públicas e nos serviços locais, criando assim um ecossistema de apoio às famílias com foco no desenvolvimento infantil, por meio da formação de técnicos e gestores municipais, do monitoramento contínuo e da transferência da metodologia.

O programa foi implementado, no Brasil, em 2012, inspirado na iniciativa Born Learning, desenvolvida pela United Way Worldwide, nos Estados Unidos, em 20053. Desde então, passou por algumas transformações estratégicas. A partir de 2018 atendeu direta e presencialmente as famílias em parceria com OSCs locais, escolas, creches e Secretarias Municipais de Educação ou de Desenvolvimento Social. Posteriormente, com a pandemia de Covid-19, em 2020, a atuação com as famílias migrou para o modelo híbrido (Crescer Aprendendo Famílias).

Em 2021, com o objetivo de escalar sua atuação e seus resultados, criou uma nova modalidade, o Crescer Aprendendo Governo, que transfere a metodologia e a tecnologia para o poder público a partir de estratégias para formação e atuação dos profissionais vinculados ao sistema público de assistência à criança. A primeira experiência foi com o Programa Mais Infância, do Governo do Estado do Ceará, numa coalizão com a Fundação Van Leer (FvL), Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV), Porticus e também Fundación FEMSA. Atualmente o programa está presente em 50 municípios, 49 do Ceará, em parceria com a Secretaria de Educação do Estado, e em Caruaru, com a Secretaria de Educação e Esporte e a Secretaria Executiva de Primeira Infância do município.

Em 2019, entendendo a importância do segundo setor (empresas) para ampliar a abrangência da causa, a UWB desenvolveu o modelo Crescer Aprendendo Empresas para sensibilizar o mundo corporativo sobre a importância de cuidar de quem cuida (colaboradores que são mães, pais, avós etc.).

Nesta sistematização, nosso foco é compartilhar a experiência do modelo Crescer Aprendendo Famílias, em que a UWB atua diretamente com mães, pais e responsáveis pelas crianças, sendo financiado por empresas e organizações financiadoras do terceiro setor, bem como por meio de recursos captados via Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Paulo e pelo Fundo Municipal da Criança e do Adolescente de São Paulo. Em muitos dos municípios em que foi implementado, o programa fez parte de um conjunto maior de ações que envolveram parcerias com outras organizações do terceiro setor, como Fundación FEMSA, FMCSV e FVL.

3O Born Learning tem três eixos: Academies (oficinas presenciais de formação de parentalidade para as famílias), Smart Quad Cities texts (mensagens online sobre atividades divertidas e educacionais para fazer com crianças menores de cinco anos) e o Born Learning Trails (trilhas de brincadeiras espalhadas pela cidade). Esta metodologia já foi aplicada por diversas United Ways no mundo.

Principais estratégias

O Crescer Aprendendo Famílias possui um ciclo de implementação de seis meses. O primeiro é dedicado à sensibilização das organizações parceiras e mobilização e adesão das famílias e os meses seguintes são dedicados à atuação com as famílias. As principais estratégias desse modelo de implementação são:

Sensibilização das organizações parceiras (escolas municipais de Educação Infantil e OSCs) e de suas equipes

A sensibilização das organizações parceiras é a primeira etapa da implementação do programa, pois são nessas organizações que estão as famílias. Sem o engajamento das organizações parceiras, a implementação do programa nesse modelo seria inviabilizada. As organizações parceiras são responsáveis por mobilizar as famílias para aderirem ao programa, bem como por organizar toda a parte presencial da implementação.

Grupos de famílias e interação digital

A formação parental, com foco no fortalecimento da parentalidade positiva, na saúde mental das mães e de cuidadores e em temas voltados ao cuidado e desenvolvimento na primeira infância, ocorre em grupos de WhatsApp do Crescer Aprendendo, por meio do envio de conteúdos diários e da interação digital com as famílias, para a promoção do desenvolvimento da primeira infância e o acolhimento das demandas identificadas. Os temas abordados abrangem direitos das crianças, papel da família, saúde física e mental das crianças, alimentação saudável, comportamento infantil, importância das brincadeiras, violência contra crianças e mulheres, equidade racial e geração de renda. A metodologia prevê a possibilidade de troca entre as famílias atendidas, tornando o grupo uma rede de apoio.

Apoio emocional individualizado

Os atendimentos psicológicos individuais buscam oferecer apoio emocional e suporte às demandas compartilhadas pelas famílias nos grupos de WhatsApp. A partir de uma triagem de famílias com mais desafios ou de uma solicitação específica, a psicóloga acolhe os adultos responsáveis pela criança, fazendo a escuta e dando orientações, de acordo com as questões trazidas. Em casos de atenção especial, como eventos relacionados a violências e negligências, a família é encaminhada aos serviços da rede de proteção e assistência social local.

Encontros virtuais temáticos

São realizados encontros temáticos online com as famílias, que visam disseminar conteúdos sobre a primeira infância para que as famílias promovam o desenvolvimento integral das crianças. Esses encontros são também espaços de escuta, conversa e acolhimento. O número de encontros varia entre os ciclos de implementação.

Encontros presenciais com as famílias

Encontros presenciais são realizados nas organizações ou escolas parceiras com as famílias e cuidadores, para acolhimento das famílias, apresentação do programa e compartilhamento de ideias práticas para transformar atividades cotidianas em momentos de aprendizagem. O número de encontros presenciais variou ao longo dos ciclos de implementação, mas atualmente ocorre um no início e outro ao final do ciclo.

Encontros presenciais com educadores e agentes sociais

Formação presencial para os educadores e agentes sociais para discussão e avaliação do programa, com o intuito de realizar a análise das atividades aplicadas e desenvolvidas ao longo dos meses.

Entrega de cestas básicas ou cartões-alimentação

Tendo em vista o contexto de insegurança alimentar ampliado pela pandemia de Covid-19, o Crescer Aprendendo incluiu a distribuição de cartões-alimentação ou cestas básicas às famílias participantes do programa. Tais cartões/cestas (dois a três por família a cada ciclo) são entregues diretamente nas organizações parceiras, que se responsabilizam pela logística de distribuição.

Mobilização e engajamento

Os conteúdos são enviados diariamente nos grupos de WhatsApp em diferentes formatos - vídeos, áudios, cards e mensagens de texto. São encaminhadas propostas de atividades semanais e as famílias são incentivadas para que postem os resultados dessa vivência. A diversificação de formatos contribui para o engajamento de diferentes perfis de famílias.

Os grupos são mediados por psicólogos especialistas em primeira infância que, junto aos familiares participantes, funcionam como uma rede de apoio, viabilizando a mães e cuidadores que troquem entre si e se sintam escutados e cuidados.

A entrega de cestas básicas e a utilização de espaços já frequentados pelas famílias também são estratégias de engajamento no programa que têm se mostrado bastante eficazes, dado o contexto de insegurança alimentar dessa população.

Uso de tecnologias

O Crescer Aprendendo utiliza o WhatsApp nos grupos de famílias e nos atendimentos individuais psicológicos. Para os encontros virtuais, a plataforma utilizada é o Google Meet.

A escolha do aplicativo WhatsApp para a implementação dos grupos se deu por ser um aplicativo que não ocupa a memória do celular e por fazer parte do dia a dia de boa parte das pessoas.

Alcance

Mais de 15 milhões de pessoas foram treinadas no “Born Learning” no mundo em atividades de estímulo ao desenvolvimento de crianças na primeira fase da vida.

Considerando todo o Crescer Aprendendo no Brasil, um total de 27.062 famílias e 37.886 crianças foram beneficiadas, em 616 grupos de WhatsApp de 431 organizações e escolas parceiras distribuídas em 69 municípios

Nas implementações em que a equipe da UWB se relaciona diretamente com o público-foco, o programa beneficiou, desde 2018, 11.069 famílias em 15 municípios de seis estados (Louveira, Suzano, Caçapava, São Paulo, São Bernardo do Campo e Campinas, no estado de São Paulo; Lavras, Betim e Camanducaia, em Minas Gerais; Seropédica, no Rio de Janeiro; Recife e Goiana, em Pernambuco; Manaus, no Amazonas; e Navegantes e Joinville em Santa Catarina), através de 19 organizações sociais parceiras com o apoio de sete empresas investidoras.

Principais resultados da avaliação

O Crescer Aprendendo Famílias teve seus resultados avaliados em um estudo de grupo único em três momentos: pré-intervenção, pós-intervenção e acompanhamento (cinco meses após o fim da implementação), utilizando questionários quantitativos já validados academicamente no Brasil e baseados em autorrelato. A amostra foi de 91 cuidadores de famílias residentes em quatro municípios do estado de São Paulo. As entrevistas foram feitas por telefone e as perguntas incluíram os seguintes temas: características sociodemográficas, segurança alimentar, parentalidade (Escalas de Ajustamento Parental e Familiar e a Escala de Senso de Competência Parental), comportamento infantil (Strengths and Difficulties Questionnaire4) e satisfação com o programa.

4O SDQ é um questionário que rastreia problemas de saúde mental infantil, aplicado aos pais e professores.

Diferenças positivas e estatisticamente significativas para redução de práticas coercitivas e aumento da satisfação parental;

No caso das práticas coercitivas, foi observada uma diminuição desses comportamentos imediatamente após o programa, diminuição esta que se manteve no acompanhamento de cinco meses;

Diferentemente, a satisfação com o papel parental não apresentou alterações imediatas significativas entre a pré e a pós-intervenção, mas melhorou significativamente no acompanhamento de cinco meses após a intervenção em comparação com as coletas anteriores. Esta constatação pode refletir a gradual internalização e utilização do conteúdo do programa pelos cuidadores. É possível que, ao reconhecerem as mudanças no comportamento dos filhos, também observadas no acompanhamento posterior ao programa, os cuidadores tenham se sentido mais confiantes;

Foram identificadas diferenças positivas significativas também quanto aos problemas comportamentais das crianças, que diminuíram com o tempo (especialmente no acompanhamento de cinco meses);

Outro resultado relevante, e que apareceu com força na parte qualitativa da avaliação, foi que as interações no grupo de WhatsApp possibilitaram a criação/o fortalecimento de redes de apoio entre as participantes, constituindo-se também em espaço de identidade, espelhamento e empatia.

Contato

https://uwb.org.br/contato/

E-mail: contato@unitedwaybrasil.org.br (11) 94175-9970

Iniciativa 3: Jornada Online Primeira Infância (JOPI) - formação digital

Visão geral

A Jornada Online Primeira Infância (JOPI) é uma trilha formativa desenvolvida pela empresa Descobrir Brincando5, que tem como objetivo apoiar o serviço de visitação domiciliar do Programa Primeira Infância no SUAS/Criança Feliz6, no que se refere à promoção da parentalidade positiva e do desenvolvimento infantil por meio da formação online de profissionais. Para a Descobrir Brincando, é por meio da qualificação do capital humano que se fortalece a relação criança-cuidador, a base para o desenvolvimento integral.

A JOPI foi desenvolvida em 2021 para atender a uma demanda do Ministério do Desenvolvimento Social MDS, que tinha o desafio de capacitar cerca de 30 mil visitadores para a promoção do desenvolvimento infantil, no âmbito do então Programa Criança Feliz. Em 2020, o MDS abriu um edital em parceria com a Fundação Van Leer (FVL) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) para contratação de empresa que trabalhasse com capacitação de profissionais. A Descobrir Brincando foi a empresa selecionada.

Os objetivos específicos da JOPI são:

Capacitar o profissional visitador para favorecer a qualificação de práticas durante as visitas às famílias, bem como fomentar o trabalho em equipe, mobilizando a rede de cuidado; e

Capacitar o supervisor na multiplicação de conteúdos e gestão dos visitadores para o atendimento às famílias.

Todo o conteúdo já produzido da JOPI foi disponibilizado ao MDS, que pode utilizá-lo de forma recorrente e a qualquer tempo, independentemente da participação da Descobrir Brincando. O material também está disponível na biblioteca do Urban 95 (programa da FVL) para qualquer interessado. Nesses casos, a disponibilidade é apenas do conteúdo, que pode ser incorporado na plataforma EaD do MDS.

5A Descobrir Brincando é uma empresa que atua em Programas e Serviços, na capacitação de profissionais de diversas áreas que trabalham com famílias com crianças na primeira infância.

6O Programa Primeira Infância no SUAS/Criança Feliz atende famílias em situação vulnerável, gestantes com crianças de 0 a 3 anos, ou até 6 anos para crianças com deficiências ou afastadas do convívio familiar

Principais estratégias

A implementação da JOPI se dá por meio da oferta de formações online gratuitas, que são chamadas de jornadas, para os profissionais. O Poder Público, com suas parcerias institucionais, arca com os custos do projeto. Duas jornadas já foram pilotadas e implementadas (JOPI 1 e JOPI 2) e uma terceira jornada (JOPI 3) está em fase de desenvolvimento.

JOPI 1

Curso de 24 horas voltado para os visitadores da política de assistência social. Os principais conteúdos são: abordagem com as famílias, rotina de cuidados, brincar e desenvolvimento motor. Os participantes têm também a missão de definir e realizar uma atividade com famílias atendidas, discuti-la com seus supervisores e/ou com seus pares e relatar o processo para a coordenação do curso. Clique aqui para acessar o conteúdo do JOPI 1.

JOPI 2

Curso de 24 horas voltado para os supervisores da política de assistência social. Além de instrumentalizar os supervisores para a multiplicação de conteúdos, também os auxiliam na gestão das equipes. Vagas remanescentes são disponibilizadas para esses profissionais. Os principais temas do curso são: (i) os desafios da gestação, (ii) o uso de telas, (iii) a criança com deficiência e (iv) gestão e liderança. Clique aqui para acessar o conteúdo do JOPI 2.

JOPI 3

Trata-se de um curso de 18 horas voltado para supervisores do Primeira Infância no SUAS/ Criança Feliz, além de coordenadores da Proteção Social Básica com temáticas ligadas à integração entre as equipes multissetoriais da política de assistência social brasileira, com um olhar focado no território.

Mobilização e engajamento

A realização das jornadas não é obrigatória para os profissionais do serviço de visitação. Elas são complementares a outros cursos oferecidos pelo MDS, configurando-se como mais uma opção de formação profissional. Assim, uma série de estratégias de comunicação e engajamento foram desenvolvidas, como: evento oficial de lançamento da jornada; link de inscrição disponível em várias plataformas; não exigência de pré-cadastro; compatibilização de agenda com outras formações do MDS; uso de plataforma amigável; mensagens privadas e de grupo para coordenadores estaduais e supervisores; e email marketing para divulgação e permanência dos participantes.

Cada usuário pode realizar a jornada no seu próprio ritmo, bem como definir a sequência de atividades que quer seguir, considerando suas necessidades e interesses. A plataforma também

mostra um rastreador de progresso e envia notificações ao usuário para mostrar o percentual de conclusão e incentivá-lo a finalizar a jornada. A certificação dos usuários com pontuação para a carreira está sendo articulada com o MDS para a JOPI 3.

Todo o desenvolvimento dos conteúdos é baseado no estudo das ciências comportamentais e na metodologia de microlearning, buscando garantir o maior engajamento possível e a efetiva mudança de comportamento dos participantes. As jornadas contam sempre com conteúdos concisos, diretos, pensados a partir dos desafios vividos pelos profissionais, e com atividades que demandam ações objetivas e conectadas com o dia a dia profissional dos participantes. Diferentes estilos de aprendizagem são considerados para a produção dos conteúdos. Para tanto foram criados conteúdos no formato card, podcast, vídeo e quiz.

Uso de tecnologias

Toda a JOPI 1 foi realizada via chatbot do WhatsApp. No entanto, com as mudanças da política global dessa ferramenta, que passou a cobrar por mensagem enviada para cada destinatário, o uso do WhatsApp ficou inviabilizado. Por isso, a JOPI 2 foi disponibilizada via Grano, a plataforma de LMS - Learning Management System utilizada pela Descobrir Brincando (gratuita para o usuário). A JOPI 3 também seguirá esse caminho.

Além do ambiente de aprendizagem, a plataforma também viabiliza os processos de inscrição, certificação e monitoramento das atividades dos participantes, contando com paineis de indicadores que facilitam a tomada de decisão. O acesso pode ser via celular ou computador.

O produto final de cada Jornada para o MDS é um hotsite com links para todos os conteúdos da jornada. A ideia é que o MDS baixe os conteúdos e depois deixe-os disponíveis na sua plataforma de aprendizagem, a Moodle. Além disso, os participantes podem também baixar todo o conteúdo e, com um só clique, compartilhá-los com outras pessoas que podem utilizá-los de forma offline e assíncrona.

Alcance

A JOPI 1 teve 9.600 inscritos e 5.209 concluintes de todos os estados brasileiros, o que significa uma taxa de conclusão de 55%, sendo que 75% dos inscritos iniciaram o curso.

Já a JOPI 2 contou com 4.182 inscritos e 2.642 concluintes, também de todos os estados brasileiros. Do total, 62% dos supervisores e 64% dos visitadores concluíram o curso.

Até o momeno da publicação deste documento, a JOPI 3 contabilizava 7.024 inscritos e 4.730 concluintes

Não há como contabilizar o número de profissionais que acessaram os conteúdos dos cursos quando baixados ou compartilhados de maneira não institucional.

Principais resultados da avaliação

Apesar de não ter sido feita uma avaliação de impacto da JOPI, o programa tem sido monitorado, com vistas a garantir o engajamento dos participantes e as mudanças de práticas. Além disso, duas avaliações de percepção dos participantes sobre resultados também foram conduzidas com o apoio de especialistas da Fundação Getúlio Vargas e do Insper. Toda coleta foi feita via WhatsApp.

A avaliação da JOPI 1 (ago/21 a jan/22), teve uma amostra de 7.414 usuários antes do treinamento, 1.374 logo após o treinamento e 229 um mês após o treinamento. Em termos de mudança de comportamento, os visitadores relataram um aumento estatisticamente significativo (6%) da frequência de orientações sobre cuidados diários com as crianças e com a adaptação dos espaços para brincar durante as visitas às famílias.

Na avaliação da JOPI 2 (dez/2023 a jun/2024), a amostra de supervisores e visitadores foi de 1.592 na coleta antes do treinamento, 458 logo após o treinamento e 171 seis semanas após o treinamento. Para os supervisores, houve um incremento em suas competências relativas à abordagem das temáticas “Uso de Telas” (efeito forte) e “Crianças com Deficiência” (efeito fraco), sem ter sido constatado um efeito forte na mudança de comportamento7. Sob a ótica dos visitadores, não houve mudança no comportamento dos supervisores, mas os visitadores aumentaram a frequência de abordagem de todos os temas, com especial ênfase no “Uso de Telas”.

Contato

Site: http://descobrirbrincando.com.br/ Email: contato@descobrirbrincando.com.br

7 Em questionário específico da Descobrir Brincando verificou-se que 97% dos visitadores e dos supervisores (n. 1553) reportaram que obtiveram conhecimento novo e que mudaram suas práticas com a contribuição dos cursos oferecidos.

Iniciativa 4: Nelson, o Nenê - comunicação de massa

Visão geral

O personagem Nelson, o Nenê8 (Nenê) é um projeto de comunicação criado em 2020 pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV) para sensibilizar e apoiar de forma leve e divertida as famílias e os cuidadores de crianças na primeira infância para a promoção do cuidado e desenvolvimento infantil. Com base nos estudos sobre a ciência do comportamento9, que ensina que o conhecimento não garante que a prática seja implementada, esse projeto busca lembrar constantemente as pessoas de colocarem em prática com as crianças pequenas os comportamentos que elas muitas vezes já sabem que são bons. O foco do Nenê são as famílias brasileiras das classes C, D e E. Por meio de seu conteúdo online, Nelson promove práticas nas cinco dimensões do Modelo de Cuidado Integral Nurturing Care desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Unicef e Banco Mundial: saúde, nutrição, cuidado responsivo, segurança e oportunidades para interação na primeira infância. As famílias acessam os conteúdos de forma gratuita pelos canais online que considerem mais convenientes (veja a seguir).

Os custos do Nenê são integralmente suportados pela FMCSV. Ao longo dos anos várias outras parcerias específicas (pagas e não pagas) e de distintos objetivos foram estabelecidas, como com Unesco, Itaú Social, Porticus, Labedu, Fundação Roberto Marinho, Globo, Sesame Workshops, Gerando Falcões, e JC Decaux.

Em 2025 o universo de Nelson será expandido, com o desenvolvimento de novos personagens. O público em breve conhecerá sua mãe, seu pai, suas irmãs, seu avô, seu cachorro e outros personagens. A intenção será aprofundar o engajamento em tópicos como cuidado pré-natal, respeito às diferenças, segurança e os impactos do estresse.

Principais estratégias

Nelson, o Nenê protagoniza conteúdos online, é porta-voz da FMCSV em campanhas para sensibilizar famílias e cuidadores sobre a importância da primeira infância e é mensageiro do projeto Territórios do Cuidado.

Site e redes sociais

O Nenê tem um site agregador de conteúdos de diversos formatos (textos, vídeos, músicas e etc.) organizados em uma biblioteca dividida nos temas do Nurturing Care. O usuário pode acessar o site a qualquer tempo, fazer download e compartilhar os conteúdos gratuitamente.

8 Inicialmente o Nenê chamava-se Nenê do Zap.

9 As principais referências teóricas da ciência do comportamento para o projeto são Richard Thaler (Nudge, 2008) e o psicólogo Daniel Kahneman (Thinking, Fast and Slow, 2011).

O personagem também está presente em várias redes sociais (YouTube, TikTok, Instagram, Facebook e WhatsApp) com a disseminação de conteúdos diários. O WhatsApp também é utilizado de forma a possibilitar um diálogo individualizado com o usuário.

Porta-voz e campanhas audiovisuais

Nelson, o Nenê, além de ser porta-voz da primeira infância na sensibilização de famílias e cuidadores, apoia e protagoniza ações específicas para a causa, como as campanhas para o Mês da Primeira Infância e Dia das Crianças, com o objetivo de chamar a atenção para a promoção do desenvolvimento nos seis primeiros anos de vida e para a importância de conversas e interações para construção de vínculo e afeto nessa fase da vida. Para tanto, participa de programas de TV, campanhas em intervalos comerciais, conteúdo em veículos de imprensa e etc.

Ações territoriais

A partir de 2023, o Nenê ganhou as ruas da comunidade Favela dos Sonhos, em Ferraz de Vasconcelos (SP), e chegou às famílias com mensagens de sensibilização sobre a primeira infância. Com a iniciativa “Territórios do Cuidado” e em parceria com a Gerando Falcões, o Nenê passou a proporcionar encontros presenciais, formações para lideranças comunitárias, ações de conscientização, oficinas, rodas de apoio e atividades lúdicas, além de conteúdos online, compartilhados via WhatsApp ou em redes sociais. A proposta é promover o engajamento de toda a sociedade com responsabilidade do cuidado com bebês e crianças pequenas. Todo o material produzido fica disponível para download, compartilhamento e multiplicação. Em 2024, o Nenê esteve presente em seis comunidades de quatro estados brasileiros (Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo).

Mobilização e engajamento

Os conteúdos disponibilizados têm a proposta de serem leves, divertidos e fáceis de assimilar e colocar em prática, sempre levando em conta o público-foco do projeto. Para tanto, a FMCSV fez pesquisas e identificou que 80% de seu público prefere assistir conteúdos de vídeo, 70% compartilhar conteúdo via WhatsApp e, entre os pedidos mais populares, estava o de receber sugestões para jogos simples. A disponibilização de conteúdos diários também foi introduzida considerando as preferências do público e a importância do estímulo frequente para que as práticas efetivamente aconteçam.

A integração de diferentes estratégias comunicativas faz com que uma estratégia potencialize a outra, gerando um maior engajamento geral dos usuários. Nesse sentido, uma campanha específica pode produzir mais engajamento de usuários que já estão vinculados a uma rede social, por exemplo.

Uso de tecnologias

Inicialmente, o Nenê utilizava apenas o WhatsApp com tecnologia de chatbot (robô de interação automática) com envio de conteúdos para todas as pessoas que queriam interagir com ele. Com o passar do tempo, essa estratégia ficou insuficiente e o Nenê passou a usar outras plataformas –YouTube, TikTok, Instagram, Facebook –, produzindo conteúdo diário.

Atualmente o chatbot está sendo testado como estratégia de microlearning - um processo de formação sobre temas da primeira infância para pequenos grupos e com jornada de curto prazo.

Alcance

O Nenê tem mais de 160 mil seguidores em seus canais digitais, com alcance mensal estimado em sete milhões de pessoas.

Quase a totalidade (94%) do público engajado no Nenê é formado por mulheres (cerca de 65% são mães), têm entre 25 e 45 anos e residem especialmente nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil. Deste público, 55% são negros e 84% integram classes C,D e E.

Quando são realizadas ações ou campanhas com parceiros, o público do Nenê pode aumentar significativamente. Foi o caso, por exemplo, da parceria com o programa “Encontro” da TV Globo, que começou em 2024 e continua em 2025, onde o personagem e a apresentadora Michelle Loreto apresentam dicas de brincadeiras acessíveis para famílias com as crianças e conscientizam sobre a importância da parentalidade e da educação infantil para o desenvolvimento da criança. Além disso, foram feitas quatro aparições de um filme publicitário do Nenê no intervalo comercial da emissora, no ano passado. O alcance estimado para essa ação foi de 16 milhões de pessoas.

Principais resultados

Em 2022 o projeto realizou uma pesquisa online com seus usuários. No total, o survey recebeu 969 respostas válidas por WhatsApp, Facebook e Instagram. Os principais resultados foram:

73,94% seguem o Nenê para se manter informados sobre assuntos relacionados a crianças e bebês.

62,98% seguem o projeto por trazer dicas importantes.

71,17% afirmam que os conteúdos com informações sobre cada fase dos bebês e etapas de aprendizado ajudam no dia a dia.

61,06% afirmam que os conteúdos com dicas de como conversar e entender os sentimentos das crianças ajudam no dia a dia.

Além disso, uma pesquisa de opinião realizada após as intervenções do “Território do Cuidado”, na comunidade da Favela dos Sonhos, levantou que 50% das pessoas entrevistadas afirmaram ter observado uma mudança na forma como a comunidade se relaciona com as crianças pequenas e 43% relataram aumento de atenção em relação a essa faixa etária.

Contato

Site do Nenê: https://www.nelsononene.com.br/ Instagram, TikTok, Facebook, Youtube do Nenê: @nelsononene

Site da FMCSV: https://fundacaomariacecilia.org.br/ Email: nelsononene@fmcsv.org.br

Iniciativa 5: Pé de Infância - caixas de ferramentas temáticas e híbridas

Visão geral

O Pé de Infância, projeto da Allma10, realizado em parceria e financiado pela Fundação Van Leer, é cocriado com especialistas e gestores públicos, no âmbito do programa Urban95. O projeto, concebido em 2021 a partir dos conceitos do Social Behavior Change Communication/SBCC (Comunicação para Mudança de Comportamento Social), utiliza a ciência comportamental para promover mudanças de comportamento na interação entre mães, pais e filhos, considerando a sobrecarga emocional e física de quem cuida, para contribuir a uma cultura favorável ao desenvolvimento integral das crianças pequenas.

Na pesquisa realizada para o desenvolvimento da intervenção do Pé de Infância em 2020, mães e cuidadores compartilharam memórias de suas infâncias e do contexto de cuidado com suas crianças, trazendo relatos de profundos sofrimentos relacionados ao abandono, aos abusos - psicológicos e físicos -, à ausência do pai na criação dos filhos etc. Considerando esses achados, os objetivos específicos do Pé de Infância foram assim definidos: (i) aumentar as interações positivas entre cuidadores e crianças, (ii) diminuir a violência contra a criança, (iii) aumentar o contato de crianças com a natureza, (iv) ampliar a participação paterna no cuidado de crianças.

O Pé de Infância busca transformar a teoria (conhecimento científico) em prática, instrumentalizando e fortalecendo quem cuida de crianças de 0 a 3 anos. Para tanto, trabalha com formação de profissionais e disseminação de conteúdo para as famílias, o que colabora para que o projeto seja institucionalizado pelos municípios.

O piloto do projeto foi implementado em 2021 e 2022 em diferentes secretarias municipais e, desde 2023, o Pé de Infância está sendo implementado em cidades da rede Urban95, por meio das secretarias de educação ou intersetorialmente.

Principais estratégias

O Pé de Infância foi desenhado para funcionar nas seguintes frentes: (i) ciclos de sensibilização de servidores da ponta com cinco horas de atividades, (ii) compartilhamento de conteúdos com as famílias de forma individualizada, (iii) organização de rodas de conversa e (iv) monitoramento e avaliação.

O Pé de Infância disponibiliza caixas de ferramentas que podem melhorar a saúde física e mental das crianças pequenas, a interação entre elas e seus cuidadores, e também fortalecer suas

10Fundada em 2018 por Ana Dugaich, a empresa Allma é um hub de estratégia de comunicação de projetos para impacto social e ambiental.

capacidades socioemocionais. As caixas são desenvolvidas para serem acessíveis, apresentando linguagem simples e ações diversificadas que se alinham às necessidades específicas da comunidade e de gestores, pois é por meio das secretarias dos municípios parceiros que o programa chega às famílias.

O desenho da implementação do Pé de Infância é em efeito cascata (gestor > coordenador > servidor de ponta > famílias) para que se chegue no servidor de carreira e, principalmente, em quem está na ponta, no dia a dia da relação com bebês e crianças para que o projeto seja absorvido e institucionalizado pela equipe perene de cuidado, tornando-se um conteúdo contínuo junto às famílias.

No site estão disponíveis todos os conteúdos utilizados para a implementação do projeto, como: (i) slides que devem ser usados pela equipe Pé de Infância para a apresentação do projeto ao gestor; (ii) slides para o gestor apresentar o projeto para os coordenadores e diretores; (iii) enxoval para preparar o equipamento público para a implementação do projeto (ex.: placa, intervenções com pintura, camisetas, folhetos, mural); (iv) kit de sensibilização (apresentação, vídeos, certificado, cartazes e bottom) para servidores da ponta; (v) kit físico11 para sensibilizar as famílias; e (vi) os 16 conteúdos digitais e impressos destinados às famílias, que contam com dicas de especialistas. São os servidores da ponta que utilizam os materiais destinados às famílias. O projeto também conta com um kit com orientação sobre como realizar rodas presenciais de conversa com as famílias ao final da implementação da caixa de ferramentas.

A precisão das mensagens, a facilidade da implementação e a aderência à rotina não só das famílias, mas, também, dos servidores, são pontos estruturantes para se atingir os objetivos esperados. As estratégias, a periodicidade e os canais de transmissão foram estudados para se adequar a diferentes rotinas.

Atualmente o projeto possui cinco caixas de ferramentas: (i) Cantar, Brincar, Contar Histórias; (ii) Cria na Paz; (iii) BrincAr Livre; (iv) Papai tá Aqui; e (v) Depois da Chuva.

Mobilização e engajamento

O projeto é feito em ciclos construídos com base em evidências, inclusive no que diz respeito ao engajamento das ferramentas digitais. Cada caixa foi desenhada para ser implementada em 10 semanas, sendo a primeira semana dedicada à sensibilização dos servidores da ponta, as oito semanas seguintes ao compartilhamento de conteúdos com as famílias e a última semana para uma roda de conversa com os cuidadores.

A linguagem usual e o carisma dos especialistas nos vídeos, que são apresentados para os servidores da ponta, aumentam o envolvimento, porque esses profissionais se sentem também apoiados e com um maior repertório de abordagens sobre os temas.

Os 16 conteúdos digitais (WhatsApp) e impressos para a agenda escolar dos alunos são dicas simples e acessíveis à realidade das famílias, que a unidade compartilha duas vezes na semana. O formato variado dos conteúdos práticos e curtos, além da constância de envio das mensagens, colaboram com a percepção de apoio e melhora das interações.

11Os kits físicos (imã de geladeira, máscaras e mensagens impressas) são entregues pela unidade às famílias para usarem em sua rotina familiar. Funcionam como gatilhos de opções positivas em momentos-chave.

As dicas visam reconhecer os traumas da infância dos pais e dar-lhes um novo significado. Fortalecem a autoimagem do cuidador como alguém único e essencial, que pode quebrar o ciclo de traumas e construir novas formas de fazer as coisas.

Uso de tecnologias

O Pé de Infância distribui os conteúdos das suas caixas de ferramentas por meio do WhatsApp, pois é um aplicativo que mesmo os cuidadores em situação mais vulnerável no Brasil costumam possuir, considerar prático e não ocupar espaço na memória do celular. Inicialmente as mensagens eram enviadas em grupos, mas depois do retorno do piloto, hoje são enviadas por meio de lista de transmissão.

O hotsite do projeto é muito intuitivo e voltado para o gestor se orientar e implementar de forma autônoma as caixas de ferramentas.

O Pé de Infância usa o Instagram como um repositório, mas não promove trocas com os usuários, nem campanhas. O projeto tem a intenção de explorar esta plataforma no futuro.

Alcance

O Pé de Infância já atingiu diretamente 55.084 famílias e sensibilizou 7.297 servidores em mais de 24 prefeituras municipais, sendo que 19 delas tiveram apoio técnico da Allma, como Benevides (PA), Boa Vista (RR), Canoas (RS), Caruaru (PE), Cascavel (PR), Colinas (RS), Mogi das Cruzes (SP), Sobral (CE), Teresina (PI) e Uruçuca (BA). Os demais municípios implementaram a iniciativa de forma autônoma.

Principais resultados da avaliação

Apesar de não ter sido feita uma avaliação de impacto do Pé de Infância, o projeto tem sido monitorado para garantir o engajamento dos participantes e mudanças de práticas.

Ao longo dos anos foram realizadas pesquisas quantitativas e qualitativas em unidades selecionadas pelos municípios, com aplicação de questionários online para as famílias antes do contato com os materiais do projeto e ao fim de sua implementação.

Nesse sentido, foi realizada uma análise de dados de dois meses de monitoramento de três das caixas de ferramentas, com medições antes e depois, sendo a amostra inicial de 4.903 entrevistas e final de 3.413 cuidadores, via questionários enviados por WhatsApp. Os dados quantitativos foram complementados com dados de 19 entrevistas aprofundadas com cuidadores, educadores e gestores.

Seus principais resultados foram:

Eficácia muito alta: 92,% dos que tiveram contato com a caixa 112 - Cantar, Brincar e Contar Histórias, concordaram totalmente que esta caixa faz cantar, brincar e contar mais histórias com a(s) criança(s); 88% dos que tiveram contato com a caixa 213 - Cria na Paz, concordaram totalmente que esta caixa ajuda o adulto a ficar mais calmo, ter mais paciência e entender melhor a criança quando ela está irritada, nervosa ou desobediente; e 94% dos que tiveram contato com a caixa 314 - Brincar Livre, concordaram totalmente que ela os incentiva a levar mais as crianças para atividades ao ar livre e/ou em contato com elementos da natureza.

Efetividade alta: 71% dos que tiveram contato com a caixa 1, 78%, caixa 2, e 81%, caixa 3, consideram que aprenderam e que colocaram em prática os novos aprendizados.

Principais impactos nos cuidadores: 12% de redução de cuidadores/crianças que nunca cantam, 13% de aumento de cuidadores se afastando da criança para se acalmar quando estão nervosos, e 11% de aumento de cuidadores promovendo a brincadeira com elementos da natureza.

Uma conclusão importante foi de que os comportamentos promovidos pelas três caixas de ferramentas se influenciam mutuamente. Da análise qualitativa, identificou-se como principais mudanças de comportamento: o destrancamento dos sentimentos do próprio cuidador; o ganho de tempo de qualidade com as crianças; a revisão ou validação da forma de criar; o resgate de laços adulto-criança; e a maior capacidade do adulto de se acalmar.

Site: pedeinfancia123.com.br Instagram: pedeinfancia123

12 Cantar, Brincar e Contar Histórias

13 Cria na Paz

14 Brincar Livre

Iniciativa 6: Programa de Parentalidade do Departamento de Pediatria da FMUSP - do presencial para o virtual na atenção às famílias

Visão geral

O programa do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo busca promover a parentalidade positiva de famílias em situação vulnerável. Tem como principais objetivos a redução da mortalidade infantil e o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 3 anos. Trata-se de uma versão do programa Reach Up & Learn, que foi desenvolvido em 1975, na Jamaica, e sua adaptação para outros países foi amplamente validada em avaliações de impacto

A implementação do Programa se dá fundamentalmente pela realização de visitas domiciliares e/ ou condução de grupos presenciais de famílias e cuidadores de crianças pequenas. Parcerias com o poder público são estabelecidas para que profissionais visitadores ou facilitadores de grupos possam repassar os conteúdos para apoiar as famílias na criação de um ambiente mais estimulante para seus filhos, melhorando a interação de qualidade e facilitando a aprendizagem. A duração do programa é de até três anos, tempo considerado suficiente para que a metodologia seja assimilada pelos profissionais participantes. As famílias recebem a intervenção gratuitamente.

No Brasil, o programa teve início em 2013, em São Paulo (SP), com um piloto para validação da adaptação dos conteúdos, dos materiais e da metodologia para o português e para a cultura brasileira. Os principais financiadores do piloto foram a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV) e o Grand Challenges Canada (GCC). A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo foi a parceira implementadora, disponibilizando agentes comunitários de saúde e agentes da comunidade.

A implementação de transição para a escala do programa teve início em 2017, em 39 comunidades em situação de vulnerabilidade em Boa Vista (RR). O projeto, financiado pelo GCC, FMCSV e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), contou com a parceria do setor de Assistência Social da Prefeitura de Boa Vista, via o Programa Família que Acolhe, que disponibilizou os profissionais visitadores do Programa Primeira Infância no SUAS/Criança Feliz do MDS.

Com o advento da pandemia da Covid-19, o programa foi adaptado para atuar remotamente. Em 2020, foram implementadas novas estratégias de interação com os profissionais e com as famílias, via WhatsApp ou chamadas telefônicas, durante todo o período da pandemia.

Em 2021, em um projeto financiado pela Fundação LEGO, um novo piloto foi implementado nos municípios de Tocantínia (TO), Ilha Comprida (SP), Camaçari (BA), Una (BA), Oriximiná (PA), Jacareacanga (PA), Água Branca (AL), Jordão (AC) e Petrópolis (RJ). Em 2024, com o financiamento, o programa passou a ser implementado em 11 municípios de oito estados brasileiros para ser testado e incorporado na metodologia do Programa Primeira Infância no SUAS/Criança Feliz. O foco desta última versão do programa é a melhoria da qualidade das visitas domiciliares e a adaptação da metodologia para comunidades tradicionais.

Até 2021, a principal diferença do programa no Brasil foi a ampliação da intervenção para famílias grávidas, o que implicou numa ampliação temática importante em relação ao currículo original. A partir de 2021, novas adaptações foram feitas, como: (i) a maior flexibilidade do currículo de atividades propostas para as famílias, considerando diferentes contextos; (ii) a redução do volume de materiais impressos e eliminação do kit brinquedos entregues às famílias (construção de brinquedos a partir do que está disponível passou a ser uma ferramenta de trabalho); e (iii) a realização de grupos presenciais de famílias nos equipamentos públicos. Também, em 2021, foi desenvolvido um aplicativo móvel específico para apoiar os profissionais no planejamento e registro de suas atividades com as famílias.

Principais estratégias

Formação de profissionais

A formação dos profissionais é realizada de forma presencial ou remota síncrona, em cinco dias, com carga horária total de 40 horas, modelo é utilizado para formação de multiplicadores e equipe de referência do programa. Um módulo adicional de oito horas foi desenvolvido para capacitação dos supervisores, também presencial ou online síncrona.

Disponibilização de conteúdo

Os principais conteúdos produzidos e disseminados são: capacitação das equipes, manual do supervisor, guia de visitas domiciliares e compêndio de atividades. O uso do material é adaptável a cada contexto. Nesse sentido, o profissional tem um cardápio de atividades e pode escolher a que melhor se adapta para aquela visita, aquela família ou para aquele grupo.

Visitas domiciliares e/ou grupos de famílias nos equipamentos públicos

As visitas domiciliares do programa duram aproximadamente 45 minutos e têm uma periodicidade quinzenal. As sessões em grupo acontecem nas unidades de assistência social ou de saúde e duram cerca de uma hora e 20 minutos. Elas podem ser semanais ou quinzenais e, em média, contam com oito duplas de mãe/filho.

Desde 2020, o programa foi adaptado para sessões individuais ou coletivas por WhatsApp ou telefone caso a atividade presencial seja inviabilizada. A dosagem da entrega remota pode ser customizada. Em Boa Vista, as famílias foram contatadas usando chamadas de vídeo quinzenais e mensagens semanais do WhatsApp.

Disponibilização de aplicativo para planejamento e registro das visitas e grupos com famílias

A partir da data de nascimento e da criação de perfis personalizados para cada criança, o aplicativo desenvolvido pelo programa sugere quais atividades são compatíveis com cada faixa etária, sempre dentro de um cardápio de possibilidades. O visitador ou facilitador de grupo faz todo o seu planejamento e registro das atividades, dentro do aplicativo, o que facilita o acompanhamento das famílias, a customização do atendimento e o monitoramento das ações dos profissionais envolvidos. O aplicativo conta também com um passo a passo para a realização das visitas, com estratégias para atendimento das famílias com equidade, bem como com estratégias para atendimento de famílias com crianças que apresentem atrasos no desenvolvimento.

Mobilização e engajamento

Primeiramente destaca-se que a completa adaptação cultural de todos os conteúdos e materiais para o contexto brasileiro foi realizada antes do início da implementação do programa no país. Por se tratar de um material que foi desenvolvido inicialmente na Jamaica, essa adaptação era condição necessária para a adesão e para o engajamento tanto das famílias como dos profissionais envolvidos.

A iniciativa também contribui para o engajamento, com uma metodologia que valoriza a escuta, que apoia, motiva e elogia as famílias, apresentando atividades simples e concretas que podem ser realizadas de imediato com as crianças.

A atuação com o público-foco acontece por meio do contato individual ou em grupo, presencial ou virtual, com frequência quinzenal ou semanal a depender do contexto de implementação do programa, sendo também avaliada a forma de promover o engajamento.

Por fim, destaca-se o envio de mensagens curtas aos cuidadores com frequência semanal, mantendo uma constância na interação.

Uso de tecnologias

Apesar de não ter sido inicialmente desenvolvido com o apoio da tecnologia, atualmente o programa conta com a possibilidade de atendimento virtual por WhatsApp, telefone ou Facetime.

Além disso, o aplicativo móvel “Mosaico do Brincar” criado para facilitar o planejamento, registro e acompanhamento das visitas, é hoje um facilitador importante para os profissionais que implementam o programa.

Alcance

O programa piloto, realizado em São Paulo (2013 e 2016), beneficiou 826 crianças e 826 famílias. Na fase de transição para a escala (2020 a 2022), a implementação se deu em Boa Vista (RR), impactando 4.300 crianças e suas famílias. Na etapa da transição para o nível federal (2021 e 2022), a iniciativa chegou a 2 mil crianças e suas famílias.

Principais resultados

O Programa tem sido constantemente avaliado desde o seu início, em 2014. As avaliações têm mostrado impactos positivos tanto no que se refere à implementação da versão presencial, como da virtual. Nem todos os resultados podem ser divulgados nesse momento, pois ainda estão em processo de publicação em revistas científicas. Vale, no entanto, destacar alguns dados já compartilhados.

No estudo de Smith et al (2018), sobre a aceitabilidade, adequação e viabilidade do “Reach Up” no Brasil e no Zimbabwe, foi constatado que as mães aumentaram sua confiança como cuidadoras, sentiram que tiveram apoio para ajudar seus filhos a se desenvolverem,, por exemplo, melhorando a prontidão das crianças para a escola. Os supervisores e visitantes domiciliares consideraram os materiais do “Reach Up” (manual de treinamento, currículo etc.) eficazes para capacitá-los a realizar a intervenção.

No que se refere ao impacto nas crianças, na avaliação randomizada sobre a implementação do programa em São Paulo, o principal resultado foi o desenvolvimento cognitivo após 12 meses de intervenção. A análise por protocolo, com agentes da comunidade, resultou em um aumento de desvio padrão de 0,22 no desenvolvimento das crianças (Brentani, et al, 2021).

Uma avaliação randomizada sobre oferta remota da metodologia “Reach Up” (Smith, 2023), realizada na Jamaica e com entrevistas qualitativas no Brasil (Boa Vista/RR) e no Equador, apontou impacto positivo do programa também nessa modalidade. No total, 247 participantes foram avaliados (controle n = 130; intervenção n = 117). As famílias se adaptaram à modalidade e se beneficiaram do compartilhamento de informações.

Contato

Email: alexandra@usp.br

Iniciativa 7: Triagem e Estimulação do Desenvolvimento Infantil (TEDI) - aplicativo para apoio à conduta de profissionais

Visão geral

O TEDI (Triagem e Estimulação do Desenvolvimento Infantil) é uma ferramenta desenvolvida por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com financiamento da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV), para auxiliar os profissionais de saúde, de educação e outros que tenham contato com famílias com crianças de um a 65 meses, na triagem, na interpretação, na tomada de decisões relativas a alterações de desenvolvimento e comportamento e na orientação para o estímulo do desenvolvimento infantil. As criadoras do TEDI entendem que para a maior parte da população a Caderneta da Criança é suficiente para acompanhar o desenvolvimento infantil. Contudo, nos casos com suspeita de atraso no desenvolvimento e alterações de comportamento, elas identificaram uma escassez de ferramentas de triagem padronizadas, validadas internacionalmente e adaptadas para o Brasil, o que leva a prejuízos importantes para a identificação de crianças em risco e à demora para acessar intervenções em tempo oportuno.

Então, desde 2014 foi iniciada uma adaptação transcultural do Survey of Well-being of Young Children (SWYC)15, um questionário norte-americano que serve para triar alterações de comportamento e de desenvolvimento em crianças de um a 65 meses de idade. Os anos seguintes foram dedicados ao estudo das propriedades psicométricas iniciais do SWYC-BR, como consistência interna, validade de construto e convergente, seguido de testes de validade. Em 2020 foi realizado o estudo normativo para estabelecer os pontos de corte para interpretar os resultados do questionário Marcos do Desenvolvimento para Crianças Brasileiras (um dos questionários incluídos no TEDI).

Finalmente, a partir de 2021, iniciou-se a criação de dois aplicativos para dispositivos móveis baseados nos formulários SWYC-BR. Em 2022 foi realizado um teste de campo16 do aplicativo pela UFMG com apoio da FMCSV e em parceria com o Ministério da Saúde e gestores de seis municípios brasileiros17, que validou a viabilidade de implementação do TEDI em larga escala, na rotina das equipes na atenção primária à saúde, em diferentes contextos assistenciais, demográficos e econômicos. O teste se deu por meio de um curso online para profissionais de saúde com curso superior18, que eram potenciais multiplicadores do conteúdo para implementação do TEDI. O curso totalizou 15 horas de duração, sendo que cada turma, uma por município, teve cerca de quatro meses de atividades teóricas e práticas. O curso foi avaliado pelos alunos e também houve uma avaliação dos cuidadores sobre o TEDI.

15 O SWYC é um instrumento de acesso livre, que foi adaptado culturalmente em 2016 e tem evidências de validade para o uso no Brasil. É composto pelos questionários Marcos do Desenvolvimento (MD-SWYC), Observação dos Pais sobre a Interação Social (POSI), Lista de Sintomas do Bebê (BPSC), Lista de Sintomas Pediátricos (PPSC) e Perguntas sobre a Família, todos incluídos no TEDI.

16 O curso de formação de multilpicadores do TEDI foi uma cocriação de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal de Uberlândia.

17 Campo Grande (MS), Castanhal (PA), Tanhaçu (BA), Juatuba (MG), Brumadinho (MG) e Porto Alegre (RS).

18 Foram indicados para o curso 153 profissionais. Destes, 131 confirmaram participação e 90 atenderam aos critérios para certificação como multiplicadores do curso (59%).

Depois de testadas mais de 40 versões do aplicativo, ele foi validado e disponibilizado para o público, em 2022, gratuitamente nas lojas Apple Store e Google Play Store e também na versão web, em duas modalidades: TEDI Pro (iOS e Android) e TEDI (iOS e Android). Trata-se de um aplicativo intuitivo, que não demanda uma formação específica para sua utilização.

A disseminação do TEDI até o momento aconteceu somente por meio do curso de validação do aplicativo, em apresentações em eventos científicos e nas redes sociais.

Principais estratégias

O TEDI é composto por seis materiais autoinstrucionais: TEDI Pro, TEDI, vídeos tutoriais, vídeos de estímulos, vídeoaulas e um e-book.

TEDI Pro

Voltado para profissionais de saúde de nível superior, no contexto da Atenção Primária. Integra dados da Caderneta de Saúde da Criança e dos questionários do SWYC, visando ofertar uma avaliação integral do desenvolvimento da criança. Além disso, disponibiliza um guia para tomada de decisão e condutas clínicas de acordo com os resultados da avaliação, oferecendo vídeos com orientações para os cuidadores sobre estímulos adequados em cada faixa etária.

TEDI

Esta versão foi desenvolvida com o objetivo de auxiliar educadores e outros profissionais no acompanhamento do desenvolvimento de crianças de um a 65 meses. Assim como o TEDI Pro, apresenta todos os questionários do SWYC e fornece guia para tomada de decisões, além de vídeos para estimular o desenvolvimento em cada faixa etária. No TEDI, as condutas se baseiam em orientações de quando a família deve procurar os serviços de saúde, em caso de possíveis alterações de desenvolvimento e comportamento das crianças.

Vídeos tutoriais

Foram criados vídeos com explicações sobre o uso dos aplicativos TEDI e do TEDI Pro Os tutoriais trazem um passo a passo para cadastro das crianças, o uso do SWYC e do guia de tomada de decisões. Estão disponíveis nos aplicativos e no site.

Vídeos de estímulos

O objetivo dos vídeos de estímulos, disponíveis nos aplicativos e no YouTube, é compartilhar orientações com as famílias. Nesses vídeos, foram consideradas as principais características das crianças em cada momento do desenvolvimento, prevenção de acidentes e estímulos orientados pelas habilidades parentais (afetividade, responsividade, encorajamento e estimulação cognitiva) importantes para promover o desenvolvimento infantil. Também foram produzidos três vídeos temáticos, abordando cuidados responsivos, uso de telas por crianças e desafios para lidar com o comportamento delas.

Vídeoaulas

Foram preparadas duas videoaulas para o curso de formação de multiplicadores, que estão disponíveis no website do TEDI. A primeira aborda conceitos sobre o desenvolvimento infantil e o uso da Caderneta da Criança, como instrumento de vigilância desse desenvolvimento. A segunda apresenta o SWYC e como esse instrumento foi incorporado nos aplicativos TEDI.

E-book

O ebook contém informações sobre o SWYC, fundamentação teórica, criação e validação do TEDI Pro, aspectos legais e éticos do uso dos aplicativos e o passo a passo para sua utilização na prática.

Mobilização e engajamento

As estratégias de mobilização e engajamento do TEDI ainda não foram definidas. A equipe pretende criar um canal de interação com o público no YouTube, além do canal Explicatricks. Há um estudo sendo conduzido na UFMG para avaliar a viabilidade de um programa de educação parental remoto estruturado a partir dos vídeos de estímulos do TEDI

Uso de tecnologias

A proposta de implementação do TEDI é integralmente digital, por meio dos aplicativos. Ambos estão disponíveis em versões gratuitas tanto para Iphone como para Android e também na versão web.

O curso do teste de campo foi realizado na plataforma Moodle, as reuniões aconteceram no Microsoft Teams e os profissionais receberam suporte das especialistas por meio de grupos de Whatsapp.

Alcance

O TEDI Pro possui 1.653 usuários (profissionais de saúde com educação superior) distribuídos em 25 estados (apenas no Tocantins e no Acre não há usuários do App), que realizaram 3.415 avaliações de crianças de dois a 65 meses de idade. Destes, no teste de campo, 90 profissionais completaram o treinamento e foram feitas 1.373 avaliações de crianças menores de cinco anos.

O TEDI possui 682 usuários, em 22 estados, com 892 avaliações realizadas. Os dados mostram que os downloads dos aplicativos apresentam curvas ascendentes.

Principais resultados

Não foi feita uma avaliação de impacto do TEDI, mas houve uma avaliação detalhada do curso de formação de multiplicadores (teste de campo).

De modo geral, a experiência dos profissionais com o aplicativo foi positiva e sugere que o uso do TEDI Pro pode ajudar a qualificar e facilitar a prática assistencial. Os profissionais se sentiram seguros em utilizar o SWYC no formato eletrônico e com as condutas sugeridas pelo aplicativo.

Em Porto Alegre (RS), um dos municípios participantes do teste de campo, desde 2023, foram iniciadas ações para formação dos profissionais da rede municipal e para organização do fluxo assistencial às crianças com atraso de desenvolvimento, motivadas pela participação no Projeto TEDI. Cerca de 1.100 profissionais da atenção primária passaram por uma capacitação de oito horas com foco no uso da Caderneta da Criança para vigilância do desenvolvimento e dos vídeos de estímulos do TEDI para orientação das famílias, além do fornecimento de um kit de materiais para os profissionais nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Embora o aplicativo seja autoinstrucional, para incorporá-lo ao SUS de forma sistemática é importante ressaltar o papel dos gestores municipais para a sensibilização e o comprometimento dos profissionais com o processo formativo e com a implementação de inovações na prática clínica. É importante também que o processo de formação seja assumido pela gestão municipal, visando não apenas a oficialização do uso do TEDI Pro na atenção à criança do município, mas, também, a organização do fluxo assistencial para os casos com suspeita de atraso no desenvolvimento.

Contato

Site: https://tedi.medicina.ufmg.br/#contact

E-mail: tedi@medicina.ufmg.br

PARTE II

PRINCIPAIS APRENDIZADOS

COM O USO DA TECNOLOGIA

Principais desafios e soluções para a adesão e o engajamento

Esta seção resume os principais desafios e possíveis soluções identificados durante o workshop.

As discussões destacaram que os principais desafios estavam relacionados ao desenho e a implementação, especialmente no que diz respeito ao acesso e uso das ferramentas digitais, além das questões relacionadas ao monitoramento. Em particular, dois pontos críticos foram identificados: a adesão inicial das famílias e a manutenção do engajamento, desafios recorrentes em programas digitais. As barreiras mais frequentes, semelhantes às de outras iniciativas que buscam utilizar a tecnologia, incluem o acesso limitado à tecnologia, resistência ao uso de novas ferramentas, dificuldades na comunicação digital em manter o interesse das famílias ao longo do tempo. Em resposta a esses desafios, foram compartilhadas soluções práticas para fortalecer o engajamento, adaptando as estratégias digitais à realidade das famílias atendidas.

A adoção de tecnologia para fortalecer ações de parentalidade no Brasil tem mostrado ser uma estratégia promissora para expandir o alcance das iniciativas e apoiar as famílias. No entanto, desafios estruturais e contextuais continuam a impactar a implementação e a escalabilidade dessas soluções. A Tabela 2 apresenta os principais desafios e soluções discutidos, destacando os fatores que influenciam o engajamento digital das famílias e as estratégias para superá-los. Esses desafios impactam diretamente a eficácia das intervenções, tornando fundamental adotar estratégias integradas que combinem tecnologia e suporte presencial, garantindo maior adesão e impacto positivo.

Categoria Tipo de desafio

- Baixo letramento digital das famílias, baixa escolaridade.

- Conteúdos simples, em formatos variados (Vídeos, áudios curtos, textos simplificados e jogos), com linguagem adaptada ao público.

- Adaptação de atividades e conteúdos ao contexto das família.

- Uso de elementos que se conectem emocionalmente com as famílias, como materiais físicos (exemplo: pano de prato escrito ‘Hoje a louça é do papai’ ou babador com ‘Tenha paciência comigo’).

Tabela 2- Desafios e soluções discutidas no Evento

- Limitações de acesso à internet.

- Complementação com abordagens analógicas, como materiais impressos que reforcem as mensagens digitais.

- Priorização de conteúdos que possam ser baixados e acessados offline para reduzir a dependência da conexão no momento do uso.

- Desenvolvimento de soluções que funcionem mesmo em conexões mais lentas, minimizando o uso de streaming contínuo e priorizando carregamento progressivo.

- Uso de aplicativos leves e já instalados nos celular (ex, WhatsApp).

- Aplicativos demandam muita memória do celular.

- Impessoalidade.

- Baixa efetividade de mensagens SMS.

- Resistência ao uso de novas tecnologias e aplicativos específicos.

- Conteúdos otimizados (Arquivos menores e links para download posterior).

- Uso da Inteligência Artificial para automatizar mensagens personalizadas conforme o engajamento da família.

- A comunicação com robôs pode ser desmotivante e gerar desconexão.

- Aproveitamento de aplicativos populares.

- Uso de canais confiáveis: Comunicação por números, e-mails e sites reconhecidos.

- Conhecimento aprofundado sobre o público atendido para compreender suas necessidades.

- Interação personalizada (Uso do nome do cuidador para gerar proximidade).

- Espaços de escuta e troca: (Criar canais para interação entre usuários).

Categoria Tipo de desafio Desafio Soluções Desenho
Categoria Tipo de desafio

Implementação

Adesão e engajamento

- Mudanças frequentes de números de telefone.

- Constantes mudanças tecnológicas e nas preferências de uso.

- Atualização frequente dos contatos durante as sessões presenciais.

- Uso de aplicativos familiares.

- Sensibilização presencial (estimular a adesão por meio de oficinas ou visitas domiciliares).

- Engajar celebridades ou figuras conhecidas para ampliar a adesão.

- Dificuldade em captar e manter o interesse do usuário ao longo do tempo, devido a fatores como carga mental elevada das famílias e falta de interação presencial.

- Microlearning (Mensagens curtas e diretas).

- Uso da ciência do comportamento (Personalização das mensagens, incentivos e recompensas).

- Mediação de grupos online (Inserção de moderadores para responder dúvidas, estimular a interação, e dar suporte às famílias, especialmente no contexto da maternidade.).

- Revisar formas de contratação para reduzir custos.

- Combinar com outras alternativas.

- Alto custo do WhatsApp para envio de conteúdo dificulta a frequência e quantidade de mensagens necessárias para o engajamento.

- Dificuldade em coletar dados de monitoramento sobre uso e engajamento.

- Investimento contínuo em pesquisa e tecnologia para identificar estratégias mais acessíveis e sustentáveis, reduzindo custos sem comprometer a efetividade do programa.

- Incluir a coleta de dados de monitoramento nos contratos.

- Incorporar o uso de API para gerar informações de monitoramento.

- Utilização de formas criativas de monitoramento, como o uso de hashtags e links rastreáveis para acompanhar interações e engajamento.

Monitoramento e Escalabilidade

Escalabilidade

- Dificuldade para expandir e manter a qualidade.

- Utilizar estruturas existentes do programas.

- Flexibilizar e adaptar.

Práticas Recomendadas com base nas soluções discutidas

Com base nas discussões e nos aprendizados compartilhados, diversas práticas eficazes para o uso da tecnologia foram destacadas nas fases de desenho, implementação, monitoramento e escalabilidade dos programas de parentalidade voltados para a primeira infância. Essas práticas enfatizam a importância de alinhar a tecnologia e a metodologia às necessidades locais, promovendo soluções acessíveis, adaptáveis e colaborativas, com o objetivo de garantir a eficácia e sustentabilidade das intervenções.

Desenho: Adaptação Contínua e Personalização

O desenho de programas de parentalidade deve considerar as necessidades e realidades das famílias atendidas, garantindo uma adaptação contínua das tecnologias. Para isso, estratégias como pesquisa aprofundada prévia à implementação foram destacadas como fundamentais para entender as necessidades específicas das famílias e criar soluções alinhadas aos seus contextos. A escuta ativa dos beneficiários e intermediários também foi apontada como essencial, permitindo que os programas sejam ajustados com base no feedback sobre aspectos como frequência, horários de envio e a adequação cultural (expressões, sotaques e linguagens) dos conteúdos.

A estratégia de “fazer com e não para” foi destacada, visando uma abordagem colaborativa, onde as famílias e os agentes das políticas públicas são envolvidos na cocriação do produto. Isso fortalece o engajamento e garante que as intervenções sejam mais eficazes e relevantes. Adicionalmente, a flexibilidade metodológica e a adaptação das ferramentas digitais são essenciais para atender a diferentes perfis familiares, com soluções práticas e econômicas, como o uso de materiais não estruturados do cotidiano.

Além disso, foi sugerido o uso de inteligência artificial (IA) e machine learning para personalizar conteúdos e interações com base nas preferências das famílias, permitindo uma abordagem mais direcionada e eficiente. A adaptação estratégica frente às mudanças tecnológicas também foi destacada como fundamental para garantir que os programas permaneçam atualizados e eficazes.

Na fase de implementação, a capacitação contínua dos facilitadores foi identificada como uma estratégia essencial para garantir a qualidade da execução. A utilização de treinamentos online flexíveis, que permitem aos profissionais se atualizarem conforme as necessidades dos programas e a rotatividade da equipe, é uma prática recomendada. Além disso, foi enfatizado o uso de ciclos rápidos de aprendizagem, que permitem testar e ajustar rapidamente as abordagens e estratégias, tornando o processo mais dinâmico e eficaz.

Outro ponto importante foi o engajamento das famílias, identificado como um dos maiores desafios. A adaptação das tecnologias às particularidades das famílias, como a utilização de materiais não estruturados e a adoção de tecnologias simples (como mensagens de texto e rádio), mostrou-se eficaz para alcançar populações com baixa conectividade (Van Leer Foundation, 2020; Rubio-Codina, 2022). Para garantir que o engajamento seja mantido, foi proposta a implementação de canais de feedback contínuos, onde as famílias possam expressar suas opiniões e sugestões, ajudando na personalização do conteúdo e na ajuste das estratégias.

Monitoramento: Coleta de Dados e Feedback Contínuo

O monitoramento de resultados foi considerado um elemento transversal em todas as fases do programa, sendo essencial para garantir que as intervenções estejam sendo implementadas conforme o planejado e que possam ser ajustadas conforme necessário. Foi discutido o uso da tecnologia como ferramenta de adaptação rápida, permitindo que as intervenções sejam ajustadas em tempo real com base no feedback dos usuários.

Além disso, a análise de dados das plataformas foi destacada como uma estratégia crucial para coletar informações sobre o uso das ferramentas e a interação das famílias com os conteúdos. A inteligência artificial também foi mencionada como uma maneira eficaz de monitorar o uso dos aplicativos, facilitando a interação e o engajamento de famílias e profissionais. A integração de métodos quantitativos e qualitativos no processo de monitoramento foi vista como fundamental para entender melhor os resultados alcançados, os desafios enfrentados e as oportunidades para aprimorar as intervenções.

O uso de ferramentas de monitoramento, como hashtag e links rastreáveis, também foi sugerido para facilitar o acompanhamento da interação nas campanhas específicas, além de monitorar a adesão ao programa, verificando se os beneficiários estão acessando as mensagens e conteúdos (Baumel et al., 2018). Isso permite ajustes rápidos nas estratégias e garante que o programa permaneça alinhado às necessidades dos beneficiários.

Escalabilidade: Sustentabilidade e Integração com Programas Existentes

Finalmente, a escalabilidade dos programas digitais foi discutida com foco na sustentabilidade financeira e na integração com programas existentes. Estratégias como a redução de custos operacionais por meio do uso de plataformas digitais e modelos híbridos e remotos foram mencionadas como fundamentais para permitir que mais famílias sejam atendidas sem a necessidade de infraestrutura adicional (Rubio-Codina et al., 2022). A integração com programas já existentes ajuda a evitar sobrecarga de recursos e facilita a adesão por parte dos beneficiários, tornando o processo mais fluido.

Além disso, a escolha estratégica da tecnologia foi destacada como um aspecto crítico para garantir que as ferramentas escolhidas sejam não apenas eficazes, mas também sustentáveis a longo prazo, tanto em termos financeiros quanto de adaptação às novas demandas.

Mensagens Chave

As principais diretrizes a seguir foram extraídas das discussões realizadas no workshop e da revisão da literatura sobre o desenho, implementação e monitoramento de programas de parentalidade. Elas destacam a importância da adaptação às necessidades dos usuários finais — sejam famílias ou profissionais —, do engajamento contínuo e da integração eficiente dos programas às plataformas existentes.

1. Adaptar o design do programa às necessidades dos beneficiários – Garantir uma experiência de aprendizado intuitiva, utilizando tecnologias familiares e personalizando o conteúdo conforme o contexto cultural, linguístico e as necessidades específicas dos participantes. Sempre que possível, explorar novas soluções digitais, como o uso de inteligência artificial, e avaliar sua eficácia, reconhecendo que ainda há poucos registros sobre seus impactos em programas de parentalidade.

2. Fortalecer a interação presencial – Utilizar a tecnologia como complemento para aprimorar o contato humano, facilitando o acompanhamento e fortalecendo a conexão entre famílias e facilitadores, bem como entre famílias e crianças. Atividades presenciais complementares são essenciais para construir vínculos e sustentar mudanças comportamentais.

3. Planejar estratégias para maximizar a adesão e o engajamento – Desenvolver abordagens que incentivem tanto a participação inicial quanto a permanência no programa, utilizando dados de monitoramento para ajustar estratégias de forma contínua e responsiva.

4. Coletar feedback e avaliar impactos em cuidadores e crianças – Monitorar a adoção do programa, as mudanças nas práticas parentais e os resultados no desenvolvimento infantil. Ajustes baseados em evidências devem ser realizados para aprofundar o entendimento sobre os diferentes contextos familiares. Os dados de monitoramento também devem orientar a adaptação do conteúdo, da duração e da dosagem das intervenções, ampliando o impacto e garantindo um engajamento mais duradouro.

5. Integrar o programa a plataformas existentes para garantir escalabilidade e sustentabilidade – Aproveitar infraestruturas já estabelecidas nos setores de saúde, educação e assistência social pode facilitar a implementação em larga escala e garantir a continuidade do programa. É fundamental pensar em estratégias de difusão do conteúdo por múltiplos canais e com a participação de diversos atores.

Essas recomendações reforçam a necessidade de equilibrar tecnologia e interação humana, além de evidenciar o papel essencial do monitoramento contínuo e da adaptação às realidades locais para o sucesso dos programas de parentalidade.

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USO DE TECNOLOGIAS PARA PROMOÇÃO DA PARENTALIDADE

POSITIVA E DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL NO BRASIL:

SÍNTESE DO ENCONTRO TÉCNICO

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