Livro ibope interativo final

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CRECHE E DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

No grupo de especialistas convidados a debater os resultados da pesquisa, a pergunta sobre a idade ideal para ingressar na creche suscitou respostas em múltiplas direções. “Tudo depende do contexto em que a criança está. Se vive em situação de vulnerabili­ dade na casa dela, a creche vai fazer uma diferença muito maior”, avalia a gestora pública Cleuza Rodrigues Repulho. “Por outro lado, se a criança está bem em casa, com uma fa­ mília, em local de vulnerabilidade, mas com carinho e atenção, e se desenvolvendo bem, pode-se colocá-la na creche depois de 1 ano ou 1 ano e meio de idade”, complementa. Conforme lembra Claudia Costin, oferecer creche para todas as crianças, cujos pais apresentam demanda por este serviço, é obrigação do Estado. Do ponto de vista do gestor que olha para a política pública, no entanto, a especialista também desaconselha a creche para crianças de 0 a 1 ano, salvo em casos de muita necessidade. “A maioria das redes não consegue ter o número de adultos qualificados para o atendi­ mento necessário de bebês na faixa etária de 0 a 1. Além disso, é preciso uma estrutura e uma logística muito mais complexas para atender a esse público”, ressalta. Para Anna Maria Chiesa, o impacto da creche pode ser claramente percebido em crianças a partir dos 2 anos. “Nessa idade, as questões da linguagem, da troca, da convi­ vência com os brinquedos, do trabalho com o imaginário e com outras crianças trazem benefícios claros. A criança que não vai à creche perde a oportunidade de vivenciar esse ambiente com os espaços estruturados e a convivência com outras crianças”, observa. Para Zilma de Moraes Ramos de Oliveira, a defesa deve ser a de boas creches para o máximo de crianças possível. “É difícil afirmar a partir de que idade a criança deve começar a frequentar a creche. Para a criança mais velha, a riqueza de experiências é inquestionável, mas tenho certeza de que para a criança de 0 a 1 uma boa creche também faz bem”, reflete a pedagoga. Vital Didonet considera que há diferentes respostas, dependendo a quem a pergunta sobre a idade ideal para a entrada na creche se orienta. Se a pergunta parte do ponto de vista da família ou da mãe trabalhadora, será uma resposta. Uma mãe com carteira assina­ da e licença-maternidade, por exemplo, pode ficar quatro ou seis meses com o bebê, diz ele. Depois disso, talvez precise levá-lo para a creche. Por outro lado, se a pergunta busca valorizar as condições de aprendizagem da criança, a partir dos 2 anos, sem dúvida, ela se beneficia indo para a creche, prossegue Didonet. E, a depender do contexto de cada um, essa idade pode ser antecipada. “O Marco Legal da Primeira Infância coloca como primeiro princípio das políticas públi­ cas o interesse superior da criança. Pode ser que o interesse superior da criança seja ficar em casa, por conta do vínculo afetivo, da interação com o irmãozinho, da família extensa, ou seja, por todas essas relações sociais que criam na criança uma sensação de perten­ cimento a uma rede de proteção familiar. Na falta desse ambiente adequado, o interesse superior da criança é construir isso – não substituir –, as suas relações com outros sujeitos a partir de quando for necessário”, afirma Didonet.

Recomendações para o gestor Conhecimento e valorização da família – Saber os fundamentos do desenvolvimento da criança de 0 a 3 anos é precioso na hora de definir políticas voltadas as suas diferentes necessidades. Conhecer a realidade das famílias para propor políticas mais efetivas também Interdisciplinaridade/intersetorialidade – A criança é um ser íntegro, não fragmentado, que precisa ser cuidado em sua totalidade. As áreas da assistência social, saúde e educação devem trabalhar juntas Diferentes papéis, mesma intencionalidade – É importante que família e creche compreendam os papéis distintos e complementares que ocupam na vida da criança pequena e que somem esforços em nome do seu melhor interesse. A articulação e troca de informações entre as partes é essencial e as políticas públicas devem favorecer essa aproximação, inclusive com programas de formação de professores Medidas para o empoderamento – As famílias precisam ser alvo de políticas públicas para se sentirem fortalecidas em sua capacidade de criar seus filhos. Com medidas simples, as creches podem colaborar diretamente para isso: incentivando mães a contarem histórias para seus filhos e pais a produzirem arte com as crianças, para citar alguns exemplos Portas abertas – A família pode participar de ações diversas dentro da creche, que pode abrir em horários alternativos para reunir os adultos responsáveis – pais, mães, avós etc. –, ouvi-los e convidá-los a participar de atividades internas Realização de campanhas – A ampla divulgação sobre a função da creche, o papel da família e a atenção que requer a criança pequena ajuda a promover a infância no município. Materiais que já existem, como a Caderneta de Saúde da Criança, podem ser o ponto de partida e inspirar a produção de filmes, cartazes, folhetos e outras peças de comunicação para sensibilizar diferentes classes sociais


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