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COOPERAR

É verdade que continuo a sonhar em dar a volta ao continente africano num jipe, com a minha mulher e alguns amigos. de então e os atuais. Só que agora são em maior número e, por isso, não é possível manter a mesma proximidade e o acompanhamento que tínhamos há 40 anos atrás. Os candidatos a engenheiros sempre foram muito bons em Portugal e são muito “cobiçados” no estrangeiro, onde sempre fazem boa figura quando participam em ações no âmbito de iniciativas como o programa Erasmus, ou concorrem a lugares em empresas ou instituições de investigação. Além da carreira académica, desenvolveu também uma intensa atividade no INEGI, onde esteve 12 anos. Era a oportunidade perfeita para se dedicar à investigação? Quando regressei de Inglaterra em 1977, as condições para realizar trabalhos de investigação em engenharia mecânica não eram as melhores em Portugal. Juntamente com outros colegas também regressados nessa altura do estrangeiro, lançámos o primeiro curso de mestrado em engenharia estrutural na FEUP e em Portugal. Começamos a montar os primeiros laboratórios de investigação, como o LOME (Laboratório de Ótica Aplicada e Mecânica Experimental) na FEUP e ensaiamos as primeiras ações de aproximação à indústria, muitas vezes oferecendo serviços a custo zero, para convencer os empresários de que, como universitários, poderíamos também desempenhar um papel importante no desenvolvimento das suas empresas e da economia nacional. De forma a agilizar a ligação às empresas, participámos na criação do INEGI em 1986, sem quaisquer tipos de investimentos que não fossem a vontade e a disponibilidade de um grupo de docentes do DEMec para desenvolver atividades de investigação e de apoio à Indústria. Durante quatro anos funcionámos numa sala do edifício Parcauto da rua dos Bragas, com apenas dois ou três funcionários administrativos. Em 1989, já então Presidente do INEGI, surgiu a abertura ao Programa PEDIP, ao qual apresentamos um projeto ambicioso para a capacitação do Instituto em termos de infraestruturas, recursos humanos e equipamentos. A candidatura foi contemplada com um financiamento avultado, o que permitiu um aumento enorme da capacidade de intervenção do INEGI. Ao longo de toda a minha carreira universitária, mais do que a preocupação de publicar muitos artigos em revistas internacionais e contar as respetivas citações, procurei criar condições de trabalho que permitissem aos mais novos

ENGENHARIA 55 FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

NOTA BIOGRÁFICA Licenciado em Engenharia Mecânica pela Faculdade de Engenharia da U.Porto em 1971, Joaquim Silva Gomes seguiu para a Universidade de Manchester, no Reino Unido, onde fez o mestrado e o doutoramento. Professor Catedrático desde 1988, os seus interesses no ensino e na investigação foram principalmente nas áreas de Mecânica Experimental e Mecânica dos Sólidos. Esteve envolvido na criação do INEGI em 1986, tendo sido presidente do instituto durante 12 anos. Foi membro da direção da FEUP entre 1984 e 1989 e diretor do Departamento de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial da FEUP de 1999 a 2002. Foi o representante de Portugal no European Permanent Committee for Experimental Mechanics (EPCEM), entre 1986 e 2007, e Presidente do mesmo entre 1992 e 1994. Também foi Delegado Nacional ao 6º e 7º Programas Quadro da União Europeia, nas áreas dos transportes e aeronáutica. É atualmente presidente da EpDAH-Engenharia para o Desenvolvimento e Assistência Humanitária (ONGD), presidente da APAET-Associação Portuguesa de Mecânica Experimental, auditor da A3ES-Agência para a Avaliação e Certificação do Ensino Superior e auditor do Ministério da Defesa Nacional para avaliação e acompanhamento de projetos de investigação.

aceder a essa possibilidade de publicação e participação em projetos nacionais e internacionais, designadamente no âmbito dos Programas Quadro da Comissão Europeia. Se tivesse que nomear um ou dois projetos no INEGI que mais o tenham orgulhado, qual nomearia? E porquê? Cada projeto tem a sua especificidade, e gostei de todos aqueles que promovi ou estive envolvido ao longo de toda a minha carreira universitária. Talvez por ter sido o primeiro projeto, logo a seguir ao meu doutoramento, no início da década de 80, recordo com um sentimento muito particular o projeto UNIPOR, que desenvolvi em colaboração com o meu querido amigo Professor Abel Trigo Cabral, da


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