Revista Emaranhados - segunda edição

EMARANHADOS

2ª edição: dezembro de 2019

Susten tabili dade

FICHA TÉCNICA Textos:

Thalyta Cavalcante, Rafael Melo, Bruna Castro, Jadeilson Cruz, Daphne Ramos, Paulo Souza, Cleudilene Ferraz, Robson Silva, Hannah Letícia Irineu, Ana Karolina Brito, Geisa de Almeida e Thalia Frazão.

Diagramação:

Augusto Lopes, Clicia Santos, Darlene Santos, Davi Rocha, Dyego Amorim, Iris Lorena, Jadeilson Cruz, Jéssica Nascimento, Kelle Rayane, Laysa Mendonça, Fellipe Reis e Rose Carvalho.

Fotografias:

Darlene Santos e Rose Carvalho

Revisão:

Prof. Leticia Cardoso

Coordenação: Bruno Ferreira

SUMÁRIO

04. A sustentabilidade como nova marca

da moda: mulheres maranhenses que usam a moda consciente para empreender e construir um mundo melhor.

14. Sítio ecológico Panakuí: sustentabilidade e qualidade de vida.

22. Armazém do campo: um símbolo da luta por uma outra agricultura.

28. Canudinhos: vilões do meio ambiente com dias contados no Maranhão.

33. Menos é mais: 3 lições do minimalismo para uma vida consciente e sustentável

38. Marketing sustentável: preocu-

pação com meio ambiente ou publicidade?

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A sustenta

como nova marca da moda:

Mulheres maranhenses que usam a moda conscien

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abilidade Por Thalyta Cavalcante e Rafael Melo

nte para empreender e construir um mundo melhor

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“

Pra mim, a moda consciente é o futuro.

A

administradora e futura engenheira ambiental Denísia Mendanha, 34, idealizadora e proprietária do Bazzar da Moda, enxerga em seu trabalho no brechó, a possibilidade em diminuir os impactos de uma indústria marcada pelo desperdício de recursos naturais: “pra mim, o meu trabalho é cuidar do meio ambiente não jogando mais lixo, impedindo que mais peças sejam fabricadas, que mais água seja gasta e mais recursos sejam retirados, pois o recurso sai do meio ambiente e em sua maior parte volta como lixo”, defende Denísia.

A indústria da moda tem sido alvo de diversas críticas por seu ritmo de consumo acelerado. Os impactos ambientais provocados pela produção exagerada de tecidos e o estímulo ao desperdício, colocam em circulação cada vez mais

lixo, devido ao descarte de peças que em muitos casos estão em perfeito estado.

Diante disso, visando revolucionar o mercado de forma combativa ao fast fashion, ao ser propagadas ideias de moda e sustentabilidade, surgem iniciativas como a de Maria Zeferina, 34, criadora e proprietária da marca de vestuário Demodê, que trabalha com moda orgânica, tendo como essência a produção manual com base no algodão do estado da Paraíba. Atuando em redes sociais como Instagram, a loja virtual ganha ainda mais visibilidade e difunde peças que valoriza o trabalho local de rendeiras e produtores nordestinos.

“Antes de pensar o que eu quero criar em relação a modelos e tudo mais, eu penso primeiro de onde virá meu material, isso pra mim me interessa mais, e dentro da sustentabilidade isso é um ponto muito importante, por que não tem como você falar de sustentabilidade, usando material que é produzido por mão-de-obra escrava ou que tenha uma composição que degrade o meio ambiente” avalia a estilista.

Outro exemplo que marca o engajamento por um consumo consciente é a “Cadê Beltrano?”, grife maranhense

courino no lugar do couro, o uso de plásticos reciclados nas argolas que são colocadas nas bolsas e a produção de peças em couros ecológicos, “ele chega a ser um pouco mais caro, mas dá essa possibilidade de um pouco menos de culpa, porque a gente tem que trabalhar com o sustentável. Um passo que a gente quer dar é estudar os tingimentos naturais” justifica a gestora da marca.

que tem bolsas como carro chefe e é comandada por Tamara Marques. Nascida em Brasília, com pais maranhenses, vive aqui há 12 anos e se diz apaixonada por São Luís e por moda. Estudou moda e desde a faculdade já sabia que queria ter uma marca criativa e que seu trabalho tivesse um propósito.

“A cadê Beltrano está hoje procurando o que é uma moda sustentável, procura quem está fazendo esse processo”. Apesar disso, Tamara reconhece que seu trabalho ainda não é completamente sustentável “usamos das cores e cores não vem num processo fácil de sustentável, inclusive é uma coisa bem tóxica.

A gente pelo menos faz trocas” explica.

Um exemplo dessas trocas é o uso de

A marca Cadê Beltrano? tenta ao máximo diminuir sua produção de lixo: “ A gente tenta modelar tudo num tecido só, para que sobrem pequenos pedaços. E desses pequenos pedaços fazemos doação pra quem queira fazer fuxico, brinco, colar”, nos conta a estilista. O pouco material que sobra após as doações é guardado para uso em oficinas. Peças com pequenos defeitos, como por exemplo, com a costura um pouco torta, mas que estão em perfeito estado de uso que normalmente são descartadas por outras marcas, na Cadê Beltrano? também viram doações para pessoas que demonstrem interesse pela marca, quer sejam clientes ou não.

Enquanto marcas de luxo, como a Chanel, Louis Vuitton e Burberry literalmente queimam seus produtos que não foram vendidos para evitar que sejam

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vendidos a preços menores a Cadê Beltrano? tem uma postura que demonstra a preocupação da marca em não fazer descarte desnecessário de produtos. As peças de coleções passadas que não foram vendidas viram presentes para os clientes: “muitas lojas vendem por preços menores. A gente prefere não vender, mas sim essa troca de energia, porque quem recebe vai ficar feliz e consequentemente esses bons frutos vão vir pra gente.”, argumenta Tamara.

Bryellen Melo, 22, estudante de psicologia, transforma peças para vender em seu brechó. Apesar de não trabalhar com costura e remodelagem ainda, faz uso de cortes e estampas com artes criadas por ela mesma, usando diferentes técnicas para renovar seus achados: “a técnica que eu mais uso é a tinturaria, manchando roupas seja com tinta pra tecido ou com água sanitária”.

Upcycling é a prática que propõe o reaproveitamento de objetos dando uma cara nova e funções talvez um pouco diferentes das originais, evitando assim que mais lixo seja jogado no meio ambiente. Na moda está relacionado à customização.

A estudante nos conta que, ao fazer a curadoria para seu brechó, se sente de alguma forma dando um novo significado às peças e combatendo a indústria que às vezes é um tanto cruel, pois está resgatando algo que mesmo em bom estado, seria jogado no lixo: “quando eu compro do brechó não estou mais alimentando essa indústria, me sinto contra ela porque estou dando uma vida útil mais longa ao que ela queria que fosse descartado”, acredita Bryellen.

Ludmylla Maciel, tem 18 anos, é estudante e apaixonada por moda sustentável. Ela nos explica que no meio fashion “ Upcycling é resignificar algo. Resignificar peças de roupas que passariam anos em aterros sanitários, dando uma ‘nova cara’ a elas e diminuindo impactos ambientais. A base do Upcycling é a customização”.

Já Ludmylla alerta que é importante se perguntar “quem fez minhas roupas?”, já que a fabricação de produtos para vestuário envolve muitos processos e pessoas diferentes até que chegue ao consumidor final.

Ludmylla ressalta que toma cuidado pra ser uma consumidora consciente: “Eu evito comprar em Fast Fas-

Upcycling e a atribuição de novos sentidos por meio da customização

hion, ou seja, essas lojas do Shopping ou de Fábricas ou até mesmo lojas de bairro. Opto por brechós, que é uma das melhores formas de consumo consciente e por mandar fazer minha roupa, assim sei que não foi feita por meio de trabalho escravizado”.

Ela ainda dá dicas de pequenas atitudes de consumidora que podem fazer toda a diferença: “Usar sua criatividade através da customização, preferir comprar roupas em brechós, onde sempre há peças lindíssimas, ou marcas ecológicas. Não é necessário ter um closet imenso para se ter estilo, isso depende da criatividade de cada um. Estilo está relacionado a individualidade e criatividade, não há ter diversas peças de roupas”, acredita.

O brechó como alternativa: muito comuns nos tempos da vovó, os brechós se tornam cada vez mais populares entre os jovens que buscam meios alternativos de se vestir Na escadaria Humberto de Campos, 66, está localizado o Espaço Quebradeira.

Um cavalete indica o lugar. O espaço foi pensado por jovens mulheres, que viram na sua paixão por moda sustentável e consumo consciente um meio de

empreender, apoiando outras mulheres e ainda ajudando o meio ambiente. Clientes são presenteados com suculentas ao comprarem alguma peça.

Ao chegarmos ao local, Bryellen nos recebe e explica que os brechós sempre fizeram parte de sua vida, pois sua avó tinha um e que por isso já era consumidora há alguns anos, mas confessa que levou um tempo para perceber que sua forma de consumir ajudava o meio ambiente: “eu não tinha muita noção de sustentabilidade até perceber que a forma como eu consumia era sustentável e então essa ideia foi esclarecendo mais na minha cabeça”. Ela pontua que este tipo de loja é importante, pois vai de encontro ao consumo exagerado ao qual a indústria induz o consumidor: “esse sistema te obriga a

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estar atualizando e descartando coisas que ainda funcionam, a levar pra desuso coisas em bom estado. Eu acho importante por resistência” enfatiza.

A brechozeira – como as donas de brechó são chamadas – argumenta que os brechós também são importantes para a construção de uma imagem visual, afinal oferecem produtos diferentes e exclusivas.

A administradora Denísia Mendanha, também compartilha desses ideais acerca da importância sobre o consumo consciente e comenta em sua entrevista sobre como os brechós tem contribuído para as futuras gerações quando se fala em sustentabilidade.

Além das questões de marcas famosas e preocupações com curadoria, Denísia nos conta que não se faz preocupada em compor um brechó de peças estrangeiras, mas que ofereçam conforto e qualidade aos seus usuários. Em muitos casos, para garantir o reaproveitamento dessas roupas ela costuma fazer restauros, como bainhas e pôr botões para que essas não fiquem de fora de sua loja, sendo descartadas por questões mínimas.

Nesse cenário, por meio de relatos de

vida como esses, mesmo com todos os desafios encontrados no caminho, marcado por uma cultura machista que visa restringir mulheres ao lar, segundo dados do governo federal, 3 em cada 4 lares são chefiados por mulheres, e essas tem ocupado cada vez mais espaço no mundo dos negócios.

Vinda de uma família de mulheres costureiras e bordadeiras, Rayanne Bezerra, 28, é outra brechózeira, que divide o Espaço Quebradeira com Bryellen e outras mulheres. Consumidora de brechó desde 2014 resolveu (após trabalhar em uma fast fashion) que era hora de ter seu próprio negócio. “O que me motivou a ter um brechó como negócio foi a relação do sustentável. Eu não me vejo mais fazendo algo em relação a roupa que não seja sustentável”.

Envolvidas em pautas de sustentabilidade, por entre outras tantas como Marias Zeferinas, Denísias, Rayannes, Bryellens, Tamaras e Ludmyllas, o empreendedorismo feminino tem ganhado cada vez mais atenção e busca por garantir suportes para essas inciativas, promovendo exemplos de transformação.

Ainda conforme pesquisas promovidas por meio do SEBRAE, de 2001 à 2011, os negócios gerenciados por mulheres cresceu cerca de 21%. Fato-

res como esses condicionam a importância em trazer visibilidades aos projetos inspiradores como o Bazzar da Moda e do Espaço Quebradeira, visto que essas inciativas promovem impactos em suas comunidades e também no estilo de vida de seus usuários, além de assegurar maior espaço de debate para questões de gênero.

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consumo consciente também tem se tornado uma estratégia comercial.

Visando diminuir os impactos ambientais e também assimilar compromissos sociais com as gerações futuras, criamse ferramentas com o intuito de revisar o processo produtivo, otimizando o uso desses materiais, porém os dados, como já apresentados acima, ainda Slow fashion X Fast Fashion: Qual o são alarmantes no Brasil e no mundo. futuro da moda?

Para a gestora da marca Cadê Beltrano? as indústrias poderiam evitar o Segundo dados apresentados pelo descarte desnecessário de material SEBRAE Nacional, cerca de 170 mil totomando algumas medidas simples, neladas de resíduos têxteis são geracomo a doação de alguns produtos: dos por ano no Brasil.

“Nas indústrias soEsses alarmantes da- O Slow Fashion muito além de um conceito bram muitas peças dos jogam luz aos ex- tem se demonstrado como um movimento grandes (de tecido). pressivos impactos do que busca dar lugar a uma moda em um desperdício de uma Eu doo pra quem é sentido ético e sustentável, de um modo indústria que não para. pequeno, pra quem combativo ao ritmo do fast fashion que é marcado pelo consumo rápido de coleções e quer fazer artesanaPreocupado com a lançamentos que a indústria da moda produz. to de boneca, brincriação de emprecos, colares. Mas as sas e microempregrandes indústrias sas capazes de gerenciar os resíduos poderiam procurar pequenas comunipor elas produzidos, o SEBRAE Nadades que utilizasse desse material para cional tem buscado segmentar dicas assim fazer um incremento de renda”. para a adoção de práticas conduzidas Segundo ela peças prontas, mas que por produções limpas e ecoefciennão são apropriadas para a venda tamtes, liberando menos produtos tóxibém poderia ser doadas: “fazer doações cos no meio ambiente, visto que o espontâneas para, por exemplo, escolas

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públicas que as crianças precisam de mochila, isso já poderia ser uma doação automática. Agora roupas e tecidos poderiam ir pras pequenas empresas, pequenas mesmo, de casas, de costureiras que tem fábricas em casa.” avalia.

Tamara ainda pontua: “muitas vezes as indústrias ficam próximas de comunidades carentes, então porque não fazer isso?” Eu acho que essa seria a grande saída, porque é muito grande o prejuízo que a moda causa ao meio ambiente. É cada vez mais perceptível que parte da sociedade tem repensado seus hábitos e formas de consumo nos últimos anos, reformulando estratégias de aquisição edescartedeprodutosematerrossanitários, Pensando em clientes que almejam trazer novos sentidos às suas práticas e estilos de vida, os brechós, assim como marcas de vestuário como a Demodê que trabalham com peças com base em materiais orgânicos, refletem o comportamento de um público cada vez mais presente e envolvido nas questões de consumo consciente.

Sobre o perfil dos clientes do Espaço Quebradeira, Bryellen aponta que: “Entre os perfis de consumidores prevalecem os jovens, que é a galera que curte

um consumo não vou nem dizer necessariamente sustentável, mas um consumo alternativo, coisas diferentes e tal.

Então principalmente é o público jovem, mas como está aqui na escadaria, está no Reviver, passa muita gente por aqui, já entraram pessoas bem mais velhas e tal, então o público principal é o de jovens que tenham essa noção de um consumo diferenciado, nem todos tem essa noção de sustentabilidade, mas uma coisa alternativa, por assim dizer”.

Atenta às necessidades especificas de cada corpo, entendendo o ser humano como plural, a Demodê busca se estender para os mais diversos públicos de ambos os sexos, proporcionando uma moda inclusiva e acessível.

“A sustentabilidade tem a ver com tudo, com estilo de vida. Sua forma de consumo não é só aquilo que você compra pra sua casa, mas também aquilo que você veste”, explica Maria Zeferina.

Diante dessas possibilidades que têm ganhado abrangência nos últimos anos, os brechós também conferem essa importância, apesar da resistência de determinados grupos em adquirir produtos de segunda mão, como diz Bryellen:

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do que provavelmente irão consumir”.

“Então, a gente sabe que a sociedade de modo geral tem preconceito grande com relação aos brechós, acha que é sujo, às vezes é, por isso que existe o processo de curadoria, que a gente limpa as peças, a gente faz reajustes, consertos e tal. Também tem a questão das pessoas falarem que existe uma energia pesada, ou tem preconceito por ser barato, dizendo que não tenho condição de comprar, então existe um grande preconceito, mas na placa ali está dizendo que é brechó, as pessoas que adentram ao espaço pelo menos eu nunca presenciei em momento algum elas demonstrarem resistência ao fato de serem roupas de brechó, pois elas estão cientes de onde entram e

Surfando nessa onda da comercialização do desapego de roupas e acessórios, é possível transformar a realidade e também em um contexto de crise econômica, fazer render um dinheiro daquilo que está abandonado. Além de possibilitar uma fuga da produção em série do fast fashion, os brechós podem proporcionar achados únicos e diferenciados aos seus usuários: “Os estudos dizem que em 2027, o slow fashion vai superar o fast fashion, superando esse conceito de moda rápida e descartável.

O brechó que antes era visto como o “fim”, agora abre portas para um consumo consciente, então, vida longa aos brechós”, defende Denísia Mendanha.

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Sítio Ec lógico Panakuí

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Sustentabilidade e qualidade

de vida Por: Bruna Castro e Jadeilson Cruz

CrĂŠditos: PanakuĂ­.com

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Imagem: panakui.com

O

sítio ecológico Panakuí é um modelo a ser seguido. Em tempos de correria, estresse, desperdício e consumo de agrotóxicos, ele se apresenta como alternativa a essas mazelas da vida. No sítio, localidade Coquinho – zona rural de São Luís/MA, vive-se de acordo com o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), que não leva em conta apenas aspectos econômicos para o desenvolvimento de uma nação, mas primordialmente a conservação ambiental como parâmetro para a qualidade de vida das pessoas, segundo Moisés Matias, idealizador do sítio Panakuí.

A razão de ser do sítio Panakuí é a interação entre ser humano e natureza.

Isso é percebido na valorização do conhecimento tradicional, aproveitamento da água da chuva e uso da energia solar. Esses elementos são fundamentais na compreensão que o ser humano tem da natureza, pois são determinantes para uma vida saudável. O sítio ecológico é uma terapia para alma que interfere de forma positiva tanto no corpo como na mente. Os alimentos livres de agrotóxicos são essenciais para uma vida saudável, mais imune a doenças que causam danos físicos e mentais, de acordo com os relatos do Moisés Matias. Também é importante salientar

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que o convívio com a natureza é um excelente remédio contra o estresse.

A vida corrida e agitada das cidades leva ao abatimento físico e mental. Na atualidade, o estresse é um mal cada vez mais comum. O sítio ecológico é uma maneira de fugir da vida estressante das cidades e garantia de qualidade de vida. Nesse sentido, o criador do sítio Panakuí, Moisés Matias, relata sua experiência: “Eu passei por uma situação de estresse profissional muito séria, a terapia foi essa de voltar a ter esse contato com a natureza”. O sítio foi criado em 2000, na zona rural de São Luís, localidade Coquinho (mais ou menos 7 km após a Expoema), como solução para um problema de saúde.

Moisés Matias é do interior do Acre, fronteira com o Peru, cresceu em contato direto com a natureza, mas na capital maranhense mudou o estilo de vida e só anos mais tarde percebeu o quanto essa interação é primordial para uma vida saudável.

De acordo com o Moisés Matias, o ser humano está sendo envenenado, pois há uma grande quantidade de agrotóxicos nos alimentos. Para ele, a solução seria o retorno aos antigos hábitos:

Créditos: Panakuí.com

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“Nós viemos da vida sustentável e esse modo de viver no Maranhão não está tão longe, em São Paulo está muito mais. Se o Maranhão implantasse o modelo do sítio ecológico, aqui seria uma Suíça (considerada campeã em ecologia)”, projeta o ambientalista. A fala de Matias aponta a sustentabilidade como alternativa ao desenvolvimento do Maranhão. Nesse sentido, o governo do estado poderia incentivar e treinar famílias maranhenses do campo a cultivar produtos orgânicos para consumo próprio e comercialização.

Assim, viver de modo sustentável é mais que uma fuga da correria e da agitação do dia a dia, é qualidade de vida e desenvolvimento socioeconômico.

Chamado também de Sítio de Inteligência Alternativa Panakuí, o local oferece os cursos exclusivos de Ecologia e Criatividade, Sítio Ecológico intuitivo, Ecologia e Estresse e Vivências Ecológicas. A experiência do Panakuí é aberta para a comunidade. Qualquer pessoa que tenha interesse em realizar a experiência de imersão e prática dos cursos, pode se inscrever.

Em Panakuí, são trabalhadas dez dimensões ecológicas: a valorização do conhecimento tradicional, a agroecologia, a casa sustentável, o rea-

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proveitamento e a utilização de recursos, a valorização da água, as energias alternativas, a alimentação ecológica e a qualidade de vida.

O sítio foi idealizado tendo em vista a melhoria da qualidade de vida de seu criador e sua família e, posteriormente, levar o conhecimento adquirido por ele ao longo dos anos para além de sua propriedade, expandindo esse benefício, também, para o bem-estar do próximo. Trabalhando anteriormente por muitos anos como ambientalista e ecologista, Moisés pôde conhecer o Maranhão, visitando praticamente todo o estado e, assim percebeu a abundância de riquezas naturais e ao mesmo tempo, em contraste, a pobreza que atinge grande parte da população maranhense. A partir desses conhecimentos ele diz que sentiu “uma necessidade de criar um espaço que pudesse ser [...] de excelência pra poder mostrar como quebrar essa história de muito rico e muito pobre, para que a riqueza possa ser um benefício para as pessoas”, lembra. Com seus cursos, ele ensina as pessoas a implantar o mesmo modelo de sistema ecológico do sítio em residências, escolas, condomínios e cidades, tendo como objetivo principal repassar seu conhecimento sobre sustentabilidade não

apenas para a geração presente, mas também para as gerações vindouras.

É preciso dizer que o sítio Panakuí não é agrícola, pois os produtos produzidos não são comercializados, sendo consumidos por Matias, sua família e os visitantes. O processo de manutenção e sustentação financeira do projeto é realizado através da venda de tecnologias desenvolvidas no sítio, como os kits de compostagem, as tecnologias para o bem-estar e qualidade de vida, que são o laboratório de vivência - o indivíduo passa o dia todo no sítio, fazendo os cursos e aprendendo sobre sustentabilidade, a experiência individual no ambiente, a conscientização, os ensinamentos de como viver de maneira sustentável, os cursos ministrados e os livros. O ambientalista expressa o desejo de compartilhar a experiência de forma mais ampla e até empreendedora. “A ideia é que o sítio seja uma célula inicial de uma franquia, em que eu vou aperfeiçoar e repassar as tecnologias”, idealiza.

Para Moisés Matias, as riquezas do Brasil trariam qualidade de vida se usadas corretamente, porém elas não são valorizadas. “O passo mais avançado que a humanidade preci-

sa dar, é buscar a sustentabilidade. É uma reintegração à natureza. Precisamos aprender com os indígenas, voltar a viver na natureza e não ser um intruso, um invasor. Ser um elemento que soma na natureza”, defende.

Estamos fora do curso natural das coisas, pois a humanidade é ecológica: “Nascemos e saímos da rota para o asfalto. Sendo assim, é um processo inevitável voltar para a origem, ou isso ou o fim. Ou há mudança de rota para a sobrevivência da espécie ou é o fim”, sentencia. Nesse sentido, a sustentabilidade é o melhor remédio contra males que afligem os seres humanos.

Créditos: Panakuí.com

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21 Você sabe o que é compostagem?

A compostagem é a “reciclagem dos

resíduos orgânicos”: é uma técnica que permite a transformação de restos orgânicos (sobras de frutas e legumes e alimentos em geral, podas de jardim, trapos de tecido, serragem, etc.) em adubo. É um processo biológico que acelera a decomposição do material orgânico, tendo como produto final o composto orgânico.

Além disso, é uma maneira de reduzir o

volume de lixo produzido pela sociedade, destinando corretamente um resíduo que se acumularia nos lixões e aterros gerando mau cheiro e a liberação de gás metano (gás de efeito estufa 23 vezes mais destrutivo que o gás carbônico) e chorume (líquido que contamina o solo e as águas).

Créditos: Panakuí.com

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ARMAZÉM DO CAMPO: UM S Í M B O L O D A L U TA P O R U M A O U T R A A G R I C U LT U R A Feira de alimentos orgânicos do MST se coloca como uma alternativa sustentável diante do avanço dos agrotóxicos e do agronegócio

“A

limentar é um ato político’’. A frase de Leticia Viana, representante da feira agroecológica do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) em São Luís, sintetiza os ideais do Armazém do Campo, espaço que comercializa alimentos orgânicos oriundos de assentamentos do MST. De

Por: Daphne Ramos e Paulo Souza fato, tudo que envolve o Armazém do Campo é marcado por ideologia: a luta de famílias de camponeses por terra e pela reforma agrária, as dificuldades de sobreviver através da agricultura familiar, a resistência ao agronegócio e aos agrotóxicos e, emblematicamente, as bandeiras de movimentos sociais e decorações com símbolos da esquerda que dão cor ao Armazém e ao Solar

Cultural que leva o nome da primeira romancista brasileira: a maranhense Maria Firmina dos Reis.

Debaixo do nariz dos militares surge o maior movimento social do país Fundado em 1984, durante a Ditadura Militar, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) nasce a partir do 1º Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, realizado em Cascavel, Paraná. Hoje, o movimento assenta cerca de 350 mil famílias em 24 estados do país e, assim como no princípio, tem como bandeira maior a luta pela reforma agrária. Mas não é só a disputa por terras improdutivas e latifúndios que define a organização. Nas palavras de Leticia, “o MST é um movimento que luta pela terra, luta por educação, luta por alimentação saudável, por saúde...enfim, luta por

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uma sociedade diferente. Luta por uma sociedade mais justa. E lutar por isso é produzir alimento saudável, é trazer a nossa cultura de fato para que o povo conheça e se reconheça’’, defende.

Apesar das controvérsias e dos que taxam os militantes do MST de “invasores’’ ou “baderneiros’’, não dá para negar que o movimento, já há algum tempo, tem tido um papel de destaque na co n j u n t u ra política brasileira. Entre apoiadores e críticos, manifestações e ocupações, o MST segue realizando suas atividades e o Armazém do Campo, uma marca nacional da entidade, é uma ex

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pressão importante desse trabalho.

“A menina dos olhos de ouro do MST’’ O Armazém do Campo de São Luís é o mais novo entre os 6 existentes no país e tem só 3 meses de funcionamento.

As outras lojas estão localizadas em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, em Recife e em Porto Alegre (a mais antiga). Em São Luís, o espaço é administrado por membros do MST, mas conta com o apoio de voluntários e de outros movimentos que realizam atividades no Solar Cultural da Terra. Há também uma parceria com a ASSEMA (Associação em Áreas de As-

sentamentos do Estado do Maranhão) e com o MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores). Entre os produtos mais vendidos estão o mel, a farinha, tapioca, azeite, abobora, cajuína, queijo e óleo de coco. Os alimentos são adquiridos através de assentamentos do MST espalhados pelo Maranhão e por outros estados. O arroz orgânico, por exemplo, vem de cooperativa de produtores do Rio Grande do Sul. Já o flocão vem da Bahia.

Além de fortalecer a agricultura familiar comprando alimentos de famílias camponesas, o Armazém do Campo é uma forma de divulgar o resultado positivo da luta pela reforma agrária e desmistificar a imagem negativa do MST, provando que o movimento realiza uma função social importante, explica a coordenadora do Armazém, Leticia Viana. “É um espaço também para que a clas-

se trabalhadora urbana tenha acesso a alimento saudável com um preço acessível. Então, a ideia é de fato trazer alimento para a mesa dos trabalhadores”, explica. Por tudo isso, a também coordenadora do Armazém, Eucicleude Nascimento, define o lugar como: “a menina dos olhos de ouro do MST”.

Agroecologia é utopia?

382. Esse é o número de agrotóxicos aprovados pelo Ministério da Agricultura em 2019, até o mês de outubro.

O governo argumenta que o objetivo da regularização dos novos defensivos agrícolas é aumentar a produtividade das empresas brasileiras e assim, ser mais competitivo no exterior. No entanto, a tentativa descontrolada de ganhar destaque no mercado deve custar caro. Pesquisas desenvolvidas pela Fundação Oswaldo Cruz e pelo Ministério da Saúde, além de outras instituições, apontam que o uso excessivo de agrotóxicos pode causar infertilidade, problemas na produção de hormônios sexuais, disfunções neurológicas, câncer de vários tipos e diversas outras doenças. Além disso, os agrotóxicos podem prejudicar a fertilidade do solo e afetar lençóis freáticos. Essas são

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questões importantes para o meio-ambiente e a saúde dos brasileiros e por mais que o agronegócio tenha uma importância inegável para a economia do país - o setor responde por mais de 20% do PIB – é preciso que se comece a pensar em alternativas sustentáveis que coloquem comida de qualidade na mesa da população. É nesse sentido que a agricultura familiar e a agroecologia se colocam como soluções.

O modelo de produção adotado pela agroecologia descarta o uso de agrotóxicos e também a monocultura. É uma opção mais saudável de alimentação e vários especialistas já provaram que, se as pessoas modificarem seus hábitos alimentares, é possível que toda a população mundial se alimente só de orgânicos. Mas esse cenário, pelo menos por enquanto, é utópico. Sobre o assunto, Eucicleude cita alguns entraves para que isso se torne realidade: a falta de assessoria técnica para os pequenos produtores, dificuldade de financiamento, criminalização dos movimentos sociais agroecológicos e falta de políticas públicas e apoio do Estado.

Por que ainda optam por agrotóxicos? Uma competição injusta entre dois modelos de agricultura

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O Brasil ocupa o lamentável posto de campeão mundial em aplicação de agrotóxicos. 540 mil toneladas são consumidas por ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA). E como já citado na reportagem, os danos gerados por esses produtos químicos são evidentes.

Aos poucos – mesmo que se lave bem os alimentos – esse veneno vai se acumulando nos nossos corpos e causando graves problemas de saúde. Entretanto, mesmo com tantas polêmicas em torno do uso de tais substâncias, grande parte da população está fadada a consumir esses alimentos. Por quais motivos esses produtos ainda fazem parte, em grande maioria, das refeições dos brasileiros?

Segundo Giovana Kury, estudante de jor-

nalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e consumidora do Armazém do Campo, a maioria das pessoas opta por não-orgânicos porque são mais acessíveis.

“São os que estão o tempo todo lá, no supermercado mais próximo, e por conta do preço mais barato, acaba sendo mais fácil comprá-los”, avalia.

Existe ainda uma diferença crucial para o privilégio que os produtos não-orgânicos possuem em relação aos orgânicos. O agronegócio detém um subsídio público e privado incomparável em relação ao que é ofertado para a agricultura familiar. O dinheiro adquirido pelas grandes empresas financia um modelo de produção em larga escala, capaz de garantir instalações, seguros, marketing, entre outras

coisas. Uma competição injusta com os pequenos produtores, que, por conta disso, não conseguem fazer com que sua produção chegue aos mesmos espaços que o agronegócio.

Outra questão importante é a forma de tratamento dada pela mídia em relação a esses modelos de agricultura.

“Você passa o dia inteiro na televisão. Quantas vezes você ouve falar em agricultura familiar? E em agronegócio?

Quem não tem certa consciência, vê a agricultura familiar como uma agricul-

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tura do atraso, ao invés de vê-la como uma opção de vida”, observa Leticia Viana.

Ocupar e Resistir

Um dos principais métodos utilizados pelo MST para despertar a atenção do poder público é a ocupação de terras improdutivas.

A resistência, seja contra jagunços ou latifundiários, é parte da história do movimento. Agora, com o Armazém do Campo, o MST encara outra frente de combate: contra os agrotóxicos.

E, com agricultura orgânica e familiar, o movimento tenta ocupar o espaço do agronegócio e colocar em xeque um tipo de agricultura que mais se preocupa em comercializar produtos do que verdadeiramente alimentar as pessoas.

28 CANUDINHOS: VILÕES DO MEIO AMBIENTE COM DIAS CONTADOS NO MARANHÃO Legislação sobre a utilização de canudos incentiva a conscientização ambiental e o consumo consciente dos biodegradáveis pelos maranhenses.

Por: Cleudilene Ferraz & Robson Silva

Muito tempo depois da evolução do uso dos canudos de plásticos, uma alternativa precisou ser pensada. Considerando que o tempo de consumo é razoavelmente curto, o consumidor leva em média vinte minutos para tomar uma água de coco, um suco e/ou refrigerante. Mas o que são vinte minutos para nós, para o meio ambiente equivale a centenas de anos de poluição. Agora pare para pensar que os canudos de plásticos demoram mais de 200 anos para se decompor totalmente na natureza.

Segundo uma estimativa do Fórum Econômico Mundial existe 150 milhões de toneladas de plásticos nos oceanos e caso o consumo siga no mesmo ritmo dos números atuais os cientistas preveem que até 2050 haverá mais plásticos do que peixes nos oceanos.

Foto por: Cleudilene Ferraz, Robson Silva.

Os canudos representam 4% de todo o lixo plástico produzido no mundo. Como não é biodegradável, eles ficam no meio ambiente por centenas de anos, e é só a ponta do iceberg para um aglomerado de lixo plásticos descartado incorretamente, atemo-nos aos resíduos plásticos nesta reportagem, mas sempre lembrando que não são somente estes os causadores de problemas no meio ambiente.

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Contexto histórico do material biodegradável

A evolução dos modelos de plásticos trouxe consequências ambientais significativas e é considerada uma péssima escolha, foi preciso buscar soluções que levassem um plástico ideal descartável. Surge o plástico biodegradável, alternativa mais viável porque oferece a vantagem de apresentar decomposição completa e bem mais rápida.

Com o aumento da demanda por produtos biodegradáveis, surgiram novas alternativas de produção no mercado desde os produtos convencionais como copos, canetas, utensílios domésticos, roupas e também canudos em material biodegradável. Esses produtos além de contribuir para preservação ambiental agrega valor ecologicamente correto e atraem mais consumidores.

Fotos por: Cleudilene Ferraz, Robson Silva.

Com o objetivo de promover a conscientização ambiental, surge a Canureco, primeira empresa maranhense atuando desde novembro de 2018 no ramo de fabricação e confecção de canudos sustentáveis, reutilizáveis e biodegradáveis. O representante da Canureco Levi Lobato explica sobre a produção do canudo “é feito de bambu e é um produto biodegradável pois a gente usa somente o bambu, não passa nada de conservante ou qualquer tipo de aditivo para aumentar a resistência, o bambu por si só já tem propriedades favoráveis com relação a higiene e durabilidade. “

O mercado sustentável vem crescendo e criando renda para muitas pessoas. Levi também menciona o fato de que a empresa Canureco é iniciante no mercado, mas já possui muita visibilidade. A empresa incentiva a mão de obra local com a fabricação dos canudos sendo feita por artesãos.

“Sempre quis fazer algo para o bem social como um todo, ajudar as pessoas.

Preservando o meio ambiente faço isso também. Sempre gostei de uma ideia pequena gerar um grande impacto na vida das pessoas.” , conta Levi Lobato.

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Incentivo público e Legislação

Nos últimos anos, ações como reciclagens e reusos tem ganhado força; o mundo tem reconhecido a necessidade de reduzir a quantidade de material plástico desperdiçado e descartado.

Neste contexto observa-se o crescimento de produtos em material biodegradável. Uma das formas encontradas para evitar a degradação do meio ambiente são os canudos biodegradáveis.

Saindo de escala global e nos situando no que acontece em termos de iniciativas em nível local, destaca-se a aprovação da chamada “Lei dos Canudos” de nº 11.014/2019 que instituiu a obrigatoriedade da utilização e a disponibilização de canudos produzidos a partir de materiais biodegradáveis aos consumidores dos estabelecimentos comerciais, em todo o território do Estado do Maranhão.

Para o Deputado Estadual Duarte Jr (PC do B), que participou da criação desta lei, o caráter punitivo é sobreposto pelo “conscientizador”, “porque até as punições previstas visam incutir essa mudança de costumes e uma consciência ecológica mais forte, por exemplo, temos alternativas, como substituir canudos de plástico por canudos biodegradáveis, de vidro ou outros materiais.

E também podemos consumir bebidas sem canudo.”

Embora a lei venha materializar uma urgência advinda da própria necessidade da sociedade e da situação do meio ambiente, ela busca assegurar formalmente e acelerar uma mudança de atitude e de padrões que já se observa na sociedade com relação aos canudos e outros produtos de plástico.

Sendo assim o poder público pode encontrar formas de ser um agente incentivador alertando quanto ao uso dos canudos plásticos e orientando quanto ao manejo e a utilização dos canudos biodegradáveis.

A começar conscientizando a população sobre os perigos que os canudos de plástico representam para os animais e todo o meio ambiente. Tendo isto em vista, podem ser desenvolvidas campanhas informativas sobre os riscos do plástico, bem como ações com bom custo-benefício, como a distribuição de canudos biodegradáveis em estabelecimentos comerciais, bares, restaurantes e festas.

ALTERNATIVAS DE CANUDOS

- Massa de Macarrão

- Aço - Comestiveis -Vidro -Papel

O consumidor ludovicense em busca de alternativas.

A proibição e comercialização de canudos de plásticos podem proporcionar a utilização de canudos biodegradáveis ou reutilizáveis, que pode ser de bambu, aço, papel e outros materiais.

Sabendo da existência da lei que obriga os estabelecimentos a ofertarem canudos em material biodegradável, o consumidor ludovicense pode ajudar no cumprimento da legislação, como adverte o servidor público Paiva Silva “Primeiro, sendo um consumidor consciente, deixando de utilizar canudos plásticos. Segundo, deixando de consumir em locais que não cumprem as exigências da lei.

O consumidor tem o poder de fazer as marcas mudarem suas posturas.”

O consumidor consciente sabe que pode ser um agente transformador da sociedade pelo próprio ato de consumo, sabe que seus hábitos de consumo tem impacto ambiental. Mesmo um único individuo ao longo da sua vida produzirá um impacto significativo na sociedade e no meio ambiente, e não tem erro se este consumidor buscar um equilíbrio entre sua satisfação pessoal e a sustentabilidade.

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Na era digital, o compartilhamento de informações promove boas práticas de consumo consciente, gerando novas reflexões para conversas entre amigos, familiares entre outros, e posteriormente cobrando ações efetivas do poder público. Por meio dessas iniciativas e escolhas de consumo, o consumidor potencializa suas relações socioeconômicas e sustentáveis.

Nesse sentido Paiva, reforça a necessidade do consumo consciente. Como consumidor sua percepção é de que “é urgente que tenhamos a consciência do que e como consumimos, e qual o impacto que os nossos hábitos de consumo trazem ao meio ambiente”. Acrescenta ainda que “passar a consumir de forma consciente não é mais uma opção, é uma necessidade, ou fazemos isso agora, ou daqui a pouco não teremos nem o que contar”.

Foto por: Cleudilene Ferraz, Robson Silva.

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Outras iniciativas podem partir do poder público, o seu lugar de fala incentiva boas práticas aos consumidores-cidadãos a participarem de ações voltadas para a temática, como complementa a superintendente de educação ambiental da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hidrícos (SEMA), Laís Rêgo [...]” por meio de campanhas educativas, com enfoque na redução de utilização de produtos descartáveis, com aumento do uso de produtos biodegradáveis.”.

Em outra frente há de se considerar como primordial “A divulgação de informações sobre os diferentes tipos de canudos biodegradáveis que podem agregar atitudes mais sustentáveis por parte da população diante de uma maior disponibilidade de conhecimento sobre o assunto” , explicou Laís Rêgo.

A legislação é importante porque traz avanço em matéria de conscientização e coloca o Maranhão no mapa da preservação ambiental, e também pode empoderar o consumidor

a desenvolver boas práticas de consumo, inclusive a consciente praticada no dia-dia, através de gestos simples desde a compra, uso responsável de um determinado produto ou serviço, sendo assim considerado um ato voluntário, cotidiano e solidário no sentindo de garantir uma vida sustentável para todos.

MENOS É MAIS!

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3 lições do minimalismo para uma vida mais consciente e sustentável Desde quando o ato de comprar tornou-se tão necessário? É realmente imprescindível tudo o que se compra? Qual a melhor postura que o consumidor deve adotar?

Essas são algumas questões levantadas para auxiliar no desenvolvimento de um pensamento crítico que leve a uma conscientização do consumo.

Por: Hannah Letícia Irineu e Ana Karolina Brito

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udo começa por um estímulo, você olha para o lado e há placas de liquidação, ofertas imperdíveis, lançamentos e peças limitadas. “Eu preciso disso” – você pensa. É um entra e sai nas lojas, amontoam-se produtos nos carrinhos, o tempo parece parar só para se comprar. Isso explica o motivo dos grandes centros comerciais não terem relógio – “Para que a pressa? A loja toda está com 50% de desconto!”, “Venha conferir a nova coleção de inverno!”, “Blusas por apenas 10 reais, preciso levar!”, “Crédito ou débito, senhor?”, “CPF na nota?”.

É correto afirmar, todavia, que a Revolução Industrial (1920-1940) possibilitou a fabricação em larga escala de diversos produtos, mas trouxe também um falso sentimento de poder ao incentivar o aumento do consumo, que alterou a dinâmica social. A partir daquele momento, tanto as relações comerciais mudariam, quanto a percepção de mundo se modificaria.

No sentido contrário ao consumismo desenfreado, surge em 1960, nos Estados Unidos, um movimento chamado Minimalismo, que se origina nas artes visuais, fazendo oposição aos excessos do expressionismo abstrato. O conceito, no entanto, se expande para outras áreas, como a arquitetura, o design, a música, e até como

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estilo de vida.

Como estilo de vida alternativo, o minimalismo defende uma forma mais consciente de enxergar o mundo, valorizando as experiências ao invés do acúmulo de bens, procurando por significado em cada aspecto da vida, deixando-a mais leve. Os hábitos minimalistas objetivam um modo de vida mais sustentável, e, portanto, podem ser considerados na busca por uma mudança que tenha como intuito: viver de forma mais plena e ciente do que acontece ao seu redor. Sob essa ótica, a artista afro-americana e adepta desse estilo de vida, Jennie C. Jones declara: “Existe uma natureza poética no minimalismo que é sobre o equilíbrio entre o cheio e o vazio”.

coisas é cultivar experiências que verdadeiramente agregam significado. O professor do Instituto Federal do Maranhão, Diego Lobato, praticante do minimalismo há quase 4 anos, anuncia: “O minimalismo se firma como uma forma consciente porque a gente vê que não precisa de tantas coisas para ser feliz, para estar bem no dia a dia.”

Um dos princípios que regem o minimalismo é o de aproveitar a vida de um jeito diferente, é como um acordar e compreender que o menos é mais. O conceito de minimalismo se expande além do consumo material, ressignificando conceitos e valorizando o essencial. Em resumo, desfrutar da vivência e usar as coisas, não o contrário.

O mundo moderno nos acorrenta em práticas de consumo exagerado, desperdício e insuficiência. Vivemos uma vida atolada de bens, sobrando pouco – ou nenhum espaço – para desfrutar de verdadeiras experiências. Pensando nisso listamos aqui 3 lições do minimalismo para o desenvolvimento de uma vida mais consciente e sustentável.

EXPANDA A SUA MENTE, VEJA O MUNDO DE OUTRA FORMA

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VALORIZE EXPERIÊNCIAS

A primeira lição que o minimalismo nos traz é a apreciação de cada momento e detalhe, desfrutando do que é realmente importante na vida. O minimalismo entende que mais importante do que acumular

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Habitualmente somos levados a consumir muito mais do que realmente precisamos, sem analisar os impactos que o consumo desenfreado pode acarretar para o meio em que vivemos.

Em uma pesquisa realizada em 2018 pelo Instituto Akatu, sobre o Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações, é apresentado dados que informam o perfil dos consumidores brasileiros. O resultado da pesquisa mostrou que pessoas mais jovens, do sexo masculino, com menor qualificação econômica e

escolar, são as que se portam com mais indiferença à forma de consumo, enquanto as pessoas mais velhas, com maior qualificação econômica e educacional, são mais conscientes na hora de consumir produtos.

O fato é que a forma como consumimos impacta diretamente no meio ambiente, somos responsáveis pela qualidade de conservação da natureza.

A bióloga Leila Figueiredo, graduada pela Universidade Federal do Maranhão, mestre em Biodiversidade e Conservação pela Universidade Federal de Alagoas e que atualmente trabalha com pesquisas direcionadas à sustentabilidade pela Universidade de Lincoln, na Nova Zelândia, explica: “Para você viver de forma mais consciente e mais sustentável você tem que começar a pensar nos seus atos como atos políticos, e isso é o fundamental de uma vida minimalista”. Ela acredita que é necessário tomar partido de forma mais consistente em prol do meio ambiente. É preciso mudar a sua forma de ver o mundo.

O acúmulo de lixo advindo principalmente das grandes metrópoles, os restos de materiais lançados por setores industriais no meio ambiente e o desperdício é resultado, em sua maior parte, de um consumismo exagerado que degrada a vida do nosso planeta. A partir dessa lógica, um consumo mais consciente não se torna apenas uma alternativa, mas uma maneira imprescindí-

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vel de atuação. Todavia, é importante pesquisar o produto e o seu fornecedor, pois, de acordo com a bióloga, um dos principais desafios que as pessoas preocupadas em seguir uma vida sustentável enfrentam é o chamado “green wash”.

Esse termo é empregado para se referir a empresas que vendem algo como sustentável, mas na realidade não são, ou quando há incongruências na venda do produto, o que evidencia a falta de comprometimento com a causa, mas destaca o uso de um marketing ajustado com as tendências atuais. A entrevistada ainda testemunha que isso pode ser percebido ao ver uma marca de canudos de alumínio sendo vendidos em pacotes de plástico, em lugares como a Fribal, que é um açougue, logo, vendem carne vermelha, proveniente da agropecuária, “ a agropecuária é um dos nossos problemas da atualidade para a emissão de gás de efeito estufa e uma das indústrias mais poluentes em geral”. Por essa razão, antes de comprar algo por ser sustentável, deve-se averiguar a coerência entre o discurso da empresa e as suas ações.

Devido a isso, é cada vez mais comum ver propagandas ecológicas advindas de organizações como a Coca-Cola e a Nestlé, que estão na lista dos maiores responsáveis pelo acúmulo de lixo, segundo o estudo realizado pela ONG Break Free From Plastic.

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Para Leila Figueiredo, “uma alternativa viável para uma vida de consumo mais consciente é optar por comprar produtos locais, isso faz com que você seja menos bombardeado por propagandas verdes absurdas, diminuindo sua pegada de carbono e estimulando a economia local”, orienta. Assim, além de ampliar seu conhecimento em relação ao que se utiliza diariamente, contribui também, diretamente para uma vida mais saudável e para a compreensão das questões ambientais que nos rodeiam.

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SER MINIMALISTA É MUITO MAIS BARATO

Um dos principais pontos questionados pelas pessoas ao se propor a pensar em um modo de vida mais sustentável, é o preço dos produtos orgânicos e materiais artesanais, que são fabricados em pequena escala e livres de agrotóxicos. Sobre esse fator, Leila Figueiredo baseada em sua experiência pessoal como adepta do minimalismo, atesta que ter um consumo sustentável não é mais caro. Pelo contrário, “é muito mais barato, porque eu tento consumir produtos locais, produtos orgânicos, de origem vegetal, e é muito mais barato comprar diretamente do agricultor do que comprar industrializado. Roupa, por exemplo, eu tento comprar de segunda mão porque é um recurso natural que já foi utilizado, eu vou usar até acabar, então é bem mais barato”, relata.

Ela avalia também que esse pensamento de que os produtos orgânicos e artesanais são mais caros, são armadilhas impostas pelo sistema que não quer que a mentalidade das pessoas em relação ao consumo mude.

Para o minimalismo, o consumidor deve optar por consumir somente o que é essencial e produtos com maior durabilidade. Assim, evita-se o desperdício.

Produtos fabricados por pessoas locais, que têm uma preocupação com a qualidade e a vida útil do planeta, devem ser alvos das nossas escolhas na hora de realizar uma compra. Além de estar estimulando a economia do lugar, conhecemos o produtor e sua lógica de produção.

Uma alternativa mais saudável e econômica é o cultivo de vegetais e frutas em casa.

A construção de uma horta é uma boa opção para se consumir produtos livres de agrotóxicos, que prejudicam a saúde, e também uma opção mais barata porque consome-se apenas o que é fruto do cultivo diário. Assim como a horta, os brechós também são uma possibilidade mais econômica e sustentável. As roupas usadas têm um preço mais acessível e estão poupando recursos naturais novos.

No fim, o minimalismo é político, social e econômico.

Ao adotar uma visão crítica e realista dos problemas reais que nos cercam, inicia-se uma reflexão sobre seus privilégios como consumidor e do porquê de alguns terem condições de compra e outros não. Portanto, o minimalismo é sobretudo político, trata-se de um modo de viver que vai contra o que o sistema atual prega sobre a necessidade exagerada e inconsciente de compra.

O minimalismo propõe um reajuste nas suas expectativas de consumo para o que te faz feliz e o que é essencial para se ter um equilíbrio emocional e financeiro.

37 A revolução Industrial, teve início na Inglaterra, a partir do século XVIII, foi um período de desenvolvimento tecnológico e de grandes transformações no modo de produção de mercadorias.

Produtos passaram a ser fabricados em grande escala, o que gerou muitas mudanças na sociedade.

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Marketing sustentável: preocupação com meio ambiente ou publicidade?

Por: Geisa de Almeida e Thalia Frazão

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ez anos atrás, a microempreendora Naiara Santos, 30, adotou o veganismo como estilo de vida e forma de sustento. Motivada pelo antiespecismo, ou seja, a ideia de que nenhuma espécie é superior a outra, ela iniciou seu trabalho como itinerante, vendendo inicialmente seus produtos em shows que frequentava. Assim, Natália encontrou uma forma de aliar suas práticas alimentares à possibilidade de ganhar algo com aquilo que gostava de fazer.

Em São Luís, ainda é bem tímido o número de estabelecimentos que oferecem algum tipo de prato sem ingredientes de origem animal, o que se torna um motivo para quem segue o estilo de vida, ir em busca de métodos para diversificar a alimentação e até mesmo empreender. A microempreendedora Natália é uma das diversas pessoas que adotam práticas sustentáveis para a produção e consumo de alimentos, e, através da comercialização destes alimentos veganos, visa proporcionar sua maior acessibilidade para quem já é adepto, além da difusão deste estilo de vida, que é facilmente confundido com o vegetarianismo.

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Veganismo x Vegetarianismo É importante destacar as diferenças entre o veganismo e o vegetarianismo, que são duas práticas alimentares que estão ganhando destaque em São Luís.

De acordo com Letícia Almeida, graduanda em nutrição na Universidade Federal do Maranhão, as principais diferenças entre ambas é que os veganos

não consomem nada que tenha origem animal, seja em sua alimentação ou outros produtos, já o vegetariano não come carne, peixe e aves, mas consome outros produtos de origem animal. Suas razões podem ser éticas, mas a dieta também pode ser adotada por questões de saúde, ambientalismo e religião, em contrapartida, a razão para o veganismo é principalmente ética, com

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a motivação de evitar todas as formas de exploração animal.

O marketing Sustentável Consumidores informados e engajados preferem produtos ecologicamente e socialmente corretos, pois se sentem fazendo sua parte para a preservação do Meio Ambiente e da Humanidade.

A partir disso, empresas do ramo alimentício se adaptam a esta mudança de pensamento, aproveitando para investir nas ações que podem gerar uma imagem positiva para a empresa por sua atuação real em favor do Meio Ambiente e Sociedade.

“No meu trabalho eu uso principalmente o Instagram como uma forma de divulgação. Eu gosto de mostrar para as pessoas uma comida de verdade e a sua procedência. Usar isso como uma estratégia de marketing aproxima as pessoas daquilo que você está fazendo, mostrar que o que você está propondo não é algo superficial, mas que existe toda uma questão por trás”, explica Ana Sofia, microempreendedora de alimentos veganos.

O marketing verde é especialmente eficaz no Brasil, segundo a pesquisa

Greendex 2009, realizada pela National Geographic Society, o Brasil é a segunda nação mais preocupada com o consumo consciente. Dados como este evidenciam a mudança de pensamento das pessoas em relação seus hábitos e consumo, e consequentemente, os empresários já identificaram este padrão, tanto que uma das estratégias mais difundidas para a venda de produtos e serviços hoje em dia é o marketing verde. Esse tipo de produto “ecologicamente correto” chama a atenção do consumidor, que cada vez mais pressiona as empresas do ramo alimentício a comercializarem produtos sustentáveis.

“Quando esse marketing é aplicado de maneira correta, ele contribui muito para o consumo consciente, até mesmo para o aumento desse público que escolheu mudar seus hábitos”, posiciona-se Naiara.

Esse tipo de marketing que induz o consumo consciente contrasta com o marketing tradicional. Este último é caracterizado diversas vezes por induzir ao consumismo, pois ele interfere na diferenciação do que se deve ou não comprar, tornando assim as pessoas incessantemente descontentes, buscando nas compras algo que as conforte. É comum vermos propagandas publici

tárias sendo exibidas nos intervalos comerciais das programações televisivas, com imagens persuasivas de fastfoods, que induzem o consumidor a comprar cada vez mais produtos de determinada marca. Este comprador é persuadido por imagens irreais de alimentos, que na maioria das vezes são manipuladas para parecem mais “apetitosos” a seus olhos.

Mas será que este marketing sustentável não é manipulado assim como no tradicional?

A estratégia de valorizar o meio ambiente em todas as etapas do desenvolvimento de um produto pode apresentar ótimos resultados econômicos para uma empresa, bem como uma maior valorização por parte do consumidor. Contudo, nem sempre há um bom uso destas estratégias, é fácil para as empresas não serem verdadeiras com suas atuações devido à falta de fiscalização. O termo correto a se aplicar é “greenwashing”, que se refere à propaganda enganosa de empresas, onde marcas criam uma falsa aparência de sustentabilidade, sem necessariamente aplicá-las na prática. “Não me surpreende que muitas empresas façam isso, pois estamos inseridos em uma

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estrutura extremamente capitalista e exploradora, que quer lucrar a qualquer custo. É uma enganação motivada pela aparência do produto, e muitas pessoas não se preocupam em contestar ou investigar isso. É uma falta de respeito com o consumidor, um comportamento hipócrita e muito desonesto”, posiciona-se Ana Sofia.

Ou seja, o greenwashing é apenas mais uma estratégia manipuladora de comunicação voltada para a venda de produtos e serviços que se baseiam na preocupação com o meio ambiente.

Com isso, mesmo a empresa não sendo ecologicamente correta, ela apresenta toda uma imagem defensora da causa e engajada em movimentos em prol do meio ambiente. No entanto, vale ressaltar que existem leis na constituição brasileira que preveem a punição de empresas que apliquem este tipo de propaganda manipuladora em seus produtos.

Legislação Brasileira Instituído pela Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) foi criado com o intuito de regular as relações de consumo, bem como tutelar a parte mais

fraca da relação de consumo, a saber, o consumidor. Em seu artigo 37, o Código dispõe que “é proibida toda publicidade enganosa ou abusiva”.

Nesse contexto, as práticas de greenwashing se enquadram no conceito de publicidade enganosa, uma vez que se constituem de artifícios que buscam enganar e induzir o consumidor ao erro.

Uma vez caracterizada a publicidade enganosa, aquele responsável por sua veiculação estará sujeito à imposição de contrapropaganda, conforme o artigo 56, XII e o artigo 60 do CDC, sem prejuízo das sanções de natureza civil, penal e outras definidas em normas específicas.

Greenwashing x Marketing Sustentável Apesar de propagandas enganosas ganharem destaque nessa sociedade de consumo mais consciente, ainda existem empresas que aplicam suas estratégias de venda de forma honesta com o seu consumidor, anunciando produtos que realmente são produzidos de forma sustentável, com atitudes aplicadas na prática. “Eu acho que o marketing sustentável é uma questão para a gente pensar, nem sempre é aplicado corretamente, mas pelo que eu tenho

visto, grande parte está me atraindo e me chamando a atenção de uma maneira boa, pois está começando a ser aplicado de uma maneira correta no consumo consciente, mostrando para o público o quanto ele precisa mudar em todos os aspectos, não somente o alimentício, mas nas nossas outras formas de consumo como roupas, remédios e da própria mídia”, comenta Ana Sofia. É fato que o maior engajamento das pessoas na identificação de propagandas enganosas desencadeia um certo ceticismo em relação aos produtos que são comercializados, e embora o advento do Código de Defesa do Consumidor tenha sido de enorme importância para reduzir e punir essas práticas desonestas por parte de algumas empresas, ainda se faz necessária uma discussão mais aprofundada acerca do tema. Portanto, é essencial uma maior conscientização dos consumidores quanto à existência e identificação de empresas que aplicam o greenwashing, além da correta aplicação da legislação brasileira a fim de evitar que essa prática se torne comum nos anúncios de produtos do ramo alimentício. A partir desse contexto, cabe a nós refletirmos a respeito da citação de Henry Wells: “Publicidade é mentira legalizada?”.

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EMARANHADOS A revista é fruto da parceria das disciplinas “Teorias e técnicas da narrativa”, ministrada pela professora Letícia Cardoso, em conjunto com a disciplina “Design da notícia”, ministrada pelo professor Bruno Ferreira, e foi realizada no segundo semestre do ano de 2019 da Universidade Federal do Maranhão. Sua segunda edição conta com reportagens acerca da sustentabilidade no Maranhão.

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