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Artigo
O PASSADO BÍBLICO, REINO E IDENTIDADE EM “THE CHRONICLES OF ENGLAND DE JOHN CAPGRAVE” Por Caio de Barros Martins Costa
Resumo: O objetivo deste artigo é discutir como John Capgrave, um frade agostiniano inglês do século XV constrói uma relação entre o passado bíblico, o reino inglês e o poder régio, formulando, assim, uma identidade inglesa no final da Idade Média. Tem-se por objetivo mostrar como o autor elabora sua narrativa, suas principais intenções e sobretudo, pensar como os usos do passado tornaram-se importantes no processo de afirmação do Reino e do poder régio na Inglaterra baixo-medieval.
Palavras Chave: Usos do Passado; Identidade; Poder régio.
“It is somewhat divulgid in this lond, that I have aftir my passibilite be occupied in wryting, specialy to gader eld exposiciones upon Scripture into o collecion; and thoo that were disparplied in many sundry bokis, my laboure was to bringe hem into a body, that thei which schal com aftir schal not have so mech laboure in sekyng of her processe.”1
considerando, especialmente, a importância da relação entre a monarquia e o sagrado. John Capgrave deixa claro que sua intenção era construir memória, não apenas para os homens do presente, mas também para as gerações vindouras, que leriam sua crônica. Essas informações consolidam algo
O
sobre
o
autor
já
reconhecido
pela
trecho acima, parte da dedicatória de
historiografia: em seus últimos anos de vida John
John Capgrave ao rei Eduardo IV de York
Capgrave buscava reunir estudos sobre as Sagradas
em seu The Chronicles of England, foi
Escrituras e outras histórias que conglomeram toda
escrito em meio a grande instabilidade política, no
uma tradição literária da Cristandade, além de
qual a Guerra das Rosas já havia iniciado. Ele
algumas que ele afirma terem sido descartadas. The
apresenta diversos argumentos que pretendem
Chronicles of England é, segundo as próprias
atuar como um discurso legitimador do rei,
palavras do autor, um “corpo” que pudesse auxiliar
1 CAPGRAVE, John. The Chronicles of England. Editado por Rev.
Francis Charles Hingeston. The chronicles and memorials of Great Britain and Ireland during The Middle Ages. Londres: Longman, Brown, Green, Longmans and Roberts, 1858., p. 1. “É algo divulgado nesta terra, da possibilidade de eu estar
ocupado com a escrita, especialmente para reunir coleções e exposições de domínio sobre as Escrituras. E que foram descartados em livros diversos, meu trabalho era trazê-las para um corpo, para que não tenham grande trabalho no processo de suas buscas.” (Tradução Livre)
Gnarus Revista de História - VOLUME IX - Nº 9 - SETEMBRO - 2018