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Artigo
A CONSTRUÇÃO DE UM CONCEITO: A ROMANIZAÇÃO Por Alexandro Almeida Lima Araujo Claudia Patrícia de Oliveira Costa Resumo: O presente artigo tem como finalidade abordar um conceito bastante difundido durante o século XIX, a Romanização. A historiografia do século XIX construiu e apontou para uma visão de imposição de um ethos romano durante e após o processo de expansão territorial da capital do Imperium Romanum¸ Roma, sobre os demais grupos étnicos ditos “incivilizados”. Logo, Roma seria a luz civilizatória e as demais culturas vizinhas do Império seriam “inferiores”, necessitando, assim, da “luz civilizatória” dos romanos, uma cultura “superior”. Portanto, houve a “necessidade” de romanizá-los. Essa construção do XIX foi uma justificativa para que as potências européias buscassem e dominassem territórios. Por exemplo, as pinturas do século XIX foram meios usados para sustentar e representar uma política de dominação através de imagens de combates de gladiadores, naumáquias e venationes, em que os anfiteatros e as arenas romanas seriam utilizados como um locus de romanização. Entretanto, nesta conjuntura, a imposição e homogeneidade cultural de uma “Roma superior” ficam apenas no campo do discurso suscitado pelo XIX, haja vista que, na prática, os grupos culturais díspares que foram ou se deixaram incorporar ao Império não deixaram de cultuar seus deuses, de falar em sua língua nativa, ou de praticar sua cultura de modo geral, para abraçar à romana. Neste sentido, a heterogeneidade cultural se fez presente no Imperium, que se estendeu de um domínio de Roma sobre a Península Itálica, a posteriori, da península itálica às demais regiões que margeiam o mediterrâneo e além. Palavras-chave: Romanização. Ethos romano. Heterogeneidade cultural. Império romano.
O
Império romano abrangeu áreas bem longínquas de sua capital, Roma. Houve, primeiramente, uma “extensão de Roma à Itália, depois à
bacia mediterrânea e além”. (CABANES, 2009, p. 195). De acordo com Guarinello, “o Império foi o resultado de um lento processo de conquista militar e centralização política, primeiro da cidade de Roma sobre a Itália, depois da própria península sobre as demais regiões que margeiam o Mediterrâneo”. (2009, p. 149). O processo de expansão do Império foi fundamental para
estudiosos de Antiguidade Clássica, no século XIX, criarem meios que justificassem o interesse de grupos culturais nos processos de Imperialismo e partilha afro-asiática. Por exemplo, a França se utilizou do discurso de Romanização para legitimar sua ação durante a busca incessante imperialista do XIX. “Assim, as nações que se formavam no século XIX como Inglaterra, França ou Itália, só para citar alguns exemplos, buscaram no Império romano
sua maior
fonte
de
legitimação”.
(GARRAFFONI e SANFELICE, 2013, p. 67).