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Artigo
O EMPRESARIADO, A GUANABARA E A FUSÃO: A COMPLEXA (RE)CONSTRUÇÃO DE UMA CAPITAL Por Rosane Cristina de Oliveira “Esvaziada a Cidade em 21 de abril de 1960, há 30 anos levaram o cetro e o Banco do Brasil para o Planalto Central, e nos deixaram na orfandade... Fato é que os governos eleitos desde 1960 o foram em oposição ou a Brasília ou ao próprio governo local, ou geralmente aos dois... A alma coletiva do carioca tem estado enfermiça. E o que é grave: poucos, muito poucos têm se dado conta disto, como se ao mesmo tempo um pouco da própria brasilidade não fosse afetada e não tivesse sido abalada a sua autoestima, sua vontade de viver e crescer. Enquanto o Rio não age, se debate ou reclama muito, e atua pouco.” (Revista da ACRJ, ano 50, n. 1257, março de 1990 - Editorial).
O
empresariado carioca nos anos 1990 (três
fragmentada e com várias forças políticas e
décadas após a transferência da capital
econômicas envolvidas no debate.
política para Brasília) concordaria com a
Por outro lado, é importante chamarmos a
avaliação de que o esvaziamento econômico do
atenção para o aspecto da fragmentação e o
Rio foi inevitável. Em 1990, os empresários do Rio
impacto político e econômico sofrido pela cidade
de Janeiro, especialmente os membros da
e pelo Estado do Rio de Janeiro no contexto da
Associação Comercial do Rio de Janeiro, iniciaram
retirada da capital federal. Atrelada a isto, a
uma série de reflexões sobre os rumos do Estado e
inauguração de uma nova “estrutura industrial
da cidade do Rio de Janeiro, lançando olhar
promovendo um significativo crescimento da
negativo sobre a transferência da capital federal
economia fluminense” (Oliveira, 2008, p. 19), cujo
para Brasília e a fusão.
intuito foi recuperar as perdas históricas e
Pensar a cidade do Rio de Janeiro após 1960 é complexo. O antigo Estado da Guanabara, mesmo
delineando economias regionais mais estruturadas fora da metrópole.
com o processo da fusão, não conseguiu reverter o
Neste breve artigo, a intenção é discutir o
quadro de atrofiamento econômico e político ao
esvaziamento econômico e a complexidade de se
se tornar a capital fluminense. Nesse contexto,
pensar a cidade após a transferência da capital
podemos sugerir que a construção do projeto
federal, tendo como objeto a atuação do
político para a cidade do Rio de Janeiro
empresariado local, representado pela Associação
encontraria ecos, nos anos 1960 e 1970, de forma
Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), e demais