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Artigo
AS ESCARAMUÇAS ENTRE BANDEIRANTES E JESUÍTAS PELO GENTIO DA TERRA NA REGIÃO DO GUAIRÁ, TAPE E URUGUAI NO PERÍODO DE 1602 A 1641
Por Miguel Luciano Bispo dos Santos
P
ara compreendermos a relevância e a
designar
justificativa
dissertações críticas1”.
da
nossa
proposta
é
necessário que reflitamos sobre algumas
produções
historiográficas
em
relação
à
historiografia da vila São Paulo colonial. A história da dessa vila é bastante antiga e
de
instrumentos
de
pesquisa
ou
A partir da fundação do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo em 1894, iniciou-se uma produção acadêmica mais sistemática da história de São Paulo. Uma historiografia que forjou a
debatida na historiografia brasileira, normalmente
imagem
é inserida no contexto da expansão territorial do
empreendedor independente e leal, cuja síntese
Brasil e nas expedições bandeirantes ao interior da
seria o bandeirante. A ideia dos homens de São
colônia. Os primeiros estudos sobre São Paulo
Paulo como “raça de gigantes” – que Ilana Blaj
remontam à época colonial. Os trabalhos mais
nomeia como perfil da historiografia de fins do
representativos são de Frei Gaspar da Madre de
século XIX até a década de 1930 – edificou a
Deus (1715-1800) “Memórias para Historia da
imagem
Capitania de São Vicente”; e de Pedro Taques de
bandeirante, desbravador e expansionista.2
Almeida Paes Leme (1714-1777), dentre suas obras, destacam-se a “Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica”
e a “História da
Capitania de São Vicente”. Ambos os autores pertenciam às Academias Históricas, instituições iluministas de intelectuais destacados. A Academia dos Renascidos, da qual Frei Gaspar fez parte, tinha um programa historiográfico “orientado para a composição de memórias históricas, ou seja, para
do
da
homem
capitania
paulista
sobre
destemido,
o
heroísmo
Já entre as décadas de 1940 e 1970, a ideia perpetuada de subdesenvolvimento do Brasil consagrou São Paulo como área marginal, secundária, atípica, apenas articulada de forma insuficiente à engrenagem colonial. Nessa visão, São Paulo colonial era abordado como região periférica, isto é, somente como fornecedora de mão de obra indígena ou como centro das expedições
sertanistas
realizadas
pelos
elaboração do que, nos termos atuais, poderíamos 1 RIBEIRO,
Fernando V. Aguiar. Poder Local e Patrimonialismo: a Câmara Municipal e a concessão de terras urbanas na vila de São Paulo (1560-1765). São Paulo-SP: Departamento de História Econômica da USP, 2010. p.13. 2 BLAJ, Ilana. Mentalidade e Sociedade: revisitando a historiografia sobre São Paulo colonial. op. cit. p.241-242