GNARUS - 67
Artigo
FOUNDATION HAZELDEN BETTY FORD: tratamento de adictos no âmbito do cristianismo evangélico numa perspectiva da análise crítica do discurso Por João Paulo Carneiro RESUMO: Boa parte das literaturas produzidas na Foundation Hazelden Betty Ford, amplamente divulgadas em seu site, programas, e no processo formativo de terapeutas e conselheiros no âmbito das Comunidades Terapêuticas (CTs) se constitui um fator difusor das literaturas de autoajuda com foco no tratamento da “transformação subjetiva” em algumas CTs brasileiras. Para dar conta da discussão convidamos Norman Fairclough (2008), através de sua Análise Crítica de Discurso Textualmente Orientado (ACDTO). Portanto, constatou-se os deslocamentos discursivos diante do contexto sócio-histórico da gênese das CTS, principalmente, através das literaturas analisadas, ou seja, o desenvolvimento do tratamento dos adictos na perspectiva da permanência no âmbito da abstinência, substituindo a política de redução de danos (RD). Palavras-chave: Religião; Discurso; Drogas, Políticas Públicas
Introdução
O
bservou-se a gênese da comunidade terapêutica mediante os soldados afetados emocionalmente, que atuaram na Segunda Guerra Mundial - na Inglaterra dos anos de 1950 – sob a análise do psiquiatra sul-africano Maxwell Jones (1907-1990), que executou uma reforma no tratamento de saúde mental, assim, cunhou o termo “comunidade terapêutica”. O enclausuramento dos sujeitos em processo de tratamento foi repensando por Maxwell Jones, principalmente no que tange o aspecto de se colocar em oposição à premissa de controle
social criticado no processo histórico por Foucault (1987), ou seja, vigilância, disciplinamento e controle dos sujeitos deslocados como “ameaça”. O tratamento moral, isto é, baseado na exclusão do indivíduo com a imposição de horários fixos para as atividades do dia, disciplinamento e trabalhos rotinizados, foi implantado por Philippe Pinel (CASTEL, 1978). A CT de Jones não possuía orientações religiosas.1 1 A CT de Jones pretendia ser uma alternativa aos hospitais psiquiátricos tradicionais. Também previa a convivência comunitária entre pares, além da prática de atividades laborativas e educativas. No entanto, não possuía orientação religiosa e pretendia criar um ambiente em que as relações entre cuidadores (médicos, enfermeiros e psicoterapeutas) e acolhidos fossem horizontais, e estes últimos tivessem
Gnarus Revista de História - VOLUME XII - Nº 12 - DEZEMBRO - 2021