11-Gnarus11-Artigo-O apagamento do Reino Vândalo UNESCO

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Artigo

APAGAMENTO E ESTEREÓTIPOS DO REINO VÂNDALO NOS MANUAIS DE HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA DA UNESCO Por Geraldo Rosolen Junior RESUMO: No ano de 429 os vândalos migraram para a África Romana, conquistando grande parte do território do Império Romano na África Ocidental, e as ilhas mediterrânicas ocidentais, as Baleares, Sicília, Córsega e Sardenha, tornando Cartago a capital de seu reino entre 439 e 533. Durante esse período, o Reino Vândalo foi considerado uma grande potência política, militar e econômica, e ficou amplamente conhecido através das críticas fontes eclesiásticas pela condução política-religiosa, que impôs o arianismo aos membros da Corte Vândala, e pelas perseguições aos católicos nos Reinado de Hunerico (477-484) e Thrasamundo (496-523), contudo, o protagonismo assumido pelo Reino Vândalo na Primeira Idade Média não pareceu suficiente para integrar parte fundamental da obra História Geral da África da UNESCO, e que sugere um apagamento da História desse povo. Portanto, nesse artigo iremos examinar de modo geral, como os volumes I e II são constituem esse debate, para que possamos apontar as motivações desse apagamento, avaliando ainda, possíveis consequências desse apagamento, tanto para a proposta da coleção, como para a História da África em uma dimensão mais ampla. Palavras Chaves: UNESCO; História Geral da África; Reino Vândalo

Sobre os manuais de História Geral da África

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e acordo com Mônica Lima (2012) a obra História Geral da África havia sido construída e elaborada ao longo das décadas de 1960 e 1980, sendo desenvolvida a partir de um esforço monumental, reunindo ao todo “trezentos e cinquenta estudiosos, coordenados por trinta e nove consultores” (LIMA, 2012, p.279), sendo publicada pela primeira vez em 1981, em meio as grandes tensões que o continente africano enfrentava como as guerras civis e de

independência, a obra parece ser constituída como reflexo desses conflitos. Ao mesmo tempo em que podemos observar eclosões nacionalistas em face do crescente sentimento anticolonialista, como nos apresenta Fabiana Barbosa Ribeiro (2015) a produção de livros e materiais didáticos, assim como a construção de escolas assumiram um papel fundamental ao enfrentamento do ‘colonialismo’, principalmente por grupos como a FRELIMO que acreditavam no potencial da educação tanto em níveis desenvolvimentistas, como

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para formação ideológica para expandir sua base de apoio e seus grupos armados “nos manuais escolares de História desse período (fim dos anos 70, anos 80 e 90), a História da FRELIMO e das lutas anticoloniais são o fio condutor dos conteúdos ali apresentados” (RIBEIRO, 2015, p.47). Deste modo, seguindo alguns pressupostos teóricos de Michel de Certeau (1982) acreditamos a coleção e as obras que compõe a História Geral da África devem ser examinadas não apenas em seu conteúdo, mas também em seu lugar de produção, para que possamos avaliar como essa produção se encaixa em seu espaço de produção temporal, geográfico e intelectual. Os autores Peri Mesquida, Juliano Peroza e Abdeljalil Akkari (2014) nos apresentam que a descolonização na África representou grandes desafios, e paradoxos para as novas elites africanas políticas e intelectuais, pois os processos de independência geraram a necessidade de preencher ausência dos colonizadores, sem que fossem perpetuadas dimensões eurocêntricas e de imposição da relação entre oprimidos e opressores, dentro desse contexto histórico-cultural haviam surgidas iniciativas internacionais e supranacionais, da qual Paulo Freire também havia integrado, respaldadas por “ideias de libertação e independência que circulavam e que foram muito propagadas nas décadas de 1960 e 1970. Essas ideias foram absorvidas por determinados organismos internacionais, como a ONU, por meio da Unesco”, (MESQUIDA, PEROZA, AKKARI, 2014) com o objetivo de superar as marcas do colonialismo europeu, e colaborar no desenvolvimento desses países. .

Deste modo, podemos observar que a própria coleção da História Geral da África surge, dentro desse contexto, como um desafio de expor uma perspectiva africana da História, de modo a dar visibilidade e representatividade aos acadêmicos africanos, expondo, alguns elementos de resistência e superação do colonialismo. (LIMA, 2012; BARBOSA, 2018). Pois como nos apresenta Felipe Paiva (2014), para os autores que compuseram essa coleção, escrever sobre o passado, era também escrever sobre o momento presente, que servia como um espelho, para resistir aos estereótipos de sociedades atrasadas, violentas e incultas, eles recorreram à História para demonstrar um passado glorioso, conectado e multifacetado, que reivindica suas heranças na História da humanidade, indagando sobre uma dívida cultural do mundo com os africanos, “a onda de conflitos libertadores levou, em grande medida, os historiadores a explicarem tais conflitos recorrendo ao passado, realçando o africano como agente de sua própria história, e, portanto, resistindo à influência Colonial mais efetiva, já a partir de finais do século XIX” (PAIVA, 2014, p.193). Deste modo, conseguimos observar que, alguns desses autores mesmo analisando o passado da África Medieval, reproduzem uma grande apreensão, e tendem a perceber os vândalos como estrangeiros (germânicos) colonizadores, a seguir iremos expor algumas das motivações para essa percepção, e quais se houve intenções para o apagamento do Reino Vândalo no primeiro e segundo volume da coleção.

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GNARUS - 63 Vândalos, antigos colonizadores europeus? Em uma análise quantitativa, ao todo, os vândalos foram citados apenas cinco vezes no primeiro volume da coleção (KI-ZERBO, 2010), e com exceção de uma menção na página 89, todas as demais citações ocorreram na página 92, e todas citadas pelo mesmo autor Hichem Djait (2010) no capítulo 5. Já no segundo volume (MOKHTAR, 2010), a utilização do termo é um pouco mais recorrente, e aparece vinte e três vezes, se considerado as notas de rodapé, distribuídos da seguinte maneira: uma vez no capítulo 17 de Jehan Desanges (2010) na página 451; duas vezes na primeira parte do capítulo 19 escrito por Ammar Mahjoubi (2010) nas páginas 501 e 526; e vinte vezes na parte 2 do capítulo 19 de Pierre Salama (2010), respectivamente seis vezes na página 548, cinco vezes (sendo duas em rodapé) na página 549, duas na página 550, um vez na página 551, duas na página 554, uma na página 556, uma na página 558 e, finalmente, sendo citado duas vezes (sendo uma em rodapé) na página 560. Observando os contextos em que esses termos surgem, podemos considerar que, no primeiro volume da coleção (KI-ZERBO, 2010), Hichem Djait (2010) apresenta um panorama sobre a cultura e produção escrita da África Romana até o século XV, contudo, embora seu um recorte temporal seja muito amplo, e as menções os vândalos seja breve, o autor parece considerar a importância do período do Reinado Vândalo na África, pois assertivamente considerou a existência de um ápice da produção escrita entre os séculos V e VI, “O intermédio vândalo, a reconquista bizantina e a presença bizantina durante mais de um século, levaram um

número maior de escritores a registrar os acontecimentos. Os documentos chamados “menores” são abundantes” (DJAIT, 2010, p.92), e ainda considera que, os antiquistas e intelectuais europeus haviam sido decisivos para preservar as fontes do período vândalo e bizantino, respectivamente na Patrologia Latina e na Monumenta Germaniae Historica, embora considerasse que esse campo de estudo ainda permanecia esquecido, mesmo com o contraste da riqueza de fontes para o período. (DJAIT, 2010, p.92). Assim, passando de uma discussão mais metodológica e expositiva, no segundo volume da coleção (MOKHTAR, 2010), onde nossas expectativas se convergiam, por se tratar de um livro que aborda um recorte temporal que se estende até meados do século VII, observarmos uma perspectiva conturbada a respeito do Reino Vândalo, embora Jehan Desanges (2010) aborde o termo ‘vândalo’ uma única vez, seu juízo de valor sobre a contribuição populacional dos vândalos em África, se contradiz com as evidências historiográficas do século V e VI: “Em nossa opinião, o número total de colonos romanos instalados na região à época de Augusto ultrapassa de pouco os 20 mil [...] Quanto aos acréscimos vândalo e bizantino, foram provavelmente ainda mais modestos” (DESANGES, 2010, p.451), Desanges não apresenta qualquer fonte ou referencial bibliográfico que comprove sua ‘opinião’, em contraposição, sabemos que é realmente difícil estimar precisamente qual o tamanho da população vândala que ingressou na África em 429. Mas, Victor de Vita em sua Historia Persecutionis Africanae Provinciae de 489,

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GNARUS - 64 apresenta que rei vândalo Genserico havia exigido que seu povo fosse contabilizado antes da travessia, “Including old men, young men and children, slaves and masters, there was found to be a total of 80,000” (VICTOR OF VITA, 2006, p.3), ainda que Victor de Vita desejasse depreciar os vândalos afirmando que tal número só seria atingido, se também fossem contabilizados os civis, ao analisarmos Procópio de Cesareia ele parece não subestimar o tamanho dos exércitos vândalos, e ainda nos apresenta como os exércitos de Genserico haviam sido contabilizados: “over them no fewer than eighty captains, whom he called chiliarchoi [commanders of a thousand], making it appear that his army in service amounted to eighty thousand” (PROKOPIOS, 2014, p.156), é possível que Procópio de Cesareia seja uma fonte mais confiável que o bispo de Vita, pois além de ter sido uma testemunha ocular das campanhas de Belisário entre os anos de 533 e 534, ele também apresenta que, os vândalos representavam um número consideravelmente alto entre as populações africanas, “after that time by having children and by associating other barbarians with them they came to be an extremely numerous people” (PROKOPIOS, 2014, p.156). Deste modo, mesmo com números conservadores de Roland Steinacher (2016), ele havia estimado que “Die Barbaren [Vandalen] machten demnach weniger als ein Drittel der Einwohner Karthagos aus” (STEINACHER, 2016, p.95), portanto, contrastam severamente com o juízo de valor apresentado por Desanges e a pouca expressividade que atribui aos vândalos, e até mesmo aos romanos, que de acordo com Steinacher eram estimados em mais de 3 milhões de habitantes, números muito

superiores, ao que pressupunha Desanges. (STEINACHER, 2016). Ammar Mahjoubi (2010) por outro lado, prefere se abster e apresenta o Reinado Vândalo apenas como um período que encerra a dominação romana em África, “toda a África do Norte se tornou romana, permanecendo assim até a invasão vândala” (MAHJOUBI, 2010, p.501), contudo, é preciso apresentar que, mais recentemente, os vândalos tem deixado de serem representados como invasores das províncias africanas, Konrad Vössing (2014) considerou ainda que, nas últimas duas décadas, a representação de invasões bárbaras ou de invasores, acabaram se tornando “clichés historiques” (VÖSSING, 2014, p.928), isso porque, análises mais adequadas e satisfatórias têm percebido uma importante relação entre os reis vândalos Gunderico (406-428) e Genserico (428-477) com o comes Africae Bonifácio, que havia utilizado os exércitos vândalos como um apoio para as guerras civis entre ele, Aécio (magister militum per Gallias) e Felix (magister militum praesentalis) que haviam perdurado entre os anos de 425 a 433, e por esse motivo, os vândalos teriam sido convidados por Bonifácio para servirem a ele na África, que inclusive, havia prometido 1/3 das terras africanas para os vândalos, caso o apoiassem (PROKOPIOS, 2014, p.151), assim o Reino Vândalo só teria sido percebido como uma ameaça após o cerco de Hippo Regius em 431, que como consequência levou a morte Santo Agostinho, essas perspectivam também ajudam a colaborar na explicação para a falta de resistência e confrontos entre vândalos e romanos de 429 até 431. (HEATHER, 2008; WICKHAM, 2009; STEINACHER, 2016; HUGHES, 2017).

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GNARUS - 65 Deste modo, observamos que as apresentações Desanges e Mahjoubi, ainda que apresentem problemas metodológicos ou analíticos, elas são insuficientes e quase inexistentes para considerar que os vândalos haviam sido tratados como protagonistas de um reino em ascensão, que se colocou como uma importante potência do Mediterrâneo, competindo com o Império Romano tanto do Ocidente, como do Oriente. Logo, partindo para o capítulo de Pierre Salama (2010) observamos que, apesar dele ter considerado apresentar o período vândalo como autônomo da História de Roma, ao expor um subcapítulo “O Episódio Vândalo” de duas páginas (SALAMA, 2010, p.548-549), ele também foi o autor que mais deturpou e prejudicou a História do Reino Vândalo com seus preconceitos, pouco ou nada fundamentados em referenciais bibliográficos, e menos ainda em fontes do período Assim, somos desejosos de contribuir para romper com alguns paradigmas que são apresentados por Pierre Salama (2010) que afirma: “Nada era mais inesperado na África do Norte do que estes conquistadores de origem germânica. Nenhuma dominação se adaptou menos às realidades do território” (SALAMA, 2010, p.548). Temos assim, duas perspectivas equivocadas: a primeira um despreparo do autor para lidar com a temática, ao não utilizar nenhuma evidência que comprove sua opinião, pois ao contrário do que sugere Salama, podemos observar uma importante integração entre mouros e vândalos na Historia Persecutionis de Victor de Vita, ao expor a participação moura no saque de Roma de 455 durante o Reinado

de Genserico (VICTOR OF VITA, 2006, p.12), e ainda como aliados no Reinado de Hunerico (477-484) que eram encarregados de levar ao exílio clérigos católicos contrários ao rei, que eram entregues como escravos ao Rei Capsur dos mouros (VICTOR OF VITA, 2006, p.16). A segunda observação que devemos apresentar, é que o termo ‘germânico’ tem sido cada vez menos recorrente, e exibe gradativamente um desuso pela historiografia mais recente, por considerar um termo sem grande versatilidade, e que por isso compreendemos como termo e não como um conceito. Para Jörg Jarnut (2004) o principal fator que tornou esse termo obsoleto foi a constatação de que os povos que atravessaram as fronteiras do Império Romano no século V, entre eles os vândalos, não se reconheciam, assumiam ou se declaravam dessa forma, mas que antes, havia sido uma criação da historiografia latina para justificar a não conquista dos territórios a leste do Reno, atribuindo a esses povos dito ‘germânicos’ um nível intermediário entre a barbárie e a civilização, que não necessitavam da intervenção romana, Jarnut ainda apresenta como opção o uso de termos como “‚Franken‘ und ‚Alemannen‘. Verbreiteter als ethnographischer Oberbegriff war der der ‚gotischen Völker‘, zu denen nicht nur die Ostund die Westgoten, sondern auch die Gepiden und die Vandalen gehörten“ (JARNUT, 2004, p.108), pois para o autor, eram termos mais usuais entre os próprios povos que descrevemos. (JARNUT, 2004; HUGHES, 2017). Outra problemática do uso do termo ‘germânico’, é que ele havia sido utilizado pela historiografia dos séculos XIX e XX para

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GNARUS - 66 justificar crimes contra a humanidade e a expansão dos impérios que se identificavam com o ideal do guerreiro nobre e expansionista (JARNUT, 2004), e que talvez apresente algum sentido para Salama, pois atribui aos vândalos o status de conquistadores e colonizadores europeus. Nesse sentido, o autor parte do princípio de isolamento das comunidades africanas à presença de vândalos e bizantinos que ele julga serem estrangeiros, em oposição ao domínio muçulmano que julga ter apagado “pouco a pouco a influência latina, revelando o inextinguível espírito de independência e a imensa firmeza de objetivos que é a marca imutável da história da África do Norte” (SALAMA, 2010, p.560). Portanto, fica evidente que o autor fala mais de seu próprio período do que sobre os séculos V e VI, logo, o autor comete o uso de anacronismos ao referenciar que supostamente, pelas influências vândalas e romanas não terem persistido até os dias atuais, não mereciam serem julgados como um episódio da História Africana. De acordo com a citação acima, após esse período de ‘dominação europeia’ a África havia permanecido ‘imutável’ revelando este espírito independente, deste modo, devemos considerar que vândalos e romanos foram invasores ou ‘colonialistas’ dos territórios africanos? Ou devemos ainda considerar que a História só é válida quando as necessidades e desejos do presente forem compatíveis com o passado que se coloca como ancestral e imutável? Creio que até aqui, temos referenciado que as relações entre africanos e vândalos que são mais flexíveis e integradoras do que a perspectiva que Salama tenta apresentar, como se estes

africanos estivessem imunes a chegada desses povos, ao fazer isso, ele também passa a rejeitar a própria contribuição desses povos para a ascensão do Reinado Vândalo no Mediterrâneo. Acerca daquilo que Salama (2010) considera um contato inesperado, Hichem Djait (2010) parece discordar, já que define a África do Norte (Magreb) como uma área etnocultural mediterrânico-cristã, que havia sido impulsionado pelos romanos e mantido pelos vândalos “os séculos III e IV são marcados pela predominância de escritos cristãos, especialmente os de Cipriano e Agostinho” (DJAIT, 2010, p.91), dos quais apresentam e representam o posicionamento da cristandade africana e suas contribuições à Igreja de Roma, e também a partir do século V nos fornecendo um panorama histórico dos eventos através do ápice da cultura escrita na África. (DJAIT, 2010). Portanto, fica explícito para nós, que mesmo entre seus colegas da obra sua perspectiva poderia ser reprovada. Afinal, ao considerar os africanos como um grupo separado e imune do contato com os vândalos, Salama rejeita a própria contribuição desses povos na ascensão do Reino Vândalo no Mediterrâneo, e na própria construção da identidade vândala, pois Walter Pohl (2002) expõe que etnia e identidade étnica, são construções socioculturais que tem por objetivo reunir e constituir as aristocracias de um reino sob a percepção de estarem ligados por laços de sangue e/ou interesses mútuos, a estrutura social era adaptativa e possibilitava a incorporação de pessoas com origens distintas, “This model made possible the overthrow of the deeply entrenched paradigm that ethnicity was essentially biological and

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GNARUS - 67 immutable, and permitted the development of a more dynamic understanding of ethnic processes in Late Antiquity and the early Middle Ages” (POHL, 2002, p.221), Andrew Gillet (2002a) define a metodologia de Pohl como uma análise filológica herdada de Reinhard Wenskus e Herwig Wolfram, dois historiadores proeminentes entre as décadas de 60 e 90, portanto, contemporâneos do período que Salama escreve, Gillet ainda considerou esses autores haviam se consolidados como uma ‘ortodoxia’ nos estudos e pesquisas acerca da etnogênese, isto porque, eles vinculam a tradição enquanto ponto-chave das identidades. (GILLET, 2002a, p.3). Como exemplo, podemos observar que Andrew Gillet (2002b) também acredita que etnicidade dos Reinos Pós-Imperiais eram definidoras dos relacionamentos externos, não apenas com romanos, mas também entre germânicos, sendo esta, uma maneira de consolidar estruturas hierárquicas entre povos, através de discursos de poder: “The study of ethnic groups is really the study of the ‘topography of power’ of the early medieval West. Ethnicity is elevated from a circumstantial particular to a shaping ideology” (GILLET, 2002b, p.86). Guy Halshall (2007) parece estar em concordância com Gillet quando refere-se que a etnicidade é uma identidade forjada nos constantes relacionamentos entre povos, destaca ainda que, etnia e identidade podem ser conceitos distintos, mas que se conectam em momentos práticos do contato sociocultural, deste modo, a identidade seria uma característica para o reconhecimento étnico (HALSHALL, 2007), e que portanto, também podem e devem ser replicadas no

contato entre vândalos e africanos. Elikia M’Bokolo (2009) considera que a História Mediterrânica deve obter um aporte metodológico que evidencie as complexas relações africanas estabelecida com povos ‘estrangeiros’ e não mais de uma perspectiva que apenas referencie os processos de chegada e dominação de outros povos no interior da África figurando uma suposta passividade e conformidade, não considerando uma relação de interesse e influencia mutuas. Deste modo, temos observado que apesar do Reino Vândalo não estar totalmente ausente na História Geral da África, as poucas menções que são feitas, ou tem meramente um caráter expositivo, para destacar que houve um período intermediário entre o domínio romano e o domínio muçulmano, ou carregam perspectivas estereotipadas que, além de não terem fundamentação teórico-metodológica, ainda expõe uma compreensão bastante prejudicial a História da África, pois mais uma vez, retira o prestígio de um período que a região do Magreb esteve em grande evidência, e ainda colabora para associar a historiografia medieval a uma visão eurocêntrica, que nada colabora para o seu desenvolvimento, e nem mesmo se aplica as recentes inovações do campo.

A titularia real dos suecos como pretexto para o apagamento. Assim, acreditamos que tenha ocorrido um apagamento intencional do Reino Vândalo na História Geral da África, pela preocupação contemporânea de mais uma vez exporem

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GNARUS - 68 um período de dominação e colonização europeia, em um período de grandes tensões, como as reivindicações de independências africanas. Contudo, como nos apresenta Tefan Donecker (2009) e Roland Steinacher (2004; 2016) os Estados-Nações da Polônia e da Suécia haviam competido pelas reivindicações da ancestralidade étnica e herança históricocultural de godos e vândalos, passando a utilizar as identidades como títulos reais, conforme vemos na figura 1 abaixo. A reivindicação da Polônia, no entanto, baseava-se na suposta origem étnica e geográfica dos vândalos, associada a cultura Przeworsk presente entre os rios Oder e Vistula até o século II, quando ocorre um

aumento gradativo e exponencial da cultura Wielbark, que foi relacionada aos godos, período que marcaria o declínio da cultura Przerworsk nessa região. Steinacher acredita que após terem entrado em conflito com os godos, os vândalos teriam iniciado um êxodo para a regiões próximas ao Danúbio, Haider (2008) também considera que o declínio da cultura Przerworsk foi um efeito de uma migração em massa, contudo, Gauß (2008) ainda aponta que, embora os godos e vândalos fossem reconhecimentos como grupos maiores dentro dessas culturas, não seria possível associá-las à apenas um povo, uma vez que ambas as culturas também integravam outros povos menores. (GAUß, 2008; HAIDER, 2008; STEINACHER, 2016).

Figura 1 – Medalha de prata Gustav II Adolf, 1634.¹

1 Na figura do lado esquerdo, lemos a seguinte inscrição que circunda a medalha: GUSTAVUS ADOLPHUS MAGNUS DEI GRATIA SUECOR[UM]: GOTHOR[UM]: ET VANDALOR[UM]: REX AUGUSTUS, que podemos traduzir como: “Gustav Adolf o grande, pela graça de Deus, venerável rei dos suecos, godos e vândalos”. The British Museum, número de registro: M.1953. Acesso em 28/04/2020. Disponível em: https://www.britishmuseum.org/collection/object/C_M-1953

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GNARUS - 69 Certamente, associar essas culturas aos vândalos e godos não é uma tarefa fácil, e não caberia aprofundar essa relação e análise nesse artigo, mas basta para nós compreender que a Polônia tenta reivindicar seu espaço cultural e político, através da associação de seu povo a esse território e ancestralidade, como Steinacher (2004; 2016) nos apresenta que a primeira tentativa de apresentar os vândalos como ancestrais dos poloneses, havia ocorrido no início do século XIII através do bispo de Cracóvia, Vincentius Kadlubek, que incorporou os vândalos a um conhecido folclore polonês de sua época, como forma de registrar a ‘pré-história’ da Polônia em sua crônica “Den Vandalennamen konstruierte Vincentius nach der sagenhaften Polenkönigin Vanda, deren Untertanen Vandali geheißen haben [...] Vandas Vater Graccus figuriert als erster König Polens. Die Gründung Krakaus wird ihm zugeschrieben” (STEINACHER, 2004, p.346). Dessa forma, seus predecessores seguindo sua crônica foram replicando e aperfeiçoando essa perspectiva. Ainda que os poloneses tenham sido os predecessores da utilização do termo vândalo para compor seus títulos reais, em meados de 1540, Gustav I da Suécia alterou seu título para: “Suecorum, Gothorum et Vandalorum rex”, ou em sueco: “Sveriges, Göthes och Vendes Konung”, portanto, se autointitulando como “Rei dos Suecos, Godos e Vândalos”. É preciso considerar que pouco antes, por volta de 1519, Albert Krantz defendeu a ideia de que as nações da Liga Hanseática tinham uma origem étnica em comum com os vândalos, e passou a considerar e nomear as regiões aos arredores do Mar Báltico como Wandalia, deste modo, ele passa a considerar

um elemento comum entre essas Nações, e encerra com algumas hostilidades provindas de disputas territoriais que se baseavam na ancestralidade étnica permitindo a manutenção e a pacificação entre os povos da Liga ao considerar a identidade vândala em termos mais amplos, do que aqueles defendidos por poloneses deste o século XIII. (STEINACHER, 2004; 2016; DONECKER, STEINACHER, 2009). Donecker e Steinacher (2009) apresentam que a estratégia de Gustav I era reivindicar sua primazia sobre a região Mar Báltico, e também para integrar a realeza finlandesa e reivindicar a posse do atual território da Finlândia. Assim, a adição do termo Vandalorum ou Vendes (Wendes/Wenden a depender da grafia) teria sido um importante elemento de assimilação do Império Sueco, e que colaborou na manutenção do prestígio e status da monarquia sueca na região. Os autores observam também que, a partir do século XVII passam a surgir novos estudos que acreditavam que os vândalos teriam inicialmente surgidos nas regiões da Escandinávia, assim como os godos, e em algum momento de sua pré-história teriam migrado para a Europa Continental, se estabelecendo aos arredores do Báltico. (DONECKER, STEINACHER, 2009). Apresentando assim, uma justificativa e motivação para as guerras que a Suécia travou ao longo dos séculos posteriores, “in der historisierenden Selbstwahrnehmung des frühneuzeitlichen Schwedens, als ein weiterer Beleg dafür, dass das Land zu jeder Zeit imstande war, ruhmreiche Krieger und Eroberer in alle Ecken der Welt zu exportieren” (DONECKER,

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GNARUS - 70 STEINACHER, 2009, p.198). Deste modo, podemos observar que o título apresenta muitos elementos constituídos através de uma compreensão e legitimação histórica que visava, assim como o termo ‘germânico’ apresentado por Jarnut (2004) exibia um ideal do nobre guerreiro e conquistador. Essa percepção certamente foi perpetuada pelos reis suecos que utilizaram o título de “Sveriges, Göthes och Vendes Konung” de 1540 até 1973, como podemos conferir na figura 2 abaixo, que apresenta uma medalha de 1966 com o título e a face de Gustaf VI Adolf, e que nos apresenta um grande sucesso na conservação da hereditariedade do título, sua utilização permaneceu vigorosa até a morte de Gustaf VI Adolf em 1973, que foi considerado o “letzter König der Vandalen” (STEINACHER, 2016, p.349), quando Carl XVI Gustaf sucedeu ao trono e dispensou seu uso,

sendo atualmente reconhecido apenas como “Sveriges Konung”. Portanto, com a coleção tendo sido escrita entre 1960 e 1980, é possível que os africanistas da História Geral da África, observassem os povos vândalos como tendo uma representação histórica e política, cujo seu correspondente era a monarquia sueca, que reivindicou durante vários séculos uma herança cultural e étnica dos vândalos, que correspondiam com o ideal sueco de um povo guerreiro que ascendeu como um dos grandes Reinos Pós-Imperais, conquistando uma importante parte da África do Norte e do Mediterrâneo Ocidental, e portanto, apresentar a História dos Vândalos, poderia ter causado receio do que essa representação poderia ocasionar. Ao menos é esta a perspectiva que, com

Figura 2 – Medalha de ouro Gustaf VI Adolf, 1966.²

2 Observamos ao lado esquerdo da figura, que o título de “rei dos suecos, godos e vândalos” permanece, mas as-

sume uma nova característica linguística, tendo sido escrito em sueco: “GUSTAV VI ADOLF SVERIGES GÖTES OCH VENDES KONUNG”. Digital Museum of Sweden, número de registro: Jvm23637-1-2. Acesso em 30/04/2020. Disponível em: https://digitaltmuseum.se/021027949468/medalj

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GNARUS - 71 exceção de Hichem Djait (2010), os vândalos são retratados, isto é, como colonizadores estrangeiros que não haviam contribuído para a História da África em uma perspectiva mais ampla. Logo, podemos considerar que um dos objetivos propostos na Apresentação do Projeto, escrito por Bethwell Allan Ogot não havia sido cumprido: “Os laços históricos da África com os outros continentes recebem a atenção merecida e são analisados sob o ângulo dos intercâmbios mútuos e das influências multilaterais” (OGOT, 2010, p. XXVIII), e apesar de não terem sido avaliadas as influências mútuas, e tão pouco considerado as relações entre os vândalos e os romanos-africanos, e menos ainda com os povos, ditos mouros, que poderiam sim transformar as perspectivas apresentadas pelos autores dessa coleção, devemos levar em consideração que, em um dos pontos levantados por Ogot, ele escreve: “em larga medida, o fiel reflexo da maneira através da qual os autores africanos veem sua própria civilização” (OGOT, 2010, p.XXVIII). Assim, embora a História Geral da África não seja precisa e apresente alguns estereótipos da História dos Vândalos, essa coleção nos apresenta em alguma medida, como os africanistas e autores africanos consideraram e perceberam essa História, de modo, ainda bastante eurocêntrico e europeizada, com receios bastante explícitos, de novamente replicarem uma África conquistada e colonizada, e que associa os vândalos mais com as descobertas arqueológicas na Europa, do que com a ascensão de seu reino como uma potência do Mediterrâneo, que teve como capital a cidade de Cartago, e que fez com que Sidônio Apolinário observasse no século V o rei vândalo Genserico como um

novo Aníbal. (JIMENEZ, 2012). Certamente esse apagamento e o silêncio dessa historiografia em relação aos vândalos, ainda nos diz muito sobre como não apenas os historiadores têm percebido a História dos Vândalos, mas também em um aspecto mais amplo da História Medieval, que aos poucos tem tomado novas formas que colaboram na manutenção dessa percepção.

Geraldo Rosolen Junior é mestrando em História pela Universidade Federal de São Paulo, pesquisador vinculado ao Laboratório de Estudos Medievais (LEME/UNIFESP), associado ao Núcleo de Estudos Bizantinos e Conexões Mediterrânicas (NEB/UNIFESP) e Bolsista CAPES.

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