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Artigo

O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO CÂNONE NEOTESTAMENTÁRIO (SÉCULO I AO IV D.C.) Por Flávio Henrique Santos de Souza

RESUMO: O propósito desta pesquisa será evidenciar as relações de poder que se encontram por trás dos escritos da Bíblia, isto é, o objetivo será investigar o processo que culminou com a criação do chamado Novo Testamento. Historicamente, nos primeiros séculos das comunidades cristãs, não havia nenhuma referência de leitura obrigatória e universal de apenas 27 livros tidos como sagrados entre os fiéis em seus cultos. Isso ocorreu apenas na segunda metade do século IV. Assim, convém levantar as seguintes indagações: quais teriam sido os critérios gerais para a inclusão dos livros no que, doravante, se chamaria Novo Testamento? Como foi definido que as comunidades cristãs da Antiguidade deveriam ler/ouvir apenas esses 27 livros como “regra de fé”? E, será que todos os grupos cristãos do mundo antigo aceitaram essa compilação de livros? Palavras Chaves: Bíblia, Novo Testamento, Cânone, Acanônico, Cristianismos

Introdução

O

tema deste artigo, num campo geral, é sobre a Bíblia, num campo específico, é relativo ao chamado Novo Testamento.1 A Bíblia é uma

“[...] O termo ‘testamento’ tanto no hebraico como no grego significa ‘acordo’, ‘tratado’ ou ‘aliança’ [...]” (SANTOS, 2006, p. 68-69). Os cristãos que “editaram” a Bíblia cunharam essa divisão entre Antigo e Novo Testamento como se ambos fizessem parte de um processo linear e monolítico pertencentes ao mesmo contexto da fé cristã. De modo que, segundo estes, a primeira “aliança” Deus fez por intermédio de Moisés e a segunda “aliança” foi feita pelo ministério de Jesus. Ambas as partes foram unidas fazendo com que os autores da Bíblia tivessem o mesmo propósito e mensagem nos seus respectivos livros, mas isso faz parte de uma construção teológica. Pois cada autor bíblico 1

das obras literárias mais importantes do mundo que, por sua vez, de certa forma, é uma das mais incompreendidas. Com isso não se quer dizer que apenas os especialistas podem compreendê-la, mas é preciso fazer um grande esforço intelectual para buscar compreender o intuito de cada autor bíblico quando se tem em vista o comprometimento acadêmico na pesquisa e o não comprometimento desta com visões confessionais da Bíblia. Como sublinha o biólogo britânico Richard Dawkins: tem sua própria voz em sua própria conjuntura. Às vezes alguns temas se parecem, porém, cada qual teve seu desígnio subjetivo ao escrever. Bíblia Sagrada. Edição Pastoral-Catequética. São Paulo: Ave-Maria, 2009, p. 8.

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GNARUS - 64 [...] O principal motivo de a Bíblia ter de fazer parte de nossa educação é o fato de ela ser uma importante fonte de cultura literária. A mesma coisa aplica-se às lendas dos deuses gregos e romanos, e aprendemos sobre eles sem que ninguém peça que acreditemos ne-

buído. Ambos os pressupostos se assentam na fé, não na História. Para quem tem fé, que eles sejam vividos na sua plenitude. Mas, em se tratando de pesquisa histórica, eles precisam sair de cena, de modo que cada livro bíblico possa ser lido e pensado no interior de um tempo e espaço específicos” (CHEVITARE-

les (DAWKINS, 2007, p. 347-348).

Desse modo, quando a Bíblia é tida como uma grande fonte literária, pode-se até extrair uma gama de exemplos salutares e inspiradores em certas narrativas, tais como: o exercício do perdão (Mateus 5:43-44), o amor a humanidade (1 Coríntios 13), a prática da humildade (Filipenses 2:3), etc. Contudo, na pesquisa histórica, a Bíblia deve ser utilizada sem filtros de leituras fundamentalistas2 para atestar “teologias subjetivas”. Porque cada texto bíblico precisa ser tratado como documento passível de ser analisado e escrutinado como qualquer outra fonte produzida por seres humanos. De acordo com o historiador André Leonardo Chevitarese, existem dois pressupostos teológicos que pervadem o dia a dia de muitos brasileiros: “De que a Bíblia se constitui como uma obra a parte de todas, tendo por qualidade especial e única, o fato de ter sido entregue por Deus à humanidade. Soma-se a isso, o recente critério da inerrância que lhe foi atriO fundamentalismo teológico “acredita que a verdade revelada por Deus na Bíblia não evolui, não cresce e nem muda” (LOPES, 2008, p. 185). Portanto, segundo os fundamentalistas, a Bíblia tem que ser analisada como uma “revelação progressiva” desde o Antigo Testamento até a chegada de Jesus, onde se têm o cumprimento de muitas “profecias” veterotestamentárias em sua pessoa e novos “vaticínios” proferidos em relação ao fim dos tempos (escatologia). Pois cada escritor bíblico foi divinamente inspirado, de sorte que a mensagem de cada qual pode ser aplicada na vida pessoal não importando o tempo ou espaço históricos. Expedições bélicas do século XI que tinham um caráter político-religioso. As Cruzadas ou “guerras santas” foram defendidas pelo Papa e a Igreja, e, um dos objetivos das guerras era recuperar a cidade de Jerusalém que foi conquistada pelos muçulmanos. Além disso, as guerras visavam “defender” a cristandade dos inimigos internos e externos (LOYN, 1997, p. 272-274). 2

SE, 2016, p. 11).

Ao longo da história, muitas pessoas utilizaram a Bíblia como anuência para criar guerras, dominações e perseguições em nome de Deus (Cruzadas,3 Inquisição,4 colonizações,5 imperialismos,6 etc.). Ações essas que acarretaram na morte de milhares de pessoas. Entretanto, pode-se visualizar também que ao longo do tempo, pensadores cristãos surgiram com perspectivas mais humanitárias justificando suas ações com textos bíblicos. A saber: no século XVI, alguns reformadores buscaram alfabetizar a população europeia Expedições bélicas do século XI que tinham um caráter político-religioso. As Cruzadas ou “guerras santas” foram defendidas pelo Papa e a Igreja, e, um dos objetivos das guerras era recuperar a cidade de Jerusalém que foi conquistada pelos muçulmanos. Além disso, as guerras visavam “defender” a cristandade dos inimigos internos e externos (LOYN, 1997, p. 272-274).

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Sacra Congregação da Inquisição Universal. A Inquisição foi um instrumento de investigação e reprimenda aos chamados hereges. Sendo utilizado pela Igreja Católica durante a Idade Média, no século XIII, e após a Reforma Católica no século XVI (SILVA, 2009, p. 234-238). 4

Colonizações dos séculos XV e XVI, onde “novas” regiões na América foram ocupadas e povoadas por europeus. Alguns colonizadores (portugueses, espanhóis, etc.) conquistaram e dominaram os nativos desses “novos” territórios. Portanto, estas colonizações foram dominações políticas, culturais, sociais, entre outras (Ibid., p. 67-68). Mas no discurso dos colonizadores era proferido que os mesmos estavam levando a “Palavra de Deus” aos povos indígenas.

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“Entre 1870 e 1914, a Europa ocidental e os Estados Unidos arquitetaram a conquista política, econômica e cultural da África, Ásia, Oceania e América Latina. Repartiram o mundo entre si e organizaram poderosos impérios coloniais que só tinham em comum o desenvolvimento da acumulação capitalista” (BRUIT, 1994, P. 5). Como justificativa ideológica, os países imperialistas diziam que levariam a “civilização”, a cultura e o cristianismo aos países “atrasados”. 6

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GNARUS - 65 que era predominantemente analfabeta, pois tendo a Bíblia impressa7 em idioma local facilitou bastante na tarefa de proselitismo; no século XX, teólogos cristãos criaram a chamada Teologia da Libertação,8 por meio desta, os seus correligionários tinham o objetivo de acudir aos necessitados da América Latina, lutar por mais justiça social no continente etc. Assim, pode-se dizer que a Bíblia (e todos os livros tidos como sacros) é um livro muito humano interpretado por meros mortais. A Bíblia foi escrita por dezenas de autores que viveram em épocas e lugares diferentes. Como pontua o teólogo estadunidense Bart Ehrman: “Enquanto o Novo Testamento, composto de 27 livros, foi escrito por talvez 16 ou 17 autores ao longo de setenta anos, o Antigo Testamento, as Escrituras judaicas, consiste em 39 livros escritos por dezenas de autores ao longo de pelo menos seiscentos anos” (EHRMAN, 2010, p. 38).9

Destarte, cada autor bíblico ao escrever continuou com suas próprias predileções (1 Coríntios 7:1-7), culturas (2 Pedro 3:15-16) etc. Portanto, ao se fazer uma leitura bíblica mais

atenta, nas entrelinhas ou de forma clara e categórica pode ser visto os preconceitos (Marcos 16:16), ódios (João 8:44) e “ideologias” (Mateus 27:24-25) que foram sendo transmitidos por alguns de seus autores.

Faz-se necessário salientar que o escopo desta pesquisa não é de fazer investidas históricas à fé. Haja vista que o cristianismo é a maior religião do mundo (tem aproximadamente 2,18 bilhões de adeptos)10 e muitos dos seus seguidores veneram a Bíblia como a “Palavra de Deus”. Assim, para muitos cristãos a Bíblia é divinamente inspirada, pois, segundo estes, Deus esteve no controle do processo de formação do cânon.11 Nesse sentido, todos os livros que se encontram na Bíblia foram “selecionados pelo próprio Deus”, mas enxertados no cânone pelos clérigos a fim de preservar a “revelação da pessoa de Deus e seus desígnios” aos seus filhos. Nesta pesquisa histórica a Bíblia é um documento e assim será analisada como tal. Em consonância a isso, o autor britânico Paul Johnson que é um historiador cristão católico ressalta: “Um cristão com fé nada tem a temer dos fatos; um historiador cristão que estabelece limites para o campo de investigação, em qualquer ponto que seja, está admitindo os limites de sua fé. E, naturalmente, também destruindo a natureza de sua religião [...]”

Na década de 1450, o alemão Johannes Gutenberg desenvolveu um método de impressão de livros. A primeira obra impressa foi a Bíblia. 7

8 Vertente teológica nascida em 1968, na América Latina, onde se notabilizou pela fusão que os teólogos latino-americanos fizeram de alguns aspectos das ciências modernas e, especificamente, do marxismo com elementos dos Evangelhos. Para esses teólogos “a religião, que até então estava do lado da ‘aceitação’ do mundo tal como Deus o permite, passou para o lado da ‘revolução’, visando superar a dominação e instaurar um mundo de justiça e de paz, assim como Deus o quer” (CATÃO, 1986, p. 8).

Isso no caso da Bíblia protestante, pois para os católicos, o Antigo Testamento é composto de 46 livros. Portanto, sete a mais além dos 39 da Bíblia protestante. A saber: Livro de Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc. Além disso, os livros de Ester e Daniel estão com algumas adições. Já o Novo Testamento é igual ao dos protestantes. 9

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Disponível em: http://www.cnbb.org.br/cristaos-no-mundo-7-bilhoes-de-pessoa-dizem-professar-a-fe-cristasegundo-instituto-de-pesquisa-pew-research/. Acesso em: 1 de agosto de 2018.

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Cânon ou cânone podem ser entendidos como a “coleção estabelecida de livros sagrados”, de forma específica, quando se tratar do Antigo ou Novo Testamento. O termo significa “margem estreita” ou “instrumento de medição”. Mas no âmbito cristão se tornou um paradigma e uma espécie de regra a ser seguida em relação aos livros aceitos pelos clérigos que se fizeram “ortodoxos” (SANTOS, 2006, p. 84-85). Durante esta pesquisa, os dois termos serão utilizados de forma aleatória mantendo o mesmo significado. 11

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GNARUS - 66 (JOHNSON, 2001, p. 8).

O intento deste artigo tem como ponto alto as discussões do longo processo que culminou com a feitura do chamado Novo Testamento enfocando as relações de poder, as ambiguidades e as indefinições que estão presentes nessa conjuntura. O interesse por este tema se dá pela constatação que o mesmo ainda tem sido pouco estudado pela historiografia brasileira, de modo que as instituições religiosas e os seminários teológicos ainda detêm o “monopólio” sobre o assunto. A Bíblia é o baluarte cultural da civilização ocidental. Dito isso, Dawkins, que é um “fervoroso” ateu, declara: “[...] Uma visão de mundo ateísta não é justificativa para excluir a Bíblia, e outros livros sagrados, de nossa educação. E é claro que podemos manter uma lealdade sentimental às tradições culturais e literárias, por exemplo, do judaísmo, do anglicanismo ou do islã, e até participar de rituais religiosos como casamentos e enterros, sem aderir às crenças sobrenaturais que historicamente acompanham essas tradições. Podemos abrir mão de acreditar em Deus sem perder contato com uma história valiosa” (DAWKINS, 2007, p. 350).

Desse modo, acredita-se que os estudos sobre o Novo Testamento (e a Bíblia como um todo) têm mais sentido quando são feitos à luz das culturas da Antiguidade.

2. Muitos livros: Apenas 27 são “pemitidos” Nas comunidades cristãs antigas, existiam diversas formas de organização em relação à liturgia, à doutrina etc. Como também uma grande diversidade no aspecto relacionado aos textos considerados sagrados por cada comunidade, porquanto

Atanásio de Alexandria “[...] numerosos evangelhos circulavam entre diversos grupos cristãos, além daqueles que compõem hoje o NT, como o Evangelho de Tiago, o Evangelho de Filipe, o Evangelho de Pedro, o Evangelho da Verdade e muitos outros poemas e hinos secretos atribuídos a Jesus ou a alguns de seus discípulos” (FRANGIOTTI, 1995, p. 32).

Com efeito, antes da primeira metade do século IV, era inconcebível se ter uma compilação rígida de vinte e sete livros autorizados para todas as comunidades cristãs. Porque além dos muitos Evangelhos que circulavam na Antiguidade ainda existiam Apocalipses, Epístolas, Atos dos Apóstolos e toda sorte de documentos que eram atribuídos aos apóstolos, aos discípulos de apóstolos, entre outros. “Os livros já existiam, mas eram rolos que eram desenrolados para que pudessem ser lidos” (CHEVITARESE; FUNARI, 2016, p. 10). A partir do segundo século, uma gama de “teólogos” e grupos cristãos apareceram postulando seus livros tidos como sagrados.

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GNARUS - 67 Porém, o processo de elaboração do cânone neotestamentário foi lento, gradual e contínuo. Pois apenas no século IV, como aludido anteriormente, é que houve a enumeração dos “textos sacros”, isto é, dos vinte e sete que seriam “permitidos”. Essa lista foi sugerida pelo bispo Atanásio de Alexandria, no Egito. Mas, quais teriam sido os critérios para a escolha dos livros “autorizados” ou “proibitivos”?

nota daquilo que teria sido ensinado por ele. Aliás, a maior parte dos discípulos era analfabeta e falava aramaico. Sendo que os Evangelhos foram escritos em grego. Como que pescadores e camponeses rústicos poderiam aprender grego, visto que só os nobres tinham uma educação elevada? Os autores dos Evangelhos tinham alto nível de letramento e escreveram em grego comum (koiné) que era uma forma popular.

Como ponto de partida, os livros que deveriam fazer parte do cânon do chamado Novo Testamento teriam que ser atribuídos a apóstolos ou seguidores de apóstolos. Logo, foi criado uma tradição de apostolicidade dos textos. Assim, os textos que deveriam ser inclusos tinham que pertencer a essa primeira categoria, pois

No século II, muitas propostas de cânone começam a aparecer e, mais tarde, por conta disso, os cristãos que se fizeram “ortodoxos” elaboraram os possíveis critérios para a inclusão dos livros aceitos, a saber: a apostolicidade, a antiguidade, a “ortodoxia” e o uso predominante dos textos entre as comunidades cristãs.

“[...] em parte de modo a garantir aos leitores que eles foram escritos por testemunhas oculares. Uma testemunha ocular merecia confiança de que iria contar a verdade sobre o que realmente aconteceu na vida de Jesus” (EHRMAN, 2010, p. 137).

Em 140 d.C., os marcionistas, grupo cristão formado pelos seguidores de um “teólogo” da Ásia Menor chamado Marcião (85-160 d.C.), tinham seu cânone próprio. A teologia de Marcião, em resumo, dizia que existia um Deus no Antigo Testamento e um Deus no Novo Testamento. O veterotestamentário era julgador e iracundo. Já o neotestamentário, era o Deus de Jesus que veio salvar os pecadores da punição eterna e do Deus do Antigo Testamento. Assim, a relação de livros desse grupo era a seguinte: uma versão do Evangelho de Lucas, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Flipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses e Filêmon. Marcião excluiu todo o Antigo Testamento dessa relação devido ter referências ao Deus colérico dos judeus.

Porém, os quatro Evangelhos canônicos são anônimos, mas que foram colocados sob autoria de apóstolos12 e seguidores de apóstolos. Com efeito, os clérigos para chancelar autoridade aos textos neotestamentários nomearam alguns como sendo de apóstolos que, por sua vez, viveram nos tempos de Jesus ou acompanharam seu ministério público. Como também nomearam outros como sendo de companheiros de apóstolos, pois segundo essa tradição cristã, Lucas teria acompanhado Paulo em suas viagens missionárias e Marcos teria certa proximidade com Pedro. Mas em nenhum momento enquanto Jesus perambulava com seus discípulos pela Palestina antiga, existiram pessoas tomando “Historicamente, apóstolo é alguém enviado a uma missão por Jesus [...]” (SANTOS, 2006, p. 38).

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No século XVIII, foi publicado o chamado Cânone Muratori que recebeu esse nome por conta da sua descoberta feita pelo pesquisador italiano Ludovico Antonio Muratori. A descoberta desse documento se deu em 1740

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GNARUS - 68 numa biblioteca em Milão. Não há consenso sobre a sua datação, pois alguns especialistas o datam como sendo do século VIII. Mas para alguns pesquisadores a lista de livros “sagrados” contida no fragmento, pode remontar ao século II, mais especificamente em 170 d.C. A relação de livros coligidos nesse canône ficou assim: o Pastor de Hermas,13 quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) Atos dos Apóstolos, duas cartas joaninas (não são mencionadas quais), as “treze”14 cartas paulinas, Apocalipse de Pedro15 e Sabedoria de Salomão.16

Ainda no ano de 180 d.C., o bispo grego Irineu de Lion (130-202 d.C.) estabeleceu que seu cânone seria o seguinte: quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), 1 João, 1 Pedro, cartas paulinas (não listadas), Sabedoria de Salomão e o Pastor de Hermas.

Em 180 d.C., o “teólogo” grego Clemente de Alexandria (150-217 d.C.), elencou também seu cânon que teria ficado desta forma: quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), cartas paulinas (que não foram listadas), Atos dos Apóstolos, Hebreus, Judas, Epístola de Barnabé17 e Apocalipse de Pedro.

É notório que dentre todas essas propostas de cânones os quatro Evangelhos foram aderidos por todos, exceto por Marcião que só aderiu o Evangelho de Lucas com algumas alterações, pois tudo que fazia menção ao Antigo Testamento foi retirado desse Evangelho também por ele.

Sua data provável é de meados do século II, em resumo, é um “livro proto-ortodoxo que registra visões reveladas ao Hermas, interpretadas por figuras angelicais, incluindo uma na forma de um pastor” (EHRMAN, 2012, p. 16).

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Muitos estudiosos do Novo Testamento concordam que Paulo escreveu apenas sete epístolas legítimas. Dentre as quais estão: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses e Filêmon (Ibid., 2013, p. 98). 14

Sua data provável é de meados do século II, em resumo, o livro mostra “uma visão proto-ortodoxa das habitações dos abençoados e dos condenados, narrado pelo apóstolo Pedro” (Ibid., 2012, p. 15). 15

O “teólogo” e filósofo egípcio Orígenes (185-284 d.C.), em 185 d.C., propôs um cânon organizado-o assim: quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), 1 e 2 Pedro, 1 João, cartas paulinas (não mencionadas), Hebreus e Apocalipse.

Além dessas propostas canônicas supracitadas, existiam também diversos grupos de cristãos chamados de gnósticos. Para alguns desses grupos, o indivíduo seria salvo da danação eterna pelo conhecimento secreto e não pela fé. Portanto, Jesus veio transmitir conhecimentos secretos para a salvação, com isso, os gnósticos iam de encontro aos “ortodoxos” que diziam que a crença na morte e “ressurreição” de Jesus viabilizaria a vida eterna. Alguns grupos de gnósticos utilizavam como texto sagrado o Evangelho Copta de Tomé,18 o Evangelho da Verdade,19 entre outros. Segundo o professor de religião Ja-

Sua data provável remonta às últimas décadas do século I a.C., em resumo, “o conteúdo deste livro é um louvor à sabedoria divina [...]. A finalidade do autor, que se dirige aos judeus moradores no Egito, é acautelá-los contra um duplo perigo, a saber: serem desencaminhados pela filosofia grega, e serem tentados a abandonar o culto de um Deus único”. Bíblia Sagrada. Edição Pastoral-Catequética. São Paulo: Ave-Maria, 2009, p. 25.

18 Sua data provável é da primeira metade do século II, em resumo, é uma espécie de “coleção de ditos de Jesus, alguns possivelmente de Tomé autênticos, outros incorporando preocupações gnósticas; descoberta em Nag Hammadi” (EHRMAN, 2012, p. 12).

Sua data provável é 135 d.C., em resumo, é uma “carta proto-ortodoxa supostamente escrita por Barnabé, companheiro de Paulo, que argumentava que o judaísmo é uma falsa religião e que o Velho Testamento é um livro cristão” (EHRMAN, 2012, p. 14).

Sua data provável é de meados do século II, em resumo, é uma “celebração gnóstica das alegrias da salvação trazidas pela revelação por Cristo do conhecimento verdadeiro; descoberta em Nag Hammadi” (Ibid., p. 12).

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GNARUS - 69 mes M. Robinson: “O Gnosticismo cristão, consequentemente, emergiu como uma reafirmação, ainda que em termos diferentes, da postura original de transcedência que nos remete aos primórdios do Cristianismo. Esses cristãos gnósticos, certamente, consideravam-se a continuação fiel, sob circuntâncias variáveis, daquela postura que fez dos cristãos. Entretanto, o que chamamos “ainda que em termos diferentes” e “sob circunstâncias variáveis” implica divergências autênticas, sob as quais outros cristãos, de forma clara, consideravam o Gnosticismo uma traição à postura cristã original. Essa era a convicção não apenas daqueles que haviam se acomodado ao status quo, mas, sem dúvida alguma, também àqueles que conservaram todo o vigor do protesto original e da esperança eterna. O afastamento da linguagem original poderia ter sido explorado como união opositora dentro do raio de alcance da Igreja. Consequentemente, os gnósticos foram banidos da Igreja como hereges” (ROBINSON, 2007, p. 19).

Outro grupo de cristãos da Antiguidade que também tinha livros considerados sagrados era o dos ebionitas. Este, era formado por judeus que se converteram à fé cristã e viam em Jesus alguém enviado por Deus. Todavia, em matéria de conversão de gentios aos preceitos cristãos, era preciso seguir os ritos e costumes judaicos para ser aceito na comunidade ebionita. Dessa forma, os livros “sagrados” para os ebionitas eram todos os do Antigo Testamento, o Evangelho dos Ebionitas20 e uma adaptação do Evangelho de Mateus, “mas sem os dois primeiros capítulos, que narram o nascimento virginal” (EHRMAN, 2010, p. 243). Isso porque só poderia haver um Deus, por isso, Jesus para eles era o filho de José e Maria e não de Deus. Além disso, era também o Messias,21 que para muitos judeus 20

Sua data provável é da primeira metade de século II, em resumo, é “um evangelho usado por cristãos judeus ebionitas, incorporando suas preocupações antissacrificiais; possivelmente uma compilação de relatos canônicos” (Ibid., p. 11).

Messias é um termo hebraico cujo seu equivalente em grego é Cristo, ou seja, significa “o ungido”. No âm-

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era uma pessoa enviada por Deus para trazer uma consciência espiritual aos indivíduos, para “aplainar” os caminhos dos fiéis os direcionando ao “verdadeiro” Deus e para tomar o poder “terreno” pela força. Com todos esses livros considerados sacros por grupos cristãos, não se havia ainda algo “oficial” e fixo a ser seguido de maneira universal no âmbito dos cristãos do mundo antigo, porquanto “[...] a primeira relação indicando precisamente os 27 livros que conhecemos hoje como Novo Testamento é de autoria do bispo de Alexandria, Atanásio, em uma carta para seu rebanho, em 367 d.C. Atanásio considerou úteis outros livros [...], mas não como parte do cânon. Sua relação foi aprovada pelo Concílio de Hipona, em 393 d.C., e de Cartago, em 397 d.C., e foi a partir dessa época que o cânon do Novo Testamento tornou-se “oficial” (HILL, 2008, p. 69).

Interessante notar que o bispo egípcio Atanásio (296-373 d.C.)22 tinha uma certa predileção por outros livros, os quais serão vistos a seguir, mas vetava a inclusão deles no cânon. Isso se deu devido a vários embates com outros textos tidos como sagrados. Contudo, para alguns grupos minoritários de cristãos que foram proibidos de ler/ouvir os textos para além dos vinte e sete “oficiais”, essa postura dos “ortodoxos” foi um ataque às suas crenças. Pois esses textos que, mais tarde, não entraram no cânon, faziam parte do conjunto de textos que compunham a “Palavra de Deus”. De modo que mesmo com a bito judaico, para muitos grupos religiosos, o Messias nunca foi considerado como Deus propriamente dito. Porém, era visto como um mediador entre Deus e os homens para que a vontade de Deus grassasse na Terra (EHRMAN, 2010, p. 316). Em 325 d.C., Atanásio participou do Concílio de Niceia como diácono e foi ao concílio conjuntamente com a comitiva do bispo Alexandre de Alexandria, no Egito. Em 328 d.C., Atanásio se tornou bispo de Alexandria (HILL, 2008, p. 82). 22

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GNARUS - 70 proibição de tê-los em elevada estima, estes continuaram com suas reverências e os utilizavam como “regra de fé”.

3. Relações de poder com os livros “Sacros” Tertuliano (160-220 d.C.), “teólogo” africano nascido na província de Cartago, é considerado pelos cristãos como um dos Pais da Igreja.23 Tertuliano combateu os livros tidos como “heréticos”, pois asseverava que “[...] os hereges não apenas interpretam incorretamente as Escrituras – de fato não tinham, absolutamente, o direito de lê-las porque não as liam de acordo com os preceitos das igrejas. As Escrituras, concluiu obstinadamente Tertuliano, eram propriedade das igrejas e dos cristãos ortodoxos, como ele próprio, e os hereges estavam transgredindo esse fato” (apud HILL, 2008, p. 69).

Assim, mais tarde, para os cristãos autonomeados de “ortodoxos” os textos neotestamentários deveriam ser apenas os vinte e sete24 que só deveriam ser manuseados pelos “sacerdotes oficiais”, pois estes saberiam interpretá-los devidamente à luz das tradições e normas da Igreja. Os Pais da Igreja debateram acerca de mais ou menos trezentos anos para decidir quais livros seriam aceitos como a “Palavra de Deus”. Mas não houve unanimidade entre os grupos cristãos existentes, pois existiam cristãos a favor do Apocalipse de Pedro, do Evangelho de Pedro,25 do Apocalipse Copta “Teólogos” dos séculos II ao VIII. Seus escritos e reflexões teológicas são nomeados como Patrística. 23

Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos dos Apóstolos, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filêmon, Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2, e 3 João, Judas e Apocalipse.

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Sua data provável é da primeira metade do século II, em resumo, é uma “narrativa fragmentada do julgamento, morte e ressurreição de Jesus, com um re25

de Pedro,26 do Evangelho (da infância) de Tomé,27 da Epístola de Barnabé, de 3 Coríntios,28 dos Atos de Paulo,29 entre outros. Todos esses não entraram no cânone. Mas por que não entraram? Pelo simples fato de contrariar a “teologia” que os Pais da Igreja tinham criado como a “verdadeira” a ser seguida e alguns por serem falsificações. Mesmo assim, alguns grupos de cristãos continuaram a utilizar esses textos. Os cristãos dos séculos II e III podem ser chamados de proto-ortodoxos (EHRMAN, 2010, p. 248) e entre seus correligionários existiam algumas diferenças muito pequenas, contudo, foi o grupo que venceu todos os outros e se impôs como o “verdadeiro” legatário da mensagem de Jesus e dos apóstolos após o Concílio de Niceia (325 d.C.):30 As principais doutrinas ortodoxas são aquelas que acabaram se tornando os credos cristãos: há um só Deus, ele é o criador de tudo o que há; portanto a criação é inerentemente boa, mesmo que conspurcada pelo pecado. Jesus, seu filho, é ao mesmo tempo lato de seu surgimento da tumba; provavelmente o Evangelho proscrito pelo bispo Serapião no século II” (EHRMAN, 2012, p. 12). Sua data provável é do século III, em resumo, é “uma revelação gnóstica tida por Pedro que mostra o erro da crença proto-ortodoxa de que a salvação vem por meio da morte física real de Jesus” (Ibid., p. 15). 26

Sua data provável é da primeira metade do século II, em resumo, é um “divertido relato dos atos milagrosos de Jesus entre os 5 e os 12 anos de idade” (Ibid., p. 12). 27

Sua data provável é da segunda metade do século II, em resumo, ela é “escrita por ‘Paulo’ aos coríntios para opor-se às alegações de dois professores gnósticos e para enfatizar doutrinas proto-ortodoxas de Deus, da criação e da carne” (Ibid., p. 14).

28

29 Sua data provável é do fim do século II, em resumo, é “um texto composto das atividades missionárias e feitos milagrosos do apóstolo Paulo, que inclui os Atos de Tecla e 3 Coríntios” (Ibid., p. 13).

Para um aprofundamento sobre o Concílio de Niceia, ver: SOUZA, F. H. S. O Arianismo No Concílio De Niceia (325 d.C.). GNARUS REVISTA DE HISTÓRIA, v. 9, p. 7687, 2018. Disponível em: https://issuu.com/fernandogralha/docs/9-gnarus9-artigo-o_arianismo_no_con. Acesso em: 23 de setembro de 2018. 30

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GNARUS - 71 humano e divino, e não é dois seres [...], mas um só; ele trouxe a salvação não por intermédio de conhecimento secreto, mas ao derramar seu sangue verdadeiro (EHRMAN, 2010, p. 249).

Entre 300 e 325 d.C., foi escrito em grego um dos mais antigos manuscritos chamado de Códice Vaticano, pois pertence à Biblioteca do Vaticano desde 1481. Neste, contém os quatro Evangelhos canônicos, os Atos dos Apóstolos, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2, e 3 João e Judas. Porém, nesse códice, “faltam alguns fragmentos do Novo Testamento” (HALLEY, 2001, p. 848). Além disso, não contém o Apocalipse. Em 1844, foi encontrado pelo pesquisador alemão L. F. K. von Tischendorf, (Ibid.,: 848) no sopé do monte Sinai, um manuscrito chamado por conta disso de Códice Sináitico. Acredita-se que a sua datação remonta ao século IV, entre 330 e 360 d.C. Nesse documento, foram encontrados os vinte e sete livos “tradicionais” do Novo Testamento completos e ainda um acréscimo com o Pastor de Hermas, a Epístola de Barnabé, o Proto-Evangelho de Tiago,31 3 Coríntios, entre outros. Com essa descoberta arqueológica do século XIX, pode-se atestar que entre o início e a metade do quarto século, o cânone neotestamentário ainda não estava “globalmente” fixado com apenas seus vinte e sete livros. O bispo Eusébio de Cesareia (270-329 d.C.),32 em sua História Eclesiástica, decidiu Sua data provável é de meados do século II, em resumo, é “uma narrativa influente do nascimento, juventude e noivado de Maria, a mãe de Jesus, e do próprio nascimento milagroso de Cristo” (EHRMAN, 2012, p. 13).

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Sacerdote cristão que foi bispo de Cesareia (atual litoral mediterrâneo de Israel) a partir de 313 d.C. Eusébio é considerado por alguns teólogos como o “Pai da História da Igreja”, pois entre seus escritos cons32

discutir também sobre as chamadas “Escrituras divinamente inspiradas” e as demais que não poderiam ser consideradas como tais. Esta discussão se tornaria a base para a visão tida como “ortodoxa” na formulação do “cânone oficial” que, posteriormente, sofreu algumas alterações. Eusébio escreveu: 1. [...] É hora de recapitular os escritos do Novo Testamento já mencionados. Em primeiro lugar temos que colocar a tétrade santa dos Evangelhos, aos quais segue-se o escrito dos Atos dos Apóstolos. 2. Depois deste há que se colocar a lista das Cartas de Paulo. Depois deve-se dar por certa a chamada Primeira de João, assim como a de Pedro. Depois destas, se está bem, pode-se colocar o Apocalipse de João, sobre o qual exporemos oportunamente o que dele se pensa. 3. Estes são os ditos admitidos. Dos livros discutidos, por outro lado, mas que são conhecidos da grande maioria, temos a Carta dita de Tiago, a de Judas e a segunda de Pedro, assim como as que se diz serem segunda e terceira de João, sejam do próprio evangelista, seja de outro com o mesmo nome. 4. Entre os espúrios sejam listados: o escrito dos Atos de Paulo, o chamado Pastor e o Apocalipse de Pedro, e além destes, a que se diz Carta de Barnabé e a obra chamada Ensinamento dos Apóstolos, e ainda, como já disse, talvez, o Apocalipse de João: alguns, como disse, rechaçam-no, enquanto outros o contam entre os livros admitidos. 5. Alguns ainda catalogam entre estes inclusive o Evangelho dos hebreus, no qual são muito contemplados os hebreus que aceitaram Cristo. Todos estes são livros discutidos. 6. Mas creio ser necessário que exista um catálogo destes também, distinguindo os escritos que, segundo a tradição da Igreja, são verdadeiros, genuínos e admitidos, daqueles que diferentes destes por não serem testamentários, mas discutidos, ainda assim são conhecidos pela grande maioria dos autores eclesiásticos, de modo que possamos conhecer estes livros e os que com o nome dos apóstolos foram divulgados pelos hereges, alegando que se tratem seja dos Evangelhos de Pedro, de Tomás, de Matias ou mesmo de algum outro, ou ainda dos Atos de André, tam relatos sobre os paleocristianismos, onde o autor começou a discorrer desde os tempos apostólicos até o século IV (CESAREIA, 2002, p. 4).

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GNARUS - 72 de João e de outros apóstolos. Jamais um só dentre os escritores ortodoxos julgou digno mencionar estes livros em seus escritos.

(ou Tomás) e Matias,35 e, os Atos de André36 e João.37

7. Mas ocorre que a própria índole do fraseado difere enormemente do estilo dos apóstolos, o pensamento e a intenção do que neles está contido destoa ainda mais da verdadeira ortodoxia: claramente demonstram ser invenções de hereges. Por isso não devem ser incluídos nem mesmo entre os espúrios, mas devemos rechaçá-los como inteiramente absurdos e ímpios [...] (CESAREIA, 2002, p. 66).

Com todos esses livros, os clérigos buscaram métodos para “reconhecer” quais textos eram adequados e quais seriam descartados da composição do “cânone oficial”. O primeiro critério para “reconhecer” o texto “sagrado”, como referido anteriormente, era sua apostolicidade, ou seja, era defendido que o texto tinha que ser advindo dos apóstolos ou pessoas que teriam convivido com os mesmos; o segundo critério seria a antiguidade, isto é, deveria ter sido escrito nos primórdios da Igreja; o terceiro critério para “identificar” o texto “sacro” foi, logicamente, pelo viés teológico, isto é, o texto deveria corroborar com os ensinamentos da maioria tida como “ortodoxa”; o quarto e último critério era constatar-se de que a utilização do texto era feita por grupos predominantes de cristãos.

Para Eusébio, as Epístolas de Tiago, Judas, 2 Pedro e 2 e 3 João despertaram muitos debates acalorados quanto à inclusão no cânon e foram colocadas em uma espécie de segunda categoria, pois ainda havia muitas contestações e discussões sobre elas. Mas a maior parte dos cristãos as conhecia. Na terceira categoria estavam os livros considerados por Eusébio como espúrios, porém, para outros cristãos eram a “Palavra de Deus”, portanto, legítimos. Dentre os quais se encontravam: os Atos de Paulo, o Pastor de Hermas, o Apocalipse de Pedro, a Epístola de Barnabé, a Didaqué,33 Apocalipse de João (talvez) e o Evangelho Segundo os Hebreus.34 Na quarta e última categoria, para Eusébio de Cesareia, constava os livros abomináveis, portanto, tidos como textos “heréticos”. São eles: os Evangelhos de Pedro, Copta de Tomé

Sua data provável é de 100 d.C., em resumo, é um “manual proto-ortodoxo da igreja que discute ética cristã (os “dois caminhos”), rituais como batismo, Eucaristia e vida em comunidade” (EHRMAN, 2012, p. 14).

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Sua data provável é da primeira metade do século II, em resumo, é “um evangelho que registra os eventos da vida de Jesus, possivelmente incorporando ideias gnósticas, utilizado por cristãos judeus no Egito” (Ibid., p. 11).

Em 367 d.C., o bispo Atanásio de Alexandria escreveu a sua 39ª Carta Pascoal. Esta evidenciava quando ocorreria a comemoração da Páscoa naquele ano, listava os livros do Antigo Testamento e, sobretudo, salientava o que se tornaria a consolidação do cânone neotestamentário. Atanásio escreveu: 5. Again it is not tedious to speak of the [books] of the New Testament. These are, Atribuído ao apóstolo Matias que foi o sucessor de Judas Iscariotes (Atos 1:15-26). É um Evangelho perdido que não se sabe a sua datação e conteúdo. De modo que ele é conhecido [...] “apenas através de umas poucas citações de Clemente de Alexandria” (150-215 d.C.) (EHRMAN, 2012, p. 34). 35

36 Sua data provável é do século II, em resumo, o livro “apresenta uma série de eventos e situações domésticas que supostamente ocorreram durante o ministério do apóstolo André na cidade de Patras”, na Grécia (NETO; SILVA; ANTONIO, 2017, p. 221).

Sua data provável é da segunda metade do século II, em resumo, é “um relato episódico das atividades missionárias e dos feitos milagrosos do discípulo João, filho de Zebedeu, missionário em Éfeso” (EHRMAN, 2012, p. 13). 37

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GNARUS - 73 the four Gospels, according to Matthew, Mark, Luke, and John. Afterwards, the Acts of the Apostles and Epistles (called Catholic), seven, viz. of James, one; of Peter, two; of John, three; after these, one of Jude. In addition, there are fourteen Epistles of Paul, written in this order. The first, to the Romans; then two to the Corinthians; after these, to the Galatians; next, to the Ephesians; then to the Philippians; then to the Colossians; after these, two to the Thessalonians, and that to the Hebrews; and again, two to Timothy; one to Titus; and lastly, that to Philemon. And besides, the Revelation of John. 6. These are fountains of salvation, that they who thirst may be satisfied with the living words they contain. In these alone is proclaimed the doctrine of godliness. Let no man add to these, neither let him take ought from these. For concerning these the Lord put to shame the Sadducees, and said, ‘Ye do err, not knowing the Scriptures.’ And He reproved the Jews, saying, ‘Search the Scriptures, for these are they that testify of Me.’

paulino. Além disso, os livros de Sabedoria de Salomão, Sabedoria de Siraque (Eclesiástico),39 Ester, Judite,40 Tobias,41 Ensinamento dos Apóstolos (Didaqué) e o Pastor (de Hermas), poderiam ser utilizados em instruções aos fiéis sendo permitidas as devidas leituras, mas não sendo considerados canônicos. Agora, quanto aos demais livros que existiram no período,42 todos foram considerados como “apócrifos”.43 Porquanto, para Atanásio, estes eram invenções de hereges que queriam imputar certa antiguidade aos textos. Porém, tinham o escopo de desviar os fiéis mais sim39

Sua data provável é de 200 a.C., em resumo, “baseia-se inteiramente nos mandamentos de Deus contidos na Lei mosaica e aplicados a todas as manifestações da vida cotidiana”. Bíblia Sagrada. Edição Pastoral-Catequética. São Paulo: Ave-Maria, 2009, p. 26. Sua data provável é de meados do século II a.C., em resumo, o “livro de Judite leva os leitores espontaneamente a pensar nas lutas que os judeus tiveram que sustentar pela sua fé, lutas essas que se tornaram particularmente agudas dois séculos antes da era cristã”. Ibid., p. 19.

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7. But for greater exactness I add this also, writing of necessity; that there are other books besides these not indeed included in the Canon, but appointed by the Fathers to be read by those who newly join us, and who wish for instruction in the word of godliness. The Wisdom of Solomon, and the Wisdom of Sirach, and Esther, and Judith, and Tobit, and that which is called the Teaching of the Apostles, and the Shepherd. But the former, my brethren, are included in the Canon, the latter being [merely] read; nor is there in any place a mention of apocryphal writings. But they are an invention of heretics, who write them when they choose, bestowing upon them their approbation, and assigning to them a date, that so, using them as ancient writings, they may find occasion to lead astray the simple.38

A partir dessa carta pascal, os vinte e sete livros “tradicionais” do chamado Novo Testamento foram demarcados. Para o bispo Atanásio, Paulo teria escrito catorze epístolas, pois foi atribuída à autoria da Epístola aos Hebreus ao apóstolo, logo, esta foi inclusa no corpus 39ª Carta Pascal de Atanásio. Fonte: Christian Classics Ethereal Library (CCEL). Disponível em: http://www. ccel.org/ccel/schaff/npnf204.xxv.iii.iii.xxv.html. Acesso em: 1 de agosto de 2018. Neste site consta a carta na íntegra.

38

Sua data provável é de meados do século II a.C., em resumo, “o livro de Tobias é um verdadeiro espelho de um judeu justo, espelho esse que se pode aplicar a um cristão quase sem nenhuma transposição”. Ibid., p.19. 41

Tanto os que já foram mencionados nesta pesquisa, como estes: Epístola dos Apóstolos (séc. II), Evangelho dos Egípcios (séc. II), Evangelho de Maria (séc. II), Evangelho dos Nazarenos (séc. II), Evangelho de Filipe (séc. III), Evangelho do Salvador (séc. II), Papiro Egerton 2 (séc. II), Atos de Pedro (séc. II), Atos de Pilatos (séc. II), Atos de Tecla (séc. II), Atos de Tomé (séc. III), 1 Clemente (séc. I), 2 Clemente (séc. II), Correspondência de Paulo e Sêneca (séc. IV), Carta aos Laodicenses (séc. II), Carta de Pedro a Tiago escrita por Pedro, e sua Resposta (séc. III), Carta de Ptolomeu a Flora (séc. II), A Pregação de Pedro (séc. II), Literatura Pseudo-clementina – Reconhecimentos (séc. III), Tratado sobre a Ressurreição (séc. II), Apocalipse de Paulo (séc. IV), Primeiro Pensamento em Três Formas (séc. II), Hino da Pérola (séc. II), A Origem do Mundo (séc. III), O segundo Tratado do Grande Set (séc. III), O livro secreto de João (séc. II), etc. (EHRMAN, 2012, p. 11-16).

42

Convém ressaltar que este termo aplicado por alguns teólogos aos livros que não entraram na Bíblia tem uma carga pejorativa do tipo ilegítimo, inautêntico, etc. Portanto, é preferível utilizar-se dos vocábulos acanônicos, não canônicos e extrabíblicos para o referido assunto.

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GNARUS - 74 ples com falsificações textuais. Mais tarde, aconteceram dois concílios44 no norte da África, o Concílio de Hipona em 393 d.C. e o de Cartago em 397 d.C. Nestes, não houve uma oficialização do cânon, contudo, ocorreu uma certa predileção pela lista dos vinte e sete livros (e também do Antigo Testamento) mencionados por Atanásio na sua 39ª Carta Pascoal. Porém, a Igreja de Roma ainda daria seu aval sobre essa compilação. No entanto, grupos cristãos menores continuaram com seus livros tidos como “sagrados” em suas regiões. Apenas no século XVI, no Concílio de Trento,45 houve uma declaração oficial acerca da fixação dos vinte e sete livros do Novo Testamento e da legitimidade da Bíblia como um todo. De sorte que: “[...] O concílio procurou manter a visão tradicional de que a Igreja e a Bíblia formam um todo, um corpo de ensinamento indivisível. Isso significa que as Escrituras são, de fato, oficiais, mas somente quando interpretadas pela Igreja e, em particular, pelo papado” (HILL, 2008, p. 261).

Com isso, além de confirmar os livros selecionados do Novo Testamento, a Igreja (no século XVI) controlou ainda mais a interpretação para que não perdesse mais fiéis com o advento de novos grupos cristãos (além dos reformadores46) que contivessem suas próprias interpretações da Bíblia dentro ou fora da Igreja Católica. Contudo, nos dias atuais, a pluralidade interpretativa ainda é uma constante na religião cristã. Pois, assim como exis“Junta de eclesiásticos, esp. bispos, presidida ou aprovada pelo papa” (HOUAISS, 2010, p. 184). 44

Concílio ecumênico da Igreja Católica que ocorreu entre 1545 e 1563 em várias reuniões na província italiana de Trento. “O Concílio de Trento reforçou o poder do papa, criou o Index, relação de livros proibidos à leitura dos cristãos, [...] afirmou que somente a Igreja podia interpretar a Escritura [...]” (SEFFNER, 1993, p. 63).

45

Cristãos protestantes que surgiram após a Reforma Luterana de 1517, tais como: luteranos, calvinistas, anabatistas, entre outros. 46

A folha de P46, um das primeiras coleções do século III das epístolas paulinas.

tiram diversos grupos cristãos na Antiguidade, atualmente, existem tantos outros grupos “novos” que são herdeiros, conscientes ou inconscientemente, das ideias desses cristãos do mundo antigo.

4. Considerações finais O cânon neotestamentário foi imposto pelo grupo tido como “ortodoxo” que venceu grupos menores alcunhados como “heterodoxos”. Estes assim foram chamados, pois tinham suas próprias perspectivas cúlticas, recepções de fé, livros ditos sagrados, etc. Mesmo com a vitória do grupo maior, esses grupos minoritários continuaram com seus costumes e suas “Escrituras”: [...] Na primeira metade do século V a igreja na Síria finalizou seu cânone do Novo Testamento e excluiu dele 2 de Pedro, 2 e 3 João, Judas e Revelação (Apocalipse), fazendo um

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GNARUS - 75 cânone de 22 livros em vez de 27. A igreja na Etiópia finalmente aceitou os 27 livros nomeados por Atanásio, mas adicionou outros quatro desconhecidos, de outras fontes – Sínodos, O Livro de Clemente (que não é 1 ou 2 Clemente), o Livro do Pacto e a Didascália – obtendo um cânone de 31 livros (EHRMAN, 2012, p. 333).

Além das comunidades cristãs da Síria e da Etiópia, pode-se visualizar também essa permanência de livros acanônicos no manuscrito Códice Alexandrino que “foi escrito no século V, em Alexandria, no Egito. Contém a Bíblia inteira (faltando alguns fragmentos) e as obras extracanônicas Epístolas de Clemente e Salmos de Salomão. Está no Museu Britânico desde 1627” (HALLEY, 2001, p. 848). Hoje, o Novo Testamento, continua sendo composto pelos vinte e sete livros que foram arrolados na segunda metade do século IV. Portanto, ele é aceito de forma unânime entre as inúmeras concepções de fé cristã que existem. Todavia, existem grupos cristãos que têm outros livros ou textos de pessoas tidas como “profetas”, de fundadores de uma nova vertente cristã, de “servos exemplares e iluminados por Deus”, de “mensageiros especiais”, etc. Na perspectiva desses grupos, esses documentos extrabíblicos servem como subsídios ao Novo Testamento e a Bíblia como um todo. Ainda assim, estes não têm a pretensão de “canonizá-los”, mas esses livros e textos são utilizados como um instrumento para despertar a fé e para complementá-la, de modo que os mesmos têm elevada estima conjuntamente com a Bíblia que não é, de certa forma, suficiente para determinados assuntos.47 O fundamento da fé tanto para a Igreja Católica como para a Igreja Ortodoxa, se encontra na Bíblia e na Tradição das mesmas. Já para a Igreja Luterana, o fundamento está só na Bíblia. Para a Igreja Metodista Wesleyana, a base da fé está na Bíblia, no Credo apostólico e nos 35 artigos de John Wesley (1703-1791). A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem como sua base de fé e orientação, a Bíblia e os Escritos de Ellen G. White

47

Em síntese, ao se estudar todo esse processo de construção de um cânone dito “oficial” em detrimento de outras formas de “Escrituras” que foram alijadas, percebe-se que a natureza da religião, numa esfera geral, e dos cristianismos numa esfera específica, sempre será a diversidade de pensamentos: “Por cristianismos, afirma-se que uma dada experiência religiosa sempre é plural, com a sua base formativa sendo ampla demais para caber em categorias como certo e errado, ortodoxo e heterodoxo. O reducionismo de uma experiência religiosa, seja ela qual for, costuma produzir um tipo de análise “histórica” bastante previsível, com seus resultados parciais e militantes” (CHEVITARESE, 2016, p. 9).

Entendendo isso, pode-se dizer que é possível que o indivíduo seja capaz de se tornar mais tolerante com as recepções de fé variantes dentro da esfera cristã. Destarte, pode-se dizer também que o “cânone oficial” foi elaborado tendo em vista a extinção de perspectivas divergentes da “fé tradicional” na tentativa de homogeneizar a religião cristã. Porém, tal intento não logrou êxito como pode ser visualizado nas inúmeras ramificações cristãs existentes.

Flávio Henrique Santos de Souza é Licenciado em História pela Universidade Castelo Branco (UCB), pós-graduado em História Antiga e Medieval pelo Núcleo de Estudos da Antiguidade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NEA-UERJ) e Pós-graduado em História do Cristianismo pelo Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM). (1827-1915), tais como: Passos até Cristo, entre outros. Em relação à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, o alicerce da fé se encontra na Bíblia, no Livro de Mórmon, entre outros. Agora, para o sistema filosófico-religioso cristão do Espiritismo Kardecista, o suporte para fé está na Bíblia, no Livro dos Espíritos, etc. Foram citadas apenas algumas vertentes cristãs para salientar a heterogeneidade do “mundo cristão” (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005, p. 197, 205, 211, 217, 220, 224, 231 e 309).

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