Estação Científica (UNIFAP), ISSN 2179-1902, v. 4, n. 2, 2014

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Estação Científica (UNIFAP) ISSN Eletrônico 2179-1902 Volume 3, número 2, jul.-dez., 2013 EDITOR-CHEFE Fernando Castro Amoras Universidade Federal do Amapá, Brasil

_____________________________________________________________ Estação Científica (UNIFAP) / Universidade Federal do Amapá, Pró-Reitoria de Pesquisa e PósGraduação, Departamento de Pesquisa. – V. 4, n. 2 (jul.-dez. 2014). – Dados eletrônicos. – Macapá: Universidade Federal do Amapá, 2011Semestral Descrição baseada em: v. 4, n. 2, 2014 e-ISSN 2179-1902 Modo de acesso: http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao 1. Ciências. 2. Interdisciplinar. 3. Pesquisa. I. Universidade Federal do Amapá. II. Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. III. Departamento de Pesquisa. IV. Título: Estação Científica (UNIFAP).

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SUMÁRIO | CONTENTS Artigos de revisão de literatura A Idade Dogmática da Estética e a influência mítica nas representações artísticas.................................................................................................................... 07 DOGMATIC AGE OF AESTHETICS AND THE MYTHICAL INFLUENCE ON ARTISTIC REPRESENTATIONS Maurício Sérgio Bergamo A importância do processo de recrutamento e seleção de pessoas no contexto empresarial....................................................................................................... 21 THE IMPORTANCE OF THE RECRUITMENT PROCESS AND SELECTION OF PEOPLE IN BUSINESS CONTEXT Franciele Silva Ferreira e Eudes Cristiano Vargas Aspectos energéticos da teoria cinética dos gases............................................. 41 ENERGY ASPECTS OF THE KINETIC THEORY OF GASES Robert Saraiva Matos e Roberto de Carvalho Barros Economia Solidária sob a ótica ampliada da Autogestão................................... SOLIDARITY ECONOMY FROM THE PERSPECTIVE OF EXTENDED SELF-MANAGEMENT Priscila Terezinha Aparecida Machado e Jéssica Pereira de Mello

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Filosofia, educação e formação humana: a busca dos sentidos do fazer educativo................................................................................................................... 65 PHILOSOPHY, EDUCATION AND HUMAN COMMUNICATION: THE SEARCH OF EDUCATION TO THE SENSES Lélio Favacho Braga e Antônio Joaquim Severino Possíveis soluções para a problemática do ensino de Física: metacognição, artefatos experimentais e simulações computacionais...................................... 75 POSSIBLE SOLUTIONS FOR PROBLEMS OF PHYSICS EDUCATION: METACOGNITION, ARTIFACTS EXPERIMENTAL AND SIMULATION OF COMPUTER

Ismael Freire Bata e Robert Saraiva Matos Artigos originais A contribuição da psicopedagogia para a inclusão do aluno com paralisia cerebral................................................................................................................... 85 THE EDUCATIONAL PSYCHOLOGY CONTRIBUTION FOR INCLUSION OF STUDENTS WITH CEREBRAL PALSY Claudovil Barroso de Almeida Júnior Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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Avaliação da seca de 2005 na Amazônia: uma análise da calha do rio Solimões. 99 THE 2005 DROUGHT IN THE AMAZON: AN ANALYSIS OF THE CHANNEL OF THE SOLIMÕES RIVER Edivaldo Afonso de Oliveira Serrão, Cleber Assis dos Santos e Aline Maria Meiguins de Lima Medições micrometeorológicas de um pomar de mangueiras (Mangifera indica L.) em Cuiarana no município de Salinópolis - PA, Brasil.......................... 111 MICROMETEOROLOGICAL MEASUREMENTS OF AN ORCHARD OF MANGO TREES (MANGIFERA INDICA L.) IN CUIARANA IN THE MUNICIPALITY OF SALINÓPOLIS-PA, BRAZIL

Cleber Assis dos Santos, Christopher Henrique de Almeida Duarte e José de Paulo Rocha da Costa Microcrédito: breves considerações sobre o CEAPE de Feira de Santana........... MICROCREDIT: BRIEF CONSIDERATIONS ON CEAPE OF FEIRA DE SANTANA Ualace Roberto de Jesus Oliveira

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Diretrizes para autores ..................................................................................... 137

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Artigo de revisão de literatura

A Idade Dogmática da Estética e a influência mítica nas representações artísticas Maurício Sérgio Bergamo1 1 Acadêmico da primeira fase do Curso de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus de Francisco Beltrão. Acadêmico do 7º semestre do Curso Licenciatura em Filosofia da Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Erechim. Graduado em Licenciatura em Geografia pela Universidade Regional Integrada – Campus Erechim (2010). Pós – Graduado (Lato Sensu) em História da Ciência pela Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Erechim. (2012). Pós – Graduado (Lato Sensu) em Epistemologia e Metafísica pela Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Erechim. (2012), Brasil. E-mail: mauricio_bergamob@hotmail.com.

RESUMO: O artigo tem por objetivo apresentar o percurso histórico que a Estética percorre até se tornar uma disciplina autônoma e institucionalizada. A Idade Dogmática, Crítica e Positiva são as fases da evolução do conhecimento estético. Analisando de modo particular cada um destes períodos, podemos compreender o porquê a Estética, na Idade Antiga e Medieval, não era um campo de saber independente. No entanto, as Idades Antigas e Medievais, que dentro da divisão histórica da Estética estão pautadas na Idade Dogmática, não se privavam de produzir artes. Diante disso, analisam-se dois estilos artísticos, um da Idade Antiga – Arte Helenística – e outro da Idade Medieval – Arte Otoniana – ambos pertencentes à Idade Dogmática, possuem traços e influências comuns à tradição mitológica. Palavras-chaves: Arte Helenística; Arte Otoniana; Tradição Mitológica; Estética Dogmatic Age of Aesthetics and the mythical influence on artistic representations ABSTRACT: The article aims to present the historical background that the Aesthetics took to become an autonomous and institutionalized discipline. The Dogmatic, Critic and Positive Age are the stages of evolution of aesthetic knowledge. Analyzing in particular each of these periods, we can understand why the Aesthetics in Ancient and Medieval Age, was not a field of independent knowledge. However, the Ancient and Medieval Ages, that within the historical division of Aesthetics are guided by the Dogmatic Age, did not deprive themselves of producing arts. Therefore, we analyze two artistic styles, one of the ancient world - Hellenistic art - and one of the Middle Ages - Ottonian art - in which both belong to the Dogmatic Age, have common traits and influences with the mythological tradition. Key Words: Hellenistic Art; Ottonian art; Mythological tradition; Aesthetics

1 INTRODUÇÃO A Estética ou a Ciência da Arte teve seu caráter acadêmico disciplinar, a partir do séc. XVIII, com as contribuições de Alexander Baumgarten. AbEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

bagnano (1997), nos mostra, qualificando as breves exposições de Rosenfield (2006), que Baumgartem em seu livro Aesthetica (1750) defende a tese de que o objeto de investigação da Arte, são as representações sensíveis, http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 07-20, jul.-dez. 2014


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que se tornam perfeitas, enquanto objeto do aparelho racional. Anteriormente a institucionalização da Estética como disciplina de cunho filosófico e acadêmico, que aconteceu na Idade Crítica, Huisman (2013) nos mostra, que a primeira fase da História da Estética, ficou conhecida como Idade Dogmática, a qual, se estendeu de Sócrates (469 a.C - 399 a.C) até Baumgarten (1714 - 1762). No princípio do desenvolvimento da História da Estética, em que a Idade Dogmática é a primeira fase, pelo fato de estar em seu estatuto epistemológico infantil e imaturo, Pareyson (1997) expõe, que a Estética da Idade Dogmática não explicitava distinções entre Poética e Retórica1. Pois, como defende Abbagnano (1997), em consonância com Pareyson (1997), o Belo coincide com a noção de objeto estético sensorial, somente a partir do século XVIII. Anteriormente a este período, o Belo não era mencionado a partir dos objetos produzíveis, ou seja, ainda era concebido a partir da teoria platônica do Belo, em que só há beleza nas substâncias perfeitas eternas. Diante disso, é importante expor, ainda que de modo muito breve, em conformidade com Huisman (2013), 1

"Arte de utilizar a linguagem em um discurso persuasivo, por meio do qual visa-se convencer uma audiência da verdade de algo. Técnica argumentativa, baseada não na lógica, nem no conhecimento, mas na habilidade em empregar a linguagem e impressionar favoravelmente os ouvintes. Considera-se que a retórica foi sistematizada e desenvolvida pelos sofistas que a utilizavam em seu método. Aristóteles, dedicou um tratado de retórica, sobretudo distinguindo-a do uso lógico da linguagem sistematizado na teoria do silogismo (JAPIASSÚ: MARCONDES, 2006, p.240)

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que o Belo da Idade Dogmática da Estética Filosófica, estava indissociavelmente ligado à magia, religião e aos rituais que eram prestigiados por seus espectadores. É de grande mérito destacar em acordo com o autor, que Sócrates e Platão, foram importantes filósofos que contribuíram para elaborar as primeiras proposições do estatuto epistemológico da Estética, que dava seus primeiros passos2. Considerando em acordo com Huisman (2013, p. 13), que "Toda educação grega estava baseada no belo: mitos e relatos épicos, ritos e cerimônias envolvendo objetos (como estátuas) ou danças, cantos de louvor e música comemorando os valores coletivos", é de grande mérito destacar, em conformidade com Zschietzschmann (1970), que na Grécia dos séculos I, II e III a.C, a Arte Helenística estava enraizada profundamente na cultura grega. Não obstante a importância dos indícios apresentados até o momento, a segunda fase da História da Estética, muito importante para sua constituição epistemológica, é denominada por Huisman (2013), Idade Crítica.Tendo como os principais responsáveis em 2

"Sócrates [...] reflete sobre a tradição popular tipicamente grega que associa espontaneamente o belo e o bem e reformula essa tradição com duas proposições análogas que explicitam esse elo com um vínculo natural entre beleza e bondade. [...] Platão parte desses costumes, que são ao mesmo tempo religiosos, políticos e lingüísticos e sintetizam as diversas facetas semânticas aos termo 'belo'. Progressivamente, seus diálogos submetem o belo a uma investigação filosófica que separa os diversos conceitos e, assim, permite pensar a ideia abstrata de 'belo', independentemente dos fenômenos particulares nos quais essa ideia se realize" (HUISMAN, 2012, p. 11-12) http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 07-20, jul.-dez. 2014


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estruturar epistemologicamente a Estética e cunhá-la como disciplina acadêmica, Baungarten e Kant, como defende Abbagnano (1997), provocaram inferências à doutrina do Belo Platônico. O mérito de Baungarten (1973) para a Estética Filosófica, é pelo fato, dele ser o primeiro a organizar e a oferecer consistência epistemológica aos antigos saberes gregos concernentes ao belo. Baungarten (1973), mostra, que a novidade da Estética na Idade Crítica, está na forma científica da exposição e não propriamente em seus conteúdos. Considerando, assim como a doutrina do Belo Platônico, que os conteúdos da Estética Filosófica são as normas da representação artística do bom gosto, Baungarten (1973), defende, diferentemente da estética platônica, que a cientificidade da disciplina, deve ser proporcionada pela fundamentação de uma metafísica da arte e do gosto, apresentada em uma estrutura Lógica, a qual, necessariamente, deve ser induzida pelo aparelho sensorial do indivíduo, a partir dos estatutos ontológicos da natureza, julgados como belos3. Sua Crítica do juízo é uma espécie de "Summa", que trilha um novo cami3

"§18 [...] a beleza universal do conhecimento sensitivo será: 1) o consenso dos pensamentos entre si em direção à unidade: consenso este que se manifesta como a BELEZA DAS COISAS E DOS PENSAMENTOS, que deve ser distinguida, por um lado, da beleza do conhecimento, da qual é a primeira e principal parte, e, por outro, da beleza dos objetos e da matéria, com que é errônea e freqüentemente confundida, devido ao significado genérico da palavra 'coisa'. As coisas feias, enquanto tais, podem ser concebidas de modo belo; e as mais belas, de modo feio. (BAUNGARTEN, 1973, p. 74)

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nho entre as concepções - pragmáticas e éticas, de um lado, empíricas, cognitivas e intelectuais, de outro que acomodam a experiência estética e a artística numa posição de dependência e subordinação às faculdades racionais e intelectuais 'superiores'. Em vez de opor a sensibilidade e a razão numa hierarquia, Kant [...], desde a Crítica da razão pura, [...], investiga a beleza partindo da proposição, aparentemente singela e corriqueira, de quem exclama 'isto é belo'. (HUISMAN, 2013, p. 54)

Em conformidade com a exposição, temos que considerar, que Kant, na Crítica da Razão Pura, conforme expõe o autor, não opõe sensibilidade e razão. Kant defende, que o juízo estético dos corpos da natureza - juízo do gosto4 - corresponde à estrutura cognitiva do sujeito, à Síntese da Apreensão, da Estética Transcendental5. Assim, a Idade Crítica da Estética, que se estendeu de Baungarten à Kant, é considerada por Pereyson (1997, p. 11), como o momento em que a Estética "passa a ser entendida como filosofia do belo, uma ‘teoria geral da arte’ 4

"No juízo de gosto, manifesta-se um sentimento de juízo, isto é, uma coincidência imediata de juízo e sentimento, que torna impossível subordinar o sentimento à operação racional. Na experiência estética, o próprio juízo (razão) está acomodado numa matriz de sentimentos prazerosos e é nesta matriz que surgem um espaço-tempo [Síntese da Apreensão], uma dimensão que fornece ao sujeito uma liberdade que não existe nas outras formas de juízo" (HUISMAN, 2013, 30) 5 Para uma análise mais detalhada à Síntese da Apreensão kantiana, Cf: BERGAMO, Maurício Sérgio, Reflexões sobre o desenvolvimento epistemológico do pensamento Geográfico: Bachelard, Kant e os autores clássicos da Geografia, Boletim Gaúcho de Geografia, nº1, V. 41, 2014. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 07-20, jul.-dez. 2014


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que pretende estudar a arte nos seus aspectos técnicos, psicológicos, éticos, sociais e assim por diante”. Por fim, a Idade Positiva, terceira e última fase, como nos mostra Huisman (2012), decorre de Kant à contemporaneidade. É preciso destacar, que hoje, na contemporaneidade, a Estética Filosófica está longe de estar em declínio. Ao contrário, ela encontra-se em pleno desenvolvimento, para aprimorar cada vez mais suas técnicas, métodos e teorias. Antes de realizar breves especulações acerca da influência da tradição grego-mitológica em dois estilos artísticos bastante importantes, é alusivo destacar: Embora a Arte Otoniana seja do séc. X, estando distante mais de dez séculos do auge da Arte Helenística, ela pertence, assim como a arte dos gregos antigos, ao período epistemológico imaturo, Idade Dogmática da Estética Filosófico, pois, como defende Huisman (2012), a Idade Crítica da Estética filosófica, segundo período histórico da disciplina, inicia-se somente no séc. XVIII, com Alexander Baungarten e Immanuel Kant. Diante das observações realizadas até o momento e, para delimitarmos nosso horizonte de trabalho, queremos mostrar nas próximas sessões deste artigo, que mesmo a Estética Filosófica não possuindo um estatuto epistemológico maduro durante a Idade Dogmática, ela influenciou através da tradição mitológica grega, dois estilos artísticos bastante importantes, a saber: a Arte Helenística do séc. III a.C e a Arte Otoniana do séc. X. Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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Mesmo sabedores da importância dos processos epistemológicos da Idade Crítica, na Estética Filosófica e, para delimitarmos precisamente nosso horizonte de investigação, selecionamos trechos de alguns dos principais mitos gregos que revelam traços bastante semelhantes à esses dois estilos artísticos: a Arte Helenística e a Arte Otoniana. 2 ARTE HELENÍSTICA E OS MITOS Compreendida entre os séc. III, II e II a.C, o Helenismo é uma expressão criada pelos historiadores “para designar o processo de helenização dos territórios situados a leste da Grécia [...] e pela força sempre crescente de Roma” (ZSCHIETZSCHMANN, 1970, p. 51) Nessa época6, a arte estampada em madeira, marfim, ouro e prata exuberavam por todo mundo grego. “Alexandria tornou-se famosa por seus ourives, cujos traços artísticos, trabalhos em ouro e prata [...] pedras preciosas ou conchas esculpidas em relevos colo6

Qualificando as exposições de Zschietzschann, Japiassú& Marcondes (2006, p. 129) fazem a seguinte asserção: “Em um sentido amplo, helenismo refere-se à influência que a cultura grega (helênica, de Hellas, ou Grécia) passou a ter no Oriente Próximo (Mediterrâneo oriental: Síria, Egito, Palestina, chegando até a Pérsia e Mesopotâmia) após a morte de Alexandre (323 a.C), em conseqüência de suas conquistas. Como um dos períodos em que se divide tradicionalmente a história da filosofia, o helenismo vai da morte de Aristóteles (322 a.C) ao fechamento das escola pagãs de filosofia no Império do Oriente pelo imperador Justiniano (525 d.C). O período do helenismo é marcado na filosofia pelo desenvolvimento das escolas vinculadas a uma determinada tradição, destacando-se a academia de Platão, a escola aristotélica, a escola estóica, o ceticismo e o pitagorismo. [...] O principal centro de cultura do helenismo foi Alexandria no Egito” http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 07-20, jul.-dez. 2014


A Idade Dogmática da Estética e a influência mítica nas representações artísticas

ridos, verde ou azul [...] mostrava o apogeu da arte” (DURANT, 1957, p.344) Não obstante, a Arte Helenística, herança dos etruscos7, foi representada pelas pinturas em vasos, cerâmicas e tecidos, com figuras em tons avermelhados, que estampavam os gêneros de vida. A produção artística dos helenísticos levava em consideração os truques da perspectiva aérea, da luz e do agrupamento. As paisagens serviam apenas como pano de fundo da decoração, enquanto Deus e os homens destacavam-se no primeiro plano8. Em tons avermelhados, a pintura helenística em cerâmicas e tecidos, realçava por tonalidades claras, a face e as vestimentas dos deuses e dos homens. Entretanto, o vermelho escuro ou o preto negro, estampavam cenários de fundo, que destacavam o vermelho escuro, cor dos deuses e do fogo e do sangue das batalhas mitológica narradas pelos bardos. Qualificando as exposições de Zschietzschmann (1970) e Durant (1957), a apresentação do Mito de Minerva por Bulfinch (1998), nos oferece, através 7

“Só mais tarde, pelos fins do séc. V a.C, é que os Etruscos conseguem criar novas fórmulas impregnadas de espírito clássico. É a prova de que este povo estava aberto às formas clássicas e que tinha em si mesmo alguns dos germes que na Grécia levaram ao classicismo” (ZSCHIETZSCHMANN, 1970, p. 42) 8 “Embora se servissem [helenísticos] da paisagem apenas como fundo e decoração, e as pintassem de um modo sem vida e convencional, pelo menos compreendiam a existência da natureza e misturavam-se a arte [...]. Achavam-se, entretanto, tão interessados nos homens e nas obras dos homens, que pouco tempo lhes restava para se dedicarem as árvores e às flores.” (DURANT, 1957, p. 349) Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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da interpretação da tradição mitológica, traços bastante semelhantes às características da pintura helenística em tecidos, que salienta em primeiro plano, homens e Deuses, cito: Minerva bordou em seu tecido a cena de sua disputa com Netuno. Estão representados doze dos poderes celestes. Júpiter, com augusta gravidade, acha-se sentado no meio. Netuno, senhor do mar, segura o tridente, e parece ter acabado de golpear a Terra, da qual saltou um cavalo. A própria Minerva apresenta-se com o elmo na cabeça, o peito protegido por Égide. Assim era o círculo central; nos quatro cantos, estava, representados incidentes mostrando o descontentamento dos deuses com os mortais presunçosos que se atreviam a concorrer com eles. (BULFINCH, 1998, p. 134).

Em conformidade com a exposição, Zschietzschmann (1970) defende, que os pintores helenísticos voltaram-se também a produzir belos quadros compostos por desenhos feios, como a representação de prostitutas, animais mortos e homens aleijados. “A este gênero de pintura acrescentaram trabalhos de natureza morta – bolos, ovos, frutas, vegetais, peixes e caça” (DURANT, 1957, p. 349). Não obstante, podemos levar em consideração os aspectos de natureza morta, da cena apresentada por Bulfinch (1998), no Regresso de Ulisses, em que a frota de Odysseus, retornando de Tróia para o Reino da Ítaca, após passar pelo País dos Comedores de http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 07-20, jul.-dez. 2014


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Lótus9, chega ao País dos Ciclopes10. A perspectiva da natureza morta, é retratada através de Polifermo, gigante o qual, manteve aprisionado Ulisses e seus companheiros dentro de sua caverna. A cena é narrada por Bulfich (1998, p. 282), da seguinte maneira: Desembarcou [Ulisses] com os companheiros, levando uma jarra de vinho para oferecer de presente e, encontrando uma grande caverna, lá entrou. A caverna estava vazia e Ulisses e seus companheiros examinaram-na, verificando que estava repleta de produtos pastoris: grande quantidade de leite, jarros e terrinas de leites gigantes, tudo em muita ordem. Logo depois chegou o dono da caverna, Polifermo, carregando uma imenso feixe de lenha que atirou diante da entrada da gruta. Em seguida, tocou para dentro da caverna as ovelhas e cabras que seriam ordenhadas e fechou a entrada da gruta com uma pedra que nem vinte bois não conseguiriam arrastar. Sentou-se, depois, e ordenhou as ovelhas, preparando uma parte do leite para ser transformada em quei9

"[...] a frota foi castigada por uma tempestade, que a manteve nove dias no mar, até que foi alcançado o País dos Comedores de Lótus. [...] Estes acolheram os marinheiros hospitaleiramente e ofereceram-lhes seu próprio alimento, o lótus. O efeito desse alimento era tal que aquele que ingerisse se esqueceria inteiramente de sua própria terra e desejava permanecer para sempre naquele país. Somente pela força, Ulisses conseguiu levar os marinheiros e teve, mesmo, de marrá-los nos navios" (BULFINCH, 1998, p. 281) 10 "'Ciclope 'quer dizer 'olho redondo' e aqueles gigantes eram assim chamados porque tinham um só olho, colocado no meio da testa. Moravam em cavernas e alimentavam-se como o que a ilha produzia e com os produtos de seus rebanhos, pois eram pastores" (BULFICH, 1998, p. 282) Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

jo e deixando a outra parte em estado natural para ser utilizada como bebida.

No entanto, as esculturas dos homens eram representadas apenas “pela parte superior do corpo coberta por um manto. O busto [ficava nu]. Elemento novo é a obesidade [...]. A fisionomia das mulheres era menos acentuada do que a dos homens” (ZSCHIETZSCHMANN, 1970, p. 57). Diante das principais características da pintura helenística dos séc. III a.C, Durant (1957) mostra que a técnica desta arte era dividida por linhas dentro de pequenos quadrados e diminutos cubos de mármores, tão coloridos, que quando as pequenas peças eram colocadas juntas representavam a pintura de modo surpreendentemente duradouro. Outro elemento artístico importante da Arte Helenística, que não pode ser deixado de lado é a escultura11. Lapidadas na maior parte das vezes em pedras ou bronze, as principais técnicas utilizadas pelos artistas levavam em consideração, a perspectiva da profundidade, do movimento e da ilusão do espaço.

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Passagem de grande apreço, que revela a importância das esculturas para os helenísticos, é a seguinte:“Jamais a estatuária foi mais abundante do que na idade helenística. Templos e palácios, residências e ruas, jardins e parques regurgitavam de esculturas; todas as fases da vida humana e muitos aspectos do mundo vegetal e animal serviram de inspiração aos artistas; os bustos pessoas imortalizavam por um momento os heróis mortos e celebridades vivas; por fim até mesmo abstrações, como a Fortuna, a Paz, a Calúnia, o Templo, concretizavam-se em pedras” (DURANT, 1957, p. 351) http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 07-20, jul.-dez. 2014


A Idade Dogmática da Estética e a influência mítica nas representações artísticas

Existia lá [em Rodes] uma centena de estátuas colossais [...]. A maior delas, um colosso de bronze representando Hélio, o deus-sol [...]. Erguia-se perto do porto, a uma altura de 3,15 metros. Suas dimensões nos induzem a pensar que o gosto dos habitantes de Rodes se inclinada para a ostentação e a grandezas das proporções; mas talvez tencionassem usar o monumento como farol ou símbolo. (DURANT, 1957, p. 351)

Não obstante, também era habitual, que os helenísticos representassem nas esculturas, homens comuns. Trabalhadores do comércio, crianças e camponeses eram feições fortes esculpidas nas estátuas. Os príncipes, reis, homens do Estado, ou então, oradores, filósofos e poetas, eram esculpidos com a intenção de terem existência eterna12. Por tal motivo, comum dessas representações, eram estarem presentes em sarcófagos e tampas de urna, as quais, eram esculpidas em relevo simples, porém preenchidas com modestos enfeites. “As paredes laterais dos sarcófagos são quase sempre guarne12

A escultura enquanto substantivo, é a principal temática, de um dos principais mitos da tradição grego-metológica. No Mito de Pagmilião, Bulfinch (1998, p. 78) nos mostra que:"Pigmalião via tantos defeitos nas mulheres que acabou por abominá-las e resolveu ficar solteiro. Era escultor e executou, com maravilhosa arte, uma estátua de marfim, tão bela que nenhuma mulher de verdade com ela podia comparar-se. Era, na verdade, de uma perfeita semelhança com uma jovem que estivesse viva e somente o recato impedisse de mover-se. A arte, por sua própria perfeição, ocultava-se, e a obra parecia produzida pela própria natureza. Pigmilião admirou sua obra e acabou apaixonando-se pela criação artificial"

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cidas de relevos que representam o fato da morte, tal como parecia nas crenças.” (ZSCHIETZSCHMANN, 1970, p. 55). Juntamente à escultura dos reis, príncipes, oradores, filósofos e poetas, que eram postadas sobre tampas de urnas e, em sarcófagos, misturavam-se representações de aspecto calmo, que exprimiam combates históricos ou lendários, cujo principal efeito artístico era o movimento. As características da Arte Helênica estampadas em sarcófagos e urnas funerárias, conforme defende Zschietzschmann (1970), também são destacadas por Bulfinch (1998), na perspectiva filosófica da tradição mitológica, ao narrar a Ilíada. Posteriormente ao descrever o combate entre Aquiles e Heitor,Bulfich (1998), finaliza-a, destacando do seguinte modo, o ritual fúnebre do filho do Rei Príamo, Heitor. Cito: No dia seguinte, foram feitos os preparativos para os solenes funerais. Durante nove dia, o povo ajuntou lenha e ergueu a fogueira, e no décimo dia ali foi colocado o corpo e ateado fogo, enquanto Tróia inteira rodeava de pira funerária. Quando o copo se consumiu inteiramente, as cinzas foram regadas de vinho, os ossos recolhidos e colocados numa urna de ouro aberta a terra, que foi enterrada no chão, tendo por cima uma pilha de pedras (BULFINCH, 1998, p. 270)

Consoantemente a exposição, Zschietzschmann(1970, p. 62) nos exibe, que “ [...] no decurso da evolução da http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 07-20, jul.-dez. 2014


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arte helenística tem-se o costume de representar na urna cinerária a cópia da casa como domicílio” (ZSCHIETZSCHMANN, 1970, p. 62). Conservando a memória da casa do individuo morto, o sarcófago, na maior parte das vezes era esculpido em pedra. Como sinal indicativo, de que a urna era domicílio de um homem, nela estava estampado um pênis. Ao passo, que a urna das mulheres consistia “numa casa simplificada: um edifício quadrangular oblongo com frontão, munido de uma porta e de uma janela, coberto por um telhado de empena” (ZSCHIETZSCHMANN, 1970, p. 62). Não obstante, com a intenção de devolver a terra os defuntos, o fundo das urnas e dos sarcófagos, estava ligado diretamente a ela, terra, assim como nos apresentou Bulfinch (1998), no final da Ilíada. Sobre os templos helenísticos, Zschietzschmann (1970, p. 71) expõe o seguinte: O templo é construído segundo o princípio do edifício próstilo, isto é, ornamentado de colunas apenas à frente. Acolhe com a sua fachada quem a ele se dirige. Volta-se para o homem e para o Mundo e daí resulta um dualismo: o do mundo dos vivos e o do Além, o homem em face da divindade. Reunidos, dependentes um do outro, constituem o Cosmos. O templo grego, é o Cosmos em si, bastando-se a si mesmo.

Com efeito, os templos gregos eram construídos em forma quadrangular. Nas fachadas dos templos ornamenEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

tam-se colunas toscanas, as quais se apóiam numa base de singular perfil com saliências redondas, sendo bastante espaçadas e muito amplas. Diante disso, podemos perceber em conformidade com Bulfich (1998), que as características artísticas da Arte Helenística, estão representadas também, no Mito de Baucis e Filêmon, em que Zeus e Hermes assumindo formas humanas, são acolhidos de bom grado pelos humildes velinhos na hora tarde da noite, os quais, perceberamas divindades, pelo fato do vinho ser renovado no jarro a medida que era servido no farto jantar preparado por Bauacis e Filêmon. Como recompensa pelo belo trato com as divindades, primeiramente disfarçadas, porém posteriormente tendo suas identidades reveladas, o idoso casal, vêsua casa sendo transformada em um templo. As características dos templos helênicos apresentadas por Zschietzschmann (1970), coincidem com a exposição de e Bulfich (1998, 64) no Mito de Baucis e Filemon, da seguinte forma: "Colunas tomaram o lugar dos rudes postes, o colmo tornou-se amarelo e transformou-se num teto dourado, o chão cobriu-se de mármore, as portas enriqueceram-se com baixos relevos e ornamentos de ouro" Apresentada algumas das características da Arte Helenística, passa-se a exposição da Arte Otoniana, para posteriormente investigar semelhanças e divergências entre estas e, procurar na tradição mitológica traços e composições artísticas culturais, que influenciaram tanto à Arte Helenística do séc. III http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 07-20, jul.-dez. 2014


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a.C, como na Arte Otoniana do séc. X d.C. 3 ARTE OTONIANA E OS MITOS Ela, a Arte Otoniana, é um novo começo que levou em consideração as influências bizantinas e as determinações das formas antigas em que predominavam “a escultura do marfim e a arte de ourivesaria das grandes portas de igrejas, em metal fundido, com relevos antropomorfos” (SAUERLANDER, 1970, p. 27). A Arte Otoniana, teve sua gênese com os imperadores alemães, que no séc. X passaram a dominar as antigas terras do Império Carolíngio, vigoradas por Carlos Magno13. No entanto, a Arte Otoniana não nasce da evolução da Arte Carolíngia14. Qualificando nossas exposições e atribuindo a nossos escritos caráter filosóficos, através da interpretação da tradição mitológica, Bulfinch (1998), descreve no Mito de Cupido e Psique, as características do Palácio de Vênus, 13

“A história da arte européia moderna começa na segunda metade do século VIII com o reinado de Carlos Magno. O nome deste imperador é o primeiro digno de ser mencionado na história da arte alemã – talvez melhor, da arte de todo Ocidente – como, considerada a amplitude das influências que dele emanavam, o maior de todos; neste aspecto, nenhum artista o igualou” (SAUERLANDER, 1970, p. 09) 14 “As obras principais desta época [Carolíngia] tem como característica uma fria cultura formalista, tendente ao cerimonioso e magnífico, em total paralelismo com a formação classicista cultivada na Corte. A arte carolíngia não surge, portanto, como produto natural; pelo contrário, envolve-a, sobretudo na primeira fase ligada a Carlos Magno, marcada aparência da cultura em estufa” (SAUERLANDER, 1970, p. 09 - 10) Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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as quais, estão em conformidade com as afirmações de Sauerlander (1970), que se referem a ourivesaria da igreja otaniana, cito: Tomada de espanto e admiração, a moça aproximou-se do palácio e aventurou-se a entrar. Cada objeto que viu a encheu de assombro. Colunas de ouro sustentavam o teto abobadado e as paredes eram ornadas de baixos-relevos e pinturas de animais selvagens e cenas rurais, representados de modo a deleitar os olhos do espectador. (BULFINCH, 1998, p. 102)

Não obstante as singularidades entre a Arte Otoniana de ourivesaria do séc. X e a tradição mitológica das exposições a cima, o Mito de Faeotonte, apresentado por Bulfinch (1998), também coincide com o panorama exposto por Sauerlander (1970), vejamos: O palácio do Sol erguia-se muito alto, sobre colunas, reluzentes de ouro de pedras preciosas, com tetos de marfim polido e as portas de prata. A perfeição da obra sobrepujava o material. Nas paredes, Vulcano havia representado a terra, o mar e o céu, com seus habitantes. No mar, estavam as ninfas, algumas divertindo-se nas ondas, algumas correndo montadas em peixes, enquanto outras, sentadas nos rochedos, secavam os cabelos esverdeados pelo mar. Seus rostos não eram inteiramente semelhantes entre si, nem inteiramente diferentes, mas tal como devem ser os rostos das irmãs. A terra mostrava as cidades, florestas, rios e as divindades rústicas. Dominando tudo, http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 07-20, jul.-dez. 2014


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estava esculpida a imagem do glorioso céu, e, nas portas de prata, os signos do zodíaco, seis de cada lado. (BULFINCH, 1998, p. 51-52)

Todavia, vestígios da influência da tradição mitológica na ourivesaria e arquitetura otoniana, também são encontrados no Regresso de Ulisses, registrado de Bulfinch (1998). Este nos relata, que ao chegar no palácio do Rei Alcinous, Ulisses contemplou a cena. [...]. Muros de bronze estendiam-se da entrada até o edifício interior, cujos portais eram de ouro, as portas de prata, dintéis de prata ornamentados de ouro. Em ambos os lados ficavam figuras de mastins em ouro e prata, como se estivesse guardando a entrada da casa. Ao longo das paredes, estavam colocados bancos cobertos em toda a sua extensão de panos do mais fino lavor, trabalho das donzelas feácias. Nesses bancos sentavam-se os príncipes, enquanto estátuas de ouro de graciosos jovens traziam nas mãos tochas acessas que iluminavam a cena. (BULFNICH, 1998, p. 298)

Por outro lado, tendo como principais manifestações da Arte Otoniana, as representações estampadas em mosteiros e nas congregações sustentadas pela Casa Imperial, as quais, estavam espalhadas por todo domínio germânico, ela – Arte Otoniana – teve caráter exclusivamente cortesã, ou seja, privilegiava apenas membros da corte, fato este, que a tornava bem distinta de uma arte popular. Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

Não obstante, particularidade das representações figurativas das portas das catedrais otonianas são as imagens bíblicas do Velho Testamento, além de paisagens, árvores plantas e nuvens, com efeitos de movimento e destacados com rico colorido. “Nestas portas percebe-se com nitidez como procede o estilo dos Otões, a braços com a necessidade de produzir em grande dimensão uma ilusão do espaço”(SAUERLANDER, 1970, p. 43). Contrariamente a porta da Catedral de São Miguel, montada em várias partes, mas, fundida em uma única peça, a porta de bronze da Catedral de Augsburgo, localizada ao Sul da Alemanha, não foi fundida em uma só peça. Ela foi construída e movimentada em uma armação de madeira e enquadrada por barras alinhadas, que fixaram as várias peças que a compõe. “A decoração plástica da porta de Augsburgo compõe-se unicamente de figuras isoladas, esculpidas num relevo cadenciado de perfil límpido e elegante”. (SAUERLANDER, 1970, p. 46). Todavia, a Arte Otoniana representada nas igrejas, destaca-se pelas grandes portas ordenadas com figuras. Entre as principais, na perspectiva de Sauerlander (1970) estão as Catedrais de Santo Ambrósio em Milão e a de Santa Sabina em Roma15. 15

“Estas portas, não montadas em várias partes, mas fundidas numa só peça em moldes abertos representam, pelo menos no aspecto puramente técnico, uma proeza não habitual naquela época. A articulação das portas – cada batente está dividido por estreitas molduras em oito campos retangulares e transversais – difere dos antigos modelos [Carolíngios] que permitem reconhecer uma armação simples” (SAUERLANDER, 1970, p. 43) http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 07-20, jul.-dez. 2014


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Não obstante alguns dos principais elementos da Arte Arquitetônica das Igrejas Otonianas e a influência da tradição mitológica em sua constituição, a ourivesaria de pequeno porte otoniana, i.e, os artefatos fabricados em ouro, prata e platina, estavam presentes também nas encadernações compostas por molduras em superfície de ouro16, relicários e báculos destinados a importantes autoridades cristãs e, em pedras preciosas trabalhadas misteriosamente junto a uma arte que misturava técnicas de aplicação de esmaltes dourados em vidros17. Da época dos Otões procedem como testemunhos valiosíssimos de uma encomenda imperial à ourivesaria, as peças mais importantes das jóias do império que se guardam na Câmara do Tesouro em Viena. A mais antiga e venerável destas insígnias é a coroa imperial, forjada provavelmente no século X numa oficina do Oeste da Alemanha, não determinado, todavia com precisão. A ornamentação de esmaltes, pedras e pé16

A influência dos traços artísticos da tradição mitológica na ourivesaria otoniana, também é destacada por Bufinch (1998, p. 203), no Mito de Baco e Ariadne, do seguinte modo: "Como presente de casamento, deu-lhe uma coroa de ouro, cravejada de pedras preciosas que atirou ao céu quando Ariadne morreu" 17 “É o que se entender claramente na Arca de Egbert, altar portátil que encerra como relíquia uma sandália do Apóstolo Santo André. Na tampa da arca há um sapato de ouro com as correias formadas por pedras preciosas. De modo idêntico, o relicário dos cravos e o estojo para o báculo de São Pedro acomodam-se exactamente, na forma as relíquias que as contêm [...]. A crosta do grande báculo de São Pedro, inteiramente dourada a folha [...] apresenta uma rica guarnição de esmaltes, placas filigranadas, pérolas e pedras preciosas” (SAUERLANDER, 1970, p. 30 - 31) Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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rolas não é inferior em riqueza e esplendor à dos objetos litúrgicos e dos relicários. (SAUERLANDER, 1970, p. 37 - 38)

Em conformidade com a exposição, a coroa produzida pela ourivesaria otonianaà membros do Império Germânico, possuía forma octogonal, em que as figuras estavam figuradas em cada um dos lados, além dos reis do Velho Testamento – Salomão simbolizando a sabedoria, David a justiça e, Isaias e Ezequiel representado vida longa e a garantia de um governo feliz – provérbios escritos de modo análogo em esmalte dourado e, Cristo triunfante no centro da coroa. Além disso, não é possível esquecerse dos “marfins otonianos [que] quase sempre muito diferentes [dos carolíngios], trabalhados essencialmente num modelo mais plano” (SAUERLANDER, 1970, p. 39). As características predominantes dos marfins otonianos eram os desenhos abstratos18, em que predominavam linhas retas e contornos desafogados. Conforme nos mostra o autor, os desenhos abstratos dos marfins otonianos eram destacados, em grande perspectiva, no pano de fundo da representação artística. Moldando o pano de fundo, por sua vez, os desenhos abstratos dos marfins otonianos, 18

Sobre tais desenhos, Sauerlander (1970, p. 42) mostra que: “Há nestas obras um realismo não habitual na forma de tratar os pormenores das figuras; cabeças de nariz achatado, maçãs do rosto salientes, face sulcada de rugas ou mãos extraordinariamente grandes, trabalhadas com esmero e animais em movimento” Além de desenhos abstratos, os Otões estampavam também a Crucificação e a rígida 'axialidade' que determinava o comportamento dos corpos humanos. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 07-20, jul.-dez. 2014


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eram constituídos de pequenas placas, quase sempre quadradas, que eram cunhadas aos milhões, oferecendo destaque, aos desenhos abstratos, da representação artística em marfins, da Arte Otoniana. Por esse motivo, o trabalho artístico dos Otões realizados em marfim, conforme defende Sauerlander (1970), se apresentava superior aos dos Carolíngios, em suas técnicas. Ao contrário, segundo o autor, o traço interno das figuras Carolíngias limitava-se em uma incisão imprecisa de linhas retas plasticamente pobres e mostrava o escasso conhecimento da autonomia. Percebe-se isto, na imperícia manifestação com que se reproduzia a figura humana e, por esse motivo, a Arte Otão em marfim é superior nas técnicas, quando comparada a arte em marfim Carolíngia. Diante dessas questões, percebe-se que a Arte Otoniana estava profundamente influenciada pelo cristianismo. A ourivesaria, os trabalhos em marfim e a decoração artística estampada nas igrejas, representavam, ligavam e aludiam imagens bíblicas que se destacavam nas técnicas, que levavam em consideração a dedicação dos artistas plásticos, empenhados em utilizar a arte para representar a intensidade do conteúdo sentimental presente no século X e a herança da tradição mitológica discursada, escrita e retratada pelos poetas e bardos contadores de histórias.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da apresentação das principais características da Arte Helenística do séc. II a.C e da Arte Otoniana do séc. X d.C, que revelaram alguns aspectos referentes a pintura, a escultura, aos marfins e a arquitetura, é importante deixar esclarecido algumas notáveis semelhanças e divergências entre estes dois padrões artísticos. A primeira divergência entre estes, corresponde ao seu caráter produtivo. Como foi apresentado no decorrer deste trabalho, à Arte Helenística pertenciam elementos populares do cotidiano dos gregos. Trabalhadores do comércio, velhos e crianças eram habitualmente manifestados nas produções artísticas helenísticas do séc. III a.C. Ao passo, que nas características da Arte Otoniana predominava um caráter cortesã. Ou seja, somente os homens da corte eram privilegiados pelo estilo artístico, aspecto este, que diferencia a Arte Otoniana do estilo artístico helenístico, cuja arte era inspirada predominantemente em fatos populares. Outra característica divergente destes dois estilos artísticos corresponde ao fator homem. Conforme nos mostrou Zschietzschmann (1970), os helenísticos atribuíram grata importância aos humanos e deuses, estampando em primeiro plano das representações artísticas os gêneros de vida e expressões que lembravam combates históricos e lendários, em tons avermelhados e bastante abrangentes, que foram apresentados nesse artigo, a partir da interpretação da tradição mitológica http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 07-20, jul.-dez. 2014


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por Bufinch (1998), tanto nos Mitos de Minerva, deBaucis e Filêmon, de Pagmilião, como na Ilíada e na Odisséia. Por outro lado, em conformidade com Sauerlander (1970), tanto as representações artísticas otonianas, que postavam no primeiro plano as paisagens, árvores, plantas e nuvens com ricos coloridos, como a ourivesaria otão, que vislumbrava-se pela robusta arquitetura composta de metais preciosas e, pela versátil sutilez das jóias menores, como podemos perceber neste artigo, ainda que de modo muito breve e limitado, possuem meras semelhanças com as características artísticas apresentadas por Bulfinch (1998) dos Mitos de Cupido e Psique, de Faeotonte, de Baco e Ariadne e, na Odisséia. Não obstante, para os helenísticos, o lugar dos cultos eram os templos. Contrariamente aos gregos, os Otões realizavam as mesmas práticas nas igrejas. Por tal motivo, tanto os templos helenísticos como as igrejas otonianas recebiam importantes destaques artísticos. As colunas toscanas que realçavam a fachada e a forma quadrangular que salientava os pórticos e as paredes compõem as principais características artísticas dos templos, lugar este, dos cultos helenísticos. Ao contrário, as igrejas, lugar dos cultos Otões, destacam-se com as grandes portas produzidas em metais preciosos, em que as representações levam em consideração, além do aspecto humano e cristão, paisagens, plantas e nuvens desenhadas em relevo cadenciado com aEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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bundantes coloridos, aspectos estes, que coincidem com as características artísticas apresentadas por Bulfich (1998), particularmente, no Mito de Cupido e Psique e, de Faeotonte Por sua vez, as características da Arte Helenística, em especial, os desenhos estampados de homens e deuses no primeiro plano e, os elementos da Arte Otoniana como os artefatos da ourivesaria produzidos em ouro e prata, o polimento de marfins com esmeraldas e pedras preciosas e, as portas das igrejas produzidas em bronze e platina,as quais davam saliência a elementos da natureza, lembram fortemente traços da tradição mitológica. Diante da exposição, podemos considerar, que a tradição mitológica grega, foi responsável por influenciar dois estilos artísticos pertencente à Idade Dogmática da Estética, o Helenismo, da Idade Antiga, séc. II a.C e, a Arte Otão da Idade Medial, séc. X a.C. Não obstante isso, temos que salientar, que à Idade Dogmáticada Estética, também pertenceram outros estilos artísticos, como a Arte Romana, Romântica, Gótica, entre outras, que não são menos importantes das mencionadas nesse artigo, mas que serão estudas em trabalhos futuros, em que se verificará novamente a influência da tradição mitológica nas artes da Idade Dogmática da Estética. REFERÊNCIAS ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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BAUMGARTEN, A, G. Estética. A lógica da arte e do poema. Trad. Mirian Sutter Medeiros Petrópolis: Vozes, 1993 BULFINCH, T. O livro de ouro da mitologia: História de deuses e heróis. Trad. David Jardim Junior. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998. DURANT, W. Nossa herança clássica, a vida na Grécia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957. (Coleção História da Civilização, 2). HUISMAN, D. A Estética. Lisboa: Edições 70, 2012 JAPIASSÚ, H; MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006 PEREYSON, L. Os problemas da estética. Trad. Maria Helena Nery Garcez. São Paulo: Martins Fontes, 1997 ROSENFIELD, K, H. Estética. Rio de Janeiro: Zahar, 2006 SAUERLANDER, W. Escultura Medieval. Lisboa: Verbo, 1970 (ColecçãoArsMundi, 8) ZSCHIETZSCHMANN, W. Etruscos e Roma. Lisboa: Verbo, 1970. (ColecçãoArsMundi, 13) License information: This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.

Artigo recebido em 08 de março de 2015. Aceito em 22 de maio de 2015.

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Artigo de revisão de literatura

A importância do processo de recrutamento e seleção de pessoas no contexto empresarial Franciele Silva Ferreira1 e Eudes Cristiano Vargas2 1 Graduada em Administração de empresas pela Faculdade do Noroeste Paranaense - FANP/UNIESP, Brasil. E-mail: fran1982@hotmail.com 2 Mestrando em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Maringá. Professor Mediador do NEAD da Unicesumar e Professor Titular dos Cursos de Ciências Contábeis e Administração da Faculdade do Noroeste Paranaense FANP/UNIESP, Brasil. E-mail: eudes.cristiano@ig.com.br

RESUMO: Os processos de recrutamento e de seleção constituem-se um diferencial para as empresas que sabem escolher os indivíduos apropriados para o trabalho a ser executado, as quais identificam a importância da cooperação dos mesmos para o alcance de seus objetivos. As empresas, portanto, precisam atentar-se aos mecanismos empregados na seleção de candidatos, analisando se são coesos às pretensões da empresa e com os valores por ela difundidos. Ressalvados tais aspectos, salienta-se que o presente estudo objetiva identificar como é realizado o processo de recrutamento e seleção de pessoas e a sua importância. Para tanto, o objetivo deste estudo é apresentar a importância do processo de recrutamento e seleção de pessoas no contexto empresarial empregando como metodologia, a pesquisa bibliográfica, abordando o que é gestão de pessoas, o conceito de recrutamento e de seleção de pessoa, assim como avaliar a contribuição destes procedimentos para o êxito empresarial. Com as informações levantadas, é possível concluir que o processo de recrutamento e seleção tem extrema relevância para as empresas, pois se encarregam pelo recrutamento, entrevistas com os selecionados e treinamentos para o desenvolvimento dos cargos disponíveis. Também fica explicito que as organizações procuram moldar estratégias com o intuito de localizar talentos adequados. É imprescindível que as empresas tenham um programa de estratégia organizacional, que deixem bem evidenciados suas metas e seus objetivos. Para que isso ocorra é primordial a integração e colaboração de todos na empresa, sendo comum a responsabilidade, é fundamental o espírito de equipe. Conclui-se, ao final, que quando bem fundamentado, o processo seletivo proporciona às empresas funcionários compromissados com seu sucesso. Palavras-chave: Recrutamento. Seleção. Empresas. Organizações. The importance of the recruitment process and selection of people in business context ABSTRACT: The recruitment and selection constitute a differential for companies that know how to choose the appropriate individuals for the work to be performed, which identify the importance of cooperation of the same for the achievement of its objectives. Companies therefore need to pay attention to employees mechanisms in the selection of candidates, analyzing whether they are cohesive to the claims of the company and the values it widespread. Except these aspects, it is emphasized that this study aims to identify how is performed the process of recruitment and selection of peoEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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ple and its importance. Therefore, the objective of this study is to present the importance of the recruitment and selection process of people in a business context using as methodology, literature review, addressing what people management, the concept of recruiting and people selection, as well as evaluate the contribution of the following to business success. With the information acquired, it can be concluded that the process of recruitment and selection is extremely important for companies because are responsible for recruiting, interviewing selected and training for the development of the available positions. It is also explicit that organizations seek to shape strategies in order to locate suitable talent. It is imperative that companies have an organizational strategy program that let well evidenced its goals and objectives. For this to happen it is essential the integration and collaboration of everyone in the company, with joint responsibility, team spirit is key. It can be concluded at the end, when well-founded, the selection process provides to employees companies committed to your success. Keywords: Recruitment. Selection. Companies. Organizations

1 INTRODUÇÃO Diante da conjuntura das mudanças econômicas, sociais e políticas que ocorrem cada vez mais, as quais estão acompanhadas de incerteza e imprevisibilidade para as empresas, mostra-se a imprescindibilidade da eficaz administração de recursos humanos. Considerando a importância que as pessoas apresentam para a sobrevivência das organizações, mostra-se imprescindível a gestão de pessoas, que recruta e seleciona as pessoas para atender a necessidade da organização. No momento em que a empresa procura por profissionais dentro ou fora da organização, ocorre o recrutamento, podendo o mesmo ser do tipo interno, externo, misto ou até mesmo on-line, como ficará evidenciado. No processo de seleção de pessoas, é vital que se encontre o melhor candidato que se adapte ao perfil estabelecido previamente pela organização, sendo verificadas nesta etapa, as habilidades, os conhecimentos e as experiEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

ências do possível colaborador, que serão de essencial estima para organização. Assim, este possível colaborador enfrentará uma série de procedimentos, como entrevista, para que a empresa escolha a pessoa correta para um determinado cargo. Selecionado o colaborador, a empresa tem o encargo de integrá-lo à sua função. Nesta etapa, o colaborador conhecerá os principais aspectos inerentes à organização. Deste modo, é essencial que o processo de recrutamento e seleção da organização, seja competente e dinâmico, no intuito de contratar aqueles que são melhores profissionais. O presente estudo, portanto, trata de uma explanação acerca da gestão de pessoas, dos conceitos de Recrutamento e de Seleção, tendo por objetivo elencar a importância deste processo, cuja finalidade é acrescentar indivíduos nas organizações. Na tentativa de oferecer informações para o estudo sobre o recrutahttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


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mento e seleção e de identificar e investigar a importância destes processos no âmbito empresarial, o presente estudo utiliza-se da metodologia de pesquisa bibliográfica, objetivando assim que seja aproveitado o favorecimento da produtividade e competitividade nestas organizações. 2 A GESTÃO DE PESSOAS E O PROCESSO DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DE PESSOAS De acordo com Milkovich e Bordreau (2000), os processos de recrutamento e de seleção constituem um procedimento que mobilizam os funcionários não somente para dentro da organização, como também em seu interior, de modo a determinar um conjunto de pessoal da dimensão e da especificidade desejada. Quanto mais ampla é a quantidade de candidatos, maior é a probabilidade de que seja selecionado um funcionário bom, salienta Lodi (1976). O recrutamento é negativo, todavia, caso haja um candidato para uma vaga, não havendo seleção possível. O processo de recrutamento e de seleção, conforme observam LimongiFrança e Arellano (2002), correspondem a processos que integram o costume de preenchimento de vagas em aberto, ou seja, da contratação de pessoal. A diferença entre recrutamento e seleção de pessoal é evidenciada por Ribeiro (2005), quando ressalta que o recrutamento se trata de um sistema de informações que tende a aproximar Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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candidatos qualificados, entre os quais é possível selecionar posteriores funcionários da organização. De outro modo, o processo de seleção implica em selecionar a pessoa adequada para o cargo adequado, ou seja, entre os candidatos recrutados, dos mais apropriados aos cargos que existem, com a finalidade de conservar ou alargar, tanto a produtividade quanto os efeitos. Segundo os autores mencionados, para que o processo de seleção ocorra de forma efetiva o procedimento de recrutamento tem que ser de alta eficácia no intuito de que as duas fases ocorram satisfatoriamente para a organização. Os processos de recrutamento e de seleção conforme LimongiFrança e Arellano (2002) constituem-se ferramentas que podem ser utilizadas na integração da estratégia de negócios da organização. De qualquer forma, segundo Ribeiro (2005), o papel do recrutamento é prover os candidatos ao emprego. Os procedimentos de recrutamento e seleção visam esquadrinhar no mercado de trabalho os profissionais que se encaixam melhor ao perfil demandado pela vaga a ser ocupada na empresa. Salientados tais aspectos, adiante será explicitado de forma mais detalhada cada um dos métodos para contratação de pessoal. Sendo, portanto, destacadas noções acerca da gestão de pessoas, antes de ser abordado o subsistema de recrutamento e de seleção, visto que é a gestão de pessoas que gerencia as relações dos indivíduos com a organização. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


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2.1 GESTÃO DE PESSOAS A importância de ser abordada a gestão de pessoas se destaca quando se parte do pressuposto que muitas empresas consideram como recurso mais fundamental o seu pessoal, porém, poucas delas instituem padrões para contratação, examinam resultados e procuram talentos para fazer carreira não somente para preencherem uma vaga, conforme explica Paschoal (2006). Ora, levando-se em consideração as palavras de Milkovich e Boudreau (2000), onde a gestão de pessoas se trata de uma preocupação fundamental de qualquer executivo em uma organização, então, os executivos das áreas de marketing, operações, finanças, compras, distribuição e planejamento são todos gestores de pessoas. Segundo Almeida (2004): A gestão de talentos, tão debatida atualmente e adotada por organizações mais modernas, propõe, também, uma atuação integrada dos recursos humanos, com foco em estratégias organizacionais e em competências. A gestão de talentos é um enfoque estratégico, que visa criar valor para o acionista, cliente, empregado e sociedade, a partir da captação, seleção e retenção e desenvolvimento do talento individual e organizacional (ALMEIDA, 2004, p.107).

A cooperação eficaz das pessoas para alcançar as metas individuais e organizacionais, segundo Chiavenato Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

(2006), é viabilizada pela gestão de pessoas. O autor explica que contar com talentos demanda um recrutamento eficaz, uma triagem bem realizada e contínuo acompanhamento do desempenho alcançado, assim como uma cultura organizacional que instigue a cooperação e o compartilhamento de conhecimento. Os profissionais de gestão de pessoas, de acordo com Ribeiro (2005), integram os mais relevantes desafios da organização e colaboram para a aquisição dos objetivos individuais e organizacionais. Conforme Dutra (2009), as pessoas adquirem cada vez mais a compreensão de sua função e passam a cobrar de si mesmas a gestão de sua carreira e, consequentemente, as condições objetivas de desenvolvimento profissional da sua empresa. Assim, avalia-se que uma organização existe para acolher às necessidades dos clientes, na intenção de impetrar um equitativo retorno financeiro por seus produtos ou serviços prestados. A fim de desempenhar seu maior objetivo, a organização precisa agregar o trabalho de técnicos, gestores e de mais pessoas que compõem a sua força de trabalho. Cada organização apresenta uma maneira apropriada de gestão de pessoas, segundo seu andamento e sua natureza, com o meio que a cerca, com a cadeia de reunião de valores e a tecnologia dominante em seu meio social. Para Davel (2009), a administração de RH é instituída por uma série articulada de atividades, que supõem os resultados ambicionados pela organizahttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


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ção e que são possíveis de serem alcançados através de uma ação livre e programada quanto às atribuições de aproximar, escolher, reter, incitar, habilitar, considerar e recompensar pessoas. Já para Ribeiro (2005), administração de recursos humanos tem o encargo de desempenhar ações de recrutamento, triagem, destreza, planos de cargos e salários, contratação, remuneração e questões trabalhistas. Diante de tais métodos, empregados pelos administradores de gestão de pessoas, segundo o autor, é possível visualizar que além destas atribuições, o profissional deve acompanhar determinados desígnios essenciais para tal método. Na acepção de Chiavenato (2008), os utilitários da gestão de pessoas são múltiplos, pois para a eficácia organizacional ela precisa auxiliar a organização a alcançar seus desígnios e desempenhar sua missão, além de também propiciar competitividade à organização, proporcionar pessoas bem motivadas e bem treinadas à organização e alargar o contentamento dos indivíduos no trabalho. Conforme Davel (2009) demandamse dos gestores bom senso, sensibilidade, precaução e consciência para saber lidar com os indivíduos e com as astúcias de suas relações num espaço socioeconômico cada vez mais abarcado pela complexidade, fugacidade, fragilidade e incongruências. Não obstante, para um desempenho estratégico, precisa ainda abraçar medidas para ampliar as habilidades e instituir um

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ambiente de trabalho voltado a novas ideias. Por fim, destaca-se que conforme Ribeiro (2005), com a intenção de reter habilidades para a empresa, a área de RH deve instituir medidas que instiguem e ampliem o potencial de seus profissionais. 2.2 RECRUTAMENTO DE PESSOAL Recrutamento de pessoal na concepção de Marras (2005) consiste numa atividade que se encontra sob a responsabilidade da administração de RH, objetivando captar recursos humanos interna e externamente no intuito de aprovisionar o subsistema de seleção de pessoal na sua recepção aos clientes internos da empresa. Para o autor, todo o processo de recrutamento de pessoal inicia-se a partir de uma necessidade interna da organização, no que se refere à contratação de profissionais novos. Recrutamento é um conjugado de procedimentos e técnicas que ambicionam aproximar candidatos qualificados e capazes de tomar cargos dentro da organização, ressalta Chiavenato (2002). Stoner e Freeman (1999) observam que a intenção do recrutamento é aproximar a maior quantidade de candidatos a fim de que a organização selecione aqueles que são mais qualificados. No mesmo sentido, Milkovich e Boudreau (2000) anunciam que o recrutamento é um método que se utiliza para identificar e atrair um conjunto de candidatos, dentre os quais serão selehttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


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cionados alguns para, em seguida, serem contratados para o preenchimento da vaga de emprego. A entrada e saída de empregados, no entendimento de Milkovich e Bordreau (2000) é um sucessivo movimento que ocorre no interior das organizações, e o gerenciamento de tal movimento de pessoas é uma das mais atuantes e importantes atividades da administração de RH. O mercado de trabalho exerce influência direta sobre o recrutamento, mesmo ao se realizar um recrutamento interno, ainda assim haverá influencia do mercado de trabalho, pois a vaga deixada em aberta de alguma maneira deverá ser reposta por um candidato externo. Em épocas de crise econômica, recessão e poucas aquisições, o mercado de trabalho aufere uma oferta maior de mão de obra do que postos de trabalho, sendo que a disputa pelos candidatos torna-se acirrada em tempo de crescimento, como explicam Limongi-França e Arellano (2002). Ribeiro (2005) pontua que no procedimento de recrutamento em geral há uma pesquisa realizada junto às fontes competentes de munir a organização de uma suficiente quantidade de pessoas. O procedimento de atrair indivíduos para dentro da organização, por sua vez, também ocorre de modo reverso, ou seja, os indivíduos escolhem as organizações segundo suas peculiaridades, o que se torna uma busca de atração e contínua procura tanto pelas empresas quanto pelos indivíduos.

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O recrutamento é realizado de acordo com Chiavenato (2002) conforme as necessidades contemporâneas e vindouras de recursos humanos que se fazem presente na organização, evidenciando assim três etapas de seu processo: • Pesquisa Interna, que equivale a uma constatação das necessidades da organização de acordo com suas características de RH, a curto, médio e longo prazo, desvendando assim o que a organização carece de imediato e quais são seus objetivos de crescimento e desenvolvimento futuros, o que com certeza importará em novos aportes de RH. Tal levantamento interno não é ocasional ou esporádico, pelo contrário, é constante e contínuo e necessita abarcar as extensões e níveis da organização, a fim de elencar suas necessidades de pessoal e o contorno e peculiaridades que os mesmos deverão ter e proporcionar. • Pesquisa Externa: esta é uma pesquisa de mercado de RH na intenção de orientá-lo e diferenciá-lo para promover sua análise e, por consequência, abordagem. Desta forma, preponderam da pesquisa externa, dois importantes aspectos: a orientação de mercado de RH e o encontro das fontes de recrutamento. • Técnica de Recrutamento: realizada a pesquisa interna e externa, o próximo passo é selecionar as técnicas de recrutamento que são mais recomendadas para cada caso e estudar os meios, ou seja, fontes de recrutamento que mais atendam a necessidade da organização. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


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Denota-se que o recrutamento de mais ampla quantidade de pessoas para um cargo específico aparenta ser uma vantagem no processo, visto que quanto maior a quantidade de candidatos, maior é a chance de ser descoberto um indivíduo apropriado de se encaixar nas tarefas a ser desempenhadas. Limongi-França e Arellano (2002) mencionam que o procedimento de recrutamento pode ser desempenhado de dois modos básicos: recrutamento interno, o qual aproxima indivíduos já contratados que trabalham na organização em outros cargos e recrutamento externo, o qual busca candidatos que não têm no mercado de trabalho vínculo direto com a empresa. Já Chiavenato (2002) transplanta tais formas de recrutar pessoas, indicando dois outros processos: o recrutamento misto e o recrutamento on-line. Portanto, em seguida será elencado cada tipo de recrutamento: Interno, Externo, Misto e On-line. 2.2.1 Recrutamento Interno Ao dispor de recursos humanos com capacidade de assumir os cargos disponíveis, uma organização apresenta uma qualidade no seu quadro de pessoal, pois ganha em potencialidade de pessoal. Para Chiavenato (2002), o recrutamento interno ocorre quando por meio do remanejamento de seus empregados a organização busca preencher determinada vaga disponível através dos que podem ser transferidos,

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promovidos e ainda transferidos com promoção. Ainda para Chiavenato (2002), o recrutamento interno pode abarcar a promoção de pessoal; programas de desenvolvimento de pessoal; transferência de pessoal; transferência com promoções de pessoal, assim como planos de carreiras de pessoal. Ribeiro (2005) destaca que o processo de recrutar no interior da empresa instiga o bom desempenho profissional, além de poupar gastos com honorários, com agências de emprego, anúncios, etc. Observa também que a chance de acerto na seleção tende a ser mais ampla pelo fato de a empresa já ter um conhecimento sobre o candidato e pelo mesmo já ter sido notado por seu chefe. Lodi (1976), por sua vez, expõe como fatores que favorecem o processo de recrutamento interno os seguintes: I) é o recurso mais coerente, visto que é a fonte de recrutamento mais imediata e menos custosa; II) há possibilidade de obter informações mais precisas acerca dos “candidatos”, pois se conhece o desempenho anterior dos mesmos por meio de uma sistemática avaliação; III) instiga o preparativo para promoção, gerando especiais medidas de treinamento e institui um saudável clima de progresso profissional; IV) aperfeiçoa o moral interno; V) especializam as relações públicas com empregados. Portanto, de acordo com o já explicitado no parágrafo anterior, é possível observar uma vantagem no que tange aos colaboradores internos da organihttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


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zação, já que cada pessoa em regra ambiciona ao longo da vida desenvolvimento e promoção profissional no decorrer de sua carreira. Contudo, há de se mencionar que o recrutamento interno também tem determinadas desvantagens, as quais são elencadas por Chiavenato (2002), dentre as quais enumeram-se a limitação às políticas e diretrizes da organização e conflitos de interesses ocasionados em meio aos colaboradores. Nada obstante, ressalta-se que o processo de recrutamento interno também dificulta a entrada de ideias e experiências novas para o interior das organizações. Elencadas as principais características do recrutamento interno, serão expostas a seguir as peculiaridades do recrutamento externo. 2.2.2 Recrutamento Externo A procura por ideias novas e possíveis talentos é um recurso empregado pelas empresas para buscarem inovar e desenvolverem seu capital intelectual, ou seja, agregarem novos conhecimentos e até desenvolver conhecimentos já experienciados. Novas experiências e pensamentos vindos de fora detêm a capacidade de auxiliar de modo competitivo as organizações que buscam a expansão de suas atividades e que procuram conservarem-se atualizadas conforme as tendências do mercado onde se faz cada dia mais presente a globalização. Para que tal processo ocorra, empresas têm a tendência de procurar por recursos fora do seu meio organizacional. Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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A empresa assim traz um novo pessoal e de certa forma conserva as práticas que as demais organizações costumam aproveitar, explica Ribeiro (2005). Incrementando o assunto, Chiavenato (2003) observa que o recrutamento externo é focado em candidatos derivados de fora da organização, sendo estes atraídos pela empresa por meio das técnicas de recrutamento. De outra forma, Lodi (1976) apresenta que muitas vezes as organizações que procuram por recursos de pessoal externamente, apresentam uma carência de importância com seus RH internos, e não instituem formas de capacitação de seus contemporâneos funcionários. Limongi-França e Arellano (2002) ressaltam as seguintes fontes de recrutamento externo: anúncios em locais visíveis da empresa; organizações institucionais: escolas, universidades e faculdades, cursos técnicos; anúncios em jornais, revistas, etc.; consulta ao banco de dados da própria empresa, ou seja, cadastros de processos seletivos anteriores ou de candidatos que se apresentam espontaneamente; contato com sindicatos e associações; cadastro de outros recrutadores; intercâmbio entre empresas; sites especializados; site da própria organização ou agência de recrutamento. Diversas fontes das apresentadas têm um custo baixo de captação, como anúncios expostos em locais visíveis e consulta do banco de dados da empresa, que apresentam praticamente nenhum custo. Já para aquelas empresas que não têm um RH e quando não ahttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


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presentam um suficiente banco de dados, ordinariamente uma opção são as empresas com especialização em recrutamento/emprego. Outra forma costumeiramente utilizada, sobretudo por empresas familiares, são as recomendações, que tem um custo baixo de captação, e que de certo modo transmite uma maior credibilidade para o recrutador, já que abarca o funcionário da empresa no processo, salienta Chiavenato (2003). Pelo intenso emprego de tecnologias é cada vez mais empregada pela maior parte das empresas a procura por candidatos através de cadastro no próprio site da organização, que se apresenta como uma ferramenta rápida, prática e que possibilita um filtro segundo as peculiaridades ambicionadas para os cargos disponíveis, comumente com nenhum custo e de uma boa visualização para o recrutador. Como se percebe, há uma diversidade de conclusões opostas por parte de muitos autores sobre recrutamento externo. Alguns consideram que atualizar a organização com entrada de novas ideias é uma crescente. Nada obstante, na concepção de outros isso denota um aspecto negativo ou incompetência de muitas empresas por não conservarem seus funcionários e não instituírem meios para que os mesmos apresentem oportunidades de crescimento em seus quadros, além disso, na maioria das vezes, o processo é mais árduo do que o de recrutamento interno. Uma das razões pelas quais uma empresa lança demasiado mercado externo de mão de obra é porque ou a Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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mesma apresenta uma alta rotatividade de seu quadro de funcionários ou porque ela não crê em seu pessoal e não os conserva motivados, ou ainda, na possibilidade de a mesma não manter um programa de valorização interna, explica Lodi (1976). Salientados os tipos básicos de recrutamento, em seguida serão elencadas as principais características do recrutamento misto. 2.2.3 Recrutamento Misto Na maior parte dos casos, tratar dos processos de recrutamento é, fundamentalmente, abandonar a teoria, deixando-a apenas no papel, visto que na prática considerável parcela das organizações não empregam somente um processo de recrutamento no momento de agregar pessoas. Chiavenato (2002), neste sentido, observa que ambos se complementam e se completam. Portanto, o procedimento de recrutamento misto diz respeito à procura por candidatos tanto de fontes internas quanto externas. Na concepção de Chiavenato (2002), pode-se adotar o recrutamento misto em três alternativas de sistema: Recrutamento externo, acompanhado de recrutamento interno, na hipótese de não ser alcançado efeitos desejáveis. Assim, caso a empresa necessite de pessoal já qualificado e treinado, a mesma introduz do mercado externo. Na hipótese de não encontrar candidatos que se enquadrem em seus moldes, procuram em meio ao seu próprio pessoal, não ponderando de imediato, http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


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as reivindicações quanto às necessárias qualificações. Recrutamento interno, seguido de recrutamento externo. A princípio a empresa oferece chances do pessoal interno, não existindo candidatos à altura, parte em direção ao recrutamento externo. Recrutamento externo e recrutamento interno simultaneamente, ou seja, a empresa atenta-se primeiramente ao preenchimento da vaga existente, seja por meio do emprego de recursos humanos já existentes ou da importação de pessoal. Entretanto, para uma política de pessoal eficaz, comumente há prioridade aos candidatos internos sobre os externos na hipótese de identidade de condições. Assim, a empresa institui um modo sadio de competição profissional, oferecendo oportunidades a seu pessoal e oportunidade de acesso ao emprego a diversos candidatos. Realizadas as etapas de escolha do método de recrutamento de candidatos, introduzem-se as etapas envolvidas na escolha dos mesmos. Efetuado o processo de recrutamento, a generalidade de selecionados passa pelo procedimento de seleção, de forma que o mesmo apenas se dará se existir uma quantia de candidatos competindo pela vaga/cargo, pontua Lodi (1976). 2.2.4 Recrutamento on-line Considerando o fato de a Internet ser um valioso canal e uma ferramenta fácil, rápida e crescente para a captação de candidatos para recrutamento, Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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são empregados sites de recrutamento e o próprio site da organização para o desempenho desta tarefa, visto que no mercado atual de negócios é praticamente inconcebível que uma empresa não tenha a internet como suporte tecnológico de comunicação. Assim, uma variedade de empresas de sites de recrutamento procura pela oportunidade de utilização deste veículo de comunicação. No recrutamento virtual, como explica Chiavenato (2002), o espaço principal do site é destinado a cadastrar currículos onde os candidatos confirmam seus dados pessoais e determinadas características, como: aptidões, preferências, conhecimento, etc. Salienta, ainda, que os serviços on-line de recrutamento abrem as portas de muitas empresas e possibilitam suprimir etapas de provisão. Os sites, caso bem formatados, oferecem acesso instantâneo e simplificado na busca do perfil dos candidatos, sem computar no tempo do processo, que se torna bem célere cotejando com a manipulação e leitura de currículos. Caso o cadastro do candidato seja realizado diretamente pelo site da empresa, além de repassar suas informações pessoais o mesmo pode concomitantemente armazenar conhecimentos sobre a organização que anseia cadastrar seu perfil, sendo mais simplificado no momento da seleção pela empresa que mais se encaixar às suas características. Ou seja, é um processo de mão-dupla, ao passo em que a empresa recruta alguém próximo ao seu

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perfil ideal, a pessoa se candidata àquela empresa ideal para seu perfil. Outra ferramenta virtual são as redes sociais, que amplamente é empregada para anunciar vagas e procurar candidatos, visto que seu uso distribui a informação para milhares de pessoas ao mesmo tempo. A tecnologia da informação tem, portanto, auxiliado de modo direto a área de RH. Salienta-se que o implemento das técnicas tem que se apresentar em conformidade com os objetivos, com a realidade e com a estrutura da empresa, no intuito de que sejam contratados colaboradores que se encaixem no perfil mais próximo possível almejado pelo cargo a ser desempenhado. Ademais, a análise e descrição do cargo são de suma importância, pois é necessário que sejam apresentadas as informações acerca dos requisitos que o ocupante do cargo tem que demonstrar. 2.3 SELEÇÃO Para Chiavenato (2006) a seleção consiste numa atividade obstativa, de escolha, opção e decisão, de filtragem da entrada, de classificação e, por conseguinte, restritiva. A tal entendimento somam-se as palavras de Lobos (1979), o qual soma os parâmetros conhecimento, motivações e habilidades a tal raciocínio, ao expor que seleção se trata de um procedimento de administração de RH através do qual a empresa busca a satisfação de suas necessidades de RH, selecionando as pessoas que desempenhariam de melhor forma um cargo determinado na empresa, Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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fundamentada em uma ponderação de suas peculiaridades pessoais (habilidades, conhecimentos, etc.) e de suas motivações. Para Pereira, Primi e Cobêro (2003) a fase de seleção de pessoas apresenta duas finalidades básicas. Inicialmente a de selecionar em meio a um grupo de candidatos com melhores competências para apontada posição, e outro tentar predizer do melhor modo possível o futuro comportamento em relação ao cargo a ser ocupado. Tal processo é capaz de ser administrado por técnicas diversas, dentre as quais se destacam: entrevistas, triagem genética, testes informatizados, formulários e procedimentos, através dos quais o processo de medir informações pode ser promovido se sistematizado devidamente, ou seja, quando se amplia técnicas para alinhar perfil com habilidades, como elenca Marras (2005). Decidido qual o processo de recrutamento a ser perseguido, realiza-se em seguida a seleção dos candidatos para determinar quem está hábil a ocupar o cargo. Tal seleção é realizada através do departamento de RH onde os candidatos de modo criterioso são analisados. Decorrido o processo de comparação, realiza-se o procedimento de decisão e escolha, que cogita pela procura dos candidatos mais adequados ao cargo. Chiavenato (1991), neste sentido, destaca: Após a comparação entre as características exigidas pelo cargo e as características oferecidas pelos candidatos, pode acontecer que vários http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


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destes apresentem condições aproximadamente equivalentes para serem indicados para ocupar o cargo vago. O órgão de seleção não pode impor ao órgão requisitante a aceitação dos candidatos aprovados no processo de comparação. Pode apenas prestar o serviço especializado, aplicar as técnicas de seleção e recomendar aqueles candidatos que julgar mais adequados ao cargo. Porém, a decisão final de aceitar ou rejeitar os candidatos é sempre de responsabilidade do órgão requisitante. Assim, a seleção é responsabilidade de linha (de cada chefe ou gerente) e função de staff (prestação de serviço pelo órgão especializado) (CHIAVENATO, 1991, p. 108).

Para seleção de candidatos, Marras (2005) sugere como um dos meios o mapa de competências em planilha, sugerindo que o mesmo pode adaptarse de acordo com a feição de cada cargo, visto que, além do específico presentemente avalia-se habilidades coadjuvantes, como redação, informática, conhecimento de pelo menos uma língua estrangeira, comumente o inglês, entre as demais especialidades demandadas. Nada obstante, observa-se que é necessário também se ater às conseqüências legais de uma seleção, pois de acordo com Dessler (2003), a legislação estabelece que a empresa realize uma efetiva e sistemática avaliação dos processos seletivos, afiançando, desta forma, que não está de forma injusta discriminando nenhum candidato. Observa-se, assim, que a seleção se trata de uma atividade de escolha, de Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

decisão e opção, que tem por finalidade resolver dois problemas: a adaptação do candidato ao emprego e sua eficácia no cargo sugerido. Ou seja, tem por papel eleger entre os candidatos os que tenham as mais aptas condições de enquadrar-se ao cargo. De tal modo, pode-se afirmar que o processo de seleção encontra-se baseado nas particularidades da função a ser desempenhada e nas peculiaridades do indivíduo a ser escolhido, além de depender também da entrada de pessoas com ideias novas, caracteres que conjuntamente podem oferecer o desenvolvimento da organização. Avalia-se que cada organização tem sua forma de seleção, porém as decorrências finais continuam as mesmas. Chiavenato (1999) aduz que as técnicas de seleção possibilitam rastrear as características pessoais do candidato por meio de amostras de seu comportamento, sendo que um bom método de seleção deve ter apontados atributos, como rapidez e confiabilidade. Nada obstante, ela necessita simular o melhor funcionário para um bom desempenho do candidato no cargo vindouro. Deste modo, as técnicas de seleção se mostram importantes, visto que implica no candidato certo para a vaga certa. Uma das técnicas mais aproveitadas pelos empregadores é a de entrevista, a qual apesar de ser imprecisa e subjetiva, por ser pessoal é a que mais influencia na seleção final de candidatos. Seria bem excepcional um gerente realizar entrevista com um provável futuro funcionário, haja vista que a entrevista http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


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se desponta como instrumento gerencial imprescindível, pontua Dessler (2003). Discorrendo sobre os processos de seleção bem-sucedidos, Chiavenato (1999) destaca sobre a entrevista que é fundamental a função do entrevistador. Nestes, os gerentes são habilitados para entrevistar os candidatos, assumindo a função primordial no processo de seleção, enquanto o órgão de staff ostenta a função de consultor interno e orientador a fim de que os gerentes e suas equipes realizem entrevistas com os candidatos e adotem suas decisões sobre elas. Os entrevistadores principiantes, de seu modo, iniciam entrevistas completamente padronizadas, o que pode ocasionar distorções, porém, é relevante que isso aconteça até os mesmos poderem realizar uma entrevista com maior eficiência. Em geral, as entrevistas não-diretivas ficam sob a responsabilidade dos gerentes que, seguidamente ao processo seletivo, serão os entrevistadores finais, explica Chiavenato (1999). Gil (2001), por sua vez, faz sua recomendação pelo emprego de testes escritos para serem ocupados os cargos para os quais se demanda conhecimentos específicos, assim como habilidades específicas, como a de redação, por exemplo. A seleção pela modalidade de teste, assim como a acepção de seu conteúdo deve atentar-se ao perfil do cargo, evitando-se o emprego dos testes de caráter acadêmico e de “pacotes”, visto que apesar de serem utilizados para Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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eleger pessoas competentes, não afiançam a seleção dos melhores candidatos para o cargo demandado, explica Gil (2001). Por outro lado, os mesmos autores também indicam a importância de testes psicológicos, por serem de grande utilidade para identificação das competências dos candidatos. Podem ser empregados para avaliarem as capacidades específicas dos candidatos, como raciocínio verbal, abstrato e mecânico, bem como o potencial intelectual dos mesmos e seus traços de personalidade. Limongi-França e Arellano (2002) destacam a importância dos testes práticos no processo de seleção, informando consistirem em técnicas que determinam réplicas a circunstâncias, de modo que os candidatos interatuem e participem delas de forma ativa. Por serem atividades que abarcam atuação e por diversas vezes simulações de uma conjuntura profissional, o domínio pelo candidato fica restrito e as consequências podem ser mais concretas e espontâneas. Por fim, destaca-se não ser suficiente que se disponha de candidatos qualificados para que haja um processo de seleção eficaz, há a necessidade de também haver indivíduos apropriados a avaliar o pessoal disponível à vaga, competindo, portanto, aos entrevistadores realizarem um primoroso papel, com conhecimento e característica no desenvolvimento de sua função.

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2.4 A IMPORTÂNCIA DO PROCESSO DE RECRUTAMENTO E DE SELEÇÃO Os procedimentos para recrutamento e para seleção de pessoal são formados pelas atividades avaliadas como as mais relevantes na área de RH, de forma que Chiavenato (2006) aponta que as empresas de sucesso investem de forma massiva em tempo laboral dos seus funcionários de primeira linha para recrutar e selecionar pessoas. As empresas consideram que, futuramente, aquele empregado médio terá de ter à sua disposição uma infraestrutura de apoio muito mais eficaz para o desempenho de suas atividades. Todavia, por outro lado, o empregado médio deverá, em grupo ou pessoalmente, colaborar muito mais do que antes. Destaca-se que o fator humano sempre estará presente. Assim, ainda que haja tecnologia e avanço, o fator humano sempre se fará mais constante, tanto no êxito como no fracasso de uma empresa. Deste modo, entende-se que os indivíduos que realizam o trabalho e o modo como o fazem, ainda produz significativa diferença. Por tal razão, o capital fundamental de uma empresa é constituído pelos indivíduos, o que se denomina de capital intelectual (LODI, 1986). Portanto, os profissionais que mais se destacam nas áreas de RH vêm sendo cada vez mais estimados, pois é incumbência dos mesmos procurar pelas pessoas adequadas para as funções, acomodá-las na empresa e conservá-las motivados com seu emprego. Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

Ferreira e Vargas

Na concepção de Lodi (1986), o recrutamento tem sua importância conforme o ciclo econômico, as crises de desenvolvimentos, sociais e políticas, os meses do ano, e, até mesmo de acordo com a mudança de estação em tempos de prosperidade, que faz aumentar a quantidade de empregos e a competição das indústrias pela mão de obra disponível. Todavia, determinadas empresas abrem oportunidades de mais vagas em apontados períodos do ano, como empresas do comércio e varejo, por exemplo, que apresentam maior número de vagas nos meses de novembro a fevereiro em razão da maior agitação de pessoas nesta época do ano. Ainda no entendimento de Lodi (1986), é interessante compreender que a seleção passa à sua função negativa através do recrutamento positivo, suprimindo os inadequados e apontando os melhores para serem contratados. Este aspecto negativo da seleção na verdade não cria bons candidatos, somente os apontam e apresentam. Quando a área de RH em uma empresa encontra-se bem organizada, não há a possibilidade de uma pessoa sozinha desempenhar todos os papeis que são demandados: o recrutamento e seleção, serviço social e benefícios, cargos e salários, departamento de pessoal, treinamento e desenvolvimento, segurança do trabalho e medicina do trabalho constituem-se alguns desses setores, por isso torna-se impossível, tanto fisicamente quanto habil-

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A importância do processo de recrutamento e seleção de pessoas no contexto empresarial

mente cerebral realizar todas essas tarefas de maneira eficiente. Empresas relativamente novas e pequenas geralmente têm organizado somente o departamento de pessoal. Há também aquelas que mesmo com uma composição com capacidade de suster todos essas atividades e setores escolhem terceirizar um ou mais deles, contratando outras empresas especialistas nessas atividades para desempenhar esses serviços. De forma cada vez mais constante, as organizações inserem em uma conjuntura competitiva de mercado, onde o capital intelectual se faz um significativo diferencial entre as mesmas. Neste contexto, o planejamento de RH, conforme destacam Stoner e Fremman (1999), é realizado para garantir que as necessidades de pessoal, sejam elas futuras ou instantâneas, sejam preenchidas, considerando os fatores internos e os fatores externos, tornando um disponível conjugado de candidatos a serem elegidos de uma forma que seja quase sempre alcançada sua eficácia. O setor moderno de RH, de acordo com Chiavenato (2002), ambiciona abordar pessoas como pessoas e como recursos importantes organizacionais, contudo, rompe com a forma de considerá-las somente como elementos de produção, avaliando os indivíduos como indivíduos. Assim, o papel do setor de recursos humanos é essencial para a sadia continuidade da organização e de todos aqueles que nela se inserem ou que venham a ser inseridos. Ribeiro (2005), neste sentido alude que devido à gloEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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balização e as constantes mudanças no mercado, uma das tarefas primordiais do RH é gerenciar de modo correto as habilidades de pessoal que existem na empresa para a sobrevivência do seu êxito. O processo de recrutamento e seleção se trata de uma das principais técnicas a serem desempenhadas pela área de RH das empresas, sempre com a intenção de assegurar técnicas que visam assegurar a qualidade de pessoal que a empresa necessita sustentar. Este processo é um instrumento de vital importância a ser empregado para associar a estratégia de negócios da empresa, especialmente se ela precisa atravessar modificações e renovar sua composição operacional, ressaltam Limonge-França e Arellano (2002). O processo de recrutamento e seleção, conforme Carvalho (1997), consiste numa composição de técnicas vitais para serem conduzidos os recursos humanos no interior da organização e busca dirigir e acolher os colaboradores na empresa, escolhendo os candidatos mais aptos para a execução de determinado trabalho conforme o grau de aptidão de cada um. Para Gil (2001), o processo de selecionar os candidatos recrutados deve encontrar-se relacionado com as metas organizacionais. Assim, a empresa terá noção do que irá procurar nos candidatos, suas perspectivas diante do indivíduo e o aspecto mais apropriado ao cargo. Menciona-se que é possível evidenciar que o processo de seleção se sujeita a um bom processo de recrutamenhttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


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to, sendo que ambos os procedimentos devem estar unidos para uma finalidade eficaz. O aproveitamento de técnicas e o aprimoramento dos processos, por conseguinte, é de importância fundamental para promoção daquilo que as organizações ambicionam quanto aos seus recursos humanos. Conforme a pesquisa teórica realizada, aponta-se que os processos de recrutamento e seleção são avaliados como importantes instrumentos para o sucesso das empresas, por tal motivo são tão empregados no contexto empresarial. Por fim, destaca-se também a importância de ser realizada a técnica de entrevista por aquele que vai contratar ou por aquele profissional incumbido pela área de Recursos Humanos da empresa, pois tal técnica apresenta relevante condição de aprofundamento no tocante aos conhecimentos e habilidades que o candidato deve apresentar, assim como o ajustamento às estratégias organizacionais. 3 PERCURSO METODOLÓGICO A metodologia, de acordo com Santos (2000), versa sobre as atividades práticas indispensáveis para a obtenção dos dados com os quais serão realizados os raciocínios que resultarão em cada parte do trabalho final. Em relação aos meios, o presente estudo é classificado como pesquisa bibliográfica, conforme apresenta Vergara (2005), Este tipo de pesquisa bibliográfica, segundo Gil (2002), servese de material secundário, ou seja, é Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

Ferreira e Vargas

realizada através de levantamento de bibliografia já publicada, como livros, cujo objetivo é fazer com que o pesquisador entre em contato direto com aquilo que foi escrito acerca de determinado assunto, possibilitando dessa forma um apoio para a análise a ser feita sobre as informações colhidas, conforme afirma Lakatos (1992). Lima (2004) destaca que a pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e consulta de fontes distintas de dados escritos, a qual é norteada pela finalidade explícita de coletar materiais mais específicos ou mais genéricos sobre um tema, caracterizando-se pela busca em livros e documentos escritos de informações imprescindíveis para desenvolver a investigação de um tema de verdadeiro interesse do pesquisador. Menciona-se que na concepção de Gil (2002), a vantagem principal da pesquisa bibliográfica está no fato de tornar viável ao investigador a cobertura de uma série de fenômenos muito mais abrangente do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Quanto aos fins, considera-se a pesquisa exploratória, pois teve por objetivo investigar por meio de uma pesquisa teórica a importância dos procedimentos de recrutamento e de seleção de pessoal para as empresas. Tal classificação de pesquisa é qualificada por ter objetivos deliberados, quais sejam: apresentar o que é gestão de pessoas, o conceito de recrutamento e de seleção de pessoa, assim como avaliar a contribuição destes procedimentos para o êxito empresarial. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


A importância do processo de recrutamento e seleção de pessoas no contexto empresarial

O presente estudo, portanto, pretendeu apresentar a importância do processo de recrutamento e seleção de pessoas no contexto empresarial. 4 CONCLUSÃO É notório que a cada dia mais as empresas estão se aperfeiçoando para suprirem as exigências do mercado, de modo que a não adequação a tais exigências faz com que as empresas fiquem marginalizadas deste processo. Diante desta realidade, mostra-se imperativo que sejam valorizados os potenciais de cada indivíduo, vez que há uma extensa carência de profissionais. Como visto no decorrer deste estudo, o recrutamento de pessoas é um processo que tem por intuito selecionar os candidatos qualificados em uma triagem inicial, combinando a demanda da empresa com as habilidades do sujeito selecionado para ocupar o cargo. Os processos de recrutamento e de seleção se integram ao planejamento para cautelosa captação de pessoal. A seleção se estabelece como a escolha do melhor candidato, que preenche as exigências da empresa para ocupar a vaga. Quanto mais ampla a quantidade de candidatos recrutados, maior é a probabilidade de bons funcionários serem selecionados. Salientados estes aspectos, destaca-se que este estudo objetivou apontar a relevância do processo de seleção e recrutamento para a contração de novos candidatos. Assim, este trabalho objetivou responder qual a importância dos processos de recrutamento e seleção de pesEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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soas no âmbito empresarial. Levantouse, para tanto, elementos que respondessem qual a relevância de se fazer, da melhor forma possível, o processo de recrutamento e seleção, visto que são os funcionários que trazem desenvolvimento à empresa e que são capazes de atuarem com competência e qualidade no desempenho de suas funções no mercado de trabalho. Deste modo, é possível considerar que, quando bem fundamentado, o processo de recrutamento e seleção de pessoas viabilizará à organização funcionários compromissados com o êxito da empresa. Tal fato é confirmado pelo fato de o processo de recrutamento e seleção viabilizar que a empresa selecione o candidato que complete as suas necessidades, que lhe agregue valor com seu conhecimento, enriquecendo o quadro de colaboradores da empresa. Assim, as empresas precisam enfrentar no mercado de trabalho o desafio do planejamento das necessidades de pessoal, do recrutamento, da seleção, do treinamento e desenvolvimento de funcionários capacitados. Nada obstante, as empresas também precisam inserir seus funcionários em ambientes produtivos e apropriados, além de retribuí-los pelo desenvolvimento e comprometimento por eles evidenciado. Considera-se, por fim, ser de extrema importância que as empresas realizem, da melhor forma possível, os processos de recrutamento e de seleção, pois são os funcionários que trazem considerável parcela de desenvolvihttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 21-39, jul.-dez. 2014


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mento à empresa e faz com que a mesma desempenhe com competência e qualidade seu papel no mercado de trabalho. REFERÊNCIAS ALMEIDA, W. Captação e seleção de talentos: repensando a teoria e a prática. São Paulo: Atlas, 2004. CARVALHO, A. V. de; NASCIMENTO, L. P do. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Pioneira, 1997. CHIAVENATO, Idalberto. Iniciação à Administração da Produção. São Paulo: Makron, McGraw-Hill, 1991. CHIAVENATO, I. Planejamento, Recrutamento e Seleção de Pessoal: Como Agregar Talentos à Empresa. 4. ed. São Paulo: Atlas S.A, 1999. ____. Administração de recursos humanos: fundamentos básicos. São Paulo: Atlas, 2003. ____. Gestão de pessoas: Rio de Janeiro: Campus, 2002. ____. Gestão de pessoas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. ____. Recursos humanos: o capital humano das organizações. 8.ed. 3. reimpr.São Paulo: Atlas, 2006. DAVEL, Eduardo. Gestão com pessoas e subjetividade. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2009. DESSLER, G. Administração de recursos humanos. 2.ed. 2. reimpr. São Paulo: Prentice Hall, 2003. DUTRA, A. Curso de Especialização em Administração Pública. Gestão de pessoas na área pública. 2009. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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GIL, A. C. Gestão de Pessoas: Enfoque nos Papéis Profissionais. 2 ed. São Paulo: Atlas S.A, 2001. LAKATOS, E. M. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1992. LIMONGI-FRANÇA, A. C.; ARELLANO, E. B. As pessoas na organização. São Paulo: Gente, 2002. LOBOS, J. A. A administração de recursos humanos. São Paulo: Atlas, 1979. LODI, J. B. Recrutamento de Pessoal. São Paulo: Pioneira, 1976. ____. A empresa familiar. São Paulo, Pioneira, 1986. MARRAS, J. P. Gestão de pessoas em empresas inovadoras. São Paulo: Futura, 2005. MILKOVICH, George T.; BOUDREAU, John W. Administração de recursos Humanos. São Paulo: Atlas, 2000. PASCHOAL, L. Gestão de Pessoas: nas micros, pequenas e médias empresas.. Rio de Janeiro: Qualimark, 2006. PEREIRA, F. M.; PRIMI, R.; COBÊRO, C. Validade de testes utilizados em seleção de pessoal segundo recrutadores. Psicologia: teoria e prática, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 83-98, 2003. RIBEIRO, A. de L. Gestão de pessoas. São Paulo: Saraiva, 2005. SANTOS, A. R. dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. STONER, J. A. F.; FREEMAN, R. E. Administração. Rio de Janeiro: LTC Editora S.A., 1999.

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A importância do processo de recrutamento e seleção de pessoas no contexto empresarial

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VERGARA, S. C. Métodos de pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 2005. License information: This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.

Artigo recebido em 08 de agosto de 2014. Aceito em 24 de julho de 2015.

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Artigo de revisão de literatura

Aspectos energéticos da teoria cinética dos gases Robert Saraiva Matos1 e Roberto de Carvalho Barros2 1 Possui especialização em Docência do Ensino Superior (2012) pela Faculdade de Tecnologia do Amapá (META) e graduação em Licenciatura Plena em Física pela Universidade Federal do Amapá (2010). Atualmente é Professor Efetivo da Universidade Federal do Amapá, Brasil. Email: robert_fisic@unifap.br. 2 Graduando em Física do Departamento de Física da Universidade Federal do Amapá.Brasil. E-mail: robertquimica2013@ gmail.com

RESUMO: Neste artigo, discutem-se aspectos energéticos relacionados à Teoria Cinética dos Gases (TCG). Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica. Os dados foram coletados através do levantamento das fontes, por meio de textos técnicos, publicações científicas e livros didáticos. Através da interpretação energética da TCG foi possível discutir a rota para o equilíbrio térmico, a transferência de partículas entre níveis de energia devido à variação na temperatura e também demonstrar a distribuição de MaxwellBoltzmann-Gibbs. Além disso, notou-se que a visão energética das TCG fornece uma ponte entre colisões e transações financeiras. Conclui-se que a abordagem energética da TCG possui importância crucial para o entendimento dos fundamentos da Física Térmica, sobretudo no Ensino Médio, onde estes estudos possuem uma demanda significativa na disciplina de Física. Palavras-chaves: Teoria Cinética, Interpretação Energética, Colisões. Energy aspects of the kinetic theory of gases ABSTRACT: In this article, we discuss energy aspects related to the Kinetic Theory of Gases (KTG). It is a bibliographic review. Data were collected through the survey of sources, through technical, scientific publications and textbooks. Through the interpretation of the energy of (KTG) it was possible to discuss the route to the thermal balance, the transfer of particles between energy levels due to variations in temperature and also demonstrate by Maxwell-Boltzmann-Gibbs distribution. Moreover, it was noted that the view of energy KTG provides a bridge between bumps and financial transactions. It concludes that energy approach KTG has crucial importance for understanding of the fundamentals of thermal physics and its applications . Keywords: Kinetic Theory, Energy interpretation, collisions.

1 INTRODUÇÃO A teoria cinética é uma descrição da matéria do ponto de vista de Colisões entre os átomos (FEYNMAN, 2008). Logo, afirmamos que as propriedades gerais da matéria devem ser explicadas em termos do movimento das suas partes. Considerando que os fenômeEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

nos da natureza são essencialmente o objetivo das ciências naturais (GLEISER, 2000). Porém, no caso de sistemas com muitas partículas como gases essa explicação é apenas aproximada devido a limitações experimentais e teóricas. Uma vez que alguns fatores são simplificados ou simplesmente desprezados, as teorias da natureza nunca são http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 41-48, jul.-dez. 2014


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exatas (ALMEIDA, 2005) e este é de fato o caso da Teoria Cinética dos Gases (TCG). Ao utilizar-se a expressão fenômeno Físico, já nos referimos a uma modificação da situação inicialmente analisada, indicando que ao ser designado como objeto a ser estudado pela Física o problema já foi modificado, adaptando-se aos interesses e possibilidades do estudo em questão (PIETROCOLA, 2001). Desse modo, quando se falado fenômeno da colisão de partículas está implícito que a atenção será voltada apenas para o caráter essencial da transferência de energia, desconsiderando-se deformações das partículas, transformação da energia cinética em outras formas. Também se desconsidera que depois das colisões as partículas podem ser diferentes (FEYNMAN et al., 2008). Partindo desses pressupostos, sabese que o gás é um sistema composto por um número relativamente grande de partículas, logo se deve abandonar a descrição determinística e usar um tratamento probabilístico dos estados do sistema. Nesse sentido, a noção de probabilidade na TCG emerge naturalmente como uma solução para a limitação de não se conseguir uma descrição dos atributos individuais de quantidades da ordem de 1023 partículas. Sendo assim, a teoria da Probabilidade, um ramo da Matemática, iniciado em meados do século XV, (LOPES; MEIRELLES, 2005), vem desempenhando um papel fundamental na descrição de diversos sistemas físicos (VOLCHAN, 2006). Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

Matos e Barros

Do ponto de vista da escala de atuação, a TCG é mesoscópica, pois está em uma escala intermediária que conecta a escala macroscópica (estudada essencialmente pela Termodinâmica) com a microscópica (estudada essencialmente pela Mecânica Estatística). Segundo Oliveira e Jesus (2005), enquanto que a Termodinâmica é uma teoria fenomenológica baseada em relações experimentais entre variáveis de estado (por exemplo: a pressão, o volume, a temperatura e a entropia), a Mecânica Estatística, por outro lado é uma teoria de primeiros princípios baseada em alguns postulados fundamentais (OLIVEIRA; JESUS, 2005). Enquanto a TCG oferece uma visão que considera tanto aspectos macroscópicos, quanto microscópicos1. 2 TEORIA CINÉTICA DOS GASES Considere inicialmente um gás confinado em um pistão com uma divisória. Assuma que as duas metades possuem o mesmo gás, mas com temperaturas diferentes. Em um instante t0, é removida a divisória. Neste instante o gás está fora do equilíbrio térmico devido a diferenças de temperatura. À medida que o tempo passa, ocorrem colisões entre as partículas que produz a transferência de energia individuais. 1

A Termodinâmica sistematiza as leis empíricas sobre o comportamento térmico da matéria macroscópica. A Mecânica Estatística atua com o uso de hipóteses sobre a constituição microscópica dos corpos materiais (SALINAS, 1997). A TCG é Mesoscópica, pois mistura relações empíricas macroscópicas com princípios fundamentais microscópicos. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 41-48, jul.-dez. 2014


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Aspectos energéticos da teoria cinética dos gases

(segundo o revisor esta parte está desconexa)

fato, em termos macroscópicos consideram-se as médias de modo que essas flutuações são nulas.

2.1 Rota para o equilíbrio térmico Através da colisão as partículas mais energéticas transferem energia para as menos energéticas conforme está ilustrado na Figura. 1. Nas trocas, a energia das partículas vai oscilar, e em qualquer instante de tempo algumas vão ter energia maior do que a energia média, e outras menores (EISBERG; RESNICK, 1979). Figura 1: Transferência de energia devido a uma colisão.

Fonte: Autores.

Em um dado instante t, cada partícula uma possui energia E1 , E 2 , L , E N , e a energia total é conservada. Se o sistema é isolado, então após um tempo suficientemente grande o sistema entra no regime do equilíbrio térmico. Na visão de Boltzmann considera-se que as partículas interagem unicamente por colisão (LARANJEIRAS; CHIAPPIN, 2008). Desse modo, na TCG o estado de equilíbrio é resultado da colisão entre as partículas. O estado de equilíbrio não significa que a taxa de transferência de energia cessou, mas que essa taxa de transferência é relativamente pequena. De Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

2.2 Distribuição de Maxwell-Boltzmann-Gibbs De acordo com Salinas (1997), após alcançar o equilíbrio térmico um sistema pode ser particionado em dois (ou mais) subsistemas satisfazendo as seguintes propriedades: • •

(i) E = E1 + E2 (ii) p(E1 + E 2 ) = p(E1 )p(E2 )

A equação mostra a partição de um sistema em dois subsistemas: A energia é aditiva e a E = E1 + E2 probabilidade é multiplicativa p(E1 + E 2 ) = p(E1 )p(E2 ) . Mas qual função satisfaz E = E1 + E2 e p(E1 + E 2 ) = p(E1 )p(E2 ) ? A resposta é encontrada na distribuição do equilíbrio térmico. Podemos dizer também que a equação (i) reflete a aditividade da energia e é uma consequência da lei fundamental da conservação da energia (LARANJEIRAS; CHIAPPIN, 2006). E que a equação (ii) reflete a multiplicabilidade da probabilidade e é uma consequência da independência probabilística (LANDAU; LIFSHITZ, 1978) no equilíbrio térmico (SALINAS, 1997). Podemos nos perguntar novamente qual função satisfaz E = E1 + E2 e p(E1 + E 2 ) = p(E1 )p(E2 ) ? Na matemática temos que e a + b = e a e b desse modo:

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pi = Ce

− Ei E

(1)

Onde E é a energia média que é introduzida para manter o caráter adimensional da exponencial e C é uma constante. Agora, resta-nos calcular E e C, onde será seguido as ideias de Arfken e Weber (2007). Pela condição de normalização da probabilidade, a soma de todas as probabilidades deve resultar em 1 (LEBENSZTAYN; COLETTI, 2010). Usando esta condição encontra1 . Do teorema da equipartição E energia E = kT (NUSSENZVEIG,

se C =

da 1981) onde k, T representam a constante de Boltzmann e a temperatura, respectivamente. Finalmente temos a distribuição de Maxwell-BoltzmannGibbs (MBG): − Ei E

e pi = kT

(2)

Fisicamente a distribuição MBG representa a distribuição de energias no equilíbrio térmico (NUSSENZVEIG, 1981). Matematicamente, a referida distribuição pode ser vista como a função de distribuição exponencial (LEBENSZTAYN; COLETTI, 2010). Na distribuição MBG está implícito que as partículas são distinguíveis e não há restrição no número de partículas em cada estado. Se as partículas forem consideradas indistinguíveis então um tratamento quântico deve ser usado (GRIFFITHS, 2011). Neste caso duas distribuEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

ições emergem, de acordo com Arfken e Weber (2007): • Bose-Einstein (BE) para partículas indistinguíveis sem nenhuma restrição quanto ao número de partículas em cada estado quântico. • Fermi-Dirac (FD) para partículas indistinguíveis, com no máximo uma partícula por estado. Se a energia for discreta (um conjunto finito) a função de distribuição de MBG refere-se a energias exatas E i , porém se a energia for contínua (um conjunto infinito) p(E) é definida em termos do número de partículas com energia dentro do intervalo [E, E + dE] (SERWAY; JOHN, 2013). 2.3 Efeito da temperatura nos níveis de energia Segue da distribuição de MBG que a probabilidade de encontrar partículas com energia E i na distribuição mais provável (ou distribuição de equilíbrio estatístico) (ALONSO; FINN, 1972, SALINAS, 1997) na temperatura T é:

p ( Ei ) = pi =

− Ei E

e kT

(3)

Uma ressalva importante é que o índice i indexa os níveis de energia e não as partículas. Dito isto, considere o gráfico da figura 4 feito com a partir da equação 3. Neste gráfico, três fatos merecem destaque: http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 41-48, jul.-dez. 2014


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Aspectos energéticos da teoria cinética dos gases

• Não uniformidade de E i • Decréscimo rápido de p i com E i . • Diferença de quedas em p i quando E i cresce para distintas temperaturas. Figura 2: Transição de partículas entre níveis de energia devido à variação na temperatura

tema quando uma parte relativamente grande da energia está concentrada em poucas partículas (EISBERG; RESNICK, 1979). De modo mais breve, há uma minoria com a maior parte da energia enquanto a maioria tem a menor parte. O fato (iii) mostra que quanto maior a razão E i kT , menor será a probabilidade de ocupação p i . Logo, em uma determinada temperatura, quanto maior for a energia E i , menor será o valor de p i . Isto significa que em temperaturas muito baixas (maior razão Ei

Fonte: adaptado de Alonso e Finn (1972).

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) apenas os níveis de energia

mais baixos são ocupados, porém em temperaturas mais altas (menor razão Ei

O fato (i) é um resultado de que as partículas não realizam a mesma quantidade de colisões. Isto é, quando uma partícula A ganha energia de uma outra B, ela torna-se mais rápida e consequentemente tem mais chance de fazer mais colisões com outras e ganhar mais energia, embora eventualmente perca uma parte de sua energia. O fato (ii) é diretamente uma característica da função exponencial. Essa queda rápida em p i quando E i cresce, reflete o fato que se algumas das partículas tomam uma grande parte da energia total do sistema, o restante deve necessariamente ter uma energia reduzida, e assim um número consideravelmente reduzido de formas de dividir essa energia entre seus constituintes. Em outras palavras, há muito menos divisões da energia total do sis-

kT

kT

) a população relativa dos níveis

de energia mais altos aumenta (ALONSO; FINN, 1972). Decorre disso que: • À medida que a temperatura aumenta, a energia disponível no sistema aumenta, logo a probabilidade de uma partícula subir de nível de energia é maior devido a maior disponibilidade de energia no sistema. Isto é, a competição para manter-se a alta energia é atenuada pelo fato de existir mais energia no sistema. • À medida que a temperatura diminui ocorre um aumento da fração relativa de partículas nos níveis de energia mais baixos. Na temperatura do zero absoluto, apenas o nível fundamental ou nível de energia mais baixa está ocupado (ALONSO; FINN, 1972). Este comportamento do acúmulo de partículas no nível de energia mais baixo ilustra qualitativamente a condenhttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 41-48, jul.-dez. 2014


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sação de Bose-Einstein. O termo ilustra qualitativamente foi destacado devido ao condensado de Bose-Einstein ser descrito formalmente pela estatística quântica a baixas temperaturas (GRIFFITHS, 2011), porém a ideia pode ser capturada via distribuição de MBG. 2.4 Aplicação: Modelo Cinético das Transações (MCT) A teoria cinética, fundamentalmente, é uma abordagem dos sistemas físicos sob a perspectiva da transferência de atributos durante as colisões entre os seus constituintes. Na Física estes atributos normalmente são a energia (foco deste trabalho) e o momentum. Os constituintes comumente são partículas, átomos ou moléculas. Na economia, este atributo pode ser considerado o dinheiro e os constituintes as pessoas (DRAGULESCU; YAKOVENKO, 2000). A aplicação da Teórica Cinética dos Gases à Economia recebe o nome de Modelo Cinético de Transações (verificar o quadro abaixo).

Matos e Barros

esses agentes fazem negócios e ocorre uma transferência de dinheiro entre pares. A quantia de dinheiro individual pode mudar com o tempo devido às transações, mas o dinheiro total no sistema é constante. Do ponto de vista energético, o processo de colisão de duas partículas resulta na transferência de energia cinética. Analogamente, dois agentes econômicos transferem dinheiro (compra e venda) entre si durante os negócios (ver Figura. 5). Embora, a priori, cada agente tenha a liberdade de negociar com todos os demais N-1 agentes, o modelo cinético das transações pode incorporar negociações preferenciais que removem a aleatoriedade do sistema (PATRIARCA; CHAKRABORTI, 2013; GOSWAMI; CHAKRABORTI, 2014). Fisicamente isso corresponde a sistemas anisotrópicos. Figura 3: Energias de duas partículas antes, E i (t ) e E j (t ) , e depois de uma colisão,

E i (t + 1) e E j (t + 1) . Dinheiro de dois agentes antes, m i (t ) e m j (t ) , e depois de um negócio, mi (t + 1) e m j (t + 1) .

Quadro 1: Similaridades entre Teoria Cinética dos Gases e Modelo Cinético das Transações. Teoria Cinética dos Modelo Cinético das Gases (TCG) Transações (MCT) Colisões Negócios entre pessoas Partículas e/ou molécu- Pessoas e/ou organizalas ções Transferência de energia Transferência de dinheiro

O modelo cinético das transações pode ser formulado como segue (PATRIARCA; CHAKRABORTI, 2013): Assume-se que N unidades interagentes i, i = 1,..., N, são agentes econômicos com determinado dinheiro. A cada instante Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

Fonte: adaptada de Goswami e Chakraborti, (2014).

Convém notar que tanto a TCG quanto o MCT não são panacéias que resolvem todos os problemas da teoria http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 41-48, jul.-dez. 2014


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Aspectos energéticos da teoria cinética dos gases

das colisões ou transações financeiras. Assim como existem inúmeros fatores que são desprezados na TCG (conforme mencionado na introdução), existem também diversos fatores desprezados num modelo de transação financeira. Segundo Penna (2009), a TCG e a MCT discutidos neste trabalho são minimalistas, de modo que pertence à classe dos "toymodels", isto é, modelos bastante simplificados que retiram apenas a essência do fenômeno para compreender sua dinâmica. 3 CONCLUSÃO Neste trabalho foi realizada uma revisão de literatura sobre os aspectos energéticos da teoria cinética, onde se mostrou que a interpretação energética da teoria cinética dos gases proporciona a discussão da rota para o equilíbrio térmico, transferência de partículas entre níveis de energia devido à variação na temperatura e a demonstração da distribuição de MaxwellBoltzmann-Gibbs. Partindo desse pressuposto, pelo presente trabalho é possível entender que a interpretação energética das colisões fornece uma ponte entre colisões e transações financeiras, porém é necessário cautela quanto ao uso desta interpretação, uma vez que, o problema foi descrito de forma simplificada com o uso da essência da teoria e que para problemas mais complexos, outras variáveis podem surgir e dificultar tal entendimento. Portanto, esta revisão pode ser base de estudos mais minuciosos sobre os aspectos energéticos Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

da teoria cinética, seja no aprofundamento sobre o assunto e suas aplicações quanto ao ataque às suas limitações. Por fim, é importante deixar claro também que, este trabalho serve de base para que os estudos da física, sobretudo da física térmica, sejam revisitados e com isso se possa fazer uma transposição de conteúdos para o trabalho com o Ensino Médio, de forma mais eficaz e contextualizada, permitindo assim, a ampliação de conhecimentos (teoria e prática) dentro e fora da sala de aula. REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. M. C. A. A Ciência da Complexidade. Física na Escola, v. 6, n. 1, 2005. ALONSO, M., e FINN E. J. Física. Um curso universitário. Volume IMecânica. Edgard Blucher, 1972. ARFKEN, G., e WEBER, H, H. Física matemática: métodos matemáticos para engenharia e física. Editora Elsevier, 2007. DRAGULESCU, A; YAKOVENKO, V. M. Statistical mechanics of Money. The European Physical Journal BCondensed Matter and Complex Systems, v. 17, n.4, pgs. 723-729, 2000. EISBERG; RESNICK. Física QuânticaÁtomos, Moléculas, Sólidos, Núcleos e Partículas. Editora Campus, 1979. FERNANDEZ, P. J. Introdução à teoria das probabilidades. IMPA, 2005. FEYNMAN, R. P. Lições de Física- The Feynman lectures on physics: Mecâni-

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Artigo recebido em 21 de maio de 2015. Aceito em 17 de agosto de 2015.

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Artigo de revisão de literatura

Economia Solidária sob a ótica ampliada da Autogestão Priscila Terezinha Aparecida Machado1 e Jéssica Pereira de Mello2 1 Estudante de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Administração pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), MBA em Gestão de Negócios pela Universidade Estadual do Norte do Paraná – UNOPAR, Especialista em Gestão Contemporânea de Recursos Humanos pela Universidade Estadual de Londrina-UEL, Bacharel em Administração pela Universidade Estadual do Norte do Paraná-UENP/FAFICOP, Brasil. E-mail: priscilamch@hotmail.com 2 Estudante de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Administração pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Especialista em Gestão Contemporânea de Recursos Humanos pela Universidade Estadual de Londrina-UEL. Graduada em Psicologia (UEL), Brasil. E-mail: jessicamello907@gmail.com

RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar uma reflexão teórica e metodológica sobre o delineamento do trabalho na Economia Solidária que surge como resultado das contradições do modo de produção capitalista, tanto das desigualdades sociais, como das relações desumanizadas e da insustentabilidade ambiental, buscando fortalecer e ampliar princípios como a autogestão. Quanto aos procedimentos metodológicos apresenta-se como estudo teóricometodológico, com uma abordagem qualitativa. Por fim as considerações finais vêm propor uma ampliação da autogestão trazendo a Economia Solidária como mais uma alternativa para o indivíduo em busca da sua emancipação, e que a autogestão não se torne utopia e sim real, ultrapassando as barreiras econômicas, sociais e políticas. Palavras-Chave: Trabalho; Economia Solidária; Autogestão. Solidarity economy from the perspective of extended selfmanagement ABSTRACT: This article aims to present a theoretical and methodological reflection on the design of work in Solidarity Economy arising as a result of the contradictions of the capitalist mode of production, both in social inequalities, as the dehumanized relationships and environmental unsustainability, seeking to strengthen and expand principles as self-management. As for the methodological procedures is presented as theoretical and methodological study, with a qualitative approach. Finally the final considerations come to propose an extension of self-management bringing the Solidarity Economy as an alternative to the individual in search of emancipation, and that selfmanagement does not become utopia but real, overcoming economic barriers, social and political. Keywords: Work; Solidarity Economy; Self-management.

1 INTRODUÇÃO Diante de um sistema capitalista dominante e as contradições geradas Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

por ele como desigualdade social, relações precarizadas, e impactos ambientais, a sociedade vem buscando alternativas que amenizem o processo de http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 49-63, jul.-dez. 2014


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exclusão social, pois as que são descendentes do sistema tradicional prevalecem com configurações de trabalhos com subcontratações e precarização dos postos de trabalhos, gerando formas de trabalho com empregos precários. Dentre as alternativas a esse sistema capitalista hegemônico, Souza Santos e Rodríguez (2003) propõem alternativas diversificadas, tais como as cooperativas de produção, englobando as cooperativas, produções solidárias, o associativismo e o socialismo; as economias populares e o desenvolvimento alternativo na periferia e semiperiferia, incluindo os movimentos sociais, organização não governamental (ONG’S), programas de apoio, movimentos ecologistas, feministas, de sem terra, bancos comunitários entre outros. Alternativas essas que primam pela neutralização de modelos perfeitos, e prezam pela convivência entre múltiplas e variadas alternativas, abrindo espaço para a experimentação e para o confronto de ideias, em que as melhores se reproduzirão, evitando assim a monopolização. Neste artigo será abordado a Economia Solidária (ES) por ser uma das alternativas que vem ganhando destaque, por meio da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) que iniciou suas atividades em 2003 através de fomentando aos empreendimentos econômicos solidários (EES), ela por sua vez possui valores distintos do modelo tradicional das empresas capitalistas, destacando-se: autogestão, democracia, fraternidade, igualdade e solidaEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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riedade, gerando a necessidade de políticas e empreendimentos solidários que alcance a autogestão e a emancipação. Entretanto pode-se dizer que ao mesmo tempo em que a ES se apresenta como uma alternativa as contradições capitalistas, os seus gargalos também são reais, dentre eles destaca-se autogestão. Está pesquisa se justifica pelos novos modelos alternativos, como a geração de emprego e renda por meio do investimento em economia solidária. Neste sentido esta pesquisa pretende trazer uma reflexão quanto à autogestão desempenhada na ES relacionando-a com as relações de trabalho, assim buscará responder a seguinte questão: Como se configura o delineamento da Economia Solidária na perspectiva da autogestão? Para responder tal questão de pesquisa descreverá brevemente à trajetória histórica do Trabalho e posteriormente apresentará aspectos conceituais da Economia Solidária, bem como da Autogestão na ES. Para tanto se divide em quatro seções: a primeira delas é a presente introdução; na segunda apresenta-se o percurso metodológico utilizado no estudo; na terceira descreve a fundamentação teórica com base nos objetivos traçados, e, por fim, as considerações finais desta pesquisa. 2 PERCURSO METODOLÓGICO Este trabalho caracteriza-se por ser do cunho qualitativo numa perspectiva teórico-metodológico, sendo que este tipo de pesquisa enquadra-se como http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 49-63, jul.-dez. 2014


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qualitativa, dado que a elaboração e condução deste estudo se relaciona a abordagem adotada por Goldenberg (2007, p. 14) que entende que “Na pesquisa qualitativa a preocupação do pesquisador não é com a representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma trajetória”. Assim a estratégia utilizada está voltada para uma perspectiva teórica, pois se trata de embasar o problema de pesquisa em um corpo de conhecimentos. “Isto implica analisar e expor os elementos teóricos gerais e particulares que se entende serem pertinentes para orientar o processo de pesquisa” (SORIANO, 2004, p. 61). Meneghetti (2011, p. 326) complementa dizendo que esse tipo de pesquisa “não requer a comprovação empírica, mesmo que ela possa apresentar-se como elemento de confirmação de pressupostos. Este é reflexão permanente, em que a centralidade da sua força está menos na evidência empírica e mais nos atributos da razão que pensa a realidade”. Ainda o estudo fará uso também da pesquisa bibliográfica, “praticamente toda pesquisa acadêmica requer em algum momento a realização de trabalho que pode ser caracterizado como pesquisa bibliográfica” (GIL, 2010, p. 29). A partir disso buscou-se relacionar artigos, dissertações e livros, para compor uma reflexão teórica que leve a discussão plausível sobre o assunto pesquisado.

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3 DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO 3.1 A mutação do trabalho A evolução histórica da organização e da gestão do processo de trabalho no sistema de capital expõe que as trajetórias da resistência operária bem como as estratégias de gestão, as técnicas de produção, entre outros fatores, foram sendo alterados no decorrer do tempo histórico resultantes de conflitos e posições de classes (FARIA, 2009). Cherques-Thiry (2007) destaca sobre a questão da mutabilidade do trabalho, e traz que o trabalho encerra uma determinação, uma vontade, e exige uma atenção, uma dedicação que marca a sua racionalidade. O autor destaca que na idade medieval, quem trabalhava eram as pessoas mais simples, pois trabalhar era considerado vergonhoso, objeto de escravo, era visto como tortura, em que advinha da raiz da pobreza. Com o passar do tempo, com a questão cultural o trabalho passou a ser a dignificação do homem. De acordo com Faria (2009) as relações de trabalho têm sua posição histórica pela expansão européia, ocorreu um processo de globalização, segundo a mesma trajetória do Império Romano. O salto qualitativo vai do artesanato à manufatura, na fase artesanal o mestre trabalhava na oficina, juntamente com seus oficiais e aprendizes, não havendo divisão de trabalho, uma peça era fabricada uma por vez, possuindo um mercado quase sempre por encomenda, impedindo a expansão da produção. Já na fase de manufatura, http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 49-63, jul.-dez. 2014


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havia divisão de atividades produtivas dentro da oficina, e a responsabilidade em relação à fabricação de peças era fragmentada, surgindo então o papel do empresário, que possuía capital para adquirir matéria-prima e um grande número de operário assalariados, e os artesãos por sua vez, passaram a depender do empresário. Seguindo adiante no final do séc. XVIII com a Revolução Industrial na Inglaterra, Faia (2009) destaca que foram adotadas inovações tecnológicas voltadas à organização das fábricas e do trabalho produtivo, ocorrendo profundas transformações na Inglaterra no setor agrário, fazendo com que as pessoas emigrassem para a periferia deixando o campo, aumentando a oferta de mão-de-obra. Ainda a denominação de fábrica veio a partir dos eventos que começaram a se organizar, e nas fábricas eram instaladas novas máquinas que multiplicavam a produtividade. Trazendo uma nova concepção de trabalho que vem com uma série de mudanças que advêm com o surgimento da sociedade urbana, rompendo com a atividade rural, e entrando na era industrial. Rosangela Barbosa (2007) por sua vez retrata a redução de postos de trabalhos devido à modernização tecnológica, ocorrendo uma forte desestruturação do mercado de trabalho ocasionando a precarização do emprego com elevadas taxas de desemprego. Com isso situações precárias no ambiente do trabalho eram constantes, Faria (2009) descreve que havia uma exigência por parte dos empregadores Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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adotando critérios como baixa remuneração, jornadas exaustivas de 15 horas, muitas vezes os empregados não tinham permissão para beber água, seus intervalos eram de 30 minutos, e trabalhavam em meio a uma temperatura de 30 graus e ainda o trabalho de mulheres, jovens e crianças era comum, em 1835 um percentual de 72% da mão-de-obra era composto por eles. Neste mesmo sentido Singer (2002, p. 24) descreve essa cena “A exploração do trabalho nas fábricas não tinha limites legais e ameaçava a reprodução biológica do proletariado. As crianças começavam a trabalhar tão logo podiam ficar de pé, e as jornadas de trabalho eram tão longas que o debilitamento físico dos trabalhadores e sua elevada morbidade e mortalidade impediam que a produtividade do trabalho pudesse se elevar”. De acordo com Faria (2009), as primeiras manifestações por parte dos operários de protesto e de violência começaram a surgir, aliados aos sindicatos e partidos políticos, trazendo mudanças nas relações de trabalho. No final do século XIX e no XX surgem na Europa, e nos EUA as figuras do chefe e do gerente, surgindo novas maneiras de realizar o trabalho, através das tecnologias de gestão. O taylorismo passou a revolucionar a gestão e a organização do processo de trabalho surgindo como estratégia de controle de organização do trabalho, pois com o seu surgimento não seria necessário um trabalhador qualificado, mas sim, disciplinado e obediente, sendo adequado um administrador monocrático. Depois http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 49-63, jul.-dez. 2014


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veio Fayol com as funções gerenciais, posteriormente o surgimento das Escolas de Relações Humanas de Elton Mayo, sendo que estes buscavam evitar conflitos e o equilíbrio ou um estado de colaboração de saúde social. No Brasil especificamente, os primeiros indícios de participação ocorreram entre 1945-1947, com o movimento sindical e operário, o golpe do Estado de 1964 reprimiu os movimentos operários, mas em 1968 surgiram às greves nos munícipios de Contagem e Osasco, passando a luta a ser interna nas fábricas, através de estratégias, como tranco de máquinas, operaçãotartaruga, amarração da produção, pode-se dizer que as décadas de 1970 foram difíceis para o movimento operário, pois o favorecimento ficava por conta do patronato, entretanto em 1978 no ABC Paulista eclodiu as comissões de fábricas, merecendo novas reflexões (FARIA, 2009). Destaca-se que na sociedade brasileira a inserção da Constituição Federal (CF) de 1988, que possibilitou um sistema de proteção e participação social considerada uma grande conquista aos trabalhadores possibilitando respeitar o salário mínimo, a jornada legal de trabalho, o descanso semanal e anual [férias] e todos demais direitos preconizados nesta CF de 1988. A CF é o marco central para analisar a evolução recente da proteção social no Brasil. Instituindo novas regras para os benefícios vinculados à previdência social, criando benefícios no âmbito da assistência social e assegurando a sua integração sob o Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

53 princípio da seguridade social. (CAMPOS; AMORIM; GARCIA, 2008, p. 229).

Sendo que o Brasil é um dos poucos países no mundo que possuem uma justiça específica do trabalhador, o que por vezes encarece o custo desta mão de obra é então que algumas organizações no intuito de se tornarem mais “competitivas” no mercado acabam por querer burlar esse sistema. Para Barbosa (2007) em pleno séc. XXI não são todos que respeitam essa constituição, ocorrendo o que chama de precarização do emprego, que consiste na oposição ao emprego assalariado formalmente contratado protegido por lei ou negociações coletivas, pois submete ao trabalhador a “condições de vida arriscadas, à cruel dominância da concorrência do mercado, sem ações coletivas de enfrentamento, sem segurança de cobertura social no futuro ou no momento em que não mais puder dispor da força de trabalho” (BARBOSA, 2007, p. 40). Essa precarização traz a tona o desemprego e seus subterfúgios através do mercado informal, terceirizações, representações comerciais e a tendência de diminuição constante da estabilidade no emprego. Percebem-se mundialmente essas alterações das relações de trabalho no decorrer do tempo de cada fase histórica passando pela cooperação simples (séc. XV capitalismo mercantil); manufatura (séc. XVI entre 1550 e 1750); grande indústria (séc. XVIII entre 1830 e 1880); organização científica do trabalho (séc. XX entre 1910 e 1950) e produção flexível enxuta (séc. XX após http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 49-63, jul.-dez. 2014


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1970). Paralelo a isso, as formas de organização operária também sofreram alterações, antes com o cartismo e quebra de máquinas, até aos sindicatos e aos partidos políticos (FARIA, 2009). Dentre essas alterações destacam-se o cooperativismo, prevalecendo à organização dos trabalhadores no local de trabalho em 1844 com 28 artesãos em Rochdale; a Comuna em Paris em 1905 com surgimento do soviete (conselho) na Rússia, e na Itália na época 19051906 a comissão interna de fábrica (SINGER, 2002; FARIA, 2009). No decorrer da história foi se exigindo um trabalhador cada vez mais qualificado, a fim de apresentar resultados mais eficazes e garantir uma maior produtividade as organizações. De acordo com Chanlat (1991, p. 24) “A obsessão pela eficácia, pelo desempenho, pela produtividade, pelo rendimento em curto prazo que encontramos até hoje nas nossas organizações e na sociedade levou a maioria dos pesquisadores a concentrar seus interesses nestas questões e a reduzir seus esforços a simples técnicas de controle”. E com a introdução dos equipamentos e das ferramentas de base microeletrônica no processo de trabalho, restou aos trabalhadores o saber instrumental, é aquele em que o trabalhador precisa saber das condições de operar os novos instrumentos, máquinas e ferramentas e ficando mais desqualificado no saber do ofício. Neste sentido o trabalhador não usa a máquina, mas é usado por ela, pois são as máquinas quem determinam a forma de realizar Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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a operação, os movimentos e, o ritmo, o trabalhador coisificado segue apenas as regras impostas pela máquina (FARIA, 2009). Com isso o homem passa a usar a razão instrumental, adaptando-se a mudanças e sendo manipulado e as demais dimensões acabam por se tornar esquecidas durante o processo de produção, tornando-o apenas mais uma peça da máquina. Por isso para o autor “Reunir o que estava até agora separado, colocar em evidência as dimensões esquecidas, reafirmar o papel do individuo, da experiência, do simbólico nas organizações e ao mesmo restituí-los ao se quadro sócio histórico, é a ambição desta antropologia das organizações que procuramos construir” (CHANLAT, 1991, p. 45). Cherques-Thiry (2007) expõe que o escravo romano era preso por grilhões e o trabalhador assalariado por sua vez está preso a seu proprietário por fios invisíveis, ele apenas possui uma ilusão de sua independência, induzindo na imensa maioria dos casos, os trabalhadores, são levados a crer que participam das decisões, mas estão, na verdade, sendo meros participantes manipulados. Mediante a essa situação as pessoas não buscam oferecer mais lealdade às organizações, Chanlat (1991) afirma que na sociedade predomina o pensamento em curto prazo e que essa sociedade individualista não se preocupou em transformar o trabalho em um meio de vida, pois a única preocupação ficou atrelada ao lucro. Para Mansano (2009) devido a novas classes profissionais, o saber instruhttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 49-63, jul.-dez. 2014


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mental baseado na produção material se figura em segundo plano, emergindo novos modelos de subjetivação entre os trabalhadores, através de relações com o trabalho, produzindo o chamado “trabalho imaterial”, que tem como base a impalpabilidade, possuindo maior flexibilidade, tempo diferenciado, baseado em conhecimento, informações, imagens e afeto, causando maior risco de sofrimento com metas, cooperação, competição e debate, possuindo assim dificuldade em descrever este tipo de trabalho. “A noção de trabalho imaterial envolve a complexidade de um humano profundamente transformado pela aquisição de conhecimento e pela interação com o meio social, também ele transformado, que tem a sua disposição equipamentos de alta tecnologia, tornados impensáveis em algumas áreas profissionais” (MANSANO, 2009, p. 513). Barbosa (2007, p. 47) também corrobora dessa ideia, dizendo que estamos diante de processos sociais que fomentam formas diferenciadas e mais complexas do trabalho “É isso que se dá com a maior intercessão entre o trabalho material e imaterial no campo da subordinação à produção de mercadorias e de capital, quando o trabalho intelectual também assume a forma abstrata por ser tomado pelo capital como mercadoria”. Conforme afirma o autor o trabalho tornou-se um lugar propício ao sofrimento, violência física e psicológica, atingido todos os escalões, e na maioria das vezes o trabalhador é visto apenas como um recurso nas organizações Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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(CHANLAT, 1991). Sendo assim percebe-se que as regras são determinadas pelo mercado, necessitando de “corpos dóceis” e causando doenças físicas e psíquicas ao trabalhador. A fragmentação de tarefas advinda da divisão do trabalho acaba por distanciar o homem do produto do seu trabalho, e o homem não se vê mais no resultado da sua produção. Privandose do produto do seu esforço, deixando o trabalho de ser o fim e se tornando um meio. O produto do trabalho se tornou ainda mais estranho ao trabalhador. (CHERQUES-THIRY, 2007). Neste processo o homem torna-se um instrumento, uma mercadoria, em que a relação dos homens entre si não é uma relação entre semelhantes, mas uma relação de servo com mestre, de explorado com explorador, de forma que na maioria das vezes o trabalho busca a fragmentação, exploração e alienação do trabalhador. Por isso diante deste sistema tradicional capitalista que impera através de suas contradições por meio das desigualdades sociais, empobrecimento da sociabilidade e insustentabilidade ambiental (SANTOS; RODRÍGUEZ, 2003), o homem em sua relação de trabalho torna-se explorado e alienado, sendo assim foram-se criando modelos alternativos que buscavam superar este modelo reducionista, dentre os diversos modelos, a Economia Solidária se destaca por compartilhar de princípios como solidariedade, cooperação e autogestão, por isso a seguir será feita uma discussão sobre este modelo.

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3.2 Reinventando o trabalho a partir da Economia Solidária Diante do contexto da precarização do trabalho o desemprego torna-se uma peça chave do processo de exploração, reestruturando o mercado para novas formas de relações de trabalhos baseados tanto na informalidade como no incentivo aos empregos autônomos, empreendedorismo e o estímulo à geração de emprego e renda, necessitando de uma nova ressignificação do trabalho. De acordo com Barbosa (2007) essa ressignificação ocorreu através das mudanças nas relações de trabalho por meio da ação decisiva do Estado, tendo o cooperativismo como um dos seus enfoques. Surgindo o chamado “novo cooperativismo” que busca resgatar a experiência mater para tratar de estruturas mais igualitárias e participativas da unidade econômica, compatibilizando de necessidades sociais contemporâneas sustentáveis, multicultural e solidária, e serviu de base para o modelo de funcionamento que se apoia a Economia Solidária. O modelo de Economia Solidária (ES) ganha força com a percepção pública das distorções do mundo contemporâneo, do processo de insustentabilidade em que a sociedade se encontra, além da tendência em querer-se reduzir o sentido maior da existência ao ato do consumo e ao individualismo extremo. O início da ES se deu após o capitalismo industrial no séc. XVIII, e surgiu devido à exploração do trabalho nas fábricas, em que os empregados eram Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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visivelmente debilitados, algumas indústrias começaram a propor leis de proteção ao trabalhador, e foi assim que Robert Owen britânico, proprietário de uma indústria têxtil começou a inserir algumas iniciativas como limitar a jornada de trabalho e proibir que crianças trabalhassem com isso lhe rendeu uma maior produtividade junto aos seus trabalhadores. Os empregados por sua vez, como forma de oposição a exploração começaram a montar cooperativas para comercializarem seus produtos, atualmente embora as cooperativas não seja a única expressão do movimento solidário, a cooperativa é, provavelmente, a iniciativa mais conhecida (SINGER, 2002). Neste contexto o cooperativismo surge como uma fonte de inspiração para a ES, mas nem toda cooperativa pode ser considerada um empreendimento solidário, pois muitas hoje funcionam como empresas de capital, tanto quanto os registros oficiais, não permitem discriminar a índole das práticas cooperativas, tampouco o seu caráter democrático e solidário (GAIGER, 2013). De acordo com Singer (2002) ES pode ser definida como um sistema socioeconômico aberto, amparado nos valores da cooperação e da solidariedade no intuito de atender às necessidades e desejos materiais e de convivência, mediante mecanismos de democracia participativa e de autogestão, visando à emancipação e o bem-estar individual, comunitário, social e ambiental. Dentro dessa perspectiva para a Senaes (2004) a ES consiste em um http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 49-63, jul.-dez. 2014


Economia Solidária sob a ótica ampliada da Autogestão

conjunto de atividades econômicas, de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito organizados sob a forma de autogestão. Neste mesmo sentido Gaiger (2003) aponta como características centrais da Economia Solidária a autogestão, democracia, participação, igualitarismo, cooperação, autosustentação desenvolvimento humano e responsabilidade social. No Brasil o principal marco do processo de políticas públicas de Economia Solidária (PPES) ocorreu em 2003 quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncia no Fórum Social Mundial (FSM) o compromisso de criar a Secretaria Nacional da Economia Solidária (SENAES) sob a direção de Paul Singer com o objetivo de promover o fortalecimento e a divulgação da economia solidária, mediante políticas integradas, visando à geração de trabalho e renda, inclusão social e a promoção de um novo modelo de desenvolvimento mais justo e solidário. A Senaes surgiu com objetivo de fomentar a ES no Brasil e desenvolver políticas de geração de trabalho e renda, tendo como escopo beneficiar trabalhadores majoritariamente marginalizados do mercado de trabalho formal, além de apoiar iniciativas autogestionárias e agências e fóruns de desenvolvimento e fomento solidários (SENAES, 2012). O crescimento da ES no país se faz presente por meio de levantamentos das informações do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES) em 2007 foi divulgado o primeiro levantamento contendo uma base de informações de 21.859 (SENAES, 2012). Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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Dando sequência em 2013 foi divulgada a segunda rodada de mapeamento com 19.708 empreendimentos de economia solidária (SENAES, 2014a). Em meio a esse crescimento dos EES e das peculiaridades da ES, a autora Amorim (2010) faz uma observação que os princípios delineados na ES, em algumas vezes não são cumpridos conforme o estabelecido e destaca a questão da autogestão que acaba por se tornar negligenciada, tornando a efetivação dela praticamente remota ou nula em meio a esta sociedade capitalista. Sendo assim a seguir será tratado sobre a Autogestão na ES. 3.3 Reflexão da Autogestão na Economia Solidária sob uma ótica ampliada Diversos conceitos recaem sobre a autogestão, uma palavra que no sentido etimológico quer dizer “gestão de si mesmo”, mesmo o termo sendo incipiente costuma-se relacioná-lo exclusivamente como um dos modos de gestão, ou então a pequenas participações em assembleias ou reuniões, a sua não aplicação de forma ampliada e apenas restrita poderá descaracterizar o EES. Cançado (2007) diz que este é um termo bastante conhecido pelos ativistas da ES, coloca que a autogestão é a autonomia do trabalhador sobre a gestão de seu empreendimento, no qual todos os trabalhadores estão cientes de todo o processo do trabalho, que é realizado de forma transparente, podendo tomar decisões conscientes. Seria "um modo de organização do http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 49-63, jul.-dez. 2014


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trabalho, onde não há separação entre a concepção (trabalho intelectual) e execução (trabalho manual). Os meios de produção são coletivos, caracterizando-se ainda pela presença de um processo de educação em constante construção na organização" (CANÇADO, 2007, p.86). Faria (2009) por sua vez retrata que a autogestão deve ter um significado que envolva uma transformação completa da sociedade em todas as esferas (econômico, político e social), está relacionado não apenas a forma de administrar, reconhecendo assim à necessidade de um planejamento, de um projeto social. Essa visão se amplia à medida que Albuquerque (2003, p. 20-21) descreve que a autogestão não se trata simplesmente de uma modalidade de gestão. Ela possui um caráter multidimensional (social, econômico, político e técnico) e refere-se a uma forma de organização da ação coletiva. A autogestão tem uma dimensão social, pois “[...] deve ser percebida como resultado de um processo capaz de engendrar ações e resultados aceitáveis para todos os indivíduos e grupos que dela dependem”. Seu caráter econômico se deve às relações sociais de produção, que dão mais valor ao fator trabalho do que ao capital. Seu aspecto político baseia-se em sistemas de representação com valores, princípios e práticas favoráveis e criadoras de condições “[...] para que a tomada de decisões seja o resultado de uma construção coletiva que passe pelo poder compartilhado (de opinar e de decidir), de Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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forma a garantir o equilíbrio de forças e o respeito aos diferentes atores e papéis sociais de cada um dentro da organização.” Quanto ao aspecto técnico, ele permite pensar numa outra forma de organização e de divisão do trabalho. A partir desse contexto, destaca-se que a autogestão é um princípio da economia solidária, sendo característica central para que os empreendimentos solidários propriamente ditos se configurem enquanto tal, mas essa prática é incontestante entre as entidades de apoios, as quais são, em boa parte, caracterizadas pela ausência de organização administrativa democrática. Como já apontavam Lechat e Barcelos (2008) à autogestão é um tema complexo dentro da ES, o que ocorre é que muitos projetos são solidários, cooperativos, mas não chegam a ser autogestionários. Destaca que as relações de trabalho autogestionárias se apresentam como opostas ”as relações capitalistas de assalariamento, exploração dos trabalhadores, separação entre gestão e execução, entre trabalho intelectual e trabalho manual. A autogestão se opõe a práticas paternalistas, assistencialistas e clientelistas, bem como evita a corrupção dos dirigentes. A autogestão é associada a uma nova concepção de democracia participativa e de exercício efetivo da cidadania” (LECHAT; BARCELOS, 2008, p. 99). Mas na prática a realidade é diferente, autores como Pochmann (2004), Eid (2007), Borinelli et al (2012), Alcântara (2014) destacam que a ES acaba-se por http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 49-63, jul.-dez. 2014


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não priorizar um dos pressupostos que é a autogestão, descaracterizando e se confundindo com programas de transferência de renda ou de terapia ocupacional voltado ao assistencialismo, à proposta deveria ser de promover ações emancipatórias do fomento e apoio aos empreendimentos econômicos solidários (EES), mas o que se observa é a dependência ao poder público municipal, havendo a necessidade de politicas de empreendimentos solidários que alcance a autogestão e a emancipação. Por outro lado segundo Faria (2014), os EES surgem como forma de enfrentamento às contradições do sistema capitalista, tais como o desemprego e a distribuição de renda, mas não constitui de uma ruptura com o modo de produção capitalista, com isso não pode ser considerado como um novo modo de produção contradizendo a autogestão, esses EES possuem características autogestionárias, mas a autogestão plena isso infelizmente não se aplica a ES. Faria (2014) ainda aponta que os EES continuam submersos a uma lógica do capital, e que é preciso se atentar quanto à proteção aos efeitos predatórios do mercado para não cair em políticas assistencialistas e criar uma dependência irreversível. E defende que os empreendimentos solidários chamados de autogestionários se constituem na verdade em organizações coletivistas de produção associada, possuindo características autogestionárias, mas que na verdade não se constituem em uma autogestão, contradizendo, por exemplo, as ideias SinEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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ger, que aborda os empreendimentos como um modo de produção oposicionista ao sistema capitalista, e que por sua vez, estes seriam autogestionários (FARIA, 2014). Essa discussão da autogestão relacionada a práticas assistencialistas é evidenciada através do resultado do segundo mapeamento da SIES em 2013, quando apresenta sobre as principais conquistas dos EES, um dos indicadores que mais se destacam a nível nacional é a autogestão e o exercício da democracia com 48,97%, o interessante é que deste montante 37,44% corresponde à região Nordeste, ficando posteriormente a região Sudeste com 19,73% e as demais regiões com percentuais inferiores a esse (SENAES, 2014b). Em contrapartida no Brasil cerca de 14 milhões de famílias tem a renda complementada pelo Bolsa Família (BF), um programa do governo Federal que visa contribuir para o combate à pobreza, na região Nordeste esse percentual corresponde a 50,75% e no Sudeste 24,88% (MDS, 2015), com esses percentuais elevados do BF, percebe-se uma discrepância pois o Nordeste por exemplo foi à região que auferiu como conquista o maior índice de autogestão e mesmo assim continua com índices elevados de suporte de programa sociais, estes por sua vez com características assistencialistas. Ficando a dúvida de como esses empreendimentos enxergam a autogestão, pois conforme já explanado muitas vezes ele é visto apenas como uma forma gerencial, não envolvendo esfe-

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ras como social, econômico, político e técnico. Acrescentando Barbosa (2007) traz uma reflexão sobre a autogestão que passa a ser visto pelos seus membros como um mero ato de formalidade cumprindo as determinações institucionais de eleições e assembleias. “O processo de autogestão exige um trabalhador subjetivamente menos subserviente ou autoritário para que saiba lidar com a crítica, a partilha de poder, a escuta, o debate coletivo e a negociação” e complementa dizendo que “a principal estratégia nesses processos autogestionários é a de refazer valores de submissão e incentivar a solidariedade e capacidade intelectual do coletivo gestionário” (BARBOSA, 2007, p. 35). Por isso não é porque o membro do empreendimento faz parte desse formalismo de gerenciamento participativo que ele desenvolve a autogestão, é preciso deixar essa cultura taylorista da relação de patrão-empregado e adaptar-se a nova realidade. Por isso a dificuldades do desenvolvimento de processos autogestionários Lechat e Barcelos (2008, p. 100) apontam que “não basta querer implantar a autogestão, ainda é preciso criar as condições para sua efetivação. [...] Aprende-se o que é autogestão, praticando-a. É um processo que exige vigilância”. Por outro lado Borges et al (2013) trazem em sua pesquisa empírica um modelo de uma organização Cooperativista de Trabalhadores de Recicladores no munícipio de Esteio/RS, evidenciando em diversos momentos aspecEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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tos da autogestão, através da participação do trabalho coletivo e da condução de divisão de tarefas, de decisões mesmo na ausência no líder, em que todos os membros da cooperativa efetivamente aplicam a autogestão em seu dia-a-dia. Percebe-se que existem sim empreendimentos que aplicam tal prática, mas na maioria das vezes a autogestão é negligenciada pelo grupo descaracterizando a ES. Por fim será apresentado as considerações finais que tecem esse estudo, a fim de elucidar o leitor os principais pontos discutidos. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do panorama apresentado neste estudo a respeito do problema central do trabalho, que se refere à configuração do delineamento do trabalho dentro da Economia Solidária na perspectiva da autogestão, verifica-se que as relações de trabalho no decorrer do tempo e da história sofreram mudanças, e em oposição ao sistema capitalista dominante, alternativas múltiplas foram surgindo, e a Economia Solidária é uma delas, que propõe relações de trabalhos com base em princípios solidários, coletivos e autogestionários. Procurou-se discutir neste artigo a ampliação da autogestão não apenas como uma nova forma de administração, mas com uma vertente que considera a figura do trabalhador neste contexto do trabalho com um caráter multidimensional abrangendo o social, o econômico, o político e o técnico. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 49-63, jul.-dez. 2014


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Verifica-se ainda no sistema capitalista atual há predominância da racionalidade instrumental, em que o individuo é orientado a utilização de máquinas, perdendo sua autonomia e ficando alienado ao trabalho. A visão de trabalho que foi sendo alterada no decorrer do tempo, antes visto como um sentido de pobreza, de vergonha, seria destinado apenas aos escravos. Posteriormente a esta visão, o trabalhador, acaba por se tornar uma peça da máquina, tornando-se um observador do resultado, mas não tendo acesso ao produto final. Mediante a situação de subordinação do empregado, a Economia Solidária se apresenta como uma das inúmeras alternativas, diante disso verifica-se o crescimento dos EES através dos números quantitativos, sendo que alguns surgem não apenas pelo interstício do capitalismo, mas pela vontade de se emanciparem de um sistema capitalista e usam o principio da autogestão a seu favor. Entretanto embora a ES proponha uma reinvenção do trabalho, falha ao não tratar a autogestão como elemento primordial, neste sentido, a autogestão poderia ocupar um lugar essencial nos empreendimentos solidários e não um lugar a margem e sem importância, mas sim trazer um novo modo de se relacionar, por isso a dificuldade de exercer efetivamente a autogestão é um dos grandes desafios colocados para os empreendimentos. Sugere-se em futuras pesquisas, a discussão das relações sociais em empresas com características autogestionárias, e também ampliar as reflexões Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

das políticas públicas que atuam no processo de fomento aos empreendimentos solidários, que por muitas vezes tomam a frente de diversas iniciativas inibindo assim essas características. Dessa forma, o trabalho, nos moldes da Economia Solidária, vem propor uma mudança estrutural, provocando uma reinvenção do trabalho nas diversas relações do indivíduo nos meios sociais, se colocando como alternativa de construção, com o intuito de superar as barreiras econômicas, sociais e políticas inerentes ao contexto de sociedade atual. REFERÊNCIAS ALCANTARA, Fernanda Henrique Cupertino. Políticas públicas municipais e economia solidária. Interações (Campo Grande), Campo Grande, v. 15, n. 1, jun. 2014. AMORIM, A. N. Economia Solidária – princípios e contradições. 120 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Politica Social, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2010. BARBOSA, R. N. C. Economia solidária como política pública: uma tendência de geração de renda e ressignificação do trabalho no Brasil. São Paulo: Cortez, 2007. BORGES, M. L.; SCHOLZ, R. H.; SOUZA, N. A. P.; CHRISTMANN, I. . Paradigma da Autogestão na Ação dos Sujeitos Recicladores. In: III Colóquio Internacional de Epistemologia e Sociologia da Ciência da Administração, 2013, Florianópolis. Anais III Colóquio Internacio-

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nal de Epistemologia e Sociologia da Ciência da Administração, 2013. p. 1-8. BORINELLI, B.; GONÇALVES, D. M.; DUTRA, I. S. de.; SANTOS, L. M. L. dos; FERREIRA, T. E. da S. Avanços e limites da política pública de economia solidária: um estudo do processo de incubagem de empreendimentos do programa municipal de economia solidária de Londrina – Paraná, In: Observatório de la Economia Latinoamericana, n. 167, 2012. CAMPOS, André Gambier; AMORIM, Ricardo L. C; GARCIA, Ronaldo Coutinho (editores). Brasil: o estado de uma nação – Estado, crescimento e desenvolvimento: a eficiência do setor público no Brasil, 2007, – Brasília: IPEA, 2008. Capítulo 3 – Estado e Politica Social. p. 149-243. CHANLAT, J. F. Por uma Antropologia da condição humana nas organizações. In: CHANLAT, J. F.; CHANLAT, A. (coord.). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. V. 1. São Paulo: Atlas, 1991. CHERQUES-THIRY, H. R. Revisitando Marx: Alienação, Sobretrabalho e Racionalidade nas Organizações Contemporâneas. READ. São Paulo, v.13, n. 1, jan/abr, 2007, p. 106-125. EID, F. Descentralização do estado, economia solidária e políticas públicas: construção da cidadania ou reprodução histórica do assistencialismo? Revista ORG & DEMO (Marília), v. 8, n.1/2, jan.-jun./jul.-dez., p. 47-66, 2007. FARIA, J. H. de. Relações de Poder e de Trabalho nas organizações. In: Capitulo

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Artigo recebido em 08 de março de 2015. Aceito em 24 de agosto de 2015.

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Artigo de revisão de literatura

Filosofia, educação e formação humana: a busca dos sentidos do fazer educativo Lélio Favacho Braga1 e Antônio Joaquim Severino2 1 Doutorando em Educação - PPGE/UNINOVE/São Paulo, Brasil. E-mail: leliofavacho@bol.com.br 2 Prof. Dr. Universidade Nove de Julho-UNINOVE/São Paulo, Brasil. E-mail: ajsev@uol.com.br

RESUMO: A imersão no fazer educativo, sobretudo neste século XXI é sem dúvida uma práxis desafiadora na formação humana. Então, é de relevância uma reflexão sobre os múltiplos saberes dos sentidos desta práxis, levando em consideração a contribuição decisiva da filosofia para a construção do pensamento crítico. Neste sentido, o presente texto tem como objetivo, refletir sobre a busca dos sentidos do fazer educativo, assinalando também as dificuldades que se apresentam aos alunos na escola brasileira atual no que diz respeito ao processo formativo. O modo pelo qual as teorias lhes são apresentadas, quase nunca esclarece a significação que essas podem possuir com a realidade concreta da criatura humana. Por vezes, os alunos são motivados a memorizar fórmulas e regras que em si mesmas têm pouco ou nenhum sentido relacionado ao seu cotidiano. Na conclusão é assinalado que tal prática torna o processo de aquisição de conhecimento entediante e descontextualizado, clamando pela função primordial da escola: de geradora da reeducação do homem numa perspectiva humanizada, ética, crítica e cidadã. Adotou-se como procedimento metodológico a pesquisa qualitativa, tendo como alicerce uma análise e discussão crítica e argumentativa dos pressupostos acima descritos. Palavras-chave: Escola. Práxis educativa. Construção do conhecimento. Philosophy, education and human communication: the search of education to the senses ABSTRACT: Immersion in making education, especially in this twenty-first century is undoubtedly a challenging practice in human development. So, it is important to reflect on the knowledge of multiple meanings of this practice, taking into account the decisive contribution of philosophy to the construction of critical thinking. In this sense, this paper aims to reflect on the search for meanings of education do, also pointing out the difficulties that are presented to students in the current Brazilian school with regard to the training process. The way the theories are presented to them, almost never explains the significance that these may have with the concrete reality of the human creature. Sometimes, students are motivated to memorize formulas and rules that in themselves have little or no sense related to their daily lives. In conclusion it is noted that such a practice makes the process of acquiring tedious and decontextualized knowledge, calling for school primary function: generating the re-education of man in a humanized perspective, ethics, critical and citizen. It was adopted as the methodological procedure qualitative research as a foundation analysis and critical and argumentative discussion of the assumptions described above. Keywords: School. Educational praxis. Construction of knowledge Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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1 INTRODUÇÃO Partindo do pressuposto que a escola consiste na instituição responsável pela estimulação da “pergunta analítica”, a imersão no fazer educativo pode contribuir na construção de um mundo melhor, mais humano, mais igualitário e mais tolerante. O educando deve ser conduzido à prática da criticidade e seu pensamento deve ser impulsionado ao exercício da ação do pensar, ou seja, se pensando e pensando o outro na cultura a qual está inserido. A ação da “pratica docente especificamente humana, é profundamente formadora [e transformadora], por isso, ética” (FREIRE, 2001, p. 65). A filosofia como reflexão e modalidade de pensar está em todo lugar. Quando se exercita o poder de pensar, está se elaborando uma forma de reflexão. Pensar é um ato espontâneo da consciência humana. A filosofia deve estar voltada para a própria condição humana, no sentido de encontrar possibilidades que sejam capazes de melhorar a vida das pessoas. De exercer mudança na vida prática, inserida na vivência cotidiana. Por meio do fazer educativo, a filosofia pode auxiliar na busca da transformação da realidade da criatura humana para uma vida mais satisfeita. Neste sentido, a práxis filosófica pode ser conceituada como o esforço da consciência humana para compreender a realidade. Ou seja, o impulso de buscar o conhecimento da realidade/totalidade e a inquietude de com-

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preender o significado essencial das coisas. Como atividade de análise, de reflexão e de crítica, a filosofia contribui de forma decisiva para a construção do processo educativo. Esta compreensão deve ser instrumento de ação social e política, contribuindo para pensar e repensar o modelo (ou modelos) educacional vigente. Edgar Morin (2003, p. 33), defende que “para que haja um progresso de base no século XXI, os homens e as mulheres não podem mais ser brinquedos inconscientes não só de suas ideias, mas das próprias mentiras. O dever principal da educação é de armar cada um para o combate vital da lucidez”. Deste modo, a práxis educativa não pode perder o sonho de fazer a transformação para uma vida mais satisfeita e ética por meio da construção da criticidade. “Que educador seria eu se não me sentisse movido por forte impulso que me faz buscar, sem mentir, argumentos convincentes na defesa dos sonhos por que luto? Na defesa da razão de ser da esperança com que atuo como educador” (Freire, 1999, p. 84). Quem administra o processo ensinoaprendizagem deve conduzir o modo de fazer, impulsionando o desenvolvimento das potencialidades no educando. De um modo geral, a escola sem dúvida alguma é uma das possibilidades mais importantes para ajudar as pessoas a alcançarem uma vida mais satisfeita. Por meio da ação educativa é possível sonhar e pensar uma sociedade mais democrática e igualitária, que seja capaz de multiplicar a idéia de inhttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 65-73, jul.-dez. 2014


Filosofia, educação e formação humana: a busca dos sentidos do fazer educativo

divíduo mais humano, crítico e consciente de seu dever ético. “É a escola que estimula o aluno a perguntar, a criticar, a criar; onde se propõe a construção do conhecimento coletivo, articulando o saber popular e o saber crítico, científico, mediados pelas experiências do mundo” (FREIRE, 2001, p.83). 2 FILOSOFIA E FORMAÇÃO HUMANA: PROCESSO EDUCATIVO PARA A CRITICIDADE A filosofia contribui com o desenvolvimento da consciência crítica, com a formação do pensamento, com a reflexão e com a habilidade investigativa do educando. Ela amplia a visão de mundo, eleva o nível cognitivo e intelectual. Neste sentido, ela abre a possibilidade para a resignificação ao proporcionar clareza ao pensamento, com o desenvolvimento do espírito investigativo, interpretativo e a observação da realidade. Compreender os sentidos da vida abre possibilidades para lutar por uma sociedade mais humanizada. Para o filósofo Antônio Joaquim Severino (2008, p. 23-24): A forma filosófica de conhecimento se apresenta como a busca ilimitada de mais sentido, de mais significação. Transforma-se então a filosofia num esforço do espírito com vistas a dar conta da significação de todos os aspectos da realidade, com a maior profundidade possível, e sempre em relação à significação da existência do homem. É a tentativa de compreender o sentido mais radical das Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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coisas, independentemente de sua utilização imediata. Esse sentido é o modo pelo qual as coisas se apresentam ao espírito, modo propriamente humano da consciência se apropriar delas. Ter consciência, para o homem, identifica-se com o dispor de sentido, o que constitui para ele a compreensão da realidade. Compreender é, pois, reconhecer, no nível da subjetividade, nexos que vinculam, com determinada coerência entre si, elementos da realidade experiênciada a partir do próprio processo vital.

Para Edgar Morin (2003, p.48), se deve “integrar (na educação do futuro) a contribuição inestimável das humanidades, não somente a filosofia e a história, mas também a literatura, a poesia, as artes”. Desta maneira, gerando ideias e conteúdos para o desenvolvimento da informação, da leitura e da escrita. Dessa forma, o fazer do educador deve passar pelo ato de motivar, incentivar e acompanhar o desenvolvimento de seus alunos. A práxis educativa deve instigar os alunos ao desenvolvimento da capacidade de pensar, sobretudo as possibilidades sobre suas próprias vidas. Intencionando que os alunos valorizem a si mesmos, reconheçam o seu potencial, adquiram autoestima e liberem o poder que têm dentro de si próprios. Nesse sentido, o educador deve assumir a função de motivar os seus alunos a despertarem suas próprias capacidades. É de suma importância desenvolver nos alunos o pensamento crítico, autônomo e emancipado. Assim, objehttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 65-73, jul.-dez. 2014


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tivando que esta ação consista em suas vidas o instrumento necessário para que em suas realidades concretas eles possam interferir efetivamente e com criticidade sobre suas próprias realidades cotidianas. A construção do conhecimento ajuda os alunos a descobrirem suas potencialidades, suas qualidades pessoais e de grupo. Gerando uma “educação que rompe com os individualismos e estimula a pessoa ao diálogo e a ação na comunidade dos homens” (ENRICONE, 1993, p. 18). Neste sentido, o fazer educativo deve ajudar o educando a construir valores concretos e não apenas transmitir conhecimentos ou informações abstratas. Quando tentamos um adentramento no diálogo como fenômeno humano, se nos revela algo que já poderemos dizer ser ele mesmo: a palavra. Mas, ao encontrarmos a palavra, na análise do diálogo, como algo mais que um meio para que ele se faça, se nos impõe buscar, também, seus elementos constitutivos. Essa busca nos leva a surpreender, nela, duas dimensões: ação e reflexão (FREIRE, 2005, p. 89).

Partindo do pressuposto que a comunicação humana é uma atividade complexa, cabe perguntar: o que um professor pode fazer para se tornar um comunicador mais eficiente? Uma possível resposta poderia ser: que professor deve estudar bastante e ler muito, não podendo ficar sobre o arbítrio do senso comum, o que seria um contrassenso. Neste sentido, pôr o pensamenEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

to na ação do pensar é uma tarefa inerente a sua profissão. “Aquele que quer compreender não pode se entregar de antemão ao arbítrio de suas próprias opiniões prévias” (GADAMER, 2004, p. 358). De modo geral, o sistema educacional da segunda década do século XXI de certa forma, não prepara o educando para compreender a significação de todos os aspectos da realidade, mas sim para o acúmulo de informações e técnicas academicistas. Neste moldes, a praxis educativa não conduz o indivíduo para a leitura crítica do mundo. [...] ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa consciente, ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida no dia-a-dia e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência (LUCKESI, 1993, p.32).

3 A BUSCA DOS SENTIDOS DO FAZER EDUCATIVO O processo formativo é dever de todos os professores das disciplinas que fazem parte do currículo de ensino básico, assim como de toda comunidade escolar. Esses indivíduos tem a função de desvelar e conduzir a criatura humana ao percurso que vai do senso comum à consciência crítica. Do contrário, aconteceria um mero repasse de conteúdos, causando possíveis problemas como a má interpretação na http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 65-73, jul.-dez. 2014


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leitura da realidade cultural do educando e uma precária visão de mundo. Segundo Severino (apud SILVEIRA e GOTO, 2009, p. 24), “é de se reconhecer então a procedência da experiência pedagógica do exercício filosófico pleno desde o ensino fundamental”. Com estas palavras, o filósofo parece sugerir a importância de uma educação de base filosófica, desde as series inicias. Conduzindo desde cedo as crianças a cultura da investigação, do questionamento e da análise do que está a sua volta, colocando seu pensamento na ação do pensar. O fazer educativo pelo método tradicional (educação bancária) parece trazer a percepção da ausência da participação dos alunos durante as aulas. Trazendo a ideia do quanto os alunos podem ser desmotivados no seu cotidiano escolar. Neste sentido, vale lembrar o pensamento de Freire, “repudio a ‘pedagogia bancária’ e proponho e defendo uma pedagogia críticodialógica, uma pedagogia da pergunta” (FREIRE, 2001, p.83). O fazer educativo pode contribuir como um significativo aporte à formação de um sujeito transformador de sua realidade, ao chegar à plena consciência de sua existência, ou da consciência de sua ignorância frente à percepção do que falta ser conhecido. O próprio Sócrates reconhece sua ignorância ao dizer ‘só sei que nada sei’. “Por isso seu método começa pela parte considerada ‘destrutiva’, chamada irônia (em grego, perguntar)” (ARANHA, 2010. p.107). Na filosofia socrática, o filósofo em questão chega a um Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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estágio de conhecimento em que percebe sua ignorância frente ao que ainda falta ser conhecido, valendo repetir sua frase: “só sei que nada sei”. “No primeiro momento esse método – a irônia, que em grego significa ‘perguntar’ – o filósofo desmonta as certezas solidificadas e abre caminho para o segundo passo, a maiêutica (em grego ‘parto’)” (ARANHA, 2010, p.150). O professor que consegue perceber seu conhecimento como provisório, dificilmente se petrificará em conhecimentos estanques. A existência do homem enquanto ser pensante traz consigo o diálogo com a realidade. Neste sentido, homem existe, está inserido no mundo, tem consciência de si e do outro, sendo capaz de modificar a realidade vigente. “A necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou não deve ser feita à distância de uma rigorosa formação ética” (Freire, 1996, p.32). A consciência crítica consiste na necessidade de haver o distanciamento da realidade objetivando melhor refleti-la, do contrário, caracterizaria a consciência ingênua, olhar distorcido da realidade. De acordo com Lair Ribeiro (1993), são poucos indivíduos que procuram se destacar daqueles que estão no mundo, o resto apenas fazem parte das estatísticas. Para o referido autor, a “civilização sempre foi impulsionada por uma pequena minoria” (RIBEIRO, 1993, p. 18). Os demais, ou seja, bilhões de pessoas vão apaticamente atrás, tal qual uma “boiada”. “Se você quer exercer mais plenamente suas habilidades, é fundamental destacar-se http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 65-73, jul.-dez. 2014


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da “boiada”, participar do mundo não como objeto das circunstâncias e sim como sujeito ativo, conduzindo seu destino” (IDEM, p. 18). O indivíduo que faz conscientemente sua história tem consciência de si, por isso é um ser no mundo e pode ser considerado o arquiteto de suas ações. Diante disso, o fazer educativo é criador de posibilidades para a produção ou a construção de conhecimentos. A construção do conhecimento passa pela busca, pela indagação, pela inquietação, pela pesquisa e pela indignação diante da realidade que desagrada. Ensinar é emancipar, ou seja, consiste em gerar reflexão no outro por meio da construção do conhecimento, com questionamentos baseados na concretude local e de mundo. Esse fazer educativo pautado em ações construidas éticamente, visa uma vida mais satisfeita para o indivíduo em qualquer cultura que ele esteja ou se instale. Vale lembrar o pensador brasileiro Paulo Freire em sua obra Pedagogia da Autonomia (1996, p. 29): “Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”. A filosofia tem suma importância na educação do indivíduo para emancipá-lo intelectualmente de todas as tutelas. “O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permaEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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nente movimento na história” (FREIRE, 1996, p. 136). Por isso, a forma filosófica de conhecimento dialoga e está centrada na realidade, pois a filosofia não é um saber limitado, mas um conhecimento que deve ser compartilhado. “Não há palavra verdadeira que não seja práxis. Daí dizer que a palavra verdadeira seja transformar o mundo.” (FREIRE, 2005, p. 89). A filosofia é educadora por natureza, ela visa formar o homem, aperfeiçoar, aprimorar e torná-lo melhor. O filósofo é educador por excelência, pois se ele não ousa educar não está fazendo nada. Uma das tarefas mais importantes da prática educativa-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos (FREIRE, 1996, p. 41).

O fazer educativo perpassa pelo olhar sobre o desenvolvimento das potencialidades cognitivas do indivíduo, no que concerne o senso construtivo do pensamento reflexivo. De uma forma geral, o currículo escolar brasileiro ao longo do percurso histórico da práxis educativa parece não romper com processos tradicionalistas de aprendizagem. É nítida a dificuldade em romper com uma educação fragmentada que reverbera em dificuldades no processo formativo para emancipar os inhttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 65-73, jul.-dez. 2014


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divíduos. Propiciando um processo formativo equivocado, baseado em aspectos que dificultam o processo de ensino e aprendizagem no sentido da efetiva prática formativa para uma vida mais satisfeita e cidadã. A escola deve está voltada para a emancipação e para as relações humanas, em que haja respeito, interação e tolerância às diferenças individuais e de grupos culturais para que se possa alcançar o bem coletivo. Daí, o papel do fazer educativo: o de proporcionar a capacidade de o ser humano compreender as distinções culturais em qualquer ambiente ou contexto que estiver inserido. Neste sentido, num esforço um pouco maior, entendemos que por criticidade se pode compreender também a capacidade de distinguir aspectos abstratos ou concretos no ambiente ao qual se vive dentro de qualquer contexto sociocultural. Diante disso, bons filmes, leituras, músicas, debates, palestras e atualidades também podem ampliar a capacidade de informação do indivíduo. A instituição que pode contribuir significativamente no processo de formação cidadã da criatura humana é a escola. Essa mais que qualquer outra, consiste naquela que fabrica a sociedade do futuro. A escola trás consigo o estágio preparatório para a maturidade e para a vida em sociedade. Neste sentido, de certa forma, parece haver a necessidade de reeducar o homem, mas ao mesmo tempo surge um questionamento: como reeducá-lo se este parece já se considerar educado? Este, se pode dizer é mais um desafio desse Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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século XXI. Para Theodor Adorno (1995) educação consiste na produção de uma consciência verdadeira. Evidentemente não a assim chamada modelagem de pessoas, porque não temos o direito de modelar pessoas a partir de seu exterior; mas também não a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta já foi mais do que destacada, mas a produção de uma consciência verdadeira. Isto seria inclusive de maior importância política; sua idéia se é permitido dizer assim, é uma exigência política. Isto é: uma democracia com o dever de não apenas funcionar, mas operar conforme seu conceito; demanda pessoas emancipadas. Uma democracia efetiva só pode ser imaginada enquanto uma sociedade de quem é emancipado (p.141-142).

A escola não é a única instituição formadora de humanidade, todavia ela deve chamar para si a responsabilidade de possuir a função primordial de construir indivíduos conscientes, capazes de pensar por si só: onde estavam, onde estão e para onde querem ir. Para se chegar a esta consciência, a escola precisa estar atenta ao surgimento de novos modelos formativos, fazendo com que a educação assuma a função decisiva de geração da percepção necessária para que se alcance à reeducação do homem. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A finalidade da escola é assegurar a educação do homem por meio do prohttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 65-73, jul.-dez. 2014


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cesso formativo para que este seja capaz de formar uma imagem de si mesmo e do outro, de se compreender no mundo e na história contribuindo no desenvolvimento ético e cidadão da humanidade. Por isso toda aprendizagem escolar deve então tender a uma educação global do homem, cujo resultado não pode ser atingido sem levar em conta a construção de indivíduos críticos. Para realizar sua tarefa educativa, a escola não pode hoje deixar de unir o ensino escolar à nova fonte de saber e de cultura, que são os meios de comunicação social, que procuram realizar sínteses dos conhecimentos e formar o senso crítico nos indivíduos. A escola não pode atingir seu objetivo, sem estar atenta a certos valores que caracterizam a civilização do século XXI: liberdade de consciência, senso do coletivo e sendo do universal. Diante disso, quanto mais a escola der provas de abertura para o mundo de hoje, tanto melhor garantirá a presença de indivíduos conscientes na transformação do mundo e tanto melhor defenderá a liberdade e o bem estar social. Será visível esta abertura quando a Escola efetivamente se mostrar inserida na sociedade, apresentando um sistema de valores relacionados com a cultura contemporânea. Capaz de compreender as diversas situações de degradação pela qual passa toda a humanidade.

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Artigo recebido em 11 de janeiro de 2015. Aceito em 22 de maio de 2015.

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Artigo de revisão de literatura

Possíveis soluções para a problemática do ensino de Física: metacognição, artefatos experimentais e simulações computacionais Ismael Freire Bata1 e Robert Saraiva Matos2 1 Graduando do Curso de Física da Universidade Federal do Amapá, Brasil. E-mail: ismael-ts@hotmail.com 2 Possui especialização em Docência do Ensino Superior (2012) pela Faculdade de Tecnologia do Amapá (META) e graduação em Licenciatura Plena em Física pela Universidade Federal do Amapá (2010). Atualmente é Professor Efetivo da Universidade Federal do Amapá, Brasil. Email: robert_fisic@unifap.br

RESUMO: Este trabalho apresenta uma revisão de literatura a respeito de três metodologias alternativas para o processo de aprendizagem em física. A Metacognição, o uso de artefatos experimentais e as simulações computacionais têm ganhado grande destaque nas discussões a respeito da aprendizagem em física, pois as mesmas surgem como possíveis soluções para esta problemática. Mostra-se as principais vantagens e desvantagens destas metodologias, Além da discussão e esclarecimento dos principais aspectos das mesmas, com o objetivo de facilitar a compreensão a respeito das possibilidades que elas podem oferecer à aprendizagem. Conclui-se que as três metodologias, de forma integrada, podem transformar e melhorar o ensino de física. Palavras-chaves: Aprendizagem em física. Metodologias inovadoras. Metacognição. Artefatos experimentais. Simulações Computacionais. Possible solutions for problems of Physics education: metacognition, artifacts experimental and simulation of computer ABSTRACT: This paper presents a literature review about three alternative methodologies for the learning process in physics. The metacognition, the use of experimental artifacts and computer simulations have gained great prominence in discussions about the physical learning, because these arise as possible solutions to this problem. It shows the main advantages and disadvantages of these methodologies, beyond the discussion and clarification of key aspects of them, in order to facilitate understanding of the possibilities that they can offer to learning. It is concluded that the three methodologies in an integrated manner, can transform and improve the teaching of physics. Keywords: Learning in physics. Innovative methodologies. Metacognition. Experimental artifacts. Computer Simulations.

1 INTRODUÇÃO O presente trabalho faz uma revisão de literatura sobre três metodologias de ensino que visam facilitar o processo de aprendizagem em física, com o objetivo de analisá-las e verificar se Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

elas, de fato, podem mudar a realidade deste processo, uma vez que a aprendizagem em física ainda é, como dir-seia na linguagem dos físicos, bastante caótica e pautada em um sistema ainda bastante classicista, elitista e de vanguarda, se perdurando por tempos, http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 75-83, jul.-dez. 2014


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onde o professor ainda é um cátedra, detentor do conhecimento e neste caso somente os alunos que possuem habilidades excepcionais são os detentores das notas consideradas excelentes. No decorrer dos últimos anos diversas medidas visando melhorar a qualidade do processo de aprendizagem do sistema educacional brasileiro foram propostas via Lei de Diretrizes e Base da educação (LDB), que é a lei federal que em suma analisar e disseminar informações sobre a educação. Entretanto, na prática essas medidas não surtiram efeitos consideráveis ou desejáveis, pois segundo Prado (2000, p. 52): Existe no Brasil uma vasta literatura sobre o fracasso escolar. Desde que se faz pesquisa educacional no País, o fenômeno da repetência tem sido objeto de estudos e análises realizados por diversos especialistas da área, representantes das mais variadas tendências. Tanto os estudos etnográficos como as sofisticadas análises do fluxo escolar, do rendimento, do financiamento e dos custos da educação têm chegado a resultados similares: gasta-se muito, gasta-se mal, o sistema é ineficaz, as taxas de repetência são extremamente elevadas e o aluno reprovado e submetido a sucessivos fracassos muitas vezes tende ao abandono e/ou à evasão.

Indignados, com estas situações, diversos educadores buscaram alternativas para a solução deste problema, e estas alternativas vão ganhando forma Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

na construção de metodologias alternativas da educação, que buscam ferramentas para mudar o estado caótico em que a educação em nosso país se encontra. No contexto de novas metodologias, que surgiram como possíveis fatores para amenizar essa situação, três metodologias “inovadoras”, e que constantemente são investigadas por doutores e discutidas em revistas cientificas se destacam, são elas a metacognição, os artefatos experimentais de baixo custo e as simulações computacionais. Assim, pretende-se apresentar e discutir neste artigo estas novas metodologias como preceitos de fundamental importância para que a realidade atual que o ensino de física enfrenta seja modificada, levando em consideração, suas limitações, ou seja, para que se possa apropriar das mesmas no dia-adia das salas de aulas, superando, desta forma, as dificuldades que possam ser encontradas no ensino de física. 2 METODOLOGIA Para a realização deste trabalho utilizou-se dados presentes nas literaturas existentes sobre as metodologias “inovadoras” em revistas cientificas encontradas nas mais diversas bases de periódicos existentes, tais como Scielo, o portal de periódicos da CAPES. Estabeleceu-se alguns pontos positivos e negativos das respectivas metodologias analisadas. Discutiu-se, por meio das ideias de alguns autores, os aspectos mais relevantes dos objetos http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 75-83, jul.-dez. 2014


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de estudo de cada metodologia voltadas para a questão do ensino de física. Por outro lado uma compreensão mais aprofundada sobre o tema pode revelar mais ideias sobre a construção da aprendizagem em física baseada em metodologias inovadoras. Recomendase, assim, estudar e debater além das literaturas aqui discutidas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES No campo das possíveis soluções para o processo de aprendizagem de física surgem constantemente diversas soluções dentre as quais investigaremos três neste trabalho, pelo de fato das mesmas terem sido discutidas fortemente nos meios de divulgação científica de nossa sociedade. Uma das ferramentas que se o professor souber o momento adequado de utilizá-la poderá de fato mudar o patamar do processo de aprendizagem de física é a Metacognição, visto que o termo Metacognição é definido segundo Gonzáles (1996 apud Rosa e Filho, p. 1119): [...] metacognición es um vocablo que hace referencia a lo que viene después de, o acompaña a la cognición. No obstante, la metacognición no sólo expressa la idea que su acepción literal sugiere y, pese a su apariencia, no es una palavra griega, si no un neologismo producto de la ciência psicológica contemporánea, particularmente la de orientación cognoscitivista, y cuyo origen podría ubicarse a finales de los años 60’s, em los estudios que Tulving y MadiEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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gan (1969) realizaron sobre la memoria.

Porém a definição de Metacognição é muito ampla e com o passar do tempo vem sofrendo diversas adaptações, tendo em vista que a primeira definição em relação a este termo foi apresentada por Flavell como o conhecimento que o sujeito tem de seu pensamento, que na física é fundamental para um bom emaranhamento das ideias, que são por vezes complexas, mas essenciais tanto na solução de um problema quanto no entendimento das teorias. Segundo Rosa e José filho (2009, p. 1120), “De forma geral, a Metacognição, quando associada aos processos educacionais, relaciona-se ao conhecimento que o estudante tem sobre si mesmo e aos mecanismos de controle executivo e de autorregulação sobre as atividades realizadas”. Esse processo pode ser acompanhado pelo docente, pois é ele quem pode despertar em seu aluno o conhecimento sobre tal fato, seja com a criação de situações inovadoras ou mesmo com a desvinculação da pratica excessiva de repetição de tarefas e focalização em tarefas especificas que propiciem o surgimento deste fim. Uma das principais vantagens da Metacognição é tornar o aluno independente, ou seja, torná-lo agente principal no seu processo de aprendizagem, visto que segundo Davis et al (2005, p. 209 apud Clarke, 1990): O pensamento dedutivo, por sua vez, requer a aplicação de ideias gehttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 75-83, jul.-dez. 2014


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rais à experiência particular, envolvendo previsões, planejamento e solução de problemas. Fica claro, portanto, que a aprendizagem depende, em grande parte, tanto dos processos de pensamento dedutivos como indutivos, de tal forma que experiências apoiam o desenvolvimento de ideias, as quais serão, futuramente, testadas e mais bem desenvolvidas. Indução e dedução constituem, assim, modos de pensar de primeira importância.

Sabemos que a existência de uma metodologia alternativa não garante a aprendizagem do aluno visto que o empenho do mesmo é a ferramenta mais fundamental para o sucesso ao final deste processo, porém, em alguns casos apesar dos esforços os alunos se deparam com o fracasso, o que para Davis et al. (2005), não pode ser atribuído a problemas cognitivos e, sim, às dificuldades metacognitivas. Aqueles que não se saem bem na escola dispõem, como sabemos, de diversos conhecimentos e competências. A raiz do problema parece residir, portanto, menos na falta de saberes e habilidades do que no fato de não conseguirem nem utilizá-los, nem transferi-los para outras situações. Portanto podemos dizer que grande parte da dificuldade de se aprender física, por parte dos alunos, segundo Wong (1985) em seus estudos a respeito da metacognição, essa dificuldade está centrada no fato dos mesmos não saberem que são de fato capazes de aprender. Estes alunos ficam desmotivados e dificultam ainda mais seu proEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

cesso de aprendizagem conforme argui Rosa e Filho (2013, p.101): “a motivação é um dos fatores propulsores no processo de aprendizagem, pois um ser desmotivado prejudica um dos propulsores internos do pensamento metacognitivo”. Uma segunda possível solução para a problemática do ensino de física seria a utilização de artefatos experimentais de baixo custo, objetivando tornar os estudantes agentes participativos que possam criar interesse em relação à física ao ver a mesma de uma maneira mais palpável, desmistificando a física como uma disciplina chata e impossível de se aprender. Valadares (2001, p. 1) entende que: “[...] ponto de partida é a construção do conhecimento pelos alunos e para os alunos, no qual o papel do professor seja essencialmente o de um facilitador do processo pedagógico. Para tanto ele deve ser capaz de gerar um ambiente favorável ao trabalho em equipe e à manifestação da criatividade dos seus alunos por intermédio de pequenos desafios que permitam avanços graduais.”

A utilização de artefatos experimentais em sala de aula no ensino de física é consideravelmente relevante, tendo em vista que segundo Serafim (2001 apud REGINALDO et al., 2012, p. 2) o aluno só será capaz de compreender a teoria se conseguir relacionar o conhecimento científico com as situações do cotidiano. Muitos autores, como Freire (1997 apud REGINALDO et al., 2012, p. 2), acreditam que para compreender a http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 75-83, jul.-dez. 2014


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teoria é necessário “experienciá-la” e essa experimentação aproxima de forma coerente o mundo físico do aluno à teoria a ele mostrada, já que a mesma, por si só não integra o conhecimento de forma coesiva. Uma das dificuldades em se implementar um processo de aprendizagem mais adequado está nas próprias escolas visto que as mesmas ainda não aderiram à nova realidade vivenciada pela sociedade, conforme argumenta Rosa e Filho (2009, p. 1118) que diz que “As transformações vivenciadas na sociedade de hoje, fruto de rápidos avanços nos meios e nos modos de produção, apontam à necessidade de uma nova escola”. Assim, para que isso se torne possível, por exemplo, poderíamos começar a utilizar com mais frequência os artefatos experimentais como complemento aos livros didáticos que hoje guiam nosso ensino, uma vez que para Axt e Moreira (1991) os níveis destes livros são insatisfatórios segundo o ensino experimental e a questão do equipamento de baixo custo. É evidente que a grande maioria das escolas da rede de ensino não oferecem as melhores condições para que os educadores/professores auxiliem os alunos no processo de aprendizagem, porém segundo Axt e Moreira (1991, p. 99): Os professores de artes, por exemplo, lutam com dificuldades para juntar o material necessário para suas aulas mas nem por isso restringem a comunicação com os alunos a um mero uso de palavras. Da mesma forma, se o professor de ciências Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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implica fazer o possível para comunicar e argumentar com base em situações práticas e, consequentemente, tomar providências para que o material necessário esteja disponível em sala de aula. Muitos daqueles que costumam ser chamados de problemas no ensino de ciências são, na realidade cavacos do ofício. [...] por outro lado, não podem os professores ficarem esperando que sejam instalados nas escolas amplos laboratórios com todo o material do qual necessitam.

Portanto, pode-se afirmar que esta metodologia busca conscientizar também o professor de seu relevante papel, que muitas vezes é esquecido devido a sua insatisfação salarial e consequentemente profissional. Uma terceira metodologia “inovadora”, que visa melhorar o ensino de física é a implementação das simulações computacionais no ensino de física, contudo, em relação à realidade do sistema educacional brasileiro, esta metodologia encontra-se muito distante de nossas escolas, pois a maioria delas não possui laboratórios com computadores para que possamos implementar essa metodologia. Contudo, sabemos que as escolas brasileiras estão passando por um lento, mas gradativo, processo de reestruturação. Oppenheimer (1997, apud Medeiros e Medeiros,2002, p. 77) a revolução da informática educacional faz parte de uma história mais longa da tecnologia da educação, que por si só tornaria o processo educacional mais satisfatório, desde o início do século XX, várias onhttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 75-83, jul.-dez. 2014


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das tecnológicas inovadoras tem isolado a educação com promessas e perspectivas mirabolantes, por isso, esta ideia metodológica é um tanto quanto pertinente. Os avanços tecnológicos que a humanidade tem passado são incontáveis, todavia, poucos destes avanços já chegaram às escolas brasileiras, considerar-se que as ciências, em especial a física, buscam investigar fenômenos naturais, portanto podemos dizer que a física é um processo de representação do mundo, o que remete ao entendimento do papel da ciência neste contexto, onde para Veit e Teodoro (2002, p. 88): A Ciência é um processo de representação do Mundo, sempre sujeito a reformulação. A linguagem matemática desempenha um papel fundamental nesta representação, que não pode ser confundida com explicação. Na realidade, o discurso científico tem mais a ver com representações do que com explicações. Por exemplo, a lei da gravitação universal de Newton é uma forma de representar, através de um modelo matemático, a interação entre corpos celestes. Nada nos diz acerca do que é gravitação. O poder da linguagem matemática resulta, pois, não da sua capacidade de explicação, mas da sua capacidade de representação, de descrição do processo natural. Isto é, utilizando-se equações, é possível reproduzir no papel (no caso de Newton, que não tinha computador, mas paciência para realizar inúmeros cálculos repetitivos...) ou no computador o que se Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

passa no céu (com certo grau de aproximação)!

Neste contexto tem-se que a simulação computacional aproximaria o aluno ao que de fato é a Física e a Ciência como um todo, já que a mesma possibilita inúmeras interações das suas teorias com o mundo além do que já se conhece e até mesmo além do próprio mundo físico do aluno. No caso de experiências que sejam difíceis de ser realizadas com material de baixo custo, as simulações computacionais são de grande ajuda, pois através das mesmas os alunos poderão observar um determinado fenômeno com sua intuição cognitiva e presenciando algo concreto, palpável e pertencente ao seu espaço natural. Medeiros e Medeiros (2002, p. 79) faz uma paráfrase à Gjessinge Hernes (1996): Essa crença na capacidade do computador poder prover condições ideais para um ensino personalizado tem levado vários pesquisadores a desenvolverem simulações de fenômenos físicos na esperança de que seus estudantes possam trabalhar sobre problemas seguindo os seus próprios ritmos individuais. Um exemplo de simulação elaborada, deliberadamente, com tal objetivo pode ser encontrado em um programa para demonstrar a dinâmica de circuitos elétricos fundamentais e desenvolver nos estudantes a habilidade de raciocinar de forma sistêmica e estruturada, mediante a utilização de softwares alegadamente de grande potencial interativo. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 75-83, jul.-dez. 2014


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Isto é, pesquisadores acreditam que a simulação computacional pode ser uma saída para a problemática de ensino, porque a mesma é dotada de uma grande capacidade atrativa. No entanto, encontram-se muitas críticas à esta metodologia, na literatura pesquisada, em relação a sua importância e seus resultados questiona-se qual o impacto efetivo que a implantação da mesma pode ocasionar na problemática do processo de aprendizagem que o sistema educacional brasileiro se depara no presente momento. Uma das críticas em relação a esta metodologia é que as imagens “resultados” obtidos pelas simulações apresentam dualidade interpretativa, criando mais dificuldades do que facilidades em relação a este fato Medeiros e Medeiros (2002, p. 78): A experiência tem mostrado que em muitos casos essas ilustrações não têm sido de grande ajuda. O auxílio gestual provido pelos professores para a interpretação dessas imagens em sala de aula, assim como as suas ilustrações adicionais no quadronegro, não têm sido também de grande eficiência. Auxiliares podem parecer claros para aqueles que conheçam bem o fenômeno em causa; mas podem parecer incompreensíveis para outros. Além disso, desenhos no quadro-negro tomam muito tempo e não são tarefas de fácil execução.

Mediante as discussões disponíveis em relação a essa metodologia percebe-se que a mesma ainda apresenta Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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muitas controvérsias, no entanto, sabe-se que toda metodologia que surge com o propósito de melhorar o sistema educacional, mesmo que não de imediato, poderá acarretar melhorias. Igualmente, essas metodologias precisam ser aprimoradas e implementadas de forma coerente, respeitando as particularidades regionais e locais, o que remete à escassez de políticas públicas necessárias ao implemento efetivo dessas ações. O computador, conforme argumentado, pode ajudar consideravelmente os professores em sala de aula, com o uso de simulações interativas, programação computacional, produção de vídeos educacionais, uma vez que o aluno está constantemente conectado à internet, porém o professor deve ser cauteloso com a forma que essas tecnologias serão inseridas, pois devem ser considerados os processos de ensino adequados ao corpo discente. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho tornou possível notar que as metodologias analisadas apresentam diferentes enfoques, pois enquanto a Metacognição está centrada em desenvolver essencialmente a capacidade metacognitiva do aluno, tornando-o mais ativo no processo de aprendizagem, fazendo com o que o professor se torne um facilitador entre o aluno e o conhecimento e não apenas atue como uma “enciclopédia ambulante”, mostrando ao mesmo as suas reais capacidades. A experimentação, com artefatos de baixo custo, busca http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 75-83, jul.-dez. 2014


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tornar a aula mais interessante, promovendo maior interação entre todos os envolvidos no processo de aprendizagem, para que o aluno se sinta mais estimulado e consequentemente mais interessado num determinado conhecimento, enquanto que as simulações computacionais afirmam que a ciência é um processo de representação do mundo, logo, através das mesmas, poderíamos torna a física mais “palpável” ao corpo discente, objetivando estimulá-lo. Compreende-se que todas as metodologias analisadas estão de certa forma interligadas, pois todas apresentam traços em comum, tanto que já é possível encontrar artigos nacionais que falam sobre a Metacognição aplicada a experimentação de baixo custo e etc. Contudo percebe-se que a alternativa menos viável para a solução da problemática do processo de aprendizagem é a simulação computacional, pois a mesma apresenta muitas complicações devido as dúbias interpretações que uma simulação pode apresentar, em certos casos pode ser até mais prejudicial ao processo de aprendizagem do que benéfica, pois a maioria das simulações disponíveis exigem conhecimentos prévios para sua compreensão e análise, conhecimento esses que a maioria dos alunos não possuem, devido a problemática que assola o sistema educacional brasileiro e, em especial, o ensino de física. Outrossim, o docente tem o papel de acompanhar a implementação dessas metodologias com foco no aluno, ou melhor, verificando se a aprendizaEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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gem está sendo satisfatória, com o uso de ferramentas avaliativas coerentes e condizentes com o campo de visão do aluno. É notório que em física as dificuldades são enormes, e por isso a inserção de novas metodologias baseadas no mundo físico do aluno podem ajudar na aprendizagem, uma vez que, eles são sensíveis a tudo que consideram tangível. Portanto, a ideia não é excluir a metodologia tradicional, teórica por natureza, mas mesclar várias metodologias que integrem o conhecimento a fim de melhorar a compreensão do aluno, o que possibilitar percebe que estas metodologias alternativas são ideias fundamentais na construção de um entendimento mais satisfatório sobre a disciplina de física. REFERÊNCIAS PRADO, I. G. de A, LDB e Políticas de Correção do Fluxo Escolar. Em aberto, Brasília, v.17. n. 71, p.49-56, jan. 2000. MEDEIROS, A; MEDEIROS, C. Possibilidades e limitações das simulações computacionais no ensino de física. Revista brasileira de ensino de física, v. 24, n. 2, junho, 2002. CLECI, R.; FILHO, J. A dimensão metacognitiva na aprendizagem em física: relato das pesquisas brasileiras. Revista Electrónica de Enseñanza de lasCiencias, v.8, n. 3, 2009. CLECI, R.; FILHO, J. Metacognição e as atividades experimentais em física: Aproximações teóricas. Revista Ensaio, Belo Horizonte, v.15, n. 01, p. 95-111, jan./abr., 2013.

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Artigo recebido em 03 de março de 2015. Aceito em 22 de maio de 2015.

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Artigo original

A contribuição da psicopedagogia para a inclusão do aluno com paralisia cerebral Claudovil Barroso de Almeida Júnior1 1 Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Faculdade Internacional de Curitiba – FACINTER. Especialista em Educação Especial e Inclusiva pelo Instituto de Ensino Superior do Amapá – IESAP. Professor da Educação Especial no Centro Educacional Raimundo Nonato Dias Rodrigues, Brasil. E-mail: claudovilbarroso@bol.com.br

RESUMO: O estudo pesquisará a atuação do psicopedagogo para a inclusão do aluno com paralisia cerebral no ambiente socioeducacional, por meio do trabalho interdisciplinar. Os objetivos da pesquisa foram: analisar como a psicopedagogia contribuirá para a inclusão deste aluno e, compreender como as estratégias pedagógicas utilizadas pelo psicopedagogo servirão para a inserção do educando. A metodologia concentrou-se na pesquisa de campo, com intuito de interpretar a realidade que está sendo investigada, com características qualitativas. Quanto aos resultados, o estudo indicou que, para haver a inclusão do aluno com paralisia cerebral, uma equipe interdisciplinar precisa ser criada e, o psicopedagogo tem que compor permanentemente essa equipe dentro do ambiente escolar, visto que o trabalho com este aluno carece da colaboração dos profissionais da educação e da saúde. Logo, conclui-se que a contribuição do psicopedagogo para a inclusão do aluno com paralisia cerebral se efetivará mediante o redimensionamento das percepções dos profissionais, ao adotarem a concepção da educação inclusiva em suas ações pedagógicas, no sentido de acreditar no desenvolvimento das potencialidades desse educando, por meio do aprimoramento das estruturas cognitivas, afetivas e sociais, vislumbrando nessa perspectiva sua autonomia e independência. Palavras-chave: Psicopedagogo, Inclusão, Aluno com Paralisia Cerebral, Equipe Interdisciplinar, Autonomia e Independência. The educational psychology contribution for inclusion of students with cerebral palsy ABSTRACT: The study will research the educational psychologist's performance for the inclusion of students with cerebral palsy in social and educational environment, through interdisciplinary work. The research objectives were to analyze how educational psychology contributes to the inclusion of this student, and understand how the pedagogical strategies used by the educational psychologist will serve to educate such students. The methodology focused on field research, with the aim of interpreting reality that is being investigated, with qualitative characteristics. Results in this study indicated that, for a truly inclusion of students with cerebral palsy, an interdisciplinary team must be created and the educational psychologist has to permanently tutor this team within the school environment, since working with this student depends of collaboration of education and health professionals. Therefore, it is concluded that the educational psychologist's contribution to the inclusion of students with cerebral palsy will become effecEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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tive upon reframing the perception of professionals, by adopting the concept of inclusive education in their educational activities, to believe in the development of the potential of educating through the improvement of cognitive, affective and social structures, seeking a perspective of autonomy and independence. Keywords: Educational Psychologist, Inclusion, Student with Cerebral Palsy, Interdisciplinary Team, Autonomy and Independence.

1 INTRODUÇÃO Os estudos sobre a psicopedagogia anteriormente se concentravam nas dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos, podendo ser associadas a distúrbios ou a fatores: sociais, emocionais e/ou educacionais. Com o tempo, o campo de estudo da psicopedagogia se ampliou e sua área de atuação também. Atualmente, este profissional além de estudar o desenvolvimento da aprendizagem, ele poderá vir atuar com alunos da modalidade da educação especial (ALMEIDA JÚNIOR, 2012). A modalidade da educação especial é transversal, pode está inserida desde a educação infantil ao ensino superior e, demais modalidades de ensino. Nesse sentido, a atuação do psicopedagogo com educandos público da educação especial deverá ser compreendida como um trabalho colaborativo em razão de sua interdisciplinaridade, isto é, mediante a contribuição de profissionais de múltiplas áreas do conhecimento. Além disso, o psicopedagogo tem que estar e fazer parte da equipe da organização do trabalho pedagógico dentro da escola. Perante esse contexto, observa-se que a inserção do aluno com necessidades educacionais especiais é realidaEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

de na escola, e com isso a educação precisa adotar uma nova postura para atender a multiplicidade dos educandos com algum tipo de deficiência, com ressalvas ao educando com paralisia cerebral, mediante seu desenvolvimento no processo de ensino e aprendizagem. Logo, o interesse o em querer pesquisar e estudar sobre a temática psicopedagogia e a inclusão do aluno com paralisia cerebral foi originada por sucessivas inquietações e dúvidas, no tocante em querer saber como o psicopedagogo poderá contribuir para a inclusão do aluno com paralisia cerebral no ambiente socioeducacional. Desse modo, o estudo é importante pelo fato de contribuir com discussões e reflexões críticas e analíticas acerca do trabalho psicopedagógico que, poderá ser realizado na educação especial com a possibilidade de introduzir propostas psicopedagógicas para desenvolver as estruturas cognitivas, afetivas e sociais do aluno com paralisia cerebral. Portanto, a relevância do estudo existe pela razão de este evidenciar como ideia central a transversalidade, caracterizada pelo discurso da educação inclusiva e configurada pela democratização do ensino, porque se deseja analisar a contribuição do psicopedahttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 85-98, jul.-dez. 2014


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gogo para a inclusão do educando com paralisia cerebral, considerando as relações que ele estabelece com meio, mediante o uso de estratégias psicopedagógicas para o desenvolvimento da aprendizagem (AUGÉ, 2008). 2 A PSICOPEDAGOGIA E A INCLUSÃO DO ALUNO COM PARALISIA CEREBRAL Os estudos da psicopedagogia tiveram início na Europa, mais precisamente na França, ainda no século XIX, com a Psicopedagoga Janine Mery. No século seguinte, a psicopedagogia se consolidou na Argentina, suas investigações concentravam-se na educação e na saúde, pois se acreditava que grande parte dos problemas de aprendizagem decorria de fatores neurológicos, tanto que os atendimentos psicopedagógicos restringiam-se a consultórios e/ou a clínicas médicas (BOSSA, 2007). Todavia, essa compreensão paulatinamente começou a ser redimensionada. Segundo Grassi (2009), a psicopedagogia atualmente encontra-se também no ambiente educacional, cuja sua concepção além de estudar as dificuldades de aprendizagem manifestadas pelos alunos, ela estuda o desenvolvimento da aprendizagem, isto porque agrega conhecimento de múltiplas áreas do conhecimento. No Brasil, os conhecimentos psicopedagógicos começaram a serem estudados e investigados na década de 80 (oitenta), com sua inserção no ambiente educacional. Além disso, hoje a atuação psicopedagógica poderá ser concebida na modalidade da educação Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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especial, haja vista que colaborará com a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais – NEE, no ambiente socioeducacional (ALMEIDA JÚNIOR, 2012). De acordo com a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, o púbico da educação especial caracteriza-se por alunos com Deficiência, Transtorno Global do Desenvolvimento e, Altas Habilidades/Superdotação (BRASIL, 2008). Dessa maneira, entende-se como alunos com deficiência os que possuem deficiência sensorial (auditiva ou visual); múltipla (duas ou mais deficiência) e; física, - sendo esta última que o estudo irá se concentrar. A deficiência física é um comprometimento do aparelho locomotor, que envolve o sistema osteoarticulatório, o sistema muscular e o sistema nervoso (SILVA, 2014). Logo, é necessário que o profissional da educação reflita sobre as necessidades educacionais que o aluno com deficiência motora irá precisar, para que sua inclusão seja efetiva. Tal reflexão é necessária, pois a deficiência desse aluno poderá ter origem: cerebral, espinhal ou nos órgãos eferentes (musculares ou ósseoarticulares). Conforme Augé (2008), ao investigar o cenário que circunda o contexto da deficiência motora (física), o educador deve procurar compreender sobre as necessidades educacionais especiais com que poderá vir a trabalhar. Além disso, deve-se considerar que cada aluno com deficiência física possui sua particularidade, com desafios dentro http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 85-98, jul.-dez. 2014


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ou fora do esperado. Nesse sentido, é interessante observar que o aluno com paralisia cerebral (PC) apresenta maiores comprometimentos, refletidos em necessidades educacionais mais globais. Isto porque, segundo Silva (2014, p. 75): O termo paralisia cerebral é referido como sendo um grupo de afecções caracterizadas pela disfunção motora, cuja principal causa é uma lesão encefálica não progressiva, acontecida antes, durante ou após o parto. As sequelas da paralisia cerebral podem provocar o comprometimento da linguagem, da locomoção, da postura, dos movimentos, dos usos das mãos, entre outros aspectos.

Apesar destes comprometimentos que afetam a criança com paralisia cerebral, em alguns casos sua cognição permanece preservada, assim o médico neurologista precisa orientar os pais no que tange ao seu desenvolvimento. Também, faz-se necessário a criação de uma rede de colaboração entre os genitores e os profissionais que irão cuidar desse ser, incluindo o psicopedagogo, por possibilitar o estabelecimento de laços de confiança entre estes, como também auxiliar a inclusão social e, sobretudo educacional do educando com PC. A atuação da psicopedagogia para o momento da criança com paralisa cerebral é muito importante, considerando que durante a estimulação o meio, somado a sua supervisão profissional, pode dar o início correto para a pré-formação para esta eEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

tapa do trabalho. Considerando que a psicopedagogia trabalha em conjunto com os outros profissionais, é conhecido por esta o nível de funcionamento neuropsicomotor da criança, e a inclusão com a escola recebe, desta, um preparo para a fase escolar (SILVEIRA; KROEFF, 2012, p. 216).

Esse momento é muito salutar, pois a inclusão deverá ser respeitada no instante em que a criança com paralisia cerebral for matriculada, até a sua saída exitosa da escola. Contudo, para que isso ocorra satisfatoriamente é fundamental que haja a adaptação curricular de grande e pequeno porte. A adaptação curricular de grande porte diz respeito à organização do trabalho pedagógico da escola. Enquanto que, a adaptação curricular de pequeno porte referencia-se ao planejamento educativo e a didática em sala de aula do educador (BRASIL, 2009). Todavia, considera-se que adaptar para o aluno com paralisia cerebral não deve e jamais ocorrer somente no momento da avaliação de aprendizagem. Adaptar não é retirar determinado conteúdo, e sim possibilitar a este educando realizar atividades respeitando suas características biológicas no intuito de atingir rendimentos satisfatórios. Além disso, a adaptação curricular deverá ocorrer mediante todo o processo de ensino-aprendizagem. Para que esse processo venha a acontecer de maneira qualitativa, se considera essencial que os profissionais da educação tenham recebido e adquirido em sua formação concepções inhttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 85-98, jul.-dez. 2014


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clusivas, no tocante em estimular e favorecê-los à prática constante da reflexão e da análise crítica sobre a política educacional inclusiva que fora imposta, num contexto de exclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais. Dessa forma, é fundamental que o processo de formação possibilite aos professores identificar os mecanismos escolares que geram a exclusão, bem como conhecer os processos que favorecem a organização de uma escola inclusiva, especialmente nos aspectos referentes à inclusão escolar, à organização curricular e à avaliação de desempenho (VITALIANO; MANZINE, 2010, p. 53).

De acordo com essa prerrogativa, tal formação tem que possibilitar ao educador uma intervenção considerável para transformar a realidade social, no momento em que for mediar a construção do conhecimento para o aluno sem e com deficiência, inserindo neste contexto o educando com paralisia cerebral. Como também, desenvolver uma metodologia que combata as injustiças sociais, a partir de uma educação que respeite e inclua socioeducacionalmente o aluno com necessidades educacionais especiais (CASTRO; FACION, 2010). Para a inclusão do aluno com paralisia cerebral acontecer significativamente o psicopedagogo deverá manter contato com outros profissionais que auxiliam na reabilitação do educando, com o propósito de estimular sua autonomia e independência. Tal trabalho Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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deve ser concebido como colaboração, pois apesar de que cada profissional apresenta uma particularidade em relação à área que atua, estes trabalham objetivando a inserção social e educacional do educando com PC. Segundo Imbernón (2009), o trabalho colaborativo pressupõe a troca permanente de experiências, como a criação de diálogos fecundos para com intuito de modificar satisfatoriamente a realidade que sofre intervenção. Nesse sentido, de acordo com Maia (2011), o tratamento do aluno com paralisia cerebral precisa ser interdisciplinar, pois irá viabilizar na reabilitação e, principalmente, no desenvolvimento e aprimoramento das habilidades sociais e educacionais desse educando. Mediante essa concepção, o trabalho que o psicopedagogo fará com o aluno com paralisia cerebral é analisálo primeiramente numa concepção holística. Isto é, observar o contexto, os ambientes e as relações que esse indivíduo possui com todos os organismos, em razão deste sofrer influências diretas, para posteriormente elaborar estratégias psicopedagógicas. Cabe aqui mencionar o psicopedagogo analisa o sujeito inserido num contexto relacional complexo. É preciso conhecer e considerar o sujeito, sua família e todos os elementos envolvidos nessa teia relacional – sua história, sua origem, crenças e valores, cotidiano, comunidades, escola, colegas e professor – além das determinantes do processo de aprender e de não-aprender (GRASSI, 2009, p. 144). http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 85-98, jul.-dez. 2014


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Para que essa análise venha corroborar com o trabalho psicopedagógico junto ao aluno com paralisia cerebral, é de extrema importância que o psicopedagogo crie vínculos de acolhimento, confiança e, sobretudo, segurança com o educando. Nesse sentido, reafirma-se que o trabalho psicopedagógico se fundamentará não só em relações de não aprendizagem, mas sem dúvida no desenvolvimento da aprendizagem. E de acordo com esse contexto, a criança com paralisia cerebral antes de ser inserida no ambiente escolar ela tem uma história de vida que, precisa ser considerada e respeitada. Diante dessa premissa, o psicopedagogo tem que estar no ambiente de ensino regular, compondo a equipe permanente da escola, em razão de colaborar com todos os profissionais da educação para que a inclusão do aluno com PC transcorra harmoniosamente. Ao matricular esse educando na escola, o psicopedagogo junto com outros profissionais que irão atender a criança com paralisia cerebral precisam estudá-lo e, não permanecer como uma visão limitante em face de diagnósticos, informes ou termos clínicomédicos. É essencial que tais itens sirvam para possíveis esclarecimentos, para procurar compreender no intuito de intervir da melhor forma possível (AUGÉ, 2008). É necessário que o psicopedagogo, assim como os demais profissionais concebam o aluno com paralisia cerebral como uma pessoa que apresenta Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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potencialidades para desenvolver e aperfeiçoar. Dessa maneira, Basil (2004) contribui expondo que, o trabalho com o educando com PC perpassa pela interdisciplinaridade, no tocante ao psicopedagogo auxiliar os pais e outros profissionais para chegarem à criança e desenvolverem uma intervenção satisfatória. Além disso, é interessante observar que a criança com paralisia cerebral possui características peculiares à sua deficiência como a lentidão. Para tanto, deve-se tomar cuidado para não tratar essa peculiaridade como preguiça ou desinteresse, pois o objetivo do psicopedagogo e demais profissionais será em programar tarefas para que ele consiga realizá-las com êxito. Perante essa realidade, o psicopedagogo deverá elaborar estratégias psicopedagógicas que favoreçam o desenvolvimento, como também o aperfeiçoamento de suas qualidades, visto que ao estabelecer metas, o uso de propostas pedagógicas irá favorecer o progresso das dimensões: sociais, cognitivas e afetivas em razão destas se encontrarem e/ou estarem integradas. Vale mais a pena concentrar as propostas educacionais em duas ou três idéias [sic] centrais. Dispersão demais pode desorientar. Inúmeras soluções diferentes para problemas diversos não constituem necessariamente a melhor saída. As propostas educacionais, os materiais as estratégias habilitadoras e reabilitadoras, etc., devem estar integradas a propostas curriculares coerentes. As opções que foram válidas em uma http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 85-98, jul.-dez. 2014


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área também podem ser em outra área e/ou em outro ano (AUGÉ, 2008, p. 255).

É notório considerar que para o trabalho psicopedagógico ocorrer com qualidade em relação à elaboração de estratégia se faz necessário atribuir a paciência e a calma, pois o bem estar do aluno com paralisia cerebral é fundamental. Assim sendo, é preciso definir com muita cautela as propostas educacionais para que a intervenção interdisciplinar aconteça no propósito de colaborar significativamente para uma boa evolução do quadro. Além disso, o clima entre todos os membros desse trabalho têm que ser de cooperação para possibilitar o progresso do aluno com PC no intuito de garantir e conquistar sua autonomia e sua independência em razão de sua inclusão socioeducacional. E para que sua inclusão seja efetivada com sucesso, o ambiente educacional precisa estar desprovido de barreiras arquitetônicas, bem como atitudinais. De acordo com Fernandes e Orrico (2012), o ambiente educacional tem que oportunizar e assegurar a supressão de barreiras arquitetônicas, respeitando o direito de ir e vir, como também conceder uma boa qualidade de vida ao educando no momento de seu ingresso, permanência e saída com êxito da escola. Bem como, eliminar as barreiras atitudinais da comunidade escolar, em vista de acreditar e incluir o aluno com paralisia cerebral. Nesse sentido, o psicopedagogo deverá coletar dados no ambiente escolar para produzir e/ou traçar estratégias Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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psicopedagógicas no intuito de favorecer a inclusão do aluno com paralisia cerebral. Para tanto, esse profissional precisa conhecer a legislação educacional para fomentar discussões frutíferas sobre os direitos do educando com PC, com também quebrar a barreira comunicacional entre os profissionais que atuam direta e indiretamente com o educando, objetivando possibilidades comunicacionais proveitosas entre os mesmos. O psicopedagogo considerando esse contexto tem que propor aos profissionais da educação o redimensionamento da concepção curricular educacional, modificando-a para um currículo que seja funcional à criança com paralisia cerebral. Isto é, que estimule sua autonomia e dê possibilidades de independência para que sua inclusão aconteça. Ao modificar o currículo estar-se realizando uma adaptação, a qual não deve e nem tem a pretensão de servir como instrumento de exclusão, que acentua as desigualdades sociais ao esvaziar conteúdos, como também criar baixas expectativas na aprendizagem do aluno com necessidades educacionais especiais, é preciso respeitar seus limites e possibilidades para vislumbrar o desenvolvimento de suas estruturas cognitivas, afetivas e sociais. Segundo Beyer (2006), a adaptação curricular requer dos profissionais da educação uma reflexão constante sobre sua prática pedagógica, isto porque atualmente a diversidade estudantil é visível nos ambientes escolares, onde se inclui os alunos com necessidades http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 85-98, jul.-dez. 2014


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educacionais especiais. É preciso propor o equilíbrio do currículo na hora de adaptar, para que todos sejam contemplados incluindo o aluno com paralisia cerebral. De certo, para que essa concepção ocorra tranquilamente é preciso que o educador tenha vontade e confie na proposta psicopedagógica orientada e/ou direcionada pelo psicopedagogo, pelo fato de se observar que é um desafio constante elaborar uma didática que consiga contemplar e atender toda a heterogeneidade que está concentrada no ambiente educacional. Logo, tal proposta deverá priorizar as relações sociais estabelecidas entre os indivíduos. Pois, de acordo com Vigotski, citado em Grassi (2009), o indivíduo ao entrar em contato com o meio social, haverá uma transformação significativa entre ambos por meio da linguagem que é produzida culturalmente. Além disso, a figura do professor é essencial nesse processo, porque atuará como mediador ativo na relação sócio-histórico. A concepção sociointeracionista resgata a natureza social da educação ao conceber o homem como ser social que aprende e se desenvolve por meio das relações e das interações com os outros, pela mediação. Nesse movimento, ele se transforma e transforma o mundo, se apropria de conhecimentos produzidos histórica e culturalmente, se produz do conhecimento e gera conhecimentos (GRASSI, 2009, p. 48).

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O aluno com paralisia cerebral é um ser ativo, que está inserido no meio na busca incessante pelo conhecimento que se edifica, consolida-se e se refaz constantemente numa concepção dialética. Essa dialeticidade é percebida claramente quando o psicopedagogo realiza o estudo sobre a história de vida do educando com paralisia cerebral. Também, é interessante ressaltar que para realizar esse estudo é preciso ter paciência, tranquilidade, ética e comprometimento, pois os dados precisam ser fidedignos. Desse modo, o psicopedagogo deverá observar as possibilidades de expressão e compreensão do aluno com paralisia cerebral, como também seus potenciais para o desenvolvimento de suas dimensões cognitivas, afetivas, sociais, linguísticas e psicomotoras para posteriormente elaborar e/ou produzir o diagnóstico psicopedagógico. O diagnóstico psicopedagógico é composto de vários momentos que temporal e espacialmente tomam dimensões diferentes conforme a necessidade de cada caso. Assim, há momento de anamnese só com os pais, de compreensão das relações familiares em sessão com toda a família presente, de avaliação da produção pedagógica e de vínculos com objetos de aprendizagem, busca da construção e funcionamento das estruturas cognitivas (diagnóstico operatório), desempenho em testes de inteligência e visiomotores, análises de aspectos educacionais por meio de testes expressivos, sessões de brincar e criar (WEISS, 2008, p. 3738). http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 85-98, jul.-dez. 2014


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Isso porque, o diagnóstico psicopedagógico representa uma forma de relatório que, constitui a história de vida da criança com paralisia cerebral, desde o momento em que a genitora possuiu conhecimento sobre sua gravidez, como também as fases de seu desenvolvimento e outras questões pertinentes. Nota-se que tais informações a priori são realizadas por meio de sessões psicopedagógicas (WEISS, 2008). Todavia, ressalta-se que o presente momento é e deve ser realizado respeitando as particularidades do educando com PC primando pelo código de ética estabelecido pela Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp. O diagnóstico psicopedagógico após ser realizado, oportunizará aos profissionais que atendem o aluno com paralisia cerebral orientações expressivas sobre o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem deste, com ganhos inigualáveis, bem como consideráveis em razão do aperfeiçoamento das estruturas cognitivas, afetivas e sociais, visto que tal possui em seu interior sugestões de direcionamentos à família e aos profissionais de como proceder na educação do educando supracitado. Tais sugestões podem ou não ser aceitas pela família e pela equipe interdisciplinar. Porém, ao ser aceita por todos, o educando com paralisia cerebral poderá apresentar um progresso surpreendente dentro das propostas educacionais, com propósitos da aquisição de aprimorar suas habilidades e potencialidades dentro do processo de ensino e aprendizagem. Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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Em suma, percebe-se que ao atribuir o trabalho psicopedagógico junto ao educando com paralisia cerebral, haverá uma contribuição significativa ao estimular a criança com paralisia cerebral para adquirir um progresso que o possibilite possuir autonomia e independência em razão de sua inclusão socioeducacional. 3 METODOLOGIA O presente estudo apresenta um caráter qualitativo, cuja sua fundamentação concentra-se na pesquisa de campo (GIL, 2008). A pesquisa de campo caracterizada por Gil (2008) é aquela que procura estudar uma realidade específica, por meio da observação direta em cima da realidade e, como também de entrevistas com informantes, no intuito de interpretar o contexto pesquisado. O campo de pesquisa se deteve na coleta dados em uma escola de ensino regular e, em uma escola de educação especial, com ressalva que o aluno encontra-se regularmente matriculado nas duas instituições de ensino. Os procedimentos se dividiram em duas fases. Na primeira foi realizada uma observação nos lócus investigativos, sem a intervenção do pesquisador. Na segunda fase, realizaram-se entrevistas semiestruturadas para os participantes da pesquisa. Participaram da pesquisa: um Professor do ensino regular, um Professor do Atendimento Educacional Especializado, um Fisioterapeuta, um Terapeuta Ocupacional, um Fonoau-

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diólogo, um Educador Físico e um Pedagogo. Houve a opção pela realização da pesquisa em uma escola especificamente de educação especial pela inexistência do psicopedagogo e dos profissionais da saúde estarem inseridos na escola de ensino regular. Além disso, optou-se na investigação de uma única criança, por razões éticas e de colaboração. A criança observada se encontra no 2º (segundo) ano do ensino fundamental, caracteriza-se por ser deficiente física, com paralisia cerebral, seus membros superiores e inferiores apresentam perdas parciais nos movimentos. 4 RESULTADO E DISCUSSÃO No momento de observação na escola de ensino regular, tanto quanto na escola de educação especial, verificouse que os ambientes encontram-se parcialmente adaptados para receber o público da educação especial, pois possuem rampas de acessos e banheiros adaptados. Contudo, é notório evidenciar que construir rampas e banheiros adaptados não possibilita a inclusão total do aluno com paralisia cerebral. É necessária uma reforma emergencial nos ambientes para que a inclusão seja efetiva. Abrangendo satisfatoriamente também mobiliários e recursos referentes às áreas que os profissionais atuam. De acordo com esse contexto, é preciso que quando os prédios escolares forem edificados, os profissionais da construção civil deverão ter o olhar Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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inclusivo. Isto é, o ambiente educacional precisa ser adaptado por completo, permitindo o acesso livre de todos, no intuito de acessar todos os lugares que compõem a estrutura física da unidade escolar. Nesse mesmo ambiente, a comunidade deve e querer estar plenamente envolvida com a concepção inclusiva, independente da função que vir desempenhar na escola, para com o objetivo que todos os alunos com necessidades educacionais especiais sintam-se pertencentes da comunidade escolar. No momento das entrevistas, todos os profissionais da educação, como os da área da saúde, evidenciaram que é de extrema relevância a contribuição do psicopedagogo para a inclusão do aluno com paralisia cerebral. Todavia, a maioria dos entrevistados não soube expor como este profissional poderá contribuir para favorecer a inclusão do aluno com PC. Esse fato é visivelmente verificado em decorrência da ausência de um trabalho interdisciplinar solidificado. Ou seja, o trabalho interdisciplinar existe, porém se observou e se constatou que este permanece apenas no campo teórico, apesar de que o aluno com paralisia cerebral frequenta regularmente a escola de ensino regular e os atendimentos oferecidos na escola de ensino especial. Nesse sentido, é necessário que se crie a cultura de rodas de conversas semanais ou quinzenais para a troca de conhecimentos e/ou experiências entre os mesmos, no intuito de ocorrer o exercício da prática, eviden-

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ciada pelo desenvolvimento do trabalho interdisciplinar. Com a roda de conversas, poderá ser melhor explorado o quadro situacional apresentado pelo aluno com paralisia cerebral, no tocante em que todos podem contribuir com suas investigações teóricas e intervenções práticas. Todavia, todos têm que se sentirem a vontade para expor suas dúvidas, suas assistências, suas necessidades e até mesmo suas dificuldades com a equipe, com propósito de buscar auxílios frutíferos para a boa condução do caso no momento da práxis educacional para com esse educando. Entretanto, percebeu-se que os profissionais não compreendem a contribuição psicopedagógica para a inclusão da criança com paralisia, isto porque desconhecem como o profissional especializado em psicopedagogia poderá vir atuar com o aluno com paralisia cerebral, como também em um ambiente educacional inclusivo. Pois, estes consideram apenas a estrutura da palavra: psicopedagogia, sem tentar desmistificar o que ela representa, permanecendo com uma visão limitante, sem oportunizar a si mesmo vislumbrar possibilidades da realização de estudos frutíferos. Esse estreito entendimento, acaba por interferir e dificulta na atuação do psicopedagogo dentro do processo de ensino-aprendizagem, por meio de práticas psicopedagógicas que poderiam ser aprendidas e, posteriormente empregadas na sala de aula do ensino regular, no atendimento educacional especializado e, consequentemente Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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nos atendimentos clínicos. Mas, para que isso ocorra satisfatoriamente é interessante que o psicopedagogo se faça presente na constituição da equipe interdisciplinar, tanto na escola de ensino regular, como na escola de educação especial, haja vista sua presença é imprescindível no tocante em assistir, orientar e colaborar para que haja o desenvolvimento de aprendizagem da criança com paralisia cerebral. Nesse sentido, se considera que apesar de que todos os profissionais concebam como salutar o trabalho psicopedagógico para a inclusão do aluno com paralisia cerebral no processo educacional, os mesmos apresentam formações e concepções imutáveis ao querer modificar sua práxis pedagógica, mediante o trabalho interdisciplinar que, exige esforço, determinação, compromisso e colaboração de todos para que o educando em questão sinta-se pertencente daquela realidade, com perspectiva de transformar significativamente sua condição por meio do alcance de sua autonomia e independência socioeducacional. 5 CONCLUSÃO Mediante as considerações tecidas anteriormente, verificou-se que o psicopedagogo apresenta uma atribuição significativa dentro do processo de ensino-aprendizagem, pela sua contribuição na inclusão do aluno com paralisia cerebral nos ambientes sociais e educacionais, em decorrência da prática salutar do trabalho interdisciplinar, comprometido com a geração da quahttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 85-98, jul.-dez. 2014


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lidade de vida do educando, no tocante ao seu bem estar perante as relações sociais. Logo, considerando essa perspectiva, é necessário que a escola adquira uma postura inovadora para a inclusão de aluno com necessidades educacionais especiais, em razão de a realidade social mobilizar-se para conquistar uma educação de qualidade para todos independente de sua condição biológica, étnica, religiosa, gênero e/ou cultural. Assim, é notório expressar que, o respeito pela diversidade educacional possibilita a convivência pacífica de todos no mesmo grupo social. Além disso, observa-se que esse respeito perpassa também pela inserção do profissional da psicopedagogia na escola, visto que para efetuar o trabalho psicopedagógico no ambiente educacional, é preciso que haja uma abertura considerável no contexto educativo, pois se considera que é urgente que este profissional componha permanentemente a equipe interdisciplinar na escola, pelo motivo de estimular e colaborar no desenvolvimento de estratégias psicopedagógicas que podem ser utilizadas pelos profissionais com propósito da inclusão do aluno com paralisia cerebral. Nesse sentido, a escola deve comunicar para o psicopedagogo quando o educando com PC for matriculado, pelo fato de haver uma significativa prédisposição deste profissional para estudar o quadro situacional do aluno, em relação à sua história de vida, como também como se encontra seu processo de ensino-aprendizagem, no sentido Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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de visualizar as adaptações curriculares que o ambiente educacional terá que realizar para atender com dignidade este aluno. Contudo, para que esse atendimento venha tornar-se-á satisfatório e de qualidade a equipe diretiva da escola precisa expressar em sua gestão a adoção da concepção inclusiva, visto que o gestor carece e deve ter essa postura inclusiva, no tocante em propiciar a criação de diálogos enriquecedores e frutíferos no interior da instituição educativa, pelo fato de construir um processo educacional que valoriza as diferenças. Dessa maneira, faz-se necessário que o psicopedagogo apoiado pelo gestor da escola, estimule a criação de ciclo de estudos contínuos entre os profissionais da escola de ensino regular e da escola de ensino especial, cuja suas práticas sejam de qualidade ao compartilhar da concepção da educação inclusiva, no sentido deste profissional na escola despertar nestes profissionais o redimensionamento de suas percepções sobre a psicopedagogia, propondo a compreensão de propostas psicopedagógicas para o desenvolvimento da aprendizagem do aluno com paralisia cerebral. As propostas psicopedagógicas devem ser compreendidas pela equipe interdisciplinar como sugestão que irá auxiliar na educação do educando com PC. Todavia, antes que as sugestões sejam colocadas em prática, é necessário à realização discussão com os profissionais que atendem a criança, tendo

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como objetivo verificar se sua aplicação será viável. De certo, todos têm que compreender que essas sugestões não devem ter a pretensão de serem estanques. Elas precisam e devem ser modificadas no instante em que a equipe acreditar ser relevante naquele momento, bem como ser incorporadas novas, com estratégias que poderão ser adequadas e consideradas diante da peculiaridade do aluno com PC. O psicopedagogo nessa perspectiva, precisa ser flexível para ouvir, aceitar e inserir sugestões advindas da equipe interdisciplinar, independente da área de atuação do profissional, visto que o mais importante é o sentir bem deste educando. Em suma, considera-se que a atuação do psicopedagogo junto ao educando com paralisia cerebral tem características colaborativas, por procurar modificar as estruturas organizacionais do sistema de ensino, como também o redimensionamento das percepções dos profissionais que atendem este aluno, em razão de estes desenvolverem interdisciplinarmente as potencialidades do educando, ao acreditar no progresso expressivo das dimensões cognitivas, afetivas e sociais do mesmo, com possibilidades de independência e autonomia por meio da sua inclusão socioeducacional. REFERÊNCIAS ALMEIDA JÚNIOR, C. B. O Psicopedagogo na Educação Especial. Estação Científica, Macapá, v. 2, n. 1, p. 01-10, jan./jun., 2012. Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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Artigo recebido em 03 de março de 2015. Aceito em 23 de julho de 2015.

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Artigo original

Avaliação da seca de 2005 na Amazônia: uma análise da calha do rio Solimões Edivaldo Afonso de Oliveira Serrão1, Cleber Assis dos Santos2 e Aline Maria Meiguins de Lima3 1 Graduando em Meteorologia pela Universidade Federal do Pará- UFPA. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase Técnico em Agrimensura pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará- IFPA. Brasil. E-mail: oliveiraserrao@gmail.com 2 Graduado em Ciências Naturais com habilitação em Física pela Universidade do Estado do Pará e Especialista em Agriculturas Amazônicas e Desenvolvimento Agroambiental pelo Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural - NCADR da UFPA. Atualmente cursando Meteorologia pela Universidade Federal do Pará. Brasil. E-mail: cleber_ufpa@yahoo.com.br 3 Graduação em Geologia pela Universidade Federal do Pará (1998), especialização em Gestão Normativa de Recursos Hídricos pela Universidade Federal da Paraíba (2007), mestrado em Geotecnia pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (2000) e doutorado em Desenvolvimento Socioambiental pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (2007). Professora da Universidade Federal do Pará, Brasil. E-mail: alinemeiguins@gmail.com

RESUMO: A Bacia Amazônica, com uma área estimada de 6.110.000 km², sofre influência de diversos sistemas atmosféricos. Estes podem ser agrupados em 3 tipos: convecção diurna resultante do aquecimento da superfície e condições de larga-escala favoráveis; linhas de instabilidade originadas na costa N-NE do litoral do Atlântico; e aglomerados convectivos de meso e larga escala, associados com a penetração de sistemas frontais na região S/SE do Brasil e interagindo com a região Amazônica. A consequência direta destes pode ser observada nas variações de nível d´água verificadas nas bacias hidrográficas componentes. A presente proposta teve por objetivo realizar uma análise espacial da precipitação durante o período chuvoso e menos chuvoso, do ano de 2005, na calha do rio Solimões, marcado por uma das maiores secas na Amazônia, associando aos sistemas atmosféricos atuantes nessa região e causadores desta estiagem severa. Os resultados obtidos ilustram que o médio-baixo curso do rio Solimões, foi o mais afetado no período pela redução da precipitação, com valores próximos a 104 mm período de (julho-dezembro); esta precipitação pode ser vinculada aos fenômenos do ENOS fase positiva e do dipolo do Atlântico positivo, que são fortes moduladores da precipitação na Amazônia. Palavras-chave: Precipitação. Bacia Amazônica. Solimões. The 2005 drought in the Amazon: an analysis of the channel of the Solimões river ABSTRACT: The Amazon Basin, with an estimated area of 6.11 million square kilometers, is influenced by several weather systems. These can be grouped into three types: daytime resulting convection heating surface and favorable large-scale conditions; instability lines originated on the coast north-northeast of the Atlantic coast; and convective clusters of meso and large scale associated with the penetration of frontal systems in the S / SE region of Brazil and interacting with the Amazon region. The direct consequence of these can be seen in the watermark level variations observed in river basins components. This proposal aimed to perform a spatial analysis Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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of rainfall during the rainy season and less rainy, the year 2005 in the channel of the Solimões River, marked by a major drought in the Amazon by linking to atmospheric systems active in this region and causing this severe drought. The results illustrate that the medium-lower course of the Solimões River, was the most affected in the period by reduced rainfall, with values near 104 mm period (July to December); this precipitation may be linked to the phenomena of ENSO positive phase and the positive Atlantic dipole, which are strong modulators of rainfall in the Amazon. Keywords: Rainfall. Amazon Basin. Solimões.

1 INTRODUÇÃO A região Amazônica localizada no centro-norte da América do Sul, recobre 9 estados brasileiros e mais 8 países da América do Sul, possui precipitação média de aproximadamente 2300 mm/ano, embora tenham regiões (na fronteira entre Brasil, Peru, Colômbia e Venezuela) em que o total anual atinge 3500 mm (VAL et al., 2010). Uma das principais características de regiões tropicais-equatoriais, como a Amazônia, são as variações das precipitações em escalas interanuais e interdecadais (MARENGO et al., 2011). Conhecer o comportamento espacial da precipitação torna-se fundamental para a gestão dos recursos hídricos, assim como o desenvolvimento e o planejamento urbano (FILHO et al., 2013). Em 2005, uma grande parte da bacia amazônica ocidental experimentou a seca mais grave dos últimos 40 anos e uma das mais intensas dos últimos cem anos (MARENGO et al., 2008). As razões que explicam seu regime de precipitação, além de sua localização geográfica e extensão territorial é a combinação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT); processos de convecção organizada associados à Zona de Convergência do Atlântico Sul Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

(ZCAS); eventos de Linhas de Instabilidade (LI); aquecimento ou resfriamento anômalo da temperatura da superfície do mar no Pacífico tropical, fenômenos conhecidos respectivamente como El Niño e La Niña (FISCH et al., 1998). E nos últimos 10 anos a configuração do Dipolo do Atlântico vem afetando a distribuição da precipitação na bacia Amazônica (MARENGO, 2009; ALCÂNTARA, 2011). Samanta et al. (2010) descrevem a seca de 2005 como uma ocorrência de El Niño-Oscilação Sul (ENOS) diferenciada dos episódios de 1983 e 1998, que foram severos na região sudoeste da Amazônia, com menor reflexo nas porções central e oriental. Gloor et al. (2013) ao compararem a vazão do rio Amazonas, o registro da precipitação e a variação da temperatura da superfície do mar observaram que a variabilidade interanual no registro hidrológico tende a apresentar uma correlação negativa com a variabilidade interanual da superfície do mar, citando como exemplo os eventos de seca de: 1995, 1998, 2005 e 2010. Marengo et al. (2011) e Espinoza et al. (2012) complementam que as fases de El Niño são associadas com as anomalias negativas da precipitação no norte da bacia Amazônica, enquanto http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 99-109, jul.-dez. 2014


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que as fases de La Niña estão relacionadas as anomalias positivas e as maiores vazões. Sena et al. (2012) destaca que os rios mais afetados pela seca de 2005 na bacia Amazônica foram: Juruá, Solimões, Negro, Uatumã, Purus, Tefé e Madeira. Conhecer a distribuição espacial da precipitação possibilita avaliar o comportamento desta variável aplicada a modelagem hidrológica de bacias hidrográficas incluindo: transporte de poluentes, dinâmica de rios, estimativa de perdas de solo, disponibilidade hídrica para cultivares e ventos extremos como enchentes e estiagem (KEENAN et al., 2014). A utilização de técnicas de espacialização, disponíveis nos Sistemas de Informações Geográficas (SIG), facilita a verificação de como as precipitações se distribuem no espaço, bem como a associação com diferentes fatores do ambiente (TAYLOR, 1991; MAZZINI; SCHETTINI, 2009). Com base nestes aspectos o objetivo deste trabalho foi realizar uma análise espacial da precipitação em relação ao período chuvoso e menos chuvoso, no ano de 2005, marcado por uma das maiores secas na Amazônia, aplicando técnicas de geoprocessamento na calha do rio Solimões identificando os sistemas atmosféricos causadores desta estiagem severa. 2 MATERIAIS E MÉTODO A sistemática empregada adotou a delimitação de calha de rio solimões, derivada das sub bacias definidas como de “Ordem 5” segundo o Sistema OtEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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tobacias (de acordo com o proposto na Resolução CNRH n. 30/2002). Neste trabalho foram utilizados os dados de precipitação na calha do rio Solimões no período de 2000 a 2012, a partir dos dados produto do sensor 3B43V6 do TRMM (Tropical Rainfall Measuring Mission) disponibilizados pela NASA através do Laboratório de Sensoriamento Remoto Aplicado à Agricultura e Floresta (LAF/INPE). Dados temperatura da superfície do mar (TSM) através de boias do Niño 3 e 4 (5°N,-5°S); (150°,-90°W) e (5°N,-5°S) (160°W,150°W) respectivamente no período (1982-2013) oriundos do Earth System Research Laboratory/National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Figura 1: Localização da área de estudo, ao longo do rio Solimões, entre as cidades de Tabatinga e Manaus, a partir da definição das sub-bacias drenantes de ordem 5, segundo a classificação de Ottobacias

Fonte: Elaborado pelos autores

Estes dados foram tratados no software Microsoft Excel para: (a) análise de consistência tendo sido executados procedimentos de cálculo dos valores médios de precipitação mensal no período chuvoso (Janeiro - Junho) e menos chuvoso (Julho - Dezembro) e cálculo do acumulado de precipitação http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 99-109, jul.-dez. 2014


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sendo a soma total dos valores mensais de precipitação para o ano de 2005; (b) cálculo dos valores médios de TSM, cálculo das anomalias de TSM utilizando a equação (1) (AP; AN) = MD ± DP Onde AP é anomalia positiva; AN, anomalia negativa; MD, média; e DP, desvio padrão. Para anomalias positivas adiciona-se (DP a MD), e anomalias negativas subtrai-se (DP de MD). O software Arc Gis foi usado para a elaboração da cartografia resultante, realizando o procedimento de interpolação, empregando o operador de interpolação Inverso do Quadrado da Distância (IDW). Para isso atribuiu-se para cada estação pluviométrica o valor de precipitação calculado, e gerou-se por interpolação a distribuição da precipitação em torno da calha do rio Solimões. A partir disto pôde-se identificar as regiões de maior e menor distribuição pluvial para estação chuvosa e estação menos chuvosa. Na identificação dos sistemas atmosféricos atuantes na Amazônia, utilizou-se os Boletins Climanálise e imagens de satélite (ambos disponibilizados pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC do INPE). A partir disto, pode-se fazer uma avaliação dos sistemas que atuaram e desfavoreceram a precipitação na Amazônia e especificamente na calha do rio Solimões.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Distribuição da precipitação no período mais chuvoso A distribuição dos valores de precipi1 rio Solitação no entorno da calha do mões durante o período mais chuvoso (Janeiro - Junho) varia entre 204,2 mm a 376,4 mm (Figura 2). A espacialização da precipitação distribui-se de forma irregular com uma acentuação na porção central, que climatologicamente coincide com uma área de máximos de precipitação registrados para a América do Sul. Contudo, observa-se que os valores de precipitação ficaram a baixo da média climatológica para a bacia amazônica no mesmo período. Esta irregularidade na precipitação se dá pelos mecanismos atmosféricos (El Niño e Dipolo do atlântico) que atuaram neste período, especialmente no ano de 2005, quando se evidenciou uma das maiores secas na Amazônia (LEWIS et al., 2011). Figura 2: Espacialização da precipitação na calha do rio Solimões para o ano de 2005, período chuvoso (Jan- Jun).

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Avaliação da seca de 2005 na Amazônia: uma análise da calha do rio Solimões

3.2 Distribuição da precipitação no período menos chuvoso A análise da distribuição dos valores de precipitação no em torno da calha do rio Solimões na estação menos chuvosa, registrou valores entre 104,7 mm e 226,7 mm (Figura 3). Observa-se, que espacialmente a precipitação é menor no sentido da foz do rio em Manaus; e com maior intensidade próximo a montante. Figura 3: Espacialização da precipitação na calha do rio Solimões para o ano de 2005, período menos chuvoso (Jul-Dez).

Fonte: Elaborado pelos autores.

A ocorrência do fenômeno El Niño a partir de outubro de 2004, associado ao dipolo positivo no Atlântico tropical em 2005, trouxe como consequência a diminuição da precipitação na parte norte, sul e oeste da bacia Amazônica (MARENGO et al., 2011). Tomasella e Marengo (2011) concluíram que o “acoplamento” destes mecanismos atmosféricos influenciaram desfavoravelmente as cheias e recargas dos rios da Amazônia ocidental durante o período chuvoso de dezembro 2004 até março 2005. Níveis tão baixos de preEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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cipitação acarretados pela interação destes mecanismos atmosféricos ocasionaram uma estiagem na bacia coletora a oeste (rio Solimões) influenciando diretamente no nível e vazão fluvial do rio Amazonas. 3.3 Níveis pluviométricos nos pontos de coleta através do satélite TRMM na calha do rio Solimões Observou-se nas Figuras 2 e 3 que a precipitação na calha não é de forma contínua e gradual, mas sim intercalada com níveis de precipitação irregulares, o Gráfico 1, apresenta os níveis de precipitação no ano de 2005 e sua distribuição nos pontos de coleta ao longo da calha do rio Solimões e como esses níveis se comportaram no período menos chuvoso, já que este foi bem mais afetado em 2005 o que agravou a estiagem por coincidir com a estação seca na região. Gráfico 1: Variabilidade da Precipitação por ponto de coleta através do satélite TRMM, na calha do rio Solimões – 2005 no período seco.

Fonte: Elaborado pelos autores.

A precipitação nos pontos de observação no período seco é bem abaixo da média anual até o décimo quinto ponto de analise, a partir deste ponto a um acréscimo de precipitação entre os http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 99-109, jul.-dez. 2014


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pontos (16º e 19º), estes pontos coincidem com a porção central da calha, está localizada as proximidades de uma das regiões de maiores índices de precipitação na América do Sul, compreendendo a extremidade do Estado do Amazonas fronteira com a Colômbia e Venezuela, tal conhecida como “cabeça do cachorro”, com totais mensais de até 480 mm/mês. 3.4 Análise sinótica e hidrometeorológica para a seca de 2005 3.4.1 Análise: causas e efeitos - El Niño Avaliando as condições da evolução da temperatura da superfície do mar (1982-2013) na região do Niño 3 este tendo alta correlação com o Índice de Oscilação Sul (IOS) que é caracterizado por anomalias de pressão atmosférica na região de Darwin, norte da Austrália e Taiti (TRENBERTH, 1997; GLANTZ, 2001). No Gráfico 2, observa-se as anomalias positivas de TSM no Oceano Pacífico Equatorial. Em 1983, 1992, 1998, 2005 e 2010 todas entre 27°C a 29°C, sendo estas configurações de El Niño, onde 1998 foi classificado como El Niño forte, 2005 fraco e 2010 moderado; contudo em 2005 outro fenômeno acoplado oceano-atmosfera interferiu no regime de precipitação na Amazônia, o Dipolo do Atlântico, caracterizado na Figura 4.

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Gráfico 2: Evolução da temperatura da superfície do mar de Niño 3 (1982-2013).

Fonte: Elaborado pelos autores.

O Gráfico 3 apresenta as anomalias positivas (El Niño) no setor do Niño 4 acompanhando o Gráfico 2 nos anos de máximos destacados, observa-se ainda que em 2005 o Niño 4 apresenta valores superiores de anomalias em relação ao Niño 3. Geograficamente a região do Niño 4 está mais a oeste da América do Sul, logo pode-se associa-lo ao ramo ascendente da célula de Walker, concomitantemente seu ramo descendente estará sobre a Amazônia e nordeste brasileiro desfavorecendo a convecção local com isso diminuindo a precipitação nestes setores brasileiros, configuração clássica de El Niño (ARAÚJO et al, 2013). Gráfico 3: Evolução da temperatura da superfície do mar de (1982-2013) Niño 4.

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Avaliação da seca de 2005 na Amazônia: uma análise da calha do rio Solimões

3.4.2 Analise Sinótica oceano-atmosfera do Atlântico tropical a seca de 2005 (Dipolo do Atlântico) O oceano Atlântico Tropical tem um papel fundamental na variabilidade do tempo e do clima em regiões ao leste dos Andes, particularmente sobre o Brasil, as regiões mais significativamente influenciadas pelas circulações atmosféricas e oceânicas do Atlântico Tropical são: o centro e o leste da Amazônia e nordeste brasileiro (MOLION et al., 1987; GIANNINI et al., 2004). Evidências observacionais, teóricas e resultados de modelos de circulação geral da atmosfera, implicam que as condições oceânicas e atmosféricas sobre a bacia do Atlântico Tropical influem fortemente na variabilidade interanual do clima sobre a América tropical, leste dos Andes (MARENGO et al., 2008). O padrão dipolo no Atlântico Tropical acarreta em gradientes norte-sul de anomalias de TSM, estes afetam intensamente na posição latitudinal da ZCIT, modulando a distribuição sazonal de precipitação sobre o Atlântico Equatorial, na parte norte do nordeste do Brasil, até a parte central da Amazônia (MARENGO et al., 2008).

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Figura 4: Padrões de circulação atmosférica e de anomalias de TSM no Atlântico Tropical Norte e Sul, durante anos secos (a) e chuvosos (b) no Norte e Nordeste. A área em verde representa a posição da ZCIT. A - representa a circulação das Altas subtropicais

Fonte: Nobre e Molion (1988)

O aumento da TSM no Atlântico Tropical Norte (entre 12ºN e 20ºN) tende a ocasionar maior evaporação e consequente redução da pressão no nível do mar (PNM). Nas proximidades da região dominada pela alta pressão semipermanente subtropical ocorre concomitantemente o enfraquecimento dos ventos alísios de nordeste, estes são provenientes do escoamento gerado pela circulação da alta subtropical norte (REBOITA et al., 2010). No Atlântico Tropical Sul (entre a linha do Equador e 15ºS) ocorrem anomalias negativas de TSM (a baixo da média), intensificando a alta subtropical do Atlântico Sul; e fortalecendo os ventos alísios de sudeste, ocasionados pela circulação da alta subtropical sul. Essa configuração do acoplamento oceano-atmosfera, gera a formação de um gradiente meridional de anomalias de TSM no sentido de sul para norte (Figura 4a); e com isso a faixa de baixa pressão equatorial a superfície, confluência dos ventos alísios (deslocado mais para norte, relativamente ao seu posicionamento médio) e totais pluvihttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 99-109, jul.-dez. 2014


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ométricos abaixo da média sobre o norte-nordeste brasileiro e leste dos andes (BARROS; DOYLE, 1996). Na figura 4b ocorre o processo inverso, com a mudança na configuração desses sistemas atmosféricos, e favorecimento da precipitação na Amazônia e nordeste brasileiro. Ronchail et al. (2002) observou que as anomalias de precipitação ao norte e a leste da Amazônia estão associadas a anomalias de TSM no Pacifico Equatorial e do gradiente de TSM no Atlântico Tropical Norte e Sul. Ou seja, a ocorrência dos fenômenos do ENOS fase positiva e negativa, assim como ocorrência do dipolo do Atlântico positivo e negativo, são fortes moduladores da precipitação na Amazônia. A seca de 2005 que afetou a Amazônia foi refletida nas vazões do rio Solimões, que tem a bacia coletora ao sul desta região, onde as chuvas têm sido muito baixas. A formação do dipolo positivo no Atlântico ocasiona o deslocamento ao norte dos ventos alísios de sudeste e toda a umidade que estes transportam na formação da ZCIT (ZENG et al., 2008). A Figura 5 ilustra as anomalias observadas em quatro períodos de 3 meses de 2005, demonstrando a evolução da seca Amazônica. A seca foi mais severa entre julho e setembro, coincidindo com a estação seca na região; quando a precipitação foi reduzida. O diferencial neste ano é o curto evento frio do ENOS (La Niña) durante outubro-dezembro. Um contraste ao ano anterior com evento de EL Niño, fenômeno este que ramifica a célula de Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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Walker onde seu remo descendente se estabelece sobre parte da Amazônia e nordeste brasileiro, inibindo a formação de nuvens, e consequentemente a precipitação nestas regiões (SERRÃO et al., 2013). Figura 5: Evolução das anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (º C) nos Oceanos Atlântico e Pacífico tropical e precipitação (mm) na Amazônia entre Janeiro a Dezembro de 2005.

Fonte: Zeng et al. (2008).

4 CONCLUSÕES Os resultados observados a partir da variabilidade espacial da precipitação ao longo da calha do rio Solimões no ano de 2005, indicam uma influência do aquecimento anômalo da TSM no Atlântico tropical, acarretou na ocorrência do Dipolo do Atlântico em 2005. Este somado ao El Niño no mesmo ano, trouxe como consequência a redução do volume de precipitação nas regiões norte, oeste e sul da bacia Amazônica. A aplicação de SIGs demonstra ser uma eficaz ferramenta, eficiente, prática e útil para o cálculo e espacialização da precipitação estudada, assim como http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 99-109, jul.-dez. 2014


Avaliação da seca de 2005 na Amazônia: uma análise da calha do rio Solimões

a interpolação desses dados e zoneamento dos mesmos. A ferramenta de interpolação IDW mostrou-se útil na identificação de zonas de altos e baixos índices pluviométricos, possibilitando até determinar a variabilidade dessa precipitação para os locais onde não se dispõe de informações meteorológicas coletadas. Observou-se que para a estação chuvosa os valores de precipitação são da ordem de magnitude maior que o período menos chuvoso, concomitante com a climatologia. Com tudo este padrão alterou-se no ano de 2005, com valores de precipitação inferior à normal climatológica para a região. A Amazônia sofreu uma de suas maiores estiagens no ano de 2005, levantando grandes questionamentos no âmbito ambiental e social, já que “os rios da Amazônia também são suas estradas”. Verifica-se que a Amazônia e seus sistemas hidrológicos necessitam de monitoramento continuo, e assim auxiliando na prevenção e mitigação de eventos extremos. REFERÊNCIAS ALCÂNTARA, C. R. Linha de instabilidade da Amazônia: estudo de caso e importância das características do perfil do vento na sua formação e desenvolvimento. Ciência & Natura, v. 33, n. 2, p. 197-226, 2011. ARAÚJO, R. G.; ANDREOLI, R. V.; CANDIDO, L. A.; KAYANO, M. T.; SOUZA, R. A. F. A influência do evento El Niño Oscilação Sul e Atlântico Equatorial na precipitação sobre as regiões norte e Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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Artigo recebido em 01 de janeiro de 2015. Aceito em 23 de julho de 2015.

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Artigo original

Medições micrometeorológicas de um pomar de mangueiras (Mangifera indica L.) em Cuiarana no município de Salinópolis - PA, Brasil Cleber Assis dos Santos1, Christopher Henrique de Almeida Duarte2 e José de Paulo Rocha da Costa3 1 Graduado em Ciências Naturais com habilitação em Física pela Universidade do Estado do Pará e Especialista em Agriculturas Amazônicas e Desenvolvimento Agroambiental pelo Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural - NCADR da UFPA. Atualmente cursando Bacharelado em Meteorologia pela Universidade Federal do Pará. Integrante do Grupo de Pesquisa da UFPA no Laboratório de Estudos e Modelagem Hidroambientais (LEMHA), na linha de pesquisa de Geoprocessamento e sensoriamento remoto aplicado a modelagem hidrológica, Brasil. E-mail: cleber_ufpa@yahoo.com.br 2 Graduando em Meteorologia pela Universidade Federal do Pará, Brasil. E-mail: almeidadhc@gmail.com 3 Dr. em Meteorologia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa. Professor da Faculdade de Meteorologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém – PA, Brasil. E-mail: jpaulo@ufpa.br

RESUMO: O presente trabalho objetivou, por meio de dados medidos e estimados, analisar a variabilidade na escala horária de alguns parâmetros micrometeorológicos que ocorrem próximo à superfície terrestre, em um pomar de mangueiras (Mangifera indica L.), cultivar Tommy Atkins. O local onde o estudo foi desenvolvido pertence a Universidade Federal do Pará e compreende uma área de exploração comercial de Mangifera indica L., localizada no sítio experimental Modesto Rodrigues em Cuiarana (00°39´47”S; 47°17´48”W). Com posse dos dados, medidos de hora em hora, através dos instrumentos meteorológicos, foi feita a média dos três dias e foram calculados a pressão atmosférica (hPa), pressão de saturação de vapor (hPa), umidade absoluta (g/m³), razão de mistura (g/kg), umidade específica (g/kg) e a temperatura do ponto de orvalho (°C). Após a análise dos dados micrometeorológicos, foi possível entender que o ciclo diurno de algumas dessas variáveis é de suma importância para tomada de decisões, principalmente, no que se refere a variabilidade no interior de algumas plantações ou culturas de interesse agrícolas. Palavras-chave: Micrometeorologia, temperatura do ar, ciclo diurno. Micrometeorological measurements of an orchard of mango trees (Mangifera indica L.) in Cuiarana in the municipality of Salinópolis-PA, Brazil ABSTRACT: This study aimed, through measured and estimated data, analyze the variability in hourly scale of some micrometeorological parameters occurring near the Earth’s surface, in an orchard of mango trees (Mangifera indica L.), cultivar Tommy Atkins. The place where the study was developed belongs to the Federal University of Pará and covers an area of commercial exploitation of Mangifera indica L., located in the experimental site Modesto Rodrigues in Cuiarana (00°39´47”S; 47°17´48”W). From the data measured each hour through the meteorological instruments, the mean of the three days was taken and it was calculated the atmospheric pressure (hPa), steam saturation pressure, absolute humidity (g/m³), mixing ratio (g/kg), specific humidity (g/kg) and the temperature of dew point (°C). After analyzing the micrometeorological data, it was possible to understand that the Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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diurnal cycle of some variables is very important to decision-making, especially as regards the variability within some crops that represent agricultural interests. Keywords: Micrometeorology, air temperature, diurnal cycle.

1 INTRODUÇÃO A micrometeorologia permite a quantificação dos fluxos turbulentos de momento, calor latente, calor sensível e outras propriedades atmosféricas, além de informações relacionadas a problemas ligados aos estudos agronômicos, ecológicos e hidrológicos (TOLEDO FILHO, 2001). Os fenômenos micrometeorológicos ocorrem na camada de ar mais baixa da troposfera, que está em contato direto com a superfície terrestre na qual predomina o transporte turbulento de grandezas escalares e vetoriais entre a superfície da terra e da atmosfera, conhecida como Camada Limite Planetária (CORRÊA, 1997). Para Magnago et al., (2010), as trocas de energia, vapor d’água, e de momentum que ocorrem nesta camada atmosférica são responsáveis pelas características dinâmicas e termodinâmicas do escoamento. Segundo Gevaerd e Freitas (2006), como a superfície terrestre atua como fonte de calor e umidade durante o dia para a Camada Limite Planetária, faz-se necessário estudar variáveis como a temperatura do ar, a evaporação e a pressão atmosférica, pois são importantes elementos meteorológicos para entender as flutuações dos processos físicos que ocorrem próximo à superfície terrestre. Para observações micrometeorológicas, a temperatura do ar é medida Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

em diversas alturas com o intuito de conhecer o perfil de temperatura, que é indispensável para estudar o fluxo turbulento de calor na camada atmosférica adjacente à superfície (VAREJÃOSILVA, 2006). Brondani e Acevedo (2013) citam que além da temperatura do ar, a umidade específica é outra variável associada aos fluxos de energia, tanto o fluxo de calor latente quanto o fluxo de calor sensível, que ocorrem na superfície terrestre. O vapor d’água também participa dos processos de absorção e emissão de calor sensível e calor latente pela atmosfera, interferindo desta forma, na distribuição da temperatura (VAREJÃO-SILVA, 2006). As variáveis de temperatura e umidade são inversamente proporcionais, visto que elas se interagem ao mesmo tempo (SANCHES et al., 2009). A pressão atmosférica é uma outra variável importante para a micrometeorologia, definida como o peso do ar sobre qualquer objeto dentro da atmosfera e que está sujeita a variações horárias com valores máximos e mínimos às 10 e 22 horas, respectivamente (JARDIM, 2012). O presente trabalho objetivou, por meio de dados medidos e estimados, analisar a variabilidade na escala horária de alguns parâmetros micrometeorológicos que ocorrem próximo à superfície terrestre, em um pomar de Mangifera indica L.), cultivar Tommy Atkins. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 111-120, jul.-dez. 2014


Medições micrometeorológicas de um pomar de mangueiras (Mangifera indica L.) em Salinopólis, Brasil 113

2 MATERIAIS E MÉTODOS O local onde o estudo foi desenvolvido pertence a Universidade Federal do Pará e compreende uma área de exploração comercial de manga, cultivar Tommy Atkins, localizada no sítio experimental Modesto Rodrigues em Cuiarana (00°39´47”S; 47°17´48”W e 10 metros de altitude), município de Salinópolis, região nordeste do Pará (Figura 1) no Brasil.

na escala horária e são referentes ao período de 23 até 25 de junho de 2015, onde, para a realização de cálculos foi feita a média dos três dias. Figura 2: Instrumentos de medida dos dados micrometeorológicos.

Figura 1: Localização do Sítio Experimental Modesto Rodrigues.

(a) Evaporímetro de piche

Os dados micrometeorológicos, temperatura do ar (°C) e umidade relativa do ar (%), através do psicrômetro, e evaporação no evaporímetro de piche (mm) foram medidos dentro do abrigo meteorológico à 1,5 m acima do solo (Figura 2a), a pressão foi medida através do barômetro aneroide (Figura 2b). A temperatura do ar, 2 m acima do solo, foi medida por um sensor (Figura 2c) em uma estação meteorológica automática instalada em uma torre (Figura 2d) micrometeorológica com 15 m de altura erguida no interior da área plantada. Estes dados foram medidos Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

(b) Barômetro aneroide

(c) Sensor de tempera- (d) Torre micrometura teorológica Fonte: Elaborado pelos autores.

Com posse dos dados, medidos de hora em hora, através dos instrumentos meteorológicos, foi feita a média dos três dias e foram calculados a preshttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 111-120, jul.-dez. 2014


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são atmosférica (hPa), pressão de saturação de vapor (hPa), umidade absoluta (g/m³), razão de mistura (g/kg), umidade específica (g/kg) e a temperatura do ponto de orvalho (°C). A pressão atmosférica que é definida como sendo o peso de uma coluna de ar, com secção transversal unitária, que se estende sobre o ponto considerado até o limite superior da atmosfera foi estimada utilizando a equação 1: P

T ! (k) − 0,0065Z = 101,325 # T ! (k)

$,%&

(1)

onde, Tar é a temperatura absoluta do ar e Z (m) é a altura acima do nível médio do mar. A pressão de saturação de vapor (hPa) é a pressão parcial de vapor d’água na condição de saturação. É dada por (em função da temperatura), foi obtida a partir da equação 2: '(

= 0,61078)*+ ,

17,27-./ 0 237,3 + -./

(2)

onde, Tar é a temperatura do ar (°C). A umidade absoluta, definida como sendo a relação entre a massa de vapor d´água existente em uma amostra de ar úmido e o volume total da mistura, pode ser calculada através da equação 3. 12 216,68 '. = -./ (3) Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

(3)

em que, ea é a pressão real de vapor (hPa) que é definida como a pressão atual exercida pelo vapor d’água no ar, determinada segundo a equação 4, e Tar é a temperatura absoluta. '.

= '( ,

14 0 100

(4)

onde, UR é a umidade relativa do ar (%) e es é a pressão de saturação de vapor (hPa). A razão de mistura definida como a relação entre a massa de vapor d´água existente em uma amostra de ar úmido e a massa de ar seco da mistura, calculada a partir da equação 5. 5 =

0,622 '. +.67 − '.

(5)

onde, Patm é a pressão atmosférica (hPa) medida através do barômetro aneroide e ea é a pressão real de vapor (hPa). A umidade específica é a razão entre a massa de vapor d’água e a massa total de ar que o contém (g/kg), estimada através da equação 6. 8 =

0,622 '. +.67 − 0,378 '.

(6)

onde, Patm é a pressão atmosférica (hPa) medida através do barômetro aneroide e ea é a pressão real de vapor (hPa). E a temperatura do ponto de orvalho, que é definida como a temperatuhttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 111-120, jul.-dez. 2014


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ra à qual o vapor d'água que está em suspensão no ar condensaria sob a mesma pressão, foi estimada segundo a equação 7. -9 =

186,905 − 237,3:;<=> ('. ) :;<=> ('. ) − 8,325

Figura 3: Ciclo diurno da temperatura do ar em 2m e 1,5m.

(7)

onde, ea é a pressão real de vapor (hPa). Para o tratamento estatístico e elaboração do banco de dados e dos gráficos, foi utilizado a planilha eletrônica Microsoft Excel 2013, o mapa de localização do sítio experimental Modesto Rodrigues foi elaborado através do Software ArcGIS 10.0. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Temperatura do ar de 2m e 1,5m A figura 3 mostra a média da variação horária da temperatura do ar. Podemos observar que os valores da temperatura começam a elevar a partir das 6h, quando há o nascer do Sol, que irá impulsionar o aquecimento diferencial da superfície, provocando o aumento da temperatura. Pouco antes das 6h, há o registro das menores temperaturas, pois este horário atinge o limite de perda de calor da superfície terrestre por radiação de onda longa. Observa-se, que a temperatura máxima ocorre com uma defasagem de 2 a 3 horas em relação ao horário de maior irradiância solar (12h). Aproximadamente, a partir das 14h paulatinamente, ocorre a diminuição da temperatura Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

devido a redução gradual da influência da radiação solar.

Fonte: Elaborado pelos autores.

É possível observar que a temperatura do abrigo (1,5m), em todo o período de análise dos dados, foi mais elevada (média de 28,9°C) se comparada com a temperatura medida pelo sensor da torre micrometeorológica, a 2m de altura (média de 26,3°C). 3.2 Pressão atmosférica medida e estimada A figura 4 mostra a média da variação horária das pressões medida e estimada. Podemos observar a média da variação da pressão atmosférica medida durante as 24h, em que ocorre dois valores máximos de pressão (aproximadamente 10h e 22h) e dois valores mínimos (aproximadamente 4h e 18h). A pressão atmosférica medida (média de 1014,1 hPa), mostra um ciclo diurno (duas vezes ao dia), este efeito é mais forte nas zonas tropicais. Variações nos níveis superiores de temperatura tendem a distorcer as superfícies isobáricas. Este ritmo é a imagem da superfície de uma maré diurna de toda a atmosfera. Uma onda se move através da http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 111-120, jul.-dez. 2014


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atmosfera superior, para o oeste com a velocidade do ritmo circadiano provocado pelo Sol (UWYO.EDU, 2015). Figura 4: Ciclo diurno da pressão atmosférica medida e estimada.

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d’agua que o ar poderia conter (es) pela quantidade de vapor d’água que o ar contém (ea), e da evaporação do evaporímetro de piche que mede o poder evaporante de uma superfície porosa e úmida. Podemos observar que a umidade relativa do ar (média de 75%) interage de maneira inversa à evaporação no evaporímetro de piche (média acumulada de 3,53 mm). Figura 5: Relação entre a umidade relativa do ar e a evaporação no evaporímetro de piche.

Fonte: Elaborado pelos autores.

A pressão atmosférica estimada (média de 1012,1 hPa), que utilizou como principal variável a temperatura absoluta do ar (utilizando a temperatura do ar de 1,5 m), mostrou que o valor máximo ocorre uma vez durante o ciclo diurno (aproximadamente 14h) e os valores mínimos ocorrem duas vezes durante o ciclo diurno (aproximadamente 6h e 18h), mostrando que a estimativa segue o movimento aparente do Sol, ou seja, como durante o dia há temperaturas maiores que durante a noite, a pressão será diretamente proporcional a temperatura. Assim, todos os fatos acima observados (Figura 4) mostram que as alterações de pressão cíclicas diárias não são diretamente ligadas a mudanças diárias de temperatura (Figura 3). 3.3 Umidade relativa do ar e evaporímetro de piche A figura 5 mostra a relação entre a média da umidade relativa do ar, que é a relação entre a quantidade de vapor Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

Fonte: Elaborado pelos autores

Durante o período noturno, principalmente pela madrugada, a umidade relativa do ar atinge seus maiores valores (máximo de 86% às 6h), inversamente a evaporação no evaporímetro de piche atinge seus menores valores (mínimo de 0 mm das 0h até às 3h). No período diurno ocorre o processo inverso, onde a umidade relativa atinge seus menores valores (mínimo de 60% às 11h) e a evaporação atinge seu valor máximo (máximo de 0,38 mm às 15h). Esses valores são influenciados pelo aquecimento diferencial que o Sol provoca na superfície terrestre, ou seja, quando a temperatura está elevada, a umidade relativa do ar é menor e a evaporação no evaporímetro de piche é maior, quando o aquecimento é mehttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 111-120, jul.-dez. 2014


Medições micrometeorológicas de um pomar de mangueiras (Mangifera indica L.) em Salinopólis, Brasil 117

A figura 6 mostra a média da variação horária da pressão de saturação de vapor (média de 40,1 hPa) e da depressão do ponto de orvalho (média de 5,3 °C), que é a diferença entre a temperatura do ar em dada situação e a temperatura do ponto de orvalho (PEIXOTO; TOLEDO, 2002).

diretamente proporcionais. Pois são dependentes do ciclo circadiano da temperatura do ar. Logo os maiores valores ocorrem entre as 10h e as 14h, quanto as temperaturas estão mais elevadas. No período noturno, principalmente na madrugada, encontramos os menores valores. Quando a depressão do ponto de orvalho está em seu maior valor, significa que a camada de ar está mais seca, ocorrendo às 11h com 9°C, já no horário das 6h quando a depressão atingiu 2,8°C a camada de ar esteva mais úmida. A quantidade de vapor d’água que o ar pode reter é função da temperatura do ar. Quanto maior a temperatura do ar maior a quantidade de vapor d’água que pode ser por ele retida (RODRIGUES, 2003). Logo, o horário em que o ar pode reter maior quantidade de vapor d’água, foi às 14h, horário este que houve maior temperatura; já às 6h foi o horário em que o ar poderia conter menor quantidade de vapor d’água.

Figura 6: Ciclo diurno da pressão de saturação de vapor e da depressão do ponto de orvalho

3.5 Umidade absoluta, razão de mistura e umidade específica

nor ou quando não há aquecimento, a umidade relativa é maior e a evaporação é menor devido à perda de radiação de onda longa pela superfície terrestre. Segundo Fernandes et al. (2009), é possível estimar a evapotranspiração de referência de maneira satisfatória, através da evaporação medida pelo evaporímetro de piche. Entretanto, nos meses de baixa umidade relativa do ar, o evaporímetro de piche apresenta uma baixa em sua precisão, por estar diretamente ligado a essa variável. 3.4 Depressão do ponto de orvalho e pressão de saturação de vapor

Fonte: Elaborado pelos autores

Podemos observar que tanto a pressão de saturação de vapor quanto a depressão do ponto de orvalho, são Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

A figura 7 mostra a média da variação horária da umidade absoluta (21,1 g/m³), razão de mistura (média 18,5°C) e umidade específica (média 18,2°C). Os picos máximos dessas variáveis ocorreram às 14h devido, principalmente, as altas temperaturas, mostrando que o teor de umidade neste horário foi o mais elevado. No período noturno, com a diminuição da temperatura e a redução da capacidade do ar de conhttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 111-120, jul.-dez. 2014


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ter vapor, ocorrendo o pico mínimo às 6h (menor teor de umidade no ar). Figura 7: Ciclo diurno da umidade absoluta, razão de mistura e umidade específica

Fonte: Elaborado pelos autores

Umidade é o termo geral usado para descrever a presença de vapor d’água na atmosfera. Esta presença de vapor d’água pode ser descrita quantitativamente de várias maneiras. Dentre elas estão a umidade relativa do ar, a umidade absoluta, a razão de mistura e a umidade específica. O índice mais conhecido para descrever o conteúdo de vapor d’água na atmosfera é a umidade relativa do ar. Por definição, a umidade relativa do ar é a razão entre a pressão de vapor exercida pelas moléculas de água presentes no ar e a pressão de vapor de saturação, à mesma temperatura, sendo expressa em porcentagem. Como a pressão de saturação varia rapidamente com as pequenas flutuações de temperatura, a UR pode variar com ambos os parâmetros, e o seu valor sem o conhecimento da temperatura se torna meramente qualitativo. Consequentemente, a UR indica quão próximo o ar está da saturação, ao invés de indicar a real quantidade de vapor Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

Santos, Duarte e Costa

d’água no ar. Por isto, ela não constitui um índice eficaz para a medição de vapor d’água da atmosfera. Umidade absoluta é a razão entre a massa de vapor d’água e o volume total de ar que o contém (g/m3), à temperatura e pressão constantes. Logo, se houver variações de temperatura e pressão, a umidade absoluta sofrerá alterações muito significativas no seu valor. Por isto, ela é a pior estimativa para quantificar a umidade da atmosfera. A razão de mistura é definida como a razão entre a massa de vapor d´água existente em uma amostra de ar úmido e a massa de ar seco da mistura (kg de vapor/kg de ar seco). Por propósitos práticos, geralmente se usa a razão de mistura para quantificar o vapor d’água presente na atmosfera, pois ela é expressa em unidades de massa, e por isso não é afetada por mudanças na pressão ou temperatura. A umidade específica é a razão entre a massa de vapor d’água e a massa total de ar que o contém (g/kg), e independe da pressão atmosférica. Por isto, constitui o método mais eficaz para estimar a umidade da atmosfera. Além disso, como a quantidade de vapor d’água raramente excede 4% da massa total do ar, a umidade específica usualmente não difere da razão de mistura por mais de 2%. 4 CONCLUSÕES Os resultados do trabalho mostraram que a temperatura do ar, medida no abrigo meteorológico (1,5 m), se http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 111-120, jul.-dez. 2014


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manteve sempre maior que a temperatura do sensor instalado na torre meteorológica (2 m). A pressão atmosférica estimada é diretamente proporcional a temperatura, porém, a equação utilizada para estimar a pressão atmosférica não correspondeu a variação oscilatória da pressão atmosférica medida que apresentou dois máximos e dois mínimos durante as 24h, mostrando que a temperatura do ar não é fator determinante para a variação da pressão. O poder de evaporação em uma superfície porosa depende da quantidade de umidade contida na atmosfera em determinado instante, pois a evaporação do evaporímetro de piche é inversamente proporcional a umidade relativa do ar e ambos são ligados a temperatura do ar, ou seja, quanto maior a temperatura, maior a evaporação e menor a umidade relativa do ar. Os valores da depressão do ponto de orvalho e da pressão de saturação de vapor são diretamente proporcionais, ou seja, quanto maior a depressão do ponto de orvalho, maior será a pressão de saturação de vapor. A umidade absoluta, razão de mistura e umidade específica são máximas com os valores máximos de temperatura, entretanto, a umidade específica é mais eficaz para estimar a umidade da atmosfera e a umidade absoluta é a pior estimativa para quantificar a umidade da atmosfera. Após a análise dos dados micrometeorológicos, foi possível entender que o ciclo diurno de algumas dessas variáveis é de suma importância para tomaEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

da de decisões, principalmente no que se refere a variabilidade no interior de algumas plantações ou culturas de interesse agrícolas. REFERÊNCIAS BRONDANI, D. V.; ACEVEDO, O. C. Estimativa da partição de energia na superfície a partir de séries meteorológicas de temperatura e umidade específica do ar. Ciência e Natura, v. esp, p. 122-124, 2013. CORRÊA, C. S. Estudo micrometeorológico da Camada Limite Planetária Estável na Região de Porto Alegre. Porto Alegre, 1997. Dissertação (mestrado em Meteorologia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 61 p. FERNANDES, A. L. T.; FRAGA JÚNIOR, E. F.; TAKAI, B. Y. Comparação entre o método de determinação da evapotranspiração de referência PenmanPiche com o m´teodo PenmanMonteith para a região de Uberaba/Mg. In: VI Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil, 2009, Vitória. Anais Cd Rom. Brasília: Embrapa Café, 2009. GEVAERD, R.; FREITAS, S. R. Estimativa operacional da umidade do solo para iniciação de modelos de previsão numérica da atmosfera parte i: descrição da metodologia e validação. Revista Brasileira de Meteorologia, v.21, n.3, p. 1-15, 2006. JARDIM, C. H. Relações entre temperatura, umidade relativa do ar e pressão atmosférica em área urbana: comparação horária entre dois bairros no muni-

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cípio de São Paulo-SP. Geografias (UFMG), v. 12, p. 128-142, 2012. MAGNAGO, R.; FISCH, G.; MORAES, O. Análise espectral do vento no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Rev. bras. meteorol. [online], v. 25, p. 260-269, 2010. PEIXOTO, A. M.; TOLEDO, F. F. Enciclopédia agrícola brasileira. São Paulo: Edusp: FAPESP; 2002. RODRIGUES, E. Conforto térmico das construções. IFSC. 2003. Disponível em:<http://wiki.sj.ifsc.edu.br/wiki/ima ges/c/c6/Transmissao_de_Calor_em_E dificacoes.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2015. SANCHES, L.; VALENTINI, C. M. A.; BIUDES, M. S.; NOGUEIRA, J. S. Dinâmica sazonal da produção e decomposição de serrapilheira em floresta tropical de transição. Rev. bras. eng. agríc. ambient. [online], v. 13, p. 183-189, 2009. TOLEDO FILHO, M. R. Estudo micrometeorológico de um cultivo de cana-deaçucar em Alagoas. Tese (doutorado em Fitotecnia). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 168p.,2001. UWYO.EDU. University of Wyoming. Atmospheric Science. Laramie, WY. Disponível em: <http://www-das.uwyo. edu/~geerts/cwx/notes/chap01/diurnal.html>. Acesso em: 30 jun. 2015. VAREJÃO-SILVA, M. A. Meteorologia e Climatologia. VERSÃO DIGITAL 2, Recife: 2006.

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Santos, Duarte e Costa

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Artigo recebido em 04 de agosto de 2015. Aceito em 14 de agosto de 2015.

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Artigo original

Microcrédito: breves considerações sobre o CEAPE de Feira de Santana Ualace Roberto de Jesus Oliveira1 1 Graduado em Economia. Mestrando em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Brasil. E-mail: ualacejesus@bol.com.br

RESUMO: Num contexto social adverso, marcado pelo desemprego e outras mazelas sociais o microcrédito se torna uma ferramenta importante, sendo capaz de interferir positivamente na sociedade gerando emprego e renda para milhares de pessoas. Com metodologias especificas o microcrédito pode inseri-las no sistema de crédito, além de ser capaz de promover ascensão social e melhoria na condição de vida delas. Nesse estudo o alvo da pesquisa foi Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos (CEAPE), posto Feira de Santana, com base nos de 2008 a 2012. Nesse processo foi feita uma entrevista junto ao gerente da instituição. Dentre outras questões, direcionou-se a análise do estudo para observar algumas dificuldades vivenciadas pelo CEAPE. Constatou-se que, embora a referida instituição desempenhe um papel social muito importante para seus clientes, a mesma tem apresentado algumas dificuldades, e estas são decorrentes de questões burocráticas. No estudo, confirma-se a hipótese que afirma que o microcrédito é uma importante ferramenta para promover ascensão socioeconômica de indivíduos que estão em situação de vulnerabilidade social. Palavras-Chave: Aval solidário; Crédito; Social. Microcredit: brief considerations on CEAPE of Feira de Santana ABSTRACT: An adverse social context, marked by unemployment and other social ills, the microfinance becomes an important tool that can positively affect the company generating jobs and income for thousands of people. With specific methodologies microcredit can insert people in the credit system, besides being able to promote social mobility and improvement in their living conditions. In this study the aim of the research was Support Center for Small Enterprises (GPP), Feira de Santana put, based on 2008 to 2012. In this process, an interview was conducted with the manager of the institution. Among other things, directed the analysis of the study to observe some difficulties experienced by the GPP. It was found that while the institution plays an important social role for its customers, it has presented some difficulties, and these are due to bureaucratic issues. In the study confirms the hypothesis which states that microfinance is an important tool to promote social and economic rise of individuals who are socially vulnerable. Keywords: Solidarity Aval; Credit; Social.

1 INTRODUÇÃO Embora o desenvolvimento das forças produtivas tenha propiciado aos centros dinâmicos da economia capitaEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

lista progresso técnico e material, contribuiu também para o aprofundamento das desigualdades entre países ricos e pobres, uma vez que esse processo não ocorreu de modo uniforme. Com o http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


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fim do paradigma keynesiano o papel do Estado da economia é revertido e, assim, o “Welfare State” cedeu espaço ao neoliberalismo econômico. Vale destacar que os efeitos deletérios desse processo foi mais notório nos países subdesenvolvidos, e a experiência brasileira é a prova cabal de tal fato. O processo de substituição de importações capitaneado pelo Estado foi substituído pela “mão invisível” do mercado, evento que provocou repercussões desastrosas. O ingresso do país no neoliberalismo através dos planos de estabilização monetária, austeridade fiscal, abertura abrupta da economia ao mercado externo e elevação das taxas de juros provocaram efeitos deletérios sobre a classe média e sobre grupos de estrato inferior de renda, gerando questões como desemprego e informalidade. Mas é nesse cenário de contradições do sistema capitalista que ressurgem iniciativas da sociedade civil organizada engajadas na construção de alternativas de organização social e laboral com intuito de enfrentar a exclusão social. Nesse processo o microcrédito passa a ter um papel fundamental na medida em que contribuiu para democratizar o crédito, permitindo, inclusive, que os indivíduos da base da pirâmide social viabilizassem suas atividades produtivas. De acordo com Moreira (et al, 2008), tais iniciativas mobilizam as energias sociais em espaços de pequena escala e implementam mudanças capazes de elevar as oportunidades sociais, bem como a viabilidade econômica e as condições de vida da população, Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

Oliveira

pois nesse processo os diversos segmentos dos mercados, do estado e da sociedade civil se interagem de forma articulada e interdependente, e estão atentos para as dinâmicas a nível local, nacional e global. Este trabalho tem como objetivo observar a importância do microcrédito ofertado pelo CEAPE de Feira de Santana para a referida cidade. O artigo justifica-se pelo fato do microcrédito ofertado pelo CEAPE de Feira de Santana desempenhar uma função social para sociedade feirense. O presente trabalho está estruturado da seguinte forma: o primeiro capítulo consiste em fazer uma introdução ao trabalho; o segundo constará de uma abordagem do tema microcrédito enfatizando o seu histórico no mundo e no Brasil, seu conceito, seus desafios e limites e possibilidades; no terceiro capitulo consta os aspectos metodológicos que constituem o caminho seguido para se chegar às respostas das questões levantadas no inicio do trabalho. Por último, será feita uma conclusão dos aspectos observados ao longo do trabalho. 2 MICROCRÉDITO: CONCEITOS Muitas são as definições e conceitos sobre a concessão de créditos em pequenos valores. O microcrédito é um instrumento financeiro que se caracteriza por empréstimos e serviços de valores relativamente pequenos aos empreendedores de baixa renda, que vivem em geral, na economia informal e que difihttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


Microcrédito: breves considerações sobre o CEAPE de Feira de Santana

cilmente poderiam obter empréstimos bancários. Esse tipo de empréstimo se diferencia dos demais, dada a sua finalidade produtiva (ALMEIDA, 2009). Microcrédito é “a concessão de empréstimos de baixo valor a pequenos empreendimentos informais e microempresas sem acesso ao sistema financeiro tradicional, principalmente por não oferecer garantias reais” (ALVES, 2010 apud BARONE et al, 2002, p.3). Argumentação semelhante à supracitada é a de Barone (et al 2002, p.17): “A finalidade deste crédito deve ser sempre para a produção, com o objetivo de gerar ou ampliar o capital de giro ou capital fixo. As atividades de microcrédito ainda podem ser definidas como: [...] a oferta de recursos financeiros de pequeno valor, em função das peculiaridades do público alvo, cuja finalidade é atender às necessidades de liquidez de pequenas unidades comerciais ou produtivas caracterizadas, normalmente, pela informalidade, reduzida produtividade, escassez de capital, dificuldade de oferecer garantias e exclusão do segmento bancário. (CHAVES, 2010, p.).

Abramovay e Junqueira (2008) destacam que a concessão de crédito, em pequenos valores, a grupos de estrato inferior de renda ocorrem por meio das microfinanças e o microcrédito. Para esses autores, o primeiro é comumente empregado para definir uma operação de empréstimo de pequenos montantes de recursos (em geral, até R$ 500,00). Nesta modalidade não se Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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considera a possibilidade da captação da poupança local. Enquanto o segundo caracteriza-se pela possibilidade e incentivo à captação de poupança e investimento da população local atendida pelas organizações. Mas, para Soares e Sobrinho (2008, p.23) microfinanças: é “a prestação de serviços financeiros adequados e sustentáveis para a população de baixa renda, com a utilização de produtos, processos e gestão diferenciados”. Já Pinho (2004) conceitua microcrédito como uma atividade do ramo da microfinança, e destaca que este se enquadra nas políticas públicas de superação da miséria e de geração de trabalho e renda desenvolvido pelo governo brasileiro nas suas três esferas (Federal, estadual e municipal) atuando mais como um instrumento de política social do que de política econômica. Chaves (2010) elenca as seguintes prescrições para concessão de crédito: • As taxas de juros devem ser negociadas com valores inferiores às cobradas pelas instituições bancárias, situação que pode gerar um trade-off1 entre a viabilidade financeira e o alcance aos mais pobres. • É necessária a apreciação informal dos demandantes e dos investimentos, exigindo a flexibilização de requerimentos burocráticos. • Existência de garantias substitutivas, tais como o aval solidário que 1

Trade-off: o mesmo que “escolha conflitante”. Ela se caracteriza em uma ação de escolha econômica que visa à resolução de problema mais acarreta outra, obrigando uma escolha. Ocorre quando se abre mão de uma coisa para se obter mais de outra. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


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tem a capacidade de reduzir o risco moral e a seleção adversa. De acordo com Corsini (2007, p.58) o microcrédito apresenta algumas terminologias especializadas que são necessárias para compreender a sua dimensão. Algumas delas são: • Crédito novo: é a primeira operação de microcrédito concedida ao cliente novo, realizada com o empreendedor ou a empreendedora que ingressa na carteira de clientes, recebendo também na comunidade do microcrédito, a denominação de crédito primário, expressões equivalentes. • Crédito renovado: é o microcrédito concedido ao cliente após a quitação da primeira operação na idéia do crédito rotativo, renovável. O propósito de renovar as operações dos clientes é uma forma de proporcionar uma fonte permanente de recursos para financiar os empreendimentos a depender das suas necessidades financeiras, desenvolvimento do negócio e capacidade de pagamento das operações contratadas. • Crédito em grupo: é a operação de microcrédito realizada para três a seis empreendedores ou empreendedoras, mediante a garantia do aval recíproco dos participantes do grupo solidário que se responsabilizam conjuntamente pelo pagamento do valor recebido. • Crédito para capital de giro: é o empréstimo que tem como finalidade o financiamento de necessidades de curto prazo das atividades dos empreendimentos, geralmente utilizado para aquisição de mercadorias, matériasEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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primas, insumos, pagamento de mão de obra e outras despesas das iniciativas financiadas. • Crédito para investimento: é o empréstimo que se caracteriza pela utilização na aquisição de máquinas, equipamentos, veículos e ferramentas, bem como na reforma e ampliação do local de trabalho. O investimento representa a imobilização de recursos no estabelecimento, geralmente destinado a aumentar a capacidade produtiva do empreendimento. • Grupos solidários: são grupos formados por empreendedores e empreendedoras, proprietários de pequenos empreendimentos, que gozam de boas relações de amizade, trabalham ou moram geograficamente próximos e são pessoas interessados no microcrédito. Embora haja diferenças superficiais a respeito do conceito do microcrédito na visão dos autores, pode inferir que é consenso entre eles quanto ao fato do microcrédito ser concedido àqueles que se encontra em situação de vulnerabilidade social e que não contam com o apoio da banca privada. 2.1 BREVE HISTÓRICO DO MICROCRÉDITO NO MUNDO Ainda que a primeira experiência de microcrédito, concebida como poderoso mecanismo de erradicar a pobreza tenha ocorrido em 1976, há controvérsias na literatura, quanto ao período exato do seu surgimento. A primeira experiência de microcrédito surge em 1846 na Alemanha com Frienderich http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


Microcrédito: breves considerações sobre o CEAPE de Feira de Santana

Raiffeisen. Raiffeisen criou uma associação juntamente com os agricultores do município de Flamersfeld, que buscaram na alternativa cooperativista a maneira de eliminar a agiotagem que imperava na região, trazendo a hipoteca de suas propriedades e benfeitorias e da penhora de seus semoventes (SILVA, 2011). A partir do pioneirismo de Raiffeisen, Herman Schulze criou as sociedades de crédito urbano, a fim de atender às necessidades de crédito da população e amenizar as dificuldades das pessoas, em uma época que não havia amparo legal aos trabalhadores. A primeira fundada por Hermann Schulze – ou bancos populares, 1850 na cidade Delitizsch era uma caixa de socorro que atendia em especial a casos de morte ou doenças graves (SCHNEIDER, 2006). A experiência de microcrédito mais conhecida internacionalmente foi desenvolvida em Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo. Em 1976 o professor de economia da Universidade de Chittagong Muhamed Yunus, percebendo que apesar do seu entusiasmo para ensinar teorias econômicas, não encontrava nelas respostas para a solução de problemas reais de seu país, onde as pessoas morriam de fome silenciosamente. A partir de então, Yunus decidiu descobrir a economia da vida real, pesquisando com seus alunos o que se passava na pequena aldeia de Jobra, localizada nas proximidades dos campos de Chitagong (BANCO DO POVO, 2010). Com seu próprio dinheiro e a ajuda de seus alunos, o professor MuhamEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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mad Yunus patrocinou um projeto de concessão de empréstimos a certa parcela da população pobre daquele país, cedendo 27 dólares para um grupo de 42 pessoas. Apesar das leis mulçumanas que proíbem as cobranças de juros e que delegam aos homens as decisões familiares, Yunus optou por emprestar dinheiro para mulheres de forma associativa e solidária, preferencialmente. Segundo Greve (2006) essa ação conduziu grande alvoroço na aldeia, por causa dos maridos, que não se conformavam em perder o lugar de cabeça da casa, e com os agiotas que não se conformavam em perder o mercado. Atualmente, a proposta do banco de Yunus, o grameem bank, encontra-se em vários países e é conhecida como microcrédito, e desempenha um papel salutar no combate a pobreza além de agir na promoção da inclusão social. Na America latina, notadamente na Bolívia, uma das experiências mais relevantes é a do S/A BancoSol (Banco da Solidariedade). Nesse país, o microcrédito surgiu como uma abordagem social e adquiriu, ao longo dos anos, um caráter empresarial. Em 1986, através de uma organização sem fins lucrativos, denominado fundação para a promoção do desenvolvimento da microempresa/PRODEM começou suas atividades. O capital inicial para as operações originou-se de doações feitas por organizações internacionais, governos e empresas locais. Essa experiência abriu caminho para o surgimento em 1992 do primeiro banco comercial com bases lucrativas, com foco, excluhttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


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sivamente, em microcrédito (BARONE et al, 2002). 2.2 DO MICROCRÉDITO NO BRASIL Semelhantemente ao ocorrido na Europa, a origem e a história recente do microcrédito no Brasil apresenta relação direta com a desigualdade na distribuição de renda e riqueza. O Brasil foi um dos primeiros países, no mundo, a experimentar o microcrédito no setor urbano. A primeira experiência de microcrédito ocorreu no Rio Grande do Sul por iniciativa do padre jesuíta Theodor Amstad. O clérigo nascido na Suíça, antes de criar a primeira cooperativa de crédito, em 1900 fundará também a associação de agricultores na comunidade feliz, e contou aproximadamente com vinte mil pessoas para realizar o seu intento (SCHNEIDER, 2006). Já a primeira experiência de microcrédito para o setor informal urbano no Brasil, segundo Almeida (2009) ocorreu em Recife e Salvador. “A Accion International (AITEC) e bancos de Pernambuco e da Bahia criaram, em 1973, a União Nordestina de Assistência a Pequenas Organizações (UNO), que era uma associação civil, sem fins lucrativos, especializada em crédito (ALMEIDA 2002, p.53)”. O referido autor ainda destaca que, paralelamente à concessão de crédito, a UNO capacitava os clientes para o gerenciamento básico de seus negócios, além de produzir pesquisas sobre o perfil dos microempresários informais. Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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A metodologia dos grupos, que utiliza aval solidário, foi replicada no Brasil a partir da experiência da Accion internacional e de organizações não governamentais colombianas. A primeira experiência em porto alegre, 1987, com o CEAPE/RS, CRIADO na condição de organização não governamental (BARONE et al, 2002). Em 1990 foi criada a federação nacional de apoio a pequenos empreendimentos (FENAPE), hoje CEAPE nacional. Os CEAPE’s estão articulados na rede CEAPE, de forma independente, mas adotam a mesma metodologia de crédito produtivo e orientado, o mesmo princípio da sustentabilidade e a mesma orientação de apoio aos empreendedores excluídos do sistema financeiro tradicional, principalmente do setor informal (BARONE et al, 2002). Em 1989 com apoio do fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) e do BID, o banco da mulher/SeçãoBahia, inaugurou seu programa de microcrédito utilizando a metodologia específica para esse público. O banco atendia, primordialmente, ao público feminino, tendo incorporando em épocas posteriores a clientela masculina (BARONE et al, 2002). No Rio de Janeiro por iniciativa do Movimento Viva Rio, foi criado o VivaCred com objetivo de conceder crédito aos microempreendimentos de propriedade de pessoas, de baixa renda das comunidades carentes. O funding2 do 2

Funding: o mesmo que consolidação financeira das dividas de curto prazo num prazo adequado à maturação dos investimentos e sua amortização. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


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VivaCred foi formado com recursos provenientes do BID, BNDES e Fininvest. Os empréstimos são destinados tanto para capital de giro, quanto para capital fixo (BARONE et al, 2002). Já o CrediAmigo3 é o programa de microcrédito do Banco do Nordeste. Criado em 1998, com o objetivo de “oferecer crédito aos pequenos empreendedores de baixa renda da região Nordeste, Norte de Minas Gerais e Espírito Santo” (BARONE et al, 2002, p.17). 2.3 O PERFIL DO MICROCRÉDITO NO BRASIL No Brasil, a relação das operações de crédito/PIB, encontra-se aquém das necessidades de nossa economia e, apesar da substancial expansão observada nos últimos anos, é ainda limitada para o nosso desenvolvimento. Além de participação diminuta, o crédito tem sido muito seletivo, privilegiando sempre os mesmos agentes: grades empresas, pessoas físicas de maior poder aquisitivo e regiões mais desenvolvidas (DESENBAHIA, 2011). Dowbor (2006) relata que a poupança do país, que atinge cerca de 20% do PIB, não é canalizada para financiar iniciativas de desenvolvimento, e sim para financiar atividades especulativas. No entanto, o crédito destinado a financiar projetos de desenvolvimento 3

O CrediAmigo trabalha com a metodologia de grupos solidários e, concomitantemente à concessão do crédito, oferece capacitação gerencial para tomadores. Toda operacionalização do programa, incluindo assessores de crédito, é realizada de forma autônoma das atividades do banco (BARONE et al, 2002, p.17).

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econômico e social é muito baixo, e os juros são proibitivos. Como destaca Singer: Falta crédito para a expansão da agricultura ecológica, para o desenvolvimento de centenas de empresas recuperadas pelos seus exempregados organizados em cooperativas e por milhares de micro e pequenas cooperativas de artesãos, recicladores de lixo, pescadores, garimpeiros, costureiras e etc (SINGER, 2007, p.3)

Além das atividades de microcrédito estar num estágio muito inferior ao seu potencial, cujos demandantes giram em torno de 35 milhões de clientes, apresentam dificuldades de massificação, por que: [...] o Estado tem sido ineficiente, quando não absolutamente inocente, em seu esforço para fomentar a expansão dessa atividade ao setor produtivo, não conseguindo implantar políticas que conquistem a atenção do setor privado para financiar de forma massiva os produtores pobres (DESENBAHIA, 2011, pg.56).

De acordo Alves (2010) o fato de o país apresentar uma oferta de crédito reduzida e socialmente concentrada, o impede de crescer economicamente e de gerar riquezas para as famílias. “Concomitantemente, representam problemas que dizem respeito a equidade das oportunidades para população brasileira no que tange a formação de capital físico e de desenvolvimento humano (ALVES, 2010, p.51)” http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


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O que tem inviabilizado “o setor” de microcrédito no Brasil atingir magnitude, segundo Barone (et al, 2002) é o fato das instituições que ofertam microcrédito estarem enfrentado deficiências de gestão, e isso perpassa por questões como: falta de visão de futuro, pouco conhecimento de estratégias de mercado, de sistemas de informação contábil operacional e gerencial, e até mesmo, por formação insuficiente de recursos humanos. Além disso, acrescenta o autor, “a produtividade dos agentes de crédito ainda é muito baixa na maioria das entidades, o que significa que as tecnologias de microcrédito ainda não estão consolidadas e disseminadas (BARONE et al, 2002, p.8)”. Para que o microcrédito expanda-se e atinja um grau consideradamente satisfatório, compatível com a grandeza do país, será de suma importância a participação de novos atores, da elaboração de novas normas regulatórias, bem como mudança de postura de alguns agentes, considerados elementos-chave, no que diz ao modo de pensar e agir (DESENBAHIA, 2010). 2.4 DESAFIOS DO MICROCRÉDITO NO BRASIL De acordo com Singer (2003) a concessão de empréstimos feita pelas instituições financeiras visa atender somente pessoas físicas e jurídicas em que seus depósitos passivos e ativos são mais que suficiente para que o spread bancário4, destas posições, possa 4

Spread bancário: pode ser entendida como a diferença entre a taxa de juro cobrada aos tomadores de

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cobrir os custos de processamento da operação. Assim, grupos de estrato inferior de renda dificilmente teriam acesso a crédito, pois são incompatíveis com a lógica e os interesses da banca privada. A proposta de microcrédito se apresenta como uma alternativa aos grupos de estrato inferior de renda, em face da negativa impostas pelas instituições financeiras que atendem, sobretudo, ao público econômico mais aquinhoado. Com o microcrédito, grupos que compõe estratos inferiores de renda são amparados por um fundo de ajuda mutua formado por pequenos poupadores que se unem para potencializar seu acesso ao crédito, e/ou por projetos alternativos solidários que tem por objetivo gerar emprego e renda (SINGER, 2002). Porém, com o advento da financeirização o perfil de muitas instituições que concedem microcrédito tem se assemelhado bastante ao dos intermediários financeiros convencionais, muito embora mantenha o pragmatismo das iniciativas de microcrédito. A razão da ocorrência desse evento reside na altercação entre os atores do microcrédito e os intermediários financeiros privados e públicos, motivo que tem induzido muitos atores do cooperativismo de crédito a centralizar e burocratizar suas ações no intuito de alcançarem “ganhos e mais ganhos” de escala. Os primeiros programas de microcrédito fracassaram na tentativa de crédito e a taxa de juros paga aos depositantes pelos bancos. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


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utilizar a tecnologia de crédito tradicional e tentar compensar seus altos custos através de uma subvenção dos juros, justificada através da (presumível) incapacidade das microempresas arcarem com juros de mercado. Ademais, a cobrança da taxa de juros de mercado, representa uma redução de seus custos financeiros na proporção da diferença dos juros de mercado e aqueles praticados pelo setor financeiro informal, sua fonte tradicional de crédito (NITSH e SANTOS, 2001). O problema da assimetria de informação, que ocorre quando os agentes de um lado do mercado não conhecem a conduta dos agentes do outro lado deste mesmo mercado, é a motivação que as instituições financeiras têm em cobrar elevadas taxas de juros para se precaver dos riscos (moral hazard). Este fato termina por prejudicar os menos afortunados, numa espécie de política do tipo: “por causa de alguns todos/muitos pagam”. Não obstante, a existência de informações imperfeitas e os custos elevados de transações no mercado impõem restrições de liquidez que afetam as decisões de consumo e investimento (ABRAMOVAY e JUNQUEIRA, 2008). O microcrédito terá como desafio dirimir a problemática da assimetria de informações e, assim, evoluir a um patamar, no qual, suas instituições ofereçam recursos de forma permanente, com produtividade e com baixas taxas de juros. Ademais terá que reduzir também a burocratização nas operações com a reestruturação das linhas de crédito, o número de documentos e Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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realizar concessão de empréstimos sem o processo de comprovação de renda, e com isenção de tarifas, no caso de até 12 operações por mês (PINHO, 2004). 3 METODOLOGIA Nesta seção está a metodologia utilizada no trabalho de investigação tanto nos aspectos relacionados ao entendimento da terminologia do microcrédito, quanto ao tipo e à natureza da pesquisa, a coleta, o processamento das informações e a análise dos dados. Este estudo investigou o Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos da Bahia, o CEAPE de Feira de Santana. O estudo consistiu numa pesquisa junto ao CEAPE de Feira de Santana, em que o diretor da referida instituição concedeu informações importantes sobre as atividades desenvolvidas pela instituição. Com a pesquisa, pretendeu-se também obter dados que demonstram os pontos que favorecem a tomada de empréstimos e entender as dificuldades encontradas pela instituição. Ademais, Informações como histórico dos empréstimos, proporção de clientes por gênero e aval solidário possibilitam visualizar a importância da referida entidade. 3.1 TIPO DE PESQUISA Quanto ao seu objetivo, a presente pesquisa de cunho descritivo com enfoque quantitativo. Os estudos descritivos procuram especificar as propriedades, as características e os perfis imhttp://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


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portantes de pessoas, grupos e comunidades e etc. No que tange aos aspectos quantitativos, trata-se de estudo que procura descrever as características de uma determinada situação, medindo numericamente as hipóteses levantadas sobre um problema. De acordo com Richardson (1989) apud Dalfovo et al (2008), este método caracteriza-se pelo emprego da quantificação, tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento dessas através de técnicas estatísticas, desde as mais simples até as mais complexas. Ademais “possui como diferencial a intenção de garantir a precisão dos trabalhos realizados, conduzindo a um resultado com poucas chances de distorções" (DALFOVO et al, 2008, apud RICHARDSON, 1989, p.7). 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CEAPE DE FEIRA DE SANTANA O CEAPE/BAHIA é uma entidade civil, sem fins econômicos, constituída em Novembro de 1994, qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Conta com a colaboração voluntária de pessoas vinculadas a representações de organizações empresariais e sociais de Feira de Santana. Criada pela mobilização de um grupo de entidades da sociedade feirense com o objetivo de apoiar via créditos de pequena monta, pequenos empre-

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endedores e empreendedoras da área urbana nas suas iniciativas econômicas. Fundada com apoio da FENAPE – Federação Nacional de Apoio aos Pequenos Empreendimentos, apoiada por UNICEF em convênio com o MOC - Movimento de Organização Comunitária, institucionalizada para implementação do programa de microcrédito. O CEAPE tem proximidade com as organizações de representação empresarial, ONGs de apoio ao desenvolvimento ou grupos comunitários e faz parte das organizações associativas que congregam as instituições de microcrédito - nacionalmente a Associação Nacional das Entidades Operadoras de Microcrédito e Microfinanças (ABCRED) e na Bahia a Associação Baiana de Entidades Operadoras de Microcrédito e Microfinanças (ABOMCRED). A partir da matriz (Feira de Santana), estendeu as atividades aos pontos de atendimento de Alagoinhas, Salvador, Camaçari e Santo Antônio de Jesus que também conseguem chegar aos clientes dos municípios circunvizinhos. O CEAPE Bahia iniciou suas atividades com recursos doados por UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Infância e Adolescentes) e LBA (Legião Brasileira de Assistência). Obteve empréstimo do CEADE (Centro Ecumênico de Apoio ao Desenvolvimento) e mais tarde veio obter recursos junto ao DISOP Bélgica/Disopbrasil, BNDES, BID e Desenbahia. A instituição nasceu em Feira de Santana, firmou-se ao conceder microcréditos a pequenos negócios, possibilitando a expansão do programa para http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


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novas cidades, sob a forma de grupos solidários ou empréstimos individuais. Atualmente atende a mais de 4.000 clientes em mais de 60 cidades da Bahia. A entidade concedeu ao longo da experiência (até Outubro de 2012) 94.904 créditos que beneficiaram a 22.841 empreendedores e empreendedoras ao liberar um montante, em valores históricos, equivalente a R$122.982.815. Se atualizados os valores nominais pela inflação, certamente ultrapassa a casa dos 170 milhões de Reais. Em geral o microcrédito tem uma média de R$2.000,00 por crédito a cada empreendedor, fato que torna as operações dispendiosas, uma vez que tem necessidade de atenção personalizada para a sua concretização. 4.2 O CRÉDITO DO CEAPE FEIRA DE SANTANA De acordo com os dados obtidos junto ao pelo CEAPE de Feira de Santana, as atividades financiadas pelo microcrédito apresentam grande diversidade. Mas, estas são majoritariamente representadas pelo comércio (90%), fabricação (5%) e prestação de serviços (5%). São atividades produtivas, em geral de porte reduzido, mas consideradas lícitas e socialmente importantes para a comunidade.

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Figura 1 Cliente por atividade do CEAPE Feira de Santana – BA

Cliente CEAPE por atividade 5% 5%

Comércio Fabricação 90% Prestação de Serviços

Fonte: elaborado pelo autor (2012) com base nos dados do CEAPE (2012)

As atividades econômicas concentram-se naquelas relacionadas ao comércio e geralmente necessitam de pouco capital para investimento. Em geral, essas atividades possuem maior precariedade nas condições de estrutura e funcionamento; utilizam processos tecnológicos intensivos em mão de obra, cuja base é familiar; produzem ou comercializam artigos como roupas, calçados, cintos, bolsas, alimentos, materiais de limpeza, bijuterias ou produtos artesanais em cerâmica, tecido e madeira. Já os serviços, suas atividades estão concentradas em salão de beleza e pequenas oficinas de consertos. A estrutura dos negócios, em geral, é simplificada, permitindo maior flexibilidade para acompanhar a tendência do mercado, adaptando-se com maior facilidade a novos produtos e às sazonalidades nas vendas. Na carteira de clientes do CEAPE predomina a presença das mulheres, chegando a 65% dos clientes, enquanto http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


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os homens participam com 35%. Esta situação se assemelha a de outras instituições que atuam no ramo de microcrédito como o CEADE e o Crediamigo do banco do nordeste. Figura 2 Clientes por gênero atendidos pelo CEAPE

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tal de giro do que as voltadas para investimentos. Em condição secundária vem à busca por melhorias no empreendimento ou outras finalidades nem sempre explicitadas. No decorrer dos últimos cinco anos a instituição liberou 39.176 créditos, financiando um montante de R$ 69.682.823,00 em valores históricos. Tabela 1 Valores desembolsados jan./2008 a out./2012 Jan 2008 a out 2012 Ano Nº Créditos Valor liberado liberados 2008 7.676 R$ 10.208.705,00 2009 6.843 R$ 10.977.195,00 2010 8.091 R$ 15.377.174,00 2011 8.930 R$ 18.029.019,00 2012 7.636 R$ 115.090.730,00 Total 39.176 R$ 69.682.823,00 Fonte: CEAPE 2012

Fonte: elaborada pelo autor (2012) com base nos dados do CEAPE (2012)

A predominância de mulheres em participação na demanda de crédito está também associada a mudança do papel da mulher na sociedade. Outrora, o homem era o principal provedor do lar. Hoje, esse processo está se remodelando. Quando o assunto é fortalecimento do capital de giro dos pequenos empreendimentos este é o principal motivo da demanda por microcrédito. A metodologia que sustenta o microcrédito, baseada na oferta de créditos de pequenos valores monetários e com retorno em prazos curtos atende mais adequadamente às demandas por capiEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

Em 2008 e 2009 o valor de crédito liberado pelo CEAPE, em relação a 2010, 2011 e 2012 (até outubro deste ano) foi menor. Uma das explicações para esse fato está na crise econômica que se iniciou em 2008. Em face do temor dos agentes econômicos aos possíveis efeitos da crise, estes assumiram um caráter poupador, resultando no arrefecimento das atividades produtivas. Embora o governo reagisse contra a crise adotando políticas de estimulo econômico como: desoneração tributária (em determinados setores), redução das taxas de juros5, am5

As taxas de juros variam de acordo com a finalidade de aplicação dos recursos em prazos diferenciados. As taxas de juros cobradas variam de 2,9% a 4,6. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


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pliação dos gastos públicos, aumento do salário mínimo e etc., seus efeitos só foram sentidos com notoriedade a partir de 2010. Desse ano em diante, os resultados das políticas expansionistas surtiram efeito, provocando o aquecimento do comércio da região, aumentando as contratações e, consequentemente, a renda das famílias, propiciando assim um círculo virtuoso na economia. Tais questões refletiram na demanda por crédito junto à instituição. Mas a instituição tem passado por algumas dificuldades, assim como outras organizações que implementam programas de microcréditos no Brasil: • O setor esta sob a influência estatal do Governo Federal sob a pretensa justificativa de praticar juros baixos iniciou um programa subsidiado a ser implementado pelos bancos públicos federais. O Governo Dilma desconheceu as experiências das Oscips. Entretanto, excetuando o Banco do Nordeste tanto a Caixa Econômica Federal quanto o Banco do Brasil não tem experiências mais consistentes na área. • Custos elevados das operações, tendo em vista a necessidade de contar com a personalização do atendimento. • A ausência de organização do segmento para dialogar com as organizações públicas ou privadas. • Acesso muito limitado a recursos para apoio institucional e fundo de crédito para apoio as organizações sem fins lucrativos. • Aumento do nível de endividamento das pessoas físicas, tornando as operações de riscos mais elevados. Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao observarmos o CEAPE de Feira de Santana podemos destacar que ao ofertar crédito a pessoas de baixa renda a referida entidade tem cumprido uma função social relevante, na medida em que a metodologias utilizadas pelo CEAPE para concessão de microcrédito tem oportunizado o crédito para microempreendedores. Ademais, iniciativas como a do CEAPE tem o potencial de restaurar laços e vínculos sociais fortemente comprometidos pelas condições sociais aviltantes, através de um novo tipo de relação com o dinheiro e organização da vida econômica local. No que tange aos problemas enfrentados pela CEAPE, estes residem no fato de organizações como o CEAPE pautar suas ações em estratégias adotadas, historicamente, por bancos de desenvolvimento, como o subsidio para financiamento de suas atividades. Os subsídios não garantem a sustentabilidade das organizações financeiras, seja esta sustentabilidade entendida no âmbito financeiro ou no social (ABRAMOVAY E JUNQUEIRA, 2008). REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R; JUNQUEIRA, R. G. P. A sustentabilidade das finanças solidárias. Revista de Administração da USP, São Paulo, SP, v.40, n.1, p.19-33, jan.fev.-mar., 2008. ALMEIDA, A. M. A inserção das microfinanças na globalização financeira: o microcrédito, uma alternativa para o desenvolvimento regional sustentável. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 121-135, jul.-dez. 2014


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Artigo recebido em 05 de janeiro de 2015. Aceito em 03 de agosto de 2015.

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137 Deseja submeter artigo à revista Estação Científica (UNIFAP)? Convidamos todos a conferir a seção Sobre a Revista e ler as políticas de seção, bem como as Diretrizes para Autores. É necessário que os autores se cadastrem no sistema antes de submeter um artigo; caso já tenha se cadastrado basta acessar o sistema e iniciar o processo de 5 passos de submissão de artigo. PRAZO DE SUBMISSÃO DE ARTIGOS ABERTO ATÉ 10 DE OUTUBRO DE 2015 O Editor-chefe da revista Estação Científica (UNIFAP), ISSN 2179-1902 comunica que o prazo para submissão de artigos científicos para o segundo número encontra-se aberto até a data de 10/10/2015. Os textos deverão ser submetidos pelo navegador MOZILA FIREFOX, no site: http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao ou por meio do Portal de Periódicos da UNIFAP: http://periodicos.unifap.br. A Estação Científica (UNIFAP) publica artigos inéditos em várias áreas do conhecimento, nas seções Artigos originais, Artigos de revisão de literatura, Ensaios, Entrevistas, Experimentação, Grupos de estudo e de pesquisa, Pontos de vista, Relatos de experiência/caso, Relatos de práticas pedagógicas e Resenhas. Os artigos devem observar os critérios de publicação. POLÍTICAS DE SEÇÃO ARTIGOS DE REVISÃO DE LITERATURA- São trabalhos que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos teóricos e/ou de investigação já publicados, estabelecendo um recorte temporal e/ou geográfico para análise da literatura consultada. Deve ter entre 10 a 20 páginas. ARTIGOS ORIGINAIS - São trabalhos de pesquisa científica, apresentando resultados de investigação baseados em dados empíricos ou teóricos, de característica filosófica, cultural e pedagógica, utilizando metodologia científica, de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observadionais. Devem inEstação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

cluir análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Deverão ter entre 10 a 20 páginas, de preferência com a seguinte estrutura: Introdução, Metodologia, Resultados, Discussões, Conclusão e Referências. ENSAIOS - Trabalhos que apresentam reflexões teóricas próprias, elaborados a partir de interpretações livre e originais sobre um determinado tema, ainda que sem dispensar um rigoroso aparato de documentação empírica e bibliográfica. Deve ter entre 10 a 20 páginas. ENTREVISTAS - Apresenta entrevista realizada com um indivíduo ou grupo de pessoas notórias, no âmbito acadêmico, cultural e científico. Deve ter entre 10 a 20 páginas. EXPERIMENTAÇÃO - Apresenta reflexões sobre métodos e técnicas de pesquisa científica. Deve ter entre 10 a 20 páginas. GRUPOS DE ESTUDO E DE PESQUISA - Apresentação das atividades desenvolvidas e/ou em andamento de um grupo de estudo, grupo de pesquisa, núcleo de pesquisa, centro de investigação ou laboratório. Cumpre a função de publicizar e divulgar as ações investigativas e de desenvolvimento técnico-científico. Deve ter entre 10 a 20 páginas. PONTOS DE VISTA - Análise de uma situação atual, política, econômica, cultural e/ou científica, que tenha repercussão internacional e/ou nacional. Deve ter entre 10 a 20 páginas. RELATOS DE EXPERIÊNCIA/CASO - São artigos que apresentam dados descritivos e/ou interpretativos de um ou mais casos, explorando um problema ou objeto de estudo por meio de exemplo. Apresenta as características do objeto estudado. Deve ter entre 10 a 20 páginas. RELATOS DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS - Relatos de atividades desenvolvidas junto aos alunos, em sala de aula ou não, sobre atividades científico-pedagógicas. Deve ter entre 10 a 20 páginas. RESENHAS - Aceita resenhas de 05 a 10 páginas, de livros recém-lançados nos últimos três anos, que tenham relação com a política editorial da revista. Deve ser inserido no desenvolvimento do texto uma imagem da capa do livro resenhado, obrigatoriamente. http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao Macapá, v. 4, n. 2, p. 137-141, jul.-dez. 2014


138 DECLARAÇÃO DE DIREITO AUTORAL Os autores se obrigam a aceitar a Declaração de Direitos Autorais da revista. Estação Científica (UNIFAP) orienta que só devem assinar os trabalhos as pessoas que de fato participaram das etapas centrais da pesquisa, não bastando, por exemplo, ter revisado o texto ou apenas coletado os dados. Todas as pessoas relacionadas como autores, por ocasião da submissão de trabalhos estarão automaticamente declarando responsabilidade, nos termos a seguir: Declaração de responsabilidade: certifico que participei suficientemente do trabalho para tornar pública minha responsabilidade pelo seu conteúdo. Certifico que o manuscrito representa um trabalho original e que não foi publicado ou está sendo considerado para publicação em outra revista nacional ou internacional, quer seja no formato impresso ou no eletrônico, exceto o descrito em anexo. Atesto que, se solicitado, fornecerei ou cooperarei totalmente na obtenção e fornecimento de dados sobre os quais o manuscrito está baseado, para exame do conselho editorial da revista. Transferência de direitos autorais: declaro que em caso de aceitação do artigo, por parte da Estação Científica (UNIFAP), concordo que os direitos autorais a ele referentes se tornarão propriedade exclusiva do Departamento de Pesquisa da Universidade Federal do Amapá, vedado qualquer reprodução, total ou parcial, em qualquer outra parte ou meio de divulgação, impressa ou eletrônica, sem que a prévia e necessária autorização seja solicitada e, se obtida, farei constar o competente agradecimento ao Departamento de Pesquisa da Universidade Federal do Amapá e os créditos correspondentes à Estação Científica (UNIFAP). Declaro em meu nome e em nome dos demais coautores, porventura existentes, estar ciente de que a não observância deste compromisso submeterá o infrator a sanções e penas previstas na Lei de Proteção de Direitos Autorais (Lei Federal nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998).

Obs.: Estação Científica (UNIFAP) adota a política do copyleft, isto é, após a publicação é livre a reprodução para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados. DIRETRIZES PARA AUTORES Estação Científica (UNIFAP) é publicada semestralmente pelo Departamento de Pesquisa da Universidade Federal do Amapá. 1. A revista publica artigos inéditos em várias áreas do conhecimento, nas seções Artigos originais, Artigos de revisão de literatura, Ensaios, Entrevistas, Experimentação, Grupos de estudo e de pesquisa, Pontos de vista, Relatos de experiência/caso, Relatos de práticas pedagógicas e Resenhas. 2. Os artigos deverão ser submetidos pelo navegador MOZILA FIREFOX ou GOOGLE CHROMO, pois o Internet Explorer não possibilita a submissão integral. Primeiramente faça o seu cadastro e/ou login. A seguir, clique na Página do Usuário, na opção Autor, em Iniciar nova submissão e preencha os passos do processo. 3. Solicita-se aos autores não colocarem seus respectivos nomes no arquivo enviado, pois os procedimentos de análise e apreciação dos artigos pelos pareceristas são realizados com o anonimato dos autores dos respectivos trabalhos e dos pareceristas ("avaliação cega"). Portanto, não se identifique no corpo do texto, nem nas propriedades do arquivo. A identificação autoral será retirada diretamente dos metadados da submissão, quando também serão retirados o resumo biográfico, formação acadêmica e a identificação de afiliação institucional do/s autor/es e e-mail (metadados da submissão). 4. Não será aceito artigo em co-autoria com mais de três autores 5. Os autores se obrigam a aceitar e declarar a cessão de direitos autorais e que seu manuscrito é um trabalho original, e que não está sendo submetido à análise para publicação em outra revista. Esta declaração encontra-se disponível abaixo. 6. Os relatos deverão basear-se nas técnicas mais avançadas e apropriadas à pesquisa.


139 7. Os dados, ideias, opiniões e conceitos emitidos nos artigos, bem como a exatidão das referências, são de inteira responsabilidade do/s autor/es. 8. Os artigos serão avaliados inicialmente quanto à adequação das normas da revista (Diretrizes para Autores), e serão encaminhados pelo Editor da revista ao corpo de pareceristas, que apreciação o texto. As opções de pareceres são: a) Aprovado integralmente; b) Aprovado, desde que sejam feitas as correções necessárias; c) Recusado para publicação. Caso haja alguma divergência quanto aos pareceres, o Editor encaminhará o artigo ao conselho editorial que decidirá quanto à publicação ou não. Exige-se que os autores não façam uso de plágio. 9. Os artigos podem ser submetidos em português, inglês, espanhol ou em francês. Devem ser concisos e consistentes no estilo. 10. A revisão de português e a tradução e/ou revisão de língua estrangeira são de responsabilidade e custeados pelos autores. 11. Estão listadas abaixo a formatação e outras convenções: a) No processo de submissão, nos metadados da submissão, deverão ser inseridos os nomes completos dos autores (no máximo três autores), suas formações acadêmicas, vinculações institucionais e e-mails. b) Os artigos deverão conter: título, resumo, palavras-chave, abstract, keywords e referências. c) O título, com no máximo vinte palavras, em português e inglês, deverá ser preciso. d) O resumo (bem como o abstract), não excedendo 200 palavras, deverá conter informações sucintas sobre o artigo. Devem constar no resumo o objetivo, a metodologia e conclusões do artigo. Até seis palavras-chave deverão ser acrescentadas ao final, tanto do resumo como do abstract, que não estejam citadas no título. e) Agradecimentos poderão ser mencionados sob a forma de nota de rodapé. Também pode ser comunicado a existência de todo e qualquer auxílio financeiro recebido para a elaboração do trabalho, mencionando agência de fomento, também em nota de rodapé. Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902

f) Os artigos submetidos deverão ter entre 10 a 20 páginas digitadas, incluindo figuras, tabelas e referências bibliográficas (listadas somente aquelas citadas no texto). Deverão ser escritos em espaço 1,5 linhas e ter suas páginas numeradas. Dever-se-á deixar uma linha em branco entre os títulos e subtítulos e os textos que os sucedem ou precedem. Nas citações diretas, deve haver uma linha em branco antes e depois dos textos que as precedem e sucedem. Nas ilustrações deve haver uma linha em branco entre elas e os textos que as precedem e sucedem. Não pode haver linhas em branco entre os parágrafos dos textos com o objetivo de aumentar a quantidade de páginas. O trabalho deverá ser editado no MS-Word, ou compatível, utilizando fonte Times New Roman, tamanho 12. g) O trabalho deverá ser formatado em A4, com margens superior e esquerda com 3,0 cm e a inferior e a direita deverão ter 2,0 cm. h) O arquivo contendo o trabalho que deverá ser anexado (transferido), durante a submissão, não poderá ultrapassar o tamanho de 2MB, bem como, não poderá conter qualquer tipo de identificação de autoria, inclusive na opção propriedades do Word. Caso haja problemas na transferência do manuscrito, devese comunicar ao Suporte Técnico da revista para auxílio. i) Tabelas, figuras, gráficos, desenhos, esquemas, fluxogramas, fotografias, organogramas, mapas, plantas, quadros, retratos e outras ilustrações deverão ter os títulos na parte superior, e embaixo deverá constar a fonte e, se houver, também a legenda ou notas. Deverão ser inseridas no texto, logo após a sua citação e o mais próximo possível do trecho a que se refere. j) As ilustrações (tabelas, figuras, gráficos, desenhos, esquemas, fluxogramas, fotografias, organogramas, mapas, plantas, quadros e retratos) deverão ter preferencialmente 7,5 cm de largura, e não deverão ultrapassar a altura máxima de 16 cm. k) As figuras digitalizadas deverão ter 300 dpi de resolução e preferencialmente gravadas no formato jpeg ou jpg.

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140 l) As citações deverão seguir os exemplos seguintes que se baseiam na ABNT, no sistema AUTOR-DATA. Nas citações diretas, é obrigatório informar o autor, ano e página: Câmara (2008, p. 31) ou (CÂMARA, 2008, p. 31). Para o caso de citações indiretas no texto, usar apenas o sobrenome e ano: Caporalini (2005) ou (CAPORALINI, 2005); para dois autores: Veiga e Santos (2008) ou (VEIGA; SANTOS, 2008); três ou mais autores, utilizar o primeiro e após et al.: Gheorghiu et al. (2008) ou (GHEORGHIU et al., 2008). MODELOS DE REFERÊNCIAS Deverão ser organizadas em ordem alfabética, justificado, conforme os exemplos seguintes que se baseiam na ABNT. Listar todos os autores do trabalho. Os títulos dos periódicos deverão ser completos e não abreviados. Livros com um autor: AUTOR. Título. Edição. Local: Editora, ano. Exemplo: MARINHO, I. P. Introdução ao estudo de filosofia da educação física e dos desportos. Brasília: Horizonte, 1984. Livros com dois autores: AUTORES separados por ponto e vírgula. Título. Edição. Local: Editor, ano. Exemplo: ACCIOLY, A. R.; MARINHO, I. P. História e organização da educação física e desportos. Rio de Janeiro: Universidade do Brasil, 1956. Livros com três autores: AUTORES separados por ponto e vírgula. Título. Edição. Local: Editor, ano. Exemplo: REZER, R.; CARMENI, B.; DORNELLES, P. O. O fenômeno esportivo: ensaios crítico-reflexivos. 4. ed. São Paulo: Argos, 2005. 250 p. Livros com mais de três autores: Entrada pelo primeiro autor, seguido da expressão et al. Título. Local: Editora, ano. Exemplo: TANI, G. et al. Educação física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU, 1988. Livros com organizadores, coordenadores: ORGANIZADOR ou COORDENADOR, etc. (Org. ou Coord. ou Ed.) Título. Local: Editora, ano. Exemplo:

CRUZ, I. et al. (Org.). Deusas e guerreiras dos jogos olímpicos. 4. ed. São Paulo: Porto, 2006. 123 p. (Coleção Fio de Ariana). Partes de livros com autoria própria: AUTOR da parte referenciada. Título da parte referenciada. Referência da publicação no todo precedida de In: Localização da parte referenciada. Exemplo: GOELLNER, S. Mulher e Esporte no Brasil: fragmentos de uma história generificada. In: SIMÕES, A. C.; KNIJIK, J. D. O mundo psicossocial da mulher no esporte: comportamento, gênero, desempenho. São Paulo: Aleph, 2004. p. 359-374. Dissertações, teses, trabalhos de conclusão de curso: AUTOR. Título. Ano. Paginação. Tipo do documento (dissertação, tese, trabalho de conclusão de curso), grau entre parênteses (Mestrado, Doutorado, Especialização em...) vinculação acadêmica, o local e o ano da defesa. Exemplo: SANTOS, F. B. Jogos intermunicipais do Rio Grande do Sul: uma análise do processo de mudanças ocorridas no período de 1999 a 2002. 2005. 400 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Curso de Educação Física, Departamento de Educação Física, UFRGS, Porto Alegre, 2005. Trabalhos de eventos: AUTOR. Título do trabalho de evento. Referência da publicação no todo precedida de In: localização da parte referenciada. Paginação da parte referenciada. Exemplo: SANTOS, F. B. Jogos intermunicipais do Rio Grande do Sul: uma análise do processo de mudanças ocorridas no período de 1999 a 2002. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 14., 2005, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: MFPA, 2005. v. 1, p. 236-240. Artigos de revistas/periódicos: AUTOR do artigo. Título do artigo. Título da revista, local, v., n., páginas, mês, ano. Exemplo: ADELMAN, M. Mulheres no esporte: corporalidades e subjetividades. Movimento, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 11-29, jan./abr., 2006.


141 Artigos de jornais: AUTOR do artigo. Título do artigo. Título do jornal, local, data (dia, mês e ano). Caderno, p. Exemplo: SILVEIRA, J. M. F. Sonho e conquista do Brasil nos jogos olímpicos do século XX. Correio do Povo, Porto Alegre, 12 abr. 2003. p. 25-27. Leis, decretos, portarias, etc.: LOCAL (país, estado ou cidade). Título (especificação da legislação, nº e data). Indicação da publicação oficial. Exemplo: BRASIL. Decreto nº 60.450, de 14 de abril de 1972. Regula a prática de educação física em escolas de 1º grau. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, v. 126, n. 66, p. 6056, 13 abr. 1972. Seção 1, pt. 1. Documentos eletrônicos online em html ou htm: AUTOR. Título. Local, data. Disponível em: < >. Acesso em: dd mm. aaaa. Deve-se informar o endereço online, exceto textos em pdf. Exemplo: LÓPEZ RODRÍGUEZ, A. Es la Educación Física, ciencia? Revista Digital, Buenos Aires, v. 9, n. 62, jul. 2003. Disponível em: <http://www. efdeportes.com/indic62.htm>. Acesso em: 20 abr. 2004.

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142

Fluxograma básico do processo editorial da revista Estação Científica (UNIFAP) Autor submete artigo na revista

Editor inicia processo editorial

Artigo atende às normas?

Não

Artigo devolvido ao autor

Sim Avaliador/es elabora/m parecer

Editor envia artigo para avaliação Editor analisa parecer/es Artigo rejeitado

Artigo aprovado

Decisão editorial

Editor envia carta de aceite

Correções requeridas Artigo vira pdf

Autor corrige e apresenta nova versão

Autor é informado da decisão

Artigo rejeitado

Decisão editorial

Artigo aprovado

Edição da revista é publicada

Fim Elaborado por: Fernando Castro Amoras

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