Museu da Democracia - Concurso 4º Prêmio {CURA}

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200313AC

MUSEU DA DEMOCRACIA

LINHA DO TEMPO: 1817: Construção Igreja Nossa Senhora do Rosário 1854: Largo do Rosário com vegetação alta, iluminação a gás e charafiz de bronze (higienização da cidade).

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01 Igreja Rosário 01

02 Chafariz 03 Monumento 04 Marquise 05 Palácio Justiça

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1933: Alargamento de vias no entorno, implantação de piso com art noveau, criação de canteiros com vegetação baixa, implantação do monumento a Campos Sales e reposicionamento chafariz. 1934: Remoção total da vegetação, instalação de piso português e iluminação urbana, permanência monumento a Campos Sales.

1942: Construção Palácio da Justiça.

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1988-2020 (atual) Demolição das marquises e remodelação da praça a partir da configuração de 1934. * Local de manifestação política, concentração cultural e festiva,feiras e campanhas diversas.

1950: Demolição Igreja Nossa Senhora do Rosário. 1968: Separação praças: Visconde de Indaiatuba (antigo largo do rosário) e Guilherme de Almeida (palácio da justiça).

Campinas é uma importante metrópole de São Paulo, ao mesmo tempo que apresenta características interioranas. A área central da cidade é um dos locais que ainda apresenta maior interação social apesar do crescimento urbano ter gerado uma mancha urbana ampla e fragmentada. Com a expansão da cidade, a classe alta deixou o centro, priorizando moradia em condomínios fechados e trabalhos em regiões mais distantes. Gerando uma degradação do centro associada pela predominância de uma população de renda baixa que passou a frequentá-lo. O local escolhido para acolher o Museu da Democracia foi baseado na história da cidade, considerando regiões de pracialidade, ou seja, onde acontecem apropriações eventuais ou cotidianas que transcendiam a funcionalidade do local, transformando-o em um espaço de encontro e convívio público, de manifestações populares, da constituição cultural dos lugares e da razão comunicativa. O Largo do Rosário é considerado a principal praça de Campinas pois reúne pessoas desde a construção da Igreja do Rosário em 1817 e, ao decorrer do tempo, passou por diversas reformas que traziam a identidade social e atendia as demandas de cada época. Além disso, comporta parte das memórias políticas de resistência durante o regime militar e, por conta da importância das lutas sociais ali desencadeadas, foi reconhecida como lugar simbólico e de identidade da cidade, sendo tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (CONDEPACC) em 1996. 1964: Marcha da Família com Deus pela Liberdade (percurso passando pelo Largo do Rosário). 1977: Reunião de 3000 pessoas, convocadas pelos estudantes da PUCC, distribuindo uma “Carta Aberta à População” denunciando a prisão dos estudantes e operários do ABC e reivindicando anistia dos presos políticos. 1984: Ocupação popular de 10.000 pessoas durante a campanha das “Diretas Já” reivindicando eleições presidenciais. 2010: Dia do Soldado – exposição de fotos de mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura, organizado pelos estudantes da PUCC.

O partido do projeto visa resgatar a memória histórica material e imaterial das praças, revitalizando o centro da Campinas de forma a trazer o aspecto reflexivo e sensível quanto às questões sociais, culturais e históricas do povo brasileiro e estimulando a empatia coletiva sobre as diversidades. Além de trazer novos usos coletivos que atendam as demandas contemporâneas e estimulam a expressão artística, educacional e cultural dos indivíduos. A área escolhida para o projeto é formada por duas praças que se conectam visualmente: a praça Visconde de Indaiatuba, antigo Largo do Rosário, e a praça Guilherme de Almeida, onde localizava-se a Igreja do Rosário e abriga o Palácio da Justiça atualmente. O local em questão possui fácil acesso por estar localizado no centro da cidade, ser próximo ao Terminal de Ônibus Central, à Igreja Metropolitana e estar localizada no cruzamento de importantes vias que comportam fluxos intensos de pessoas e veículos diariamente. O programa de necessidades é setorizado e distribuído entre dois edifícios propostos e na nova configuração das praças existentes. Na praça Guilherme de Almeida, propõe-se o edifício Antônio da Costa Santos*, constituído por um Auditório/Cinema fechado, no subsolo, um Auditório Livre formado por um arquibancada escada que conecta ao pavimento térreo e integra-se à praça e ao Espaço Maker (laboratório com ferramentas de fabricação manual e digital associado ao Museu, que oferece oficinas coletivas e o uso do espaço para produção livre de projetos) e, também, um Café Coworking no mezanino, oferecendo um espaço de encontro mais profissional. O conceito do projeto visa a integração dos espaços com o entorno imediato: contexto urbano e o desenho da praça, trazendo continuidade visual com a cidade e qualidade espacial por trazer a natureza nas áreas de permanência e respiro entre os edifícios, tornando proporcional a relação entre os cheios e vazios e buscando manter ao máximo a vegetação existente. Ao que se diz respeito quanto à volumetria do edifício, sua proporção e fachada remetem à antiga Igreja do Rosário, trazendo a memória histórica da cidade, porém com uma linguagem contemporânea e com a proposta de um novo uso.

“O que define essa forma de política da lembrança não são o ato de acobertar e o de deixarestar, mas sim o de trazer ao discurso em um espaço social, o de admitir e o de reconhecer publicamente. Uma vez que essa política se orienta para a reconciliação e para a integração, podemos falar dela como uma forma totalmente nova de ‘superação do passado’ que deve ajudar a transformar ditaduras e outros regimes violadores dos direitos humanos em democracias”. Aleida Assman – Comissão da Verdade da Alemanha

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1971: Tentativa de reformulação da praça durante a Ditadura Militar por conta da apropriação da praça para manifestação social (uso das marquises para tal). * Local de manifestação política.

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Proposta: Trazer elementos que remetam às antigas implantações da praça, trazendo a memória e seu papel coletivo e social durante a história.

Projeto de Renato Righetto: Implantação de marquises, bancos e paisagismo. Remoção do monumento a Campos Sales.

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- Chafariz e Monumento centrais (1854, 1933 e 1934); - Piso em faixas e marquises (1968); - Volumetria remetente à Igreja Nossa Senhora do Rosário (Restauro); - Espaços livres que permita uso para manifestação política, cultural, gastronômica e festiva.

TERRENO E CONTEXTO URBANO

VOLUMETRIA INICIAL

PROCESSO CRIATIVO DA FORMA

FLUXOS PEDESTRAIS

PROPOSTA

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Na praça Visconde de Indaiatuba, propõe-se o edifício do Museu da Democracia, constituído pelo setores de pesquisa e educação. Formado pelo centro de pesquisa, biblioteca com área de estudo livre e informática; o setor de expressão artística que oferece aulas de dança contemporânea e teatro, aulas de música e arte; o setor gastronômico, constituído por um bar ao ar livre e restaurante panorâmicos, com vista para a cidade de campinas de forma ampla, considerando o baixo gabarito da área central; loja colaborativa do museu, praças e o setor expositivo, que se dá através de um percurso que conduz a uma sequência de exposições que proporcionam desde a reconstrução da memória histórica sobre o passado repressor gerado durante os períodos de escravidão e ditadura, até a reflexão e reconhecimento de novas demandas sociais e culturais que buscam a ampliação dos direitos, de forma a combater a violência de gênero e orientação sexual, xenofobia, diferença de classe, religião e agressão ao meio ambiente. Aliado às exposições, são propostos memoriais ao longo do projeto, de forma a enaltecer a luta e importância de diversas figuras na história brasileira. No interior do edifício, há o Memorial da Figuras Públicas de Resistência pela Vida e Liberdade, em homenagem às figuras que lutaram contra as diferenças sociais, culturais e corrupção (ex.: Mariele e Toninho) e também aos profissionais da saúde, serviços essenciais e pesquisadores que estão atuando na linha de frente no combate contra COVID-19. Já o Memorial dos Mortos e Desaparecidos, é proposto em forma de pátio central, tendo o acesso através do edifício e visibilidade a todos que percorrem a praça do nível da rua. Com o propósito de dignificar as vítimas e seus familiares e homenagear os manifestantes e defensores da democracia durante a ditadura, o memorial é composto por uma escultura que representa a luta e a resistência, tendo o significado fortalecido pela sua forma de uma mão emergindo da superfície e os elementos de rocha (força) e água (símbolo da vida, regeneração e sabedoria). O pátio torna-se um espaço de permanência e reflexão sobre o passado opressor e a liberdade alcançada pelas lutas sociais e que, por isso, devemos lembrar daqueles que proporcionaram isso.

PROCESSO CRIATIVO DA FORMA

8m

1/2 METAL

METAL

BRISE METAL

8m

BRISE METAL & VIDRO

VIDRO FIXO

CONCRETO

SISTEMA CONSTRUTIVO E VEDAÇÃO

O partido dos edifícios surge a partir de uma arquitetura sensitiva como reflexão da história, lutas e avanços da democracia, de forma que o sistema construtivo modular de vigas e pilares de concreto simboliza o período moderno, mas ao mesmo tempo, tradicional e rígidas. Já a vedação dos edifícios se dá de forma mais leve, contemporânea e experimental, através de faces translúcidas e modulações assimétricas de chapas metálicas onduladas e brises rotacionados conforme a orientação do sol, trazendo uma diversidade e movimentação entre as fachadas. O uso poético desses elementos arquitetônicos se dá na conformação de fachadas mais robustas e fechadas nos pavimentos onde as exposições retraram a opressão e ausência dos direitos humanos ocorridos na escravidão e ditadura e, conforme o percurso das exposições pelo caminho da liberdade e conquistas sociais, as fachadas recebem mais leveza e transparência. A forma do edifício se dá através dos cheios e vazios, na descontrução de um volume regular e na adição de elementos livres com estrutura independente (containers), de forma a trazer fisicamente, na arquitetura, a metáfora da transformação da história brasileira e comportamento social, um passado mais denso e conservador, caminhando para a leveza e diversidade que, acaba por transformar seu passado em uma forma mais livre e para todos. * Nome do edifício em homenagem ao arquiteto, professor universitário e eleito prefeito de Campinas em 2001. Toninho, como é popularmente conhecido até hoje, foi assassinado por atuar contra o crime organizado da região.

PROGRAMA


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