Político, eu!?! | Programa de Educação Político-Cidadã #04

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João Gabriel, de 12 anos, vê na escola um ambiente essencial para desenvolver pensamento crítico e relações sociais FERNANDA BARROS

INFÂNCIA CIDADÃ

Para garantir os direitos das crianças e dos adolescentes e uma sociedade mais igualitária, é preciso estimular o debate sobre o que é ser cidadão desde cedo. Entenda o papel da escola nesse processo

31 DE AGOSTO DE 2023 FORTALEZA - CEARÁ
#4
POR UMA

POLÍTICO, EU?!

Programa de Educação Político-Cidadã

EXPEDIENTE

FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA

Presidência: Luciana Dummar | Direção

Administrativo-Financeira: André Avelino de Azevedo

| Gerência-Geral: Marcos Tardin | Gerência de Criação de Projetos: Raymundo Netto | Gerência de Audiovisual: Chico Marinho | Gerência Editorial: Lia

Leite | Gerência de Marketing & Design: Andrea Araújo

| Análise de Projetos: Aurelino Freitas e Fabrícia Góis

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)

Gerente Educacional: Prof. Dr. Deglaucy Jorge

Teixeira | Coordenadora Pedagógica: Profa.

Ms. Jôsy Cavalcante | Coordenadora de Cursos

e Secretária Escolar: Esp. Marisa Ferreira |

Desenvolvedora Front-End: Isabela Marques

| Estagiárias em Mídias e Tecnologias para Educação: Germana Cristina e Rebeca Azevedo | Estagiária em Pedagogia: Arielly Ribeiro

POLÍTICO, EU!?

Concepção e coordenaria geral: Valéria Xavier | Projeto Gráfico e Editora de Design: Andrea

Araújo | Designers: Kamilla Damasceno e Welton

Travassos | Ilustração: Carlus Campos | Analista de Marketing Digital: Henri Dias | Social Media: Letícia

Frota | Analista de Projetos: Daniele de Andrade

LAB

Coordenadora– Editorial: Paula Lima | Editoraadjunta: Ana Beatriz Caldas | Designer: Natasha

Lima | Textos: Ana Beatriz Caldas Carol Kossling, Letícia do Vale, Paula Lima e Paloma Vargas

Entenda o projeto!

Nos últimos anos, as produções teóricas têm chamado atenção para a intensificação de sentimentos de desconfiança nas instituições democráticas, de rejeição aos partidos políticos e de desinteresse pela política.

No entanto, nesse contexto, tem crescido no debate público a demanda pela construção de espaços para o diálogo sobre política, cultivando a compreensão sobre a democracia, suas instituições e valores. Compreendendo a relevância dessas reflexões para o exercício efetivo da cidadania na vida cotidiana, a Fundação Demócrito Rocha apresenta o Projeto “Político, eu?!”, iniciativa que propõe despertar a cidadania de toda a população, além de promover a formação através de um curso de extensão na modalidade de ensino a distância (EaD), com seis módulos contemplando videoaulas, fascículos digitais e radioaulas.

No último caderno da série, trazemos contribuições de especialistas em educação, sociologia e política sobre o papel da escola na formação cidadã de crianças e adolescentes, além de dicas para tornar o processo mais fácil e adequado a cada faixa etária. Boa leitura!

INSCRIÇÕES

PARA O EaD

O curso “Educação Política para Cidadania” propõe a formação de docentes, jovens e cidadãos em geral, para a compreensão da relevância da educação política para o exercício pleno da cidadania.

As inscrições são gratuitas. Confira o conteúdo programático do curso e inscreva-se em: fdr.org.br/politicoeu.

Olhar político desde cedo

A participação social nos processos políticos está na base da democracia representativa e deve ser constantemente incentivada pelo poder público. Para isso, é necessário que os próprios cidadãos reconheçam o seu papel no processo político. Daí, a importância de, desde cedo, imbuir nossos cidadãos dessa função.

Assim, as crianças e os adolescentes assumem posição central na democracia. Ao criar mecanismos de incentivo à educação política e à participação dos jovens nos processos deliberativos, estamos formando as bases para uma sociedade mais justa e democrática.

A escola, a família e o próprio poder público têm essa responsabilidade e, portanto, devem se unir para que crianças e adolescentes sejam reconhecidos como cidadãos. Para isso, precisamos primeiramente garantir que essa parcela da população possa se desenvolver de forma saudável, tendo os direitos respeitados. Daí, a importância de cumprirmos o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma legislação fundamental para a garantia do futuro dos nossos jovens.

Além disso, é nosso papel, enquanto sociedade, criar mecanismos de escuta e de participação dessa geração nos processos políticos. Assim, estimulamos a formação de novas lideranças e criamos uma rede de empoderamento cidadão, tão necessária para a manutenção da democracia. Ao dar atenção especial às nossas crianças e adolescentes, estamos cuidando do nosso futuro democrático. Essa é uma responsabilidade de todos.

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APOIO
PARCERIA
REALIZAÇÃO

A CIDADANIA

na infância e na adolescência Grande conquista para garantia dos direitos dos pequenos, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 33 anos em 2023

TEXTO: Carol Kossling

E-MAIL:

Com 33 anos de existência, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) representa uma ruptura dentro da concepção de infância e adolescência no ordenamento jurídico pátrio. Seguindo a tendência democrática da Constituição Federal de 1988, em especial a disposição do art. 227, a Lei nº 8.069/1990 incorporou os avanços professados na Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1989.

Este artigo diz que “o Estado tem o dever de assegurar à criança e ao adolescente o direito à convivência familiar. O objetivo maior da Lei nº 8.069/1990 é a proteção integral à criança e ao adolescente, aí compreendida a participação na vida familiar e comunitária”.

Para a pesquisadora Ingrid

Lorena, do Centro de Defesa e da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca), a prioridade absoluta da infância e adolescência traz ao poder

Base cidadã

Desta forma, a cidadania vem sendo trabalhada na escola básica, pois segundo a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação (nº 9.394/1996), lei que define e regulariza a organização da educação brasileira com base nos princípios presentes na Constituição, a educação, enquanto dever do estado, deve objetivar uma formação cidadã, de modo que este seja capaz de exercer funções enquanto indivíduo social.

“Em um contexto mais abrangente, cidadania implica a qualidade de ser cidadão e, por conseguinte, detentor de direitos e responsabilidades”, ressalta Ingrid. A pesquisadora do Cedeca complementa que, atualmente, os consideráveis avanços obtidos nos últimos anos têm direcionado o ambiente escolar a se construir enquanto instituição que preza pelo respeito à diversidade e pela não discriminação.

“Apesar de existirem muitos pontos a serem aprimorados, em especial o que tange à violência escolar, a cidadania dentro da escola tem sido estimulada, inclusive, enquanto diretriz governamental, mas ainda com limitações. É preciso estimular mais”, defende.

Para ir além da escola

Para aumentar o interesse pela cidadania dentro e fora do ambiente escolar, Ingrid acredita que é preciso haver uma construção de processos de participação e elaboração de ações, além da criação de atividades que envolvam cidadania e direitos construídos com as crianças e os adolescentes. “[É preciso] que essas elaborações tenham elementos das realidades vivenciadas por diversas crianças e adolescentes”, afirma.

Política faz parte do cotidiano das crianças

Estudante da Escola Educar Sesc Fortaleza desde 2014, o aluno do sexto ano letivo João Gabriel Soares Probo, 12 anos, comenta que foi justamente no espaço educacional que conheceu muitos dos seus amigos atuais. Alguns deles, aliás, estão com João desde o Infantil 3, época que entrou na instituição.

Entre suas percepções sobre o espaço escolar onde passa grande parte do seu dia, ele destaca como positivos o método de ensino pedagógico, a inclusão entre as pessoas e forma de atuação dos professores e do espaço em si. “Minha interação com os meus amigos é muito boa, falamos muito sobre música e história em geral”, comenta, destacando aspectos importantes da socialização e integração social cultivada nas escolas.

público a responsabilidade de direcionar estratégias para a efetivação dos direitos reservados a um grupo social anteriormente invisibilizado.

A partir desse novo paradigma, diversos programas e planos são elaborados sob um novo viés, que paulatinamente passou a observar e identificar as diferentes infâncias e adolescências que existem no Brasil.

Entusiasta das ciências humanas, João Gabriel valoriza momentos de formação cidadã na escola

No seu entendimento, o direito à participação social está conectado à cidadania, e por isso “é importante que as escolas trabalhem de formas interligadas, envolvendo e construindo juntos com as crianças e adolescentes, considerando suas realidades diferentes e desiguais. A escola é um espaço fundamental para essa construção”, completa.

Ingrid ressalta ainda que, para que seja assegurado o direito à educação com qualidade, é preciso envolver o poder público e a ampliação do orçamento público. “Trabalhar com cidadania envolve não só a escola, mas o direito à cidade, à moradia, à educação e o direito à cultura e ao lazer”, finaliza.

Grande entusiasta das aulas de história e língua portuguesa, João avalia que as questões relacionadas à educação, à cidadania e à política são muito importantes, e que uma questão acaba sempre atrelada a outra. Mesmo estando ainda na pré-adolescência, ele garante perceber que os três conceitos fazem parte do seu dia a dia. “Elas fazem parte da minha infância e da minha adolescência como políticas e leis que me ajudam e ajudam os outros”, pontua.

No dia a dia, ele conta que conversa sobre as temáticas

com os pais, professores e amigos. “Eu converso com todos, principalmente com meus pais, para que me ajudem a decidir o meu futuro na educação e na sociedade em geral”, detalha.

Para o futuro? João quer se formar e seguir carreira em Direito ou em Música e, ainda, ser professor de uma dessas duas formações. “É a educação e a cidadania que vão me ajudar a ter uma carreira”, conclui.

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FERNANDA BARROS
“A ESCOLA É UM ESPAÇO FUNDAMENTAL”
“FALAMOS MUITO SOBRE MÚSICA E HISTÓRIA EM GERAL”

Educação básica e

aproximação com a

SOCIEDADE

Escolas avançaram na formação política, mas ainda encontram desafios

A escola é a base para todos os seres humanos terem os primeiros contatos com a educação e a cidadania. É o espaço onde crianças, adolescentes e jovens se aproximam de seus pares e aprendem a conviver com o outro. É palco de integração e uma promoção saudável de diálogo, onde devem se debater temas sociais e políticos importantes para toda a sociedade.

A CONCEPÇÃO DA

delas tem suas peculiaridades em termos de estrutura, projeto político pedagógico e constituição do corpo dis-

cente e docente.

Por exemplo, existem escolas em que a formação cidadã dos indivíduos é um pontochave dos projetos políticos pedagógicos. Nesse sentido, Maria Clara considera que a cidadania passa a ser trabalhada não como um conceito estático, mas como um processo que envolve várias dinâmicas do cotidiano, dentre elas a transmissão de valores democráticos, como a tolerância e o respeito à diversidade.

Com a Constituição de 1988, a educação passou a ser um direito de todos e dever do Estado e da família, com ênfase na formação cidadã e laboral dos indivíduos. Maria Clara Ribeiro Martins destaca que os documentos que vieram depois, como a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCNEB) e a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) não enfatizam um modelo específico de como a cidadania deve ser trabalhada nas escolas.

transmissão de valores democráticos, como a tolerância e o

Porém, esses documentos “são enfáticos sobre o papel da educação básica em desenvolver e assegurar que os estudantes tenham uma formação que os prepare para o exercício da cidadania, reiterando a importância de se difundir valores democráticos como liberdade, justiça, tolerância e respeito”, afirma Maria Clara.

Para melhorar o interesse de crianças, adolescentes e jovens pela cidadania dentro e fora do ambiente escolar, Danyelle aponta que uma das primeiras ações deve ser tornar o tema mais lúdico, mostrando como ele está inserido na nossa vida. “Usar exemplos práticos e concretos, criar experiências em que os discentes possam experimentar situações, ter aulas de campo, atividades de pesquisa, debates realizados por eles, reflexões geradas, tudo isso faz que cidadania não se torne um tema alheio ou externo a eles”, sugere.

ção cidadã ativa, humanizada

des educacionais para traba-

No entanto, para Danyelle Nilin, socióloga e professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), é preciso que haja um maior engajamento por parte das entidades educacionais para trabalhar a cidadania. Para ela, em geral, as escolas trabalham a cidadania de maneira superficial e em momentos muito específicos - às vezes numa aula de determinada disciplina ou em campanhas realizadas nas escolas em datas importantes.

Danyelle ressalta que, muitas vezes, não há uma reflexão mais profunda sobre o conceito de cidadania, e a escola se atém apenas

minho tortuoso para a cidadania no Brasil e como a cidadania e os direitos humanos se cial, mestra e doutoranda em Sociologia pela

cial, mestra e doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Maria Clara Ribeiro Martins, que enfatiza que não

lisado. Ela destaca que, na nossa sociedade, existem escolas públicas, privadas, militares e de tempo integral, entre outras, e cada uma

“Hoje é possível perceber que existem ambientes escolares comprometidos com a formação laboral, voltada para os vestibulares e mercado de trabalho, mas que também prezam pela formação cidadã ativa, humanizada e que incentiva os educandos a adotarem uma postura consciente, capaz de refletir sobre a própria realidade de uma maneira crítica”, retrata a

No entanto, ela pontua que ainda existem escolas que não se veem como responsáveis pela formação cidadã dos estudantes, o que faz com que se tornem ambientes voltados apenas para a acumulação de informações e habilidades. Esse acúmulo, voltado para que o aluno apenas garanta a aprovação no vestibular e uma vaga no mercado de trabalho, não valoriza a reflexão dos indivíduos sobre a cidadania e o contexto social em que estão (Carol Kossling)

Por isso, muitas escolas já incorporaram ao projeto político pedagógico mecanismos que possam contribuir para essa formação cidadã. Porém, do ponto de vista de Danyelle Nilin, pode-se pensar que as escolas cumprem apenas em parte o que preconizam os documentos.

“Digo ‘em parte’ justamente porque como esse tema tem relação com direitos individuais, mas também sociais, a escola poderia aprofundar muito mais essa temática, inseri-la no cotidiano escolar e não somente como conteúdo dentro de um componente”, explica.

Para ela, falar de cidadania é justamente ir a fundo na noção de direitos humanos, de combate às desigualdades, da necessidade de criar uma sociedade mais justa e equitativa. “Esses são temas que requerem um amplo debate que, normalmente, não é feito da forma mais adequada na escola. Ademais, esse tema precisa estar durante toda a vida escolar dos discentes, e isso inclui desde a educação infantil”, destaca.

Além disso, a socióloga acredita que criar espaços nas escolas e situações em que eles possam vivenciar e ter a cidadania como mote da vida escolar também facilite. Por sua vez, a interação com as famílias e o estímulo à participação em espaços, movimentos e coletivos podem gerar mais interesse por esse tema.

Já Maria Clara sugere que a perspectiva do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, seja seguida. “Acredito que uma forma de melhorar o interesse dos discentes sobre essa temática é trazendo-a para a realidade deles, para que possam perceber a cidadania a partir de seus cotidianos e não como algo distante ou difícil de ser compreendido”, explica.

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a
O despertar da participação
A formação cidadã em pauta

A evolução do conceito de juventude e o

PAPEL DO JOVEM NO PAÍS

o direito ao trabalho, se faz na vida social com a maioridade civil e se dá na vida política com o direito ao voto”, explica.

Já para o sociólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Irapuan Peixoto Lima Filho, a noção de juventude é um conceito moderno. A existência da juventude nos termos atuais é resultado do processo de industrialização, que gerou a necessidade de mão de obra mais qualificada e um processo formativo mais demorado.

“Isso criou o jovem que não trabalha para se dedicar à ‘formação’, ou seja, aos estudos. É o que Pierre Bourdieu chama de moratória social. Com o passar do tempo, isso gerou um público específico, desocupado e disposto a consumir, o que criou um mercado particular e um ator social diferenciado, que são os jovens”, exemplifica o sociólogo. (Carol Kossling)

Mobilizações coletivas

Campos ressalta que a participação política é um direito assegurado pela Constituição Federal do Brasil. “A participação não surgiu no Brasil como uma teoria, mas como uma prática política que ganhou sentido nas mobilizações coletivas de agentes populares durante o processo de reconstrução democrática desde os anos de 1970”, relembra o professor, que complementa que o direito à participação foi o abrigo constitucional da grande mobilização social democratizante que encerrou a Ditadura Militar no Brasil.

Engajamento que transforma

O processo de engajamento juvenil apresenta ainda uma segunda questão: a tutela dos adultos. “Nesse caso, cabe uma atitude de autocontenção dos professores, coordenadores e diretores para colaborar sem pretensão de dirigir a ação da juventude num relacionamento marcado pela promoção da autonomia, do direito à participação e da responsabilidade com o coletivo”, explica Marcos Paulo Campos.

diferentes opiniões, fortalecem seu senso de pertencimento e responsabilidade, e se tornam cidadãos mais conscientes e comprometidos com o bem comum.

Juventude, educação e cidadania formam uma tríade fundamental para o desenvolvimento de habilidades nos campos pessoal, vocacional, comunitário e profissional. A juventude pode ser entendida, segundo o professor de Sociologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) Marcos Paulo Campos, como um período do desenvolvimento de uma pessoa com características próprias e suas marcas principais são a construção de si - imagem corporal e maturação cognitiva.

Além da elaboração de projetos de vida e a ampliação do contato social para além da família e da escola. “Essa inserção ativa do jovem se realiza na vida econômica com

A NOÇÃO DE JUVENTUDE É UM CONCEITO MODERNO

zam movimentos sociais e políticos e

Para ele, as juventudes protagonizam movimentos sociais e políticos e seu potencial organizativo pode ser canalizado e fortalecido por meio de iniciativas escolares que fomentem o interesse e o debate sobre temas políticos relevantes, como cidadania, direitos humanos, sustentabilidade, igualdade e justiça social.

No entanto, o professor de sociologia da UVA destaca que “é preciso considerar duas questões quando se trata da participação cidadã dos jovens na escola. A primeira questão é o caráter desafiador da aproximação entre os jovens e a política. Isso demanda estratégias que promovam o despertar do interesse e a perspectiva de que as vozes juvenis farão diferença nas decisões e em sua vida comunitária”, pondera.

De acordo com sua visão, esse cenário pode ser alcançado por meio de diferentes práticas pedagógicas, estratégias de articulação e projetos escolares que incentivem a reflexão crítica sobre questões políticas, criem espaços de escuta e diálogo entre estudantes e professores, promovam debates ou até pela simulação de processos eleitorais e políticos.

O professor reitera ainda que a participação política dos jovens na escola não se restringe apenas ao ambiente interno. A partir dela, porém, eles têm acesso a oportunidades de engajamento político em outras esferas, como no caso de ações “voltadas para a comunidade, que contribuam diretamente para a solução de problemas locais e para a construção de uma sociedade mais justa e solidária, como sugere um dos eixos estruturantes dos itinerários formativos do Novo Ensino Médio”, declara.

Ao participar da vida política na escola, os jovens desenvolvem habilidades de liderança, aprendem a ouvir e respeitar

A participação política nessa fase da vida pode colaborar para que os jovens reconheçam com maior precisão os diferentes projetos políticos organizados pelos partidos e apresentados aos eleitores. “E mais, a experiência participativa pode ajudar os jovens a reduzir preconceitos antidemocráticos contra partidos políticos, sindicatos, Organizações Não Governamentais (ONGs) e outras formas legítimas de organização social e política”, finaliza Campos.

Irapuan Filho concorda e ressalta que a escola sempre foi um espaço de relações sociais. “Desde que o modelo de educação formal se firmou, em diversos momentos da história, seja na Grécia Antiga, seja no Medievo com os monges e padres, seja no contexto da Revolução Francesa. A educação constituída enquanto instituição gera a troca e o conflito entre distintos atores sociais”, comenta.

Política para todos, em todos os espaços

Irapuan reforça que não há idade para se ter consciência política e que a discussão política deve começar cedo, porque esse conhecimento crítico é essencial para que as pessoas possam se posicionar e defender seus ideais, além de contribuir para a manutenção dos princípios democráticos e cidadãos.

A estratégia pedagógica, no entanto, deve ser sempre adequada à idade do aluno. Os jovens participam politicamente, de modo online ou não, e a

forma como participam reflete a realidade em que vivemos, com seus aspectos positivos e negativos.

“Quanto às redes sociais, a sociedade em que vivemos precisa ainda criar uma ‘etiqueta’ das redes e saber como criar um ambiente mais criativo e menos tóxico. Sem isso, as redes são contaminadas por manifestações de ódio e o jovem irá refletir esse comportamento, tal qual os adultos”, considera o professor da UFC.

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Mobilização social e desejos em comum unem jovens para conquistas políticas e de pautas sociais
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Um retrato da

EDUCAÇÃO EM FORTALEZA

Referência nacional nos índices de educação, o Ceará tem hoje projetos voltados para a cidadania nas escolas municipais e estaduais. Na Capital, onde há o maior número de alunos, algumas ações têm se destacado nesse sentido. Conheça a seguir uma parte do cenário educacional do Estado:

Projeto de Vida

Como parte do Novo Ensino Médio (NEM), a Secretaria de Educação do Governo do Ceará (Seduc-CE) executa o componente curricular Projeto de Vida, que consiste numa orientação para que o aluno se conheça melhor, descubra seus potenciais e os caminhos para a sua realização em todas as dimensões.

O desenvolvimento dessa temática é uma premissa para a garantia de uma educação de qualidade. Nesse sentido, as aulas de Projeto de Vida são fundamentais para auxiliar os estudantes no processo de escolha de seus itinerários formativos, com base em suas afinidades, interesses e perspectivas para sua vida pessoal, social, acadêmica e profissional.

O Projeto de Vida da Rede Estadual do Ceará tem como unidade curricular de referência a Formação para a Cidadania e Desenvolvimento das Competências Socioemocionais (FC), parte integrante do Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT). Assim, em 2023, todas as turmas de Ensino Médio da rede deverão ofertar o PPDT.

Os conteúdos trabalhados nas obras de Projeto de Vida visam auxiliar no autoconhecimento dos estudantes, para que estes possam refletir sobre suas escolhas, atitudes e hábitos, em diferentes âmbitos da vida.

Censo Escolar 2022

CIDADANIA NA PRÁTICA

Projeto leva alunos à Câmara Municipal para serem vereadores por um dia. Objetivo é promover educação cidadã, aproximando-os da realidade

Indicadores

O projeto “Político, eu?!?”, promove, a partir de setembro, a ação “Escola vai à Câmara”, com o objetivo de levar estudantes para visitarem a Casa e orientá-los sobre como ocorre a votação de um projeto de lei nesse âmbito.

Para participar, as escolas devem inscrever projetos de lei desenvolvidos pelos alunos com o auxílio de um professor. Os quatro melhores projetos de lei serão selecionados, e as respectivas escolas devem receber uma oficina para orientar os alunos e o professor responsável sobre como se dá a votação de um projeto de lei na Câmara Municipal.

devem inscrever projetos

professor. Os quatro melhode guiar o grupo para a visita à Casa, quando os alunos po-

O objetivo da oficina é guiar o grupo para a visita à Casa, quando os alunos poderão ser vereadores por um dia. No momento, os estudantes terão a oportunidade de proceder com a votação do projeto de lei inscrito por eles no concurso.

O LEGISLATIVO CONTRIBUI PARA A PRESERVAÇÃO DE DEMANDAS DE SEGMENTOS DIFERENTES DA SOCIEDADE

“Isso colabora para que os alunos comecem a compreender de uma forma conectada com a realidade a importância do envolvimento nas discussões políticas e aproximar de onde esse debate acontece de forma real. Esperamos que esses jovens tenham uma visão mais apropriada do que é exercer a cidadania”, indica.

Inscrições em fdr.org. br/politicoeu, até 4/9

*Mínimo de 20 alunos e máximo de 42 por escola

Datas de visitas a Câmara: 2, 9, 16 e 23/10

Demócrito Rocha e do O POVO. O objetivo é compartilhar a experiência com o público geral.

Socióloga e coordenadora das oficinas do projeto, Paula Vieira explica que a formação nas escolas deve ensinar os alunos diversos aspectos da Câmara, como funcionamento das comissões, função de cargos e divisão de bancadas. A professora destaca, ainda, a importância de abordar esse processo de representação política e envolver os cidadãos na prática desde cedo.

O projeto de lei deve ser desenvolvido de acordo com os temas das comissões da Câmara. São elas:

> Comissão Cultura, Esporte e Juventude;

> Comissão de Desenvolvimento Econômico;

> Comissão de Direitos Humanos e Cidadania;

material será transformado em quatro webdocs,

A visita será gravada e o material será transformado em quatro webdocs, que, posteriormente, serão transmitidos pelos canais da Câmara, da Fundação

Segundo a coordenadora geral do projeto “Político, eu?!?”, Valéria Xavier, o processo de discussão do projeto de lei é uma forma de exercício da cidadania. A expectativa é mobilizar professores e alunos para a importância de se envolver em questões que impactam a vida deles e da sociedade de maneira geral.

“A ideia é que o resultado desse processo seja conhecer o que os vereadores fazem porque isso é parte de uma educação cidadã, saber como é o funcionamento e quais os mecanismos para barrar ou avançar projetos, e ampliar a noção dos jovens sobre política para além do conhecimento geral”, descreve.

> Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia;

> Comissão de Política Urbana e Meio Ambiente;

> Comissão de Saúde e Seguridade Social;

> Comissão de Segurança Cidadã.

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Escola vai à Câmara
em Fortaleza 1ª capital
cobertura
atendimento
Ensino Fundamental 1ª capital do
cobertura
atendimento em Tempo Integral 4ª 2ª lugar
segmento de jornada ampliada 3ª capital do
e 1ª do Norte e Nordeste em matrículas na Educação Inclusiva 1ª capital do Nordeste em matrículas na Educação Infantil Fonte: Secretaria de Educação de Fortaleza
da Educação
em
no
em
Brasil e 1ª do Norte e Nordeste em
no
no País em números absolutos no
Brasil
Educação Infantil 56.265 Ensino Médio 321.750 Ensino Fundamental –1º ao 9º ano 176.121 Fonte:
INEP/Censo Escolar 2022
maior
do
de matrículas e 1ª do Nordeste
rede
Brasil em número

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