Fazendo 87

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87 JULHO ‘13

O BOLETIM DO QUE POR CÁ SE FAZ MENSAL / DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

zonamento ou zoonamento?


2. Fazendo Editorial

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87

É o ano de lançamento pelo Instituto

gava as mudanças climáticas, divulga

Hidrográfico Português da primeira

um relatório clamando atenção para

apresenta “Radio Days” com Mia Farrow, Dianne Wiest, Jeff Daniels, Danny

bóia ondógrafo nos Açores. Três anos

a deterioração do planeta provocada

Aiello e Diane Keaton. Em Veneza, Ví-

depois de terminado o ciclo da caça à

pelo ser humano. Em Lisboa é criado

tor Gonçalves estreia a sua primeira

baleia, em Novembro, o oficial baleei-

o Museu da Marioneta. O Portugal mu-

longa-metragem “Uma Rapariga no

Direcção

ro Manuel Macedo Portugal de Brum,

sical desperta com o lançamento dos

Verão”, que irá depois aos festivais

Aurora Ribeiro

silencia com lança e arpão a última

álbuns “Os Dias da Madredeus”, dos

de Roterdão e de Berlim. José Álvaro

Tomás Melo

baleia, no porto das Lajes do Pico. Na

Madredeus, “Coisas Que Fascinam”,

Morais conquista o Leopardo de Ouro

Sé Catedral de Angra do Heroísmo são

dos Mler Ife Dada e “Free Pop”, dos

no Festival de Locarno com o filme “O

Capa

repostas as primeiras pinturas artís-

Pop Dell’ Arte, com o selo da Ama Ro-

Bobo”. Fernando Lopes produz com

Sabine Gieshoff

ticas restauradas depois do sismo de

manta. Em Seatle, Estados Unidos da

Opus Filmes o filme “Saudades”, com

1 de Janeiro de 1980, das trinta obras

América, surgem os Nirvana de Kurt

um tema original dos “Love and Ro-

Colaboradores

propostas a restauro. Na filatelia as-

Cobain. Nas salas de cinema estreia

ckets”. O actor Mário Viegas entra no

Carla Cook

siste-se ao lançamento da colecção de

“Oci Ciornie” (Olhos Negros) um filme

filme “Repórter X” de José Nascimento.

Carlos Alberto Machado

selos: “Açores na História da Aviação”.

dirigido por Nikita Mikhalkov, inspira-

O Nobel de Literatura deste ano é atri-

Cristina Lourido

A comissão Brundtland, que investi-

do em Anton Tchekov. Woody Allen

buído a Joseph Brodsky.

Fernando Nunes

FN

José Luís Neto

Editorial - Qual é o papel do Fazendo?

- Se acabar o papel pilim, acaba-se o papel

Luís Henriques Luís Silva Maria da Ajuda Neves

O Papel do Fazendo

de jornal. Se acabar o papel função acaba- - Não parece.

- Não é isso. Digo: o papel do Fazendo, o

se tudo.

- Não parece porque ninguém sabe bem

papel do Fazendo no mundo, nos Açores, - E fica tudo a andar aos papéis.

como se fazem as coisas. E nós também

hoje em dia?

não. Se soubéssemos não só dávamos

- O que é isso?

- Ah, esse? Bom... é o mesmo. É o de receber. - É ficar desorientado.

cabo disto tudo como iria parecer mesmo

- De receber? De receber o quê?

que o estávamos a fazer. Mas o problema

- O que lhe quiserem dar. É tudo bem-vindo.

- Achas? Por o Fazendo acabar? A malta desorienta-se?

- Textos?

- Se calhar...

- Textos, dinheiro, ajuda, ideias... cenas...

- Não me parece. Nem é papel do Fazendo

- O Fazendo é um receptáculo? - Tipo isso. - E depois? Que faz com o que recebe?

andar a “orientar” as pessoas. - Voltando ao papel-moeda. E se acabar? E se acabar o jornal?

é que não sabemos mesmo como é que se fazem essas coisas. - Desfazer sistemas. Romper. Reformar. Criar de novo.

papel higiénico. Foi para isso que ele foi

- Pois claro.

se lhe atirar barro. Mas às vezes faz

feito.

- Já estou como o outro: sabes onde é que

sempre? - Boa pergunta. Irá?

- À bruta... ora... à bruta?

isto vai parar? - Não.

cabo desta merda toda.

- A lado nenhum. Continua sempre. Não pára.

acho que esse podia muito bem ser O

- E o Fazendo?

- Qual papel?

papel do Fazendo.

- Para já vai só de férias. Depois logo se vê.

- Então porque é que não é?

Capa

Sede Rua Conselheiro Medeiros

Periodicidade Mensal

- E se acabar o papel ao Fazendo? - Qualquer um.

Aurora Ribeiro

nº 19 ­­— 9900 Horta

activo, mais subversivo, devíamos dar - Também acho. A sério. Acho mesmo. E

Paginação Tomás Melo

Associação Cultural Fazendo

- Não faz mal, não faz mal, limpa-se ao

- Mas o Fazendo devia ter um papel mais

www.comunicaratitude.pt

Propriedade

- É a bruta!

Fazendo é como uma boa parede para ricochete. O que é bom.

Layout Design Mauro Santos Pereira

Revisão

- Quais coisas?

- Dá. Devolve. Recicla. Vamos pôr assim: o

- E essa parede, vai ficar em pé para

Paulo Vilela Raimundo Ruth Bartencshlager Victor Rui Dores

- Mas é.

- É daquele reciclado.

Paulo Bicudo

Aurora Ribeiro

Tiragem 500 exemplares Impressão Gráfica O Telégrapho

Sabine Gieshoff

As opiniões expressas nesta edição são dos autores

lago do jardim.

e não necessariamente

meira vez na Praia do Almoxarife. Em-

O que seria o Faial sem a vista pano-

da direcção do Fazendo

bora, na minha série, já tenha viajado

râmica do Pico? Estadias em Lisboa,

odo de folga da minha profissão como

também a Londres ou até à lua, é no

vividas na ânsia de novos momentos

professora na Alemanha. O Faial e a

Faial que ela se sente bem. Nos meus

no Faial, perfazem o meu ano criativo.

pintura : a minha combinação perfeita.

passeios por esta ilha maravilhosa,

Sabine Gieshoff

Passeio pela ilha e deixo-me levar pe-

inúmeras vacas, cabras e cavalos

Há já quase um ano que vivo no Faial,

Vi a minha “Ninfa de Banho” pela pri-

uma ilha açoriana. Estou aqui a passar um ano de licença sabática - um perí-

As Caricaturas publicadas na

los seus encantos. O ponto de partida

transformam-se em modelos de pin-

para as minhas pinturas são fotogra-

tura. Baleias e golfinhos são igual-

edição do Jornal Fazendo nº86

fias espontâneas de pessoas no Faial.

mente bem-vindos como motivos. E

são da autoria de Manny

Reconhece alguém, caro visitante?

também as belíssimas carpas Koi no


.3 #

O Imperador “Venâncio” Fazendo Crónica

“Lugar em frente ao mar tem que ter

afastamento dos presentes em tão

peixe”, redarguiu o senhor Venâncio a

curto sítio de ricos e saudáveis pitéus.

quem o auxilia em pleno momento de

Há qualquer coisa de mediterrânico ou

atendimento ao cliente. O seu cabelo

mesmo árabe nesta casa de pasto que

branco encaracolado imprime uma

tem tanto de típica como acolhedora

sabedoria que nos faz instantanea-

para lá do condão de nos sabermos

mente sentar numa das seis mesas

numa rua do centro histórico de Angra

do seu pequeno mas requintado res-

do Heroísmo (Santo Espírito, nº7).

taurante. Responde e ri-se, como faz

Almoçar ou jantar no restaurante Ve-

habitualmente, a quem entra pela sua

nâncio é praticar a cultura de uma die-

casa dentro sabendo que “benfiquista

ta mediterrânica, marcada essencial-

crónico” não descrimina gente de ou-

mente pelo peixe, a sopa, vinho tinto,

tro clube, partido político ou religião.

batata cozida, inhame, azeitonas e o

A Casa de Pasto Venâncio anuncia um

respectivo azeite. É que o restaurante

“Cozido à Benfica” mas convém declarar

do senhor Venâncio já existe há mais

que, findas as provas em disputa, não

de três décadas e assim continua a

estamos para grandes euforias fute-

servir o melhor peixe do arquipélago:

bolísticas ou mesmo gastronómicas.

cherne, espadarte, boca negra, sargo,

O convívio, portanto, é pacífico. Esta

e, claro, o famoso imperador, que Ve-

postura não invalida a riqueza e o re-

nâncio não se cansa de elogiar. E, claro,

quinte dos pratos que são servidos

a típica alcatra que, como se sabe, não

neste restaurante e olhem que este

é para deixar nada no prato. O preço do

tem tudo para fazer lembrar os afama-

repasto raramente ultrapassa os dez

dos restaurantes gregos, já que ouvi-

euros por pessoa, com direito a vinho

mos barulho dos tachos e das panelas,

e entradas, constando, com alguma

sentimos os cheiros e os movimentos

sorte, dependendo dos gostos, uma

de quem confecciona tamanhas igua-

aguardente de figo para estabilizar a

rias, por sinal bastante velozes. O que

digestão. Ou não fosse a comida um

comer?

excelente indicador da forma se vive e

Ali não há muita distância entre quem

se sente nesta região…autónoma.

87 JULHO ‘13

ou quando comer no restaurante é um acto de cultura

cozinha e quem come e essa proximidade desfaz qualquer hierarquia ou

Fernando Nunes

Pelo Alargamento dos Passeios Fazendo Cidade

Venho por este meio pedir o alarga-

Por ser impossível a alguém de cadei-

Não sei se é com um abaixo assinado

mento dos passeios da cidade da Hor-

ra de rodas ir a uma loja, ou a uma far-

que vamos lá... talvez.

ta (não de um ou dois mas de todos).

mácia, ou onde quer que seja.

Podem ser todos alargados até que a

Não sei se é com alguns cortes de

faixa de rodagem tenha apenas a lar-

O mesmo deve ser feito em todas as

gura estritamente necessária.

freguesias açorianas, freguesias em

trânsito ao fim de semana... talvez.

Porquê?

linha que não têm espaço para os seus

Não sei para quando... por mim era já

Por ser impossível caminhar lado a

habitantes.

Amanhã!

lado mantendo uma conversa com al-

Antigamente o caminho era o espaço

guém que acabámos de encontrar.

para brincar. Mas o caminho é cada

Por ser impossível conduzir um carri-

vez mais parecido com uma linha de

nho de bébé para o centro da cidade

comboio onde carros passam continu-

sem arriscar a vida do conduzido.

amente.

Tomás Melo


4. #

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Cartas do Exílio IX

Fazendo Viagens

Pela manhã (o barco tinha saído do porto enquanto

pergunta de para que era ele designado, responde

nos plurais!), é bom ver que também têm mapas de

dormia) arrisquei-me a sair do meu camarote. Corre-

que era para todos os passageiros - sendo eu a única

papel e que calculam a nossa posição a cada hora.

dores vazios até ao Convés-B, onde se localizava a

passageira a bordo, até me agradava a ideia de ter

Um mapa de papel não pode desaparecer/danificar-

cantina, ainda sem ver uma pessoa que fosse, ape-

este jeitoso jovem de 27 anos designado só para

-se por erros virtuais, um mapa de papel é como

nas uma mesa preparada com 15 cadeiras vazias.

mim…) fez-me uma “visita guiada” ao barco e tam-

receber uma carta pelos correios: algo para poder

Justamente quando me sentei numa das cadeiras,

bém um teste de segurança.

agarrar nas mãos em vez de observar por um ecrã.

um homem finalmente apareceu abanando os seus braços. Veio ter comigo dizendo que não me podia

Coletes salva vidas, fatos de sobrevivência, o que fa-

Como nunca estive no exército nem na marinha le-

sentar ali, “isto é o lugar do capitão!”… Eu sempre

zer em caso de incêndio, o que fazer em caso de ho-

vou-me algum tempo para me habituar aos diferen-

tive um bom instinto! As horas das refeições eram

mem ao mar, etc… E quando me explicou, em detalhe,

tes postos e a sua hierarquia. No topo (obviamente

afixadas na porta de entrada da cantina, mas nem

como fazer para descer o barco salvavidas em caso

até para mim) está o Capitão, que, pelas suas pró-

para o almoço nem para o jantar, nunca aparecia

de ter que abandonar o navio, eu comecei a duvidar

prias palavras, “não seria nada sem o meu oficial che-

ninguém excepto o empregado que me servia. Onde

se seria a única a bordo em caso de emergência?

fe/engenheiro”. Até agora fácil, mas depois temos o 1º, 2º, 3º oficiais e engenheiros, oficiais de serviço,

estarão todos? Parecia que este navio navegava so-

Também me levou até à ponte onde se encontra-

zinho, comandado por mãos fantasmas… Finalmen-

vam não apenas um, mas sim dois oficiais de serviço

oficiais designados, oficiais de recorrência - pode-se

te, ao fim do segundo dia a bordo, um jovem rapaz

a todo o tempo. Um nível acima, Convés-G, isto se-

ser o 2º oficial designado de serviço, percebes? Tem

usando calções e flip-flops entrou na cantina. Talvez

ria o nono andar se estivéssemos num edifício, 47

electricistas, “oleadores”, pessoal dos motores, pes-

um marinheiro que acabou o seu turno ou possivel-

metros acima do nível do mar (e que vista!). O mar

soal dos convés, bem como o marinheiro qualificado

mente um ajudante do cozinheiro; em vez disso ele

parece tão liso como uma panqueca e a visibilidade

(able seaman - AB, de qualquer forma não existem

apresentou-se como o Capitão do navio.

(agora que tínhamos deixado a China ia melhoran-

marinheiros não qualificados, excepto eu, talvez,

Bem, talvez ele não fosse assim tão jovem como eu

do a cada minuto) era de 20 milhas náuticas, quase

no fim da lista: o passageiro). Por vezes é difícil não

pensava, ou será que sou eu que estou assim tão

equivalente a 40 km! Mesmo com toda a tecnologia,

fazer nada enquanto todos à tua volta estão traba-

velha??

radares, pilotos automáticos, GPS’s, Sistemas de

lhando (talvez deveria pôr a mesa ou limpar a piscina,

No terceiro dia, o oficial designado (após a minha

identificação automáticos, fax’s, emails…(reparem

tarefas com as quais estou familiarizada). Ruth Bartenschlager

Os Pomares do Concelho

Fazendo Pomares

As múmias da cultura portuguesa, es-

da Ponta Ruiva, vem entrar no mar a

Terceira, no Século XVI, apercebi-me

critores e pensadores de séculos pas-

grande ribeira da Praia, que dantes

de um número extremamente baixo

de bens transacionáveis, sem custos

sados, morrem naufragados pelo pó,

foi muito fresca, com uma fajã que

de pobres. Apesar dos registos serem

significativas de investimento, surge esta sugestão de 500 anos. Que os

aumentar a produtividade nacional

como se por esta pequena moradia

estava ao longo dela, de uma e doutra

muito incompletos para esta centúria,

a que chamamos Portugal existisse

parte, onde havia muita fruta de figos

a verdade é que a pobreza, nessa ilha,

municípios organizem bolsas de terras

espaço para um sótão escondido da

e uvas, do concelho [Água de Pau, ilha

era extremamente baixa. Aliás, o nú-

e edifícios, que possam ser empres-

inteligência nacional. Os seus escritos,

de S. Miguel], para quem quer que as

mero de pobres nos Açores aumenta

tadas a quem as queira trabalhar e os

por vezes, contêm ainda muitos no-

queria”.

na exata proporção em que estes po-

queira explorar. À escala municipal es-

mares vão sendo extintos, obrigando

sas bolsas de terras podem significar a solução concreta para milhares de

vos ensinamentos, de bom uso, para quem os quiser escutar. Foi nessa

Assim, ao invés de oferecerem forma-

os desfavorecidos a emigrarem para

perspetiva que li “Saudades da Terra”,

ção profissional na área das jardina-

o Brasil.

de Gaspar Frutuoso, um dos vultos de

gens e muitas outras coisas do género,

grande erudição que andou por terras

pouco úteis nas múltiplas formações

Num quadro de plena crise financeira,

terrenos municipais baldios, com pou-

açorianas na centúria de Quinhentos.

profissionais

pega-

onde as novas são sempre de deses-

co valor de mercado, sem que os mu-

vam em terras públicas municipais e

perança, os sacrifícios pedidos aos

nicípios tenham investido um cêntimo.

Dir-me-ão que os tempos são diferen-

faziam com que aqueles que nada ti-

cidadãos portugueses são cada vez

O mesmo se passa em imóveis devolu-

tes. Nessa altura existiam pioneiros

nham, as pudessem cultivar e prover

mais difíceis de suportar. Pessoas

tos. Mais do que se acarinhar projetos

e conquistadores, ao contrário das

ao seu próprio sustento. Afinal, apesar

sem ocupação, que ficam impedidas

de agricultura biológica, permacultura,

portuguesas e dos portugueses dos

de acreditarem em adamastores, de

de prover o seu próprio sustento, a

hortas biológicas, porquanto exóticos,

dias de hoje. Para lá das muitas rezas

parvos os nossos antepassados não

quem se lhes rouba a sua dignidade,

é necessário perceber que eles são

e benzeduras da igreja, havia mais

tinham nada. A fórmula devia resultar

sendo que já não há Brasis para povo-

talvez a nossa única esperança.

que isso, existiam pomares do conce-

pelo arquipélago, pois quando pes-

ar. Quando se procuram medidas con-

lho: “na entrada do qual areal, depois

quisei os registos de defuntos da ilha

cretas para diminuir o desemprego,

institucionais,

pessoas, em empréstimos a 5, 10 ou 15 anos, bem como podem revalorizar

José Luís Neto


.5 #

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Luís Brum

“A propósito de Natália… entre letras e linhas.”

Fazendo ArtesPlásticas

Num ano em que, um pouco por todo o território na-

teia vem precisamente coincidir com o intento da ho-

lembrar outros (ou outra…) que lutando pelo direito

cional, se reverencia a memória de Natália Correia,

menagem, e recorrendo à sua linguagem conceptual

à construção do futuro, recorreram a “ferramentas

não poderia o Instituto Açoriano de Cultura manter-

que já se torna conhecida, “reescrevendo” Natália a

culturais” que sempre se mostraram eficazes.

-se à margem dessa homenagem por demais mereci-

partir de um conjunto de cenários ficcionados, po-

Sabendo que o futuro se constrói, é nossa obrigação

da, onde justificadamente se reconhece a dimensão

rém dolorosamente prováveis, onde personagens

participar responsável e ativamente na sua discus-

desta Açoriana que, das artes literárias à politica

antropomórficas contextualizam leituras do passa-

são, homenageando os que em todas as gerações

ativa, marcou claramente a sua época e as vindouras.

do com preocupações do presente, estabelecendo

lutam para lapidar ideias e conceitos aparentemen-

Como qualquer obra literária de vulto, a sua leitura e

uma ponte geracional entre posturas contemporâ-

te dispensáveis, mas que realmente se tornam no aglutinante identitário de um povo.

interpretação ao longo dos tempos permite a rein-

neas.

terpretação dos seus conteúdos, tornando possível

A materialização deste conjunto de desenhos, e a

Esta exposição estará patente na sede do Instituto

a influência conceptual em áreas distintas desta,

sua apresentação pública que agora se inicia, cria a

Açoriano de Cultura, ao Alto das Covas, em Angra do

como as artes visuais de um modo geral e o desenho

desejada e merecida oportunidade de mostrando a

Heroísmo, até ao final do mês de julho. Disfrutem!

de um modo particular.

obra do jovem e promissor artista Luís Brum, que em

A exposição com que o artista Luís Brum nos presen-

boa hora aceitou o convite que lhe endereçámos, re-

Paulo Vilela Raimundo

Margarida Madruga Exposição “A Ponta do Pico” na Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça

Fazendo ArtesPlásticas

Margarida Bem Madruga cobriu a

com técnica, e recorrendo a tinta de

Erguendo-se do mar em beleza petri-

montanha do Pico de tintas, mantas,

esmalte acrílico sobre tela, a pintora

ficada, a soberba montanha do Pico

Alma-mater que se desnuda com pu-

panejamentos e poesia.

abre a cortina do assombro e recria,

apodera-se dos nossos sentidos. O

dor ou veste o colete da altivez? Um fantasma extraordinário? Um gigante

Uma monumental estátua de basalto?

Nós contemplamos a montanha e a

reconstrói e reinventa a montanha

resultado salta à vista nestes qua-

montanha contempla-nos. A sua im-

do Pico com outros modos de olhar:

dros: aquele espectáculo de todo o

recortado de brumas? Mistérios de

ponência é, diariamente, objecto de

novos ângulos e diferentes enquadra-

ano apresenta-se-nos em todo o seu

fogo? Sentinela do Atlântico? Farol?

fruição estética. Nosso barómetro de

mentos.

esplendor pictórico, cénico e místico. E

Barca? Cada um fará a sua leitura, por-

todos os dias, a sua altitude máxima

Mas atenção: esta picarota não pin-

o que vemos quando olhamos a mon-

que a beleza das coisas está sempre

é de 2.351 metros de lava, mistério e

ta o Pico que vê do alto da sua

maravilha, constituindo o ponto mais

casa da rua Cônsul Da-

alto de Portugal. Nos seus flancos

bney – ela pinta o Pico

ocorreram inúmeras erupções predo-

que sente na alma.

minantemente efusivas. Ténues fu-

tanha? Um seio gigantesco com apetecível

mamilo?

no olhar de quem as vê.

Um

Uma coisa é certa: nesta exposição

enorme falo erup-

colhemos todos os efeitos de luz da

tivo?

colossal montanha, que agora está violeta, logo está da cor do fogo. Mas

mos brancos, visíveis na ponta do Pico,

também pode cobrir-se de negro, cin-

atestam que o vulcão não cessou ain-

zento e gradações de azul e rosa. Ou

da completamente a sua actividade.

amanhecer em neve. Ou desfalecer

A não menos vulcânica Margarida, ar-

em roxo, com a lua enorme a nascer

quitecta reformada e pintora no acti-

por trás daquela nuvem surrealista…

vo, lança, nesta exposição (patente ao

Tal como o pico do Pico que coroa e/

público de 11 de Julho a 27 de Setem-

ou fura as nuvens amontoadas, esta

bro) olhares sobre esta montanha que

exposição de Margarida Madruga atrai,

nunca apresenta duas vezes o mesmo

encanta e fascina o olhar. Nas tintas

aspecto, pois que a luz que a enforma

ténues trespassadas de sentimento.

está sempre em constante mutação.

Na claridade envolta em neblina. No

A pintura é uma arte generosa, sabe-se. E, em Margarida Madruga, a arte é já o domínio da técnica. Com arte e

branco delicadíssimo. Nas transparências do sonho forrado de névoas… Victor Rui Dores


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87 JULHO ‘13

Jazz em Portugal

Fazendo Música

No não-tão-distante Portugal, porque Portugal

profissionais de jazz em Portugal surge por volta dos

desenvolvimento de um mercado discográfico antes

está mais ligado ao jazz que aquilo que se possa

anos 40. Nesta década, começam as primeiras gran-

quase inexistente neste género (a nível nacional).

pensar, parece legítimo especular que existe uma

des movimentações do colectivo “Hot Clube” que

Para o aumento da divulgação muito contribuíram

certa ligação cultural à origem do jazz.

promoveu os primeiros festivais em parceria com al-

boletins e desdobráveis, além de programas de

Considerando os longos séculos de ocupação em

guns dos espaços acima referidos, ligados também

rádio já existentes e programas como o “TV jazz”

África, incluindo o papel dos portugueses nas rotas

ao que viria a ser o “Clube Universitário de Jazz” que

(1962-1971) de Manuel Jorge Veloso, que transmitia

de escravos (apesar de também ter sido um dos pri-

manteve um Boletim com o mesmo nome, e entre

excertos de programas do mesmo género da BBC e

meiros países ocidentais a abolir a escravatura) está

1958 e 1961 contava com 2000 sócios mas acabou

dos EUA, muito marcado pela captação em estúdio

quase intrínseco nestes factos que o jazz corre no

por ser encerrado pela PIDE/PSP.

(em Portugal) de algumas personalidades reco-

sangue dos Portugueses.

O ‘Hot Clube de Portugal’, fortemente impulsionado

nhecidas no estrangeiro. Só depois da revolução e num ambiente de maior liberdade reapareceram os programas do género e com um conteúdo cada vez mais original, pela mão de Duarte Mendonça - “Jazz para todos” (1981) e “Clube de Jazz” (1985) seguidos por muitos outros. Internamente o jazz ganhou uma nova vitalidade e começaram a aparecer os primeiros “frutos” resultantes de uma formação de qualidade e da criação de um mercado efetivo. Nestes anos e até 80 - 90, destacou-se Rão Kyao, próximo de uma linguagem jazz, foi impulsionado por músicos/professores como Gualdino Ribeiro, que funcionaram como espécie de “olheiros” atentos às qualidades de músicos dentro e fora das escolas, e lançando-os no mercado. À semelhança de Rão Kyao, o mesmo aconteceu com outros nomes importantes no panorama musical Nacional como Jorge Palma e Bernardo Sassetti (mais recentemente). Além da música de inspiração americana muito

As primeiras referências ao jazz em Portugal apare-

por Luís Villas-Boas, e fundado em 1948 consegue,

bem desenvolvida por Portugueses, é de salientar o

cem datadas da segunda década do século XX. Um

depois de várias tentativas, uma sede na Praça da

carácter multicultural presente no trabalho de mui-

dos artigos conhecidos remonta a 1924 e é intitula-

Alegria que se tornou muito emblemática e por onde

tos destes artistas nacionais, temos o exemplo do já

do: “A propagação do Jazz-Band” na revista ‘‘Ilustra-

passaram grandes nomes do jazz ao longo dos anos.

referido Rão Kyao, mas bem dentro da áptica do jazz

ção Portugueza’’. Também é de notar um dos títulos

Foi a primeira plataforma “estável” do género o que

contemporâneo (apesar de também ter sido forma-

de uma importante obra/conferência, “A Idade do

em muito potenciou a propagação do jazz pelo país.

do em música clássica), encontra-se Mário Laginha,

Jazz-Band” (1923), pelo artista/jornalista/político

Anos mais tarde, em Coimbra, paralelamente surge

que, como outros, é mais que conceituado, tanto

António Ferro, uma figura incontornável das políti-

um Clube de Jazz do Orfeão Académico, não obs-

dentro como fora de fronteiras nacionais. Isto é ex-

cas culturais e incondicionalmente ligado à arte em

tante todas as barreiras que dificultavam a criação

plicado pela singularidade do seu estilo e unicidade

Portugal. O ponto de vista deste autor é bastante

de clubes e os ajuntamentos deste tipo, os festivais

da sua cultura musical, também derivada da tal mul-

amplo e esclarecedor, conferindo uma importante

internacionais de jazz chegam também, apesar de

ticulturalidade inerente ao ser Português bem pre-

perspectiva sobre a arte que infelizmente não ire-

tardiamente, a Coimbra. Analisando de uma forma

sente no trabalho COR encomendado pela Comissão

mos aprofundar muito aqui. Deixamos no entanto

distante estes eventos, salta à vista uma grande

Nacional para as Comemorações dos Descobrimen-

a seguinte citação da obra supra referida. “A arte

apetência por parte de um publico provavelmente

tos Portugueses no âmbito da Expo 98 (em conjunto

gera a Vida, como a Vida gera a Arte. Arte e Vida

numeroso e cuja dimensão é difícil de calcular. Talvez

com Maria João na voz).

estão quites. Abram os olhos, abram os olhos para

os grandes nomes Miles Davis e Keith Jarret (entre

o grande milagre...” (nesse momento o milagre era a

outros) presentes no primeiro Cascais Jazz (1971),

interrupção da conferência pela aparição em palco

demonstrem o quão ‘anómala’ é esta misteriosa pai-

dum Jazz-Band e dum corpo de mulher em dança

xão num país sem tradição muito marcada neste gé- “jazz”, se tenha imortalizado e ganho tantos signifi-

Uma conclusão

Ésurpreendente notar que esta palavra tão simples,

(...) ) ( Prosseguindo com a nossa história do jazz em

nero de música. Mas se não tem Portugal, tem o Bra-

Portugal nos anos 30 ) Sendo esta época já marcada

sil, e tem também a sua própria forma de “jazz” que é

uma arte em si, e um modo de vida, que, apesar de

pelo período do estado novo, e estando o jazz em

a Bossa Nova, resultado também de uma mistura de

todo o trabalho erudito que sofreu, continua a ser

cados ao longo dos tempos. É um estilo de música,

Portugal circunscrito a uma elite com algum con-

linguagens, o que também pode ter alguma influên-

aquilo que era na origem: um improviso, alegre ou

tacto com o estrangeiro (não muito mais que isto),

cia no gosto por estas artes no mundo da lusofonia,

triste, só ou acompanhado. Um improviso que so-

esta música ouvia-se em concerto nalguns clubes

que não iremos aprofundar aqui por ter contextos

bressaiu como fumo por entre as brechas de fortes

restritos, casinos e hotéis famosos. Como exemplo,

claramente diferentes.)

muralhas de opressão, para se re-materializar anos

havia em Lisboa: o Bristol, Máxime e o Teatro Monumental (Que acolheram espetáculos das primeiras bandas negras norte americanas durante os anos

Pós 25 de Abril

mais tarde numa forma musical de múltiplas expressões. Ligado, inevitavelmente, a um estilo de

Portugal é uns país de reduzidas dimensões e por

linguagem verdadeiramente global, pelas origens

20). O ‘Máxime’, o ‘Ritz Clube’ e o Casino Estoril che-

conseguinte o jazz tem um número reduzido de

culturais que marcaram o seu nascer e possivelmen-

garam a ter orquestras residentes que se mantive-

adeptos (tendo em conta também o contexto desta

te permitindo que este se ramifique e interligue com

ram por vários anos. Naqueles tempos, a maioria dos

cultura nos períodos já referidos), o mesmo de uma

outras culturas no futuro. Pois está no espírito que

músicos não eram especialistas num tipo de música,

forma relativa pode não ser verdade. E se desde

o fundou o prolongamento de um tronco com raizes

tocando aquilo que era comercialmente bem aceite,

cedo o jazz americano esteve presente no nosso

num solo culturalmente fértil e abrangente na com-

dando-se o caso de muitos destes temas a certa al-

país, só nesta contemporaneidade pós-25 de abril

posição diversa que o caracteriza.

tura serem de jazz ou inspirados nesse estilo.

é que se pode falar de um jazz português, já mais

A primeira geração a que se pode chamar músicos

independente, com o aparecimento de escolas e o

Paulo Bicudo


.7 #

87 JULHO ‘13

Ensemble da Sé de Angra Fazendo Música

www.ensembleseangra.wordpress.com

Com um ano de existência, o Ensemble

que “o jovem ESA merece toda a nossa

da Sé de Angra (ESA) tem-se afirmado

atenção já que se trata de um grupo

como um dos grupos de referência no

(…) especializado na interpretação de

panorama da música antiga nos Aço-

polifonia (…). Jonathan Ayerst, director

res. Este agrupamento foi criado em

do grupo Capella Duriensis afirma que

Maio de 2012 no seguimento da apre-

“o ESA atingiu óptimos resultados num

sentação (realizada a 16 de Junho) do

curto espaço de tempo. O ESA já inter-

triplo-CD “Música Sacra Portuguesa

preta obras de alto grau de dificuldade

Século XIX: Arquivo Capitular da Sé

com uma correcção vocal e estilística”.

de Angra” pelo Coro da Sé de Angra,

XVI e XVII e participando no concerto

sa Ferialis e a Missa pro Defunctis de

Segundo a musicóloga e crítica musi-

dirigido pelo Pe. Duarte Gonçalves-

de Natal promovido por esta institui-

Manuel Mendes, motetes de Estêvão

cal Vanda de Sá “o ESA conjura rigor

-Rosa, tendo apresentado a Missa Fe-

ção a 20 de Dezembro, com um progra-

Lopes Morago, a única obra completa

musicológico, conhecimento de repor-

rialis de Manuel Mendes (c.1547-1605).

ma dedicado a vilancicos portugueses

que se conhece de Mateus d’Aranda

tório e cuidadosa selecção musical. O

Participou também, junto com o coro

para o Natal do século XVII. Ainda a 1, 2,

(c.1495-1548) entre outras. Até ao

bom gosto, associado à praxis histori-

litúrgico, no festival “Música Ibérica

3 de Fevereiro de 2013, realizou con-

momento o trabalho deste agrupa-

camente informada, permitem prever

Séculos XVI & XVII”, organizado pelo

certos nos Biscoitos, Angra do Heroís-

mento tem-se circunscrito apenas à

um projecto com futuro consistente”.

Coro da Sé, que também teve a partici-

mo e Praia da Vitória onde apresentou

ilha Terceira. Contudo, este aparente

O musicólogo Filipe Mesquita de Oli-

pação dos organistas Ricardo Toste e

novo programa constituído por polifo-

isolamento tem sido em parte colma-

veira diz que “contrariando a estagnação do passado (…), o ESA constitui-se

Nelson Pereira, percorrendo de 27 de

nia para a Quaresma do século XVI e

tado através da gravação de todos

Julho a 5 de Agosto as igrejas do Colé-

XVII de compositores ligados à Sé de

os concertos até agora realizados e

como um marco nessa revalorização

gio, S. Gonçalo, Sé, N. S. da Guia, Con-

Évora assim como a Missa pro Defunc-

consequente divulgação no YouTu-

[musical], com toda a fidelidade histó-

ceição e Misericórdia em Angra do He-

tis de Manuel Mendes.

be. Através deste meio, assim como

rico-interpretativa”.

roísmo e Matriz de Santa Cruz na Praia

O ESA tem centrado o seu trabalho

também pela página do grupo no Fa-

Integram neste momento o ESA Caro-

da Vitória. Em Setembro desse mesmo

na divulgação de música sacra portu-

cebook, tem ganho grande reconhe-

lina Barbosa e Sara Vieira (sopranos),

ano o ESA realizou uma parceria com a

guesa dos séculos XVI e XVII, de com-

cimento a nível nacional e, inclusive, a

Ana Sousa e Raquel Barbosa (altos),

Biblioteca Pública e Arquivo Regional

positores e obras menos conhecidas

nível internacional. Várias figuras emi-

Luís Henriques e Ricardo Costa (te-

de Angra do Heroísmo, realizando a 20

no panorama da música antiga em

nentes no panorama da música antiga

nores) e Jorge Barbosa e Basílio Sousa (baixos).

desse mês um concerto comentado

Portugal. Desta forma, tem trazido ao

lhe têm tecido os maiores elogios. So-

com polifonia portuguesa dos séculos

conhecimento geral obras como a Mis-

bre o grupo, o barítono Rui Baeta diz

Duarte Lobo e a Sé de Angra

Duarte Lobo (c.1566-1646) foi um dos composito-

do musical do Arquivo Capitular da Catedral, foram

res portugueses mais conhecidos pela Europa. A

identificados na Sé de Angra dois impressos – cor-

obra musical impressa que se lhe conhece – que

respondendo ao Cantica Beatae Virginis (1605) e

compreende seis volumes – foi editada em Lisboa e

ao Liber Missarum (1621) – de Duarte Lobo, ambos

Antuérpia. Esta última cidade conheceu a edição de

em muito bom estado de conservação, supondo-se

quatro volumes de polifonia, impressos por Baltazar

conservarem ainda a encadernação original. Pelos

Moreto na célebre Officina Plantiniana, conhecida

registos da Officina Plantiniana sabe-se que do pri-

em toda a Europa pelas suas primorosas edições

meiro volume foram impressos 350 exemplares e

musicais. Nesta oficina foram impressas em 1602

do segundo volume 200. Para além destes dois im-

Opuscula…, em 1605 Cantica Beatae Virginis, em

pressos foi ainda identificado um terceiro – Cantica

1621 o Liber Missarum e, em 1636, o Liber Missarum

Beatae Virginis – de Frei Manuel Cardoso, impresso

II. Este facto terá certamente contribuído para o

em Lisboa por Pedro Craesbeeck em 1603. Das obras

conhecimento da obra de Lobo. De salientar que em

de Lobo destaca-se o Liber Missarum de 1621. Deste

Inglaterra o motete Audivi vocem de caelo ganhou

volume conheciam-se no mundo até à data somente

grande popularidade, devido ao volume do Liber

treze impressos distribuídos por Portugal (Coimbra

Missarum (1621) que se encontra na Bodleian Libra-

(3), Lisboa (2), Évora (1) Elvas (1) e Lamego (1)), Sevi-

ry em Oxford. Ainda no século XIX este motete era

lha, Badajoz, Córdova, México e o atrás mencionado

cantado pela Madrigal Society de Londres, fazendo

existente em Oxford. O décimo quarto foi identifica-

parte de uma prática secular.

do na Sé de Angra.

Em Maio de 2012, no âmbito da catalogação do fun-

Luís Henriques

Luís Henriques


8. #

87 JULHO ‘13

Abreviadas Manuel Lima Manuel Edu- Planeta ardo Viana Tangerina (34 anos) Best Publisher of (68 anos) designer the Year 2013 Em 2005, fundou a Visual Creativity,

Manuel deixou as Lajes do Pico, sua

A pequena editora portuguesa Pla-

Martins, igualmente Madalena Mato-

com o objectivo de criar formas de

terra natal, a pedido da mãe, meteu-

neta Tangerina foi eleita a melhor

so em 2008 com “A Charada da Bicha-

visualização de todo o tipo de dados, -se num barco e rumou ao Rio de Janei-

editora de literatura para a infância

rada” e texto de Alice Vieira.

desde o comportamento do tráfego,

ro, onde viveu uma década. Em 1972,

e juventude da Europa, na Feira do

Actualmente, trabalham na Planeta Tangerina sete pessoas e já foram edi-

numa cidade, às línguas visadas no

encetou nova emigração desta feita

Livro Infantil de Bolonha deste ano.

Twitter, em Londres. Quatro anos mais

para a Califórnia, onde já estavam ou-

Venceu, ainda, a 1ª edição do Bolonha

tados cerca de trinta livros. As ideias e

tarde, já a revista americana Creativi-

tros familiares. Cinco anos mais tarde

Prize, além de uma Menção do Júri na

os temas por dentro dos livros são uni-

ty o nomeava uma das mentes mais

comprou a um tio uma empresa que

categoria de primeira obra pelo livro “A

versais e cativantes. Cada livro é um

criativas e influentes do ano. Manuel

plantava, armazenava, encaixotava

Ilha”, de João Abreu e Yara Kono.

objecto especial e o nível gráfico é de

Lima, açoreano, vive em Nova Iorque;

e vendia batata-doce. Daí para cá, a

Nasceu em 2004 pela mão de: Isabel

grande qualidade e frescura.

é licenciado em Arquitectura do De-

empresa cresceu, especializou-se e

Martins, Madalena Matoso e Bernar-

A Planeta Tangerina também partici-

sign e, entre muitas outras distinções,

tornou-se nº 1 mundial na produção de

do Carvalho; três amigos da escola

pa em experiências teatrais como os

é Fellow da prestigiante Royal Society

batata-doce biológica. O êxito na terra

secundária que seguiram juntos para

espectáculos “Daqui Vê-se Melhor” ou

of Arts.

das oportunidades não o fez esquecer

Belas-Artes. Como atelier de design

“Eu Também Moro na Ponta dos Pés”,

Visual Creativity é utilizada em áreas

Portugal e, em 2010, foi inaugurado

de comunicação respondiam a enco-

em parceria com a Produções Inde-

tão distintas como a biologia, redes

pela sua mão o hipermercado: Lages

mendas directas de museus, editoras

pendentes.

sociais ou internet. À medida que

Shopping, na Ilha do Pico (30 trabalha-

e bibliotecas. Como editora arriscaram

Este bom salto impulsiona-os para

cientistas, designers e investigado-

dores).

e criaram uma linguagem gráfica assaz

livros atrevidos, de cantos redondos,

res mapeiam muitos destes sistemas

inovadora.

loucos, preciosos, deslumbrantes, es-

complexos, o seu esforço conjunto

Juntou-se à equipa fundadora a de-

timulantes, bem condimentados.

assemelha-se à sintaxe de uma nova

signer gráfica e ilustradora Yara Kono,

É uma aventura deliciosa brincar com

linguagem. O intuito do seu trabalho

a qual ganhou o Prémio Nacional de

estes amigos.

é tentar interpretar e descodificar a

Ilustração 2010, com o livro “O Papão

linguagem científica, tornando a in-

no Desvão” e texto de Ana Saldanha.

formação sexy, como apontou a CNN

Anteriormente

quando o entrevistou, e dá-la a conhecer ao público. VisualComplexity.com

também

Bernardo

Carvalho em 2009 o conseguiu com “Depressa, Devagar” e texto de Isabel

Cristina Lourido


.9 #87 JULHO ‘13

Cais do Pico a Vermelho e Negro Fazendo História

Setembro de 1930.

Ainda não se soletrava “Estado Novo”, ou “União Na-

água canalizada. Os quinze deportados vermelho-

cional”. Depois do golpe militar do general Mendes

-e-negro foram recebidos com carinho e simpatia

Cabeçadas, em 28 de Maio de 1926, Salazar, depois

Emílio Rodrigues Ferreira, Manuel Soares, Celestino Augusto de Freitas, Gustavo Goulart…

pelos habitantes.

Nesta sua vida, além de alguma participação na vida

de umas duas semanas como Ministro das Finanças

local, um ou outro passeio, algumas vezes até jun-

nesse ano, só começaria a “endireitar” as contas pú-

Um destacado militante anarcosindicalista Mário Castelhano é deportado para a ilha do Pico

to dos deportados que estavam nas Lajes (como o

blicas a partir de 1928 – tarefa que deu como cumprida em 1932. O seu Estado Novo viria logo em 1933, vestido a preceito com uma Constituição e um Partido, único, à medida, a União Nacional. Óscar Carmona era Presidente da República (1930-31).

Setembro de 1930.

O regime, que ainda não era salazarista e esta-

donovista – fascista –, vinha a “dar neles” desde o tempo da monarquia constitucional, e depois, mais feramente, durante os tempos que se seguiram à República implantada em 1910: “davam” nos anarco-sindicalistas, mistura vermelha e negra: Bakunine, ideologia libertária, comunismo. “Dar neles”, forte e feio, queria dizer, feridos, mortos, deportados – para

cialmente – como no jornal local O Picoense, onde o Administrador do Concelho impunha a censura, chegando ao cúmulo de riscar das provas tipográficas a palavra “democracia”. Os laços de simpatia entre os deportados e a população chegaram a ser muito estreitos. Essa «solidariedade moral», como lhe chama Mário Castelhano, foi eloquente na partida (Abril de 1931): no pequeno cais juntou-se gente do Cais do Pico e arredores, de S. Roque, Santa Luzia e outros pontos e a despedida foi feita com mulheres e homens «com os olhos marejados de lágrimas». «Abraços sinceros remataram a despedida.» Os meses de convívio com a população picoense e a

a morte certa.

Setembro de 1930.

célebre secretário geral do Partido Comunista Português, Bento Gonçalves). A sua vida era calada ofi-

O Governo de Lisboa não tinha providenciado aloja-

despedida comovente, tocou profundamente a sen-

mento para aquele grupo de portugueses empurra-

sibilidade dos deportados da ditadura. Do Faial, en-

Um destacado militante anarco-sindicalista, Mário

dos para uma terra estranha. Viveram uns tempos

viaram uma saudação escrita, onde sobrelevam os

Castelhano – nascido em Lisboa, em 1896 – é depor-

em precárias condições de alojamento, higiene e ali-

ideais humanistas da sua luta revolucionária. E vale

tado para a ilha do Pico; a morte, essa, foi ter com ele

mentação; até que apareceu o senhor Manuel Garcia

a pena transcrever o seu final: «A vós, população do

ao campo de concentração do Tarrafal.

da Rosa e lhes cedeu o primeiro andar da sua casa,

Cais do Pico, a vós, povo de sentimentos altruístas,

que ficou conhecida como a Casa dos Deportados.

daqui lhes enviamos (…) a nossa sincera saudação. E

Outubro de 1930.

Aqui viveram, apesar das enormes dificuldades de

como se nos secaram as lágrimas, como já não sabe-

A 16 de Outubro, Castelhano e mais quatorze seus

sobrevivência, aliás, semelhantes às da generalida-

mos chorar, estas linhas traduzem o preito do nosso

companheiros deportados atravessaram o Canal

de da população do Cais, na melhor harmonia, anar-

reconhecimento pela vossa inconfundível atitude. A

entre o Faial e o Pico, a bordo de um pequeno gaso-

quistas, sindicalistas, comunistas e republicanos. Os

todos, um grande abraço de despedida.»

lina, como refere nas suas memórias (Quatro Anos

ideais deste heterogéneo grupo não eram de todo

Mário Castelhano foi do Pico enviado para a Madeira,

de Deportação, 1931). O mar estava terrível e só

estranhos a alguns dos homens do Cais, embora por

onde participou na insurreição da ilha contra o Go-

chegaram ao seu destino, o Cais do Pico, depois de

diferentes motivações e estados de espírito. Caste-

verno; com a derrota deste movimento, fugiu da ilha,

passarem por S. Mateus. O Cais teria, segundo ele,

lhano recorda com carinho os nomes de Francisco

embarcado clandestinamente no porão do navio

cerca de mil habitantes. Sem iluminação pública ou

Ramos da Silveira, Tristão de Brito, Almério Tavares,

Niassa. Em 1933, estava de novo à frente do secretariado da CGT e faz parte do grupo que organizou o 18 de Janeiro de 1934. Preso a 15 de Janeiro, três dias antes do movimento, foi condenado pelo Tribunal Especial Militar a 16 anos de degredo. Embarcou em Setembro de 1934, com destino à Fortaleza de S. João Baptista, em Angra do Heroísmo, e em Outubro de 1936, para o campo de concentração do Tarrafal, ilha de Santiago, Cabo Verde, onde veio a morrer em 12 de Outubro de 1940. Não sabemos como ficaram os homens e as mulheres do Cais, a terra picoense que durante cerca de 7 meses se vestiu solidariamente a vermelho e negro. Carlos Alberto Machado


10. #

87 JULHO ‘13

Jorge Barros e Raul Brandão:

Tradutores do Deslumbramento! Fazendo Literatura

“Começa agora a ouvir-se a voz trágica do vento que geme, adquire uma sonoridade que põe medo e clama nos altos como se fosse a voz da cratera, bradando aos céus. Esta paisagem morta, esta cor de glicínias das pedras, as vagas fantásticas do nevoeiro, descendo até ao lago para ascender e ficar suspenso como um velório, dão-me uma cena irreal que me custa separar. Não compreendo bem, não sinto bem a vida desta coisa monstruosa e oculta no oceano só para as aves e os pastores. Há em mim uma apreensão, medo de interromper este grande silêncio e de chegar a ouvir esta grande mudez.” “O Caldeirão do Corvo” in Diário da Tarde, Lisboa, 31 de Dezembro de 1925, p.5 (presente no livro “A Pedra ainda espera dar flor, recolha de textos de Raul Brandão por Vasco Rosa).

Na subida do lado direito da rua da Mi-

escrito para fotografar, com superior

daqueles povos que Raul Brandão de

ragaia, em Angra do Heroísmo, depa-

técnica e espanto, pois claro. Com de-

forma excelente descreveu em 1924.”

ramo-nos com o edifício dos Capitães

vido respeito pelo verbo fotografar

Oitenta e nove anos depois, é assim

Generais. É ali que está patente ao

acrescentou-lhe o olhar de um pro-

que um fotógrafo, natural de Alco-

público a extraordinária exposição de

fundo viajante. A descrição que Raul

baça, retoma e reaviva visualmente o

fotografia intitulada “As Ilhas Desco-

Brandão faz das ilhas açorianas assus-

encantamento de uma obra maior da

nhecidas” do fotógrafo Jorge Barros.

ta, impressiona, ilustra como ninguém

literatura de viagens, demonstrando

Aberta ao público visitante, esta ex-

o deslumbramento destas ilhas atlân-

com uma mestria assinalável o des-

posição permite visitar também este

ticas. Nesta exposição podemos olhar

lumbramento destas ilhas. É caso para

antigo Colégio dos Jesuítas, adaptado

a fotografia e a obra de Raul Brandão,

dizer: “As Ilhas Desconhecidas” estão

a residência dos Capitães Generais a

lado a lado, lendo o texto, vendo e

bem vivas e… recomendam-se!

partir de 1766 ou ainda ver a sala de

sentindo o que cada um consegue fa-

retratos a óleo, em dimensão natural,

zer de melhor: literatura e fotografia.

dos reis da dinastia de Bragança até D.

O resultado só podia ser admirável.

Maria II.

No dia de apresentação logrou-se, a

O fotógrafo Jorge Barros visitou os

propósito da exposição, ler o seguin-

Açores e a Madeira entre 2008 e 2011,

te texto do fotógrafo sobre “As Ilhas

sendo sempre acompanhado pelo li-

Desconhecidas” numa vitrina no in-

vro de Raul Brandão “As Ilhas Desco-

terior da sala: “A sua leitura originou

nhecidas”, ao qual presta por diversas

sempre novas descobertas, permi-

vezes tributo e acautela evocações e

tindo ir fotografando ilha a ilha, lugar

referências. É sabido que este livro é

a lugar sempre com o sentido de ir de

um monumento, uma ode amorosa ao

encontro ao espírito do texto entre o

arquipélago açoriano e não só. Jorge

impressionismo da paisagem – luz e

Barros aproveitou-se do que está lá

silêncio – e sobretudo, o humanismo

Fernando Nunes

O verão chegou

Fazendo Saúde

O verão chegou e com ele os banhos, a

•Aumente a ingestão de líquidos (água

dos raios UV e reduzem o risco de ca-

exposição solar e os riscos associados

ou sumos de fruta naturais, sem adi-

taratas. Protegem também a pele sen-

ver estiver exposto a altas tempera-

a uma exposição inadequada. Apesar

ção de açúcar) e evite as bebidas alco-

sível ao redor dos olhos. Óculos de sol

turas;

do sol ser essencial à vida, uma expo-

ólicas e bebidas com elevados teores

que bloqueiam os raios UVA (raios que

sição prolongada aos raios ultraviole-

de açúcar

penetram na pele em profundidade) e

Estas dicas ajudam a evitar as queima-

UVB (agem à superfície da pele, res-

duras solares, mas se tal acontecer os sintomas são pele vermelha, dolorosa

tas (UV) poderá ser responsável por

•Sempre que andar ao ar livre, use rou-

queimaduras solares, envelhecimento

pas que evitem a exposição directa da

ponsáveis pelas queimaduras solares)

da pele e aparecimento de lesões can-

pele ao sol, particularmente nas ho-

oferecem a melhor protecção.

cerosas. Para usufruir do sol em segu-

ras de maior incidência solar. Camisas

rança aqui ficam algumas dicas: •Evite a exposição solar entre as 11 e as 17h; •Lembre-se que a protecção contra os UV é importante durante todo o ano e não apenas durante o verão ou

e anormalmente quente, após a expo-

•Use sempre protector solar com um

sição solar. Após a queimadura pode

de mangas compridas largas e calças

índice adequado à idade e ao tipo de

ocorrer febre, bolhas na pele e dor

compridas oferecem a melhor protec-

pele, de preferência, igual ou superior

intensa nas regiões afectadas. Neste

ção contra os raios UV. Cores mais es-

a 30, e renove a sua aplicação sempre

caso recomenda-se:

curas oferecem mais protecção do que

que estiver exposto ao sol (de 2 em

•Evite nova exposição ao sol;

as cores mais claras.

2 horas), especialmente se estiver

•Aplique compressas com água fria;

•Para maior protecção use um chapéu

molhado ou se transpirou bastante. •Não rebente as bolhas;

na praia. Os raios UV estão presentes

com abas a toda a volta e que proteja a

Quando regressar da praia ou piscina

mesmo nos dias nublados;

face, orelhas, e a parte de posterior do

voltar a aplicar protector solar, princi-

pescoço. Evite chapéus de palha com

palmente nas horas de calor intenso

•Até aos 6 meses, não leve os bebés à

anos, mas este tempo é menor, se ti-

•Não aplique álcool, manteiga ou óleos gordos; •Se necessário recorra aos serviços de

praia e, até um ano, evite a sua exposi-

furos que permitem que a luz solar

e radiação ultravioleta elevada. Veri-

ção directa à luz solar. Proteja as crian-

atravesse. Um chapéu escuro podem

fique a data de validade do protector

Usufrua do sol com cuidado!

ças com creme solar de índice elevado,

oferecer mais protecção UV;

solar. Se não tiver data de validade

BOM VERÃO!

t-shirt e boné;

•Os óculos de sol protegem os olhos

tem uma vida útil de no máximo três

saúde.

Maria da Ajuda Neves


.11 #

Montra de Ler da Igreja, na ilha, sim, mas depois em qualquer parte como, por exemplo, na cidade norte-americana de New Orleans, de onde nos conta estas estórias uma professora universitária açoriana, a narradora intelectual Lucília. Passada esta questão tão brilhantemente ficcionada nestas páginas, este novo romance do terceirense Álamo Oliveira é muito, muito mais do que isso,

87 JULHO ‘13

Fazendo Literatura

Houve uma deliberada intenção de privilegiar os jornais fundados e dirigidos por Nunes da Rosa – A Ordem e Sinos d’Aldeia –, publicados na rural freguesia das Bandeiras da ilha do Pico, atestando esse facto, só por si e tendo em conta a época, um real e marcante significado cultural. (Manuel Tomás)

tanto no seu restante conteúdo como na sua forma, ou estrutura narrativa.» (Vamberto Freitas, blogue Nas Duas Margens)

há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida

mento espacial e temporal dos acontecimentos – mais próximos de nós no tempo e expandidos para espaços mais abrangentes, não imediatamente referenciáveis, mas aludidamente identificáveis como a Europa ao centro ou a leste, e por oposição ao bloco geográfico peninsular e a uma vaga ilha, do outro lado do canal.»

Leonardo Sousa

(Urbano Bettencourt, apresentação

Edição: Letras Lavadas, 2013

da obra)

«Não se pode dizer – nunca se poderá dizer – que há-de flutuar uma cidade

tíssimo mais do que isso – diria que é o

estórias açorianas

reverso disso. É uma obra que surpre-

Carlos Alberto Machado

no crepúsculo da vida é mais um livro, é mais uma obra agradável e amena leitura. De facto, a obra é muito, mui-

nunes da rosa. estudo e antologia

ende, que inquieta, que toca as cordas mais sensíveis da emoção do leitor, que o faz rever, não poucas vezes, os seus parâmetros estéticos. E isto porque as opções estéticas de Leonardo Sousa são incomuns, inovadoras, in-

Selecção, organização e apresentação

vulgares, tanto como o seu notável e

de Manuel Tomás

apuradíssimo labora da palavra.»

Edição: Companhia das Ilhas, 2013

(Paula de Sousa Lima, da Nota Intro-

Esta antologia não quer substituir a

dutória)

o 2egundo m1nuto

nova edição dos dois livros de contos de Nunes da Rosa, que urge fazer, mas

Edição: Letras Lavadas, 2012

murmúrios com vinho de missa

XX que, vivendo no Pico, sobretudo,

«Com este segundo romance, João

Álamo Oliveira

e um pouco nas Flores, no Faial e na

João Pedro Porto

alargar o conhecimento da sua obra desconhecida, tornando-a acessível aos locais, aos regionais e aos nacionais. É a obra de um homem do final do século XIX e da 1.ª metade do século

Pedro Porto prossegue a indagação

Edição: Letras Lavadas, 2013

Terceira, nos dá a conhecer a sua épo-

sobre a condição humana e o sentido

«Murmúrios Com Vinho de Missa é

ca, de tanta precariedade, de tanta

da vida, sobre a sociedade e o Homem

tudo aquilo que pensam ou deduzem

confusão política e de tanta falta de

na sua relação com o outro, com o seu

do seu claríssimo título, um grande

educação na formação das gentes, e

tempo e espaço. Se, de algum modo,

romance que tem como tema princi-

em que “cortar nas gorduras do esta-

isto já acontecia no romance anterior,

pal a maior de todas as hipocrisias da

do” de hoje era o mesmo que “cortar

o que agora se verifica é um aprofun-

nossa sociedade, a sua atitude ante o

nas carnes do estado” desse tempo.

damento dessa indagação, não ape-

que define como sendo sexo ou rela-

Na sua obra jornalística há uma análi-

nas pela demorada exploração das

cionamento ilícito, seja lá isso o que for,

se perspicaz, acutilante, crítica e car-

tensões internas das personagens e

mesmo quando só adultos se envol-

regada de muita e fina ironia, e onde

dos seus condicionamentos históricos

vem corpo a corpo entre quatro pare-

os pontos de contacto com os tempos

e sociais, mas também pelo enquadra-

des ou entre milheirais, dentro ou fora

actuais são bem evidentes.

Edição: Companhia das Ilhas, 2012 «São textos breves e desenvoltos que captam momentos na vida da comunidade ou traçam o retrato de figuras carismáticas. (…) Por muito que nos troquem as voltas, as estórias de facto não se afastam muito desta premissa: a de dizerem apenas o que dizem, mesmo quando não dizem nada. O que as traz à página, no fundo, é o desejo de fixar seres humanos na sua singularidade, concreta ou imaginada: regressados das Américas, maridos cornudos, baleeiros com segredos que não partilham, uma idosa de “flamejante cabelo vermelho”, aldrabões e miseráveis, Penélopes resignadas, um kosovar que lê Kavafis em francês.» (José Mário Silva: Expresso/Atual, 21 de Julho de 2012) Carlos Alberto Machado Companhia das Ilhas


12. #

87 JULHO ‘13

Nós Apoiamos a Cultura Fazendo Publicidade

Foto Jovial

Norberto Diver

Casa de Chá

Inatel


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87 JULHO ‘13

Terceira, Chambre, Confissão Um tríptico emocional I

Fazendo Incurções

Não será por acaso que a Terceira parece ser terra

O grande João de Melo, homem contemporâneo das

tico para mulher ou roupão caseiro de homem) su-

de gente vaidosa, rejubilante, agarrada a essa por-

letras e filho do Arquipélago já descrevera o senti-

gere algo muito íntimo, seguramente confessional.

ção arredondada, qual elipse, paramécia, ser uni-

mento fenomenal de centralidade da Terceira no

Podem acenar-me com a exuberância indubitável

celular, que ousa ser centro do centro de todo um

capítulo “ O mundo em volta” na sua obra “Açores - O

do litoral, quer nas suas baías e areais, quer nos

arquipélago, todo um oceano. A sua forma circular

segredo das ilhas”, transbordante de maravilhosas

seus povoados maravilhosamente garridos. Podem

confere a quem nela se entrega essa mesma sensa-

metáforas e personificações.

declarar-me o aparente fraco interesse pelo bravio e

ção, a de que se está no centro, à equidistância de

A História também terá quota-parte de culpa nes-

minimal padrão do interior pois, confesso, eu próprio

todos os seus elementos e até, a pretensão da equi-

te sentimento de centralidade pois Angra terá sido

sucumbo constantemente à beleza feminina estonteante do recorte costeiro.

distância de todos os outros elementos universais,

uma espécie de nova Lisboa no auge do Renasci-

aparentemente transformando todos os outros

mento, ponto de ligação obrigatório, de naves, gen-

Mas, é na sua face introvertida, em contraponto com

elementos universais em temas periféricos. Não o

tes e bens com novos mundos e mares, sentindo-se

a extroversão que a bordeja, que a Terceira se revela,

faz para desrespeitar os outros, apenas o faz para

ainda hoje no ar o frenesim passado de aventureiros,

despe, confessa. Num exercício confessional mútuo

não faltar ao respeito de si própria. Há muito que o

mercadores, riquezas e raridades em torno da então

tudo se congrega com total significado. A minha pe-

círculo retrata a perfeição, a geometria imaculada, a

mais emblemática baía de toda uma imensidão oce-

quena história e a sua História. Amores, desgostos,

bidimensionalidade do sólido mais perfeito, a esfera.

ânica.

angústias, desejos. De parte a parte. O derradeiro

Não obstante toda a geografia que condiciona o

exercício de drenagem de lava e sentimentos.

nosso ser, quero crer que, à semelhança das restantes oito esmeraldas insulares, a Terceira dá-nos

III

espaço, tempo, liberdade para centrarmo-nos, no melhor sentido, em nós próprios. Acredito sinceramente que, se assim o quisermos, os Açores estimulam-nos a viver a nossa real identidade. Isso parece-me ser francamente bom. Se formos nós próprios, talvez consigamos ser alguém. Que cada um sinta a Terceira como a entender.

Lanço-me no verde e mergulho na neblina. Rastejo pelo magma forrado de clorofila. Faço desta viagem, um ato de dissolução. Fugindo à humanização, numa tentativa de me despojar de tudo o que falsamente me conforta, procuro a neutralidade. A ausência de dor a partir do balanço entre alegria e tristeza. Os touros repousam no início do caminho. Apenas

II

me detenho por um escasso momento. São nobres

Ironicamente, é na profundidade da ilha, de onde

personificados. Não é essa a minha busca. Necessito

não vislumbro qualquer pedaço de costa ou o pró-

de algo verdadeiramente ancestral, que me coloque

no seu semblante, admito. Mas estão humanizados,

prio azul marinho que me dilui permanentemente,

na figura mais insignificante e vulnerável que, na

que consigo sentir melhor o Atlântico. Parece que, à

verdade, sou. A grandeza única de ser pequeno, frá-

medida que penetro nas suas entranhas, afastan-

gil, efémero e, contudo, vivo.

do-me progressivamente da azáfama que polvilha

A lava escoada e arrefecida em marcadas elevações

o litoral em forma de pessoas, casas e movimentos,

e depressões impõe-se. O ruído vulcânico projeta o

vou apurando os sentidos gradualmente num exer-

silêncio. Avanço prolongadamente, sublinhando o

cício de lucidez ou sobriedade. Há seguramente nes-

trilho sinuoso que fende o ventre da beldade elíptica.

ta busca uma viagem ao seu coração, ao meu cora-

Finalmente, detenho-me em frente ao mais singular

ção. Orgânico, emocional, íntimo. O silêncio impera e

e antigo império da Ilha. As circunferências desferi-

centra-me no primário, singular, uno. Porque ouço o

das no céu pelos guardiões desencadeiam em mim

meu pulsar. Porque aproximo-me do pulsar profun-

o sentimento de fortuna porém, sem euforia. Es-

do da Ilha.

tes altivos sacerdotes aceitarão qualquer visitante

É na Rocha do Chambre que me olho ao espelho.

no templo. Apenas lembram a condição obrigatória

Esse rochedo imponente e agreste no âmago da Ilha,

para a viagem descrita não ser vã. Uma absoluta

qual altar idealizado por um ateu como eu, apenas

transparência. Um incorruptível eu a fixar e a trazer

zelosamente velado por uma restrita armada de

de volta para a azáfama da vida exterior, uma vez

milhafres que aí igualmente prestam culto e no seu

deixado o templo.

topo nidificam, é nesse recanto profundo e recôn-

dito que me reencontro, confesso, sinto. Se o Algar do Carvão é o aclamado coração da Ilha, a Rocha do Chambre será, para mim, o seu hipotálamo, genuíno centro de expressão emocional. Não será consensualmente belo, nem sequer ouso essa pretensão no meu próprio gosto. Porém, o possível significado do nome atribuído (corpete solto e traje leve domés-

Luís Silva


14. #

87 JULHO ‘13

Na Escola do Corvo

Uma Professora Alemã Saskia Guhl tem 27 anos

Fazendo Entrevista

O que é que sabia sobre o Corvo antes de chegar?

Quando chega o barco, as pessoas

e está no Corvo por um ano

Demorei uns dias a decidir o que fazer. Pensava que

vão todas comprar os poucos vegetais, frutas e iogurtes que ele traz.

lectivo, ao abrigo do programa

as pessoas podiam ser tão estranhas que não gos-

europeu Comenius de intercâm-

tassem de mim e eu não suportaria ficar. Mas, por ou-

Dois dias depois, não há nada. Assim,

bio de professores. É a primeira

tro lado, achei que esta era uma experiência única e

aprendi receitas de improviso… Mas

experiência real de Saskia no ensino.

seguramente a única oportunidade da minha vida de

graças aos meus bons colegas e mesmo

Que está a Saskia a dar ao Corvo e o Cor-

mergulhar num estilo de vida completamente diferen-

vizinhos, pude cozinhar uns peixes, livrar-me

te. Tentei descobrir tudo o que podia sobre a ilha, mas

das formigas que se passeiam na minha cama e

basicamente resultou em… quase nada. A agência nem

na cozinha e outras coisas.

vo a dar à Saskia?... Está a apoiar os professores de Inglês em

conseguiu dizer-me se tinham cá estado estagiários

todos os anos lectivos. Que trabalho desen-

Comenius antes (agora sei que sim). Fiquei muito feliz

Como professora, encontra grandes diferenças

volve com eles? Não é difícil trabalhar com

quando encontrei a página internet da Escola, porque

entre a Alemanha e o Corvo? Ainda não sou professora na Alemanha, portanto ainda

anos lectivos tão diversos ao mesmo tempo?

aí vi que os professores eram jovens e que havia boas

Esta é uma escola muito pequena, com apenas 38

condições, mesmo conferências online. Fiquei aliviada

não ensinei lá. Mas uma das maiores diferenças são as

alunos no total e uma só professora de Inglês. Apoio

por saber que a ilha tinha internet.

condições de vida dos professores. Pelo que ouvi, aqui os professores têm dificuldade em arranjar trabalho e

a professora na preparação e ensino das aulas. As-

Finalmente, contra tudo o que era imaginável, decidi

sim, aprendemos mutuamente com ideias para aulas

aproveitar esta chance. Pensei: quem mais vai poder

maior dificuldade em ter um trabalho estável. Há mui-

e projectos , se bem que sou mais eu quem aprende

dizer que já viveu numa ilhota com só 450 pessoas no

tos que ficam aqui apenas um ano e estão sempre a

com ela. Em particular, trabalho com os alunos que têm

meio do Atlântico?

mudar o local onde moram. Na Alemanha, isto não é

necessidades especiais ou precisam de mais atenção.

Não conseguia imaginar como seria. Portanto, as pri-

comum.

Também ensino algumas das aulas e a minha colega dá-

meiras coisas que perguntei à directora foi se havia

Também me parece que aqui os professores têm de se-

multibancos e também onde é que eu ia viver. Ela de-

guir o programa à risca, enquanto que na Alemanha há

Ensinamos sete grupos diferentes porque o primeiro e

morou muito tempo a responder e foi muito gentil…

mais liberdade pedagógica.

o quarto ano bem como o segundo e o terceiro são au-

Isso fez-me pensar que estava a tomar a decisão certa.

-me o feedback do que fiz.

E diferenças a nível dos estudantes?

las dadas em conjunto. Ensinar todos esses anos está a dar-me uma experiên-

Foi fácil a adaptação ao isolamento, mau tempo e

cia vasta que aprecio muito. É interessante ver as com-

todas as outras circunstâncias menos boas de uma

cados. Mas acho que isso não é uma diferença entre

petências dos alunos em anos tão diversos.

ilha isolada?

Alemães e Portugueses; é uma diferença que tem a

Uma das coisas boas é que só comecei a aprender Por-

Surpreendi-me como depressa me senti em casa. A Es-

ver com o meio económico-social.

tuguês umas semanas antes de vir para o Corvo. Os alu-

cola e o seu pessoal ajudaram-me muito a organizar-me

nos só podiam falar Inglês comigo. Isso era uma grande motivação para eles, que ainda hoje continua.

e foram muito calorosos comigo. As pessoas sorriam-me, embora não me percebessem. Aprendi a apreciar as pequenas coisas que aqui têm. É preciso muito pou-

Os estudantes aqui são muito simpáticos e bem edu-

Que conselhos daria ao próximo assistente Comenius no Corvo? Deixa que este maravilhoso lugar revele

Elaborou um projecto chamado “Let’s Discover

co para viver uma vida decente. Em vez de passar horas

beleza e aprende com as pessoas que

Europe”. O que é e como tem sido recebido pelos

no comboio, tem-se muito tempo para os amigos. Tudo

têm muito para dar. Não te esqueças de

estudantes?

fica a 10 minutos de distância, incluindo a praia e o aero-

trazer as tuas camisolas mais quen-

Consiste num passaporte feito por cada estudante. Há

porto. Pode-se ir passear para o Caldeirão. Conhecem-

tes, porque aqui não há aquecimento.

perguntas sobre a União Europeia que são colocadas

-se as pessoas; há muito tempo para tudo. Em Berlim,

Tenta interagir com o maior número

no corredor da escola, e eles respondem nesse cartão e

eu nem conhecia os meus vizinhos. Aqui, o carteiro diz-

colocam-no numa caixa. Cada resposta correcta dá di- -me pessoalmente quando tenho cartas. Toda a gente reito a uma estrela. No fim do ano lectivo, o cartão com

está conectada.

mais estrelas ganha. A maior parte dos estudantes tem

Adaptar-me ao mau tempo e tempestades exigiu muito.

participado. Agora, quase no fim do ano, a participação

Tenho sempre muito frio. As pessoas interrogam-se se

é mais baixa porque há muitos testes, mas estou a tra-

sou uma verdadeira alemã, porque a Alemanha é fria…

balhar para os trazer de volta às minhas questões.

Mas na Alemanha há aquecimento dentro dos edifícios. Só se precisa de casaco na rua. Aqui, mesmo com calor,

Mudando de assunto: porque escolheu um desti-

gela-se dentro de casa. Nos dias muito frios, eu aqueço

no tão remoto como o Corvo?

a minha roupa com o secador de cabelo. Tenho medidas

Não escolhi. O Corvo é que me escolheu. No início, can-

desesperadas para situações desesperantes!

didatei-me para um país de língua inglesa ou para a Es-

Por outro lado, acho que me faz humilde sentir os ven-

candinávia. Mas não tive vaga do Comenius em nenhum

tos e chuvas fortissimos daqui. Somos tão depen-

desses países… Portanto, perguntaram-me se, em vez

dents da natureza neste lugar que qualquer mar

disso, eu aceitaria vir para Portugal fazer este estágio

bravo ou mau tempo faz com que se cortem as co-

como assistente no Corvo. É embaraçoso, mas tive de ir

municações por barco e por avião.

ver ao mapa onde eram os Açores… Só tinha ouvido fa-

Cozinhar é difícil no Corvo. Em Berlim, tenho to-

lar do Anticiclone dos Açores na meteorologia! Depois,

dos os alimentos à disposição.

ainda tive de encontrar o Corvo. Fiquei a pensar porque

Aqui, improvisa-se com o

é que o Comenius me perguntou se eu podia imaginar

que a loja tem.

aceitar o estágio em circunstâncias que eles diziam ser extremas… E então fui ao Google e encontrei a ilha mais remota, pequena e isolada que se podia imaginar. Fiquei chocada mas também interessada.

de pessoas que conseguires. Entrevista feita por Carla Cook


.15 87 JULHO ‘13

Entrevista com o Morcego Albino Fafiães de Pinho

Fazendo Entrevista

“Nome” Albino Fafiães de Pinho “Idade” 3209 “Profissão” Arquitecto

Se o Conde Drácula viesse cá às

Porque é que tens alguns projec-

ilhas onde o levarias?

tos na gaveta?

Claro, a um passeio nocturno pelos

Porque não me cabem nos bolsos e

nossos pastos.

deslizam-me das mãos.

Qual é a semelhança entre o Pico e

O que é que odeias na internet?

o Faial?

O contínuo acto de estupidificar ocioso

As águas que vão de cá para lá e vêm

(ou ansioso?) a olhar o ecrã tal é a gran-

de lá para cá. E também o olhar des-

diosidade das belas imagens que apare-

contraído dos cachalotes.

cem. Mas não odeio, é mais desejo, respiração, e pensar que sim … imaginem.

Se não gostas de chuva o que é que estás aqui a fazer?

Que forma de arte é que te aguça

Tenho pensado muito nisso ultima-

os caninos?

mente … e apercebo-me que perten-

A culinária vegetariana sobre epidér-

ço ao grupo daqueles que não usam

micas paisagens animadas, bem, uma

guarda-chuva, ou seja, aqueles que

questão de corpo, tempero e fusão.

não guardam a chuva para si, bem enO que é que pequeno-almoçaste?

tendido. Portanto, não gosto de chu-

O que é que gostavas de ter nasci-

Batido de maçã, beterraba, kiwi, com

va mas gosto de musgo.

do?

duas colheres de sopa de flocos de

Na escola que outra “disciplina”

No dia em que nasci um porco viu adia-

aveia integral e uma colher de cacau

deveria ser obrigatória?

da a sua morte, se é que morreu. Sério.

das ilhas onde ele existe, uma folha

Olho para trás, para o agora e para

de alface com uma rodela de tomate

o futuro, tudo isto ainda sem óculos,

Gostavas de ir morrer longe?

sobre uma torrada batizada a azeite

e percebo a falta que faz a disciplina

Na baía de um sorriso na espuma de

e polvilhada com levedura de cerveja.

da Indisciplina – O paradoxo, uma

uma onda sem deixar rasto na areia.

Depois, um café bem fraco, de saco.

arte.

Longe ou perto.

Gatafunhos

Tomás Melo


Horários

Índice Fazendo Editorial

.2

87

.2

Horta — ­ Madalena 7h30 9h00 10h30 13h15 15h15 17h15 20h15 22h15

Fazendo Crónica Imperador Venâncio .3 Fazendo Cidade Pelo Alargamento

.3

dos Passeios Fazendo Viagens Cartas do Exílio IX

.4

Madalena — Horta 8h15 9h45 11h15 14h00 16h00 18h00 21h00 23h00

Fazendo Pomares Os Pomares do

.4

Concelho Fazendo Artes Plásticas Luís Brum Cedros — Horta

Horta — Cedros

P. Norte — Horta

Horta — P. Norte

7h00; 12h45; 16h00;

11h45; 15h20 (Hospital);

7h00; 12h45;

11h45; 17h30;

Sábados: 8h00

18h15;

Sábados: 8h00

Sábados: 13h15

Sábados: 13h15

Fazendo Artes Plásticas Margarida Madruga

Madalena — S. Roque

Piedade — Lajes

Madalena — Lajes

— Piedade

— Madalena

— Piedade

6h15; 13h30;

10h00; 17h45;

5h45; 12h55;

10h00; 17h45;

Domingos e feriados: 13h15

Domingos e feriados: 9h30

Domingos e feriados: 12h55

Domingos e feriados: 9h30

— Madalena

.5

Fazendo Música Jazz em Portugal

Piedade — S. Roque

.5

L Para o bem de todos nós

e para o bem dos Açores Circule de Bicicleta

vai.se.fazendo@gmail.com www.fazendofazendo.blogspot.com

.6

Fazendo Música Ensemble da Sé

.7

Fazendo Música Duarte Lobo

.7

Fazendo Notícias Abreviadas

.8

Fazendo História Cais do Pico a Vermelho e Negro

.9

Fazendo Literatura Jorge Barros e

.10

Raúl Brandão Fazendo Saúde O Verão Chegou

.10

Fazendo Literatura Montra de Ler

.11

Fazendo Incurções Terceira, Chambre

.13

Fazendo Entrevista Na Escola do Corvo

.14

Fazendo Entrevista Com o Morcego

.15

Gatafunhos

.15


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