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TURISTAS, VINDE A MIM, ABRIU A ÉPOCA DE CAÇA

105 Abril 2016


fazENDO Num. 105 | Abril 2016

o boletim do que por cá se faz www.fazendo.pt Directores Aurora Ribeiro Tomás Melo Colaboradores Marina Ladrero | Lídia Garcia Pombo Victor Rui Dores | João Venceslau Miguel Machete | Sara Loureiro No more plastics for the Azores Miguel Rosa Costa | Marco Silva Paulo Vilela Raimundo Piero Amodio | Stazione Zoologica Anton Dohrn | João Gonçalves Revisão Aurora Ribeiro Paginação Susana Salema e Tomás Melo Projecto Gráfico Raquel Vila Aceitamos colaborações sob a forma de DOAÇÕES | ASSINATURAS | CONTEÚDOS e VOLUNTARIADO DOAÇÕES | O Fazendo quer continuar a ser gratuito e é um projecto com grandes despesas de impressão, distribuição e manutenção. Recebemos doações na nossa conta da CGD: NIB: 0035 0366 000 287 299 3016 ASSINATURAS | Para receber o Fazendo em casa basta depositar 20€ na nossa conta: NIB: 0035 0366 000 287 299 3016 e juntamente com o comprovativo enviar o endereço postal onde se quer receber o jornal para vai.se.fazendo@gmail.com PROPRIEDADE Assoc Cultural Fazendo SEDE Rua Conselheiro Medeiros nº 19 9900 Horta PERIODICIDADE mensal TIRAGEM 500 exemplares IMPRESSÃO GRÁFICA o telégrapho

CAPA Marina Ladrero

Cresceu em Tenerife, arquipélago das Canárias, onde desde jovem se envolve com a arte urbana acabando por estudar Artes plásticas e desenho onde se forma como artista multidisciplinar especializada em técnicas gráficas e ilustrativas. A história do Faial e a convivência com os locais e costumes ligados ao mar, assim como a necessidade de se adaptar a um novo espaço, resultou na elaboração de uma colecção de baleias desenhadas em suportes de materiais reciclados, originando assim um toque de fantasia à matéria prima utilizada. Cachalotes, gigantes baleias azuis e de bossa que carregam nas suas costas bosques ou aldeias perdidas navegando pelos céus ou até mesmo galáxias, fazem parte deste universo criativo que a Horta recebeu com entusiasmo. Esta foi parte da sua pegada, marcada com paixão e em tom de agradecimento por esta experiência nos Açores.


FESTIVAL MARAVILHA 9 10 11 JUNHO HORTA


A utopia dos

“E você? Que utopia escolhe?”

homens livre

Paulo Vilela Raimundo Passados quinhentos anos após a publicação da obra literária de Thomas More “Utopia” (1516), concluímos que certos temas e problemas se mantêm eternos e atuais, sendo a nossa vida demasiado curta e imperfeita para propiciar uma evolução suficiente ou garantida. More defendeu de um modo clarividente e eficaz (dando significado ao conceito que hoje apelidamos como “utopia”) aquilo que outros antes dele já tinham tentado através da conceção de projetos e cenários alternativos para a sociedade de então, acabando por pagar essa ousadia individual com a própria vida (por discordar das convicções plasmadas na legislação em vigor). Essa reflexão sobre os modelos vigentes, e que em muitos casos se revelam obsoletos, parece-me gritantemente adequada para um início de ano que, levando a sério todas as mensagens trocadas nas últimas horas, nos fazem crer ser essa uma ambição globalizada.

...em defesa da erradicação de aspetos do nosso quotidiano que nos mantêm presos a um passado retrógrado, castrador e inibidor de progresso. fazENDO

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Sendo bem verdade que o estado atual das coisas em muito transcende a nossa participação individual e a nossa capacidade de informação, conhecimento ou de decisão, não deixa também de o ser o facto de a nossa assídua omissão e o alheamento irresponsável nos tornar corresponsáveis pelo presente. Em período de recessão profunda dos Estados Unidos da América, iniciada em 1929 e que se arrastou por toda a década de 30, os decisores políticos do momento definiram como objetivo nacional (e para muitos utópico) a ida do homem à Lua. Este aparente desiderato inatingível, não só foi conseguido três décadas depois como o seu efeito mobilizador, ao estender-se contagiosamente a toda a nação americana, se tornou num fator decisivo para a recuperação económica do país que, mais tarde, se viria a tornar a maior potência política, económica e militar do planeta. Já na atualidade, e um pouco por todo o lado, surpreendemo-nos com gestos e decisões aparentemente isoladas de pessoas que, ao seu modo e ao seu nível de atuação, tentam interferir na modulação do futuro onde se inserem. Ai Weiwei, artista chinês de 58 anos, moldados pelas perseguições e injustiças políticas e sociais no seu país de origem, propôs-se recente-

mente a materializar uma obra de arte pública na ilha grega de Lesbos, como monumento de homenagem aos refugiados que chegam às praias de uma Europa privilegiada e não isenta de culpa, como fruto do verdadeiro êxodo migracional que vem levando à morte milhares de africanos que, ao fugirem de uma guerra interesseira e radicalizada, soçobram nas águas do Mediterrâneo. A busca da “consciência social perdida” ou de, para alguns, “miragens idealistas”, é feita através de variados e imaginativos modelos, sempre com o objetivo de, identificando as necessidades (injustiças, ineficácias, irrealidades, insuficiências…) levar a sociedade a corrigir, evoluindo, com a ousadia do novo. O que alguns tentam através da pintura ou da escultura de obra pública, muitos outros o fazem pela palavra escrita ou simplesmente verbalizada (infelizmente em locais muitas vezes inadequados para a produção do efeito desejado…).


O escritor e blogger brasileiro João Paulo Cuenca tenta-o com afirmações polémicas em defesa da erradicação de aspetos do nosso quotidiano que nos mantêm presos a um passado retrógrado, castrador e inibidor de progresso: “…o trabalho temporário e mal remunerado que viola a alma, exige prazo e não tem data de pagamento. “ “…os salões a abarrotar de mediocridade, onde todos estão à venda e o preço é baixo.” Com leituras e objetivos consensuais ou dissensuais, a realidade diz-nos que necessitamos de utopias prospetivas, holísticas e positivistas que, tirando-nos do marasmo ideológico e estratégico, nos devolvam o rumo por que todos suspiramos. Em início daquilo que instituímos como um novo ciclo, apetece perguntar: E você? Que utopia escolhe?

um dia para comer e beber em ponta delgada

como monumento de homenagem aos refugiados que chegam às praias de uma Europa privilegiada e não isenta de culpa

um dia para comer e beber em pdl

res

Um Dia para Comer e Beber em PDL Fernando Nunes

O dia começa cedo em Ponta Delgada e, ao cimo da bonita rua Dagoa, fica o Café “3/4”, antigo Caziff, especialista em diferentes tipos de comidas ligeiras e sopas, sendo os pequenos-almoços recheados de bolos lêvedos, compotas, e outras iguarias que propiciam conversas saborosas e demoradas. Algum tempo mais tarde, procurar-se-á no centro da cidade um circuito de restaurantes mais sugestivo quando a fome ou a sede apertam. É uma cidade que só terá a ganhar se for cultivado o requinte e a diversidade gastronómica, podendo-se mesmo afirmar que granjeará bons clientes se houver de tudo e para diferentes gostos. Há, portanto, uma mediana oferta, ainda que variada, com várias opções para diferentes carteiras bem ou mal recheadas. O roteiro para o almoço pode ser inicialmente confirmado com uma ida ao Restaurante “Mané Cigano”, lugar tradicionalmente composto por pratos de peixe e com um ambiente bastante intergeracional e popular, no seu lado mais justo do termo. Da sua oferta gastronómica reina o prato de chicharros fritos, mas é essencial provar o polvo guisado ou o bonito. A acompanhar, como sobremesa, deve-se comer uma queijada da Graciosa. Uma visita de seguida ao jardim António Borges, composto por uma grande diversidade de árvores centenárias, poderá ser útil para alargar os conhecimentos de botânica e abrir o apetite para o que virá a seguir. Se acertar no dia e, quiser ver um jogo de futebol, especialmente do Sport Lisboa e Benfica ou do seu clube contra este, aproveitar para conversar, beber, petiscar e até mesmo cantar em uníssono hinos alusivos ao seu clube de eleição, esse lugar dá pelo nome de “Travassos”, ali na rua Dr. Guilherme Poças. Um espaço onde se sente e se vibra com as cores rubras do “Glorioso”, fazendo-se este imediatamente notar pela variedade de petiscos expostos ao longo de uma mesa. Na antevisão do jantar e, dado que o dia já foi longo e robusto, o melhor é mesmo preencher o estômago com uma pizza “Caprese”, no restaurante a “Forneria”, um lugar que, para além da qualidade dos pratos de origem italiana num forno bem micaelense, recebe os clientes de forma cuidada e atenciosa. Em jeito de despedida pantagruélica, sempre se pode regressar ao lugar inicial (o 3/4, claro) para saborear o excelso bolo de chocolate, acompanhado com uma xícara de gorreana, pois assim está criado o paradoxo açoriano para uma noite relaxada e feliz. 5 | fazENDO


“NÃO SE PAGApelo Teatro de Giz VICTOR RUI DORES Estreada em Milão no ano de 1974, “Não se paga, não se paga”, do dramaturgo italiano Dario Fo, é de uma gritante atualidade, não só no contexto europeu mas também na sua abrangência à situação da crise global mundial. Trata-se de um olhar mordaz e irónico sobre os problemas de uma sociedade na qual os menos favorecidos são os mais banalizados. Os atores vivenciam os dramas sociais: a luta pela sobrevivência, a miséria do trabalho fabril e os escrúpulos religiosos arreigados no subconsciente coletivo. Fui ver a sua representação pelo Teatro de Giz e gostei incondicionalmente do que vi.

NÃOouSE PAGA” a teatralidade plena

E o que vi foi o Teatro Faialense transformado em teatralidade plena. Os atores e os figurantes atuam e circulam pelo palco, plateia corredores e camarotes, e, desde logo, o espectador sente-se cúmplice e parte integrante do espetáculo. Luciano Amarelo soube organizar e encenar um espetáculo com real mestria, em que todos os detalhes foram tidos em conta e integrados de forma consistente, dentro e fora do palco. Seguríssima a direção de atores, amadores (porque amam o que fazem), mas com uma consciência profissional. Grande funcionalidade do dispositivo cenográfico, da responsabilidade de Albino Fafiães. Coerência nos figurinos (Aline Désprès, Anabela Morais e Renata Lima) e homogeneidade nos dispositivos técnicos. Num tom de comédia, “Não se paga, não se paga” fala-nos de cidadãos em rutura (in)consciente com as regras de civilidade instaladas. Em concreto, duas donas de casa (uma assombrosa representação de Susana Salema, e uma espantosa contracena da histriónica Vanessa Santos) desencadeiam (in)voluntariamente a transgressão de valores tidos como inabaláveis e estruturantes de um sistema assimilado, rompendo com a sua atitude o sentido cívico e os bons costumes numa experiência de luta pela sobrevivência familiar. O jogo do absurdo completa-se com a ação dos maridos das ditas mulheres (surpreendente a interpretação de João Frias, e registo muito positivo para Tomás Melo a crescer como ator) e com a comicidade do (duplo) agente da autoridade (Pedro Afonso a afirmar-se como ator de altíssima qualidade), em cenas estrepitosas e hilariantes. Boas prestações de David Figueras e João Borges. Mais do que atores, vi personagens cândidas, perversas e magníficas. Eficaz e eficiente movimentação dos figurantes, muito bem incorporados na peça. Um elenco de 25 pessoas que representam em grande ritmo e mostram e demonstram o que é a arte cénica em movimento. Neste ato de coragem que é fazer teatro nos tempos que correm, não poderia ter sido melhor o reencontro do Teatro de Giz com o seu público. Um grupo que contínua e continuadamente se renova e que presta esse serviço público que consiste em levantar os véus da alma humana.

uma digressão e uma reposição em noite de revolução

9 de Abril Auditório das Velas de São Jorge 16 de Abril Museu Municipal das Lajes das Flores 24 de Abril Teatro Faialense

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IO GRÉM OVO UM N

Deu-lhe forma o Teatro de Giz, que o fez germinar e o traz ao colo, carinhosamente

Um ano. Já faz um ano, o Novo Grémio Literário Faialense. possibilidades”, ora “À Procura de um Autor”, entre “A Força do Da minha primeira participação, Hábito”e o momento revolucionário “Não se Paga! Não se paga!”, lembro a expectativa com que eno “Êxtase do Tecelão”, a “Excepção e a Regra”, “O Cerejal” ou “A trei e a gloriosa satisfação de me ter dama do Mar”. E… a sensibilidade, a emoção que se desprendeu e sentido em casa. Desde o primeiro pairou sobre o Grémio à leitura do Principezinho! minuto. Desde o primeiro abraço. No Como quase tudo, nasceu o Novo Grémio Literário de um deacolhimento nos primeiros sorrisos. sejo. Um desejo e uma necessidade que o tempo e os resultados Na descoberta da peça, no dar voz ao justificam. Desejo de criar um espaço de encontro e de partilha, primeiro personagem, na adrenalina que fazia falta – quanta falta! Da ideia à concretização foi um que essa troca sempre implica. passo da vontade – e que vontade! Desde então, e a cada mês, os momentos Deu-lhe forma o Teatro de Giz, que o fez germinar e o traz ao de convívio que me acrescentam e de que colo, carinhosamente. sou prova. Uma nova experiência e um A mesma vontade, o mesmo empenho e o mesmo prazer novo encontro, onde o gosto pelo teatro com que levou à cena a peça de Dario Fo “Não se paga! é motivo para a presença e a leitura de Não se Paga!”, saída das leituras no Grémio, encenada por cada peça, a garantia de nova e gratificante Luciano Amarelo e em breve de regresso aos palcos da aventura. Horta, e não só. E aconteceram olhares diferentes, propostas Por isso, impõe-se celebrar no próximo 2 de Abril um variadas, desde Howard Barker a Luigi Piranano deste projecto. Haveremos de festejar. E porque se dello, de Thomas Bernhard a Harold Pinter, de pretende aproveitar para discutir e celebrar a cultura Anton Tchekov a Henrik Ibsen, passando por de hoje, de ontem, e de amanhã, não poderia deixar de Bertolt Brecht, Dario Fo e Antoine de Saintacontecer no Grémio Literário Artista Faialense. Exupéry. Com eles, enriqueceram-se os nossos Parabéns Novo Grémio Literário Faialense! serões em ambiente criativo, ora a analisar”As

Lídia Garcia Pombo

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A Miolo da Rua m e m o H o r d e de P

O FERNAND

NUNES

Miolo é um novo ponto de paragem e observação na rua de Pedro Homem, no centro histórico de Ponta Delgada. Segundo reza a história, Pedro Homem foi escrivão do Ouvidor do rei D. João III, viveu e morreu por ali, caracterizando-se por possuir capacete ou adaga e terá sido este o introdutor de várias aves - falcões, cisnes e milhafres - na Ilha de São Miguel. A nova galeria que passa agora a existir no número 45 desta rua pretende ser, cinco séculos depois, mais um ex-libris de forte atracção e interesse, não só histórico, mas também cultural e turístico. E porquê? É que nesta rua já existe o restaurante vegetariano “Rotas”, o Hostel Knox, o Bed and Breakfast “By Lapsa” e, para além de tudo isto, há também um cabeleireiro, um dentista e uma farmácia na esquina. Em Janeiro deste ano a Miolo inaugura a sua primeira exposição de fotografia, e que é o resultado do seu primeiro mês de existência e abertura ao público. Aliás, quem descobriu, entretanto, o espaço passou de imediato a fazer parte da exposição – ainda que de forma livre e espontânea vontade – pois bastava deixar-se fotografar em lugar próprio, à entrada da galeria. A exposição inaugural intitulada “Work in Progress” mostrará assim todos os que visitaram aquele espaço e viram esta ideia e conceito em movimento, descobrindo as diferentes fotografias expostas consoante a passagem dos dias, aproveitando para de algum modo conhecer o seu interior e o que esta dupla fundadora tem para “oferecer”.

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ento para este o mom Miolo, r se m ra ti n plarem a erto presse Mário Rob vas de ambos e contem otografia, que e s e u rq a Vitor M es criati elha Ph cto Malav onstrando s capacidad combinar a ora, aliada ao proje lação fotográfica, dem a ideia dit ve cer. Est enquanto e im os primórdios da re ainda ofere s assumido, je o h e d ss a o p por este recuperará do das imagens nos ntes o diminuto sc a ri ss a m p u o vas semelha m e ti o u c ia a ic oq c ti in s rá a p tr lo” ou osta em antiga foi p e estão que após a “Mio u q conscientes o “miolo” citadino. ar n irão ter lug

idades várias activ o de já m te lo o espaç ia, a Mio e agora inic o lugar, funcionar com sições de u q o n a e st e m primeir istas expo Ao longo d tendendo, e ndo já prev os, Luísa Aguiar, a re p st e s, , a o d ã a ç d agen ilustra edeir fotografia e Paulo Prata, Carlos M tes da galeria adquirir galeria de e d a da os visit n tográficos a – Tomaz projectos fo tre outros, podendo ain hecidos da nossa praç , Pedro en on do Ian Allaway s de artes de artistas c ereira, França Macha ente a lo P ip ra le lt a p ú u sim sm o da Câm vários m a o h n n u ji N n ra sé a, Jo ré La 2016. Borba Vieir Alice Geirinhas, And lenses, para o ano de e , a is e ic ativos m Cabrita R de vários cri , z u L a d n e Ag


Verónica Melo O Festival de Artesanato “Prenda” iria fechar portas daí a instantes e Celina da Piedade ensaiava com a sua banda os temas musicais para as horas seguintes. E enquanto as pessoas passavam pelos expositores, os músicos afinavam ritmos e instrumentos de cordas. As oficinas decorriam a bom ritmo e por ali havia uma cadeira vaga para escutar o prenúncio das canções bem como distrair quem se encontrava concentrado a efectuar desenhos e linogravuras, sem ter noção do que se estava a passar. A oficina resultava em trabalhos finais e, Verónica, que ministrava a oficina pacientemente, ia incentivando quem chegava a participar, denotando uma facilidade em tornar as imagens úteis e

Arte Salina!

funcionais para quem se encontrava em dificuldades ou sem grandes soluções criativas. A oficina terminou e Verónica não se ficou por ali, pois quis oferecer parte do trabalho a quem por lá estava, resultando deste modo a curiosidade. Quem é esta artista? Verónica Melo nasceu na Ilha de São Miguel, em 1990. A criatividade pertence-lhe e sabia que depois de terminar o seu curso na Faculdade de Belas Artes, na cidade do Porto, o mundo podia ser possível a meio do Atlântico. Arriscou. Verónica gosta muito do mar e por isso de imediato se pôs a fazer ilustração científica, pois sabe que uma das riquezas das Ilhas dos Açores passa pela fauna e flora

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existente. Sendo hoje exequível trabalhar e criar a partir das ilhas para todo o mundo e para isso basta ter as ferramentas e tecnologia ao seu alcance. Ela vai tendo, por isso, convites para trabalhos no exterior e continuar a desenvolver um trabalho constante para “Os Amigos dos Açores” e dar resposta ao que vai aparecendo pela ilha verde, caso do último “Walk and Talk” em que realizou uma "Oficina de Carimbos". Entretanto, a artista plástica esteve na Louvre Micaelense a dar mostras das suas gravuras tal como foi fazendo carimbos para “embrulhos” que vão brotando da suas mãos e imaginação. Uma pergunta impõese: o que virá a seguir? 9 | fazENDO


Amostram'isse

Califórnia

MIGUEL ROSA COSTA

Em Outubro de 2015 decorreu mais uma mini-digressão do “Amostram'isse” - Mostra de Cinema dos Açores, desta vez ao estado da Califórnia, nos Estados Unidos da América. Já em Abril o projeto tinha-se deslocado a este país, mais especificamente à zona da Nova Inglaterra, onde se fez um workshop com os alunos da Escola Oficial Portuguesa de New Bedford, assim com várias sessões com filmes de animação feitos nos Açores. Esta iniciativa da Associação Cultural Burra de Milho, que conta com o apoio da Direção Regional das Comunidades e da SATA, assim como de várias organizações que acolhem o evento, tem vindo desde 2013 a organizar sessões de exibição de filmes realizados nos Açores, pelas várias ilhas da região, depois pelo continente e ainda pelas comunidades portuguesas da diáspora. Neste périplo realizaram-se seis sessões, entre universidades e coletividades, ao longo de uma semana, em Berkeley, San Jose e San Diego, exibindo curtas e longas-metragens de ficção e documentário, todas legendadas em inglês, às quais assistiram cerca de 400 pessoas.

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A reação continua a ser extremamente positiva, criando-se relações com entidades que muito e bom trabalho fazem em prol da preservação e promoção da língua e cultura portuguesa, e neste caso em particular, da identidade cultural açoriana. O cinema é atualmente uma das mais fortes ferramentas de comunicação, o que permite a este projeto abordar três vertentes fundamentais, na perspetiva da associação que o organiza: 1- a promoção dos jovens criadores dos Açores, demonstrando que existe uma sociedade contemporânea, com formação e futuro na região; 2- a preservação da identidade cultural açoriana, ao fazer a ligação com várias gerações, sobretudo as mais recentes, através de uma linguagem universal; 3- a promoção da língua portuguesa, enquanto principal pilar da nossa cultura, presente em todo o mundo, mas longe da sua origem.

São muitas as solicitações de organização de eventos deste género, participações em congressos e palestras que a associação recebe – infelizmente não é possível responder a praticamente nenhum desses pedidos, devido à habitual falta de fundos (mínimos, mas básicos), com vista a suprir os obstáculos financeiros. A própria continuação do projeto está a ser analisada pela Burra de Milho, pois as despesas são cada vez maiores, e os apoios cada vez menores, quer públicos, quer privados – aliás, como referido, o projeto seria impossível sem o apoio das comunidades que recebem o evento. Mesmo assim, a Burra de Milho tenta fortalecer a aposta que tem vindo a fazer no cinema e na promoção dos criadores dos Açores, uma vez que a formação de novos públicos e a oferta variada de cinema é uma necessidade premente para o desenvolvimento cultural dos jovens açorianos, assim como para a preservação da nossa identidade cultural por todo o mundo, procurando alertar à sensibilidade das entidades que possam vir a apoiar o projeto.


Sobre Crónicas e outras estórias, de Mário Frayão Victor Rui Dores Mário Frayão, homem da cultura e do humor, ator e diseur, cidadão do empenhamento cívico, interlocutor amabilíssimo, homem de vida cheia na jovialidade dos seus 87 anos de idade, acaba de publicar o livro com o título em epígrafe. Inicialmente publicadas no semanário “Tribuna das Ilhas”, de que foi diretor, e escritas com fluidez e elegância narrativas, estas “crónicas alegres” estão carregadas de um humor requintadíssimo que espelha – e bem – a agudeza de espírito, a ironia inteligente e o pensamento humanista do seu autor. Com efeito, Mário Frayão lança, nas 357 risíveis páginas desta obra, olhares retroativos a pessoas, acontecimentos, casos e vivências que povoam o seu imaginário. A par de tudo isto, é-nos dada abundante informação sobre aspetos ligados ao passado recente da ilha do Faial, o que muito valoriza o livro. Um livro que é um hino à vida e que se lê com imenso prazer e proveito. A merecer, por isso mesmo, a nossa melhor atenção. Uma coisa é certa: à boa maneira de Eça de Queiroz, o riso vai continuar a ser uma opinião para o sr. Mário.

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NO NMPA

Provavelmente o facto de haver uma relação comum com o Mar, embora cada um com a sua história, é algo que identifica (mais) facilmente um ilhéu. E talvez ainda mais entre quem escolheu tal ambiente para crescer, fazer crescer, viver e sentir. Como tal, o Mar, os Oceanos, a água salgada e todas as vidas ao seu redor é talvez o ponto de fascínio mais unânime entre todos os membros da No More Plastics for the Azores (NMPA).

O LIXO QUE VAI PARAR AO MAR COMEÇA EM TERRA Fruto desta sensibilidade comum e da tragédia que se veio a revelar a invenção e a banalização do plástico, o grupo uniu-se – há um problema. Há vários, mas há um em concreto que ensombra a esperança e acorda a indiferença – Plástico em todas as formas e feitios e tamanhos e densidades e aplicações que se aglomeram e não desaparecem, cada vez mais visíveis. É uma imensidão de plástico de tal forma tão… imensa que já não dá para nada fazer. O sentido de responsabilidade, o vivermos em sociedade, o querer ter esperança faz-nos agir. Daí resultou um grupo de gente comum, de cidadãos, que quer fazer e mudar o estado de (des) graça. O Mar, o Mar, o Mar, sempre preocupados com o crescendo do problema, há tanto lixo no Mar. Mas que raio??.

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more for the plastics

Com tanto Mar quase que nos esquecíamos que o Mar por si só não cria plástico, não o produz. É o Homem, claro, somos nós que o produzimos, que o consumimos, que o descartamos. E não vale a pena apontar o dedo aos outros, temos que ser capazes de dizer “eu também sou responsável e também posso e devo fazer mais”. Resumindo, o lixo vem de terra, começando a deixar de fazer sentido atuarmos sobre a consequência, o tal lixo no Mar, mas sim sobre a causa, o Homem e os seus hábitos. Fruto deste amadurecimento, a NMPA começou a dirigir as suas baterias para terra, para a origem do que vai parar ao Mar. Reunimos, reconhecemos, identificamos, agimos, partilhamos, alertamos e queremos cada vez mais acordar a inércia e alimentar a esperança. Para a esperança é preciso acreditar que o futuro vai ser melhor, que é desta que vamos acordar e mudar o paradigma dos consumos descartáveis, da Terra imensa, dos problemas “dos outros”. É preciso olhar à nossa volta e… sentir e trabalhar na mudança, contribuir para a evolução. Há tempos que temos vindo a ser confrontados com uma realidade tão real que mais parece ficção, com factos tão assustadores que nos fazem aperceber que o problema está mais entranhado na Humanidade do que alguma vez pensámos ser possível – As Escolas dos Açores, As Escolas DO FAIAL, estão cheias de lixo, dentro e fora delas. É tal a banalização do consumo imediato, da desresponsabilização, que criámos involuntariamente uma capa de tolerância que nos ajuda a levantar todos os dias e encarar e viver no meio deste… lixo. Tolerância essa respon-

sável pelo ponto crítico a que chegámos e que permite que observemos passivamente fracos hábitos de cidadania. Na Escola Secundária Manuel de Arriaga presencia-se e vive-se a vergonha diariamente. Aos seus portões acumulam-se beatas de cigarros, nos seus pátios de recreio, campos de jogos ou espaços verdes encontramos garrafas de água, maços de tabaco, papéis de gelados, de chocolates, de batatas fritas, guardanapos, lixo escolar, e muito mais. Ao redor da escola, ao longo das vias de saída em direcção aos bairros habitacionais, voltamos a encontrar lixo e mais lixo e mais e mais lixo… no chão. Perguntamo-nos se alguém saberá que existe um Regulamento de Resíduos Sólidos Urbanos na Horta que proíbe estas práticas há tanto tempo que o não cumprimento é punível com uma coima que ainda está expressa em escudos?? No entanto… é verdade, a nossa tolerância dispõe-se a educar alunos com base na impunidade pela falta de cidadania. Na própria escola existem brigadas de limpeza, incutindo o espírito “podes

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Azores As Escolas dos Açores estão cheias de lixo, dentro e fora delas. É tal a banalização do consumo imediato, (...) e viver no meio deste… lixo

sujar que há-de vir alguém atrás e limpar”. Há acções de sensibilização ambiental, há cinzeiros e caixotes espalhados pelo exterior e interior das instalações, há informação disponível, há uma disciplina de cidadania, a Câmara Municipal da Horta tem feito um fantástico trabalho a tentar gerir os resíduos urbanos, e…. qual o resultado? Invariavelmente, sempre o mesmo – Lixo e beatas pelo chão e a impunidade de quem o pratica. Numa Escola, caros leitores, é na própria Escola que ensinamos estes hábitos ao futuro da Sociedade?! É com este sentido de responsabilidade e cidadania que queremos que os nossos filhos cresçam?! Assim, que esperança podemos nós ter de que algo vai mudar? De que nos vale andar a limpar os mares e as ribeiras e a costa se não conseguimos estancar o problema na origem? É como tentar estancar uma ferida limpando o sangue que cai no chão… Honestamente, seria bom que pensássemos todos se é isto que queremos ensinar e deixar aos nossos filhos. É que se assim for, estamos mesmo condenados… Precisamos de esperança, precisamos de acreditar que algo vai mudar, de que vamos conseguir ser bons para nós próprios, vamo-nos ajudar. Por uma Escola sem lixo, pelo fim da tolerância, pela responsabilização, pela educação, pela cidadania, Juntos somos mais fortes! 13 | fazENDO


Entrevista: música MIGUEL MACHETE

Carlos Gue

O meu trajecto como músico, compositor e intérprete começou por volta dos meus dezasseis anos de idade, no Liceu de Almada, influenciado pelo movimento dos “baladeiros. Aos dezoito anos entrei para o coro da Incrível Almadense, onde se pode dizer que começou a minha verdadeira formação musical, trabalhando com pessoas que, embora em princípio de carreira já tinham alguns créditos firmados. Luís Pedro Faro, Francisco D’Orey, Domingos Morais e Eduardo Paes Mamede foram simultaneamente mestres e amigos tendo alguns vindo mais tarde a ser fundamentais naquele que foi o primeiro grande projecto de que fiz parte: o Grupo de Acção Cultural – Vozes na Luta, fundado por José Mário Branco.

A seguir ao GAC toquei com o Zeca Afonso, com quem aprendi muito, quer a nível musical quer a nível humano. Foi um grande amigo e, sem querer, um grande mestre. A seguir toquei com o Fausto, outro grande mestre da criatividade e do bom gosto. Com ele fiz o concerto que ainda hoje considero ter sido o concerto mais importante da minha vida: “Por este rio acima”, ao vivo no Coliseu de Lisboa, 1984. Mas antes disso, em 1980, farto da vida agitada de Lisboa, retirei-me para os Açores para “lavar a cabeça por dentro” e ao fim de pouco tempo formava o “Rimanço” juntamente com Aníbal Raposo, Luís Bettencourt, José Borges de Sousa e Ana Paula Proença. Em 82 regressei ao continente e passado algum tempo comecei a tocar com o Sérgio Godinho, com quem fiquei cerca de cinco anos. Foi outro dos meus grandes mestres, para além de um amigo que afectuosamente conservo até hoje. Depois do Sérgio decidi dedicar-me à construção de instrumentos, e ingressei no curso “Arte de trabalhar a madeira” da Fundação Ricardo Espírito-Santo. Ainda durante o decorrer deste curso conheci o Paulo Marinho, que tocava na Sétima Legião, e me convidou para uma participação num concerto em Lisboa. Logo a seguir, o Rui Veloso, através do José Peixoto, convidou-me para gravar umas flautas no álbum “Auto da pimenta”. No ano seguinte fazia parte da banda e fizemos dezenas de concertos. O Paulo Marinho tinha, conjuntamente com Francisco Bouzó e Nuno Cristo, um grupo que se dedicava à divulgação da Gaita-de-foles, chamado Grupo de Gaiteiros de Lisboa. Aos poucos, entre saídas e entradas, o núcleo duro dos Gaiteiros de Lisboa foi-se formando, contando com a colaboração do José Mário Branco. Neste momento tenho um projecto de duas vozes e duas sanfonas com a Julieta Silva chamado “Gárgula”, que inclui repertório que vai desde a música antiga até à música tradicional portuguesa e de outros países.

Já a quis deixar, mas ela foi sempre atrás de mim. Já a traí com a escultura, mas ela perdoou-me. Já fugi para longe, mas ela encontrou-me. fazENDO

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erreiro

Como foi a primeira vez? (como surgiu e se concretizou o primeiro projecto, como foi o primeiro concerto…) Já não me lembro se houve uma “primeira vez”... Claro que sim, foi na Incrível Almadense, numa daquelas festas de fim de ano lectivo. Tinha onze anos e fui cantar a seco, só com um microfone, uma canção do António Calvário. Acho que não devo subvalorizar essa experiência, pois devem ter sido os maiores momentos de pânico de toda a minha vida artística. A música é colega, amiga, amante, ou assinaste mesmo os papéis? A música é uma amante com quem tenho vivido a vida toda. Sempre coabitamos, mas nunca casamos, e nem sempre temos uma relação muito pacífica. Já a quis deixar, mas ela foi sempre atrás de mim. Já a traí com a escultura, mas ela perdoou-me. Já fugi para longe, mas ela encontrou-me, e depois, sedutora, quando me apanha proporciona-me os melhores momentos de prazer que alguma vez senti na vida. Coisas de gaja... Para além disso já temos uma catrefada de filhos. Depois de anos de vivência conjunta o quotidiano não se torna maçador? O que seria de mim se eu não soubesse pregar pregos... Quando me chateio com ela fecho-me no atelier e desato a fazer coisas para a esquecer. Na maioria das vezes ponho-me a construir instrumentos, em gestos concentrados e metódicos. Quando chego ao fim concluo que afinal estive a construir mais uma prenda para ela. Ofereço-lho, fazemos as pazes, e às vezes fazemos mais um filho. De que forma convives com as músicas dos outros em Portugal e no Mundo ? Todas as músicas dos outros me interessam. Para além de me darem ou não algum prazer sensorial, todas para mim funcionam como referencia e me ajudam a definir o meu trajecto. As músicas que se vão fazendo por cá, chegam aí? Os Açores são uma região musicalmente muito rica, e de vez em quando vou-me dando conta de que existe muito mais por aí do que o que cá chega. De qualquer forma, os projectos de maior qualidade vão passando de vez em quando na Antena 1, graças a um homem que muito tem feito pela música portuguesa chamado Armando Carvalheda. Uma das grandes condicionantes à verdadeira integração da música açoriana no panorama musical português, deve-se à questão das viagens aéreas, e consequente dificuldade em participar em espectáculos e eventos promocionais no continente. Pode ser que agora, com as novas tarifas, a situação melhore. Já deste música aos Açorianos? Foi bom para os dois? Apesar de ter vivido em S. Miguel apenas dois anos, lá criei raízes, deixei amigos e fiz parte de projectos que se prolongaram para além da minha partida, como o grupo “Rimanço”. Por outro lado, e ao longo da minha carreira musical pós Açores, tenho vindo pontualmente a ser convidado a participar em projectos açorianos ao nível do Cinema, Teatro e Música com Zeca Medeiros, Teatro de Giz do Faial, Luís Bettencourt da Terceira e os grupos musicais Bandarra, do Faial e Miryca Faya, da Terceira. Acho que foi bom para os dois.

BD

Concurso Avenida Marginal Marco Silva A terceira edição do Concurso Internacional de Banda Desenhada/ Histórias em Quadrinhos Avenida Marginal 2015 já está a receber trabalhos. O prazo de entrega de projetos da terceira edição desta trienal de BD/ HQ termina dia 29 de Março de 2016. Autores de todas as idades podem concorrer com o número de trabalhos que entenderem. Este concurso, direcionado a todos os países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), caracteriza-se por ser um concurso de curtíssimas da Arte Sequencial dos Comics, pois as estórias devem estar contidas em apenas uma prancha (página). Para mais informações e leitura do regulamento visitem a página oficial do concurso: http://concursobdavenidamarginal.blogspot.pt 15 | fazENDO


Polvos ao O polvo é um dos mariscos mais populares no mundo, facilmente comprovado pelas dezenas de receitas culinárias existentes, do oriente (Japão, China) até ao ocidente (Portugal, Espana, Itália, Brasil), constituindo iguarias da gastronomia tradicional. Contudo, o fascínio dos polvos vai muito para além da culinária. Estes animais têm sido temas recorrentes em obras de arte antiga, na literatura e em lendas marítimas. Além disso, o polvo é um importante modelo animal em diversos campos da investigação científica, do comportamento à psicologia experimental, da neurociência à robótica, passando pela biologia e ecologia. Apesar de serem invertebrados, os polvos são animais inteligentes, dotados de grande flexibilidade corporal e comportamental, resultado da notável capacidade de aprendizagem, ou seja têm capacidades cognitivas sofisticadas. Os polvos podem aprender a abrir frascos para se alimentarem de presas que estejam no interior. Podem mesmo aprender a resolver uma tarefa observando outro polvo a fazê-la. Na Indonésia, polvos selvagens (Amphioctopus marginatus) recolhem regularmente cascas de coco do fundo do mar e usam-nas como ferramentas defensivas, apesar de isso tornar a sua locomoção menos eficiente e mais arriscada. Estas observações também sugerem que os polvos, tal como corvídeos e os macacos, são capazes de planear o futuro. Uma das características mais carismáticas dos polvos, e de outros

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cefalópodes (lula e chocos), é a sua grande habilidade de camuflagem ativa. Ao modificar a cor e a textura de sua pele, os polvos podem assumir diversas aparências distintas (padrões corporais). Estas soberbas capacidades de disfarce são utilizadas de forma plástica para fins distintos. Através de camuflagem, o polvo reproduz na pele as principais características do fundo, tornando-se desta forma "invisível" aos predadores. Em contexto social, as intenções agressivas são

demonstradas através de aparências bem visíveis: coloração escura juntamente com um aumento do tamanho corporal (comportamento de confronto). Os polvos são também dotados da grande capacidade de regeneração corporal. Após a perda de um braço, bastam algumas semanas para observar o crescimento de um novo, plenamente funcional. Finalmente, vale a pena notar que o polvo foi recentemente escolhido como modelo para pesquisa tecnológica. Devido à locomoção complexa, deslocando-se rapidamente pelo fundo ou nadando a jato, e a ausência de qualquer esqueleto

rígido, polvos são candidatos ideais para inspirar a criação de robôs de corpo mole. Apesar dos polvos serem um assunto de interesse para a ciência desde há mais de 60 anos, vários aspetos da vida destes invertebrados continuam a ser grandemente desconhecidos. Entre eles, está

o estudo da sua vida social, que é uma área desafiante e das mais promissoras. O estilo de vida da maioria das espécies de polvos é tipicamente descrito como estritamente solitária. Suportando esta conjetura, há várias espécies, entre elas, o nosso polvocomum (Octopus vulgaris), que são conhecidas pelo canibalismo, tanto

os polvos parecem rea se estivessem enfre


o espelho! em cativeiro como na natureza. Contudo, há evidências crescentes que questionam a “intolerância social" dos polvos, apoiando uma definição mais plástica deste conceito. Em Espanha, por exemplo, o polvo-comum tem sido observado a compartilhar os seus abrigos com outros conespecíficos. Para compreender melhor este

enigma é necessário observar os polvos no seu ambiente natural. Mas como é que isso pode ser feito, se os encontros sociais são tão raros de testemunhar? A resposta a esta pergunta começou recentemente a abordada numa colaboração entre a Estação Zoológica Anton Dohrn em Nápoles, Itália, e do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores no Faial.

agir ao espelho como entando outro polvo

Questionámo-nos: como irão reagir os polvos à visão de sua própria imagem refletida num espelho? Após a realização de alguns testes em laboratório, em Nápoles, decidimos observar as reações dos polvos no ambiente natural dos Açores. Durante o último verão foram realizadas observações subaquáticas em locais vários locais do Faial (porto da Horta, Porto Pim, EntreMontes, Castelo Branco,

Varadouro, Ribeirinha e Pedro Miguel) e do Pico (Santo António e Santo Amaro). Em cada mergulho, colocamos um espelho na frente dos polvos que encontramos nos seus abrigos e gravamos em vídeo os comportamentos expressos pelos animais. Embora ainda de forma preliminar, este estudo proporcionou já alguns resultados interessantes. Assim, os polvos parecem reagir ao espelho como se estivessem enfrentando outro polvo, aparentemente não se não se autoreconhecendo. Os pequenos polvos foram mais tímidos e tentaram passar despercebidos (através da camuflagem). Já os de maior

Piero Amodio, Stazione Zoologica Anton Dohrn João Gonçalves. DOP University of Azores tamanho têm tendência em explorar repetidamente o espelho com os braços, e também apresentaram comportamentos agressivos em direção à sua própria imagem. A variabilidade do comportamento desencadeado pelo espelho sugere que a resposta dos polvos à vista de um conespecífico pode ser bastante plástica, dependendo do seu tamanho. Isto não é difícil de compreender, considerando que os pequenos polvos são mais facilmente canibalizados pelos maiores. Embora a utilização de espelhos seja classicamente usada para investigar o comportamento social de animais em cativeiro, esta ferramenta nunca foi usada para estudar o polvo em estado selvagem. Pela primeira vez, este estudo demonstrou que os espelhos são instrumentos muito interessantes para investigar o comportamento social dos polvos em estado selvagem. Usando esta nova abordagem experimental no futuro, iremos certamente aumentar a nossa compreensão sobre estes animais saborosos, mas também fascinantes. Gostaríamos de expressar os nossos agradecimentos a todas as pessoas que colaboraram neste estudo: Renato, Manuel Enes, Marc LaRose, Mónica Silva, Vitor Rosa, IMAR – facilidades concedidas. 17 | fazENDO


de um

A estória

MARCO SILVA

SELVAGEM

Inspirado no Épico de Gilgamesh Enkidu, homem-animal coberto de pelo, percorria selvaticamente a terra sem ter conhecimento da sua humanidade. Corria lado a lado com as gazelas e os antílopes e partilhava com estes seres os pastos verdes e a água fresca dos rios rápidos de terras férteis sem muros que as delimitassem. Vivia feliz e não conhecia civilização ou homem civilizado, conhecia apenas a linguagem simples dos animais e a passagem das estações, que o levavam a percorrer longas distâncias. Numa das suas viagens conheceu o monstro Humbaba da floresta de Cedros que, cuspindo fogo e rugindo intensamente, o assustou e lhe deixou uma indelével cicatriz na sua grosseira e fugidia memória. À floresta de Cedros voltaria um dia mais tarde para matar a besta pestilenta. O rei Gilgamesh, semideus do lado do mãe, ouvindo falar deste selvagem que percorria livremente o território que lhe pertencia, decidiu resolver a situação. Não ficava bem andar aquele tipo a correr de um lado para o outro sem prestar cavaco a ninguém. Viviam-se tempos modernos, as pessoas começavam a compreender que a sua vida era para ser vivida em cidades, mesmo que o rei fosse um déspota e que reclamasse o direito de mandar e desmandar sobre as suas vidas e as dos seus descendentes.

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Enkidu teria de ser domesticado e teria de pagar impostos como toda a gente, mas a sua força vital era incomensurável e divina. A tarefa não augurava ser de fácil resolução. O rei decidiu então, chamar à sua corte, na cidade de Uruk, três dos mais renomados génios do seu reino. Os génios labutaram dias seguidos em ruminações intelectuais típicas de quem usa o cérebro com se fosse um músculo e regurgitaram finalmente uma forma de trazer Enkidu à razão. Enviariam um grande exército que à força de pancada iriam educar o ignorante selvagem. Um pelotão de homens bem armados foi enviado ao encontro de Enkidu e, durante algum tempo, os génios passearam-se despudoradamente pelos corredores e jardins suspensos do palácio real confiantes de que o seu plano teria sucesso. Quando de lá veio a notícia que o brutamontes havia rechaçado um pelotão de homens armados até aos dentes, os génios foram chamados à presença do rei. Amedrontados mas sem perder a face, enfiaramse em circunvalações mentais dignas do seu estatuto e, durante vários dias, fecharam-se num grande salão onde especularam sobre a melhor forma de lidar com um homem que não desejava ser civilizado.

Ilustração M


Enkidu teria de ser domesticado e teria de pagar impostos como toda a gente, mas a sua força vital era incomensurável e divina.

arina Ladrero

Enquanto os génios discutiam sobre como resolver a situação, o rei foi abordado por uma sacerdotisa, que lhe disse que sabia a melhor forma de tratar do assunto. Gilgamesh deu-lhe carta branca e prometeu-lhe poder e um lugar cativo na sua entourage. A sacerdotisa era uma mulher inteligente e bela e o incentivo de subir profissionalmente eralhe apelativo.

Enkidu decidiu que iria confrontar Gilgamesh e puseram-se a caminho de Uruk. Pelo caminho ele ganhou consciência da sua nudez e tapou as suas partes pudendas com vestuário de lã feito por pastores. Comeu comida humana e consumiu bebidas fermentadas como a cerveja e o vinho. Apanhou carraspanas de caixão à cova e virou as costas à vida idílica que um dia havia conhecido.

Quando finalmente encontrou Enkidu, a sacerdotisa aproximou-se dele e deu-lhe a conhecer o seu corpo. O homem-animal possuiu-a e tomou consciência de si próprio e da sua recémadquirida humanidade. As gazelas e os antílopes fugiram dele.

Quando Enkidu entrou em Uruk logo encontrou o semideus Gilgamesh e um confronto longo e violento teve lugar entre os dois. Enkidu, que ainda vinha de pernas bambas depois da ramboia dos últimos dias, quase conseguiu vencer o rei, mas inevitavelmente Gilgamesh se superiorizou e derrotou-o. O rei era homem semidivino habituado a pelejas violentas e não se iria deixar subjugar por um labrego embriagado.

Na sua luxúria, Enkidu drenou grande parte da sua energia vital na sacerdotisa que o recebeu durante dias em concupiscência. Finalmente caiu num sono profundo. Sonhou com o vento nos seus longos cabelos. Corria com um antílope, mas não corriam juntos. Perseguia o antílope e num grande salto degolou-o e sorveu todo o seu sangue. Passaram-se dias e Enkidu acordou. A sacerdotisa achou-o um ser magnífico e percebeu a sua origem divina. Enkidu ficou surpreendido pelo facto de perceber a linguagem humana e a sacerdotisa partilhou com ele a noção de que um certo rei tirano o queria trilhar.

Contra todas as espectativas, fortes laços de amizade foram formados logo depois do fim da disputa. Os dois novos amigos, Enkidu e Gilgamesh, decidiram viajar pelo mundo, deixando a governação de Uruk nas mãos de burocratas mamões.

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O Arquivo de Memórias da Baleação é um projecto financiado pelo Governo Regional dos Açores com o objectivo de recolher entrevistas aos baleeiros ainda vivos no arquipélago. A primeira fase do trabalho de campo realizou-se no Verão de 2015 com um total de 36 entrevistas nas ilhas do Faial, Pico, São Jorge, Flores e Corvo. A construção de memórias da baleação não é uma novidade. Existe um conjunto importante de livros escritos por quem a viveu pessoalmente e a transcrição de entrevistas iniciadas por Dias de Melo nos idos anos 80. A construção de memórias é muito complexa e está espalhada por monumentos, museus, casas dos botes, regatas e exposições temporárias, algumas com projecção internacional. Embora nestes cenários se procure dignificar a figura do baleeiro como exemplo de coragem e testemunho da última epopeia marítima, poucos são os casos que exploram as memórias individuais como uma fonte preciosa de conhecimento histórico.

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Este projecto propõe um resgate urgente de memórias alargado a todas as ilhas e a definição rigorosa da entrevista aos baleeiros sobre aspectos sociais e profissionais pouco conhecidos. Interessa-nos saber, por exemplo, como é que cada baleeiro gastou o dinheiro que recebia pela caça ao cachalote. Tratase, na essência, de um exercício de história oral. Partimos do princípio que os documentos escritos, apesar de abundantes, serão insuficientes para se compreender melhor o passado. A história oral tem servido para realizar uma história “desde abaixo”, para escutar os grupos sem voz - sem documentos escritos que revelem o seu quotidiano por oposição a líderes e elites que expressaram as suas ideias em livros, jornais e outros suportes. O maior potencial da história oral não está em conhecer novos factos, mas entender como esses factos foram percebidos e são recordados por quem os viveu. As memórias de um baleeiro são uma fonte oral composta de palavras faladas, sujeitas a um jogo

O registo é influenc cia pessoal de cada fizeram antes, du tempo em que f


Pesquisar Memórias da Baleação Francisco Henriques

um projecto de história oral

ciado pela experiênum, por aquilo que urante e depois do foram baleeiros

vivo de entoações e velocidades, enredadas em histórias que nos querem ensinar. A oralidade e narratividade da fonte oral também contém importantes silêncios sobre assuntos delicados de que preferem não falar. A gravação em vídeo com som dá uma extraordinária riqueza à fonte oral. As entrevistas em formato digital, que deverão ter acesso público, ficam disponíveis para múltiplas investigações.

influenciado pela experiência pessoal de cada um, por aquilo que fizeram antes, durante e depois do tempo em que foram baleeiros. Um baleeiro que emigrou terá memórias distintas do baleeiro que ficou e, por decisão ou obrigação, se dedicou a outras actividades. Em todo o processo de recolha está implícito o valor que atribuímos aos entrevistados, a empatia com cada indivíduo e até o fascínio pelas suas recordações.

Ainda assim, estas fontes orais vão depender muito da relação que mantivemos com os entrevistados. Os documentos escritos, tal como um bom livro de literatura, podem despertar-nos sentimentos, afectos ou distância pelo autor, mas conhecê-las. As fontes orais constroem-se no preciso momento da recolha. Isso implica que conheçamos bem o terreno e o grupo que estamos a entrevistar. Não podemos ignorar que a baleação terminou há praticamente três décadas e os baleeiros assistiram ao processo de extinção e reconversão em património. E o registo é

Finalmente, a história oral da baleação permite um maior envolvimento da comunidade. Revela as experiências “normais” de trabalho e o impacto que criaram na vida familiar e na comunidade, e diminui as barreiras entre o público e as pessoas que desenvolveram a investigação. O uso das memórias deverá ter um lugar especial nos Museus. Seja para criar uma atmosfera própria de rememoração do passado, seja para ajudar a conhecer melhor os objectos selecionados para exposição.

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Da perifrástica, do gerúndio e

SARA LOUREIRO

Exímios na “arte do prolongamento”, alentejanos e açorianos, fruidores do incomensurável que os rodeia, destacam-se, de entre os falantes da nossa língua (já para não falar dos brasileiros e de alguns outros povos lusófonos), como aqueles que mais se socorrem das locuções perifrásticas e do gerúndio, transformando, claramente, o seu quotidiano em lições de usufruto da vida, do momento e do vivido sentido. Isto contraria a tese, alvitrada por alguns, de que o emprego da perifrástica e do gerúndio se trata de um mero vício de linguagem. Longe disso. Diria, antes, que é demonstrativo de uma filosofia de vida. Vejamos, pois, ao que me estou referindo. Centremo-nos em alguns exemplos bem prosaicos e que todos já ouvimos ou, se calhar, até proferimos. Dizer “Estou indo para o trabalho”, ainda que, em termos semânticos, pareça idêntico, é muito diferente de dizer “Vou para o trabalho”. Aliás, nem sequer “Estou lendo um livro interessante” é exactamente o mesmo que “Estou a ler um livro interessante”. Nos primeiros exemplos, com o gerúndio integrado na conjugação perifrástica, o sujeito dá-se tempo, domina-o, espraia-se, dispõe-se serenamente para o caminho, (não essencialmente para o destino), enquanto a acção se desenvolve a pouco e pouco, de forma gradual e progressiva, sem pressas… só pode! “Estou innnndo…”. Isto só pode fazer bem a tudo! No segundo caso, não há tempo para “essas coisas”. É um “Ala, que se faz tarde!”. Correr à frente do tempo ou atrás do tempo, neste caso, tanto faz. O certo é que é ele que determina o ritmo, insaciável, engolindo tudo e todos, sem permitir o gozo do caminho ou o desfrute do livro em toda a sua essência. Faz toda a diferença!

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Já agora, quanto ao “Vai-se fazendo” e à forma como este se processa, aplica-se praticamente o mesmo princípio. Senão vejase: o que se faz deve, supostamente, dar prazer e é legítimo perguntar se esse prazer advém do produto em si ou do processo. Talvez de ambos. Depende. Mas é inegável que o “Vai-se fazendo” implica uma realização gradual, um crescendo, um desbravar de caminhos, um desenrolar-se no tempo com um tempo próprio e uma carga afectiva que supera, em muito, a satisfação do produto acabado. É como na viagem, em que a chegada ao destino não é o mais importante, por ser demasiado redutor. Já no que diz respeito ao “Vaise andando”, a coisa é diferente. Quer-se dizer: todos os portugueses, limites geográficos à parte, adoptaram, de forma maquinal, a perifrástica com o gerúndio, como resposta à pergunta “Tudo bem contigo?” Parece que, afinal, a avaliar pelo que se diz, as coisas não vão bem. Nada vai efectivamente bem. Vai-se… Estamos perante a sobreposição do ramerrame e da mesmice dos dias sem sabor relativamente à vontade de querer/poder fazer diferente. Deste modo, a realização gradual subjacente ao “Vai-se fazendo” dá lugar ao desgaste gradual que emana do “Vai-se andando”, de que todos somos vítimas quando o repetimos. Invertido, assim, o paradigma anteriormente apresentado e em clara contradição com o discorrido, é tempo de endireitar as costas, pôr de parte o fatalismo e fazer alguma coisa que valha a pena para mudar o que tem que ser mudado.

do

“Vai-se andando” P E N S A N D O B E M

.. .

Por isso, quando da próxima vez nos perguntarem ou perguntarmos “Tudo bem contigo?”, a resposta pede ponderação. Dêse tempo e dê tempo. Deixe que o olhar se perca, ainda que por instantes, na imensidão da planície ou nas profundezas do oceano e depois, só depois de emergir e ressurgir para a vida, estará em condições de dar contas. A resposta será necessariamente outra.


fotografia Tomás Melo

s a d d o n A u t lém o R

João Venceslau Depois de mais um honroso convite por parte de Frasco António, recentemente nomeado Presidente da Associação Culturista dos Prejudicados do Ultramar, venho dar o meu modesto contributo para a compreensão de fenómenos urbanos contemporâneos numa perspectiva sociológica. As rotundas voltam a estar no centro da discussão, passe a redundância. Desta feita, uma rotunda na ilha Terceira que merece uma análise brevemente exaustiva. O conceito é de fácil apreensão: Nasceu por causa de um poste. Passo a explicar, ao contrário da história do ovo e da galinha, aqui sabese que o poste nasceu primeiro. Muitos automobilistas e até condutores comuns, ao circularem durante a noite, ficavam encandeados com a luz forte do candeeiro, perdiam o controlo da sua viatura, e batiam contra o poste.

Praças circulares onde desembocam ruas foram “embelezadas” ao longo dos últimos anos. Agora vamos satirizá-las até à exaustão!!!

E assim nasceu uma rotunda, por causa de um poste, por causa da tomada de posse do senhor presidente. A rotunda nasceu assim para proteger o dito poste. E para que se soubesse que era uma rotunda, foram introduzidos dois sinais de indicação de…rotunda. Estes elementos vieram também ocupar o espaço vazio, conferindo também um efeito estético por estarem dispostos numa posição diametralmente oposta. Mas porquê um poste de iluminação ali naquele sítio? Estamos aqui para o esclarecer, prestimoso leitor do Reader’s Digest. Aquando da tomada de posse de Frasco António como Presidente da associação supra-referida, houve uma gorda agenda de actividades, entre as quais uma maratona. Naquele local específico

era a meta, e era necessário não só estender uma fita (a chamada linha da meta), como também colocar uma lona no cimo a dizer precisamente “meta”. Ora o poste veio resolver tudo, pois a mente iluminada do senhor presidente lembrou-se que se aquele fosse um poste de iluminação, teria de ter um cabo eléctrico, e que o mesmo podia ter a dupla função de alimentar o poste e servir para prender a lona. E assim nasceu uma rotunda, por causa de um poste, por causa de uma maratona, por causa da tomada de posse do senhor presidente. Obrigado e até à próxima, se não for antes. 23 | fazENDO


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