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14 a 28 ABR. 2011

Ilustração Gaspar Pedro

Acordo ortográfico: fim ou fmi?


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014 a 28 ABR. 2011

opinião entrevista

Colóquio Internacional Carlos Riley fala ao Fazendo sobre o Colóquio “Os Açores, a I Guerra Mundial e a República Portuguesa no Contexto Internacional” que decorreu no mês de Abril em três cidades açorianas

Porque é que este é um Colóquio Internacional? O que lhe dá o epíteto de internacional é o facto de ter tido a participação de conferencistas estrangeiros. O colóquio é ainda internacional porque entendemos que uma das iniciativas produzidas pela Direcção Regional da Cultura no âmbito do Centenário da República devia de alguma forma procurar sublinhar qual tinha sido a dimensão internacional do papel do Arquipélago dos Açores no âmbito da Primeira República, ou seja, o que é que os Açores teriam acrescentado à política externa portuguesa da época, já que é por ocasião da I Grande Guerra que se dá a emergência daquilo que é justamente depois considerado a importância estratégica dos Açores no séc. XX. Quando se fala dos Açores e de Estratégia a maior parte das pessoas têm quase, desculpe-me a expressão, uma espécie de reflexo de Pavlov, é um reflexo imediato: fala-se logo da Base das Lages e da II Guerra Mundial. Ora de facto aquilo que é a pedra de toque, o que marca o início do que virá a ser o papel que os Açores desempenham depois por via da Base das Lages, acontece justamente durante a I Guerra Mundial. A partir de finais de 1917/18, há a dita instalação de uma base anglo-americana

capa

O Cão de Loiça Gaspar Pedro O cão de loiça é bonito, luzidio e ilusoriamente real quando está quieto. O cão de loiça não morde, porque não consegue abrir a boca. Foi feito para estar calado, e ter um ar adocicado. Na realidade o cão de loiça está fragilizado, desprovido de emoção e estático na expressão, perante toda a situação. No sossego do lar, é um cidadão exemplar. Assiste à televisão e não ladra, acata toda e qualquer opinião. Compreende a austeridade, o acordo ortográfico e o estado da economia, assim como os problemas futebolísticos do dia a dia. Ao contrário de outras espécies, o cão de loiça não está em vias de extinção, a não ser que comecem por aí a partir a loiça.

que só é desfeita e desmantelada em inícios de 1919. Aquele conceito das chamadas facilidades militares que são concedidas pelo Governo da República Portuguesa aos americanos nos Açores, não é inaugurado nem começa na II Guerra Mundial, mas sim na I Guerra. Em virtude deste acontecimento e deste significado estratégico, achámos que tinha quase como um efeito pedagógico celebrarmos ou promovermos o colóquio. Chamámos-lhe internacional porque procurávamos vincar este papel dos Açores na política externa portuguesa da época. E portanto o colóquio é internacional não só pelo facto de ter conferencistas estrangeiros como por causa do facto de os Açores serem a grande carta de trunfo que o Governo da República Portuguesa tem no âmbito das negociações internacionais. Os Açores e também as Colónias, mas são sobretudo os Açores que fazem com que Portugal tenha uma relevância estratégica importante na política externa dessa altura. Estes colóquios foram planeados para algum tipo de público específico? Não havia nenhum segmento de público em particular. O Colóquio funciona em duas dimensões que eu já agora gostaria de apresentar: uma é o momento das conferências e das sessões do Colóquio propriamente ditas. São sempre abertas ao público, aparece quem quer e obviamente não cabe nunca aos organizadores e aos promotores da iniciativa, estarem, passe a expressão, praticamente a encostarem uma pistola às cabeças das pessoas para irem assistir. Mas por outro lado há um segundo momento que eu queria aqui vincar que é o seguinte: o Colóquio vai ser publicado em actas e portanto, independentemente da maior ou menor adesão do público em termos de assistência às sessões do colóquio (obviamente ficaríamos sempre contentíssimos se os auditórios tivessem enchentes), todo o contributo dos conferencistas e doutros participantes com comunicações vai ficar fixado e cristalizado num livro em papel. Dadas as características do colóquio, haverá gente que possa estar mais sensível a este tipo de coisas que aqui se fala, que serão, enfim, os estudantes universitários, os estudantes dos últimos anos do liceu, o público adulto e culto, em particular. Mas penso que a maneira mais correcta de responder à sua pergunta é com uma redundância: o público-alvo deste colóquio era o público. O Colóquio aconteceu em três cidades açorianas. Em cada uma delas houve

uma sessão de conferências, porquê a escolha de um painel diferente para cada ilha? Como pode ver pelo programa do colóquio, cada um dos painéis abordava temas diferentes. O de Angra do Heroísmo centrou-se nas questões ligadas à I Guerra Mundial, o de Ponta Delgada, relacionou-se mais com o Regionalismo e com questões mais internas da sociedade açoriana: o que é que eram os Açores e a sociedade açoriana no período da Primeira República (de 1910 a 1926). E sobretudo o fenómeno político, cultural e social, da emergência do movimento regionalista, que se dá nos anos 20 e que tem uma expressão muito vincada em termos ideológicos e das suas manifestações em S. Miguel (embora também a tivesse noutras ilhas). Portanto pareceu-nos que, por uma questão de casting, este tema seria uma sessão mais indicada para Ponta Delgada. Por outro lado, tudo o que tivesse a ver com uma dimensão mais internacional, com o tema dos Açores no contexto da política externa portuguesa, faria mais sentido fazer aqui na Horta, pensando no ambiente muito cosmopolita, muito internacional que teve a ilha do Faial e a cidade da Horta no período da Primeira República em virtude da instalação dos Cabos Submarinos a que depois se sucede, embora já num período posterior, a amaragem dos Clippers nos finais da década de 30 e etc. A opção de se ter optado por uma estrutura tripolar advém da preocupação descentralizadora de procurar levar este colóquio ao maior número possível de pessoas. A acompanhar a sessão do Colóquio na cidade da Horta, é inaugurada uma exposição intitulada Açores 1917/1918: Crónica de um ano americano. A ilha do Faial teve alguma relevância no decorrer dos acontecimentos que marcam esse ano? Essa exposição é um encore, já tinha sido inaugurada aqui na Horta em Novembro de 2008. É uma iniciativa da Fundação Luso-Americana para o desenvolvimento e na altura foi feita na sequência de uma outra que a mesma Fundação promoveu no verão de 2008 em Ponta Delgada (o 1º Fórum Açoriano de Franklin Delano Roosevelt). A exposição não só procura cobrir a passagem de Roosevelt aqui pelos Açores, numa viagem que ele fez a caminho da Europa no Verão de 1918, como sobretudo procura evidenciar aquilo que lhe falei há pouco e que era a instalação da base naval americana em Ponta Delgada. Dentro dessa

exposição há um painel que fala do Faial em particular, porque embora a base naval não se tivesse instalado aqui, o primeiro ponto onde Roosevelt desembarca nos Açores é precisamente o porto da Horta e faz, a expressão é minha, um “roteiro sentimental” aqui pelas antigas casas dos Dabney: a Bagatelle, os Cedars... Os Delano’s, a sua família materna, eram uma família americana estabelecida em New Bedford, que era um importante porto baleeiro. E Roosevelt, na sua infância, ia sempre passar as férias grandes do verão a casa dos avós maternos em New Bedford e portanto ele cresce também num ambiente de um porto baleeiro. É curioso que ele quando passa depois aqui pela Horta escreve uma carta à sua mulher, Eleanor Roosevelt, em que se confessa encantado. Ele diz “isto é muito curioso, é extraordinário, está a trazer-me recordações, parece uma cidade baleeira na América do norte”. E ele também tinha a noção de quem eram os Dabney, porque os Dabney são uma família do patriciado da zona da Nova Inglaterra, e portanto analisando o texto da carta, chegamos à conclusão que de alguma forma, ao visitar aqui a Horta, ele encontra coisas com as quais já estava familiarizado.

Fotografia Afonso Chaves Porto de Ponta Delgada/Rampa do Corpo Santo com soldados e marinheiros norte-americanos - 1918

Aurora Ribeiro

Qual é o balanço final que faz destas três sessões? Não foi possível assistir às sessões de trabalho de ontem, por causa das condições meteorológicas, mas assisti às outras sessões e faço um balanço extremamente positivo. As comunicações e as participações foram de grande qualidade e sobretudo trouxeram um contributo historiograficamente original em relação a um período da história sobre a qual pouco se sabe. O primeiro quartel do Séc. XX; estes primeiros 25 anos, não têm sido muito estudados. E muito menos tem havido um contributo historiográfico estrangeiro. Se eu passar em revista todas as comunicações nas diversas secções e nas diversas sessões de trabalho do Colóquio acho francamente que no final e sobretudo quando o Colóquio tiver as suas actas publicadas em livro, o saldo é bastante positivo. Passe o auto-elogio à organização e à Direcção Regional da Cultura que teve a ideia de promover esta iniciativa. De facto estamos todos de parabéns porque podemos dizer com a consciência perfeitamente tranquila que contribuímos para acrescentar mais conhecimento ao estudo do que foram os açores no inicio do Séc. XX.

FICHA TÉCNICA: FAZENDO - Isento de registo na ERC ao abrigo da Lei de Imprensa 2/99 de 13 de Janeiro, art. 9º, nº2 - DIRECÇÃO GERAL: Jácome Armas - DIRECÇÃO EDITORIAL: Pedro Lucas - COORDENAÇÃO GERAL: Aurora Ribeiro COORDENADORES TEMÁTICOS: Albino, Anabela Morais, Carla Cook, Filipe Porteiro, Helena Krug, Luís Menezes, Miguel Valente, Pedro Gaspar, Pedro Afonso, Rosa Dart - COLABORADORES: Joana Soares, Lélia Nunes, Maria do Céu Brito, Miguel Machete, PNF, Sara Soares, Tomás Melo - PROJECTO GRÁFICO: Nuno Brito e Cunha - PROPRIEDADE: Associação Cultural Fazendo SEDE: Rua Rogério Gonçalves nº 18 9900 Horta - PERIODICIDADE: Quinzenal TIRAGEM: 400 exemplares IMPRESSÃO: Gráfica o Telégrapho CONTACTOS: vai.se.fazendo@gmail.com

APOIO: DIRECÇÃO REGIONAL DA CULTURA


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Ó i ó ai

A música é um bem essencial que alimenta os seres humanos e os ajuda a sobreviver, desde há muitos, muitos anos. Na sua vertente popular e ligeira, foi sendo mastigada e digerida dia após dia, no despertar, na actividade profissional, nas relações sociais, no prazer de cada homem e de cada mulher. A maioria de nós foi apresentada ao mundo, especialmente nas noites de cada dia de vida, pela mão das canções que brotavam de vozes próximas e familiares. É um legado, uma herança que pode e deve ser aprendida ficando porém sujeita à mutação natural dos tempos e ao caminhar dos povos. Neste contexto, e nos tempos da comida rápida e indigesta ou forte fést fud (à boa moda regional) temos que estar atentos e temos necessariamente que agir. A modinha que a senhora Evelina cantava na eira, a melodia que o senhor Maciel tocava na viola da terra, os cantos dos foliões do Capelo não devem, não podem, pura e simplesmente desaparecer da memória colectiva das nossas gentes. Porque essas melodias-harmonias-canções têm uma função, um propósito. Mesmo aquelas que ficaram órfãs por desaparecimento do trabalho que acompanhavam podem sempre encontrar outros progenitores, alguém que as revisite, que as transforme, que as recrie

A Música Portuguesa vai Gostar Delamúsica Própria na Fábrica

Música Popular para todos

dentro do mesmo âmbito que é o do consumo da música popular portuguesa, neste nosso caso. Este foi e é o campo de batalha de homens como Michel Giacometti ou José Alberto Sardinha ou mais recentemente Tiago Pereira, que estará connosco na próxima semana (ver caixa). Esta também é a esfera de acção de movimentos civis como a d’Orfeu Associação Cultural existente em Águeda (www.dorfeu. pt) ou a Pédexumbo - Associação para a Promoção de Musica e Dança de Évora (www.pedexumbo.com). Pessoas que se juntam à volta da música popular e da sua construção/ desconstrução para promover dinâmicas culturais nas terras onde vivem (às vezes afastadas dos pólos urbanos), criarem públicos, novos músicos, reavivarem e sedimentarem memórias, preenchendo dessa forma as faltas que as pessoas têm dentro de si, por vezes sem o saberem.

envolver a comunidade não só tornando possível a formação em música e instrumentos típicos ou tradicionais mas também indo ao encontro dos recentes e antigos cantadores, tocadores e construtores de instrumentos no Faial, de forma a que estes possam contribuir com a sua inestimável sabedoria para este propósito comum - perpetuar e praticar a nossa música popular. A música dá-nos de comer. Porque nos dias que correm se promove a alimentação saudável, devemos então virar os sentidos para o que de mais saboroso brota da nossa terra, seja do agora ou do antigamente.

É também neste enquadramento que recentemente surgiu no Faial a Associação Cultural Música Vadia (MV), que se irá dedicar à produção e apresentação de espectáculos musicais mas também à formação de novos músicos (nomeadamente populares/ligeiros) servindo de complemento ou alternativa às reconhecidas entidades que normalmente ministram formação musical (Conservatórios e Filarmónicas). A MV procurará

Tiago Pereira

Miguel Machete

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Na próxima semana, a ilha receberá a visita de Tiago Pereira. Realizador independente, Tiago Pereira é uma espécie de “caçador de sons”, ou um novo Giacometti do Sec. XXI, mas com uma abordagem mais ampla e heterogénea da recolha. Vem ao Faial mas não é para passear, vem para trabalhar no seu novo projecto, ainda sem nome, mas igualmente relacionado com recolhas de sons, testemunhos, imagens relacionadas com a música tradicional e contemporânea. No próximo dia 21, quinta feira e véspera de feriado, numa organização conjunta do Fazendo com a recém formada Associação Música Vadia e com apoio do OMA, dará uma palestra na Fábrica da Baleia sobre as recolhas e a sua importância no contexto da música popular Portuguesa actual, e apresentará para além de alguns “vídeo-magazines de recolhas”, o seu documentário “Significado - A música portuguesa se gostasse dela própria” - um testemunho visual de contextualização contemporânea das tradições musicais portuguesas, efectuado no âmbito dos 15 anos da d’Orfeu (Associação cultural de Águeda) e publicado numa obra dupla - “Contexto e Significado” com texto de Antonio Pires. O documentário valeu-lhe em em 2010 o Prémio Missão na primeira edição dos prémios “Megafone - João Aguardela”. Esta apresentação será de entrada livre e terá lugar às 18 horas, e o Sr. Carlos terá à sua espera uma tasquinha com maravilhosos petiscos para degustar ao fim da tarde. Fausto

concerto

Schubert em concerto Aurora Ribeiro Franz Schubert não foi o primeiro nem será o último artista a morrer antes de a sua obra ser reconhecida. O profícuo e extraordinário espólio musical que produziu em vida não chegaram aliás, para lhe servir de sustento, já que teve sempre problemas financeiros. Hoje é considerado um dos melhores compositores do séc. XIX, um dos primeiros do período romântico. Outro Franz, o Liszt, disse dele que era o mais poético de todos os músicos. Leveza, frescura, calor e outros vívidos atributos são elogiados na sua obra. A Horta Camerata preparou dois momentos musicais com obras deste compositor que serão apresentadas na Horta. Domingo, dia 17 de Abril, no salão nobre da Câmara Municipal, teremos um recital com o ciclo de canções “Die Schöne Müllerin” (“A Bela Moleira”). Este conjunto de poemas de Wilhelm Müller conta a história de um moleiro

que durante uma viagem ao longo de um ribeiro encontra um moinho e nele conhece a filha do moleiro, e por ela se apaixona perdidamente. Tenta aproximar-se da bela rapariga e por momentos a aproximação dela (ainda que ambígua) deixa o jovem cheio de esperança e alegria. Para festejar o seu contentamento presenteia-a com uma fita verde, colocando-a no seu alaúde. Infelizmente surge em cena um caçador, que obviamente faz despontar o ciúme no coração do jovem, ciúme esse que é completamente fundado, porque a moleira não esconde o seu interesse pelo recém-chegado. O herói entrega-se então a um delírio em redor da cor verde, que de amada por ser a cor da fita oferecida, passa a odiada por ser a cor da roupa do caçador. Vendo que o seu é um amor impossível, decide acabar com a vida, deitando-se ao ribeiro, que lhe canta uma doce canção de embalar a seu pedido. As 20 canções, de espírito Romântico, versam sobre temas característicos

deste estilo: o amor, a esperança, a decepção, a tristeza, a morte, a viagem e a natureza. José de Oliveira Lopes, Barítono (foi coordenador da área de canto da Escola Superior de Música do Porto e cantou durante 20 anos nos melhores palcos de Portugal, contracenando com cantores de renome internacional) cantará os poemas de Müller acompanhado ao piano por Angel Gonzalez (nascido em Madrid, cursou o Curso Superior de Piano do Real Conservatório e obteve em 1989 o prémio Andrés Segovia – Jose Miguel Ruiz Morales). O outro momento é o do Concerto Sinfónico do Domingo de Páscoa, 24 de Abril, às 21h, que, como habitualmente, tem lugar na Igreja de São Francisco. Nos anteriores concertos de Páscoa a orquestra apresentou sinfonias dos períodos clássico e barroco (Pergolesi, Haendel, Haydn, Cimarosa e Mozart), fazendo este ano a transição do

Classicismo para o Romantismo, com Beethoven e Schubert. Será uma rara ocasião para se ouvir tocar uma sinfonia de Schubert nos Açores, pois a sua obra é poucas vezes interpretada pelas orquestras regionais. Uma das suas mais famosas obras, a Sinfonia Inacabada, rodeada de mistério, fará parte do programa. Apresenta-se ainda o solista açoriano João Miguel Andrade, violinista de Ponta Delgada. Este jovem tocará em dois romances para violino e orquestra de Beethoven. A direcção será do Maestro Kurt Spanier.


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Direito de

resposta Joana Soares Gostei muito de ler este texto, porque diz o que muita gente pensa e quer dizer, e se calhar até dizem nas suas casas e nas suas conversas quotidianas. Mas não vai de todo de encontro à minha opinião. Acho que estamos todos em constante mudança, acompanhando ou não, a mudança da nossa sociedade e consequente pensamento. Neste caso particular de uma ocupação territorial de “um território nosso”, que é nosso por ser no Faial, e ao mesmo tempo não é nosso por ser de outrem. Tem piada pensar assim, nós pensamos sempre “a nossa terra”,

Fotografia Tomás Melo

arquitectura e artes plásticas “(…)Preciso da vossa ajuda, falem-me deste canto, ajudem-me a perceber se lá está tudo de facto, e juntos façamos um tratado antropológico e social desta nova fixação ao território.” “o nosso Faial”, mas não podemos ter com certeza absoluta de que é nosso, porque no fundo o que temos é uma ideia e um sentimento recíproco de partilha de uma terra, de um lar.

Por isso acho que estamos a ser um bocado extremistas, quando dizemos “não gosto”, “não fica bem ali!”, ou “não tem a ver com a nossa terra”. Acho que cada um tem a liberdade de criar o seu “habitáculo” como entender e sobre que regras quiser seguir, caso contrário, em que sociedade vivemos e que liberdade é esta, se não pudermos de facto adquirir alguma coisa e assumir uma ideia em “voz alta”? O que será então do conforto pessoal, sem o seu gosto pessoal? Sou a favor de preservar a nossa cultura e arquitectura açoriana, que sim é bonita, é de valor, e deve preservar-se, mas também sei que não podemos

Este signo vive da força marcial primária que é necessária à nascença, para estar entre os mais fortes, os escolhidos pela lei natural. Não é por acaso que o seu planeta regente é Marte, o deus da guerra.

Quanto à nossa cultura, penso que deveria ser feito um investimento em preservar muitos edifícios no centro da cidade, onde existem ainda muitas raízes dos nossos antepassados (a cair em desuso e aos bocados). Tenho uma ideia na minha cabeça, quase como um sonho, em que se deveria aproveitar esses edifícios transformando-os em edifícios públicos, com funções proveitosas para os habitantes da ilha, e os diversos espaços vazios na nossa cidade, em zonas públicas de estar, de passeio, de convívio. Uma verdadeira intervenção urbanística, é o que a cidade da Horta precisa. Cada vez há mais carros e

Fora da cidade, acho que deve sim haver a liberdade para se construir o que se quiser. Seja feio ou bonito, o belo não existe. Existe simplesmente a forma e o gosto. Bom ou mau, não nos cabe a nós decidir. Como disse, e bem, o nosso “Banksy Faialense” (agora ficou assim apelidado): “Intervir, todos intervimos. Uns de maneiras já vistas, outros de maneiras nunca vistas e alguns de maneiras vistas noutros sítios mas que são novas aqui. Qualquer alteração paisagística é um vandalismo. O tempo é o maior vândalo de edifícios, e até ele consegue ter bom gosto. As cidades mudam. Nós mudamo-las e elas mudam-nos.”

Albino

Aurora Ribeiro

O equinócio da Primavera, data em que hoje se plantam árvores e se diz às crianças que as árvores são nossas amigas, era uma data cósmica de invulgar importância para os antigos povos. Marcava o início de um novo ciclo, o brotar de novas energias, o nascimento da vida. O ponto fulcral do Carneiro é a parte frontal do crânio, que marra, que irrompe e consegue, tal como a semente que rebenta da terra e como o ser humano sai da barriga da mãe.

Cada um deve ser livre de se exprimir, e se alguém quer exprimir-se através da sua casa, força. Sou a favor das experiências, desde que não sejam atentados á natureza (em termos físicos).

cada vez menos pessoas na rua. Tudo isto é muito bonito e interessante de se dizer e debater, mas sem dinheiro não se vai “fazendo” nada. Fica aqui uma ideia para o futuro.

Dar voz à arquitectura

auróscopo

Carneiro costuma ser considerado o primeiro signo do zodíaco, pois este já foi, no passado, o signo onde o sol se encontrava no equinócio da primavera (assunto abordado há duas edições atrás e que se relaciona com o fenómeno da precessão dos equinócios – o filme cujo link vem acima é um excerto do primeiro Zeitgeist e explica de uma forma compreensível que fenómeno é este).

agradar a “gregos e a troianos”, nem muito menos “ditar” as regras da construção.

22 de Março a 22 de Abril Alguns almanaques aplicam um verbo a cada signo, o que embora possa ser redutor, é também uma forma simples e clara de entendimento do carácter psicológico associado. Carneiro, por exemplo, dirá: “Eu sou”, e de facto este é um signo de primariedade, de “ser todo empenhado no instante”. A constelação, tal como diz a wikipedia francesa, “ne ressemble pas à grand-chose”, e é difícil encontrá-la no céu. Já a origem da figura é também obscura, tendo cada fonte a sua explicação. Para gáudio dos nativos de outros signos, que estão à espera de fazer anos para lerem o Auróscopo que lhes seja inteiramente dedicado, aqui ficam os verbos de cada um deles. A seu tempo serão explicados. Touro: Eu tenho. Gémeos: Eu penso. Caranguejo: Eu sinto. Leão: Eu quero. Virgem: Eu analiso. Balança: Eu peso (no sentido de comparar, balancear). Escorpião: Eu desejo. Sagitário: Eu compreendo. Capricórnio: Eu uso. Aquário: Eu sei. Peixes: Eu pressinto (saber espiritual).

O seguinte texto chama-se “Dar voz à arquitectura” e foi publicado pela ba (boletim de arquitectos). É pertinente no contexto do que andamos a escrever! Enquadra-nos na problemática internacional da arquitectura! E provoca-nos para a visão de qualidade transversal que a arquitectura deve ter, não só para o indíviduo isolado no seu possível conforto, mas em particular, reflectir uma visão desse mesmo indíviduo enquanto parte estratégica de uma sociedade colectiva cuja cultura deve recriar constantemente o nosso relacionamento com o belo, ou se preferirmos, deve preservar o nosso esforço na construção de património para que cada nosso lugar, rua, freguesia, cidade... se manifeste íntegra na consagração da qualidade e beleza da intervenção. Dar voz à arquitectura O Fórum Europeu de Políticas de Arquitectura (FEPA) lançou um apelo para reforçar a sua missão de promover a qualidade arquitectónica. Com o contributo de todos aqueles que queiram participar numa Europa

mais atractiva, mais criativa e com mais qualidade de vida. Non-city? Esta acção surge na sequência de um alerta para o futuro das cidades europeias, promovido pelo FEPA, cuja direcção a Ordem dos Arquitectos Portugueses integra, e o Urban Intergroup do Parlamento Europeu. No dia 9 de Fevereiro, pela primeira vez, a Arquitectura esteve presente no Parlamento Europeu. O encontro Non-city?, “Nova urbanidade, visões inovadoras para uma Agenda Urbana Europeia”, constituiu uma oportunidade para apresentar o papel que pode desempenhar a Arquitectura, e os arquitectos, no desenvolvimento urbano Europeu. Pintura Giorgio de Chirico, Os Arqueólogos (detalhe), 1968

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Dez bons conselhos de meu pai

o livro infantil de João Ubaldo Ribeiro

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literatura

Lélia Nunes

A formação literária de João Ubaldo é anterior a tudo isso, começou nos tempos de estudante. Foi um dos jovens escritores brasileiros que participaram do International Writing Program da Universidade de Iowa. Aos 21 anos de idade, escreveu seu primeiro livro, Setembro não Tem Sentido, que ele desejava batizar como A Semana da Pátria, contra a opinião do editor. O segundo foi Sargento Getúlio, de 1971. Em 1974, publicou Vencecavalo e o Outro Povo, que por sua vontade se chamaria A Guerra dos Paranaguás. Escritor consagrado como um marco do moderno romance brasileiro, a seu respeito pronunciaram-se personalidades da crítica literária internacional e seu nome é constante referência nas mais conceituadas colunas literárias de todos os grandes jornais e revistas. Basta citar, à guisa de ilustração, que em 1999, foi um dos escritores escolhidos em todo o mundo para dar depoimento ao jornal francês Libération, sobre o terceiro milênio. E sua obra Viva o Povo Brasileiro(1983) foi tema de um concurso nacional realizado na França do exame de Agrégation. Viva o Povo Brasileiro que tem por palco a Ilha de Itaparica (Bahia) e percorre quatro séculos da história do país e Sargento Getúlio constaram

Carla Cook

baianas narradas por seu pai num rito da oralidade tradicional está muitíssimo enganado. Nada está mais longe do tema que inspira este pequeno livro de cinquenta e seis páginas: são conselhos, sabedoria, valores, mundividências reunidos e repassados por seu pai e que o autor compartilha.

da maior parte das listas dos cem melhores romances brasileiros do século XX. A 26 de julho de 2008, o escritor João Ubaldo Ribeiro, merecidamente, foi distinguido com o Prêmio Camões 2008, o mais importante galardão concedido a autores de língua portuguesa, instituído em 1988 pelos governos de Portugal e Brasil. Foi o oitavo escritor brasileiro a receber o relevante Prêmio. Por ocasião da outorga da honraria assim se expressou: “É bom saber que, enquanto escritor da língua portuguesa, pude cumprir, pelo menos no ver de meus contemporâneos, a minha obrigação com seriedade, denodo e amor, porque é desta língua que vivo e nada mais me enaltece do que imaginar que esta língua me agradece.” Pois, João Ubaldo Ribeiro, um dos escritores mais importantes do Brasil, verdadeiro ícone da literatura contemporânea surpreende, agradavelmente, seus leitores com o delicioso “Dez Bons Conselhos de Meu Pai”, ilustrações de Bruna Assis Brasil, que acaba de ser lançado pela editora Objetiva. Se alguém imagina que se trata de um livro de contos infantis, estórias, fábulas ou aventuras por terras

“Dez Bons Conselhos de Meu Pai”, em forma de decálogo, apresenta conselhos dados pelo pai do escritor, Manuel Ribeiro, homem de princípios rigorosos, austero. Exigente, cobrava atitudes, estudo, saberes. Queria resultados excelentes, a melhor nota, o sucesso escolar. Não tinha paciência, não admitia fracassos. Muitas vezes impunha tarefas impensáveis como decorar versos e versos, copiar os sermões de António Vieira ou verbetes no dicionário quando o filho não sabia o significado de uma palavra. Esta era a sua forma de educar, de passar ensinamentos, de emanar sabedoria. Apesar da severidade paterna, os conselhos foram fundamentais para a formação de João Ubaldo que, sempre preservou, respeitou, reproduziu ao longo de sua vida, fazendo parte de seu cotidiano e norteando o seu trabalho tal qual uma “rosa dos ventos”.

“Sempre reproduzi, de uma forma ou de outra, esses conselhos na minha vida cotidiana e os passava quando achava oportuno”

burro”, “não seja amargo” e “nunca seja medroso” são apenas alguns deles”. Também, o leitor vai encontrar no livro infantil de João Ubaldo conselhos sobre a importância da leitura e de aprender sempre mais. Seu pai era um homem culto, estudioso, atencioso, exemplo e inspiração para o filho. Ao lado da mulher, Maria Felipa Osório Pimentel, construiu uma grande biblioteca, os livros estavam por toda parte da casa, pelas paredes e contemplava todas as áreas de conhecimento que se pode imaginar. João Ubaldo, o filho mais velho do casal, inserido nesse ambiente, descobriu que estavam nos livros os seus sonhos e por eles seria o seu caminho. Sem que ninguém mandasse, o João menino vivia mergulhado nas histórias como nas obras de Monteiro Lobato. “Eu era leitor fanático dos livros dele. Para mim ele não era nem gente, era atemporal, não podia morrer”, disse em recente entrevista o escritor baiano. João aprendeu com o pai Manuel Ribeiro a amar os livros, a importância do estudo, o gosto pelo querer conhecer e saber e, isso, foi fundamental para a formação de um dos mais importantes autores da literatura brasileira. E nós, seus leitores, aprendemos com o João Ubaldo Ribeiro que seu texto não foi escrito somente para crianças e sim serve a toda uma geração que, penetrando nos meandros de Dez Conselhos de Meu pai, encontrará refletida a sua história de vida traduzida em conselhos e ensinamentos, heranças de seus pais - valores sociais e culturais, essenciais que dignificam a sociedade brasileira.

Mas que conselhos são estes? São palavras e valores de um pai que quer educar seu filho dentro dos princípios que acata e considera eticamente fundamentais como a liberdade, a igualdade de direitos e deveres, a dignidade humana. “A obra apresenta em sentenças curtas, mas essenciais, o resumo das diretrizes de vida mais importantes passadas por seu pai. Coisas como: “não seja

João Ubaldo Ribeiro

João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro ocupa a cadeira número 34 da Academia Brasileira de Letras, a Casa de Machado de Assis, desde 1993. Não sei, se o escritor costuma freqüentar o Chá da Academia. Desconfio que não... Mas, o que eu não dava para ficar com uma chávena de chá, esfriando entre as mãos, enquanto o escritor ia desfiando histórias que ele sabe tão bem contar lá da sua Itaparica, saídas de um gostoso boteco do Leblon ou das suas muitas andanças por terras de Portugal onde tem tantos amigos como José Carlos de Vasconcelos, diretor do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, de Lisboa. Aliás, em 1981, graças a uma bolsa concedida pela Fundação Calouste Gulbenkian, muda-se com a família para Lisboa e, enquanto aí viveu, edita a revista Careta com o jornalista Tarso de Castro.

Gente Feliz com Lágrimas de João de Melo

João de Melo, que disse nunca ter pretendido ser “regionalista, mas alguém com olhos açorianos” viu este seu terceiro romance receber o Grande Prémio APE em 89 e, subitamente, eclipsar o resto da sua obra, já reconhecida à época, para se tornar num sério caso de romance da condição açoriana. Narrativa de indícios autobiográficos, começa com a viagem de Nuno Miguel, que viaja para Lisboa para ingressar no Seminário. Damo-nos conta da triste e violenta infância de Nuno e dos seus irmãos, Maria Amélia e

Luís Miguel, cujas vozes também lemos: uma infância de pobreza, de trabalho e, sobretudo, dor, que os obriga a crescer depressa sem, no entanto, jamais a abandonar. Nuno e Maria Amélia deixam uma vida difícil para entrar noutra existência espartilhada e de humilhação, que ambos acabam por abandonar, deixando a religiosidade de lado. Nuno, com o seu pendor de filósofo perante a vida, sonha em combater o Estado Novo… E a Guerra, a Revolução, os Açores vestidos com outra roupagem, tudo se desenrola

para voltar à Lisboa onde, ao contrário das ilhas, não se olha de frente para o mar mas sim para cima, para o céu, para tentar alcançar uma plenitude. Na memória, vive-lhe sempre essa gente “ruidosa, […] feliz com lágrimas”. Nascido numa pequena freguesia do Nordeste em 1949, João de Melo aí viveu até aos dez anos se mudar para o continente para prosseguir estudos. Em 1971, partiu para Angola, onde esteve mais de dois anos no estranho mundo da Guerra Colonial. É inegável

o peso das suas vivências nas suas obras, que lhe valeram, no mundo literário português, os epítetos de “o açoriano” e “o escritor da Guerra Colonial”. Professor e autor de uma vasta obra em géneros tão diferentes como a ficção, a antologia, o ensaio, a poesia e as crónicas de viagens, recebeu já vários prémios literários nacionais e internacionais. As suas muito conhecidas obras de ficção estão também traduzidas em várias línguas. Desde 2001, João de Melo é o Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Madrid.


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cinema e teatro

A dança no Cinema

Miguel Valente

Sendo a dança uma forma de expressão corporal, a mesma teve uma grande importância no início do cinema. Devido a questões técnicas, durante os primeiros anos do cinema não havia som, pelo que os actores tinham de dramatizar as suas expressões corporais a fim de passarem a mensagem pretendida. Os gestos exagerados, os movimentos estudados e pouco naturais dos actores nos filmes mudos são uma imagem de marca dessa época do cinema. Naturalmente que as famosas fugas de Charlie Chaplin ou as acrobacias de Buster Keaton pouco têm a ver com os voos de Nijinsky, não deixando, no entanto, de ser o resultado de coreografias estudadas tendo como fim a transmissão de uma mensagem através da expressão corporal. Com o advento do cinema sonoro, e como vimos anteriormente, surgiram rapidamente os musicais, nos quais a dança e as coreografias têm um papel tão importante como a música. Muitas dessas coreografias ficaram nas nossas memórias, sendo igualmente

revisitadas pelo próprio cinema. Quantas vezes não surgiram alguns dos passos de dança de Fred Astaire noutros filmes? Não é a pequena coreografia de Gene Kelly a cantar à chuva uma das mais memoráveis representações de alegria? Durante os anos 70, com a chegada do discosound e da música pop surgiram alguns filmes que, sem serem musicais, integram a dança no seu argumento. “Saturday Night Fever – Febre de Sábado à Noite” é um exemplo dos filmes que retratam as noites de fim de semana, e o que as mesmas representam para uma juventude sem futuro nem presente, que foge à sua realidade quotidiana frustrante nos ambientes alucinantes das discotecas. Nos anos 80 continuam a surgir filmes a integrar a dança nos seus argumentos, sendo que agora a mesma é utilizada como profissão, e o talento como forma de libertação dos vários tipos de prisões das sociedades. Filmes como “Fame”, “Flashdance”, “Footloose” ou “White Nights – O Sol da Meia Noite” são exemplos que ficaram na história do cinema.

O baixo custo do registo em vídeo permitiu a diversos criadores, desde coreógrafos de topo a pequenas companhias de dança (muitas vezes constituídas por apenas um elemento), explorar novas formas de expressão que não são possíveis de realizar em palco. Surgem coreografias criadas propositadamente para o registo em vídeo, com técnicas que vão desde a animação à interacção dos intérpretes com objectos de grandes dimensões, com edifícios ou mesmo com paisagens naturais. O registo vídeo e a reduzida dimensão e peso das novas câmaras permitiram igualmente a certos criadores integrar as próprias câmaras nas coreografias, tornando o espectador

num performer, juntamente com os outros elementos da coreografia. A popularidade desta nova forma de expressão tem sido tal que já permitiu a criação de festivais internacionais de cinema dedicados exclusivamente a este tema. O “Dance Camera West Festival” (www.dancecamerawest.org) é o exemplo máximo destes festivais. A nível nacional, temos o festival “DançaSemSombra” (http:// dancasemsombra.blogspot.com), da associação vo’arte, do qual já foi apresentada uma extensão aqui na ilha, através de uma iniciativa do Cineclube da Horta.

“Le p’tit bal” (1995) realizado por Philippe Decouflé

O Dia Mundial da Dança comemorase no próximo dia 29 de Abril. Aqui pela Horta o mesmo será celebrado entre 25 de Abril e 1 de Maio, através da iniciativa “Semana da Dança 2011”, na qual estará incluída a exibição do multipremiado filme “Black Swan – Cisne Negro” de Darren Aronofsky. Sobre este filme falarei na próxima edição do Fazendo. Para já, gostaria de falar um pouco sobre a presença da dança no cinema.

Nos finais do século passado e durante este século, graças ao amadurecimento das diversas linguagens de dança contemporânea, bem como a facilidade de acesso aos novos suportes de registo visual animado, em particular o vídeo e, mais recentemente, o vídeo digital, surgiu uma nova forma de interpretação e de apresentação de dança, conhecida como dancevideo.

encontros filosóficos - entrevista

Maria Antónia Jardim

Professora na Universidade Fernando Pessoa, Coordenadora do mestrado “Criatividade e Inovação”

Maria do Céu Brito Profª Maria Antónia, vai realizar no âmbito dos Encontros Filosóficos uma oficina de “Psicologia Onírica”, dirigida a professores e psicólogos. De que forma a dimensão do sonho perpassa a Educação, a aquisição de Conhecimento e a própria Vida? O sonho faz parte da vida mas normalmente as pessoas não o reconhecem como tal. Com as vivências oníricas do “ sonhar acordado” cada um vai sentir a viagem interior como uma viagem ao centro de si mesmo, ao seu Passado, ao seu Presente e ao seu Futuro. Trata-se de uma viagem de auto-conhecimento e de evolução de consciência. Nas suas aulas, o processo de criar tem subjacente uma viagem obrigatória pela “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll. Em seu entender, a Escola está aberta ao

sonho, à poesia, à imaginação? Nas minhas aulas, na Universidade Fernando Pessoa, quer em Psicologia da Arte, quer em Psicologia da Educação, quer nas aulas presenciais do Mestrado que coordeno (Criatividade e Inovação) faço questão de vivenciar esta experiência com os alunos, nomeadamente a partir da obra de Lewis Carroll, que nos coloca perante diversas aberturas de Portas e Janelas de aprendizagem. Portas e Janelas que ocorrem durante um sonho, o sonho de Alice, que a partir daí vai redescobrindo o seu lindo Jardim e que afinal é ela quem pode controlar o seu sonho, como é ela também quem pode controlar a sua vida e fazer as suas próprias escolhas. A Escola tem que aprender com Alice, tem que desaprender preconceitos e tabus, modos de ser e estar caducos, que já não fazem sentido numa Educação no

séc XXI. Deve ser uma Escola de Lego, em permanente reconstrução! Assistimos impotentes à ruína de um paradigma de organização económica, política e social que endeusa a economia e ignora o humano. Quais os desafios que a Escola e a Universidade têm pela frente na construção de uma nova forma de Agir e de Pensar o si-mesmo, na relação com o outro e o mundo? O role playing é o exercício básico de toda a Psicologia: Pôr-se no lugar do outro, o Fazer de conta… enquanto a sociedade por inteiro não conseguir praticar este exercício, a sua consciencialidade não evolui. O professor tem que se pôr no lugar do aluno, o médico no de paciente, o padre no lugar dos seus fieis, …o advogado no do seu cliente! As atitudes devem mudar, a autoridade

deve dar lugar ao diálogo, e para isso a Arte e o sonho muito podem ajudar. A imaginação ajuda a antecipar soluções e é ela quem deve estar no Poder; não um racionalismo economicista e (des) humano! Por fim, podia dizer-nos, de forma sucinta, os objectivos do workshop? O Workshop de “Psicologia Onírica” pretende levar os sujeitos a viajarem até ao Centro de si, permitindo-lhes descobrir Janelas e Portas até então fechadas. Repensar as suas escolhas de vida, valores e crenças. Sensibilizar para o poder da narrativa literária relativamente à ética e à estética, ao auto e hetero-conhecimento. É um Workshop vivencial e criativo que vai fazer as pessoas descobrirem em si talentos e tesouros escondidos!


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dop / universidade dos açores

História da Pesca nos Açores

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ciência e ambiente

Helena Krug

Gravura Pierre Van der Heyden Os peixes grandes comem os pequenos

A pesca nos Açores tem sido exercida desde o seu povoamento. Chegadas as primeiras populações que se fixaram por todo o arquipélago em recantos ribeirinhos, locais de melhor protecção e acesso ao mar, desde logo encontraram no mar o peixe de que necessitavam para a sua subsistência. Na obra de Gaspar Frutuoso (ed. 1981) encontram-se algumas preciosas referências acerca do mar, da pesca e do pescado que na segunda metade do século XVI se encontrava nestas ilhas: “Todo este mar em roda é de grande abundância de peixe, com que também se provêem e refrescam todas as armadas do reino e forasteiras: muitos chernes, gorazes, salmonetes, dourados, garoupas, bicudas, abróteas extremadas e grandes lagostas e lagostins, cavacos e vário género de marisco, cracas, lapas, búzios e muita sardinha, de que às vezes na baía de Angra, junto do cais, se enchem barcos, tainhas, muges de tarrafa e outras sortes de pescado… bons chernes, congros e lagostas… todo muito barato... e todo é peixe muito gordo e sadio...”

Pois assim se pescava sem aparelhos, até sem anzóis, tal era a abundância de peixe. Segundo Teixeira (1981) em estatísticas de 1800 a 1813 já se encontra a profissão dos “Homens do Mar” (pescadores).

“Depois de achada esta ilha, mais de cinco anos, não havia homem que tivesse anzol. Costumavam fazer uma isca grande de carne, amarrando-a a uma linha e atando a linha a uma vara de ginga por não haver ainda canas nesta terra; desta maneira pescavam, era tanto o peixe que então matavam, e mais dele sem anzol, que agora com ele...”

No arquivo dos Açores (Anon. d. 1983) referente ao projecto de posturas da Câmara Municipal de Ponta Delgada discutidas e aprovadas em sessão de 23 de Outubro de 1833, refere o seguinte em relação ao pescado: “Todo o arraes ou mestre de barco que chegar do mar com peixe será obrigado a expor todo à venda pública e no caso de vir trazendo o peixe por partes para

fazer maior carestia, pagará por cada vez que o fizer 1200 reis…” Pois isto terá sido uma primeira tentativa para se começar a saber aquilo que se pescava em águas dos Açores. Em 1859/62 já a pesca consta da estatística de produção com 11080 alqueires de chicharro. Mas é a partir de 1948 (Anon. a. 1948-1965) que encontramos estatísticas regulares de pescado capturado. Se é verdade que a pesca nos Açores era dirigida sobretudo às espécies que apresentam uma distribuição mais litoral (i.e. abrótea, pargo) o facto é que esta tendência se alterou, a partir

de meados da década de 80, no sentido de uma pesca dirigida para águas mais profundas, alterando também a composição específica das capturas. Este facto resultou num aumento significativo das capturas de espécies profundas como o imperador, alfonsim, boca-negra e cherne, entre outras. Com base na informação estatística disponível referente ao pescado descarregado nas lotas e com base nos estudos ecológicos e biológicos destas espécies tem-se vindo a fazer a sua dinâmica e avaliação que sugerem que na sua maioria são espécies de elevada longevidade (e portanto sensíveis à pescaria).

Este facto levou o Grupo de Estudo do Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES) a recomendar que “...o desenvolvimento de pescarias de profundidade deve ser cuidadosamente controlado numa base científica. Quando não exista informação científica de avaliação, a gestão destes recursos deverá ser regida por medidas cautelares no sentido de minimizar o risco da sua sobreexploração até que essa informação esteja disponível.” (ICES, 1994).

centros de visitação do parque natural do faial

PNF

Fábrica da Baleia

A Fábrica da Baleia situa-se no Complexo da Baleia em Porto Pim e começou a laborar em 1943, em plena II Guerra Mundial. A sua proprietária era a SIMAL – Sociedade Industrial Marítima Açoriana, Lda., constituída em 1939. A empresa tinha como objectivo a exploração da indústria do aproveitamento integral de cetáceos e o comércio dos seus produtos. A fábrica da SIMAL era uma estrutura moderna para a época, com os seus maquinismos automatizados, processando, durante os 30 anos de trabalho, 1940 cachalotes e cerca de 44 mil bidões de óleo de baleia. Em 1974 acompanhando o declínio mundial da indústria baleeira, a Fábrica encerrou as portas.

Em 1980 foi adquirida pelo governo Regional dos Açores e em 1984 foi classificada como Imóvel de Interesse Público. Em 2000 foi renovada e passou a ser utilizada como um espaço cultural, educacional e institucional. A Fábrica também denominada por Centro do Mar, possui duas salas devidamente equipadas e material audiovisual para a realização de reuniões, workshops, conferências, palestras, exposições e teatro, entre outros. Nesta antiga fábrica poderá encontrar uma exposição permanente onde se apresenta um conjunto de maquinismos de reconhecidas marcas europeias, usado para o aproveitamento integral dos cachalotes então capturados. Estas máquinas permitiam a

produção de óleos de toucinho, de espermacete e de farinhas de carne e de ossos. A imponente caldeira de 1904 é um testemunho exemplar do funcionamento da indústria a vapor. Para complementar a exposição permanente e contextualizar os elementos fabris existentes, temse vindo a adquirir, a conservar e a expor património baleeiro diverso, pertencente a entidades locais. Este espólio é testemunho de uma indústria baleeira extinta e o seu estudo permite aprofundar o conhecimento sobre esta actividade, que marcou de forma indelével a cultura do povo Açoriano. Na antiga Fábrica da Baleia podemos encontrar desde a palamenta das embarcações baleeiras,

ferramentas para a sua construção e até documentação de cariz industrial. Neste Centro do Mar, encontrará ainda, um Centro de Interpretação Marinha Virtual (CIMV) onde o visitante pode realizar uma viagem virtual até aos 3000m de profundidade, rumo aos diferentes ambientes costeiros e oceânicos dos Açores. Com uma forma de comunicação moderna, o CIMV destina-se a todos aqueles que desejam conhecer os ecossistemas marinhos dos Açores. Passe uma parte do seu tempo connosco e venha conhecer o Parque Natural da sua Ilha.


TeatroFaialense Faialense- -17h 17h Teatro

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Calçada Santo António 1 9900-135 Horta Calçada Santo António 1 9900-135 Horta Tel. 292 943 003 info@edatlantico.com www.edatlantico.com Tel. 292 943 003 info@edatlantico.com www.edatlantico.com

Agenda Gatafunhos SEX. e SÁB. 15 e 16 ABR. cinema HEREAFTER - OUTRA VIDA de Clint Eastwood Teatro Faialense - 21h30 SÁB. e DOM. 16 e 17 ABR. formação RAID ILHA AZUL de Clint Eastwood Acção de Formação de Orientação Inscrições: www.raidilhaazul.com DOM. 17 ABR. cinema ENTRELAÇADOS (versão portuguesa) de Byron Howard Teatro Faialense - 17h Idade: M/ 04

ServiçosPúblicos Públicos Serviços 1 Cais deEmbarque Embarque 1 - Cais de

PercursosPedonais Pedonais Percursos 1 Sra. da Guia 1 - Sra. da Guia

Museu 55- - Museu 6 CâmaraMunicipal Municipal 6 - Câmara 7 Correios 7 - Correios

Daribeira ribeiraààTorre Torredo doRelógio Relógio 55- - Da 6 Parque da Alagoa 6 - Parque da Alagoa

Hospital 22- - Hospital 3 Postode deTurismo Turismo 3 - Posto 4 Biblioteca 4 - Biblioteca

Miradourodos dosDabney Dabney 22- - Miradouro 3 Praia de Porto Pim 3 - Praia de Porto Pim MonteQueimado Queimado 44- - Monte

Comércio Comércio OurivesariaOlímpio Olímpio 11- - Ourivesaria

ZONAçores Açores 2-2- ZON 3Alberg. Estrelado doAtlântico Atlântico 3- Alberg. Estrela

MercadoMunicipal Municipal 88- - Mercado 9 Piscinas Municipais 9 - Piscinas Municipais

Loja ZON Açores ZON Açores Rua deLoja Jesus, Matriz, 9900 Horta de Jesus, 9900 Horta SegundaRua a Sexta, das Matriz, 9h00-13h00 e 14h00-17h30 Segunda a Sexta, das 9h00-13h00 e 14h00-17h30

Abril

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recital SCHUBERT NA HORTA TomásMelo Melo Tomás Horta-Camerata Direcção Artística: Kurt Spanier Salão Nobre da Câmara Municipal da Horta - 21h SEG. 18 ABR. comemoração DIA INTERNACIONAL DOS MONUMENTOS E SÍTIOS Fábrica da Baleia de Porto Pim Entradas gratuitas 10:00 - 18:00 QUI. 21 ABR. filme / palestra A MÚSICA PORTUGUESA A GOSTAR DELA PRÓPRIA com Tiago Pereira Fábrica da Baleia - 18h DOM. 24 ABR. concerto CONCERTO SINFÓNICO DE PÁSCOA Horta-Camerata Direcção Artística: Kurt Spanier Igreja de São Francisco - 21h

Gatafunhos

Tomás Melo

SEG. 25 ABR. feira BAZAR DE RUA Feira de Artigos Usados Praça da República - 15h30 25 ABR. a 1 MAI. comemorações 25 de ABRIL - DIA DA LIBERDADE 09h00 | Alvorada (Ruas da Cidade) 11h00 |Marcha pela Liberdade (Avenida Marginal) 15h30 | Abertura do Mercado 15h30 |Abertura da Exposição “Histórias do 25 de Abril” (Mercado) 16h00 | Teatro de Rua 16h00 | “Conto da Liberdade” e Jogos Tradicionais (Praça da República) 17h00 | “Dança dos Cravos” (No âmbito da “Semana da Dança 2011”) 17h30 | Actuação do Grupo Folclórico e Etnográfico de Pedro Miguel (Praça da República) 18h30| Intervenções de Abril (Mercado - Peixaria) 19h30| Actuação de Grupo “Ecos do Fado” (Praça da República)

25 ABR. a 1 MAI. comemoração DIA MUNDIAL DA DANÇA 25 Abril |17h00 – “Dança dos Cravos” (Praça Republica) 25 a 28 de Abril - Divulgação da dança pelas Escolas do Concelho 29 Abril | 21h00- Comemoração do Dia Mundial da Dança (Pavilhão Desportivo da Horta) 30 Abril | 01 Maio | 21h30 Projecção de filme alusivo à dança “Cisne Negro” (Teatro Faialense) SEX. 29 ABR. encontro COMUNIDADE DE LEITORES Biblioteca Pública - 18h

ATÉ 30 ABR. exposição EVOLUÇÃO Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos

Ilustração Tomás Silva Ilustração Tomás Silva

Horta

Ourivesaria Olímpio Ourivesaria Olímpio Lg. Dq. D’Ávila e Bolama, 11 9900-141 Horta Lg. Dq. e Bolama, 11 9900-141 Horta Tel.D’Ávila 292 292 311. oolimpio@gmail.com Tel. 292 292 311. oolimpio@gmail.com

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