Fazendo 57

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Ilustração Luís Silva

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31 MAR. a 14 ABR. 2011

Estimulai


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031 MAR. a 14 ABR. 2011

crónica

Encontros Filosóficos

editorial

Educar pelo estímulo Andou um vídeo muito interessante a rodar pela internet - Changing the Education Paradigms - feito a partir de um discurso de um especialista na matéria: Sir Ken Robinson. Este vídeo explicava e ilustrava de forma simples e incisiva uma necessária mudança na forma de pensar os sistemas educativos. De forma redutiva pode-se dizer que essa mudança teria de contrariar o actual paradigma educativo de formatação e estandardização que uniformiza numa mesma massa um sem número de identidades diferentes. Todos estes “aprendizes” se vêm obrigados a encaixar num formato pré-definido (e porque não, arbitrário) que os leva a suprimir parcelas da sua identidade com um potencial que pode ser da máxima relevância. Neste sentido o tema escolhido para os XVIII Encontros Filosóficos - Educar pela Arte - é da máxima importância, tanto no conteúdo como no timing. Há vários anos que se anuncia uma nova revolução económica no ocidente, que transfere o seu foco da indústria para a criatividade, à qual as sociedades terão de se adaptar e, por todas as razões, nada melhor que começar pela formação de indivíduos. Obviamente que esta mudança não pode ser só feita por imperativos económicos (apesar da sua importância) nem a partir de agora teremos todos de ser designers, artistas ou profissionais de comunicação. Temos sim de pensar e construir um sistema de educação que não castre valências individuais que podem ir muito mais além do academismo dos actuais programas e processos.

As artes há muito que se batem pela expressão individual, pela criatividade, e fomentam um tipo de desenvolvimento que envolve activamente aqueles que aprendem. Não serão um fim mas, uma vez que a expressão é uma necessidade básica (mesmo que alguns não o reconheçam), é um ponto de partida para as transformações que terão de ser feitas. Já terão notado que este número do Fazendo vem mais gordinho que o habitual. Esta é uma edição especial, feita em conjunto com a Escola Secundária Manuel de Arriaga em que incorporámos na nossa edição o jornal escolar Arauto. Ambos os jornais são dedicados à XVIII edição dos Encontros Filosóficos na ESMA, que decorrerão na primeira semana de Maio e cuja extensa e caprichada programação é aqui revelada através de entrevistas aos formadores e artigos sobre algumas das actividades. A programação completa para cada um dos dias pode ser consultada no Arauto. Ambos os jornais têm admiráveis ilustrações de Luís Silva na capa, um dos formadores presentes nos encontros. No Fazendo temos entrevistas com o músico João Paulo Esteves da Silva, a artista plástica Ana Nobre e o dramaturgo Miguel Castro Caldas, bem como um artigo sobre o Teatro do Oprimido, de Tomás Motos. As ilustrações que acompanham as entrevistas são da autoria de alunos da escola. Temos ainda artigos que não estando directamente relacionados com os Encontros, procuram abordar o tema que serve de mote a estes EF’s: “Educação pela Arte”.

Maria do Céu Brito Os Encontros Filosóficos são um projecto de natureza interdisciplinar. Nasceram na sequência do trabalho de reflexão/ crítica de problemas do mundo contemporâneo, realizadas pelos alunos de Filosofia. Foi há dezoito anos! E isto significa que os Encontros Filosóficos atingiram a maioridade. E assim sendo, adquiriram pelo menos o “direito” a serem reconhecidos como projecto pedagógico que vingou, apesar das sucessivas alterações de programas, dos currículos, da organização da escola.

Carlos Reis. Passaram ainda pela cidade da Horta poetas e artistas, como João Cutileiro, que desenvolveu com os alunos de Artes, durante uma semana, um workshop de escultura. No âmbito da formação de professores, recordo o trabalho de hermenêutica realizado pelo José Trindade dos Santos, o workshop de Filosofia para Crianças orientado por docentes da Universidade Católica, os sucessivos encontros com a professora Gabriela Castro, da Universidade dos Açores.

Ao longo dos dezoito anos, realizaram-se encontros, debates e actividades didáctico-pedagógicas de grande mérito. Relembro as Oficinas de escrita criativa com o escritor José Fanha, e José Luis Peixoto, os encontros com os professores Adriano Moreira, Carlos Fiolhais, Galopim de Carvalho, Carvalho Rodrigues, Alexandre Quintanilha, entre outros. As reflexões desenvolvidas por Daniel Serrão, Álvaro Laborinho Lúcio, Mário Soares, o professor

Em 2011 surgem novos e grandes desafios. Professores da Universidade de Santiago de Compostela e Valência deslocarse-ão à Horta para trabalhar com alunos, professores, empresários e a comunidade em geral (projecto decorrente das parcerias com a CCIH e Associação de Agricultores da Horta). Realizar-se-ão ainda oficinas de escrita criativa e dramaturgia, música e ilustração. Realizar-se-á um workshop de Teatro do Oprimido (em parceria com o Teatro de Giz), um workshop de cinema e fotografia (em parceria com o Jornal Fazendo) São desafios formativos, intelectuais e comunicacionais únicos! O projecto Encontros Filosóficos, organizado pela Escola Secundária Manuel de Arriaga é um projecto aberto, comum e quer-se participado por toda a comunidade de Pais, Encarregados de Educação, professores e Cidadãos em geral! Inscreva-se nas acções! Participe nos Fóruns de Discussão! Torne este projecto Um ESPAÇO COMUM DE TRABALHO E DE INOVAÇÃO!

“O Livro da Avó” (texto e ilustração de sua autoria), prémio Bissaya Barreto de literatura para a infância e juventude 2008, Edições Afrontamento, Porto, 2007.

Selecionado em 2009 para o catálogo internacional “The White Ravens”. “Um Menino Chamado Negrinho” (Texto: Hellenice Ferreira), Escrita Fina Edições, Rio de Janeiro, 2011.

Recordo que há exactamente dezoito anos, todos os alunos de Filosofia do 12º ano apresentaram os seus trabalhos na Sociedade “Amor da Pátria”. Sob o olhar atento, compreensivo e disponível da professora Isabel Renaud, levantavam problemas, faziam formulações teóricas, questionavam o mundo, expunham-se, construíam a aprendizagem de forma activa e responsável. Muito tempo antes de se anunciar nos curricula a “Área de Projecto”.

encontros filosóficos - capa

Luís Silva

Luís Silva nasceu em Luanda, Angola, em 1968, tirou o o Curso Superior de Ilustração/BD na Bélgica, país incontornável quando pensamos em BD, finalizando com “Grand Distiction”. Trabalhou em publicidade, e já fez ilustração para vários órgãos da imprensa, ilustrando durante vários anos o suplemento “Negócios” do Diário de Notícias e colaborando com a revista Visão. É autor dos desenhos do filme

Ilustração Luís Silva in O Livro da AVó

Ilustração Ziraldo O menino maluquinho

Pedro Lucas e Aurora Ribeiro

Um projecto de Natureza Interdispiciplinar Ilustração Lénia Oliveira Carimbo comemorativo editado pelo clube de Filatelia da ESMA (arranjo Ana Correia)

opinião

de animação realizado por Abi Feijó “Os Poderes do Senhor Presidente”, (em exibição no Museu da Presidência da República) e dos seguintes livros: “O Senhor das Palavras” (texto de Isabel Rosas), Edições Afrontamento, Porto, 2007

“A Menina do Búzio” (texto de Maria Flor Campino), Edições Afrontamento, Porto, 2007

FICHA TÉCNICA: FAZENDO - Isento de registo na ERC ao abrigo da Lei de Imprensa 2/99 de 13 de Janeiro, art. 9º, nº2 - DIRECÇÃO GERAL: Jácome Armas - DIRECÇÃO EDITORIAL: Pedro Lucas - COORDENAÇÃO GERAL: Aurora Ribeiro COORDENADORES TEMÁTICOS: Albino, Anabela Morais, Carla Cook, Filipe Porteiro, Helena Krug, Luís Menezes, Miguel Valente, Pedro Gaspar, Pedro Afonso, Rosa Dart - COLABORADORES: Cátia Benedetti, Fernando Nunes, José Nuno Pereira, Maria do Céu Brito, Rita Braga, RSS, Sara Soares, Tomás Melo, Tomás Motos, Victor Rui Dores - PROJECTO GRÁFICO: Nuno Brito e Cunha - PROPRIEDADE: Associação Cultural Fazendo SEDE: Rua Rogério Gonçalves nº 18 9900 Horta PERIODICIDADE: Quinzenal TIRAGEM: 400 exemplares IMPRESSÃO: Gráfica o Telégrapho CONTACTOS: vai.se.fazendo@gmail.com

APOIO: DIRECÇÃO REGIONAL DA CULTURA


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encontros filosóficos - entrevista

música

João Paulo Esteves da Silva Fernando Nunes Como é que se tornou músico? Aprendi a tocar piano aos 4, com a minha avó. Apaixonei-me pela música aos 14 e decidi ser músico profissional aos 18. Qual foi a importância da escola para o músico que é hoje? Com alguns colegas do liceu formei as minhas primeiras bandas rock. Depois, levei os meus estudos clássicos até bastante longe, no conservatório, em Lisboa e em França. A importância da escola terá sido o não me ter feito mudar de ideias e desistir de ser músico. Já esteve no arquipélago açoriano? Crê que pode ser um universo inspirador para a música que faz actualmente? Sim, já aí estive algumas vezes, e guardo boas recordações. Quanto a inspiração, todos os sítios têm a sua música própria. Podemos tentar ouvi-la ou não. Eu gosto de tentar ouvir a música dos sítios. Em que projecto musical é que se encontra a trabalhar?

Ilustração Mónica Dias J.P. Esteves da Silva

Nasceu em Lisboa em 1961, filho de mãe pianista. Começou muito cedo os seus estudos musicais, na Academia de Santa Cecília, iniciando-se rapidamente no piano. Posteriormente, ingressou no Conservatório Nacional, onde, em 1984, obteve o diploma do Curso Superior de Piano com a classificação máxima. Com uma bolsa de estudo da Secretaria de Estado da Cultura, muda-se imediatamente para Paris. Aí, durante três anos, aprofunda os seus estudos no Conservatório de Rueil-Malmaison e obtém sucessivamente as mais altas distinções - Médaille d’ Or, Prix Jacques Dupont, Prix d’ Excellence e Prix de Perfectionement. Na área da música popular, destacou-se como pianista acompanhante em numerosos discos de artistas nacionais. Destaca-se a sua colaboração com Fausto (‘Por este rio acima’), José Mário Branco (‘Ser solidário’) e Sérgio Godinho (Tinta Permanente) e ainda no disco “Eu que me comovo por tudo e por nada” de Vitorino. O músico vem aos Encontros Filosóficos para uma oficina de improvisação musical à volta da vista do Pico a partir do Faial.

Terra firme, luz coada e silêncio Neste preciso momento estou a acabar uma orquestração para tocar com a Orquestra de Jazz de Matosinhos, no próximo dia 5 de Fevereiro, um programa composto por composições minhas orquestradas/arranjadas pelo Carlos Azevedo, pelo Pedro Guedes e por mim. Logo a seguir irei tocar á Alemanha com o Cláudio Puntin... Uma das ilações que se retira é que parece gostar dos concertos didácticos. É verdade?

Gosto de conversar, é verdade. Não sei se o que digo será didáctico...pode ser que sim. O que espera encontrar arquipélago açoriano? Terra firme, luz coada, e silêncio.

no

Qual é a importância da (s) arte (s) no seu quotidiano? Importância enorme. Na ordem vital situa-se algures entre o ar e o café.

encontros filosóficos - mesa redonda

Ilustração Kate Greenway O Flautista direcciona as crianças para fora de Hamelin

Até onde a música nos pode levar Pedro Afonso aprendido no quarto, o kuduro no descampado ou as canções de trabalho nos campos? E o karaoke, é educação pela música ou não passa de um concurso de papagaios?

Os Encontros Filosóficos vogam este ano ao sabor dos ventos da Educação pela Arte. De 2 a 7 de Maio são coisas e gentes várias relacionadas com artes que vão falar sobre, fazer, e partilhar dessa educação. Inclui-se a Música, que se pode educar pela música.

da nossa educação individual e da Educação (no sentido mais institucional), ou é a música que faz parte de nós, animal cultural, e que nos guia no nosso percurso, na nossa educação? Ou serão ambas?

Como pode a música fazer-nos mais preparados e felizes?

Ou será a música que nos pode educar?

Como resolver este dilema? É mais importante poder proporcionar ao cidadão uma educação musical clássica, por exemplo, ou uma mais ‘livre’ de cânones, quer seja o jazz

É este o mote da conversa ‘Até onde a Música nos pode levar? ‘ no dia 7 de Maio, às 10 horas. Dirigida aos alunos da ESMA, terá na mesa 4 pessoas com formações, percursos

Somos nós que fazemos a música, e que podemos fazê-la parte integrante

e talvez visões diferentes sobre este tema. João Paulo Esteves da Silva, músico profissional com longa carreira (educação) pela música; Amorim Carvalho, maestro; Pedro Gaspar, arquitecto e músico dos Bandarra; e Pedro Lucas, emigrante e Experimentador. Haverá ainda a apresentação de quatro trabalhos relacionados, por alunos de Área Projecto, desde a ‘Música no Faial: qual é a nossa realidade?’ até à ‘Influência da Música no Homem’. Nem mais.


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31 MAR. a 14 ABR. 2011

arquitectura e artes plásticas

Ana Nobre

Aurora Ribeiro Qual é a tua profissão? Aí está uma questão a que não posso responder de forma linear. Se entenderem por profissão a actividade remunerada que faço, então esta será Designer de Comunicação. Depois com esta actividade, auto-financio a outra, como Artista Multimédia (performer, artista plástica/visual). Como é que começaste a sentir que querias ser artista? Arte e vida não podem ser separadas. Comecei desde que me conheço. A minha carreira coincide com a minha vida. «O acto criador é uma manifestação de sermos, é uma expressão de vida. Tudo o que é alheio ao que somos enquanto artistas é estranho a esse acto» dizia Vergílio Ferreira n’O Espaço do Invisível Qual a importância da escola na tua procura? A escola foi muito importante. A escola é muito importante e continuará a ser. Quero continuar sempre a aprender, sempre a estudar. Não acredito em quem diz que a escola não significou nada na sua procura, tudo significa sempre, nem que seja para sabermos que não queremos ir por aí. E a escola, a educação são a base de tudo o que somos depois. Claro que não podemos ficar à espera que a escola nos dê tudo.

atelier

encontros filosóficos - entrevista

A escola não é só o que nos podem ensinar. Para além do que aprendemos com os professores, ou do que aprendemos com os nossos colegas, está também o que aprendemos por iniciativa própria, e este ponto é muito importante. A escola dá-nos pistas, aponta-nos caminhos e nós podemos seguir aquelas pelas quais nos apaixonamos e deixar a nossa paixão crescer à medida que conhecemos melhor o objecto da nossa emoção. Já estiveste nos Açores. Achas que este arquipélago pode ser considerado uma terra especial, uma fonte de sensações com cariz artístico? Já estive na ilha do Faial e na ilha do Pico. E são sem dúvida sítios mágicos, capazes de nos fazer tomar consciência daquilo que temos em comum com a natureza que nos rodeia, de nos fazer sentir que fazemos parte da mesma e que com ela partilhamos os mesmos princípios (a vida, o fundamento que nos é comum, o fundamento originário). O que esperas encontrar cá nesta tua visita? Espero que consiga acrescentar alguma mais valia para as pessoas com quem vou contactar e que de um modo recíproco também com elas possa aprender. Espero encontrar-me

Ilustração Rui Morisson Ana Nobre

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com o verde, com o azul, com a terra, com a luz, comigo e com vocês. Quais são os teus projectos actuais? Actualmente sou co-editora e designer da revista literária cràse, preparamos o nº2, da mesma, a sair em Setembro. Trabalho como designer de comunicação por conta própria estou em vias de abrir um pequeno atelier de design em Ourique (de onde sou natural e onde vivo actualmente). Preparamos eu, e a Richard Long estrutura de arte performativa da qual sou co-fundadora, uma próxima performance (a última Um Volúvel Abrigo Unânime foi apresentada no Fórum Eugénio de Almeida, em Évora, 2010). Preparamos, eu, e o Movimento PróRomântico, o website do mesmo e mais acções/performances. Acabei, à cerca de um mês, o mestrado em Arte Multimédia – Especialização em Instalação e Performance e tenciono seguir para Doutoramento, num futuro próximo, com o meu projecto artístico que se debruça sobre a questão do acto fotográfico como performance (questão que vou abordar nesta minha visita à Horta). Estou a ter aulas de canto. Canto. Toco flauta de tamborileiro. Faço também parte de um projecto que envolve mais alguns jovens de

Ourique, a que chamámos Hedonistas. Apresentamos o nosso segundo espectáculo multimédia: “Primavera: Liberdade Primeira”, em finais de Abril, no cine-teatro de Ourique e Castro Verde. Qual é o papel da arte na vida das pessoas, e especialmente na vida dos jovens portugueses? Na minha perspectiva é tão simples e tão complexo quanto isto: a arte nas suas mais diversas manifestações enriquece a vida. Parafraseando Vergílio Ferreira, para ver verdadeiramente não basta olhar, é preciso transformar, ver é criar, e através da arte podemos ver verdadeiramente. O que a arte nos ensina não é puro sentido é a relação mais profunda de nós próprios com o mundo. De novo o Vergílio Ferreira: «Tal lugar não existe, porque o que existe é algo em bruto. A arte abre-o à aparição da sua essencialidade, da presença de um homem nele. Quem reconhecia no mundo o mundo de Kafka antes de Kafka o revelar?»

Educação Para a Cultura

Artistas de cá! No atelier Artistas de Cá! iremos descobrir as obras de artistas portugueses reconhecidos em todo o Mundo, Júlio Pomar, Paula Rego, Nadir Afonso e Vieira da Silva. Com recurso a diferentes metodologias, as crianças conhecerão as biografias destes artistas e aprenderão a descrever os seus trabalhos e os seus estilos, únicos em termos de cor, design, forma e composição. Depois cada participante experimentará recriar uma das obras destes mestres, imprimindo-lhe a sua marca pessoal. Partindo então da observação, da colocação de perguntas e do encontro de respostas, da experimentação e da criação, as crianças irão conhecer e compreender melhor as obras de arte destes artistas singulares e ficar a conhecê-los ainda melhor. Tudo de forma criativa, pedagógica e divertida.

Esta acção de Educação para a Cultura será realizada no Museu da Horta, repositório de um património cultural de valor simbólico e por isso espaço privilegiado para aprender e fazer em conjunto. O Museu assume-se assim, uma vez mais, como espaço de educação não formal, convidando o público infantil a iniciar uma viajem de descobertas e de aprendizagens. O atelier Artistas de Cá! insere-se num colectivo de acções e projectos educativos e socioculturais que concebo e oriento há vários anos. O investimento a nível profissional que faço na Educação para a Cultura junto de diferentes populações procura contribuir para a produção de mudanças progressivas. Mas em que se traduz a Educação para a Cultura? A Educação para a Cultura desenvolve-se numa intervenção baseada na animação educativa e pedagógica das várias artes, numa animação concebida para e com os diferentes públicos, que os considera agentes activos de todo o processo.

Pintura Paula Rêgo The Fitting

Rita Braga

O que são artistas? Onde e como estudam para se tornarem artistas? Como vivem? Que obras criam? Que técnicas utilizam? Que histórias nos contam as suas obras?

Por isso, baseia-se na pedagogia diferenciada e destina-se a pequenos grupos de trabalho. Atrair, seduzir e cativar as comunidades, apostando em actividades que promovam o gosto pelas diferentes expressões artísticas, sensibilizem para a conservação do património artístico, fomentem a aquisição de novas competências de comunicação, desenvolvam formas de participação conducentes a identidades autónomas e participativas, e que estimulem o desenvolvimento do espírito crítico, da criatividade e da imaginação, revela-se um trabalho imprescindível. Um trabalho que tem como traço característico a interdisciplinaridade e a interactividade e que se destina a públicos de todas as idades.

Acredito que a concretização destes objectivos contribui para a formação de indivíduos capazes de agir de uma forma livre, consciente e responsável no seio de uma comunidade, tendo em vista o bem-estar social. Isto é, sujeitos que perante cenários adversos se inquietem, se indignem e ajam, exercendo uma verdadeira cidadania activa e crítica. Apostar em acções e projectos de Educação para a Cultura é contribuir para uma sociedade mais aberta e dinâmica, mais curiosa e inovadora, mais formada e elevada culturalmente. É a isso que me dedico; a continuar a provocar inquietudes e a despertar o imaginário. E assim vamos em conjunto descobrindo o mundo. terá lugar de 18 a 21 de Abril , das 10.30 às 12.00h, na sala do serviço educativo do próprio Museu


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Ler não é para mim

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literatura

Catia Benedetti Eu não gosto de ler, porque não gosto de estar sozinho. Eu gosto de estar com os outros, com as pessoas do meu grupo. Quando estou sozinho, é como se não soubesse se estou vivo ou morto. Sempre que posso, então, estou com os meus amigos: tenho muitos, felizmente, tenho tantos que, da maior parte deles, nem sei o nome todo. Quando não há mesmo ninguém por perto, tenho uma sensação estranha no estômago: como se lá dentro tivesse um vazio, uma ansiedade, alguma coisa que de um momento para outro poderia doer. Quando isto acontece, ligo logo a televisão ou o computador, ou os dois ao mesmo tempo: assim, sempre ouço a voz de alguém, sempre vejo alguém a mexer-se.

minha vida, entendem? Mas também não estou na vida daquelas pessoas que estão nos livros: eu sei que são só uma invenção, tal e qual num filme. Só que, num filme, há os actores a fingir que são alguém e que lhes acontece isto e aquilo. Num livro, as pessoas estão lá mas, na verdade, não estão, e eu não sou nenhum louco para acreditar que elas são reais. As pessoas reais são como eu, são aquelas que eu posso ver, ponto final. O resto é uma treta e com certeza essas invenções só servem para alguém ganhar dinheiro à custa de quem se deixa enganar. O meu dinheiro é que não levam.

Ler? Não, não gosto mesmo. Os livros não falam. É verdade que têm lá dentro muitas palavras, mas são palavras esquisitas, paradas. Para perceber alguma coisa, é preciso ler uma por uma, e mesmo assim, depois de uns minutos, ainda não se percebe o que é que elas verdadeiramente querem dizer, ou onde é que a história irá parar. Nos livros parece que ninguém vive de uma maneira simples: mesmo quando são escritos de uma forma fácil, há sempre alguma coisa que nos deixa entender que, por baixo do que é contado, está alguma outra coisa.

Aquilo é tão diferente da vida verdadeira que eu gostaria de saber como seria obrigar um escritor a escrever um livro que falasse de mim. Contratava-o, e ele seguia-me passo a passo para relatar o que faço, o que digo, o que fazem e dizem as pessoas com que me dou e que são pessoas verdadeiras… Havia de ser bonito, isto de escrever um livro sem inventar coisas.

Não, realmente nunca gostei de ler. Quando na escola me mandavam ler algum livro, dava-me um desconsolo que nem sei. Abria a primeira página, e passados uns minutos ainda estava lá a tentar perceber o que era aquilo. A primeira página dá medo, palavra, dá mesmo vontade de fugir, de ir fazer qualquer outra coisa: aquelas palavras todas enfileiradas, tantas que parece que nunca se chegará ao fim... Mas o pior ainda está para vir: é que quando se começa a perceber qual é a história, já não se está em lugar nenhum. Durante uns momentos, quando leio, esqueço-me das coisas à minha volta e já não sou ninguém. Não estou na

Só que, agora que penso nisto, parece-me que alguém que tivesse esse livro nas mãos e que vivesse, eu sei lá, na China ou na selva africana, também poderia achar estranho que aquela fosse mesmo a minha vida. Será que teria ideia do que é um fino bem gelado com tremoços, na praia? Pois é, tenho a impressão que, se eu viesse a ser a personagem de um livro, também ficaria irreal. Se alguém contasse acerca de mim, era capaz de me chupar a vida, de me transformar numa espécie de fantasma, como são todas estas pessoas esquisitas que estão nas histórias: mesmo quando as coisas

parecem iguais às coisas que eu faço de verdade, elas nunca as fazem tão naturalmente como eu as faço. Não, a sério não gosto de ler. Não percebo para que é que serve. Para passar o tempo, sim, eu sei que no fundo muitas pessoas lêem por causa disto. Mas passar o tempo a lembrar-se de que as pessoas morrem (sim, porque nos livros as pessoas morrem muito, e até parece que toda a sua vida é feita para chegar a isso…), ou que fogem, ou que sofrem, que se apaixonam e são infelizes? A ler um livro, uma pessoa com um pouco de imaginação até acaba por pensar que aquilo também se poderia passar com ela… e, sinceramente, na vida há dificuldades que chegam, não é preciso inventar mais. O mais estranho é que mesmo que numa história não aconteça nada de mal, a mim dá-me igualmente tristeza: é que, se uma pessoa começa a ler histórias, já nem sabe de que terra é. Todos aqueles lugares, aquelas falas esquisitas, aquelas casas que não têm nada de parecido às casas normais: e aquelas comidas de que eu nunca ouvi falar, aqueles objectos que eu nem sequer sei para que servem, ou aqueles problemas absurdos que, para as pessoas dos livros, parece que são o mais importante na vida… Isto tudo, não sei como explicar, não me faz sentir bem. Parece-me que ler estas coisas me suga a alegria de viver, e faz parecer a minha vida como uma coisa que afinal não tem importância nenhuma, apenas uma das tantas que podem existir. Leio um livro e começo a perguntar-me coisas sem sentido: pergunto-me, por exemplo: se eu tivesse nascido naquela

época, ou naquele lugar, quem é que eu seria? O que me poderia acontecer? E se eu fosse o filho de uma escrava, e alguém me vendesse? Se eu fosse condenado à morte, o que sentiria nas últimas horas? Se tivesse de fugir daqui, para onde iria, e como? Até chego a perguntar-me se os meus amigos são as pessoas que são, que conheço tão bem mesmo que nem sempre saiba como se chamam ou onde moram: afinal, quando saem do café e vão para casa, a vida deles continua sem que eu os veja (esquisito, não?)… Não será que, como as pessoas dos livros, têm segredos guardados, ou pensamentos de que nunca falam, ou fazem coisas que pouco antes disseram que nunca fariam? Não, ler não é para mim. Não me serve de nada, só me traz a sensação de que não sou ninguém, de que nada é seguro e de que vivo num mundo onde tudo está construído ao acaso, e o que parece ser uma coisa afinal pode ser outra. Um mundo, ainda por cima, onde por uma razão estúpida qualquer, sei lá, por ter ido ao café passando por uma certa rua, tudo se pode desmoronar de um momento para outro. A vida real, por sorte, não é assim. Quando não leio, estas ideias malucas não me incomodam, ou me incomodam muito menos. A vida real é muito mais simples: levanto-me, visto-me, e até à hora de ir para a cama sei perfeitamente quem sou e o que tenho de fazer. Não me ocorre o pensamento de que o que vejo não é o que parece ser, ou de que as palavras que ouço podem ter um significado diferente daquele que logo percebo. (Este monólogo pode ser atribuído a qualquer um: homem, mulher, jovem, adulto, pobre, abastado, de ‘boas famílias’, de famílias ‘menos boas’ e até de família nenhuma… Só não pode ser atribuído a uma criança, e este é o ponto à qual a autora queria chegar: ela chama a este ponto ‘esperança’).

Os meios audiovisuais na educação Miguel Valente O que é a educação? Para mim, e creio que para os organizadores dos próximos Encontros Filosóficos, é dotar os alunos de ferramentas para pensarem por si próprios, tornando-os seres pensantes, críticos, autónomos e cidadãos do mundo. O ensino pelas artes (nas quais incluo a base das mesmas, ou seja, a filosofia) procura estimular a aprendizagem através do desenvolvimento pessoal, em detrimento dos métodos mais conservadores de formatação e condicionamento através dos manuais e esquemas de empinanço. Existem diversas ferramentas que permitem um ensino mais vasto e menos

directo, que desenvolvem o sentido crítico e de auto-desenvolvimento, sendo a internet uma das ferramentas com mais potencial. Deixo aqui um exemplo de uma página que promove a divulgação de novas ideias e que é um bom exemplo do que a internet tem de bom como forma de partilha do conhecimento, tendo sido desenvolvido por uma associação sem fins lucrativos e que tem como objectivo um correcto desenvolvimento das sociedades humanas. A página a que me refiro pertence à RSA (Royal Society for the Encouragement of Arts) tendo como

lema “21st century enlightenment” e pode ser consultada em www.thersa. org. Neste site podemos encontrar, entre outras informações, diversos vídeos de palestras sobre educação, comunicação, relacionamento social, etc. Mas a RSA leva a partilha de informação mais longe e disponibiliza alguns vídeos de palestras ilustradas, os quais são compostos por pequenas animações sobre o conteúdo da palestra, tornando a mesma mais acessível e apetecível. Alguns dos conteúdos desta página estão igualmente disponíveis, de forma gratuita, para tablets e smartphones.


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31 MAR. a 14 ABR. 2011

cinema e teatro Fernando Nunes Miguel Castro Caldas é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Começou por publicar textos no jornal da AE da Faculdade de Letras Os Fazedores de Letras entre 1998 e 2001. Escreveu e publicou Queres Crescer E Depois Não Cabes Na Banheira (Âmbar, 2002) e As Sete Ilhas De Lisboa (Âmbar, 2004). No teatro tem escrito sobretudo para os Primeiros Sintomas e Artistas Unidos. Recebeu uma menção especial da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro pela sua actividade em 2005. O dramaturgo vem à XVIII edição dos Encontros Filosóficos para uma oficina criativa com alunos em que o lema é: “que mensagem na garrafa escreverias para que fosse lida no outro lado da margem?”, isto é, representar em palco um pequeno texto escrito entre Lisboa e a cidade da Horta, montada e apresentada após os dois dias da oficina teatral.

encontros filosóficos - entrevista

Miguel Castro Caldas Quando é que começaste a escrever para teatro? Em 2002.

Que memórias guardas dessa primeira apresentação de um texto teu em palco? A surpresa que é ver as palavras que se escreveu a ganhar vidas diferentes quando postas na boca de outras pessoas, neste caso, os actores. Qual foi o contributo da escola para a tua formação teatral ou mesmo dramaturgia? Sabes, acho que foi nenhuma. A minha formação teatral foi feita sobretudo com a própria actividade, aprendendo com quem trabalhava comigo. Ainda há uns anos era nas companhias de teatro que os actores se faziam, por exemplo. Depois é que apareceu a escola. Agora já praticamente não há companhias com actores residentes. Os actores agora vêm sempre da escola. E sabes, às vezes não sei se isso é o melhor. Mas eu não sou actor. Eu escrevo. E para ler e escrever basta ter a quarta classe e ir lendo e escrevendo a vida.

Sabe-se que tens trabalhado e visitado escolas para desenvolveres trabalhos à volta da escrita ou do teatro. És docente de teatro neste momento. Que experiências ou recordações guardas da descoberta da escrita para teatro dos alunos? Tento nunca ser professor. Não ensinar técnicas (até porque não as conheço). Convido as pessoas a escrever qualquer coisa e depois pegamos nas coisas que surgem e discutimo-las todos em conjunto com o princípio da igualdade de inteligências e tentamos transformá-las noutras coisas ainda. O que esperas encontrar “teatralmente falando” desta experiência no arquipélago açoriano, mais concretamente, na Ilha do Faial? Espero encontrar pessoas vivas, curiosas, prontas para trabalhar em conjunto, com vozes que se projectem ao longe, como se fossem olhos habituados a olhar o mar. Qual é o projecto ou trabalho teatral em que te encontras a trabalhar

Ilustração Mónica Dias Miguel Castro Caldas

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neste momento? Neste momento estou a escrever uma peça a partir do conto «the killers» do Ernest Hemmingway. A história de um homem que desistiu de fugir dos assassinos que o perseguem para o matar. Ainda acalentas algum “sonho impossível” dentro da dramaturgia? Escrever poesia, escrever para teatro, as palavras não foram feitas para isso. É sempre um acto subversivo. O meu sonho impossível é pôr em causa o mundo que existe. É impossível porque das duas uma: ou não sou capaz e então a obra cai no esquecimento, ou então sou capaz e o impacto acaba mais tarde ou mais cedo por ser absorvido pelo tal mundo que se está a contestar.

encontros filosóficos - workshop

Ilustração Teatro do Oprimido Árvore do Teatro do Oprimido

Teatro do Oprimido Tomás Motos O Teatro do Oprimido (TO) é uma formulação teórica e um método estético criado pelo dramaturgo brasileiro Augusto Boal (1931-2009) cuja teoria e praxis estão inspirados na Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire. Reúne um conjunto de exercícios, jogos e técnicas dramáticas que pretendem a desmecanização física e intelectual dos seus praticantes e a democratização do teatro e da cultura. Com esta prática, estimula-se os participantes não-actores a expressarem-se e a trabalharem sobre as suas vivências de situações quotidianas de opressão, medo, marginalização ou exclusão. A proposta

de Boal utiliza a criatividade expressiva como ferramenta colectiva e colaborativa ao serviço dos grupos e das organizações e como força transformadora de meios e grupos sociais, sobretudo, os não integrados, os excluídos (oprimidos) e os esquecidos ou, em palavras de Bauman, os estruturalmente supérfluos. O TO, com as suas implicações pedagógicas, sociais, culturais, políticas e terapêuticas, propõe-se transformar o espectador – ser passivo – em espect-actor, protagonista da acção dramática – sujeito criador - , estimulando-o a reflectir sobre o seu passado, modificar a realidade do seu presente e criar o seu

futuro. O espectador vê, assiste; mas o espect-actor vê e actua, ou melhor, vê para actuar em cena e na vida. As obras do TO são construídas em equipa, a partir de situações reais e de problemas típicos de uma comunidade ou de um grupo homogéneo de pessoas, tais como a discriminação, os preconceitos, a violência, a intolerância e outros. O TO é, antes de tudo, um espaço de acção que faz uso das técnicas de representação com o propósito de analisar e propor soluções de mudança perante a opressão ou exclusão que, sob diversas formas, recaem sobre indivíduos e comunidades.

“Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe-nos a nós construí-lo com as nossas mãos, entrando em cena, no cenário e na nossa vida”, foi o que nos disse Augusto Boal.

A dar corpo e expressão a essas personagens temos quatro actrizes que, com evidente prazer, entram no duplo jogo do teatro no teatro (a duplicidade das personagens) e, irradiando luz e talento, fazem um belíssimo trabalho de composição: Lia Goulart (impressionante na movimentação e na comunicação não verbal, esgares surpreendentes, olhos que dizem, um rosto que fala), Maria Miguel (a ter, finalmente, um papel ao nível das suas reais capacidades histriónicas; o gesto estético, boa expressão facial, bons ornamentos vocais), Teresa Cerqueira (a serena e secreta ambiguidade de um sorriso, a dualidade cartesiana estampada no seu rosto iluminado)

e Vanessa Santos (capta o lado onírico, tipifica bem a máscara atormentada, a tensão que se gera no interior desta peça). Do que mais gostei de “Imundação”? Sem dúvida da capacidade rítmica da linguagem que devolve musicalidade às palavras ditas que se transformam em emoções. Momento alto é aquele em que as vozes, em uníssono e em diferentes registos, interpelam e interpelam-nos. O neologismo “Imundação” remete-nos para uma inundação de sentimentos e estados de alma. Parabéns ao Teatro de Giz, que tem vindo a optar pelas novas dramaturgias, num contínuo e continuado diálogo com a contemporaneidade.

Imundação Victor Rui Dores

Sarcástico e primoroso este espectáculo que Ana Luena concebeu a partir de um texto de Marta Freitas escrito propositadamente para o Teatro de Giz. Salta desde logo à vista a unidade de todos os elementos – cenografia, figurinos, música original, desenho de luzes e de som, – que contribuem para a eficácia cénica de “Imundação”. A peça tem a marca de um tempo e de uma estética, com uma narrativa que tem elementos de non sense e com o chamado “teatro do absurdo” a rondar por perto. Em palco, quatro personagens, movimentando-se numa espécie de ringue, tecem as teias do destino da vida humana no teatro do mundo. E, à volta de Gabriel

(ser bipolar, metáfora de uma ilha) entregam-se a um jogo de máscaras e espelhos que são viagens interiores por dentro de memórias e inquietações: os recalcamentos de uma infância, experiência de vida. São personagens tresloucadas que param o tempo, sofridas e solitárias, inventivas e criativas, estranhas e imprevisíveis, intrigadas e inquietas, almas torturadas e complexas que interrogam a vida vivida e a vida sonhada. Depois as máscaras vão caindo e há o confronto com o real, permanecendo a busca ou a ilusão de uma felicidade. É essencial captar o dito escondido no não dito. Por conseguinte, estamos perante um teatro de inquérito ao subconsciente.


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ciência e ambiente

dop / universidade dos açores

O cartoon A sociedade simplesmente nem se preocupava com o oceano, quanto mais com o oceano profundo. RSS O cartoon, ou desenho humorístico, é uma forma de comunicação e arte que pode ser de uma enorme eficácia, seja o cartoonista bom. O cartoon é geralmente uma peça de humor, em muitos casos de humor negro e satírico. A sua eficácia está na síntese e no traço minimalista com que o cartonista consegue representar a expressão dos personagens e as cenas representadas relativamente à matéria comunicada. O cartoon é leve e dispõe-nos bem, mas também nos leva a refletir. Existem muitos cartoons acessíveis na Internet que retratam episódios e temas científicos. Um dos mais, senão o mais famoso cartoonista “de ciência” é Sidney Harris com vasta obra publicada no American Scientist. Mas o cartoon que quero trazer aqui hoje foi publicado no número de Março

de 1983 da revista The New Yorker. Nele o autor cria o mais improvável diálogo de senhoras da classe média-alta nova-iorquina à hora do chá. Este cartoon tem sido repetidamente utilizado em apresentações e palestras por cientistas do mar profundo. Como podem ver uma de cinco senhoras, no seu convívio da hora do chá, realça com alguma candura, que não sente preocupação ou interesse pelo fundo do oceano, não sabe porquê, mas o facto é que não sente preocupação. A mesma candura espelha-se na cara das outras. Nota-se pelo traço fino e simples, mas expressivo do cartoonista, que todas as senhoras partilham o mesmo sentimento de indiferença e desatenção. Porque havia de ser de outra maneira?

A sociedade simplesmente nem se preocupava com o oceano, quanto mais com o oceano profundo. Esta despreocupação vinha sendo alimentada pelos próprios cientistas. Por exemplo em 1953 dois conceituados cientistas americanos (um diretor de um instituto marinho e engenharia das pescas de Woods Hole, o outro do Museu Natural de História Natural de Nova Iorque), publicaram um livro intitulado “O Mar Inesgotável” em que, referindo de passagem que não sabendo tudo sobre o oceano, acentuavam que o que “ele contém estende-se bem além dos limites da nossa imaginação e que na sua generosidade o mar é inesgotável”. É esta mesma generosidade que transparece dos rostos daquelas senhoras de classe média ou média-alta, mas que têm a desculpa de serem leigas.

A realidade era no entanto completamente distinta. As atividades económicas migraram há muito, invisivelmente, para o mar profundo, e no tempo em que aquele cartoon foi publicado a ameaça já se iniciara. Pesca-se atualmente até profundidades de 2000 metros. A exploração de petróleo tem furos até aos 3000 metros no fundo do oceano e explorações a 7000 metros no sub-solo. Iniciou-se a corrida ao ouro, cobre, cobalto, zinco a 1000 e 2000 metros de profundidade. Existem áreas no oceano Pacífico, a 5000 metros de profundidade, concessionadas para se iniciar a exploração de nódulos polimetálicos quando a tecnologia o tornar rentável. O desenho humorístico publicado no The New Yorker, no primeiro dia da Primavera de 1983, captura com humor negro a fragilidade das nossas conceções e o grau do nosso cândido desconhecimento.

Águas Vivas a Baleia à Vista nascer no Faial

pelo Clube de Filatelia “O Ilhéu” da ESMA

José Nuno Pereira Uma nova maré chega à RTP Açores, um presente para os verdadeiros apaixonados pelo mar, desportos, lazer, ciência, descobertas, tudo sobre o mundo azul em que adoramos deslizar, mergulhar, conhecer, contemplar. “Águas Vivas” é um magazine náutico semanal que conta com duas componentes principais: desporto náutico, desde regatas de botes baleeiros a provas de caça submarina; e uma componente científica, reportando descobertas recentes, estudos e outros assuntos que fazem a actualidade do novo e do interessante. Reserva ainda espaço para momentos de lazer onde os espectadores poderão vir a interagir. Reportar (como sinónimo de “fazendo reportagens”) sobre actividades relaccionadas com o mar, uma ideia inovadora da MarImagens, Lda., empresa recém-criada na ilha do

Faial, que vem trazer imagens vivas de azul das 9 ilhas, suas gentes e seus seres, num tiro certeiro na animação da programação televisiva regional. Quinze

minutos de qualidade informativa e visual, “seja feita a nossa vontade”, produzidos a partir do Faial, onde se encontra a maioria da equipe (possuindo também repórteres em S. Miguel e na Terceira), nomeadamente Inês Coutinho, secretariado/produção, João Silva na captação e realização, Nuno Macedo, assistente, na rubrica de desporto Rolando Marques, jornalista, e na rubrica sobre ciências marinhas José Nuno Pereira e Filipe Porteiro (Mar à Vista; investigadores IMARDOP/UAç); e como pivot, a bela Joana Rosa (Jornal Incentivo). Sábados às 20:45 numa RTP Açores próximo de si.

Fernando Nunes “Baleia à Vista” é a nova proposta de leitura do Clube de Filatelia “O Ilhéu”. A surpresa está a ser preparada para o dia da escola, a celebrar no dia 13 do mês de Maio. Com uma citação de Herman Melville, na contracapa,

o autor de Moby Dick, este livro pretende dar a conhecer a epopeia dos açorianos que se dedicaram à pesca da baleia durante mais de um século.


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Agenda

Abril

Loja ZON Açores Rua de Jesus, Matriz, 9900 Horta Segunda a Sexta, das 9h00-13h00 e 14h00-17h30

ATÉ 30 ABR. exposição EVOLUÇÃO Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos

2-

Hospital

3-

Posto de Turismo

4-

Biblioteca

5-

Museu

6-

Câmara Municipal

7-

Correios

8-

Mercado Municipal

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Mirad

3-

Praia

4-

Monte

5-

Da rib

6-

Parqu

Hort

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Gatafunhos Gatafunhos Loja ZON Açores Rua de Jesus, Matriz, 9900 Horta Segunda a Sexta, das 9h00-13h00 e 14h00-17h30

Tomás Melo

SÁB. 2 ABR. feira BAZAR DE RUA Praça da República - 09h às 14h30

Tomás

DOM. 3 ABR. música CONCERTO DO 28.º ANIVERSÁRIO do Grupo Coral da Horta Sociedade Amor da Pátria - 20h SÁB. 2 ABR. teatro O CANTINHO DO JACINTO Encenação e Texto: Victor Rui Dores Grupo de Teatro da Unisénior do Faial Teatro Faialense - 21h30

Reparou que neste Fazendo não há uma única fotografia?

QUI. 7 a SEX. 29 ABR. exposição AÇORES 1917/1918. CRÓNICA DE UM ANO AMERICANO Biblioteca Pública - 09h às 17h QUI. 7 e SEX. 8 ABR. colóquio Os Açores, a 1.ª Guerra Mundial e a República Portuguesa no Contexto Internacional Biblioteca Pública - 14h (qui.) e 11h (sex.) SEX. 8 e SÁB. 9 ABR. teatro IMUNDAÇÃO pelo Teatro de Giz Teatro Failense - 21h30 SÁB. 9 ABR. teatro EM TEMPOS DE CRISE... NÃO SE LIMPAM ARMAS Grupo de Teatro Chamarir Castelo Branco Sport Clube - 21h DOM. 10 ABR. cinema TURISTA de Florian Henckel Teatro Faialense - 21h30 de SEG. 11 a SEX. 15 ABR. formação OFICINA DE PINTURA “azul, azulinho, azulão” com Margaria Madruga para crianças dos 5 aos 12 anos Biblioteca Pública

Um Selo e um Carimbo Selo Comemorativo dos XVIII Encontros Filosóficos “Educar pela Arte”, editado pelo Clube de Filatelia O Ilhéu, que cumpre este ano 18 anos de actividade. A autora do selo, Filipa André é uma aluna do 10º ano da Escola Secundária Manuel de Arriaga. Complementa esta edição, a criação de um carimbo, editado pelo mesmo clube, feito pela professora Ana Correia a partir de uma ilustração de Lénia Oliveira, tembém ela aluna do 10º ano (ver 2ª página).

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