FAZENDO 3

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“Não recicle, não. Não pense nos seus filhos, não.”

Boletim do que por cá se faz.

Edição nº. 3 | Quinzenal Agenda Cultural Faialense DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

FAZENDO

29 OUTUBRO 2008 Quarta-feira


#2

COISAS... compostas FICHA TÉCNICA FAZENDO Isento de registo na ERC ao abrigo da lei de imprensa 2/99 de 13 de Janeiro, art. 9º, nº2.

A cronicazinha... Foi com muito interesse que aceitei o desafio que me foi feito pelo jovem Pedro Lucas, para escrever sobre cultura. Pelo estímulo que senti em corresponder à criatividade, ao espírito de iniciativa e ao desejo de intervenção de um grupo de jovens, na vida cultural da cidade. Pela surpresa que tive ao ler o Boletim “Fazendo”- a originalidade do desenho que compõe a capa, os textos sobre literatura, música, ciência, ecologia; a provocação ambientalista da primeira página, “recicle este jornal ou recicle-se a si...” É, sem quaisquer dúvidas, um convite à reciclagem da apatia, do desinteresse e do afastamento das coisas públicas. É uma atitude nova, meritória, que indicia a vontade de um grupo de jovens em participar nas produções culturais; em criar espaços de encontro de ideias; em promover o debate e a reflexão; em criar lugares inovadores e novas identificações estéticas, urbanas. Há que partir deste pressuposto: a cultura, tal como todas as produções humanas, é um espaço vivo; um espaço de construção de experiências individuais e colectivas; um espaço simbólico da língua, da música, das produções materiais: artefactos, catedrais, pontes, estradas, um poema... A cultura é muito mais que erudição; é património humano que suporta a arquitectura dos povos e das comunidades. É vida comum; partilhada na sua força simbólica e criativa. É participação. É cidadania. É educação. É a capacidade de transformar o espaço e o tempo que constituem o presente e projectar-se, em esperança, no futuro. Hoje, na cidade da Horta, respiramos uma atmosfera cultural que mergulha as raízes em experiências do passado, sobretudo nas áreas da música popular e do teatro, que se recriam, na contemporaneidade, em manifestações estéticas muito originais. Ao lado de bandas centenárias surgem grupos de música experimental, nas áreas do jazz, pop, rock, entre outros. Há experiências singulares nas artes plásticas, na literatura, nas artes dramáticas. Este fôlego nas produções artísticas de uma comunidade, constitui a verdadeira cultura. Porque traduz uma mudança, coesão e envolvimento dos grupos. Não se pode confundir estas produções com os eventos culturais que ocorrem pontualmente, por muito interessantes que possam ser. Para além do ressurgir das artes, há esta novidade da participação pública dos jovens, na área cultural e da divulgação das artes, que é um sinal extraordinário de que esta comunidade está viva. Maria do Céu Brito

DIRECÇÃO GERAL Jácome Armas DIRECÇÃO EDITORIAL Pedro Lucas COORDENADORES TEMÁTICOS Catarina Azevedo Luís Pereira Pedro Gaspar Ricardo Serrão Rosa Dart COLABORADORES Maria do Céu Brito Rui Prieto GRAFISMO E PAGINAÇÃO Vera Goulart veragoulart.design@gmail.com

Fazer em cima do joelho Joe Berardo quer comprar o Fazendo mas não pode Ao contrário da têndencia internacional, as acções do Fazendo (PSI-20) atingiram o pico no passado dia 24 de Outubro chegando cada folha do jornal a estar cotada em 10 vezes o preço do ouro (20 vezes mais que o tungsténio e um pouco menos que o barril de crude). Joe Berardo, que tinha recentemente manifestado em público a sua intensão de adquirir o jornal viu-se assim obrigado a desistir: “deixame muito triste mas nem vendendo toda a minha colecção conseguia tornar comportável este investimento” disse o filantropo madeirense. Antes de desistir, Berardo, numa acção de desespero, ainda raptou e torturou o nosso colaborador Pedro Gaspar (ler “Fausto”) recorrendo a um “god damn camóne” que por acaso estava a passar férias na Praia do Norte e teria passado 5 anos em Guantánamo ao serviço

das tropas “cámones”. Após um longo braço de ferro com os directores deste jornal, a fazer lembrar Harrison Ford em “Air Force One”, o “dito cujo coitado” foi finalmente entregue em muito más condições nas urgências do Hospital da Horta onde, estupefacto com o quadro, o médico de serviço exaltou a nossa prepotência, “Olé!”, deixando-nos na dúvida se lidávamos com um Terceirense ou com um Espanhol. Ainda ocorreram várias tentativas de contactar a Polícia mas, para amargo das vítimas, só foi encontrado um Comando Equiparado. P.S. Se calhar a malta do Fazendo nem tem assim tanto dinheiro e, se calhar, até nem ganha nenhum e tem que dar o corpo ao manifesto. Vá lá, apoie o projecto... P.P.S. Não temos nada contra Terceirenses e muito menos contra Espanhóis... Jacobino Louco

ILUSTRAÇÃO CAPA Pedro Solà PROPRIEDADE Jácome Armas Pedro Lucas SEDE Rua Rogério Gonçalves, nº18, 9900-Horta PERIODICIDADE Quinzenal Tiragem_400 IMPRESSÃO Gráfica O Telegrafo, De Maria M.C. Rosa CONTACTOS Vai.se.fazendo@gmail.com DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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Cinema e Teatro

DESCULPA PÁ PIPOCA

A RAPARIGA CORTADA EM DOIS (La Fille Coupée en Deux) Uma fita de Claude Chabrol

“A Rapariga Cortada em Dois” é um filme à volta de uma jovem mulher que tem a ambição de ter êxito na vida e está dividida entre dois homens. Um, escritor prestigiado e perverso, o outro, um jovem multimilionário desequilibrado com quem acaba por se casar. Ao fim e ao cabo, trata-se de uma história de jogos sexuais e morais, que vive de um triângulo amoroso. Um filme que vive essencialmente de bons diálogos. Destaque para algumas cenas passadas em Lisboa, aspecto que acaba por ser também interessante. Este novo filme de Claude Chabrol tem excelentes interpretações de Ludivine Sagnier, a passear no eléctrico da Bica (Lisboa), e que vimos recentemente em “As Canções de Amor”, e Benoît Magimel de “A Pianista”. Uma nota ainda, para a excelente fotografia do português Alberto Serra. O já septuagenário e mestre do cinema policial Chabrol, apresenta-nos neste seu mais recente trabalho cinematográfico, que oscila entre a comédia negra e o thriller, um clássico literário para o cinema. É de referir ainda, que este filme foi também ao encontro de muitos críticos, pela forma como retrata cruelmente a média burguesia contemporânea. O cinema europeu consegue apresentar boas comédias, e embora “A Rapariga Cortada em Dois” não seja uma fita de gargalhada fácil, prima pelo modo como consegue combinar o aspecto dramático com uma apresentação leve e bem disposta. Luís Pereira

Já foi visto...

À VISTA

O Testamento do Dr. Mabuse Um filme de Fritz Lang

“OS BÓRGIA” (Los Bórgia) Uma película de Antonio Hernández

“BEM-VINDO AO TURNO DA NOITE” (Cashback) Uma película de Sean Ellis Este trabalho de Sean Ellis, além de ser um filme de comportamentos criativos e artísticos à altura, é também um singelo de interpretações acima da media, com o auxílio de um belo trabalho de composição das personagens que nos trazem carácteres tão distintos e de um universo tão bizarro que passados, talvez cinco anos ou mais iremos lembrá-las como se as tivessemos conhecido ontem. Quem já viu a Curta-metragem, decerto que marcará lugar na sala do Cine Teatro Faialense. Vencedor do Prémio do Júri do Festival Internacional Bermuda – Melhor Argumento - Sean Ellis Vencedor do Festival Internacional de San Sebastián – Prémio C.I.C.A.E. - Sean Ellis. Filme que o Cineclube da Horta vai estrear a 4 de Novembro, no Cine Teatro Faialense. Mais informações no site oficial do filme em: http:// www.cashbackthemovie.com/ L.P

Este filme que em boa hora chegará à cidade da Horta, é baseado na história de uma das mais importantes e controversas famílias, os Borgias, que foram acusados de cometer crimes e incestos e despertaram o ódio, inimigos e admiradores como nenhuma outra família. Em 1492, é eleito um novo papa, Alessandro VI. O novo pontífice sonha em aumentar as terras do Vaticano muito além da cidade de Roma a todo custo. Para isso, nomeia Juan, seu filho mais velho, capitão do exército. Mas César, irmão de Juan, quer tomar seu lugar e começa uma grande rivalidade entre os dois. Enquanto isso, os inimigos aguardam uma oportunidade para impedir a hegemonia da família em Roma. Do elenco, constam nomes como, Roberto Álvarez, Eloy Azorín, Linda Batista, Antonio Dechent, Roberto Enríquez, Fabio Grossi, Antonio Hernández, Lluís Homar, Lucía Jiménez, Giorgio Marchesi, Diego Martín e Paz Vega. A ver a 18 de Novembro, no Cine Teatro Faialense, integrado na programação regular do Cineclube da Horta. Sítio Oficial do filme em: http://www. losborgia.com L.P

Uma fita 1933 de Fritz Lang, cineasta alemão, para mim, sem dúvida, um mestre da cinematografia mundial. Neste filme o realizador de Metrópolis, (já exibido pelo Cineclube da Horta), retoma o seu personagem-fetiche, um médico psicopata. O fantasma do Dr. Mabuse que domina o realizador do asilo onde ele morreu. Assim, o perigoso Dr. Mabuse, ameaça um empresário industrial. Quando este pede socorro à polícia, temos uma das cenas mais impressionantes do cinema dessa época. Todos os objectos pousados numa mesa transformaram em cristal. O efeito era simples, mas deveras genial, apenas foram trocados por objectos idênticos, feitos sob encomenda. Mas o truque intriga todos os espectadores até hoje. Fritz Lang, usou também este efeito em “Metrópolis”, ao substituir as estátuas dos sete pecados capitais por pessoas idênticas, de carne e osso. Segundo se sabe, o final das filmagens foi bem complicado. Fritz Lang, já era assediado pelo regime nazi e teve de fugir logo após a rodagem do filme. Na época, ele era casado com Thea von Harbou, que colaborou também no argumento. Ela não fugiu com ele e acabou tornando-se uma das argumentistas preferidas do governo da Alemanha nazi. Este filme comporta uma segunda leitura, o realizador (no filme) no asilo seria uma parábola da população alemã, hipnotizada pelo hediondo sistema totalitário nazi. Por causa disso, teve a sua exibição proibida na Alemanha e centenas de cópias queimadas. L.P


#4

COMICHÃO NO OUVIDO LUÍS GIL BETTENCOURT EM RETROSPECTIVA

É

impossível falar da música açoreana e portuguesa contemporânea sem referir o nome de Luis Gil Bettencourt. O seu percurso não só atravessa vários imaginários musicais, como várias geografias, desde os Estados Unidos, Lisboa, S. Miguel, à ilha Terceira onde actualmente reside e é responsável pelo auditório do Ramo Grande. No início do seu percurso, na ilha Terceira, mais concretamente na Praia da Vitória, tocou em bandas como Os Mini Sombras, Czares, Rice Machine Revival, Faíscas e Os Sombras. De seguida emigrou para os Estados Unidos, onde estudou e trabalhou. Foi lá que se dedicou intensamente à música, tendo formado os Alien, que mais tarde se vieram a denominar de Viking, uma banda de rock progressivo que conquista um dos lugares mais importantes no panorama musical de Boston. Após a sua passagem pelos Estados Unidos, Luis Bettencourt aterrou em Lisboa em 1984, onde grava o seu primeiro LP, Empty Space. Este trabalho foi gravado com os músicos da Orquestra Gulbenkian. Durante a década de 80, participou com a RTP-Açores em bandas sonoras, realizando os seus primeiros vídeos, tendo

Música

sido também por esta altura que foi responsável pelo nascimento do Festival Maré de Agosto. Ainda nesta década, Luis Bettencourt tocou em várias casas de referência no continente, como a Aula Magna, o Teatro São Luiz, e o Teatro Gil Vicente, e produziu temas para a RTP-Açores, assim como o LP Monte Formoso da Brigada Victor Jara. Em 1989 Luis Bettencourt regressou à ilha Terceira, produzindo e realizando o seu primeiro telefilme, Vivências. Nesta altura cria também o grupo de música tradicional, Cantinho da Terceira. Mais tarde, é mentor do primeiro festival de Jazz nos Açores e cria o Festival do Ramo Grande. Em 1997, Luis Bettencourt é convidado para ser o responsável cultural dos Açores na Expo ’98. Nesta fase, e numa perspective de contribuir para a formação dos músicos das filarmónicas, criou a Lira Açoriana, e produziu alguns CD’s, assim como a sua primeira operetta, a Ilha Décima. Mas a sua contribuição para o desenvolvimento da música açoreana vai mais longe, quando se torna o mentor do Auditório do Ramo Grande na Praia da Vitória, cria o Festival dos Moinhos no Corvo, estimula e revoluciona a festa da filarmónica na Calheta do Nesquim, e implementa na cidade da Horta o Festival Rota dos Bons Ventos em 2008, tudo iniciativas de grande sucesso e acima de tudo com grande margem de crescimento. Com cerca de 15 Cd’s produzidos, e participação em muitos outros, em 2008 Luis Bettencourt compôs a banda sonora para um documentário sobre a vida de

Já foi ouvido...

José Saramago, com utilização da Viola da Terra de dois corações, e presentemente toca com a Ynot Band, lançando uma jovem e promissora cantora, Maria Bettencourt, que é sua filha. Após este rico e vasto percurso, Luis Bettencourt decidiu fazer três concertos de retrospectiva, onde faz uma viagem por todas as fases da sua carreira, sintetizada num espectáculo intenso e intimista com músicos convidados (incluindo a sua filha, Maria Bettencourt). O primeiro espectáculo realizou-se a 26 de Setembro no auditório do Ramo Grande, e o segundo no Teatro Faialense, no sábado passado. O público Faialense aderiu em grande número, uns pela admiração pelo trabalho do músico, outros pela curiosidade em conhecer melhor o génio de Luis Bettencourt e o seu caminho pela música. Foi uma noite em grande, que se repetirá em Janeiro no Teatro Micaelense, palco que fechará esta série de três concertos. Haja saúde! Fausto

À DESCOBERTA

AND THE TIDE RUSHES IN The Mighty Surf Lords 2008 Descobri este album na internet. Se é que existe este termo, pode-se dizer que é um surf rock instrumental puro e duro. O reverb da guitarra e o som poderoso do baixo faz lembrar a sonoridade dos Beach Boys, e a atmosfera é inteiramente voltada para a surfada. No entanto, se não tens prancha ouve na mesma, pois as boas vibrações deste disco podem contribuir para que o teu dia melhore substancialmente, principalmente se for ouvido de manhã quando já penteadinho e de banho tomado, acendes um cigarro e olhas lá para fora para ver como é que está o tempo. F.

NEVERMIND Nirvana 1991 O “fundo do baú” deste número podia não o ser. Nevermind é o segundo álbum dos Nirvana, e foi lançado em 1991, mas poderia perfeitamente ser um trabalho lançado na semana passada, que teria a mesma actualidade. Assim que foi lançado, conquistou a aclamação da crítica e sucesso junto ao público, vendendo à volta de 23 milhões de cópias. Este álbum consagrou os Nirvana e destornou Michael Jackson dos tops norte-americanos. Até a capa do disco teve sucesso, tendo sido eleita pela revista Rolling Stone como a melhor capa de todos os tempos. Mesmo lançado há 17 anos, Nevermind ainda continua a ser um dos trabalhos mais influentes do cenário musical actual. Recentemente, o canal de Televisão norte-americano VH1, elegeu Nevermind como o segundo melhor álbum de rock da história, apenas atrás de Revolver, dos Beatles. Tops e consagrações à parte, este álbum marcou a minha adolescência, e é em parte o culpado por ter começado a tocar guitarra. É sem dúvida um disco intemporal… F.

AN OTHER CUP Yusuf 2008 O seu nome era Cat Stevens. Agora assina como Yusuf Islam. Cat Stevens foi um ícone musical nos anos 70, sempre com uma mensagem muito forte, sobretudo pelas suas letras de intervenção. Trabalhos como Wild World (1971) e Blue Monday (1976) marcaram o seu percurso de forma definitiva. Um dia Cat Stevens deixou a música, para se encontrar na paz e tranquilidade através da sua nova casa espiritual – o Islão. A sua participação activa na comunidade islâmica sempre numa perspectiva de paz e entreajuda engrandeceu-o como ser humano, tendo decidido voltar à música muitos anos mais tarde, agora sob o nome de Yusuf. Com outra maturidade e leveza espiritual, Yusuf regressa à música com a mesma energia e mensagem, onde as letras continuam a ter um grande peso. A voz, é inconfundivelmente do velho Cat Stevens. F.


Artes Plásticas

Olho de Peixe

PVC

António Domingos no Teatro Faialense

A Lomografia

São Petersburgo, União Soviética, 1982. Em plena Guerra Fria o General Igor Petrowitsch Kornitzky, braço direito do Ministro da Defesa e Indústria da USSR e amante da fotografia, bate com uma mini-câmara fotográfica japonesa (Cosina CX-1) na ornamentada mesa do camarada Michail Panfilowitsch Panfiloff. De imediato o Sr. Panfiloff, director da poderosa fábrica soviética de armamento e óptica LOMO, examinou minuciosamente o pequeno objecto notando a sua apurada lente em vidro, extrema fotossensibilidade e a robustez do material. Apercebendo-se do potencial desta minúscula máquina fotográfica, e com o intuito de promover o “prazer e glória” do povo soviético (isto é, fazer propaganda), os dois camaradas dão ordens para sua cópia e fabricação maciça, fazendo-se somente um upgrade ao design. Nasce a Lomo Kompact Automat (Lomo LC-A), artigo a ser adquirido por todo o respeitoso comunista e que durante a década de oitenta foi amplamente utilizado na documentação deste estilo de vida, assim como do veraneante molhar do pé nas praias do mar negro. Durante este período milhões de máquinas foram vendidas não só na União Soviética como nos “irmãos” socialistas Vietname, Cuba e Alemanha de Leste. Praga, República Checa, 1991 Após um grande decaímento da popularidade da LC-A, em prol de artigos mais baratos e de menor qualidade fabricados na Àsia, dois jovens vienenses em férias na capital checa descobrem alguns exemplares numa improvável loja de fotografia local. Aquirem um par e seguem para as ruas de Praga onde começam a disparar desenfradamente a câmara, muitas vezes sem sequer olhar pela objectiva. Viena, Áustria, 1991-1993 De volta a Viena - filme revelado no supermercado da esquina – os dois amigos ficam deslumbrados com a singularidade, a cor e até a desfocagem de algumas das fotografias. Reza a lenda (ou não) que, começando por familiares e amigos, em pouco tempo a moda estava lançada na capital austríaca. A filosofia Lomo assumia sobretudo a forma de fotografia do acaso, de forma imprevísivel e virada para o quotidiano, sem preparação. O sucesso foi tão grande que não tardou a surgir, pela mão dos intrépidos vienenses, a Sociedade Lomográfica – Lomographische AG. Resto do mundo, 1994 - 2008 Em 1994 acontece, simultaneamente em Moscovo e Nova Iorque, a primeira exposição internacional de lomografia. Depois de uma expansão mundial do fenómeno (fruto também de um marketing massivo) e com a fábrica da Lomo em São Petersburgo a anunciar o encerramento, o duo áustrico desloca-se àquela cidade e, para além de convencer os patrões a não fecharem as portas, assumem a distribuição mundial exclusiva da máquina de forma a dar escoamento ao apetite faminto do número ascendente de aficcionados. Desde então foi lançada uma linha de máquinas analógicas desenhadas para produzir efeitos fotográficos diferentes – sendo um dos mais conhecido o “fisheye”. Com o desenrolar dos anos o modelo da LC-A foi descontinuado e deu lugar ao LC-A+. Ironicamente é hoje em dia fabricado na China. No próximo dia 10 de Novembro estreia a exposição “Lomo!” que estará patente na Igreja de São Francisco entre as 15h00 e as 17h00 até ao dia 30 do mesmo mês.

Fontes: Lomographic Society International - www.lomography.com Lomografia Portugal – www.lomografiaportugal.com Wikipedia – www.wikipedia.com As dez regras da lomografia: 01 . Leva a tua Lomo onde quer que vás. 02 . Usa-a a qualquer hora do dia ou da noite. 03 . A Lomografia não interfere na tua vida, torna-se parte dela. 04 . Aproxima-te o mais possível do objecto a fotografar, se assim o desejares. 05 . Não penses …… lomografa. 06 . Sê rápido. 07 . Não precisas de saber antecipadamente o que fotografaste. 08 . Nem depois. 09 . Fotografa a qualquer ângulo. 10 . Não te preocupes com quaisquer regras. Pedro Lucas

António Domingos nasceu portuense em 1957. Em 1979 formou-se em pintura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto. Durante muitos anos foi professor de Educação Visual do Ensino Básico mantendo como segunda actividade o seu trabalho artístico como pintor, pois devido à situação corrente, como o próprio afirma, “Apenas quem está no circuito há muitos anos e que já adquiriu uma certa cotação no mercado consegue viver exclusivamente do trabalho artístico”. Actualmente dedica-se a tempo inteiro à pintura. Já participou em várias exposições colectivas e individuais, tendo exposto no Museu Municipal de Paços de Ferreira (2004), e na Galeria do Vilar/Árvore (2005) a sua obra ‘Simetrias’. A pintura de António Domingos, como afirma o pintor surrealista Eurico Gonçalves, “(…) debate-se entre o instinto da forma e a forma dominada pela geometria”, sendo o seu método minucioso e rigoroso, ou como descreveu o crítico Rui Baptista, “(…) É um pintor abstracto que trabalha com o rigor das horas, desde muito cedo noite adentro (…)”. O seu mais recente trabalho “Sete Mares” não poderia deixar de ser exposto neste pequeno arquipélago rodeado pela imensidão que lhe serviu de inspiração. Depois de já ter sido admirado pelos picarotos durante a Primavera passada na Galeria Municipal das Lajes do Pico, é agora trazido até ao Teatro Faialense, onde poderá ser apreciado a partir do dia 5 de Novembro e até ao final do mês. Jácome Armas


#6

- ENDOS, - ANDOS, - INDOS Literatura

Se numa noite de Inverno um viajante de Italo Calvino “Se numa noite de Inverno um viajante” de Italo Calvino é um livro extraordinário sobre a aventura de se ser leitor e sobre a própria construção narrativa. Através da personagem de um leitor que persegue uma obra que não cessa de lhe escapar, descobrimos não uma mas várias histórias: as contadas em cada um dos dez capítulos (que nunca acabam porque nunca se descobre o livro a que verdadeiramente pertencem e que são dez como os mandamentos, o que nos remete automaticamente para outra história), as que se depreendem de cada título (pois cada um deles encerra uma infinidade de possibilidades) ou da junção de todos eles (já que os próprios títulos parecem criar uma nova história) e todas as outras que reinventamos a partir do que fica em suspenso. Essas dez histórias permitem-nos ainda descobrir diferentes tipos de romance: político, fantástico, policial,…, como se cada capítulo nos enviasse para um novo universo. E, para cada universo, Calvino constrói também um tipo de leitor: o ingénuo, o tecnicista e até o não-leitor, como se quisesse

resumir, através de uma pequena galeria de retratos, todos os aspectos do mundo que se cria no momento em que abrimos um livro. Calvino, que adora inventar histórias construídas a partir de condições (ver, por exemplo, “O Castelo dos Destinos Cruzados” em que cada capítulo se constrói a partir de um baralho de “tarot”), escreve um romance que se multiplica e se desdobra, piscando a olho a outros livros, como o fantástico “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury, onde a vontade de destruir e preservar o livro se defrontam de forma feroz. Numa sociedade em que todos os dias ouvimos falar da morte da leitura nunca é demais redescobrir um livro em que o leitor e o que este lê são o motor da escrita. Sobretudo porque, graças a um discurso que varia tanto quanto o género que pretende recriar, Calvino nunca se torna cansativo nem tende para uma abstracção teórica que poucos entenderiam. Catarina Azevedo

À CONQUISTA O Jogo do Anjo

de Carlos Ruiz Zafon O autor de “A Sombra do Vento” volta a utilizar o mundo dos livros como pano de fundo de um romance que mistura amor e intriga. Partindo da ideia de que um escritor pode trabalhar por encomenda, o autor arrasta-nos para uma espiral em que o amor pelos livros e pela escrita se confunde com a paixão. Paralelamente, o mundo da edição e dos escritores aparece como um universo perigoso em que todos avançam mascarados e onde tudo tem mais de um sentido. Além de um romance, esta obra é também um questionamento permanente sobre o que leva a ser escritor. C.A.

Mãe, não tenho nada para ler...

“A Porta do Tempo” Imagina que os teus pais compram uma casa com uma estranha porta com quatro fechaduras que ninguém consegue abrir, uma casa enorme, cheia de recantos e segredos. Imagina que nessa casa viveu um homem que ninguém sabe se morreu ou se desapareceu. Imagina que os teus pais têm que te deixar sozinho com a tua irmã e o jardineiro e que descobres uma caixa estranha que guarda um pergaminho que ninguém consegue decifrar... Consegues imaginar tudo isto? Então vais adorar “A Porta do Tempo”, o primeiro volume de uma série que já conquistou milhares de leitores. C.A.

Já foi lido...

“Fahrenheit 451” de Ray Bradbury Em “Fahrenheit 451”, a temperatura a que o papel se incendeia, seguimos o percurso de Guy Montag, um “bombeiro” (no romance é o nome dado aos que queimam os livros), que vive num futuro em que todos os livros são proibidos . Escrito para simbolizar o amor que Bradbury tinha pelos livros, o romance acabou por se tornar uma denúncia feroz do mau funcionamento de certas sociedades, em que o livro e as ideias apareciam como mais ameaçadores do que armas. C.A.


Ciência e Ambiente APAGA

A LUZ

O brother, where art thou? No Atlântico Norte vivem oito das quinze espécies reconhecidas de baleias de barbas (da Sub-Ordem Mysticeti), incluindo seis das sete espécies da Família Balaenopteridae, conhecidas como rorquais. Todas estas espécies já foram registadas nos Açores e cinco delas ocorrem anualmente entre a Primavera e o Verão. Para além destes factos conhecidos, muitas questões ficam no ar: de onde vêm? Para onde vão? A que populações pertencem? Quais são os processos que influenciam a sua ecologia? Que papel têm os Açores no ciclo de vida destes animais? Para responder a algumas destas questões foi estabelecido pelo Centro do IMAR na Universidade dos Açores o Programa de Telemetria por Satélite de Grandes Baleias que incide sobre três das espécies que normalmente frequentam os Açores: Baleia azul (Balaenoptera musculus), Baleia comum (Balaenoptera physalus) e Baleia sardinheira (Balaenoptera borealis), com co-financiamento do Programa INTERREG IIIB (FEDER). No âmbito deste Programa de Telemetria, baleias daquelas três espécies estão a ser instrumentadas com transmissores de satélite que permitem seguir os seus movimentos remotamente. Os transmissores, colocados na espessa camada de gordura subdérmica, transmitem sinais que permitem estimar a posição dos animais quando estão à superfície. Após um período que varia de algumas semanas a poucos meses, estes transmissores são expelidos naturalmente pelo organismo dos animais, não deixando sequelas. Este trabalho, iniciado na Primavera de 2008, está a abrir uma janela sobre a vida das baleias permitindo saber mais sobre os seus hábitos e dando informação que poderá vir a ser útil para a sua preservação e para compreender como as alterações ambientais poderão se reflectir na ecologia destes grandes animais. Rui Prieto

Campanha SOS Cagarro 2008 A Campanha SOS Cagarro existe nos Açores há cerca de 13 anos, coordenada pela Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, e tem como objectivo alertar e envolver as pessoas no salvamento dos Cagarros juvenis, que saem pela primeira vez do ninho ao longo dos meses de Outubro e Novembro. O Cagarro, Calonectris diomedea borealis, é uma das aves marinhas de maior porte dos Açores, com uma envergadura de asas que atinge os 125cm. É facilmente identificada pelo tipo de voo, rápido e planado e pelo seu canto tão peculiar, por todos ouvido durante os meses de Março a Outubro. Estas aves invernam nos mares do Sul e regressam às ilhas todos os anos para o período reprodutor que, geralmente, acontece no mesmo local dos anos anteriores e com o mesmo parceiro. Estima-se que existam actualmente nos Açores, cerca de 188 000 casais reprodutores desta subespécie, o que representa 64.7% da população mundial! Além de uma população reduzida, possuem uma baixa taxa de reprodução, com apenas um ovo por casal por ano, sem possibilidade de reposição do ovo caso este se perca. Daí a urgência em proteger esta ave emblemática do nosso arquipélago. Nesse sentido, a Ecoteca do Faial, irá visitar to-

das as escolas da ilha que se mostrem interessadas para esclarecer e envolver a população mais jovem nesta campanha. E entregará em vários espaços públicos caixas de cartão, luvas e folhetos informativos para o salvamento de Cagarros que se encontrem perdidos. Aqui ficam as recomendações feitas pelo Observatório do Mar dos Açores, Ecoteca do Faial, Departamento de Oceanografia e Pescas e Vigilantes da Natureza: “Circule com precaução nas estradas junto à costa e ao encontrar um Cagarro perdido na estrada, aproxime-se lentamente, cubra-o com um casaco ou manta. Coloque-o cuidadosamente numa caixa de cartão e deixe-o num local sossegado durante a noite. Liberte-o na manhã seguinte junto ao mar. Se tiver dificuldades em realizar o seu salvamento, contacte os Vigilantes da Natureza através do 918625891.” ECOTECA DO FAIAL

Movimentos de baleias reconstituídos através de telemetria de Satélite

Envie-nos as suas estórias, cartoons, banda desenhada para : vai.se.fazendo@gmail.com

AQUELA DICA CONSUMO, LOGO EXISTO! Todos os produtos que consumimos fazem parte de um ciclo de produção-consumo-resíduos, que causa um impacto real e bastante negativo no planeta que é a nossa casa. Aquilo que consumimos não aparece nas prateleiras dos supermercados por geração espontânea, nem desaparece por magia no contentor do lixo. A escolha é de cada um de nós! Sendo claro que a maioria dos produtos que consumimos obedece apenas a questões de publicidade, promoções ou impulsos de momento, deveria ser simples a sua redução para o consumo de produtos de verdadeira utilidade. Dizia Platão que Sócrates, ao passear nas ruas comerciais de Atenas respondia assim aos assédios dos vendedores: “Estou apenas a observar a quantidade de coisas que existem que não preciso para ser feliz”. ECOTECA DO FAIAL


#8

FAZENDUS

Até 30 de Novembro

Exposição de pintura de Pedro Solà Museu da Horta

Até 31 de Outubro

A Hora do Conto 11h00 com Alexandre Macedo 17h00 com Carla Cook Biblioteca Infantil / Ludoteca Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça

31 de Outubro

Actuação do Grupo Coral da Horta Igreja da Feteira, 21h00

1 de Novembro

V Festival de Música Antiga dos Açores Oman Consort, ‘Obras de Schmelzer, Biber, Bertali, Vivaldi, entre outros.’ Igreja da Matriz, 21h30 Cinema: “Não te metas com o Zohan” Teatro Faialense, 21h30 (repete dia 2) Workshop de pintura com Pedro Solà Todos os Sábados e Domingos (até dia 7 de Dezembro) Sala Polivalente da Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça, 14.00h-16.00h

2 de Novembro

II Música Açores - Festival de Música Contemporânea Concerto de Rafael Aguirre Miñarro Centro de Interpretação dos Capelinhos, 21h30

4 de Novembro

Cinema: “Bem Vindo so Turno da Noite” Teatro Faialense, 21h30

5 de Novembro

Museu da Horta Abertura da Exposição Thiago Romão de Sousa: Um Fotógrafo dos Açores (até 31 de Dezembro) Abertura da Exposição de Pintura “Sete Mares” de António Domingos Teatro Faialense (até 30 de Novembro) Teatro: “Memórias de um Vulcão” Pelo grupo de teatro Sortes à Ventura Polivalente de Castelo Branco, 21h00

Agenda 7 de Novembro

Cinema: “Filhos e Enteados” Teatro Faialense, 21h30 (repete dias 8 e 9)

10 de Novembro

Exposição de Lomografia: “Lomo!” Igreja de São Francisco, 15h00 às 17h00 (até 30 de Novembro)

Workshop de Improvisação de Dança

(até dia 15) Os interessados podem desde já realizar a sua inscrição através do email acoresemdança@gmail.com, e recolher informação através do blog www.beatrizteveoliveira.blogspot.com.

11 de Novembro

Cinema: “O Assassinato de John Lennon” Teatro Faialense, 21h30

12 de Novembro

Conferência: “António Vieira uma coincidentia oppsitorum da sua vida e da sua escrita” Pelo Prof. Dr. Aníbal Pinto Castro Auditório da Biblioteca Pública João José da Graça, 20h30

14 de Novembro

Recital de Piano com Luísa Tender Auditório da Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça, 21.30h (Entrada livre mediante levantamento de ingresso na BPARJJG até ao dia 13 Novembro)

15 de Novembro

Teatro: “Memórias de um Vulcão” Pelo grupo de teatro Sortes à Ventura Polivalente dos Flamengos, 21h00 Abertura da Exposição de Desenho de Ken Donald Sala Polivalente da Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça (até dia 15 de Dezembro)

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30 Out. 21:30 | Cine Teatro Faialense HOMENAGEM A FERNADO LOPES ANTE-ESTREIA NACIONAL O MEU AMIGO MIKE AO TRABALHO, de Fernando Lopes » Com a presença do realizador Concerto FFF08 | Taberna de Pim NOITE DE PORTO PIM, com Mr. Pimm Quartet 31 Out. 15:00 | Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta XVII ENCONTRO NACIONAL DE CINECLUBES » Sessão de Abertura dos Trabalhos 21:30 | Cine Teatro Faialense SESSÃO DE COMPETIÇÃO I Secção Regional e Secção Nacional do FFF08 01:30 | BooKa Concerto FFF08 NOITE VÁ… DIA, com bANdARRA 01 Nov. 21:30 | Cine Teatro Faialense SESSÃO DE COMPETIÇÃO II Secção Nacional do FFF08 01:30 | Casa Concerto FFF08 Urbanidades…, com Babudjah 02 Nov. 16:30 | Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta ENCONTRO NACIONAL DE CINECLUBES » Sessões Abertas ao Público ZAGATI, de Nereu Cerdeira e Edu Felistoque CAMINHOS DO CINECLUBISMO, de Diomédio Piskator 21:30 | Cine Teatro Faialense SESSÃO DE ENCERAMENTO DO FFF08 » Cerimónia de Entrega de Prémios » Concerto de Encerramento, com RASPA DE TACHO


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