Pardela 24

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SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES

AVES À VOLTA DO MUNDO ROTEIRO ORNITOLÓGICO ENTREVISTA

Sulawesi ~ Mamede Serra de Sao Novo Atlas das Aves


ÍNDICE BREVES

pág. 3 Foto Capa

DESTAQUE

Ricardo Guerreiro

Impacto das Linhas Eléctricas Aéreas na Avifauna em Portugal LIFE SISÃO

EDITORIAL pág. 6

Efeito da seca nas populações de Aves Estepárias Invernantes na ZPE de Mourão/Moura/Barrancos LIFE PRIOLO

pág. 8

O Priolo e a flor de Laranjeira LIFE IBAS MARINHAS

pág.10

A bordo do Noruega IBAS

pág.12

Vilamoura ENTREVISTA

pág.14

Entrevista ao Coordenador do Novo Atlas das Aves que Nidificam em Portugal AVES À VOLTA DO MUNDO

pág.18

Sulawesi Entre a Ásia e a Oceânia ROTEIRO ORNITOLÓGICO

pág.20

Serra de S. Mamede ORNITOLOGIA

pág.22

A ciência das aves J UVEN I S

pág.24

SPEA MADEIRA

pág.26

Contagem de Patagarros na Costa Sul Fotografar as aves da Madeira CIBER-ORNITOFILIA

Vestuário técnico

http://clientes.netvisão.pt/dgscope/

pág. 4

pág.27

Aqui está mais uma Pardela, de novo, em resposta à expectativa e ansiedade dos sócios. As questões repetidas incessantemente: «quando sai a próxima Pardela?», ou «porque demora tanto a sair...?», embaraçam-nos e deixam-nos enredados em explicações nem sempre convincentes. Ora bem, enfrentemos as coisas sem sofismas fáceis: a SPEA, Organização Não Governamental sem fins lucrativos teve, nos seus pouco mais dez anos de existência, um crescimento enorme dos seus associados; é hoje, no panorama nacional, não só a maior associação de ornitologia, como um parceiro credível e respeitado em termos internacionais. Mais, os inúmeros projectos em que está envolvida falam por si e são no mínimo eloquentes: Life Sisão, Life Priolo, Life IBA's Marinhas, projecto Gaivota de Audouinii, Linhas Eléctricas, Censo das Aves Comuns, Novo Atlas das Aves que Nidificam em Portugal, entre outros. Por fim há a "questão" Pardela que, encarêmo-lo, não soube ou não pôde acompanhar este crescimento e desenvolvimento. As causas são muitas e um editorial não chegaria para debater e esgotar o tema. Mas atentemos só nas diferenças _ esqueçamos as outras _ entre os projectos acima citados e a Pardela que, debate-se logo à partida com a desvantagem de não ser um projecto. Dito de outra forma: não tem financiamento que a sustente; logo não é uma prioridade em termos de estratégia da SPEA. Assim, desde o início, a revista tem vivido mais a espasmos e por ciclotimias do que por uma orientação estratégica ou critérios editoriais definidos. Não é uma crítica particular, mas antes uma constatação inconformada. Desde os colaboradores, passando pela equipa editorial, até ao director, toda a estrutura da Pardela é amadora. Daí que sendo elaborada consoante a disponibilidade e boa vontade de um reduzido número de pessoas, os reflexos mais imediatos fazem-se sentir na periodicidade. Mais do que lavrar aqui o queixume e pedir a compreensão de todos, quero deixar um pedido _ ou encarem-no como um desafio _, participem também, com o envio dos vossos textos, fotos e sugestões. A sobrevivência da Pardela é uma responsabilidade de todos e está também, acreditem, nas vossas mãos.

Carlos Pereira Foto Contra-capa

SPEA / LIFE Sisão

FICHA TÉCNICA Editor Carlos Pereira Comissão Editorial Ana David, Ana Leal, Maria Dias Revisão Gonçalo Elias Fotografias Augusto Faustino, Gabriel Sierra, Gonçalo Rosa, Graça Martins, Helder Costa , Isabel Fagundes, João Pinto, José Viana, Juan Simon, Miguel Lecoq, Ricardo Desirat, Ricardo Guerreiro Colaboradores Ana David, Augusto Faustino, Carlos Pereira, Domingos Leitão, Gonçalo Elias, Isabel Fagundes, Ivan Ramirez, João Ministro, João Neves, João Pinto, Joaquim Teodósio, Luis Gordinho, Miguel Lecoq, Nuno Madeira, Paulo Marques, Samuel Infante, Silvia Nunes, Sofia Coelho Ilustrações Paulo Alves e Miguel Costa Paginação e grafismo BBnanet.com Impressão Textype-Artes Gráficas, Lda Tiragem 1400 exemplares ISSN 0873-1124 Depósito legal: 284857544 Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves

SPEA DIRECÇÃO NACIONAL Helder Costa Maria Dias Paulo Marques Inês Catry Jaime Ramos, Ricardo Tomé e Teresa Catry

PRESIDENTE: VICE-PRESIDENTE: SECRETÁRIO-GERAL: TESOUREIRO: VOGAIS:

Rua da Vitória, nº 53, 3º esq 1100-618 Lisboa TEL: 213 220 430 FAX. 213 220 439 e-mail: spea@spea.pt

www.spea.pt A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação para as mesmas. A grande maioria das fotografias incluídas nesta publicação foi tirada no decorrer de estudos científicos e de conservação sobre as espécies, tendo os seus autores tomado as precauções necessárias para diminuir ao máximo o grau de perturbação sobre as aves. A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações.


BREVES Fotógrafos

BirdLife International

portugueses arrasam no concurso

entrega assinaturas à Comissária de Agricultura no

Europe's Countryside Alive

BirdLife

www.birdlifecapcampaign.org

No passado dia 15 de Março de 2005, a BirdLife International entregou uma petição com 58.769 assinaturas à Comissária Europeia de Agricultura e Desenvolvimento Rural, a Sra. Mariann Fischer-Boel, numa recepção que decorreu no Parlamento Europeu, patrocinada pelo Deputado Europeu Terry Wynn. Esta acção foi o culminar de uma campanha da BirdLife International que decorreu em 25 países da União Europeia. Os peticionários enviaram à Sra. Comissária postais electrónicos alusivos à beleza e às aves dos meios agrícolas de cada país, exigindo políticas agrícolas mais favoráveis à conservação da natureza. De Portugal seguiram 1.800 assinaturas. BirdLife

Portugueses ganham três dos 10 prémios do concurso de fotografia da BirdLife International - Europe's Countryside Alive. Os premiados foram Helder Baptista Afonso, que ganhou o 1º lugar na categoria Bird Portraits. Na mesma categoria, o 2º lugar foi para Ricardo Guerreiro. O 3º português premiado foi João Eduardo Pinto, que obteve o 2º lugar na categoria Farming in the 21st Century. As fotografias premiadas estiveram em exibição no Parlamento Europeu, entre os dias 31 de Maio e 3 de Junho, e na Green Week em Bruxelas, no stand da BirdLife International. Quem desejar ver todas as fotos vencedoras, poderá fazê-lo on-line em:

Parlamento Europeu

O fotógrafo português Helder Afonso (à direita),

Da esquerda para a direita: Terry Wynn (Deputado

vencedor da categoria Bird Portraits, recebe o prémio

Europeu), Mariann Fisher-Boel (Comissária Europeia de

das mãos de um dos elementos do júri, o fotógrafo de

Agricultura e Desenvolvimento Rural), Graham Wynne

natureza de renome internacional, Gabriel Sierra.

(Director Executivo da Royal Society for the Protection of Birds) e Clairie Papazoglou (Directora do Gabinete da

Os nossos parabéns aos premiados!!!

BirdLife International em Bruxelas).

Encontro sobre

"Energia eólica e conservação da avifauna em Portugal" Terminou com grande êxito, no dia 6 de Julho, o seminário organizado em Coimbra pela SPEA sobre os impactos causados pelos parques eólicos na avifauna em Portugal. Este foi o primeiro encontro que reuniu estudiosos da avifauna, produtores de energia eólica, o Instituto do Ambiente, a Direcção-Geral de Geologia e Energia, várias ONGAs e o ICN. No final, foi elaborado um documento que identifica as lacunas existentes nesta área e propõe soluções para o problema. Este documento, o primeiro realizado de forma conjunta entre todos os sectores implicados, pode ser consultado no nosso site www.spea.pt. A equipa de trabalho da SPEA em energia eólica vai continuar o trabalho e utilizará o documento produzido para identificar novas áreas de colaboração e investigação que forneçam mais informações e que contribuam para a construção de uma estratégia energética nacional, sem danos para a avifauna.

Estatuto do

Priolo

alterado para

"Criticamente Ameaçado" A BirdLife International, no seguimento da revisão anual da situação das espécies de aves a nível mundial, elevou o estatuto de ameaça do Priolo para "CRITICAMENTE AMEAÇADO". Esta decisão está de acordo com a revisão do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, liderada pelo ICN, e onde o Priolo já tinha sido reclassificado nessa categoria. Esta decisão tem como fundamentos a reduzida dimensão da população (menos de 300 indivíduos) e o facto de se encontrar restrita a uma área de pequenas dimensões na parte oriental da Ilha de São Miguel (aproximadamente 6000 ha) e com diversas ameaças sobre o seu habitat. Esta alteração do estatuto do Priolo vem reforçar a grande importância do Projecto LIFE Priolo, actualmente a ser desenvolvido pela SPEA e por vários parceiros nacionais e internacionais. Um dos principais objectivos já alcançado foi o alargamento da Zona de Protecção Especial do Pico da Vara/Ribeira do Guilherme, que abrange agora a totalidade da área de distribuição do Priolo.

Nova colaboradora da SPEA C oorden a dora de Edu ca çã o Ambiental e Eventos desde 21 de Junho, e durante os próximos sete meses, temos a trabalhar connosco na sede a nova colaboradora Vanessa Oliveira. Estará encarregue das acções de Educação Ambiental, da Organização de Eventos e das actividades para sócios, substituindo a colaboradora Alexandra Lopes durante os seis meses em que estará ausente.

Para contacto: vanessa.oliveira@spea.pt

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Projecto Linhas Eléctricas / SPEA

Impacto

das Linhas Eléctricas Aéreas

na Avifauna em Portugal

Mais de 1500 aves mortas Entre Julho de 2003 e Outubro de 2004, cerca de 1500 aves foram encontradas mortas em resultado de acidentes com estruturas eléctricas. Mais de 100 espécies foram identificadas, 27 das quais pertencentes ao Anexo I da Directiva Aves. O número de rapinas foi bastante elevado, sendo apenas superado pelos passeriformes. A figura 1 ilustra a proporção entre os diferentes grupos afectados: outros 11%

Ciconi 5%

Accipi 17%

fig. 1

Grui 4%

1 Passeri 47%

Os resultados de dois anos de estudo João Ministro, João Neves e Samuel Infante Em 2003, a EDP, o ICN, a Quercus e a SPEA assinaram um protocolo com vista a desenvolverem um esforço conjunto no sentido de avaliar e minimizar os impactos resultantes da interacção das linhas eléctricas com as aves silvestres em Portugal. Em 2003 e 2004 a SPEA e a Quercus desenvolveram um intenso esforço de amostragem em todo o país, procurando respostas a várias questões que desde o início se colocavam aos parceiros, nomeadamente: quais as linhas mais perigosas para as aves? Quais as tipologias mais adequadas para a protecção da avifauna? Em que habitats a ocorrência de acidentes com a avifauna assume maior magnitude? Quais as espécies mais afectadas e em que circunstâncias? Ao fim desse longo período e com mais de 5 mil quilómetros percorridos a pé, os objectivos inicialmente estabelecidos foram cumpridos: os parceiros do protocolo partilharam uma rica base de informação recolhida no terreno; cerca de 85 quilómetros de linhas perigosas para aves foram corrigidos; desenvolveram-se normas de implementação de novas linhas em áreas classificadas; e estabeleceram-se numerosos contactos com agentes locais da EDP de todo o país (Áreas de Rede). Outro resultado deste estudo bastante interessante, foi a participação de cinco dezenas de voluntários de todo o país, alguns dos quais tiveram o seu primeiro contacto com a SPEA.

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Charadri 12% Strigi 4%

A identificação das espécies no terreno nem sempre foi possível, devido ao avançado estado de decomposição das aves. Por isso, houve necessidade de recorrer à Osteoteca do Instituto Português de Arqueologia, cujo apoio foi decisivo na determinação de centenas de casos. Ao nível de valores totais, a média obtida de 3,45 aves mortas por quilómetro e por ano, não traduz, por si só, a importância ecológica dos resultados obtidos. Porém, uma análise multifactorial permitirá retirar consequências mais imediatas. Os picos de mortalidade aconteceram nos períodos de maior ocorrência de aves, designadamente nas migrações. Porém, algumas espécies nidificantes, como a Cegonha-branca, sofreram elevadas baixas de juvenis logo após a saída dos ninhos. No Inverno, por outro lado, sobressaem as espécies que apresentam comportamentos gregários, nomeadamente as Tarambolas-douradas e os Abibes, e aquelas que formam grandes dormitórios, como o Pombo-torcaz e o Tordo-comum, entre outras.

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Juvenil de Águia de Bonelli electrocutado na ZPE de Castro Verde

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Águia-cobreira electrocutada no Parque Natural do Vale do Guadiana


DESTAQUE

Como se veio a verificar, vários factores influenciam a distribuição diferencial da mortalidade, sendo os principais a tipologia de linhas usadas, o habitat atravessado e a respectiva abundância das espécies mais susceptíveis aos impactos das linhas de média tensão. A ocupação do solo tem grande influência na forma como as aves interagem com os apoios eléctricos. Num local onde a existência de pousos naturais é muito escassa (como por exemplo em Castro Verde), a utilização de apoios eléctricos é, por isso, muito frequente. Este aspecto ajuda a explicar porque nalgumas linhas aí prospectadas o número de casos foi muito elevado. Apenas numa secção de 10 km nesta zona registaram-se mais de 150 casos de mortalidade, na sua maioria por electrocussão. Por outro lado, zonas onde se concentram grandes quantidades de aves (e. g. dormitórios, locais de alimentação, etc.), aumenta a probabilidade de ocorrerem colisões com os condutores. A electrocussão foi a causa mais importante para a morte de um grande número de aves, em particular as rapinas. Este fenómeno foi significativamente mais comum na presença de apoios com isoladores rígidos colocados na vertical e foi potenciada pelo número de cabos curtos que estabelecem ligações (arcos) nas derivações presentes num apoio. Aproximadamente 783 casos de electrocussão foram registados, envolvendo espécies tão distintas e de diferentes dimensões, como o Bufo-real e o Rolieiro. Estes dados obrigam, desde logo, a uma posição firme contra o uso de tipologias como o Triângulo rígido ou a Esteira horizontal, sendo esta uma das principais conclusões da análise dos resultados obtidos. A outra causa de mortalidade é a colisão com os cabos condutores e cabosguarda. Cerca de 816 aves tiveram morte desta forma, em especial espécies com

Projecto Linhas Eléctricas / SPEA

Causas de morte

reduzida agilidade de voo (e. g. o Sisão ou a Abetarda) ou as de comportamento gregário. Os dados revelam que é em habitats abertos, como a estepe agrícola ou as zonas húmidas costeiras, que este fenómeno atinge níveis particularmente gravosos para a avifauna. Neste tipo de áreas (e.g. ZPE de Castro Verde) a construção de novas linhas de qualquer tipologia deve ser submetida a uma especial avaliação, tendo em consideração o elevado potencial de colisão existente e a sensibilidade de diversas espécies ameaçadas.

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Medidas de minimização e protecção Um dos principais resultados deste protocolo foi a consagração de medidas de protecção da avifauna nas linhas eléctricas. Com base nos resultados obtidos no referido estudo, mais de 85 km de linhas foram já corrigidas pela EDP, representando um investimento de mais de 400.000 euros e envolvendo a aplicação de um largo conjunto de medidas e dispositivos desde a transformação completa da linha à aplicação de mecanismos de isolamento dos apoios e de sinalização dos condutores. O estudo permitiu ainda redefinir um conjunto de normas para aplicar à instalação de novas linhas eléctricas nas áreas classificadas (Áreas Protegidas e Rede Natura), as quais deverão respeitar ao máximo os valores biológicos nelas existentes, em especial os avifaunísticos.

O futuro A divulgação dos resultados deste protocolo constitui uma das acções prioritárias a desenvolver no futuro próximo. Em Janeiro do corrente ano, realizou-se o Seminário Internacional sobre Linhas Eléctricas, que constituiu o primeiro grande momento de apresentação dos resultados obtidos. A possibilidade de uma prorrogação do protocolo entre a EDP, o ICN, a Quercus e a SPEA está ainda na agenda do presente ano. No futuro pretende-se aumentar consideravelmente as acções de correcção de linhas perigosas e promover a monitorização da eficácia das correcções já efectuadas. Para além de avaliar o sucesso e a durabilidade dos dispositivos anti-electrocussão e anticolisão mais comuns, pretende-se estudar a viabilidade de introduzir em Portugal novas tecnologias de construção de linhas eléctricas de média tensão. Tudo em prol da conservação da nossa avifauna!

A importância do

voluntariado A concretização dos trabalhos de campo envolveu um vasto conjunto de voluntários, sem os quais teria sido difícil levar a bom termo este projecto. Mais de 40 jovens, na sua maioria estudantes universitários, contribuíram grandemente para o sucesso deste projecto, tendo participado activamente em numerosas acções de campo e de prospecção de aves mortas. A todos eles,

Agradecimentos:

o nosso especial agradecimento!

A realização do projecto teve por trás uma equipa de colaboradores, que intensamente levaram por diante os trabalhos de prospecção, mesmo em situações adversas. A todos eles os nossos agradecimentos pelo fantástico desempenho.

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Gabriel Sierra & Juan Simón

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Efeito da seca nas populações de

AVES ESTEPÁRIAS INVERNANTES na ZPE de Mourão / Moura / Barrancos Miguel Lecoq, Nuno Madeira e Domingos Leitão

vência e no sucesso reprodutor, apenas para referir os principais. Como consequência é frequente observar uma diminuição nas populações de algumas espécies, que pode resultar, sobretudo, da maior mortalidade e da dispersão dos indivíduos por uma maior área geográfica. Na ZPE de Mourão / Moura / Barrancos, o resultado dos censos do último Inverno aponta para a diminuição generalizada dos efectivos de várias espécies. O efectivo do Sisão e do Cortiçol-de-barriga-preta diminuiu cerca de 65% e 50%, respectivamente. Os sisões e os grous observaram-se com maior frequência em searas, provavelmente devido à menor disponibilidade de alimento nos pousios, e os abibes e as tarambolas-douradas observaram-se mais próximo das bermas das estradas e das charcas.

Miguel Lecoq / SPEA

Em Portugal, as variações da pluviosidade são normais, provocando episódios cíclicos de secas e inundações. No entanto, nas últimas décadas, os fenómenos climáticos extremos têm ocorrido com maior frequência. Este parece ser o caso do Inverno de 2004 / 2005, durante o qual os índices de precipitação foram muito inferiores aos registados nas décadas anteriores. No Alentejo, uma das regiões do país com menor abundância de água, a seca afecta frequentemente uma das principais actividades daquela região _ a agricultura. Pela sua dependência da agricultura de sequeiro, as aves estepárias são particularmente afectadas em anos de seca. Os efeitos sobre as suas populações são diversos, podendo provocar alterações nos padrões de migração, no comportamento, nas taxas de sobrevi-

1

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Grous

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Abetardas

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Sisão

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Abibe


projecto

LIFE SISÃO

Gabriel Sierra & Juan Simón

Gabriel Sierra & Juan Simón

Gabriel Sierra & Juan Simón

Efeito da seca registada no inverno de 2004 / 2005 no Projecto Piloto Agrícola

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A seca pronunciada que decorreu em Portugal Continental no último ano tem graves repercussões ao nível agropecuário. Para a área de trabalho do Projecto Piloto Agrícola (PPA), dispomos de dados meteorológicos de duas estações: a estação meteorológica dos Lameirões (propriedade do COTR - Centro Operacional de Tecnologias de Regadio) situada na parte sul da área, e a estação de Reguengos de Monsaraz (propriedade do INAG - Instituto da Água) situada fora, a cerca de 20 km da parte norte. De Outubro a Maio a precipitação acumulada nos Lameirões 1 foi apenas de 184,85 mm (cerca de 35% 2 do habitual) , enquanto que em Reguen3 gos de Monsaraz foi de 202,5 mm (40% do habitual).

FONTES: 1

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Instituto de Meteorologia Instituto Nacional da Água

Mediante esta realidade, a actividade agro-pecuária teve de recorrer a soluções pouco habituais: a carência de pastagens ainda durante o Outono levou os agricultores à compra de complementos alimentares; noutros casos excepcionais as searas foram também pastoreadas. Em relação aos cereais, existiu um atraso na sua sementeira (devido à falta de humidade no solo), o crescimento foi muito reduzido, a produção de grão em solos mais pobres poderá ser quase nula e a palha será em pouca quantidade. As fenagens começaram em finais de Abril e as ceifas de aveia em meados de Maio. Verificou-se que, dada a escassez de alimento para o gado, muitos dos pousios que seriam mantidos até ao Verão, foram já gadanhados para feno no início de Maio. Em relação às sementeiras de leguminosas de Outono do PPA, a ausência de precipitação significativa teve o mesmo efeito que nas searas. Apesar de a taxa de emergência ter sido boa, o desenvolvimento vegetativo foi muito reduzido, principalmente nos meses de Novembro a Fevereiro. Desta forma, o crescimento mais significativo das culturas, nomeadamente da luzerna, deu-se a partir de Março, quando as temperaturas mínimas superaram os 6ºC.

Apesar de o crescimento ficar muito aquém do esperado, todas as culturas completaram o ciclo, produzindo semente. Dos 140 ha previstos, realizámos 107 ha. Nestas circunstâncias as espécies alvo do PPA, o Sisão e a Abetarda, utilizaram as parcelas de leguminosas num período mais limitado do que aquele que estava previsto. Parte das parcelas que foram usadas, foram-no apenas a partir de Fevereiro e por um número reduzido de indivíduos. Em relação à área ocupada, as culturas de Primavera ficaram muito aquém das expectativas. Pretendíamos semear 80 ha de grão-de-bico e apenas foi possível fazê-lo em 26 ha. Ainda assim, à excepção de uma parcela de 8 ha que pôde ser regada, as restantes apresentaram taxas de emergência muito reduzidas, devido à ausência de humidade no solo. Também a protecção de pousios foi prejudicada pela seca severa. Onde pretendíamos afectar 500 ha, apenas afectámos 135,5 ha, isto porque a falta de alimento para o gado levou a que qualquer parcela em pousio fosse transformada em local de pastagem ou de fenagem.

Miguel Lecoq / SPEA

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Centro Operacional de Tecnologias de Regadio

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CONTACTO DE COORDENAÇÃO

Domingos leitão

213 220 435 domingos.leitao@spea.pt e www.spea.pt/ms_sisão telf.:

e-mail:

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O Priolo

PRIOLO

e a Flor de Laranjeira SPEA / LIFE Priolo

SPEA / LIFE Priolo

SPEA / LIFE Priolo

Joaquim Teodósio

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O Priolo

e a disponibilidade de alimento

No século XIX o Priolo (Pyrrhula murina) chegou a ser considerado uma praga nos laranjais da zona leste de São Miguel. A captura excessiva destas aves (quer para museus e universidades, quer devido aos prejuízos causados nos pomares) e a destruição da floresta de Laurissilva, de cujas plantas o Priolo depende, conduziram esta pequena população à beira da extinção. Actualmente, os cerca de 100 casais que restam sobrevivem numa reduzida área de floresta nativa que ainda lhes proporciona abrigo e alimento. No entanto, no final do Inverno, a ausência de alimento parece afectar a sobrevivência dos indivíduos imaturos e adultos, condicionando o aumento da população. A dieta do Priolo tem como base diversos tipos de vegetação e varia mensalmente, conforme novas plantas vão florindo e produzindo sementes. Os recursos alimentares desta ave provêm de diferentes habitats; no Verão, de zonas abertas: derrocadas, caminhos,

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clareiras e ribeiras; no Outono, de derrocadas, ribeiras, margens da floresta natural e também da floresta natural; no Inverno e na Primavera, fundamentalmente da floresta natural. A plantação de pomares é uma medida complementar às acções de plantação de vegetação endémica no âmbito do projecto LIFE, ocorrendo nas zonas de média e baixa altitude. Durante o Inverno, o Priolo desce para estas áreas à procura de alimento que escasseia nas zonas altas com vegetação nativa.

Pomares,

uma boa alternativa... As árvores de fruto constituíram, em meados do século XX, uma importante fonte alimentar destas aves, quando a produção de laranjas e pessegueiros constituía uma actividade comum na região. A plantação destas espécies poderá ser, portanto, viável em termos de produção e o interesse, por parte da população, deverá ser incentivado. Para tal contribuem estes projectos demonstrativos. O desinteresse actual por esta prática pode estar associado aos subsí-

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Replantação de Laranjeira

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Trabalho de campo

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Pés-de-laranjeira

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Priolo

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Carrinha projecto Life Priolo

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Laranjeira


são essencialmente terrenos onde terminam as ribeiras que vêm das zonas altas de ocorrência do Priolo, as quais constituem corredores naturais para os movimentos das aves. A este nível a Ribeira do Guilherme, descendo desde a área de ocorrência principal do Priolo, constitui o principal alvo desta acção. A SPEA contactou proprietários de terrenos na área. Um dos proprietários contactados mostrou grande interesse e disponibilizou um terreno na margem da ribeira. A plantação deste pomar resultou da colaboração entre o Projecto LIFE Priolo, o proprietário do terreno e os Serviços de Desenvolvimento Agrário (SDA). O LIFE contribui com a mão-de-obra necessária para a plantação, o Sr. Norberto Ferreira cedeu gentilmente um amplo terreno situado nas margens da ribeira do Guilherme e os SDA forneceram as árvores utilizadas bem como mão-de-obra e os essenciais conhecimentos técnicos. Foram plantadas várias centenas de árvores de fruto: macieiras, citrinos e pereiras na sua maioria. Estas fruteiras foram escolhidas de acordo com os dados históricos sobre Priolo e apoiadas nos conhecimentos existentes sobre Dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula) no continente.

...mas uma alternativa viável?

no pomar do Priolo

Devido à falta de subsídios atractivos que permitam a reconversão dos terrenos em pomares, tem sido uma tarefa muito difícil, até este momento, encontrar interesse junto dos proprietários para a plantação de pomares. Os custos envolvidos tornam esta mudança muito pouco atractiva sem maiores apoios por parte do Estado. A entrada em vigor do recente plano sectorial para a RAA contempla este problema, resta saber se as soluções propostas irão ao encontro dos agricultores e da conservação do Priolo. As zonas a favorecer por esta acção

As variedades regionais As variedades utilizadas são, na sua maioria, regionais, algumas das quais estiveram em risco de desaparecer. Apenas o trabalho dos SDA nas suas instalações terá possibilitado a sobrevivência de algumas variedades históricas, como o pêro das furnas. A colaboração neste tipo de iniciativas permite cumprir vários objectivos: contribuir para a conservação do Priolo, disseminar variedades tradicionais de fruteiras e possibilitar a reconversão de terrenos. Apenas através da colaboração com estas entidades foi possível avançar com uma medida bastante importante para a conservação do Priolo; uma colaboração que se espera venha a dar frutos (e flores) muito em breve…

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SPEA / LIFE Priolo

dios alternativos com fortes estruturas financeiras de apoio na região (tal como os incentivos florestais e agro-pecuários) e à ausência de interesse geral por práticas agrícolas tradicionais. Durante o projecto LIFE Priolo, pretende criar-se incentivos à plantação de árvores de fruto, junto dos agricultores da região com terrenos em locais adequados, recorrendo aos apoios regionais e comunitários disponíveis na Região Autónoma dos Açores. As árvores de fruto mais adequadas para a Priolo são aquelas que têm floração no final do Inverno, seleccionando-se as laranjeiras, os pessegueiros, e em menor número, as macieiras. Nos últimos censos da população de Priolo efectuado pela SPEA, foram estimadas cerca de 230 aves, o que indica um ligeiro decréscimo comparativamente a anos anteriores. Os efectivos populacionais da espécie são tão baixos que não se espera que causem impacto significativo durante ou nos anos após o projecto sobre as árvores de fruto a plantar. A disponibilidade de alimento durante o final de Inverno constitui uma das principais preocupações do projecto. Os pomares de laranjeira, pessegueiro e macieira asseguram a produção de botões florais em quantidade, em zonas onde o Priolo ocorre, nesta época do ano.

SPEA / LIFE Priolo

LIFE PRIOLO

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SPEA / LIFE Priolo

projecto

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Do

A bordo do

Noruega

Porto a Cádiz

LIFE IBAs Marinhas / SPEA

O nosso trabalho começa a 10 de Abril, com uma viagem a Matosinhos, para o porto de Leixões, onde vamos encontrar-nos com o navio de investigação “Noruega”, pertencente ao Instituto de Investigação das Pescas e do Mar INIAP-IPIMAR. Embora em serviço desde 1978, o Noruega foi completamente remodelado este ano, e apresenta um óptimo aspecto. A tripulação do barco é formada por marinheiros e por uma equipa técnica composta por doze pessoas, em que se incluem os dois investigadores da SPEA. O percurso que vamos realizar foi desenhado com o objectivo de avaliar a abundância e distribuição de sardinha ao longo da costa portuguesa, com base em amostragens, tanto dos seus ovos, como dos peixes adultos. A rota inicial, que começa em Caminha e termina em Cádiz, foi ligeiramente adaptada no âmbito da parceria SPEA-IPIMAR para assim poder optimizar a procura de aves marinhas nas áreas de maior interesse ornitológico.

Equipa IBA's Marinhas da SPEA

Ao longo de trinta dias, dois biólogos da equipa do Projecto LIFE IBAs Marinhas estiveram mais de nove horas diárias na coberta do barco, procurando incansavelmente algumas das aves menos conhecidas da Europa. O esforço, que irá repetir-se seis vezes ao longo dos próximos três anos, vai ajudar-nos na identificação das diferentes espécies de aves marinhas, das suas densidades, distribuição e principais rotas de voo.

Mapa 1

N

Caminha Viana do Castelo Porto

41º

Aveiro

Figueira da Foz

40º

Nazaré Peniche 39º

Lisboa Setubal 1

38º

O percurso executa-se em radiais, ou transectos, perpendiculares à costa, que se estendem desde a zona costeira até ao final da plataforma continental. Cada radial tem cerca de 25 milhas de comprimento (Mapa 1). A viagem foi estruturada pelo Chefe de expedição, de forma a abranger toda a costa continental portuguesa. Para os objectivos da SPEA este percurso é perfeito, especialmente porque existe a possibilidade de prolongar o comprimento de algumas radiais quando visitamos áreas especialmente importantes para as aves. A expedição é planeada de forma a não retornar aos portos de abrigo, sempre que as condições de mar o permitam. De noite 1

Sines V. Real Arrifana Sto. António Portimão Faro

37º

Cádiz 36º

200 m 1000 m

A equipa de observadores da SPEA durante a primeira campanha a bordo do Noruega

10

10º

Radiais realizadas

2

Alguns marinheiros demonstraram ser grandes especialistas na observação das aves marinhas. Iván Ramírez (SPEA) e Sr.Tavares (marinheiro do Noruega).

W


LIFE IBAs MARINHAS

O trabalho diário O nosso trabalho, como observadores no âmbito do projecto IBAs marinhas consiste na identificação e contagem de todas as aves existentes, quer em vôo, quer na água, num raio de 300 metros para a frente do navio e lateralmente até um ângulo de 90º com a proa. Para executarmos este trabalho, o navio tem que manter uma rota constante a uma velocidade de 10 nós (10 milhas náuticas por hora). O trabalho de observação começa com o nascer-do-sol (assim que há luz suficiente para a identificação) e termina ao pôr-do-sol. Este trabalho é interrompido sempre que se iniciam eventos de pesca. A pesca, feita por arrasto para amostrar espécies de fundo ou pelágicas, atrai aves para o barco que não deverão ser contabilizadas, uma vez que o que se pretende é conhecer o comportamento das aves na ausência de factores exteriores de perturbação que possam alterar os seus hábitos normais. A observação das aves é feita a partir de uma caixa de observação, especialmente construída para esse propósito, com bancos e mesas. Esta caixa funciona como abrigo, protegendo os observadores do vento e do frio e servindo para colocar todo o material necessário à metodologia utilizada (GPS, relógio, fichas de observação, binóculos, rádio, etc). Um dos observadores é responsável pela identificação e contagem das aves enquanto o outro regista todos os eventos nas folhas de campo, incluindo as posições geográficas da embarcação, as associações entre espécies e objectos (outras aves, cetáceos, peixes, lixo no mar, barcos, etc.) e os diferentes comportamentos das aves (em alimentação, repouso, perseguidas, etc.). Os Alcatrazes, com os seus voos

picados, mergulham em profundidade para apanhar as pequenas sardinhas que são mantidas à superfície pelos grupos de golfinhos. As Cagarras e as diversas Pardelas planam sobre as ondas, preparando-se para mergulhar. Infelizmente, em situações de mar alteroso, o posicionamento da caixaabrigo não proporciona uma protecção eficaz, pelo que neste embarque foi necessário recorrermos à ponte de comando do navio por diversas vezes. Por vezes passam-se várias horas sem se ver qualquer animal; no entanto os observadores não podem descurar a atenção e têm de continuar permanentemente de olhar fixo nas ondas. Subitamente pode aparecer uma Cagarra num voo solitário ou um bando de gaivotas. A maior parte das horas é calma e mesmo monótona, exigindo um grande esforço de concentração, mas a qualquer momento podemos ser surpreendidos com grandes bandos de aves ou com um grupo de golfinhos curiosos que vêm brincar na proa do navio. LIFE IBAs Marinhas / SPEA

complementam-se as amostragens do dia e depois o navio fica fundeado até retomar a actividade com as primeiras luzes do dia. Existe apenas uma paragem prevista em Lisboa, após as primeiras duas semanas, para mudança de parte da equipa e tripulação.

Nem tudo é

observar

Chegando ao fim do dia, depois de uma merecida refeição e um bom banho, entramos na parte mais cansativa do dia: inserir todos os dados no computador. Esta parte não é muito morosa, mas exige alguma atenção e cuidado para não haver erros nas bases de dados, especialmente criadas para este efeito. Mais tarde, todos estes dados, depois de cuidadosamente tratados, serão usados para construir mapas com a distribuição e abundância das aves marinhas em toda a costa portuguesa. Nesta altura do projecto os resultados ainda são poucos, no entanto já se podem notar algumas áreas com maior concentração de aves. Durante as duas expedições realizadas foram já observadas mais de trinta espécies de aves, alguns golfinhos e ainda curiosidades como peixes-lua ou peixes-voadores. No total, realizámos mais de 270 horas de observações no mar e percorremos mais de 2400 milhas marítimas, e isto é só o princípio do projecto. No futuro, esperamos contar com mais barcos e mais pessoas interessadas em apoiar o nosso trabalho. Analisar as distribuições das aves marinhas em Portugal é um trabalho difícil, mas contamos consigo para nos ajudar.

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Os “Passarocos” Uma das vantagens da utilização da ponte como posto de observação foi o contacto que estabelecemos com a tripulação do navio e a boa relação criada. Alguns dos marinheiros mostraram interesse no nosso trabalho e vontade de aprender mais sobre aves marinhas. Dois deles conseguem já identificar as aves mais comuns como o alcatraz, a Cagarra e os moleiros e determinar a idade das aves (juvenis ou adultos). Este facto mereceu um destaque especial por parte da tripulação e alguns marinheiros ficaram com alcunhas de aves tais como “ganso-patola” e nós, os observadores, como “passarocos” ou “passarinhos”.

Nota Se estás interessado em aprender a identificar aves marinhas, ou queres participar connosco em alguma actividade, podes contactar-nos nos seguintes endereços electrónicos: ivan.ramirez@spea.pt ou pedro.geraldes@spea.pt Se queres saber mais sobre as campanhas acústicas do IPIMAR ou os estudos da sardinha, podes contactar: ipimar@ipimar.pt ou yorgos@ipimar.pt

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Vilamoura João Pinto

João Pinto

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Descrição do Sítio

agrícolas, urbanizações turísticas e pinhal a

Vilamoura é conhecida sobre-

Em 1999, e no seguimento de

Oeste.

tudo pela Marina, pelos empreendi-

reivindicações de efectiva protecção dos

mentos residenciais ou pelos campos

valores naturais de Vilamoura, feitas por

de golfe. No entanto, e ao lado desta

entidades regionais e nacionais, a empresa

urbanização residencial e de lazer,

Lusotur, S.A. (detentora da maior parte dos

subsiste um ecossistema, associado ao

terrenos da várzea da Ribeira de Quarteira)

troço final da Ribeira de Quarteira, com

decidiu implementar o Parque Ambiental de

elevado valor biológico. Este sítio é

Vilamoura - PAV. Este projecto ficou inte-

composto sobretudo por campos

grado como um dos projectos da 2ª fase de

agrícolas e caniçal, e inclui também uma

urbanização de Vilamoura. O Parque

Estação de Tratamento de Águas Resi-

Ambiental tem uma superfície de cerca de

duais, lagos artificiais, campos baldios, e

200 hectares, o que representa 12% da área

ainda uma densa mancha de vegetação

total do empreendimento de Vilamoura.

ribeirinha ao longo da Ribeira, entre

O acesso pode ser feito a partir da

outros tipos de ocupação do solo de

Estrada de Albufeira, numa estrada que se

menor expressão.

inicia na Estalagem da Cegonha em direc-

A ocupação do espaço adjacente

ção ao Parque Ambiental de Vilamoura e ao

é feita por empreendimentos turísticos a

Parque Desportivo.

Este e a Norte, nomeadamente campos

A sua criação teve por objectivo prin-

de golfe e urbanizações, pela Praia da

cipal a protecção e revitalização dos valores

Rocha Baixinha a Sul, e por campos

naturais deste sítio em termos da fauna,

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Garça-real

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Vegetação ripícola da ribeira de Quarteira


IBAs

João Pinto

flora e paisagem. Particularmente importantes são as zonas húmidas aqui existentes, como os lagos e o caniçal de Vilamoura, porventura uma das maiores

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áreas contínuas de caniçal do sul de Portugal, cuja principal mancha ocupa cerca de 29 hectares, e que atraem um conjunto variado de espécies associadas a zonas húmidas, em particular aves aquáticas. Na zona agrícola de Vilamoura, para além das aves, são registadas regularmente outras espécies interessantes, como por exemplo o Camaleão (Chamaleo chamaleon), as duas espécies de cágados existentes em Portugal (Emys orbicularis e Mauremys leprosa) ou ainda a Lontra (Lutra lutra), todos eles com registos de reprodução neste sítio. Como apoio à gestão do Parque Ambiental foi criado, em 2001, o Centro de Estudos da Natureza e do Ambiente CENA. O espaço funciona também como Centro Interpretativo do Parque Ambiental. A área de 271 hectares desta IBA inclui o Parque Ambiental e terrenos agrícolas adjacentes.

Importância

Ornitológica Por ano são observadas mais de 100 espécies diferentes de aves em Vilamoura, algumas com efectivos numerosos, em particular durante a migração outonal e nos meses de Inverno. Nesta época, destacam-se os passeriformes migradores transarianos, os patos, o Galeirão (Fulica atra) ou o Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis), sendo também de realçar a presença regular de algumas aves de rapina como a Águia-pesqueira (Pandion haliaetus), o Peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus), ou o Falcão-peregrino (Falco peregrinus). Registos dos últimos cinco anos demonstram a nidificação regular de algumas espécies ameaçadas como a Águia-sapeira (Circus aeruginosus), o Garçote (Ixobrychus minutus), a Garça-vermelha (Ardea purpurea) ou o Camão (Porphyrio porphyrio), sendo, para esta última, um dos sítios mais importantes a nível nacional. A salvaguarda destas espécies depende da extensão e qualidade do caniçal de Vilamoura que sustenta muitas espécies típicas de zonas com vegetação palustre, sendo também um dormitório de garças, com um efectivo numeroso de Carraceiros (Bubulcus ibis). Nas zonas agrícolas é comum observar espécies como a Poupa (Upupa epops), o Mocho-galego (Athene noctua), a Cegonha-branca (Ciconia ciconia), o Charneco (Cyanopica cooki), a Rola-brava (Streptopelia turtur), ou o Verdilhão (Carduelis chloris), entre muitas outras. As lagoas da Estação de Tratamento e os lagos dos campos de golfe adjacentes são também locais de elevada concentração de gaivotas, patos, ralídeos e mergulhões. Vilamoura é também um local interessante para a observação pontual de espécies com poucos registos em Portugal como o Abetouro (Botaurus stelaris), a Pêrra (Aythya nyroca), ou a Íbis-preta (Plegadis falcinellus).

Conservação Como aspectos positivos na área da Conservação da Natureza realizados nesta IBA destacam-se: A criação do Parque Ambiental de Vilamoura, que possibilitou o aumento da vigilância e a diminuição acentuada da caça ilegal, assim como a deposição de terras e entulho no caniçal. A criação de um percurso pedestre, com a melhoria e sinalização dos caminhos agrícolas existentes, que permitiu criar condições para a regulação do acesso ao sítio. A construção de dois lagos artificiais (num total de 5,8 hectares) teve um impacte positivo no aumento do efectivo local de algumas espécies aquáticas, em que se destaca o Camão (Porphyrio porphyrio). O Centro de Estudos da Natureza e do Ambiente elaborou estudos científicos e técnicos de suporte às medidas de gestão da zona agrícola, tendo sido feitas propostas de valorização ambiental de Vilamoura.

Como aspectos negativos e de preocupação relativamente à salvaguarda dos valores naturais locais destacam-se os seguintes: Obras de construção e movimentação de terras nos limites do caniçal sem as devidas medidas preventivas de minimização dos impactes. A falta de acompanhamento e enquadramento científico aos projectos a serem implementados no futuro, tanto no interior do Parque Ambiental como nos espaços adjacentes. Abandono de alguns campos agrícolas e deposição de terras oriundas das obras de construção. Incremento de espécies vegetais exóticas e/ou invasoras, em particular acácias (Acacia spp.), Figueira-doinferno (Datura stramonium), Cana (Arundo donax), e Casuarina (Casuarina esquisetifolia).

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CYANOPICA CYANA

Possivel: 179 Provável: 101 Confirmado: 114 Total: 394

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Mapa de distribuição da Pêga-azul

P: Uma pergunta recorrente nos últimos anos, entre os ornitólogos nacionais é: «Que se passa com o Novo Atlas...»? R: Estamos agora a terminar a fase de trabalho de campo e, em princípio, esta época será a última. É a última por várias situações; o POA [Programa Operacional de Ambiente], ao qual o projecto está associado, apesar das reprogramações efectuadas tem um limite temporal, a saber, Dezembro de 2006. P: Existe um prazo? R: Sim. Um dos principais objectivos dos Atlas de Aves é fornecer informação sobre a distribuição das aves numa determinada área. Se a recolha da informação se arrasta demasiadamente no tempo, esta poderá perder alguma fiabilidade, principalmente porque ocorrem alterações na distribuição das espécies. Aliás, essa é uma das razões pela qual se realizam este tipo de estudos. Terá que haver um equilíbrio entre este pressuposto e uma cobertura adequada da área de estudo em função da informação pretendida. P: No entanto, as previsões iniciais, quando este projecto se iniciou, em 1999, apontavam para a publicação deste trabalho em 2003... 1

Exemplo de um mapa de distribuição. Dados provisórios. ICN.

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R: Sim, a calendarização inicial foi trabalhada nesse sentido, partindo do princípio que as condições mínimas necessárias para a execução do Novo Atlas estariam sempre asseguradas. O que se fez foi, delimitar, estabelecer uma calendarização e então, em função dessa calendarização, identificar o esforço, o trabalho a fazer em cada um dos quatro anos. Que acabou por não ser cumprido, acabando por, de certa forma, ser normal. É normal, e será fácil entender que, estando perante um projecto estimado para um período de realização de quatro anos, com três parcerias protocoladas, nomeadamente com a SPEA, com objectivos exigentes, em particular, em termos da aplicação de metodologias de recolha de dados no campo etc., estarão reunidas as condições para que a probabilidade de derrapagens, nomeadamente nos prazos agendados, se eleve. Depois, existem os condicionalismos naturais decorrentes da aprovação dos orçamentos anuais, por sua vez dependentes do POA e respectivos trâmites, que asseguram a comparticipação das verbas necessárias ao cumprimento dos protocolos. A tudo isto acrescem factos inesperados; contava-se inicialmente com a participação de um número razoável de


ENTREVISTA funcionários do ICN a colaborarem efectivamente nos trabalhos do Novo Atlas, situação que rapidamente se inverteu, quer por exigências funcionais de alguns (vigilantes da natureza), quer por saídas ou interrupção da actividade, de outros (técnicos). P: Mas não achas que... R: Por outro lado, por muito bem preparado que este projecto tivesse sido, não foi possível realizar um ano pivot, principalmente para testagem de metodologias. Isto teria possibilitado o seu acerto e adequação em tempo útil, evitando que só no segundo ano do projecto, se equacionassem e implementassem algumas modificações. Porque apesar das pessoas que iniciaram este projecto também terem feito parte do anterior, este teve algumas particularidades e inovações que o diferenciam. A metodologia e a base de amostragem foram diferentes. Houve coisas que com o decorrer do tempo se viu que podiam ser aperfeiçoadas ou modificadas, como por exemplo, o caso dos censos das rapinas nocturnas, em que a metodologia acabou por ser ajustada já com o projecto a decorrer. Depois, houve pessoas que tiveram de sair, vários Organizadores Regionais (OR), e não se arranjou quem os substituísse... Tudo isto provoca atrasos, inúmeros atrasos, obviamente, alguns deles podiam ser evitados, ou pelo menos há quem pense que são evitáveis, mas como é habitual, só depois de acontecerem se torna, por vezes, mais clara a solução. P: Em termos de cobertura do território continental, o que está feito e o que falta fazer? R: Está cerca de 95% feito segundo a metodologia sistemática. A questão nem são tanto as quadrículas que ainda não tiveram visitas sistemáticas, mas sim algumas que possuem informação deficiente ou com pouca fiabilidade; é necessário fazer alguns «reforços», colmatar algumas falhas, elevar a riqueza específica de algumas quadrículas, dedicando mais esforço à prospecção de espécies que deverão estar presentes nas quadrículas mas que não foram registadas em visitas anteriores. P: Sendo este o segundo projecto Atlas no nosso país, uma das novidades principais, é o facto de incluir as regiões autónomas da Madeira e dos Açores.

Podes adiantar a situação destas duas regiões em relação ao projecto? R: Tal como para a SPEA, foram celebrados, no início do projecto, protocolos de parceria quer com o Parque Natural da Madeira, quer com a Direcção Regional do Ambiente dos Açores, fundamentalmente, devido ao facto de que pela primeira vez em estudos deste género as Regiões Autónomas serem incluídas. Em termos de cobertura geral faltam ainda visitar algumas quadrículas no Arquipélago dos Açores, bem como realizar um esforço suplementar de detecção de espécies de hábitos particulares, nomeadamente Galinhola, Bufo-pequeno-d'orelhas e Codorniz. Registe-se que a SPEA será responsável pela resolução de parte desse trabalho na presente época de campo. Na Madeira, só nesta época serão realizados ou concluídos censos relativos a espécies de aves marinhas nas Ilhas Selvagens e Desertas, o censo de Sterna hirundo e confirmações de nidificação de várias espécies (andorinhões, Codorniz, etc.). Este aparente atraso prende-se com especificidades próprias das Ilhas. Como deves saber, nas Ilhas, as condições atmosféricas não são fáceis... O clima e a fragmentação do terreno são um obstáculo, exigem mais das pessoas, até fisicamente. Também a menor disponibilidade de observadores experimentados, em ambos os Arquipélagos, contribuiu para que só nesta época sejam concluídos os trabalhos de recolha de informação no campo. Apesar destas contingências, prevê-se que os objectivos inicialmente traçados para as Ilhas sejam alcançados. P: Tem sido fácil arranjar voluntários para as Ilhas? R: Tal como referi, existe uma disponibilidade de meios humanos mais limitada nas Ilhas. Essa falta foi, sempre que possível, colmatada com o apoio dos associados da SPEA, residentes nos dois arquipélagos e com reforço pontual de ornitólogos do continente. P: Na tua opinião, a que se deve essa falta de voluntários? Terá sido feita uma boa divulgação? R: Eu tenho uma opinião muito pessoal acerca disto. Não tem muito a ver com a divulgação; acho que a divulgação que foi feita, principalmente nos primeiros anos do projecto, incluindo acções de

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"...Será uma boa base de apoio ao investigador, aos que apenas procuram informação mais imediata e, sobretudo, como ferramenta de apoio, para estudos que visam a protecção das aves nidificantes e conservação dos seus habitats..."

formação, foi minimamente adequada… Depois, acrescem às dificuldades já identificadas questões relacionadas com o trabalho que poderia ser realizado pelos voluntários. Ao contrário do continente, não foram aplicados os mesmos critérios relativamente ao trabalho voluntário para as Ilhas. Se no continente, aos voluntários eram reembolsadas parte das despesas (deslocações, alimentação e alojamento) até determinado montante por quadrícula, na Madeira e nos Açores tal não foi considerado, fundamentalmente, com base no pressuposto de que para os residentes nas Ilhas, e justamente por esse motivo (isto é, poderem realizar trabalho na sua área de residência), não justificaria o pagamento das referidas despesas. Na prática, constatou-se que afinal esta decisão foi um pouco injusta, pois, mesmo que de menor monta, os voluntários das Ilhas tinham despesas associadas ao trabalho que realizavam para o Novo Atlas das Aves. Relativamente ao voluntariado em geral e à decisão de reembolsar despesas em particular, foi o meio que se achou mais adequado para conseguir levar a cabo o projecto com a participação do maior número de colaboradores, tentando por um lado, dinamizar o universo dos ornitólogos portugueses (e não só…) e, por outro lado, garantir que os objectivos do projecto fossem alcançados. P: Talvez tenha havido aqui uma falha; que é mesmo essa, nos primeiros dois anos houve divulgação, formação... R: Era o que estava estabelecido nos protocolos, partindo do princípio que essas acções seriam suficientes para assegurar o trabalho a realizar nas Ilhas, essencialmente com recurso a ornitólogos residentes. P: Sim..., mas há coisas para as quais eu não arranjo explicação, como o desaparecimento da Folha Informativa. No início do projecto, estavam prometidas duas por ano, até agora sairam quatro números, o último dos quais em 2002. Prometia-se ainda a apresentação de um «Relatório de progresso»... Isto não desmotiva e desmobiliza as pessoas? R: Eventualmente, mas, há aqui um, ou melhor, vários motivos. Primeiro: o facto das folhas informativas terem terminado em 2002, está directamente relacionado com a disponibilidade de informação existente na base de dados que permitisse a produção de mapas de distribuição, o

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produto mais desejado em termos informativos. Ora, existiram sempre alguns problemas relacionados com a base de dados, devido principalmente ao volume e à qualidade de informação em causa resultando na sua permanente adaptação. Também a necessidade de inserção da informação em tempo útil (no final de cada época de campo…) associada a uma entrega de fichas, por vezes fora das datas previstas, impossibilitou a divulgação de material actualizado de forma atempada. Logo não fazia muito sentido editarmos folhas informativas sem podermos apresentar resultados novos. Mais, organizámos dois encontros exclusivos do Atlas onde, saliente-se, com um esforço assinalável, se permitiu dar a conhecer e a divulgar um pouco mais este projecto. P: Ainda assim parece-me pouco... A distância entre os colaboradores alargase por muito menos... R: Isso tem tudo a ver com a informação que tinhamos disponível para apresentar. Agora talvez fizesse sentido fazer uma Folha Informativa ou talvez se justificasse um encontro sobre o Atlas. Neste momento, até temos informação para várias Folhas Informativas. P: E então...? R: Neste momento é imprescindível aplicar todo o tempo e esforço na conclusão dos trabalhos de campo e na continuação da preparação dos trabalhos de edição. E quando os recursos humanos são limitados… P: Qual é a utilidade de um trabalho deste género? R: Somos diariamente confrontados com a sua utilidade; pela quantidade de pedidos que nos chegam para disponibilização da informação recolhida, sendo a mesma indispensável como base para uma grande variedade de estudos versando a gestão de habitats, ordenamento do território, estudos de impacto ambiental e conservação de espécies. São portanto uma ferramenta por excelência em todas estas temáticas. Será uma boa base de apoio ao investigador, aos que apenas procuram informação mais imediata e, sobretudo, como ferramenta de apoio, para estudos que visam a protecção das aves nidificantes e conservação dos seus habitats.


ENTREVISTA P: Na tua opinião, o nível de adesão de voluntários a este projecto tem sido bom? R: Poderia eventualmente ser melhor. No início sim, mas neste momento é já um projecto com alguns anos e nota-se uma certa saturação, e mesmo quem goste muito de aves, prefere, talvez, observá-las livremente sem qualquer tipo de restrição, sem se submeter às condicionantes de uma metodologia que limita o impulso natural de andar “à cata do pássaro” e obriga a cumprir horários, a registar as espécies em meias horas… Até o próprio preenchimento das fichas de registo, pode desmotivar um pouco os observadores, que encaram mais estas coisas como lazer e querem desfrutar as espécies que vêem, só que tudo isto é absolutamente indispensável para que depois surja a informação certa nos respectivos mapas. P: O trabalho de campo tem sido feito por voluntários ou por pessoal profissional (contratado)? R: Tem havido as duas situações. Constatámos que só com voluntários não conseguíamos terminar o trabalho, embora tenhamos tido uma grande participação. Mas os voluntários são efémeros, e isso obrigou-nos a contratar profissionais; por outro lado, por vezes o grau de exigência de determinados censos faz com que o voluntário normal não possa fazer determinado trabalho de uma forma eficaz. P: Outro aspecto da metodologia que foi muito controverso e também muito mal compreendido, sobretudo por quem teve de andar no campo, foi o facto de se dividirem as tétradas em meias horas... R: Na génese desta metodologia está a ideia de disponibilizar mais informação, tendo como princípio a possibilidade de duplicar o seu volume, realizando exactamente o mesmo esforço durante o período de tempo considerado (1 hora). Isto permitirá afinar o pormenor da representação da abundância das espécies muito comuns e com ampla distribuição. Isso já foi explicado num dos encontros do Atlas e num dos congressos da SPEA, em que foram mostrados exemplos de mapas com uma meia-hora e duas meias horas, e de facto para algumas espécies verificava-se que havia diferenças de detalhe.

P: Já se sabe se o Atlas vai ser ilustrado com fotografias ou com desenhos? R: Foi estabelecido que o Atlas teria ilustrações a cores, ilustrado por desenhadores; grande parte deles sairão do concurso efectuado em 2003, com a finalidade de descobrir potenciais ilustradores para colaborarem no Novo Atlas. Para além destes, serão feitos convites a outros desenhadores de mérito reconhecido. Como solução de recurso, dado que existe alguma contenção orçamental, serão incluídas ilustrações já utilizadas para outros efeitos, desde que se adequem àquela finalidade. P: Quando é que o Atlas será publicado? R: De acordo com os prazos e exigências do POA, com a calendarização dos trabalhos de edição e assumindo que, com a informação obtida nesta época de campo se alcançam os critérios mínimos de qualidade para um estudo com estas características, deverá estar pronto para impressão até final de 2006. P: Há algum assunto que não tenhamos falado e que gostasses de falar? R: Gostava apenas de dizer que todos os colaboradores do Atlas, e não tenho dúvidas sobre esse aspecto, irão ver o seu esforço recompensado quando confrontados com o resultado final. Quanto a alguns percalços que possam ter existido, posso dizer que é normal que ocorram num projecto com estas dimensões e abrangência. De facto há situações, muitas vezes externas ao projecto que interferem directamente e que nós, executantes, colaboradores, ornitólogos não conseguimos sequer entender ou pelo menos evitar.

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Tangkoko Situado a 3 horas de Manado, de autocarro, este pequeno parque de floresta marítima, de montanha e mangais é excelente para observar Guarda-rios, com nove espécies presentes, entre eles o Actenoides monachus, o Cittura cyanotis e o Actenoides princeps, habitantes da floresta e particularmente difíceis de observar. O Coracias temminckii, o Penelopides axarhatus, o Rhyticeros cassidix, o Mulleripicus fulvus, o Dendrocopos temminckii, o Scissirostrum dubium, o Streptocitta albicollis, a Phaenicophaeus calyorhynchus e os Dicaeum nehrkorni, Dicaeum aureolimbatum e Dicaeum celebicum são algumas das especialidades deste lugar. Uma viagem de barco (negociado com os pescadores da pequena aldeia à entrada do parque) até ao mangal permite observar o Fregata minor e o Fregata ariel bem como o Halcyon melanorhyncha, o Ducula bicolor e outras aves de habitat costeiro. Na floresta é ainda possível observar o Macaco-preto e o Tarsier-espectral, um dos mamíferos mais pequenos do mundo (foto 1). O melhor local para dormir é no pequeno hotel da Mama Rosa, localizado na aldeia à entrada do parque, que apesar de muito básico é acolhedor.

Filipinas

Sulawesi Indonésia

Australia

Sulawesi

Entre a Ásia e a Oceânia Augusto Faustino

Sulawesi é uma ilha indonésia que resultou do encontro, há 3 milhões de anos, de duas outras ilhas provenientes da Ásia e da Oceânia, juntando, num local único, animais e plantas muito diferentes. Entre os animais destacam-se o Macaco-preto, o Tarsier-espectral, o Urso-cuscus, a Anoa e, claro está, uma série de fantásticas aves. É também estimulante saber que das cerca 330 espécies de aves que aí ocorrem, 67 são endémicas, o que garante ao amante de aves uma boa oportunidade de ver espécies novas e espectaculares. Em termos logísticos uma visita a Sulawesi deverá concentrar-se na zona norte e centro da ilha pois permite ver a grande maioria das aves endémicas, deixando para trás

Augusto Faustino

apenas um Papa-moscas e um Olho-branco. Neste itinerário são fundamentais 3 parques naturais: Tangkoko e Domoga-Bone no norte e Lore Lindu no centro. A cidade de Manado é a porta do norte e, estando ligada por via aérea directa com Singapura, é o local de chegada mais conveniente a Sulawesi. Como também dá acesso à ilha Sangihe e ao arquipélago Talaud e à ilha de Halmahera nas Molucas pode ser a primeira etapa de uma longa viagem de sonho por estas ilhas encantadas. É ainda um local excelente para fazer um pequeno intervalo e descansar das madrugadas e dos dias duros e cansativos na floresta, pois a menos de 30 minutos de barco fica a ilha Bunaken com uma praia única e um dos melhores recifes de corais do mundo.

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AVES À VOLTA DO MUNDO

Lore Lindu

Este é um parque extenso, de floresta de planície, com mais de 30 endémicas presentes, onde está situado um dos locais de nidificação do fantástico Macrocephalon maleo. Esta ave é famosa pelos seus ninhos coloniais, escavados em terrenos com actividade vulcânica, que fornecem a energia, necessária ao desenvolvimento do embrião até à eclosão. É talvez a endémica mais famosa da Sulawesi e num estado desfavorável de conservação devido às pilhagens dos ninhos pelas populações. Próximo da aldeia de Toraut existe um ninho activo com visitas diárias de várias aves que se fazem anunciar com um canto inesquecível. É também possível observar as aves recém-nascidas, pois existe um programa de protecção de modo a minorar a predação humana dos ovos (foto 2). O parque é acessível de automóvel (5 h de Manado via Kotamobagu) e é possível dormir e comer na recepção. As espécies presentes são abundantes, como por exemplo a Gallicolumba tristigmata e a Chalcophaps stephani, o Ducula radiata e Ducula forsteni, os Psitacideos: Prioniturus flavicans e Prioniturus platurus, Loriculus exilis e Loriculus stigmatus, enquanto que o Zoothera erythronota e o Trichastoma celebense mereçam de especial referência. As rapinas estão bem representadas com o Accipiter trinotatus, o Accipiter rhodogaster e o Accipiter nanus e o Spilornis rufipectus, mas é uma zona ainda com muitas surpresas, como de resto comprova a descoberta recente, muito próximo da recepção, de um novo papa-moscas.

A logística deste parque na parte central da ilha é já mais complicada e viajar de avião até Palu é recomendável, bem como alugar um jipe com guia para a estadia, pois a topografia da zona, as distâncias e recentes problemas sociais, a tal aconselham (existem vários guias em Palu habituados às necessidades dos observadores de aves). A regra é informar-se antes de partir. No entanto vale o esforço, pois o parque alberga quase todas as espécies endémicas de montanha de Sulawesi como a Geomalia heinrichi, o Meropogon forsteni, o Heinrichia calligyna, e a lista de espécies continua… O melhor local para ficar é em Napu, e se as opções de dormida são espartanas, a comida é fantástica. Os locais mais importantes são a serração abandonada em Anaso a 2000 m (especialidades de montanha), estrada florestal até ao lago Tambling (foto3) e na pequena floresta próximo da aldeia. Em Anaso é possível ver o Malia grata com alguma facilidade, a Geomalia heinrichi, a Malia grata, ambos os calaus, o Serinus estherae, o Myzomela sanguinolenta, enquanto que na floresta do lago estão presentes o Cryptophaps poecilorrhoa, a Ptilinopus fischeri, a Ptilinopus subgularis e a Ptilinopus melanospila, o Myza sarasinorum e o Myza celebensis, o Dicrurus montanus e o Cyornis hoevelli entre outros. Na proximidade da aldeia são comuns ambos os calaus e os pica-paus, o Coracina morio e o Coracina temminckii, o Cyornis rufigastra, enquanto que nos campos de arroz é possível observar a Anas gibberifrons, o Falco moluccensis, a Cisticola exilis e bandos gigantescos de Aplonis panayensis e de Lonchura molucca. O tempo de estadia recomendado neste local é de 5 dias, no mínimo, pois os habitats são dispersos e a observação na floresta pode por vezes ser muito lenta, isto sem contar com o temporal ocasional ou o nevoeiro na montanha.

Augusto Faustino

Dumoga-Bone

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Existem outros locais para ver aves em Sulawesi mas se o tempo permitir, uma visita à ilha de Sangihe (a terra do cravinho) poderá ser memorável, pois a possibilidade de observar mais uma série de aves deslumbrantes (a Pitta sordida e a Pitta erythrogaster, o Loriculus catamene e o raro Eutrichomyias rowleyi) é tentadora. A viagem pode-se fazer por barco (oito horas) ou de avião, a partir de Manado, e as deslocações na ilha são fáceis (táxi) e pouco dispendiosas. Uma viagem a esta parte do mundo é uma experiência inesquecível para o amante de aves e da natureza em geral e as paisagens deslumbrantes, o mar e as florestas rapidamente fazem esquecer o cansaço das madrugadas e das longas caminhadas.

Bibliografia: Where to watch birds in Asia. Wheatley N. Christopher Helm, 1996 A guide to the birds of Wallacea. Coates BJ, Bishop KD e Gardner D B., Dove Publications, 1997. Existe uma cassete publicada pelo autor com cantos de algumas aves de Sulawesi: Bird recordings from the Moluccas, Lesser Sundas, Sulawesi, Java, Bali & Sumatra Smith, SW.

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Helder Costa

Serra de

S.Mamede

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Gonçalo Elias

Serra de

S.Mamede Situada em pleno Alto Alentejo, perto de Portalegre, a Serra de S. Mamede estende-se pelos concelhos de Castelo de Vide, Marvão, Portalegre e Arronches. Apesar de aqui existir uma área protegida (o Parque Natural da Serra de S. Mamede), esta não é particularmente conhecida pelas suas aves, pelo menos quando comparada com outras áreas, de reconhecida importância internacional no que à conservação da avifauna diz respeito. Não obstante, a região de S. Mamede contém uma das maiores diversidades avifaunísticas a nível nacional. Esta riqueza foi evidenciada, pela primeira vez, no “Atlas das Aves que nidificam em Portugal Continental”, publicado em 1989 pelo extinto Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza, em que esta região surge representada com uma diversidade de espécies só comparável à de

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zonas como o estuário do Tejo ou a Ria Formosa. A zona de S. Mamede afigura-se, assim, como um destino a considerar por todos aqueles que queiram ter contacto com algumas espécies de aves diferentes daquelas que encontram nas zonas onde habitualmente efectuam as suas observações. Para além da sua riqueza avifaunística, esta zona apresenta ainda o atractivo de fazer parte de uma das regiões de turismo mais interessantes de Portugal, a Região de Turismo de S. Mamede. Aqui é possível encontrar um património arquitectónico e arqueológico notável, desde as inúmeras antas e menires (incluindo o Menir da Meada que, com os seus seis metros e meio, é o maior da Península Ibérica) até à cidade romana de Ammaia e a vários edifícios com interesse histórico. Além disso, as paisagens são deslumbrantes e até a vegetação que aqui encontramos, formada em grande parte por matas de carvalho-negral com giesta e por castanheiros, não encontra paralelo no resto do Alentejo.

1

Zona da Beirã

2

Azinhal disperso


ROTEIRO ORNITOLÓGICO

Castelo de Vide A visita a esta pitoresca vila faz parte de qualquer expedição à região de S. Mamede. O castelo oferece uma vista panorâmica deslumbrante sobre a região circundante e também a oportunidade de observar algumas aves interessantes, nomeadamente o Melro-azul, a Andorinha-das-rochas e a Alvéola-cinzenta, que nidificam no burgo medieval. O castelo constitui igualmente um ponto de observação para aves de rapina, como a Águia-calçada ou a Águia-cobreira, que por vezes o sobrevoam.

Marvão Este é mais um ponto de paragem obrigatório. A vista é soberba, tanto sobre a planície alentejana como sobre a Estremadura espanhola. Quando a visibilidade é boa, vê-se ao longe a Serra da Estrela. O castelo e os rochedos que o envolvem servem de refúgio ao Melro-azul e à Cia durante todo o ano. O Chasco-preto, que ainda aqui ocorria na

década de 1990, não tem sido observado regularmente nos últimos anos, pelo que poderá já não nidificar no local. No Inverno é também possível encontrar aqui a Ferreirinha-alpina, que se alimenta nas ervas junto à base exterior da muralha ou mesmo no interior do castelo. Já aqui foram observadas espécies mais raras, como o Melro-das-rochas, o Melro-de-peito-branco ou a Trepadeira-dos-muros.

Pedreira de Coureleiros Esta pedreira fica situada a escassos 5 km de Castelo de Vide, junto à estrada que segue para Póvoa e Meadas. Aqui ocorrem a Gralha-de-nuca-cinzenta, o Corvo e a Andorinha-dáurica. Há alguns anos esta zona era também frequentada por Rolieiros e Peneireiros-das-torres, contudo estas espécies poderão já não ocorrer na área.

Barragem da Póvoa É a principal zona húmida da região e fica situada a cerca de 10 km de Castelo de Vide, para noroeste. Saindo de Castelo de Vide pela N246, passa-se o posto de combustível e toma-se a segunda estrada municipal para a direita. Esta estrada serpenteia ao longo da margem ocidental da albufeira, oferecendo diversos pontos de observação sobre as águas. Os Mergulhões-de-crista podem ser observados na albufeira durante todo o ano e, na Primavera, é frequente encontrar Milhafres-pretos, que são Helder Costa

Para o ornitólogo que se desloque até S. Mamede, as potencialidades são enormes. Aqui nidificam mais de 120 espécies de aves e muitas outras ocorrem durante a migração ou no Inverno. As características da serra, com o seu pico acima dos mil metros (o ponto mais elevado a sul do Tejo), cria condições favoráveis à ocorrência de espécies com uma distribuição mais setentrional, como o Chapim-carvoeiro ou o Pisco-de-peito-ruivo, enquanto a proximidade da Estremadura espanhola e do Tejo Internacional favorece a ocorrência de aves de presa de grande porte. As zonas mais interessantes para observar aves encontram-se espalhadas por uma vasta área. Assim, é recomendável planear uma visita de dois ou mais dias, de forma a poder visitar os melhores locais, como também para poder desfrutar plenamente da paisagem e do património cultural aqui existente. Seguidamente apresentam-se algumas sugestões de locais e percursos para a observação de aves nesta região.

Senhora da Penha e Carreiras A sul de Castelo de Vide ergue-se uma crista cujo topo se situa a 700 m de altitude e domina a paisagem circundante. O miradouro aí existente, a Senhora da Penha, merece certamente uma espreitadela. Nas matas envolventes, compostas por pinheiros e alguns castanheiros, é possível encontrar o Pisco-de-peito-ruivo (que aqui ocorre durante todo o ano), o Chapim-de-poupa, a Estrelinha-de-cabeça-listada e o Pica-pau-verde. Um pouco mais a sul situa-se a aldeia de Carreiras. Aqui a paisagem é dominada por montados de sobro densos onde ocorrem, entre outras espécies, o Rabirruivo-de-testa-branca, a Felosa de Bonelli e a Escrevedeira-de-garganta-preta.

Pico de S.Mamede 2

vistos a voar sobre a água ou sobre a zona envolvente. As zonas de giestas junto à estrada são um bom local para tentar encontrar a Toutinegra-carrasqueira, enquanto os terrenos incultos e pedregosos são o habitat ideal para procurar a Cotovia-montesina. Continuando pela referida estrada, chega-se, finalmente, ao paredão da barragem. Vale a pena atravessá-lo e parar do outro lado, a fim de inspeccionar os ninhos de Cegonha-branca, que servem de suporte a algumas colónias de Pardal-espanhol.

As zonas mais altas da Serra são dominadas por extensos pinhais de Pinheiro-bravo e albergam uma diversidade avifaunística menos variada do que outras zonas do Parque. No entanto, algumas espécies são mais fáceis de encontrar neste tipo de habitat é o caso do Chapim-carvoeiro, do Chapim-de-poupa, e do Pica-pau-verde, todos eles relativamente frequentes nas zonas de maior altitude. O pico de S. Mamede é o único local a sul do Rio Tejo com uma altitude superior a mil metros e, para além da sua vista magnífica, é um dos poucos locais do Alentejo onde, em Invernos frios, a neve marca presença.

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José Viana

A ciência das

aves

É PRECISO CONHECER PARA CONSERVAR

Compilado por Paulo Marques

Nova rubrica Esta é uma nova secção da Pardela, por enquanto à expe-

As aves

em Portugal

riência, que tem como objectivo

Gonçalo Elias 2004.

científico realizado sobre as aves em

entre investigadores, público em

Aspectos da distribuição da Felosa-ibérica Phylloscopus ibericus em Espanha e Portugal.

geral e a conservação da natureza

Ibis 146 (4): 685.

Portugal. Pretende fazer uma ponte

baseada na premissa que é preciso conhecer para conservar.

José Viana

primário a divulgação do trabalho

Nesta pesquisa, descobriu-se que os piscos migradores invernantes no sul de Portugal são sobretudo aves do sexo feminino. As aves dominantes (indivíduos do sexo masculino, adultos e de maior tamanho corporal) têm uma maior tendência a ser encontradas em biótopos arborizados, ao passo que as fêmeas e os jovens são mais frequentes em áreas com matos.

Filipe Canário, Susana Matos e M. Soler 2004.

Esta secção será constituída por referências e resumos selecciona-

vestigadores pretende-se uma cola-

Constrangimentos ambientais e cria cooperativa na Pega-azul.

boração activa através do envio dos

Condor 106 (3): 608-617.

dos de alguns dos trabalhos. Dos in-

seus trabalhos publicados para a SPEA, de todos um olhar crítico sobre a informação divulgada.

Paulo Catry, Ana Campos, Vítor Almada e W. Cresswell 2004. Segregação invernal de Piscos-de-peitoruivo Erithacus rubecula migradores em relação com o sexo, idade e tamanho dos indivíduos.

José Viana

Journal of Avian Biology 35 (3): 204-209.

Período de publicação:

Abril a Dezembro de 2004

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Os casais de Charneco (Cyanopica cyanus) por vezes são ajudados nos seus cuidados parentais por indivíduos que abdicam de se reproduzir. Estes “ajudantes” contribuem para a defesa do ninho contra predadores e sobretudo para a alimentação das crias. Estudamos o sucesso reprodutor e o sistema de cria cooperativa nesta espécie em duas épocas de reprodução com condições climáticas muito diferentes. No ano com condições mais favoráveis o sucesso reprodutor foi, em geral, alto e observaram-se poucos ninhos com ajudantes, tendo estes contribuído pouco para aumentar o sucesso. No ano com piores condições a chuva intensa que caiu durante o início do período reprodutor provocou o abandono de muitos ninhos, levando alguns indivíduos a abdicarem de se


ORNITOLOGIA Cuidados parentais durante a incubação no Pardal-espanhol (Passer hispaniolensis): papel dos sexos e a deserção do parceiro pelo macho. Bird Study 51 (2): 185-188.

Ibis 146 (2): 247-257.

José Viana

P. Berthold , M. Kaatz e U. Querner 2004. Seguimento por satélite de longo termo da migração de Cegonha-branca (Ciconia ciconia): estabilidade e variação. Journal of Ornithology 145: 356-359.

Serão as salinas áreas adequadas como habitat alternativo de nidificação para a Andorinha-do-mar-anã Sterna albifrons?

Este estudo faz uma análise da tendência populacional da Andorinha-do-mar-anã nidificante em habitats naturais (praias) e habitats alternativos ou artificiais (salinas) em Portugal, bem como a comparação de parâmetros reprodutores em colónias nos dois tipos de habitat. Ao contrário do que aconteceu até aos anos 90, actualmente mais de 50% da população de Andorinha-do-mar-anã nidifica em salinas. A destruição do habitat e o aumento da perturbação humana são os factores que explicam o progressivo abandono das praias.

Mundo das aves

Os investigadores

portugueses

Jaime A. Ramos, A. M. Maul, J. Bowler, D. Monticelli e Carlos Pacheco 2004. Data de postura, alimentação das crias e sucesso reprodutor de Tinhosa-de-barrete-pequeno na Ilha Aride, Seychelles.

Neste interessante estudo de seguimento de longo termo de Cegonhas-brancas apresentam-se os dados do indivíduo recordista em tempo de seguimento, 10 anos! Este trabalho, baseado no seguimento de 140 cegonhas, confirma a existência grande variabilidade de ano para ano na escolha das zonas de invernada assim como das rotas, destinos intermédios e períodos de stop-over, contudo a par existem alguns indivíduos que apresentam estabilidade nas rotas e zonas de invernada. Gonçalo Rosa

Teresa Catry, Jaime A. Ramos, Inês Catry, Manuel Allen-Revez e Nuno Grade 2004.

Paulo Marques 2004.

Gonçalo Rosa

reproduzir e a tornar-se ajudantes noutros ninhos. Estes ajudantes contribuíram para um aumento significativo na quantidade de alimento recebido pelas crias e consequentemente para o sucesso reprodutor, que foi muito mais elevado nos ninhos com ajudantes.

Condor :887-895.

Rita Covas, C. Brown, M. D. Anderson e M. Brown 2004. Sobrevivência de adultos e juvenis de Tecelão-social (Philetairus socius), uma espécie colonial com cria cooperativa da zona sul-temperada de África. Auk 121 (4): 1199-1207.

Apesar desta mudança na utilização do habitat de nidificação, não se registou um declínio na população nacional nem diferenças significativas no sucesso reprodutor em colónias nos dois tipos de habitat, sugerindo que as salinas podem constituir habitats alternativos adequados para esta espécie. No entanto, verificou-se que, numa mesma área, as aves que criam em praias fazem as posturas mais precocemente, e têm posturas e ovos maiores. Estes dados sugerem que, quando os dois tipos de habitat estão disponíveis, as praias possam ser preferidas por aves mais velhas e/ou de maior qualidade.

Paulo Catry, R. A. Phillips e J. Croxall 2004. Movimentação rápida e continuada de um Albatroz-de-cabeça-cinzenta à boleia de uma tempestade da Antárctida. Auk 121 (4): 1208-1213.

L. Kvist, K. Viiri, Paula C. Dias, S. Rytkonen e M. Orell 2004. História glacial e a colonização da Europa pelos chapins azuis Parus Caeruleus. Journal of Avian Biology 35 (4): 352-355.

A principal causa apontada para esta variabilidade é a disponibilidade de alimento.

B. M. Whitney, D. C. Oren e R. T. Brumfield 2004. Uma nova espécie de Thamnophilus antshrike (aves: Thamnophilidae) da Serra do Divisor, Acre, Brasil. Auk 121 (4): 1031-1039.

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Conselhos para o observador:

1

Aprende a conhecê-las! Sabias que as rapinas diurnas usam correntes de ar para subir sem gastar energia? Iremos apresentar os dois tipos de correntes de ar: térmicas : são bolhas de ar quente que se soltam perto do chão quando este é aquecido. O ar quente (que é mais leve) sobe e dá boleia à águia. dinâmicas: imagina uma montanha enorme num dia de vento. O que é que acontece? O vento vai em frente mas de repente choca com a montanha, que obriga o ar a subir. A isso chama-se uma corrente dinâmica. Tenta observar as correntes térmicas em campos abertos do Sul, de preferência sobre zonas escuras (estradas, campos lavrados, etc....) porque aquecem mais. Para as dinâmicas, prefere, nas serras, o lado do vento (barlavento).

Conheces o:

Abutre-preto? O abutre preto é uma ave de grande envergadura com tons uniformemente escuros, tem uma cauda em forma de cunha, um bico grande e maciço e uma gola vistosa.

Com tantos "elevadores" para cima não admira que as rapinas gostem de andar nas alturas!

Sofia Coelho

Costuma encontrar-se em regiões de montanha, sobretudo cobertas por grandes florestas.

S o l u ç õ es

2

Abutre-preto-1; Águia-imperial-2; Cortiçol-de-barriga-branca-3; Águia-real-4; Freira-da-Madeira-5; Cegonha-preta-6;

É uma ave necrófaga, pois alimenta-se de carne em putrefacção ou cadáveres de animais e, à falta destes, pode mesmo caçar animais de pequena envergadura, como coelhos e pequenos cordeiros. Faz os ninhos em árvores. Sílvia Nunes

Curiosidades: O Abutre-preto guia-se através da sua excelente visão; Em Espanha concentra-se o maior número de aves desta espécie (600); A causa da sua morte em Portugal deve-se ao facto de se alimentar de animais mortos por envenenamento, acabando a ave por morrer pela mesma razão.

3

24


J UVEN I S

Vamos falar de:

Extinção de Espécies

6

Sabes que hoje em dia 12% das espécies de aves correm risco de extinção? Que em 2100 entre 6 a 14% estarão mesmo extintas? E que mais 25% correrão esse risco? Porque será que algumas espécies de aves se estão a extinguir? A resposta é muito simples! O Homem é o principal responsável. Ele destrói os habitats naturais das aves, polui a natureza, contribui para o aquecimento global, destrói ecossistemas, caça ilegalmente, comercializa e efectua tráfico ilegal, e quando perde o interesse pelas mesmas, abandona-as fora do seu habitat natural, contribuindo para a introdução de espécies exóticas, as quais substituem as espécies da região (autóctones).

Um bom exemplo de risco de extinção, no nosso país, localiza-se na Madeira. Aí, a Freira da Madeira está classificada como a ave marinha mais ameaçada do mundo (contando apenas com 30 a 40 casais). E sabes porquê? O Homem introduziu, com ou sem intenção, ratos e gatos que, neste momento, são terríveis predadores de ovos, de juvenis e de adultos desta ave. A introdução abundante de gado (cabras, ovelhas e vacas) contribuiu para a destruição e degradação da vegetação natural dos solos e para a sua

5

própria erosão, impossibilitando a nidificação da ave, impedindo-a de construir os seus profundos ninhos no solo. Podes pensar que as extinções de simples aves não afectam o "Grande Homem". Será que é verdade? Na Índia, entre 1990 e 2000, a população de abutres diminuiu em 99%, o que se pensa que possa ter contribuído para um grande aumento do número de cães assilvestrados. Estes cães são muitas vezes vectores de doenças como a raiva, que pode ter um grande impacto nas populações humanas.

Sílvia Nunes

P á s s a r o - t e mp o Encontra o desenho de cada uma das seguintes espécies de aves que se encontram em extinção:

Águia-real

Freira da Madeira

Cegonha-preta

Cortiçol-de-barriga-branca

Águia-imperial

Abutre-preto 4 25


SPEA-Madeira

actividades

SPEA-Madeira Isabel Fagundes

Contagem de

Patagarros na Costa do Sul No presente ano a SPEA-Madeira e o Parque Ecológico do Funchal estabeleceram um protocolo de colaboração no âmbito do “Projecto Puffinus” projecto de conservação do Patagarro Puffinus puffinus. O Patagarro é uma ave marinha que nidifica na Ilha da Madeira e que está presente na ilha entre os meses de Fevereiro e Agosto. De forma geral nidifica em locais de difícil acesso, nos vales do interior da ilha, a altitudes que podem atingir os 1200 m. Desta forma, quinzenalmente têm sido realizadas observações e contagens de Patagarros a partir da costa sul da ilha, com o objectivo de angariar informação sobre a época de chegada para nidificação, variação do número de aves observadas ao longo da época de nidificação e época de partida e migração para o hemisfério sul.

Isabel Fagundes

Nas diversas visitas realizadas até ao momento, além do registo de centenas de Patagarros, em voo e formando jangadas, também foi possível observar outras aves marinhas como sejam a Cagarra Calonectris diomedea, a Almanegra Bulweria bulwerii, a Freira da Madeira Pterodroma madeira e a Gaivina do Ártico Sterna paradisaea. Estas contagens tiveram início em Fevereiro e foram realizadas até ao mês de Agosto. Para todos os interessados em colaborar nesta actividade a SPEA disponibiliza dois telescópios, pelo que apenas terá de se inscrever através do e-mail madeira@spea.pt. O ponto de encontro é o final da promenade, junto ao Centromar, às segundas-feiras, duas horas antes do pôr-do-sol.

Fotografar as aves

da Madeira

No âmbito das parcerias estabelecidas com a RSPB Royal Society for Protection of Birds, parceiro inglês da Birdlife International, no passado mês

de Maio Andrew Hay, fotógrafo profissional da RSPB, deslocou-se à Madeira com o objectivo de fotografar as aves que nidificam na ilha, em especial as espécies e subespécies endémicas, das quais existem poucos registos fotográficos. Aproveitando a presença deste fotógrafo na região, a SPEA realizou um workshop de fotografia de natureza que decorreu no fim-de-semana de 14 e 15 de Maio. Neste workshop Andrew Hay procurou partilhar com os participantes as suas experiências e conhecimentos, tais como a necessidade de uso de abrigos, de se camuflar e a paciência necessária para conseguir fotos de boa qualidade de aves. Por toda a colaboração dada, em especial no acompanhamento ao terreno, a SPEA gostaria de enviar um agradecimento especial ao Parque Ecológico do Funchal e aos seus técnicos, pelo importante contributo para o sucesso deste projecto. A SPEA aproveita ainda para agradecer à Baía Rent-a-car pelo apoio nesta iniciativa.

1

26

xxx


CIBER-ORNITOFILIA

Vestuário

técnico

Um bom observador-de-aves, por mais minimalista que seja no equipamento, não se deve fazer acompanhar apenas de um binóculo, material de escrita e um guia de campo. De facto, duas das suas virtudes terão que ser a paciência e a capacidade de

Graça Martins

Luís Gordinho www.naturlink.pt

concentração, mesmo sob as condições ambientais mais adversas. Ora essas duas características não combinam com o desconforto físico, pelo que urge tomar medidas. Foi neste contexto que decidimos abordar o tema vestuário técnico. Hoje vamos falar de vestuário para temperaturas amenas a baixas, excluindo meias, calçado e outros acessórios. Simplificando ao máximo a questão, a maior parte dos especialistas aconselha o uso de três camadas (numeradas de dentro para fora):

1.ª Serve para manter a pele o mais seca possível, evitando o desconforto e as perdas de calor. Deve ser justa (mas não apertada), longa (mas não ultrapassando os punhos, tor-

nozelos, etc.) e confortável. A composição mais adequada é 100% poliéster mas a estrutura varia. Os tecidos mais utilizados são Polartec Power Dry e Power Stretch, Dryskin,

Dry-Clim, Dry Zone, Dryflo, Vaporwick, Capilene, Tech-T, Climate Control, etc. Antigamente utilizava-se o algodão mas este tecido retém a humidade em vez de a expulsar.

2.ª Destina-se sobretudo a reter o calor. Deve ser utilizada em conjunto com a anterior sempre que o tempo esteja frio. Uma 2.ª camada muito quente e respirável é útil para utilizar sob a 3.ª, com chuva e/ou vento muito forte, ou sem esta, com tempo seco e vento

fraco. Uma 2.ª camada menos quente mas mais resistente ao vento (logo menos respirável) poderá ser a camada exterior ideal com tempo seco e vento moderado. Para 2.ª camada os “forros polares” são fantásticos, destacando-se, no 1.º caso, os teci-

dos Polartec 300 e 200 Thermal Pro e, no 2.º, o Gore Windstopper e os Polartec Wind Pro e Windbloc. A lã é mais pesada e permeável ao vento, molha-se mais facilmente, cria borboto e malhas, deforma-se, etc. Ao contrário das 1.ª e 3.ª camadas, a 2.ª geralmente usa-se só no tronco e membros superiores.

3.ª Deve ser impermeável ao vento e à chuva. Pode ser utilizada só sobre a 1.ª com temperaturas amenas ou sobre as duas anteriores com tempo frio. É composta por pelo menos três subcamadas indissociáveis: uma exterior de nylon (que deve ter ombreiras e/ou ser rip-stop se costuma usar mochila e/ou andar em zonas espinhosas), uma intermédia a membrana impermeável e uma interior que visa proteger a membrana da abrasão

das camadas internas (podendo ser uma simples rede de nylon ou um laminado). As membranas impermeáveis têm poros menores que as gotas de chuva mas maiores que as moléculas de vapor de água. Aqui domina o Gore-Tex, agora com as variantes XCR e PacLite, mas os Triplepoint, Sympatex, Hy-Vent, H2No HB, Exotherm, Drilite, etc. também são populares. O nylon exterior inicialmente repele a água mas cedo

cede à abrasão, passando a impermeabilidade a depender apenas da membrana. As costuras deverão ser termoseladas. Muitos preferem jardineiras e blusão a calças e casaco, nomeadamente para não sobrecarregar a cintura com os cós das diferentes camadas. A clássica 3.ª camada em algodão encerado exige manutenção regular, é mais pesada, não é inodora e pode sujar outras peças.

Depois de assimilar estas noções básicas, compare as marcas líderes de mercado (Tabela 1) e seleccione as que mais se adequam ao seu gosto e orçamento. Finalmente compre o material através da Internet ou numa das lojas que lhe indicamos, onde o poderá provar (Tabela 2).

Marca

Origem

URL (= http://www. +)

Ref

Columbia Patagonia The North Face Lowe Alpine Mountain Hardwear Mammut Helly Hansen Haglöfs Trangoworld (Artiach) Lafuma/ Millet Salomon (Adidas) Berghaus Northland Professional Sprayway Ternua (Import Arrasate)

EUA 1938 EUA 1957 EUA 1966 EUA 1967 EUA 1993 Suíça 1862 Noruega 1877 Suécia 1914 Espanha (1928) França 1930 França (1949) Inglaterra 1966 Áustria 1973 Inglaterra 1980 Espanha (1990)

columbia.com patagonia.com thenorthface.com lowealpine.com mountainhardwear.com mammut.ch hellyhansen.com haglofs.se trangoworld.com groupe-lafuma.com salomonsports.com berghaus.com northland-pro.com sprayway.com ternua.com

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Tabela 1. Quinze marcas líderes do mercado de vestuário técnico, agrupadas por continente e ordenadas pelo ano em que foram criadas (outras grandes marcas, tais como Timberland, Karrimor, Mountain Equipment, Vaude ou Buffalo foram omitidas desta síntese).

Agora equipe-se e... Boa Navegação! Ref

Loja/ Feira

Ano

URL (= http://www. +)

Marcas

A B C D E F G H I J

Nauticampo Vidal & Freitas Expedição/ Altitude Econauta Sport Zone Trilhos d'Aventura Decathlon Campera El Corte Inglés Bivaque

1967 1980 1992 1997 1997 1998 2000 2000 2001 2004

fil-nauticampo.com tuaregcamping.com cipreia.pt/loja.html econauta.com sportzone.pt trilhosdaventura.com decathlon.com campera.com elcorteingles.pt bivaque.com

= lojas C+D+F+J 14 8,10 1,2,3,4,5,6,9,10,12 1,3,7,8,9,10,11 3,8,9,15 1,3,10,11 7 1,3,8,9,11 13,15

Tabela 2. Dez superfícies que vendem vestuário técnico em Portugal Continental, ordenadas pelo ano de inauguração. As marcas disponíveis são indicadas pela sua referência na Tabela1.

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SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES


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