Minas Faz Ciência 75

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RB51, na espécie bovina. No entanto, o professor explica que ambas podem produzir efeitos indesejáveis, como o aborto em vacas gestantes e a interferência nos métodos usuais de diagnóstico da doença. Além disso, a cepa vacinal pode infectar o homem, principalmente, se houver manipulação inadequada durante a aplicação nos animais – justamente, uma das principais causas de contaminação. A pesquisa em andamento na Escola de Veterinária da UFMG busca desenvolver vacinas que ofereçam proteção aos animais e, simultaneamente, eliminem tais inconvenientes. “Desenvolvemos uma cepa vacinal por meio do uso da Brucella ovis, que causa a doença em carneiros, mas não no homem. Nos ovinos, a vacina produz imunidade estéril, ou seja, previne a enfermidade, e, também, a infecção e a disseminação da bactéria de campo”, descreve Renato Santos, para quem a ideia é vacinar o bovino com a cepa e, no sistema imunológico do animal, estimular alterações que levem ao desenvolvimento da imunidade contra a Brucella abortus, agente da brucelose bovina, que causa a doença no homem. Quanto ao diagnóstico, os atuais métodos empregados – principalmente, sorológicos – não permitem a diferenciação da bactéria causadora da enfermidade. “Nosso projeto visa identificar indutores da produção de anticorpos que sejam específicos de cada espécie de Brucella. Tal diferenciação é importante, pois há marcantes distinções na capacidade de causar a doença no homem”, descreve o coordenador do projeto. Em 2004, pesquisa realizada na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), conduzida pela veterinária Simone Miyashiro, analisou 300 amostras de produtos lácteos clandestinos (queijos e leite cru) apreendidas nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Do total, 37 estavam contaminadas com Brucella, das quais 30 com a B19 – a mesma bactéria usada na fabricação da vacina. A análise revela que vestígios da cepa usada na vacinação das bezerras podem seguir no leite, com potencial para contaminar os humanos.

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MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/OUT/NOV 2018

O pesquisador da UFMG orienta o consumidor de alimentos de origem animal a adquirir apenas aqueles que tenham passado por inspeção das autoridades sanitárias. “Produtos oriundos de leite pasteurizado ou de propriedades com situação sanitária conhecida e atestada são seguros para o consumo. Por outro lado, a ingestão de leite ou derivados sem controle pode representar risco à saúde”, alerta.

Pasteur e o leite

O nome pasteurização remete ao cientista francês Louis Pasteur. No final do século XIX, ele descobriu que, ao aquecer certos alimentos a temperatura superior a 60°C, para, depois, resfriá-los, seria possível reduzir a quantidade de micro-organismos em sua composição, e, assim, inibir o processo de deterioração. A pasteurização láctea, especificamente, foi proposta, pela primeira vez, pelo alemão Franz von Soxhlet, em 1886. Mais tarde, na década de 1920, a produção de leite pasteurizado, em garrafas de vidro, se disseminou. A partir dos anos 1960, o emprego da técnica de esterilização conhecida como Ultra High Temperature (UHT) garantiu a completa eliminação de bactérias e esporos, com a preservação das características e do valor nutricional do alimento. A comida é aquecida a temperatura entre 140 e 150°C, com vapor de água, de dois a três segundos. Depois, é resfriada a 18°C. O leite submetido a tal tratamento não precisa – nem deve – ser fervido, para garantir que seus nutrientes sejam preservados.

PARTICIPAÇÃO DA FAPEMIG PROJETO: Desenvolvimento vacinal e de métodos diagnóstico para controle da brucelose COORDENADOR: Renato de Lima Santos INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) CHAMADA: Programa Pesquisador Mineiro VALOR: R$ 25.200


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