Interpretação Astrológica de David Lynch pela formanda Paula Costa

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F A C E S I 1 N í v e l

“Black has depth.. You can go into it.. And you start seeing what you're afraid of. You start seeing what you love,

P O N T A

D E L G A D A

2 0 2 1

and it becomes like a

dream.” D.L.



Este trabalho foi efetuado em contexto de formação, do Segundo Nível da FACES, em que os alunos são desafiados e escolher uma figura pública e a interpretar sua Carta Astrológica. Foi-me muito claro QUEM iria escolher,

num

desejo

de

aprofundar

conhecimento a respeito desta personalidade, que me mistifica com o seu trabalho. Com

este

objetivo

vi

entrevistas,

documentários, fazendo anotações, iniciando as

correlações

simbólicas

e

dinâmicas

energéticas. Fiz pesquisa biográfica e revi alguns filmes. Apesar de ter várias áreas de trabalho

foquei-me

na

sua

dimensão

cinematográfica. A análise foi efetuada com base na estrutura aprendida na formação, olhando a Carta do geral aos Planetas e Aspetos nas Casas. Com o processo foi-se clarificando a necessidade de ajustar o meio da interpretação à tipologia da carta, interconectado, interdependentes.

quando

fundamental,

as

dinâmicas

planetárias


infância e juventude

3

inicio da vida artística

4

filmografia

5

outras áreas

8

mapa natal

9

olhar a carta, olhar o céu

10

planetas, forças que nos animam

13

do pessoal para o social

22

quíron

25

úrano, neptuno, plutão

27

nodos lunares, parte da fortuna

29

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Diretor de cinema americano, e artista visual, mais conhecido pelo seu estilo próprio, denominado nos círculos cinematográficos de 'Lynchiano’. Seus filmes e produções são reconhecidamente misteriosos, surreais, oníricos, remetendo a espaços desconfortáveis, perturbadores e por vezes violentos, que não deixam de criar reações intensas. Sua imagem provocativa, com um meticuloso desenho sonoro, embrenha o expectador na expectativa da trama, e o sequestra na polaridade: o quotidiano e o absurdo a coexistirem.

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Nasceu a 20 de Janeiro de 1946, nos Estados Unidos da Americana, no estado do Montana. Seu pai, um pesquisador do departamento de agricultura, sua mãe, 'Sunny', uma professora de inglês, filha de

emigrantes finlandeses.

Educado nos preceitos da religião presbiteriana, passou uma infância itinerante, pela profissão de seu pai,

tendo assim oportunidade de conhecer o país. Afirma que lidou bem com a sucessiva mudança de lugar e de escola, que era fácil para um

“outsider” como ele fazer novos amigos. Irmão mais velho de três filhos, transmite que teve uma infância feliz, quase idílica, como “um mundo de

sonho, céus azuis, cercas de piquete, relva verde, árvores de cerejeira. Tão classe média americana como era suposto ser. Mas, na árvore, haveria um corte, e resina a escorrer, parte dela amarela, parte dela preta, e lá milhares e milhares de pequenas formigas vermelhas, a correr por todo o

lado, da pegajosa abertura para toda a árvore. Então vês que há este mundo belo, no entanto, ao mais de perto, está cheio de formigas vermelhas.” Apesar desta aparente felicidade, é reconhecido que tinha episódios frequentes de Agorafobia, principalmente depois de ter sido assustado aos 6 anos, com uma imagem do filme Wait Till the Sun Shines,

Nellie (1952). IMG_Room_to_dream_book IMG_welcometotwinpeaks.com

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Cultivou uma relação especial com a

Natureza. Seu pai, frequentemente fazia experiências com insetos e árvores. Imensas florestas estavam à sua disposição. Ganhou contacto com o crescimento, a doença e os insetos do mundo orgânico. Desde muito pequeno que desenhava. Eram seus modelos os brinquedos da altura: armas, pequenos soldadinhos e aviões de guerra. Aborrecido, e por vezes frustrado no conforto que a sua família lhe proporcionava, procurava, com amigos na infância, brincar com explosivos. Certa vez o pé do amigo foi severamente ferido, e de outra, uma explosão numa piscina pública terminou com David detido. Fez parte dos escuteiros, e o mote “do it yourself” tornou-se uma força que aplicará também no cinema, aprendendo a fazer muito com pouco. Em 1960, finalmente a família permanece em Virgínia, e o rapaz de 14 anos, descobre o seu fascínio pelas artes. Mas não achava um futuro promissor, apesar de ter um tio bavariano pintor. Um colega do pai percebe o seu talento e arrenda- lhe um quarto no seu estúdio. Começa aos fins de semana a tirar um curso de artes em Washington. Nesta altura lê The Art of Spirit de Robert Henri, sobre a vida criativa, que se torna fulcral na sua decisão.

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Depois de graduar-se decide estudar para a School of the Museum of Fine

Arts em Boston. Desiste no primeiro ano, por razões não clarificadas. Bushnell Keeler afirma que Lynch saiu da escola porque não quis confrontar um tutor que andava a dormir no seu quarto de dormitório, preferindo sair. Parte para a Europa com um amigo. Esta viagem não lhe vem satisfazer as expectativas. “Lembro de estar deitado numa cave em Atenas com lagartos

a rastejar para cima e para baixo e comecei a contemplar como estava a 7.000 milhas do McDonalds mais próximo. E eu tive mesmo saudades. Saudades da América. Soube que era americano e que queria era lá estar”. Volta para os E.U.A., tem trabalhos para se manter. Começa a estudar em Filadelfia, no Pennsylvania Academy of Fine Arts, altura em que casa pela primeira vez em 1967, nascendo a sua filha Jennifer no ano seguinte. Esta cidade será a sua maior fonte de inspiração.

Percebendo que a pintura não lhe dava a satisfação de luz e movimento que procurava, impulsionado por uma visão, sente

um vento a movimentar levemente uma pintura, começa a produzir pequenos trabalhos de vídeo.

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Com mistura plástica de desenho e pintura, cria suas as primeiras curtas. Misto de vídeo e desenho em

stop-motion, uma das quais lhe confere uma bolsa do American Film Institute, que lhe permitiu criar The Grandmother (1970) curta sobre um rapaz, de pais abusadores, que encontra umas estranhas sementes de onde nascem uma avó. Este trabalho lhe conferiu a

entrada no Center for Advanced Film Studies, em L.A. cidade onde ainda hoje vive. Lynch amava estudar, mas é especialmente entusiasmado com a parte prática. Começa a trabalhar na sua primeira longa Eraserhead (1977) Processo demorado que lhe toma 5 anos, financiado em parte por família e amigos. Termina com seu casamento, de 10 anos e 1 filha. No momento do seu lançamento, poucos viram o filme, mas, com a sua

ambiência, foi ganhando popularidade nos círculos alternativos tornando-se de culto. É um trabalho que desafia a lógica convencional da narrativa, de um homem com uma namorada infeliz e um filho bebé deformado, que chora dia e noite. Lança The Elephant Man (1980), filme que relata a história verídica de Joseph Merrick, homem transfigurado na Inglaterra do séc. XIX, cujo aspeto medonho, exibido em freakshows, o faz repudiado e maltratado. Até ser acolhido por um

médico que descobre atrás do corpo deformado uma boa alma, de invulgar sensibilidade e inteligência. Este filme foi grande sucesso, lhe levou a 8 nomeações nos óscares. 5

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Após esta ascensão é convidado para colaborar a vários projetos ambiciosos, sendo um deles o Star Wars, que recusa. Opta em participar na adaptação do livro de Frank Herbert, Dune (1984), apesar de não se interessar por ficção cientifica. Havia já grande expectativa para esta produção, pelo que teve, no final, pouco controlo criativo. Desiludido decide não voltar a trabalhar com grandes produções de Hollywood. O seu lançamento foi um grande fracasso. David hoje partilha aos mais novos, que este foi o momento mais embaraçoso da sua carreira, e aconselha a nunca aceitarem dirigir uma produção cinematográfica se não puderem ter a palavra e o corte final, pois perdem, assim, a autoria. Com pouco espaço para lutos, entusiasmado nas suas ideias, com a música de Bobby Vinton, começa

a trabalhar num novo filme, Blue Velvet (1986) , com nova nomeação para os Óscares. Neste filme vemos a sua reconhecida linguagem cinematográfica a acentuar-se, uma feme fatal perigosa, um homem curioso que a quer salvar, a rapariga comum, um homem compulsivo obcecado por veludo azul.

Começa aí a sua longa parceria com o compositor Ângelo Bandalamenti. Continua com Wild At Heart (1990), filme de estrada

melodramático, sobre a paixão fervorosa de um casal. Ganha uma Palma de Ouro em Cannes. É também uma clara demonstração de amor pela cultura americana, e o seu lado obscuro. Uma temática recorrente no seu trabalho. IMAGES_on_lynchnet.com

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A sua icônica série, escrita com Mark Frost, Twin Peaks ( 1990) é lançada nesta altura. Foi dos programas mais vistos nós anos 90. Inteligentemente, o público é colocado numa trama aparentemente simples do crime de uma jovem, numa pequena cidade de Washington. Através da investigação é revelado, a questão é bem mais profunda. O contraste aí, como em outros, nos remete a uma fantasia idílica, quase de telenovela, e a obscurecida realidade de violência escondida na Natureza. Esta série foi o seu único sucesso de TV, e teve novamente que comprometer às exigências da produtora, forçado a divulgar um autor do crime, quando não era sua intenção. Continuando os percalços temos ainda Mulholland

Drive (2001) adaptado a filme, por pressões dos estúdios. Um filme de mistério, que nos fala de uma atriz aspirante, que chega a L.A que conhece uma mulher amnésica. A história deixa margem para várias interpretações é considerado um dos melhores trabalhos do realizador. Deu-lhe prémio Canes e nomeação aos Óscares. Sendo o único filme do séc. XXI constando na lista melhores filmes de sempre da revista Sigh and Sound. Além dos muitos outros trabalhos conta com dois filmes diametralmente opostos. Lost Highway (1997),

filme neo noir, que Lynch conecta a uma fita de

Moebius, num loop interminável. Diz que mais que uma narrativa é uma reflexão sobre o transtorno de Fuga Dissociativa, que acontece quando alguém após uma longa viagem perde a noção da sua identidade. 7

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The Straight Story (1999) é uma historia verídica de superação sobre um homem de que atravessa 390 km num pequeno trator de quintal para visitar o irmão doente com quem se havia desentendido. Filme incrível lançado pela Disney. Sua última longa-metragem, Inland Empire (2006) é um filme plástico, de estrutura permeável e experimental, sobre uma atriz que começa a transformar-se numa das suas personagens. Lynch é conhecido pela sua atmosfera surreal e por deixar o mistério por resolver, dando muitas pistas para uma interpretação apropriada a cada um. Podemos às vezes duvidar se a história não será um sonho de uma das personagens, que estamos no seu subconsciente, observando as várias partes de si.

Desenvolve-se noutros âmbitos, como desenho de interiores , música e arte plástica. Publicou um livro sobre Meditação, a que tem dedicado os últimos anos através da sua fundação. Ganhou interesse pela internet, onde disponibiliza, entre outros, o estado do tempo em L.A. diariamente. Nas suas relações, casou quatro vezes, e tem quatro filhos, sendo que a ultima relação perdura desde 2009, sendo esta a mais longa. É conhecido por ser um fumador inveterado, apaixonado por café,

mulheres e fábricas abandonadas.

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20 Janeiro 1946, dom 03.00 MST+7 Missoula, Montana 46ºN52’20’’ 113ºW59’35’’ Geocentric, Tropical, Placidus, Mean Node

FOGO (1) CARDINAL (7) FIXO (1) MUTÁVEL (2)

9

TERRA (4)

AR (3)

ÁGUA (2)

III

II

II

I

I

I


Antes de iniciar a análise aprofundada da carta de David Lynch, vamos generalizando, partindo das bases para os aspetos mais detalhados.

Se nascemos de dia ou de

poente, Marte alinhado a Saturno, a

noite, sabemos que o Sol está

declinações diferentes; a nascente

acima, ou abaixo do horizonte,

Júpiter, brilhante. Mais longínquos,

e a Lua, na noite, evidente.

mas expostos, Úrano, Neptuno e

Quanto aos outros planetas,

Plutão, perfazendo 7 energias

só um observador atento poderá os reconhecer. Um mapa astrológico é uma ferramenta que nos dá este saber, de conhecermos a posição dos referidos no momento do nosso nascimento. David nasceu numa noite de Inverno, no norte dos Estados Unidos em Missoula (imagem), às misteriosas três da manhã.

planetárias. Em contraste, no hemisfério noturno da nossa carta, vemos 3 planetas pessoais em aproximação da linha do horizonte. Esta predominância diurna, nos hemisférios, nos indica uma personalidade que procura exposição, que cultiva uma dimensão interpessoal e social, necessitando de criar coisas para o mundo e de se sentir parte dele contribuindo, nutrindo, assim. a sua dimensão mais interna. Em eixo nascente/poente há um contraste de 6/4 planetas, esta predominância no hemisfério oriental confere uma

Estando assim o Sol escondido e a

maior ambição de agir por si, no

Lua, quase Cheia, exposta. No céu

que quer, no que valoriza. Querer

visível outros três planetas: a

fazer acontecer.

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10


Dividindo ainda a Carta em

seu trabalho, hábitos muito

dois eixos, quatro partes,

estruturados. O seu eixo horizontal,

ficamos com 3 planetas no I e

ao ter-se estruturado na meditação,

no IV, e 4 planetas no III, e o II

vê-se que procura expressar os

está vazio. Este espaço neste

seus dons de direção com o

quadrante corrobora a sua

aprofundar de si mesmo.

atitude de criar sem estar

m a p a

11

propriamente preocupado de como

Há predominância de Terra,

os outros vão opinar sobre o seu

conferindo-lhe uma

trabalho, estando primariamente

personalidade realista,

interessado no que lhe impulsiona

eficiente, que procura

a criar. A Cruz, da sua carta, está em

concretizar as suas ideias de uma forma prática. Apesar do seu

desequilíbrio, em termos de

cinema surreal, muitos são

modalidades: Fixa no Horizonte

surpreendidos pelo seu caracter

e Mutável no eixo Vertical, no

sério, apesar de sonhador, com uma

entanto estão ambos em

aparência controlada e

signos Femininos.

conservadora. Temos Lua e Sol

Significando que há uma

neste elemento, tendo em si muito

persistência neste indivíduo mas

metodismo, que se torna central

ajustando-se às suas ideias.

para trabalhar nesta área. Em

Procura viver de acordo com a sua

contraste, o elemento de Fogo conta

sintonia interna. Vemos em Lynch o

apenas com uma energia planetária,

IC em Peixes, em que procura se

podendo haver alguma ausência de

sintonizar com o Mar de Ideias, de

vitalidade, evita os confrontos, pode

onde Pesca Imagens bonitas. O seu

comprometer a sua vontade

livro sobre meditação chama-se

individual. Vemos como na sua

“Catching the Big Fish”. No MC,

juventude preferiu comprometer do

Virgem, vemos como ele tem no

que revindicar, mas com o tempo


aprendeu a reconhecer a

Temos 7 planetas em signos

importância de se manter fiel a si e

Cardinais, estes abrem as

às suas ideias. O planeta em

estações e são indicio de

questão é regente do seu

atividade e iniciativa.

ascendente, e está na casa 9, dando

Interessante notar que ele

assim a possibilidade de existir

sempre afirmou, quando

neste individuo um grande impulso

questionado sobre outros criadores

para ir em busca do que lhe move

que pudesse admirar e ver trabalho

mais profundamente, de confrontar

deles, que o dia só tem 24 horas, e

os aspetos obscuros da identidade

ele gosta mesmo de usar o seu

para os sublimar na sua expressão.

tempo a criar.

David tem no seu mapa 6

Com os 5 planetas em casas

planetas em elementos

Sucedentes, o que confere-lhe um

femininos (-) acentuando o

maior equilíbrio e sustentabilidade

meio recetivo pelo qual atua

ao desenvolvimento pessoal, e

na sua vida, estando sempre à

estabilidade na concretização com

procura de acolher através dos seus sentimentos, e de colocar na

m a p a

aproveitamento de recursos.

matéria o que há no subtil.

Para finalizar, algumas notas, que irão ser aprofundadas: temos uma Lua no auge na Carta, em conjunção ao seu Meio do Céu, e no Ascendente está o ponto focal da Lua Negra, tendo ambos uma grande influência nesta carta. Temos 5 planetas em movimento retrogrado, e um Sol em grau anarético. Dentro dos modelos planetários, temos uma Locomotiva, guiada pelo inusual Úrano, que irá conduzir as energias planetárias vestido de

ideias geminianas. O eixo Leão/Aquário está intercetado, nas casas 9/3, sendo em reflexo as casas 12/6 mais pequenas em amplitude. Temos Saturno em Detrimento e Marte em Queda. 12


Este sistema simbólico milenar ao correlacionar as forças cósmicas com o microcosmos humano vivencial, utiliza os planetas como agentes representativos de impulsos, vontades e dinâmicas, nos vários níveis. Em Dune uma substância de um planeta empodera os humanos os tornando imortais e capazes de viajar no espaço

O nosso impulso espontâneo, no Ascendente reside a primeira impressão pessoal. É a natureza que nos sentimos mais predispostos na infância. Pode ser conectado com a persona da psicologia, uma máscara que nos serve. Na visão esotérica, por estar a emergir no m a p a

horizonte, é visto como o nosso veículo para ascender na vida. Aqui temos o intenso signo de Escorpião, havendo uma natural Afinidade ao primal, cru e incivilizado da natureza, conecta-se com as

forças de vida e morte, compreendendo que ambas são necessárias. Lynch reflete esta dimensão nas suas criações, diz “I like things growing and I like things decaying”. Sabemos que desde criança dissecava animais, fascinado pelas texturas interiores, e pelo episódio das formigas, já mencionado, percebemos que cedo olhou a natureza nesta dualidade. Em

Twin Peaks a Natureza esconde forças misteriosas, representadas como o

White/Black Logde, sendo esta uma designação simbólica dos Nativos Americanos. Na cidade de Philadelphia, encontrou uma grande inspiração, na altura que lá viveu era doentia, corrupta, perigosa, no entanto amava a sua atmosfera de luz carregada, da arquitetura industrial, do abandono, na ambiência iminente de criminalidade e suspenso o desespero. Apesar do medo, fascinava-se com as sensações ambíguas do lugar. 13

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Aqui regente tradicional temos Marte em Caranguejo, na Casa 8, relacionado às iniciativas e como manifestamos no mundo, estando num signo de água cardinal, ativa uma ação em reação ao passado, estado em Queda. O desejo e a busca está no subtil, a ir em busca de poder no campo emocional, e que, por vezes, não terá uma origem consciente. Com a Casa 8, o seu mistério acentua-se, o guerreiro aqui aventura-se em ambientes estranhos dos campos subconscientes, onde habita espaços de repressão e violência. Também a capacidade de fazer cortes em relação ao passado, num impulso para se reestruturar, se transformar. Como está fundido ao pesado senhor dos anéis, Saturno, confere-lhe uma maior persistência para encontrar o seus objetivos, e decerto melhorou com o tempo a dedicação com que se aplica nas suas iniciativas e na sua vontade individual, conferindo grande determinação, disciplina e ética. Não esquecendo, este também constringe, limita, produz medos, cautelismos, e, assim como a casa onde se encontra, conecta-se

m a p a

com a morte. Fazem aspeto, em via aberta, ao ponto em análise, havendo assim maior expressão das qualidades de ambos. É interessante notar neste tema o filme Eraserhead: um trabalhador vê-se com responsabilidades familiares que não quer; uma criança, que é uma criatura estranha, exige muito cuidado, Lynch produziu este filme na altura que foi pai. O seu dispositor, a Lua, como irá ser visto, está conectada com o seu trabalho, carreira, e as suas ideias, Mercúrio, regente da Lua em oposição a Marte, Lynch no seu trabalho usa a capacidade de invocar e manipular sentimentos intensos na audiência, através do saber fazer, do seu método, de captar as imagens, dos ângulos da câmara, do tempo, e da invocação sonora de sentimentos. A Casa 5, associada à criatividade, cocriação, e crianças, está com Carneiro. Este Marte tem assim uma evidente expressão no seu trabalho criativo. 14


Plutão, outro regente do Ascendente, está no expressivo signo de Leão, intercetado, pertencendo ele à geração do pós guerra que impulsionou o expandir do individualismo nas décadas seguintes, será aprofundado mais à frente. Este planeta na Casa 9 é indicativo de crescimento interior, de uma limpeza às forças do Ego, podendo atribuir certo apego às ideologias.

Lynch na sua relação é evidente seu sentido de honra, com raízes num outro tempo, e enquanto palestrante ele é inspirador e cativante, expressando-se com sinceridade e profundidade, na sua verdade. Ambos os regentes estão em movimento retrógrado intensificando as qualidades de pesquisa, e transformação interna de Escorpião. Sendo que a casa 8 conecta-se ao subconsciente, e lá encontramos os impulsos suprimidos, e na casa 9 a busca da verdade da mente superior. Não podemos deixar de notar a Lua Negra, ponto do focal vazio da Lua, m a p a

ligada às emoções mais instintivas, conjunto ao Ascendente. Conectando o individuo ao inconsciente, expondo o vergonhoso, os medos. Sabemos como Lynch não se recusa dos seus vícios, e das suas

indulgências, mas não suporta a hipocrisia, afastou-se dos grandes estúdios de Hollywood. Tem um aspeto enigmático as personagens que cria, seus alter egos são detetives, curiosos, que procuram desvendar segredos, não recusando domínios obscuros, misteriosos e perigosos. Vemos esta intensidade também nas mulheres que projeta na tela, são sedutoras, estranhas, impulsivas que sedem ao desejo, muitas vezes o prazer e a dor são ambiguamente misturados. Há sempre alguma obsessão e manipulação.

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Para obter mais informações sobre a forma como aborda a vida no imediato, aprofundamos os regentes de Marte e Plutão, ou seja a Lua e o Sol. Havendo assim a necessidade de expressar em tudo o que faz com as suas emoções e com o seu sentido de identidade. Representativa das nossas necessidades mais profundas e inconscientes, conectadas ao nosso sentido de segurança, ao mundo das formas e dos ciclos de mudança, é a base da qual fruímos através dos seios e do ventre do que nos nutre. Para os homens será também a mãe e as mulheres da sua vida. A Lua que está no expoente máximo da carta, o Meio do Céu, conectada à concretização e carreira, no reservado signo de Virgem. Lynch é um ser muito prático, criatura de hábitos, que lhe estruturam o trabalho criativo.

Sabemos procurar estar sempre ocupado com múltiplas atividades, diz que são as suas rotinas regulares, com o prazer das pequenas coisas, que lhe permitem a segurança para poder ser sonhador, apreciando a

m a p a

simplicidade do dia a dia. Lynch afirma que sua mãe era muito amorosa mas que não o expressava, aspeto comum em luas virginianas, mais focadas em assear e organizar a vida dos filhos. Quando adolescente, a

experimentar comportamentos impróprios, a mãe ficou desiludida com ele, o que lhe marcou. Esta Lua não está a fazer aspeto a nenhuma outra energia planetária, ficando autónoma nas suas qualidades. Amplia as necessidades de hábitos, o metodismo, o perfecionismo, a exposição e reconhecimento público. Intensifica a importância e o impacto das relações com mulheres, o nervosismo, e a necessidade de segurança e estabilidade.

Com o seu regente na Casa 3, conectada à vizinhança, e ambiente conhecido, reconhece-se que será neste lugar que Lynch se sentirá seguro, é também estes os ambientes que projeta em filme. Afirma que fica sempre nervoso quando tem que sair de casa para o mundo. 16


Está sob sua regência a Casa 9, sendo que prefere estar em ambientes familiares do que fazer viagens longas. Tem uma grande estrutura no passado nos seus valores morais, que se refletem na forma como trabalha. Esta Lua encontra-se na fase Cheia, no momento do seu nascimento, elevando a sua capacidade concretizar no mundo as suas sensações através do trabalho e carreira, da necessidade de contato com os outros, e da tensão interna entre a exposição e os ambientes familiares. Este Luminar está sob a regência de Mercúrio em Capricórnio, na Casa 2, em que os seus pensamentos são vocacionadas no sentido físico, tangível, estruturados, e com base nas suas experiências da infância. A ressalvar, neste ponto, o regente de Capricórnio, Saturno está na Casa 8, Caranguejo, o que remete novamente à Lua,

conectando esta dimensão às emoções profundas, às sementes m a p a

subconscientes do passado, sua exploração e utilização no trabalho. Lynch partilha como surgem as ideias, encontra uma forma, uma imagem que lhe inspira, e depois a escreve, com tal detalhe para que lhe recorde a vivamente a sensação. E a partir de uma ideia, faz o seu trabalho, e outras ideias surgem. A forma como comunicamos tem muito que ver como a

nossa aprendizagem, com a relação Lua-Mercúrio-Saturno, esta subjetividade, na raiz do passado, conectada ao seu meio envolvente natal, é acentuada. Compreendemos quando afirma “Eu gosto de me lembrar das coisas à minha maneira. Como eu as relembro não é necessariamente a forma que aconteceram”, as estruturas da memória tornam-se subjetivas à emoção. Não temos somente a expressão verbal, através das suas

habilidades Lynch comunica os seus dons, sendo ele próprio multifacetado nos meios que utiliza. Diz-se um construtor frustrado de carpintaria, onde constrói móveis, de utilização prática, com uma estética própria angular. Com a pintura, usa várias técnicas e também palavras. Este planeta está 17


num signo de terra, sendo um pensar ligado à matéria, ao surgir das formas. Para ele o Cinema é algo de tangível, vê como uma pintura em movimento, com som. É muito meticulosos e paciente no seu trabalho, procura um relação honesta com a sua equipa de trabalho, procurando cumprir os objetivos, mesmo que para isso leve muito tempo. Vemos como comunica com seriedade, calma e pausadamente. Mercúrio está Out of

Bounds, dando-lhe uma expressão inusual. Interessante olhar como Lynch usa as mãos na sua comunicação, as agitando como Borboletas, este planeta está em Sextil ao Ascendente. A oposição ao seu regente Saturno, e a Marte em Caranguejo, acentua esta ponte entre o que valoriza, no que observa no mundo, e o confronto com os espaços emocionais mais subconscientes da Casa 8, ainda envolvido está Quíron, com a quadratura

em T, que falarei adiante. Este planeta rege assuntos da Casa 8, sendo ele um pesquisador do obscuro, e da Casa 10, conectada à carreira. Vemos como ele comunica com o seu trabalho ao mundo temas que são desconfortáveis, mas que são reflexo das nossas estruturas, seja culturais,

m a p a

ou da natureza, apelando muitas vezes à sensibilidade e compaixão humana. Se mostra o doloroso, o medo, as emoções intensas, o faz para as

podermos observar. A forma, por vezes disforme é repudiada e incompreendida. Em The Elephant Man, um homem torna-se atração de circo, abandonado pela família pela sua aparência repugnante. Ao inglês civilizado da era vitoriana seria impensável alguém assim ter sensibilidade e afetos, Lynch leva a audiência a pensar da mesma forma, e depois revela a sua inteligência.

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O astro luminoso está na área de vida correspondente às aprendizagens que um recebe ao crescer, a Casa 3 é onde correlacionamos na astrologia às interações com irmãos, tios, primos, vizinhos, e pequenas viagens. Sabemos como a nossa visão do mundo será primeiramente condicionada pelo que nos é transmitido, pela realidade que experienciamos, e pela nossa capacidade de analisar o que recebemos, será também como comunicamos. Assim, o sentido de vitalidade de Lynch está muito conectado à sua expressão e olhar do mundo, e no desenvolvimento das suas habilidades. Capricórnio é terra cardinal, a determinação impessoal de ter as coisas feitas.

Representa o nosso pai, como um modelo, e a via para um desenvolvimento saudável da nossa individualidade. Ele foi fortemente influenciado pelo pai, e nunca gostou de aprender na escola, a repetir os m a p a

mesmos exercícios. É um signo reservado, cauteloso, de autocontrole e ambição. Sabemos como para Lynch foi importante criar métodos para a sua criatividade, e para a sua vida. Ele se estruturou na sua cultura de

origem, vê-se como americano, sabemos que as suas ideias e forma de olhar o mundo, apesar de própria, vem deste lugar comum e confortável. No filme The Straight Story , percebemos este paradigma pessoal, e como uma pequena deslocação pode ser origem para uma grande aventura, impulsionada pelos laços de afeto familiar. Diz-nos ele em The Art Life, não quer estar num outro mundo, senão o seu próprio mundo, e das infinitas descobertas que é possível na infância, em meia dúzia de ruas.

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O seu dispositor, Saturno, está em Caranguejo, na Casa 8, conectado às tradições familiares e da sua nação, sem deixar de ver o que lhe obscurece. Lynch reflete muito nos seus filmes a dicotomia da classe média americana, e a violência e desencontro desta cultura. O Sol ao estar num grau anarético acentua o seu estado de crítica aprendizagem da utilização das forças do Ego para um contributo além das necessidades pessoais, e o seu caracter inusual. A reger o signo de Leão, que se encontra intercetado na casa 9, onde está Plutão, fazendo ainda oposição, significado a transformação do ego através da abertura a novas formas de compreender as emoções. Faz conjugação próxima com Vénus, fundindo o sua identidade com o seu sentido de estética e artístico, e quadratura com Júpiter em Balança, regido pelo referido, sabemos que teve muitas parcerias que lhe potenciaram o trabalho criativo, mas que teve que fazer compromissos a instituições cinematográficas que lhe impediram de ter a autoria das suas criações, que ele diz ser como uma morte.

m a p a

Este planeta nos informa sobre como apreciamos, valorizamos o belo, o sentido de harmonia, e de como expressamos afetos e olhamos os

recursos. Aqui está também no signo de terra Capricórnio, na Casa 3. Estando assim associada a seriedade de compromisso, procurando as corretas relações, com autocontrole e reserva. A sua auto valorização está muito conectada com a quantidade de trabalho prático efetuado, e com o papel relevante que tem para a sua carreira. Lynch teve várias dificuldades, e períodos críticos na sua carreira, passando por dificuldades financeiras. E mesmo assim encontrou sempre algo nestes momentos que lhe inspirou, mesmo quando teve que ter trabalhos que não queria, para pagar os seus estudos. A sua seriedade, em relação ao recursos, é evidentes quando não desistiu de concluir

Eraserhead, mesmo sem dinheiro, levando 5 anos a fazer, tentando gerir 20


ao máximo, pedindo emprestado aos seus familiares, que devolveu mal teve uma condição financeira favorável. Quando novo desconsiderou a hipótese de seguir belas artes, por achar que fosse uma carreira que não lhe desse a estabilidade procurada. Por estar na Casa 3 sintoniza a estrutura dos afetos com as ideias que tem, e com as suas formas

expressivas de comunicar. Vénus é também a arte, e estando conjunta ao Sol o sentido vital dele está mesclado de poesia, cria na sua estrutura artística, que é dar forma às ideias (Lua-Mercúrio). O dispositor Saturno está Caranguejo, na Casa 8, o que me recorda o seu amor por fábricas velhas abandonadas, e pelo seu prazer nos quebra-cabeças que cria nos filmes. Este planeta está em oposição a Plutão, potenciando a intensidade

dos desejos, atração pelo perigo, e o seu confronto com questões obscuras sobre a psique humana. Faz ainda uma quadratura exata a Júpiter, em Balança, regido pela própria, ativando a expansão criativa, de m a p a

procura de beleza estética, na Casa 11 ,Lynch afirma que nunca teve dificuldade em fazer amigos, e no Liceu era bastante charmoso e popular, estando esta área de vida influenciado por este planeta, apesar de

intercetado. Da mesma forma temos a Casa 7, sendo que leva as suas parcerias com seriedade. Sabemos que projeta mulheres sedutoras, e que sente um fascínio pelo feminino, pela sensualidade das formas, com Touro a abrir a cúspide.

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Os planetas pessoais, nos seus elementos, modalidades e interações dão-nos um olhar sobre a personalidade, e caracter, como o individuo age, ama, cuida, quais as suas necessidades internas. Mas todos nós existimos num contexto, e somos também impulsionados por estas visões e estruturas que são transmitidos pela nossa integração num meio.

O maior planeta do sistema solar faz-nos expandir em otimismo e boa disposição, mas, em desequilíbrio, facilmente se torna em

indulgencia. Representa as experiências que nos dão fé, graça e significado. Na carta de Lynch este planeta está em Balança, na Casa 11, conectado assim à sua Vénus Capricorniana da Casa 3. O otimismo e charme são evidentes na sua relação com o público, e na sua

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expressão artística. A questão é onde se estrutura? Sabemos que até ao final de Eraserhead, Lynch vivia com alguma ansiedade, e impulsos

agressivos de frustração que descarregava por vezes na esposa (Touro casa 7). Nesta altura iniciou-se na Meditação Transcendental, uma ferramenta que ainda hoje divulga, através da Fundação (Casa 11-Balança) que criou. Esta prática permitiu construir-se na sua vida criativa, sendo a raiz do seu mapa (IC) em cúspide de Peixes, e Sagitário está a abrir a Casa 2, de onde flui os seus recursos financeiros e dons criativos. Balança

conecta-se com o equilíbrio entre opostos, com o caminho do meio. Lynch procura harmonia nas suas parcerias, e conta com uma equipa de confiança no seu trabalho. Expandem-se os casamentos, casou por quatro vezes, e o seu contacto com o belo, como já vimos, é central no desenvolver das ideias e o seu prazer em apreciar os padrões da vida. 22


A quadratura ao Sol e Vénus, em Capricórnio, regidos por Saturno que contraí, explica como ele cresce com seriedade, expandindo as suas estruturas individuais, no sentido de harmonia que vê em todas as coisas, mesmo as aparentemente desagradáveis. Seu pai foi um modelo

importante no equilíbrio das relações, ensinou-lhe a dar e a receber, a equilibrar sem comprometer a vontade própria. Os ideais de beleza, e o prazer da criatividade, são chaves para o seu desenvolvimento, pela conexão que faz com os Nodos. Sua fundamental ligação com Quíron estará na próxima secção, com a sua intervenção social através da meditação e das palestras que partilha nas escolas. As nossas limitações são muitas vezes auto impostas através de tendências culturais, ou do meio familiar. Com Saturno em Caranguejo, na Casa 8, os medos e emoções intensas são recebidos m a p a

com alguma resistência, em modo defensivo e territorial. Com desejo de criar ligações mais profundas, mas havendo, por vezes, a dificuldade em aceitar as mudanças que são necessárias. O pai tempo aqui aprofunda as estruturas mais subjetivas, ajudará criar mais flexibilidade nas emoções, para englobar maior amplitude de experiencias. Como está retrógrado será intensificada esta busca para reconstruir, de questionar as fronteiras que se tem com os outros, em visitar fantasmas do passado. Os seus filmes são muito um reflexo cultural do seu meio natal. Atrás das fachadas aparentes, há emoções intensas e violência. Podem aqui se refletir medos relacionados à intimidade, pois os sentimentos intensos, que são mantidos sob controlo, podem implodir, Lynch partilha como estes sentimentos são lindos no cinema e na arte, mas na vida, a tornam tóxica. Ele tem uma atração por espaços com histórias e sensações que lhe cativam, que tocam o seu campo mais sensível. Com este posicionamento compreende-se, tudo o que nasce morre.

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Ao começar a ter família, David Lynch mostra em Eraserhead a ambiguidade dos afetos. Como os filhos são muitas vezes uma restrição ao tempo que um necessita para dedicar ao seu trabalho, ao que lhe dá prazer. Também nesta altura seu pai e irmão apelaram a que desistisse do cinema, pelas responsabilidades familiares, o que ele percebeu que não

era possível, estava tão emergido no filme, no ambiente que criou, muito do cenário tinha construído com as próprias mãos. Temos a Lua em Virgem, que está a predispor este Saturno, ao estar na Casa 10 foca-se na carreira como forma de lhe conferir contexto para aprofundar os espaços obscuros emocionais. Há oposição a Mercúrio, dispositor da própria Lua, o que pode ter conferido na sua infância uma

sensação de responsabilidade em relação à família. Sabemos que mantinha-se nos seus vários níveis de relação, família, escola, amigos, namorada, separados. Havendo muitas mudanças, desde pequeno, tinha episódios de agorafobia, que se relaciona com os espaços amplos. Quando

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não reconhecemos medos eles se transportam em outros fenómenos não diretamente reconhecidos. De qualquer forma, também indica a

necessidade de compreender os seus processos mais subconscientes, e ele faz este processo no que concretiza, estando mais interessado em sentir, do que analisar e pensar.

O que expande em crescimento, necessita de contrair para se cimentar. Reconhecemos que aqui, por estarem os dois planetas interrelacionados em termos de regências (o dispositor de Vénus é Saturno) confere logo à partida um maior impulso no sentido repressivo / sério.

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Não chegamos à libertação da dualidade de Úrano sem passarmos pelo confronto dos processos de dor de Quíron, que está em Balança, na Casa 11, conjunto ao professor Júpiter. Como vimos em Saturno, de onde se origina a ferida, com a oposição a Mercúrio, esta ferida é observada, percecionada, ela vem da emoção mais subjetiva e profunda, com o confronto da violência, que é parte do mundo. Como uma sala de espelhos (Balança), que para Lynch será o seu Black Lodge de cortinados vermelhos e chão preto e branco. Este chão pode ser um representativo da dualidade, e os cortinados, remetem ao teatro, no palco da vido tudo pode acontecer. As máscaras do teatro grego, a tristeza e a alegria, ambas coexistem (Júpiter, Peixes, IC). E com o drama vai-se revelando o diálogo interno (Sol conjunção Vénus). Parece que nos seus filmes o que lhe interessa não será se o expectador compreendeu a narrativa, mas o que nela lhe ativou m a p a

nas suas memórias, nos seus medos, que podem não ser reconhecidos (Saturno Casa 8). Na sala de espelhos, tudo se difunde, e perde, sem estruturas emocionais. E perdidos, permanece o desespero e a confusão de sentimentos. Se não aprendemos a confiar, a poder expressar a intimidade, perdemos o equilíbrio e harmonia nas nossas relações, e facilmente o espelho se projeta num outro. No filme Mullohand Drive, temos a sensação que tudo é um sonho, uma fantasia mental na cabeça de uma atriz sonhadora, quer ser famosa em Hollywood, todas as outras perturbadoras personagens, podem ser um ela mesma, que se recusa aceitar a dura realidade, e prefere ficar na fantasia. Este Saturno nos fala do passado, de medos de antepassados, ou de reminiscências culturais, vemos como Lynch explora visões e olhares sobre a sua cultura, vem de uma geração afortunada, mas do pós-guerra. Há uma grande necessidade de beleza e harmonia, e aprende a percecionar, há uma beleza nas feridas que a vida causa. A ferida do grupo é colocada por Lynch na sétima arte, através de alguns temas: a procura de um parceiro ideal, a conexão

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intima maternal, corrompida por sentimentos ambíguos, a repulsa pelo feio criando segregação, a aparente calma dos subúrbios, escondem a pobreza e violência. É muito comum ele ir a espaços dolorosos entre as relações homem/mulher, de agressividade/passividade, perversão/ repressão (quadratura a Marte e, fora de orbe, a Vénus). Está conjunto a Júpiter, e ele expande a visão sobre o assunto, e a forma como é apreendido. Com 70 anos é um professor do processo criativo que trabalhou em si para poder harmonizar emoções desconfortáveis, e poder as usar para criar. (sol-vénus-quíron). Sendo Quíron o vértice de uma

quadratura em T. Ativa este aspeto de tensão ao convergir, na sua profissão, o comunicar dimensões mais escondidas e ancestrais, de medos que ninguém quer ver, os transpondo na matéria que cria. Para quem reconhece, percebe que o foco é a transformação para maior equilíbrio e aceitação dos processos. Numa outra nota mais pessoal, pode ter havido alguma dor pelo seu sentido de estética diferente, do grupo que não

compreende mas que lhe empurra a ir de encontro consigo, e assim dando a capacidade de revolucionar o sentido de beleza. A libertação, do que já

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não é necessário é ativada com Úrano. O seu símbolo é representativo da união entre as polaridades, para se poder libertar. Está em Gêmeos, na área relacionada ao encontro com o outro, por vezes são estes que nos rompem os nossos pré-conceitos sobre a realidade. Por estar retrógrado acentua a necessidade de espaço, de não ser limitado pelos outros, que a visão fechada dos outros seja para si

impeditiva. Há que largar o que os outros pensam aqui, e focar no espaço próprio das suas ideias. Este planeta por ser o Nesta obra plástica de Lynch, temos uma fistula, aberta, a dor torna-se consciência, aqui representada com olhos.

condutor da Locomotiva da sua Carta, acentuou a necessidade de Libertação. 26


Lynch nasceu com estes 3 planetas transpessoais a fazerem aspeto entre si, fazendo, o que denominamos de pequeno grande trígono. Esta configuração tem vértice com Plutão em Leão, Fogo, Neptuno e Úrano estão em Signos de Ar, Balança e Gêmeos, respetivamente. O trígono é impulsionado pelos dois sextis, expandindo a uma capacidade expressiva e criadora, comunicativa, potenciando a conexão com as belas ideias subtis. É uma porta ao poder da expressão individual criativa. Estes planetas não fazem aspeto ptolemaico a nenhum outro, senão a própria configuração, aumentando assim o poder da sua dinâmica própria, e encaminhando, este interlaçar, aos signos que regem – escorpião, peixes e aquário. A libertação que Úrano pede será nas suas ideias, de ser com a sua individualidade, e honesto com o que pensa nas suas relações com os outros. Em Gêmeos, dará ideias excêntricas e pensamentos inovadores, m a p a

que procurará concretizar, estando Mercúrio em Capricórnio. Este planeta, na carta, será o guia na atuação das restantes energias planetárias. É evidente que Lynch é um comunicador, inusual, mas que procura comunicar sentimentos e emoções (saturno em caranguejo). Para os apreciadores de cinema é clara a sua genialidade na expressão, com contornos de muito método de um saber intuitivo mas com persistência e paciência necessária para a concretização. Ao estar na Casa 7, o seu cinema é um espelho da sociedade americana, do seu meio disruptivo meio cultural. Na sua técnica faz reflexões sem o querer ser, expõe puzzles disponíveis à revelação, ao desmontar, para quem se quiser clarificar, libertar. O seu Sol, em grau anarético caminha para Aquário, estando assim o saturno já embebido de inventividade. Lynch revolucionou a televisão com a sua série Twin Peaks, e os ambientes que retrata são sempre os familiares, os de proximidade (Casa 3 – Gêmeos). Neptuno de Balança está com as raízes mais profundas do seu ser, é coregente de

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Peixes que está no Fundo do Céu, na infância vivia num mundo idílico. Sabemos que se estruturou na Meditação, e como pesca imagens, ideias,

ao se silenciar e sonhar acordado. Conectando-se com belo, na sensação que surge a partir do interior. Percebemos o seu entusiasma pela beleza que encontra em tudo, mesmo o que para os outros é feio. O trigo de Úrano numa energia versátil, interessada no outro, rompe com os preconceitos. O vértice deste pequeno grande trígono é Plutão, onde culminam as experiencias reveladoras destes planetas distantes, numa transformação da sua individualidade e do seu sentido de identidade e propósito, sendo ele co-regente do Ascendente, e ter relação com o Sol, por estar em Leão. As ideias superiores são recebidas de uma forma intensa e revelam-se através do entusiasmo que provoca, a partir do profundo interior para a superfície, e para os meios utilizados para se expressar no mundo. A ligação do inusual Úrano em Gémeos abre a porta, não vamos esquecer, Mercúrio é o único deus do olimpo a poder transpor as portas do

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submundo, ele transporta as almas, é o deus psicopompo. Mercúrio está conectado a Saturno, através de Capricórnio, na Casa 8, ambos em conexão com a morte, com medos profundos ou reprimidos, com os processos de transformação, e de confronto os limites dolorosos. Esta dinâmica planetária é evidente em Mulholland drive, uma jovem atriz

parte para o seu sonho em Hollywood, e é confrontada com o lado sombrio do meio (plutão em leão), conhece uma mulher amnésica, apaixona-se projeta-se nela (neptuno em balança), iniciando um ciclo disruptivo de eventos em que ambas ficam iguais (úrano em gémeos).

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Com a análise das posições planetárias nos são evidenciadas dinâmicas dos indivíduos. O sentido de propósito é central para como se desenvolvem estas energias, e como são direcionadas conscientemente. Nos pontos de interceção da relação Terra, Lua e Sol, a Astrologia conecta com o nosso sentido de propósito e com aprendizagens que são fulcrais para o nosso crescimento e expansão. O Nodo Norte, a ponta da agulha de uma bussola interna, aponta a novas experiências. Correlacionamos assim este ponto, com a expansão de Júpiter, com a vitalidade solar e os dons que recebemos de Vénus. O Nodo Sul nos indica os padrões lunares, hábitos que já não servem, as reações marcianas, e os medos que nos restringem de Saturno, após reconhecido, este passado serve como alicerce para construirmos a nossa maior concretização. Na cauda está a m a p a

força vital que faz o dragão emergir e voar. No caso de Lynch temos o seu Nodo Lunar Norte a apontar para o comunicativo signo de Gémeos, alimentado pelo saber Sagitariano. Este saber reminiscente, intuitivo (trígono lua), é reconhecido pelas sensações (casa 2), com entusiasmo (sagitário), no apreciar da beleza (balança) das suas visões que recebe dos princípios universais da casa 11 (júpiter). É raiz da expansão dos seus recursos e dos seus dons, que lhe ativa a procura (mercúrio) de revelar o oculto (casa 8), nos processos internos conectados às emoções, ao seu sentido de pertença (mercúrio casa 2), procurando uma via de expressão prática, de concretização (mercúrio em capricórnio). O seu sentir do mundo, no que lhe é ativado, potencia a sua comunicação/expressão. Com a conexão de Júpiter aos Nodos, o seu caminho foi fomentado ao reconhecer qual a sua própria visão, relacionando-se com os outros, mas aprendendo a não comprometer o que pensa, e como dirige a sua criação artística. É evidente, a sua jornada, com o silenciar da mente inferior e

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conectar com o abstrato. No inicio da sua vida talvez mais evidente esta preocupação, relata no documentário The Art Life, a importância dos amigos nas suas decisões, e como são por vezes os outros que lhe ativam o reconhecer do que quer. É interessante notar que aqui temos Júpiter conectado ao Nodo Sul, e Saturno ao Nodo Norte, por ser regente de

Mercúrio, a semente interna expande no conhecimento conectado ao belo do impulso grosseiro e selvagem da vida, necessitando de o expressar, aprimorando e estruturando a sua aprendizagem, conhecendo como se relacionar com os outros de igual para igual. Nodo Sul em Sagitário mostra conhecimento adquirido no passado, lembro que Lynch teve alguma dificuldade nos seus estudos, pois não lhes achava interesse,

ficava aborrecido com a repetição de exercícios sem o fomento de uma verdadeira aprendizagem, da mesma forma nunca se interessou muito em fazer grandes viagens, pois no seu meio encontra espaço para interações

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ricas. A Part da Fortuna está em Carneiro, na Casa 5, e é onde se realiza o nosso propósito com retorno de benefícios. Aqui temos Lynch a ter o retorno ao ser reconhecido pela sua autenticidade, por ter criado de

acordo com a sua individualidade, respeitando a sua visão e intuição. Ele tem objetivos concretos (marte conjunto saturno), ir em busca do sentimento (marte em caranguejo), procurar a sua origem abstrata (casa 8), e agir criativamente com este impulso, de seguir as suas paixões e as colocar em ação.

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David Lynch, com 75 anos, continua ativo a criar, estimulado pelas ideias que pesca do seu mar subconsciente. Quando me aventurei a analisar a sua carta, fui sem saber o que me esperava. Pelo trabalho cinematográfico, que conhecia, estava à espera da presença escorpiónica, das formas no elemento terra, pelo método e persistência que encontrava na figura, de algum indicativo do invulgar, também evidente nele, e de algo que lhe ligasse às reminiscências do seu país, por ser clara a sua dimensão tradicionalista, muito conectada à sua cultura, e ao desmontar dos valores americanos. Fui surpreendida ao encontrar estas conexões, mas num arranjo próprio, que me comoveu. Entrar na Carta Natal de alguém é ir ao encontro de um ser, que vive, que sonha, que tem esperanças, desesperos, seja uma figura pública, existente no nosso abstrato, seja ele outro alguém próximo, existente na sua intimidade.

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Procuramos nos aproximar da complexidade de um ser, através de um referencial milenar que tem o dom simbólico, de chegar sem tocar, de

conter sem fechar, de indicar sem apontar. O Ser, continua no seu lugar distante, os tons com que se manifesta, dependente do nosso engenho enquanto astrólogos de correlacionar as várias dimensões, nas várias técnicas, afinando a interpretação com as nossas próprias experiencias pessoais, estudo e análise. Todos nós nascemos com um potencial. Uma semente necessita de se abandonar para poder se transformar. A vida

provoca situações que somos forçados a utilizar as ferramentas que temos, ou desistir da causa e vegetar. Os obstáculos internos, podem e devem ser utilizados criativamente, e muitas vezes o impedimento é o preconceito da dualidade do bem e do mal. Os impulsos de violência e destruição, vistos como causas, e não sintomas de expressões naturais de dinâmicas de aprendizagem. A sua predominância de elementos femininos,

dá-lhe uma natureza recetiva que lhe permite observar intuitivamente os espaços. Ele fala-nos de um sentimento: por vezes entramos numa casa, uma sala, e sentimos algo estranho, misterioso, incomodativo, que não compreendemos, mas, simultaneamente, nos fascina. Nos seus filmes vemos estes espaços, criados através da magia do cinema. Lynch no seu trabalho cinematográfico, expõe a cultura americana, a cultura humana,

dos prazerem da partilha, do trabalho, das ligações entre os seres e a natureza, e a dimensão aparentemente bizarra, louca, distópica que observamos no nosso mundo. O palco da vida, no espelho da arte.

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Toda a carta, e personalidade de Lynch, interconecta-se numa trindade planetária, Mercúrio – Saturno – Lua. O interpelando a investigar na compreensão dos processos emocionais, de uma forma prática através do trabalho que realiza, com foco na sua carreira. A dimensão subconsciente é de linguagem simbólica e ambígua, compreendida intimamente e utilizada por Lynch nas suas criações. Ao aprender técnicas de meditação aprendeu um equilíbrio chave para o seu desenvolvimento criativo. Os seus medos, ansiedades e frustrações, a vertigem de espaços amplos; aceites, encontraram um chão seguro para poder caminhar. Navegar nas águas emocionais requer muita estrutura, e o que pode ser desestabilizador, pode tornar-se uma via criativa.

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La Llorona – Mullholand drive – no espaço do Silencio, ouvindo a tristeza.

Yo estaba bien por un tiempo volviendo a sonreír Luego anoche te vi tu mano me tocó y el saludo de tu voz Y hablé muy bien y tú sin saber que he estado llorando por tu amor llorando por tu amor Luego de tu adiós sentí todo mi dolor Sola y llorando, llorando, llorando No es fácil de entender que al verte otra vez yo esté llorando https://lyricstranslate.com/en/llorando-crying.html

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Mergulhar na dimensão lynchiana pode ser desconfortável, vemo-nos confrontados com emoções que preferíamos não olhar, como uma intimidade que é exposta e sentimos vergonha. Ao olhar para a sua carta, com a simbologia da astrologia, senti que as forças que nos atravessam são amplificadas se permitimos as vivenciar com intensidade e inteireza. Estudarmos figuras públicas é útil, e mostra como os seres no seu sucesso, com realização no que amam, aprenderam a utilizar as suas forças e o seus impulsos, e a criar com elas ao invés de serem derrotados. David Lynch é uma inspiração pela qualidade do seu trabalho e como ser que se expressa na sua autenticidade. Nos lembra que há um lado obscuro, não para ficarmos nele, mas para reconhecermos a multiplicidade dos processos da vida.

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GUIMARÃES, Isabel, Manual Curso de Astrologia Nível 1 e 2, 2019 ARROYO, Stephen. Astrology, Psycology and The Four Elements, California: CRCS, 1975. https://en.wikipedia.org/wiki/David_Lynch https://www.astrotheme.com/files/unaspected_planets.php Documentários: David Lynch: The Art Life https://vimeo.com/264777125 WEB: https://www.davidlynch.de/biography/ http://astrothonodoslunares.blogspot.com/p/nodo-norte-em-gemeos-nodo-sulem.html Youtube: Linda Faludi Chanel https://www.youtube.com/channel/UCVdYdogQM2xd29HUOED4EbQ DavidLynch Theater https://www.youtube.com/channel/UCDLD_zxiuyh1IMasq9nbjrA David Lynch Fundation https://www.youtube.com/channel/UCMU6mI6O8yqUe50M-SZM5Wg

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P A U L A

C O S T A

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