Análise de Mapa Astral de Fernando Pessoa

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Análise de Mapa Astral de

Fernando Pessoa

Curso de Astrologia Nível 2 Faces de Isabel Guimarães Janeiro de 2019 Formanda: Carla Barba-Rôxa


Resumo biográfico “Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, Não há nada mais simples Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus.” Fernando Pessoa/Alberto Caeiro; Poemas Inconjuntos; escrito entre 1913-15; publicado em Atena nº 5, Fev. 1925. Fernando Pessoa foi o expoente máximo do Modernismo português, um dos mais importantes poetas da língua portuguesa, a sua pátria, que levou aos quatro cantos do mundo através da sua escrita traduzida. Foi referido por críticos internacionais, a par com Pablo Neruda, como o mais representativo poeta do século vinte na Literatura Universal. Nasceu em Lisboa a 13 de junho de 1888, às 15h20 (confirmado através da técnica de acerto de hora). Diz a numerologia que, sendo 888 o fim de um ciclo, nos devemos preparar espiritualmente para a transformação e novos começos que o número 8 anuncia. É também ponte para a passagem do mundo terreno ao celestial. E viveu bem o nosso poeta esta metamorfose e transcendência. Foi também o ano em que a teosofia de H. P. Blavatsky foi publicada em “A Doutrina Secreta”. Seu nome completo, segundo as suas próprias notas biográficas, é Fernando António (quiçá em homenagem ao santo do dia em que nasceu e/ou aos seus avós) Nogueira (herdado da mãe) Pessoa. De “ascendência geral”, segundo o próprio, de um “misto de fidalgos e judeus”, é filho de Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, natural dos Açores, e de Joaquim de Seabra Pessoa, de raízes em Arouca, funcionário público do Ministério da Justiça e crítico musical do Diário de Notícias. Neto paterno do General Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dionysia Seabra (com quem vivia no início, juntamente com o resto da família); neto materno do Conselheiro Luiz António Nogueira e de D. Magdalena Xavier Pinheiro. Entre os seus ancestrais, conta com um quinto avô paterno, Sancho Pessoa, judeu, o qual fora astrólogo e salmista, que criou família no Fundão após estar preso na Inquisição de Coimbra (segundo testemunho de Mário Saa). Recebendo esmerada educação de sua mãe, que era, inclusive, dotada em línguas, começou a escrever aos 4 anos. Das quatro obras que publicou em vida, três foram em língua inglesa. Traduziu também obras de inglês para português e vice-versa, como, por exemplo, de Almada Negreiros e Edgar Allan Poe. Em Janeiro de 1993, nasce o seu irmão Jorge. Fernando Pessoa perde o pai aos 5 anos de idade, vítima de tuberculose, com 43 anos. O irmão falece com menos de um ano. A família fica em estado de pobreza, leiloa as mobílias e muda-se para uma casa mais simples, o terceiro andar do n.º 104 da Rua de São Marçal. Em 1894, ao perfazer 6 anos, Fernando Pessoa cria o seu primeiro heterónimo, denominado “Chevalier de Pas”, e escreve o seu primeiro poema, intitulado “À Minha Querida Mamã”: “Ó terras de Portugal Ó terras onde eu nasci Por muito que goste delas Ainda gosto mais de ti.” Em 1895, a sua mãe casa-se novamente, com o comandante militar João Miguel Rosa, por procuração. Dado este ser nomeado cônsul de Portugal em Durban, a família move-se para a África do Sul, para ir ter com ele, onde o infante estuda em colégio de freiras irlandesas e na Durban High School (ingressa em 1899 2


e é aprovado com distinção em 1901) e, o mais importante, adquire conhecimento profundo da língua inglesa, que viria a ser determinante para as suas vias profissionais. As mortes continuam a assolar a sua infância. Em 1901, perde a sua meia-irmã Madalena Henriqueta, que tinha apenas 3 anos e, em 1906, Maria Clara, que contava com somente 2. Tantas perdas familiares viriam a refletir-se na sua personalidade e no seu estilo literário. “ANIVERSÁRIO No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava morto. Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, De ser inteligente para entre a família, E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida. Sim, o que fui de suposto a mim mesmo, O que fui de coração e parentesco, O que fui de serões de meia-província, O que fui de amarem-me e eu ser menino. O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui... A que distância!... (Nem o acho...) O tempo em que festejavam o dia dos meus anos! O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa, Pondo grelado nas paredes... O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas), O que eu sou hoje é terem vendido a casa. É terem morrido todos, É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio... No tempo em que festejavam o dia dos meus anos... Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez, Por uma viagem metafísica e carnal, Com uma dualidade de eu para mim... Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes! Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui... A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos, O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado —, As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos... Pára, meu coração! Não penses! Deixa o pensar na cabeça! Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus! Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias. Serei velho quando o for. Mais nada. Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!... O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!... 15-10-1929 Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa.”

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Teve mais uma meia-irmã (Henriqueta Magdalena - 1896, que teve geração) e dois meios-irmãos (Luís Miguel – 1900 e João Maria - 1903). Parte com a família em 1901 para Lisboa, para um ano de férias, onde nasce o seu meio-irmão João Maria, o quarto filho do segundo casamento da mãe. No seio da família, Pessoa procura momentos de reflexão isolando-se. Regressa sozinho, depois da família, à África do Sul, matriculando-se na Durban Commercial School e, em 1903 candidata-se à Universidade de Capetown. Um ano depois, ingressa novamente na Durban High School, continuando a aprofundar a sua cultura, sobretudo britânica. Recebe, nos seus estudos, várias distinções. Volta a Lisboa em 1905, indo viver com uma tia na Rua de São Bento e, mais tarde, com a sua avó paterna, na Rua da Bela Vista à Lapa. Em 1906, matriculase no Curso Superior de Letras, abandonando-o pouco depois, pois acreditava que os seus conhecimentos em literatura e não só ultrapassavam os dos professores. Começa a explorar os escritores portugueses. Era um leitor insaciável e erudito em matéria filosófica e literária. Em 1907, a avó Dionysia, demente na fase final da vida, deixa-lhe uma herança com a qual monta uma tipografia, que não sucedeu. Aluga um quarto em 1908 e, valendo-se dos seus conhecimentos da língua inglesa, trabalha com diversos escritórios em Lisboa, tratando da correspondência internacional. Em 1910, escreve poesia e prosa em português, inglês e francês. Em nota biográfica da sua autoria, de 1935, Pessoa diz ter como “Profissão: A designação mais própria será «tradutor», a mais exata a de «correspondente estrangeiro em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui profissão mas vocação.” Ainda em 1907, revela um dos primeiros escritos ocultistas, através do heterónimo Alexander Search, criado em 1899, sobre um pacto com Jacob Satanás. Tinha perceção do Ser Divino, que iluminava a sua alma, transpondo-o para uma oração em 1912: “Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu! Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo está – (o teu templo) – eis o teu corpo.” O ocultismo e o misticismo constituíam um dos seus grandes polos de interesse, especialmente a Maçonaria e a Rosa-Cruz, tenho escrito "No Túmulo de Christian Rosenkreutz", apreciado entre os esotéricos. Fez mais de mil mapas astrológicos. Escreveu poemas esotéricos, como Gládio, em 1913, incluído n’A Mensagem. Em 1915, toma contacto com as doutrinas de H. P. Blavatsky, o que o revoluciona a nível espiritual e filosófico. Traduz textos e livros teosóficos, o que produziu efeitos na sua alma, tal como descrito a Mário de Sá-Carneiro, sua alma gémea. Com ele, dirigiu a revista Orpheu, que veio agitar o meio da época. Símbolo do Modernismo em Portugal, foi alvo de grande controvérsia pela sua inovação e irreverência. O primeiro grupo modernista português, do qual Almada Negreiros também fazia parte, ficou conhecido como a Geração d’Orpheu. Neste mesmo ano em que, são publicados os dois primeiros é únicos números (pelo escândalo literário considerado na época), a sua mãe sofre uma trombose e fica hemiplégica. O seu mundo é abalado por dentro e por fora. Fez parte de tertúlias literárias, por exemplo, no Café A Brasileira, no Chiado. Além de Orpheu, foi redator nas publicações Contemporânea, Athena, Centauro, Presença, A Águia, Portugal Futurista, Gládio e Exílio. Em 1914, cria os heterónimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Escreve O Guardador de Rebanhos e o Livro do Desassossego. O seu amigo e companheiro de trabalho e de ideologias, Mário de Sá-Carneiro, suicida-se em 1916. O único alvo do amor romântico confirmado até agora na sua vida, Ophelia Queiroz (nascida doze anos e um dia depois de si), surge em Maio de 1920, altura em que a mãe e irmãos regressam a Portugal, por morte do padrasto. Em Novembro, rompe com Ophelia, que se havia mudado para o outro lado da cidade, e atravessa uma grande depressão, que o leva a pensar em internar-se numa casa de saúde. Retoma o namoro com Ophelia passados nove anos, de Setembro de 1929 a Janeiro de 1930. São conhecidas mais 4


de uma centena de cartas trocadas com este seu “Amorzinho”, em que os diminutivos, poemas e mimos proliferam. Publica poemas em inglês sob a égide da editora Olisipo, fundada em 1921. A sua mãe morre em 1925. No ano seguinte, dirige a "Revista de Comércio e Contabilidade" com o cunhado. Em 1934, publica Mensagem. Querer descrever o percurso intelectual de Pessoa é tarefa onírica. A sua grande viagem, contudo, centrou-se na investigação do divino e desconhecido, em que recorreu a instrumentos metafísicos e racionalistas, sendo que a única conclusão, já que a nenhuma definitiva chegou, é a de todos os caminhos serem verdadeiros, e o que é preciso é navegar pelo mundo das ideias. O seu legado é vastíssimo. Deixou como espólio cerca de 27000 manuscritos, no baú que funcionava como uma espécie de diário. A 30 de Novembro de 1935, Fernando Pessoa acaba por morrer em Lisboa, no Hospital de S. Luís, devido a uma grave crise hepática (ou pancreatite aguda, segundo um dos estudos). Nessa altura, o seu corpo foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, sendo depois, em 1988, por ocasião do centenário do seu nascimento, os seus restos mortais transladados para o Mosteiro dos Jerónimos.

Autopsicografia O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. s. d., 1ª publ. in Presença , nº 36. Coimbra: Nov. 1932.

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Os luminares do mapa de Fernando Pessoa, bem como a maioria dos planetas, encontram-se no terceiro quadrante, o da maturidade, outonal, e de relacionamento mais abrangente com os outros e a vida exterior, com envolvimento impessoal, sujeito a crises e transformações. A presença de quase todos os planetas (à exceção de Júpiter) no hemisfério sul liga-o a assuntos da sociedade, dependendo o desenvolvimento da sua identidade desta. Pessoa tinha consciência ativa relativamente à sociedade em que vivia e, ao longo da vida, procurou descodificá-la e trabalhar em prol da evolução da mesma. O elemento Ar é claramente dominante na triplicidade do mapa, seguido pelo Fogo e Água e ausência de Terra. Reforça o elemento do signo solar e vem acentuar o temperamento sanguíneo, mais fluido e agitado. O seu cariz social e o uso extremo do intelecto, a ênfase na área da comunicação e o espírito investigativo derivam deste temperamento mental e dinâmico. A família dizia que ele tinha, inclusive, “acessos de excitação cerebral”. A ausência de Terra provoca-lhe necessidade de segurança. A sua cruz é adaptativa e equilibrada, assentando em signos fixos, que se definem pela estabilidade e, confirmada, a procura de segurança. 6


Aspetos da Personalidade: Sol, Lua e Ascendente Sol na casa 8, a 22º59’ de Gémeos, e Lua na casa 9, a 8º26’ de Leão O Sol em Gémeos e na oitava casa vem agitar a curiosidade e produção comunicativa. Este espírito inquieto, ao jeito mercuriano, necessita de inquirir continuamente, com toda a perceção alerta. Na casa natural do Escorpião, tal vem incidir sobre assuntos que outros evitarão, como o oculto, a morte, o sexo. O regente de Gémeos, Mercúrio, o dispositor, neste caso, situa-se a 17º19’ de Caranguejo na casa nove. A caraterística canceriana vem portar sensibilidade e intuição a esta mente, de imaginação fértil mas, por vezes, ligada às emoções e assente nas memórias, tal como se pode verificar na sua poesia. Já a colocação na casa das viagens confere a faculdade de comunicação com pessoas estrangeiras e noutros idiomas, o que de facto o nativo fez toda a vida. Dualidade é palavra-chave para Gémeos. Mas Fernando Pessoa não era dual, era plural. Foi poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português. Na escrita, outrou-se através de heterónimos e pseudónimos. A produção intelectual era imparável. Analisando as duodenárias, verifica-se que este signo de Gémeos tem a assinatura de Peixes, pelo Sol se situar a 22º59’, o que o enriquece com grande sensibilidade, aceitando as feridas para transcendência e caraterizando a sua comunicação pela multiplicidade, imperando o idealismo. Simbolizando este astro também a figura paterna, terá recebido influência do seu pai também na área da comunicação, pois era crítico musical. Quíron faz-lhe conjunção, já no signo representante da família, podendo representar a perda e dor que sentiu ao vê-lo partir tão cedo. Este Sol na casa oito terá facilitado também os seus ganhos por herança, o que aconteceu por parte da sua avó paterna, pelo menos. De aspetos principais, o Sol faz trígonos com Marte e Urano, trazendo harmonia entre espírito e ego e a sua vontade, energia e ação, de forma assertiva, bem como a sua individualidade, desejo de mudança e inclinação para a irreverência. Pessoa gostava de viver sem amarras, para poder cumprir a sua obra. Diz a meia-irmã que “ele era uma pessoa dócil, mas fazia o que queria”. Fazia os horários e trabalhava à sua vontade. Não oficializou qualquer relacionamento. A conjunção com Vénus funde a sua essência com o gosto pelo belo, traduzido na arte, aqui na área da comunicação – a Literatura, e a emotividade e necessidade de afeto e relacionamento deste regente de Balança, a que ambos fazem trígonos. A Lua, o planeta que domina o Meio do Céu em estreita conjunção, direcionando a sua vida: “Tu, de quem o Sol é sombra, De quem cadáver o mundo Meus passos guia, a que ensombra O sentir-se, ermo e profundo! Presença anonyma e ausente De quem a alma é o véu A meus passos de inconsciente Dá o consciente que é teu! Para que, passadas eras, De tempo ou alma ou razão, Meus sonhos sejam esferas Meu pensamento visão” 22-07-1934 – um ano antes da sua prematura morte 7


A 8º26’ de Leão e na nona casa, confere-lhe um certo orgulho, dramatismo e dignificação ao lado emocional e aos seus sentimentos, bem como à forma de nutrir. A casa natural de Sagitário permitir-lhe-á essa manifestação no que tiver a ver com o ir mais longe, a exploração, a liberdade no dia a dia, as mudanças. No ponto mais alto do seu mapa figura este astro que simboliza também a sua mãe, pela qual tinha um verdadeiro culto, sendo muito meigo para com ela. Quando esta regressou a Portugal, hemiplégica, fazia-lhe companhia e lia-lhe os seus poemas, pedindo a sua opinião. Era a sua alegria. Nas palavras da meia-irmã, Henriqueta Madalena: “Para lá do terror à morte, a mãe era talvez o único laço a prendê-lo à vida”. Esta também se preocupava imensamente com o seu primogénito e a sua vida “diferente”, o seu isolamento e a dificuldade financeira. Dizia, segundo a filha: “Os meus outros filhos talvez não sejam tão inteligentes como o Fernando, mas ao menos são mais normais”. O regente de Leão é um Sol geminiano e na casa da transformação, que lhe vem permitir transferir para a palavra, com versatilidade, todo esse seu lado emocional, tudo que tem dentro da sua alma, aqui na sua casa natural. Assim, dá-o a conhecer dessa forma, pois de outra seria difícil, pelo caráter introvertido e a tendência de ocultar. Os aspetos principais que afetam esta Lua leonina são o trígono com Júpiter, a conjunção com Saturno e os sextis com Urano e Plutão. O lado emocional de Fernando poderia ser harmónico com a índole expansiva, crente, sábia e desprendida jupiteriana e ligado ao lado racional saturnino que se autoinflige disciplina, com oportunidade de crescimento no desapego e diálogo intuitivo proporcionados por Urano e de se regenerar emocionalmente com o impulso plutónico. O seu Ascendente, Escorpião, nasce a 4º05’. Este é o signo do poder, que confere a Pessoa toda a sua força escorpiónica de investigação do oculto e de mergulhar nas profundezas pantanosas da emoção. O seu olhar aparentemente terno mas penetrante, sob os caraterísticos óculos redondos, que vê para além do imediato, a sua capacidade de penetrar na alma, não só na sua, mas também na coletiva, a investigação de causas até ao limite e, no fundo, a sua demanda de poder (no uso da palavra para comunicar, estando o regente, Plutão, no seu signo solar de Gémeos) assertam este ascendente, que parece discreto mas gosta de saber de tudo “à paisana”, para dominar. Da tendência luxuriosa, pouco ou nada se sabe, já que a discrição era à altura do Escorpião. De relevância dominante, Plutão, o regente do seu Ascendente, encontrando-se no seu signo solar e na sua casa natural, a oitava. Tal vem dotar este geminiano de profundeza escorpiónica e visceralmente transformadora e inquisitiva. O seu esoterismo, bem conhecido, deriva daqui. Este Sol espiritual, com visão profunda da alma, conhece bem luz e sombra. O corregente, Marte, antecipa Escorpião na espiritual casa doze, acentuando os seus dons profundos e humanitarismo. Daqui podem também advir inimigos ocultos e alguma falta de nitidez relativamente ao desejo, bem como alguma negatividade mental do inconsciente, que poderá ter registado sofrimento, restrição ou reclusão e perdas. Consta que, apesar da família e amigos e conhecidos, passava muito tempo sozinho. Segundo a meia-irmã: “[…] o Fernando foi muito infeliz! Pesou-lhe a solidão a vida toda. Todos aqueles quartos… Foi uma pessoa muito só, incompreendida, embora todos gostassem muito dele”. Deu-lhe contudo ímpeto trigonal para realizar a sua essência, pondo os seus valores ao serviço da comunicação, para a humanidade e de forma transmutadora. “Tudo quanto sonhei tenho perdido Antes de o ter. Um verso ao menos fique do inobtido, Música de perder. […]” Fernando Pessoa – Obra Poética, III Volume, Poesias Inéditas, Círculo de Leitores 8


Aprendizagem, Valorização e Ação: Mercúrio, Vénus e Marte

O dispositor do mapa é Mercúrio, pela concentração de planetas em Gémeos. O intelecto é a linha condutora das principais ações na vida do génio. Mercúrio, o Mensageiro. Como Pessoa. E a sua “Mensagem”. Mercúrio a 17º19’ de Caranguejo e na nona casa confere à sua atividade comunicativa e intelectual um caráter introspetivo, ligado às emoções. A memória e a imaginação proliferam em terreno canceriano, frequentemente com sentimento. Tal como já referido, por este ser o regente do seu signo solar. A sua poesia reflete esta conjugação. A aptidão poliglota e de relacionamento com o estrangeiro, que lhe serviram de base para todos os potenciais que desenvolveu, a começar pelo de correspondente comercial internacional, passando pelo de tradutor e escritor, e sem esquecer o de astrólogo, derivam do posicionamento em casa sagitariana. O aluno em Pessoa despertou em tenra idade e era ávido. Começou a aprender línguas com a sua mãe e tornou-se bilingue luso-anglófono na África do Sul, onde frequentou o colégio de freiras irlandesas e a Durban High School. No retorno, matriculou-se na Durban Commercial School e, em 1903, candidatou-se à Universidade de Capetown. Foram-lhe atribuídas várias distinções ao longo dos estudos. O seu espírito inquisitivo lançou-se em matérias como a filosófica e literária, passando pela esotérica, e chegou a desistir em pouco tempo do Curso de Letras por crer saber mais do que os professores e que tal não lhe vinha acrescentar à vontade de saber, que aprofundou por autoaprendizagem. O regente de Caranguejo, a Lua, vem reforçar toda a relevância deste posicionamento ao apontar para a direção de vida, no Meio do Céu e em Leão. O brilho deste artista assenta no relacionamento destes astros. Mercúrio faz quadratura à conjunção de Marte com Urano. Marte tensiona-o, tornando as suas palavras mais rudes na reação a certas comunicações que o tenham inflamado. O desafio uraniano acentua-lhe a excentricidade ideológica e o temperamento inquietante, afastando a diplomacia, e podendo trazer alguma insensatez e vaidade dogmática e intelectual. O seu opinatismo político (também como comentarista) e até mesmo reação antirregime salazarista refletem estas tensões: “António de Oliveira Salazar. Três nomes em sequência regular... António é António. Oliveira é uma árvore. Salazar é só apelido. Até aí está bem. O que não faz sentido É o sentido que tudo isto tem. ...... Este senhor Salazar É feito de sal e azar. […] Bebe a verdade E a liberdade. E com tal agrado Que já começam A escassear no mercado. Coitadinho Do tiraninho! O meu vizinho 9


Está na Guiné E o meu padrinho No Limoeiro Aqui ao pé. Mas ninguém sabe porquê. Mas enfim é Certo e certeiro Que isto consola E nos dá fé. Que o coitadinho Do tiraninho Não bebe vinho, Nem até Café. s.d. Da República (1910 - 1935). Lisboa: Ática, 1979. 1ª publ. in Diário Popular , Lisboa, 30 Maio e 6 Junho 1974. Em Orpheu, que surgiu numa época de grande instabilidade política, Pessoa publicou poemas como “Ode Triunfal” e “Opiário”, sob o heterónimo de Álvaro de Campos e que escandalizaram a sociedade da época, que apelidava os participantes da revista de “loucos”. Como crítico literário, a acutilante e impaciente influência marciano-uraniana fazia-se também notar: “Mas voltemos, acusadoramente, ao caso. O Sr. Lopes Vieira é um criminoso. É-o por três razões. Está estragando, com o seu gato-por-lebre de simplicidade, o rudimentar senso estético de crianças, que, mesmo que sejam só duas, são classificáveis de inúmeras, ante o horror do crime. - Está tornando ridículos assuntos que conviria tratar com uma decência que a estupidez, mesmo quando involuntária, nunca tem. Pobres cães nossos amigos tinhosos de Lopes Vieira. Pobre Bartolomeu Dias, tão embobecido de pedagogias! - E, por último, para tudo de nocivo ser, o Sr. Lopes Vieira é até antipedagógico […]” A Naufrágio de Bartolomeu, in Teatro: Revista de Crítica, nº 1. Lisboa, 1-3-1913

Vénus a 15º16’ de Gémeos na casa 8 A criatividade, tendências afetivas e relacionais revestem-se de caráter arguto, necessitando de informação, sendo percetivas e adaptáveis. É isto que torna este nativo feliz: comunicar com profundidade. Na esfera pessoal, será alterável, com relacionamentos com tendência para mais superficiais ou transitórios. O regente deste cenário encontra-se na casa seguinte, a nove, e em Caranguejo, o que dará a esta vertente um caráter tanto patriota como internacional Com a influência da casa escorpiónica, há uma capacidade de transformação nos relacionamentos, que pode gerar medo de perda. Os ganhos financeiros poderão advir de uma intuição comercial apurada e de heranças. Recebeu a da avó Dionysia, pelo menos. Teve incursão em vários negócios, individuais ou com sócios. As perdas é que podem ter estado presentes aqui também (a sua mãe preocupava-se em ele não ser capaz de formar um lar, por não ter possibilidades financeiras).

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Ora, na área do relacionamento amoroso, a única mulher conhecida (ainda que posteriormente, para muitos) da vida do poeta é Ophelia Queiroz. Teve dois períodos de relacionamento com ela, mas talvez mantendo muitas vezes a distância, encurtada pelas cartas que lhe escreveu e nas quais a mima como uma criancinha, pois tinha somente 19 anos quando se conheceram nos escritórios da baixa lisboeta, onde ele trabalhava como tradutor de correspondência comercial, aos 32 anos, e ela entrou como datilógrafa. A correspondência entre ambos revela grande pureza e doçura, tendo Ophelia sido provavelmente a única a conhecer-lhe um lado diferente do melancólico e introspetivo ou inquisitivo. Foi o seu alvo de amor venusiano com mistura escorpiónica: “Meu Bebé pequeno e rabino: Cá estou em casa, sozinho, salvo o intelectual que está pondo o papel nas paredes (pudera! havia de ser no tecto ou no chão!); e esse não conta. E, conforme prometi, vou escrever ao meu Bebezinho para lhe dizer, pelo menos, que ela é muito má, excepto numa coisa, que é na arte de fingir, em que vejo que é mestra. Sabes? Estou-te escrevendo mas não estou pensando em ti . Estou pensando nas saudades que tenho do meu tempo da caça aos pombos ; e isto é uma coisa, como tu sabes, com que tu não tens nada... Foi agradável hoje o nosso passeio — não foi? Tu estavas bem disposta, e eu estava bem disposto, e o dia estava bem disposto também (O meu amigo, não. A. A. Crosse: está de saúde — uma libra de saúde por enquanto, o bastante para não estar constipado). Não te admires de a minha letra ser um pouco esquisita. Há para isso duas razões. A primeira é a de este papel (o único acessível agora) ser muito corredio, e a pena passar por ele muito depressa; a segunda é a de eu ter descoberto aqui em casa um vinho do Porto esplêndido, de que abri uma garrafa, de que já bebi metade. A terceira razão é haver só duas razões, e portanto não haver terceira razão nenhuma. (Álvaro de Campos, engenheiro). Quando nos poderemos nós encontrar a sós em qualquer parte, meu amor? Sinto a boca estranha, sabes, por não ter beijinhos há tanto tempo... Meu Bebé para sentar ao colo! Meu Bebé para dar dentadas! Meu Bebé para... (e depois o Bebé é mau e bate-me...) «Corpinho de tentação» te chamei eu; e assim continuarás sendo, mas longe de mim. Bebé, vem cá; vem para o pé do Nininho; vem para os braços do Nininho; põe a tua boquinha contra a boca do Nininho... Vem... Estou tão só, tão só de beijinhos ... Quem me dera ter a certeza de tu teres saudades de mim a valer . Ao menos isso era uma consolação... Mas tu, se calhar, pensas menos em mim que no rapaz do gargarejo, e no D. A. F. e no guarda-livros da C. D. & C.! Má, má, má, má, má...!!!!! Açoites é que tu precisas. Adeus; vou-me deitar dentro de um balde de cabeça para baixo para descansar o espírito. Assim fazem todos os grandes homens — pelo menos quando têm — 1º espírito, 2º cabeça, 3º balde onde meter a cabeça. Um beijo só durando todo o tempo que ainda o mundo tem que durar, do teu, sempre e muito teu Fernando (Nininho). 5.4.1920 - Cartas de Amor. Fernando Pessoa, Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994). Deixo a transcrição integral por considerar das suas mais belas obras, que revelam a sua faceta íntima versus a social conhecida por todos e espelham tão bem várias das suas facetas astrológicas. Este amor foi oculto da sua família e discreto relativamente aos restantes. Só as cartas revelaram a sua verdadeira profundeza, e já depois da sua morte – Gémeos, Vénus e casa oito. Nota: escreveu, a dias de morrer, “The happy sun is shinning”, que se julga poder ser dirigido a uma mulher, também, uma loira misteriosa, que vivia na Grã-Bretanha. Há também rumores de ter tido outras “admirações”. Mas sempre na sua atitude tímida. Ele não queria que se soubesse desta sua faceta, em que se expunha romanticamente e de forma sincera, por julgar talvez antagónica à da sua missão relativa à obra. De facto, o sobrinho de Ophelia com quem privou, Carlos Queiroz, questionou: “Como teria sido possível ao mais poeta dos homens e ao mais intelectual dos poetas portugueses (e, aqui, a palavra ‘portugueses’ tem uma importância muito especial) libertar a tal ponto o coração de literatura?!”.

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“Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas.” 21-10-1935 - Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. 1ª publ. in Acção, nº41. Lisboa: 6-3-1937. Ophelia manteve a discrição também e só veio a revelar a correspondência aos seus 86 anos, de irritada aquando de rumores sobre homossexualidade de Pessoa. Este Vénus faz conjunção com o Sol, já exposta e que revela o seu poder de fazer os outros felizes, pela profundidade de sentimentos. O seu romantismo advém daqui. Apesar da sua imagem introvertida, Pessoa, segundo os mais chegados, era dócil e brincalhão. Brincava, como se vê, com Ophelia, fazia partidas à irmã, ficava em galhofa e conversas com os irmãos até às tantas e tinha uma paciência infinda com os sobrinhos, com os quais se divertia imenso. Faz trígonos com Marte e Urano, também. A sua veia artística beneficia com este trígono marciano. Este seu lado divertido e sensual também. Ele sabe como fazê-los trabalhar para conquistar. Marte confere aqui dinamismo. Urano vem inflamar com esta espontaneidade e dramatismo. Os seus relacionamentos serão tudo menos comuns, cheios de energia, e será considerado popular. Pessoa valorizava extremamente os seus relacionamentos ou as suas fusões, que o ajudaram a atingir muitas metas na vida e contribuíam para o seu equilíbrio. Vénus bem aspetado a Urano e Marte justifica-lhe também a sua paixão pela música clássica (influenciada também provavelmente pelo seu pai, musicólogo).

Marte a 14º55’ de Balança na casa 12 Ainda na esfera pessoal, a ação de Marte é aqui suavizada pelo signo de Balança, podendo dar origem, contudo, a hesitações típicas. Adiava continuamente a publicação da sua obra, dizia que andava a organizá-la: “Tenho porém certeza de que por mais tempo que ele vivesse, acharia sempre que não era a altura”, afirmou Henriqueta. Poderão também advir controvérsias com eventuais parceiros, astutamente decididas com estratégia e ponderação. Ophelia chegou a zangar-se com ele por suspeitar existir outra mulher, que ele soube refutar na escrita. A posição na casa da transcendência do zodíaco impele a fazer pelo bem da humanidade, para a qual Pessoa trabalhava conscientemente, de dentro para fora. Aspetado a Urano em conjunção e Sol, Vénus, Plutão em trígono, além de quadratura a Mercúrio. Dos ainda não tratados, a fusão da energia marciana com o desejo de inovação uraniano permite-lhe um grito de independência, imprevisibilidade e o ser revolucionário, roçando quase o anarquismo. O benefício plutónico torna-o destemido e confere-lhe um alto grau de evolução, capaz de usar o oculto em prol da humanidade, além da capacidade de regeneração pessoal e do que o rodeia, ativamente e num ponto de vista construtivo; destrói para construir, através da luz do conhecimento, como Shiva, conscientemente e com profundo insight.

“Agora, tendo visto tudo e sentido tudo, tenho o dever de me fechar em casa no meu espírito e trabalhar, quanto possa e em tudo quanto possa, para o progresso da civilização e o alargamento da consciência da humanidade.”

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Otimismo e Estrutura: Júpiter e Saturno Passamos a cintura de asteroides e chegamos aos planetas sociais. Júpiter destaca-se por ser o único planeta do Hemisfério Norte e praticamente domiciliado. A 28º48' de Escorpião, em grau anarético da casa um para a dois, expande a sua vontade de estudar os mistérios mais intrínsecos da vida e de ir para lá do comummente sabido. A proximidade de Sagitário favorece o desenvolvimento da mente mediante os estudos e a experiência das viagens e no ou com o estrangeiro, com entusiasmo e alguma inquietação. Devido à sua retrogradação na altura do nascimento do nativo, provavelmente, na fase precoce da vida, não terá sido fácil seguir a sua fé, o seu caminho, ou os estudos. Terá havido falta de rendimento em vidas antecedentes devido a desperdício ou limitação, ou então excesso de confiança, que não levou ao sacrifício necessário para o êxito. Observando a tabela das efemérides, em que um dia (de retrogradação) corresponderá a um ano, só a partir dos 41 anos é que o sentido de Júpiter terá entrado direto na sua vida. Nesse ano, debitava poemas sob a capa de Álvaro de Campos e retomou o namoro com Ophelia (e.g.). Fé e sabedoria. É o que este planeta atribui ao ascendente escorpiónico para um progresso espiritual positivo e expansão da consciência, visando também a sua transposição para o coletivo. O regente e o corregente de Escorpião, Plutão e Marte, com os quais forma aspeto, influenciam a fazê-lo com profundidade comunicativa transformadora e dinamismo equilibrado e a pensar nos outros. Tal é vincado pela oposição a Neptuno e Plutão na geminiana casa oito. A sua natureza expansiva, entusiasta e espontânea, assente na fé e sabedoria faz ponte com a índole psíquica e intuitiva, com base na compaixão, de Neptuno e com o seu destino, a capacidade de transformar o self e o mundo exterior, residentes em Plutão, sendo necessário estar em permanente equilíbrio nestes eixos. O trígono com Saturno auxilia na sua responsabilidade e integridade, bem como governação financeira, pela prudência e capacidade de coordenação de várias tarefas. A sua faceta pública é favorecida por este trígono, que beneficia ainda a sua boa reputação. Poderia ter sido político se levasse mais avante do comentarismo o seu papel e nesta área. Saturno pré-domina o seu Meio do Céu, a seguir à Lua, estando ainda em conjunção ao mesmo, a 4º05’ de Leão também, e em exílio, o que implicará alguma indolência, rigidez e impaciência (que transparecia nas suas críticas, por exemplo), ou concentração no ego, confirmado com Leão a focar a direção de vida e a relevância que daria ao seu Self. Que poderia dizer-se ser algo soturno? Ser ermita seria também necessário para o cumprimento do seu dever. Este de brilhar para iluminar. Como o regente da casa, o Sol, que o faz no cenário da comunicação com sentido e propósito e um raio leonino deste talento artístico. De aspetos principais, além do trígono com Júpiter, faz sextil com Neptuno e Plutão. Os benefícios destes sextis são fulcrais no seu percurso, pois o primeiro, em que idealismo, honestidade e responsabilidade são denominativos, confere-lhe lucidez e leva até às pesquisas exaustivas e secretas, ao misticismo e ao estudo do oculto. “Ler a sina ou descobrir a personalidade através dos ossos da cabeça tinha sido experiências de pequeno”, relata Henriqueta. O segundo permite-lhe controlar o seu poder e explorar mais além as forças ocultas, mágicas. Em cartas à Tia Anica, relata experiências de escrita automática e hipnotismo. As pesquisas aqui especializam-se na Astrologia. Foi convidado pelo Conselho Magistral do Neopaganismo Português a escrever o volume introdutório da sua propaganda exterior, no qual escreveu: "Eu sou um pagão decadente, do tempo do outono da Beleza, do sonolecer [?] da limpidez antiga, místico intelectual da raça triste dos neoplatónicos da Alexandria. Como eles, creio, e absolutamente creio, nos Deuses, na sua agência e na sua existência real e materialmente superior. Como eles creio 13


nos semideuses, os homens que o esforço e a (…) ergueram ao sólio dos imortais porque, como disse Píndaro, «a raça dos deuses e dos homens é uma só». Como eles creio que acima de tudo, pessoa impassível, causa imóvel e convicta [?], paira o Destino, superior ao bem e ao mal, estranho à Beleza e à Fealdade, além da Verdade e da Mentira. Mas não creio que entre o Destino e os Deuses haja só o oceano turvo [...] o céu mudo da Noite eterna. Creio, como os neoplatónicos, no Intermediário Intelectual, Logos na linguagem dos filósofos, Cristo (depois) na mitologia cristã." O seu heterónimo Alberto Caeiro veiculava este paganismo. Relativamente ao gnosticismo, escreveu, em Nota Biográfica de 1935, ser: "Cristão gnóstico, e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kaballah) e com a essência oculta da Maçonaria. […] Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem dos Templários de Portugal.” O ocultismo e o misticismo fascinavam-no, sobretudo a Maçonaria e a Rosa-Cruz, que defendia publicamente contra ataques por parte da ditadura do Estado Novo (ver resumo biográfico). Escreveu sobre a compreensão crítica dos fenómenos da mediunidade e do espiritismo. Relatou em carta a sua Tia Anica ter começado a ser médium e a redigir escrita automática. Foi apreciador da teosofia; traduziu, em 1916, A Voz do Silêncio, de Helena Blavastsky. Apreciou ainda o Hermetismo. Estudou e fez incursões sobre filosofia, ciências humanas, ciências ocultas, metafísica, o divino. Interessou-se profundamente por Astrologia, tendo traduzido o poema Hino a Pã do famoso ocultista e astrólogo Aleister Crowley. Escreveu-lhe a comunicar alguns erros que tinha lido numa sua publicação inglesa relativa ao horóscopo e Crowley ficou impressionado a tal ponto que veio a Portugal conhecê-lo pessoalmente. Sob o sub-heterónimo Raphael Baldaya, The Astrologer, escreveu o Tratado de Astrologia. Elaborou o seu mapa astrológico e consultava-se constantemente. Criou um mapa astral para cada um dos seus principais heterónimos. Escreveu centenas de páginas sobre Astrologia, incluindo ensaios, cálculos, esquemas, sistematizações e mais de mil mapas de personalidades. Enviava os encomendados pelo correio. Não há registo de consultas presenciais.

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Do ensaio em inglês "Erostratus": "A astrologia é verificável, se alguém se der ao trabalho de a verificar. A razão por que os astros nos influenciam é uma questão a que é difícil dar resposta, mas não é uma questão científica. A questão científica é: influenciam ou não influenciam? A «razão por que» é metafísica e não tem que perturbar o facto, a partir do momento em que descobrimos que é um facto."

Sobre a conjunção da Lua com Saturno (que tem no seu mapa) pelo próprio autor: "A conjunção da Lua e de Saturno é uma das grandes dificuldades da astrologia séria. Ambos os planetas têm a denominação de frios, mas as suas naturezas são radicalmente opostas, de modo que o mal que podem fazer um ao outro contém elementos de eleminação e neutralização. Lembremo-nos que Saturno é, ao mesmo tempo, o planeta da Tristeza, do Destino, e […] A conjunção com a Lua, planeta da Imaginação, […] tem pois um resultado certo – lançar sobre a vida do indígena um manto de desolação, de timidez e de fundo sonhador e tediento. Imaginação inquieta, ambição insaciável sempre e sempre inquieta, grandes alterações na vida, grandes reveses e subidas…" Saturno faz ainda conjunção ao Nodo Norte e ao “Médium Coeli”, impondo estruturação para atingimento da direção e do propósito de vida. Pelo autor nos "Aspectos em acção em 1916" para Raul Leal: "(Nota: os aspectos do Médium Coeli representam cousas que o Destino impõe, sem que seja possível a intervenção da vontade e sem que representem estádios no desenvolvimento do carácter e do destino inferior.)"

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Genialidade, Sonhos e Transformações: Urano, Neptuno e Plutão Alcançamos os planetas transpessoais, que influenciam gerações.

Urano retrógrado a 13º08' de Balança na casa 12 A retrogradação, aqui, poderá assinalar o seu receio de limitação, a sua revolta contra a autoridade e a ânsia de liberdade sem pressões para exprimir a sua originalidade e audácia. Aos 7 anos de idade, estes sentimentos terão sido desbloqueados para viver os da influência direta de Urano. Foi quando viajou para viver na África do Sul. Na sua geração, Urano encontrava-se em Balança, o que pressupõe um período de afirmação de liberdade e direitos mútuos. Estando este na casa natural de Peixes, tal poderá afinar a sua intuição e capacidade de clarividência. Trabalhou para a evolução da humanidade com discrição. O regente de Balança, Vénus, faz-lhe trígono (ver Vénus), transpondo o veículo para essas tendências uranianas para a arte comunicativa. Além dos aspetos com este planeta já mencionados, faltará referir o trígono com Plutão. Urano exalta-se em Escorpião, o regente deste último, pelo que o valor deste signo se redobra aqui. Este trígono descreve na perfeição a genialidade, sonhos e transformação de Fernando Pessoa: o seu sonho de reforma e de transformar a civilização, a sua profunda tendência para o oculto, o estímulo que trouxe ao progresso, a revolução que representou, a sua manifestação contra a opressão, a sua ligação e o interesse pela morte e o espírito, o saber que a regeneração é uma constante necessária. Transformou-se a si e ao mundo. “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” Tabacaria, Álvaro de Campos

Neptuno a 0º39' de Gémeos na casa sete No belo ano de 1888, Neptuno encontrava-se precisamente em Gémeos, o que influenciou a geração com novas informações vindas de planos mais subtis. Coincidência, o livro que veio desbravar a teosofia de H. Blavatsky foi publicado nesse ano. O que Pessoa traduziu. Sem dúvida que este ser acedia a informações de outros planos, para tudo que pensou, desenvolveu e transmitiu. Na sétima casa, pode revelar relacionamentos kármicos e vínculo psíquico aos outros, mas, graças ao seu grau anarético, creio beneficiar das caraterísticas da casa oito, conferindo-lhe profunda intuição que leva a inclinações parapsíquicas e a tal capacidade para aceder, mediante clarividência, a informação proveniente de esferas mais elevadas. “Que isto de «outras afeições» e de «outros caminhos» é consigo, Ophelinha, e não comigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam.” 29-11-1920 - Cartas de Amor, Fernando Pessoa, Lisboa: Ática, 1978 Com o regente Mercúrio em Caranguejo, a mente intuitiva e sensível apoia-o nessa atividade. Dos aspetos de Neptuno, resta falar da conjunção com Plutão. Afinal, parece que quase todos confluem nos mesmos tópicos, exaltando-os. Este último a ser mencionado afeta a sua geração, trazendo grandes mudanças nas estruturas sociais e políticas. Esta geração traz a mudança para as seguintes, em termos de relacionamentos e trabalho. A conjunção destes dois planetas transpessoais é mais um contributo para a importância dada às matérias místicas e espirituais. Poderá incitar a algum extremismo, desorientação e fuga à realidade, com propensão a uso de substâncias que levem a tal, sendo necessário ter cuidado com 16


eventuais doenças. Fala-se do alcoolismo de Pessoa, inclusive devido à sua causa da morte, mas o facto é que a família nunca o viu alcoolizado, apesar de se verem vestígios no seu quarto, como garrafas.

Plutão a 4º55’ de Gémeos na casa 8 Fernando Pessoa foi um dos arautos desta geração de grandes transformações ao nível mental. Na sua casa natural, o reforçado poder oculto de Plutão ajuda a compreender as situações dolorosas de morte com que se depara desde cedo e ao longo da vida, de entes próximos e queridos, procurando dar sentido à vida e levando à busca do imortal. Os assuntos do oculto e a Astrologia vêm, mais uma vez, satisfazer esta necessidade. Obcecado como era com a morte, não poderia deixar de a prever através do seu mapa astral. Calculou Janeiro ou Março de 1935. Entretanto, mais recentemente e através de acerto, foi constatado que essa data passaria para Novembro. Com essa previsão em mente, em 1929, resolve isolar-se, afastando-se inclusive de Ophelia, para preparar a sua obra para a imortalidade. Novamente, o regente Mercúrio vem contribuir com a sua empírica intelectualidade. Os aspetos foram sendo apresentados ao longo do percurso dos anteriores planetas. “Só uma coisa me apavora A esta hora, a toda a hora: É que verei a morte frente a frente Inevitavelmente. Ah, este horror como poder dizer! Não lhe poder fugir. Não podê-lo esquecer. E nessa hora em que eu e a Morte Nos encontrarmos O que verei? O que saberei? Horror! A vida é má e é má a morte Mas quisera viver eternamente Sem saber nunca […] isso que a morte traz […] Que o tempo cesse! Que pare e fique sempre este momento! Que eu me aproxime desse Horror que mata o pensamento! Envolvei-me, fechai-me dentro em vós E que eu não morra nunca.” Fernando Pessoa – Obra Poética, III Volume, Círculo de Leitores Falando das casas da Alma e do Espírito, de salientar que nove aspetos principais do mapa vêm desaguar à conjunção de Marte com Urano em Balança na casa 12: sextil de Lua, quadratura a Mercúrio e trígonos ao Sol, Vénus e Plutão. A casa natural do Escorpião (Pessoa refere-se à Casa VIII como a “que é a do mundo astral”) também é palco farto em atores e aspetos. Além destas, a nove, onde se encontra o regente da oito. A astralidade une estas casas, a da alma singular, a do espírito coletivo e a do conhecimento, oferecendo a Pessoa a base para uma atividade esotérica e na escrita com vista à evolução pessoal e geracional. É nesta rubrica da genialidade que poderá ser adequado descrever o tópico dos heterónimos, embora tenham muito a ver com a essência e pluralidade geminianas. Além de ter feito o seu mapa astral, Pessoa criou alter-egos para se outrar ou extravasar outras facetas (ou até encarnações?) suas. Para cada um deles, criou também um mapa astral, que lhes talha a personalidade e lhes confere atributos psicológicos e filosóficos que os leva a determinado estilo de escrita. Determinou-lhes inclusive a morte, à exceção da do engenheiro, que lhe sobreviveu. Seguem-se os três principais heterónimos e respetivos mapas. 17


Alberto Caeiro, 16/04/1889, 13:45, Lisboa Paganista Greco-romano, só recebeu instrução primária, poeta naïf da natureza, bucólico “pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática” Carneiro, com Vénus em Touro e Marte, regente de Carneiro, também; Lua em Escorpião e Ascendente Leão “Deste modo ou daquele modo, Conforme calha ou não calha, Podendo às vezes dizer o que penso, E outras vezes dizendo-o mal e com misturas, Vou escrevendo os meus versos sem querer, Como se escrever não fosse uma coisa feita de gestos, Como se escrever fosse uma coisa que me acontecesse Como dar-me o sol de fora. Procuro dizer o que sinto Sem pensar em que o sinto. Procuro encostar as palavras à ideia E não precisar dum corredor Do pensamento para as palavras. Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir. O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar. Procuro despir-me do que aprendi, Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras, Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro, Mas um animal humano que a Natureza produziu. E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem, Mas como quem sente a Natureza, e mais nada. E assim escrevo, ora bem, ora mal, Ora acertando com o que quero dizer, ora errando, Caindo aqui, levantando-me acolá , Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso. Ainda assim, sou alguém. Sou o Descobridor da Natureza. Sou o Argonauta das sensações verdadeiras. Trago ao Universo um novo Universo Porque trago ao Universo ele-próprio. Isto sinto e isto escrevo Perfeitamente sabedor e sem que não veja Que são cinco horas do amanhecer E que o Sol, que ainda não mostrou a cabeça Por cima do muro do horizonte, Ainda assim já se lhe vêem as pontas dos dedos Agarrando o cimo do muro Do horizonte cheio de montes baixos.” s.d. “O Guardador de Rebanhos”. 1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925. 18


Ricardo Reis, 19/09/1887, às 16:05 (no mapa diz Lisboa, mas, em carta adiante, Pessoa refere Porto) Médico, poeta da mente “pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria” Sol em Virgem, Lua em Balança, Ascendente em Aquário “Em Ceres anoitece. Nos píncaros ainda Faz luz. Sinto-me tão grande Nesta hora solene E vã Que, assim como há deuses Dos campos, das flores Das searas, Agora eu quisera Que um deus existisse De mim.” 17-9-1914 Odes de Ricardo Reis, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994

Álvaro de Campos, engenheiro naval, 15/10/1890, 13:30 Tavira (segundo carta mais adiante) (a data que aponta o mapa é 13/10/1890, às 13:17; aparece também Lisboa noutras menções) “pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida” Ascendente Saturno, Sol em Balança No poema "Opiário", publicado no primeiro número da revista Orpheu, supostamente escrito em Março de 1914, no "canal de Suez, a bordo", e dedicado ao "Senhor Mário de Sá-Carneiro", Álvaro de Campos descrevese assim: “Eu, que fui sempre um mau estudante, agora Não faço mais que ver o navio ir Pelo canal de Suez a conduzir A minha vida, canfora na aurora. [...] E fui criança como toda a gente. Nasci numa provincia portuguêsa E tenho conhecido gente inglêsa Que diz que eu sei inglês perfeitamente. [...] Eu fingi que estudei engenharia. Vivi na Escóssia. Visitei a Irlanda. Meu coração é uma avòzinha que anda Pedindo esmólas ás portas da Alegria. [...]

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Volto á Europa descontente, e em sortes De vir a ser um poeta sonambólico. Eu sou monárquico mas não católico E gostava de ser as coisas fortes. [...] Pertenço a um genero de portuguêses Que depois de estar a India descoberta Ficaram sem trabalho. A morte é certa. Tenho pensado nisto muitas vezes. [...] Caio no ópio por força. Lá querer Que eu leve a limpo uma vida destas Não se pode exigir. Almas honestas Com horas pra dormir e pra comer, [...] E afinal o que quero é fé, é calma, E não ter estas sensações confusas. Deus que acabe com isto! Abra as eclusas -E basta de comédias na minh'alma!” ORPHEU - Revista Trimestral de Literatura, n.º 1 - Janeiro-Fevereiro-Março de 1915, pp. 71-76. Além destes três heterónimos, existe Bernardo Soares, que assina o Livro do Desassossego, e era "ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa". Pessoa esclarece:"O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas coisas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semiheterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade". “Mais uns apontamentos nesta matéria... Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Alvaro de Campos. Construi-lhes as idades e as vidas. Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1.30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 m de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos — o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de um vago moreno mate; Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma — só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Ricardo Reis, educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre.” Carta a Adolfo Casais Monteiro - 13 Jan. 1935, Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas . Fernando Pessoa. (Introdução, organização e notas de António Quadros.) Lisboa: Publ. Europa-América, 1986 De realçar que os signos ascendentes dos quatro poetas reúnem os quatro elementos: Fogo (Alberto Caeiro), Terra (Álvaro de Campos), Ar (Ricardo Reis) e Água (Fernando Pessoa). Isto significa que, juntos, traduzem a sua Plenitude e levam ao Equilíbrio. Ainda se faz pesquisa sobre a heteronímia de Fernando Pessoa. Em inventário deste século, conta-se 72, incluindo uma heterónima, a Maria José. “Com Pessoa há sempre surpresas.” – José Blanco 20


Outras análises: Nodos Lunares, Fases da Lua, Asteroides e Parte da Fortuna Nodo Norte 0º53' de Leão na casa 9 As perguntas retóricas pululavam a mente deste nativo: Quem somos? Para onde vamos? O que fazemos aqui? A filosofia está no propósito principal de vida. Consegue intuir e sintetizar a informação que capta. No caso de Fernando Pessoa, através da escrita, e assim o confirma o seu Sol, regente de Leão, em Gémeos. A tendência para Astrologia, mediunidade e religiosidade também estão aqui contempladas. A busca de conhecimento é incessante e o caminho leva-o a viagens no plano físico e etéreo, na senda de assim encontrar plenitude. Saturno, pela sua posição próxima à Cabeça do Dragão, adquire mais força, entre o seu propósito e a direção de vida, que não passam sem estruturação e disciplina. Poderá levar tempo, contudo. Maior parte do seu trabalho só foi conhecida postumamente. “O homem do séc. XX identifica-se com Pessoa. Ele pôs todos os problemas do nosso tempo e da modernidade, a unidade do eu, da personalidade, da consciência. Fernando Pessoa ainda é hoje o homem mais moderno do mundo. Aliás, a minha teoria, há muitos anos, é que ele escreveu para o futuro. Numa carta à mãe, ele dizia: “Dentro de 50 anos vou ser um homem célebre.” E a verdade é que morreu em 1935 e foi em 1985, com a exposição que organizei na Fundação Georges Pompidou, que saltou definitivamente para a ribalta internacional. […] Coincidência ou previsão esotérica? […] Sim, não ligo à astrologia. Mas repare na coincidência: estamos na era dos esoterismos, de Paulo Coelho ao ‘Código Da Vinci’.” José Blanco, detentor de um dos maiores espólios de Fernando Pessoa, ex-membro do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian e grande promotor do génio, em entrevista ao CM Jornal em11.06.06. O Nodo Sul em Aquário e na casa três coloca-lhe na bagagem as capacidades comunicativas geminianas e inovadoras aquarianas. “Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive.” 14-2-1933 Odes de Ricardo Reis, Lisboa: Ática, 1946 A Lua encontra-se após cerca de 38º do Sol, o que significa que nasceu sob a Lua Nova, uma boa fase para iniciar o novo e com duração de longo prazo, incluindo investigação e tarefas de concentração, pois a atividade mental e organizativa é favorecida nesta altura. Lilith a 14º29’ de Touro na casa 7 Indica onde se questiona mais relativamente à existência, crenças e filosofia. Neste posicionamento, pode conferir avareza caso não haja disciplina, bem como dominância do parceiro, ciúme e infantilidade, incluindo possibilidade de sabotagem de felicidade e extrema suscetibilidade, exigindo paciência. Também deslumbramento pela face oculta das coisas, podendo impulsionar o estudo de ciências místicas e o contacto com pessoas proeminentes nesta área. Representa também a sua “anima”, o seu lado e ideal feminino.

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Quíron a 2º40' de Caranguejo na casa oito, em conjunção com o Sol O posicionamento de Quíron indica em que energia e área de vida vivemos para ser úteis a nós mesmos. Mostra onde está a dor de alma. Ao tomarmos consciência dela e a enfrentarmos, passamos a ter a capacidade de nos curarmos. Frequentemente, por ajudarmos outros a curar-se nessa área: o mito de Quíron. Na casa da morte e do sexo, a procura de entendimento gira em torno destas matérias. Os relacionamentos podem ter transformado ou ter sido desastrosos, com experiências sexuais frias. Acentuam-se as capacidades psicoespirituais. “Seria doce amar, cingir a mim Um corpo de mulher, mas frio e grave E feito em tudo transcendentalmente. O pensamento agrada-me, e confrange-me Do terror de ter perto, e [junto] Em sensação ao meu, um outro corpo. Gelada mão misteriosa cai Sobre a imaginação […]” Fernando Pessoa – Obra Poética, Círculo de Leitores Ferindo o seu Sol, conjunto, poderá anular a sua autocriatividade. Esta ferida poderá ter a ter com o seu pai, que tão cedo perdeu; ele não teve então oportunidade de o ver brilhar, ou aprovar e incentivar o seu esforço. Ao desenvolver a autoconfiança e exprimir-se criativamente, cura esta ferida. As vivências da morte que teve, desde cedo, ter-lhe-ão dado consciência da fragilidade da vida, e a sensação de perda e abandono, o que exige controlo em relação aos outros, para proteção. A área do dinheiro também pode ser afetada, na qual quererá uma independência não fácil de conseguir. É relatado que teve sempre problemas de equilíbrio financeiro: “[…] chegou mesmo a viver muito mal, mas não quis nunca sujeitar-se a um horário” (testemunho de meia-irmã). A aparência taciturna que em geral lhe é conhecida servirá somente para ocultar a sua vulnerabilidade e dependência. Em Caranguejo, e sendo a Lua regente. Sentirá falta de nutrição pelas perdas familiares que sofreu e pela falta da estrutura familiar necessária, em diversos pontos da vida, para se sentir seguro. O sacrifício da mãe para criar os filhos poderá gerar algum sentimento de culpa e duradoura ligação psicológica à mesma, tendo de resgatar o seu próprio poder sobre a vida. Ao cuidar de si e receber dos outros poderá suprimir esta lacuna de nutrição que provoca dor de alma. Este posicionamento na casa oito confere carisma, magnetismo e capacidade de influenciar profundamente as pessoas, através das palavras e da intensidade emotiva. Ao ir tão ao fundo das questões, a viagem pode ir até ao centro das trevas, para conquista da segurança interna e regeneração da psique. Quíron é, também, o regente dos astrólogos. Juno a 14º22’ de Caranguejo, na casa nove Juno vem indicar no mapa o tipo de relacionamento preferível em termos de casamento ou união, sociedades e parcerias. Estando na casa 9, terá de haver afinidade religiosa e filosófica. As parcerias podem advir de instituições de ensino superior ou religiosas ou ter a ver com o estrangeiro, frequentemente durante estudos filosóficos e

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astrológicos. A influência canceriana dará valor ao zelo e dedicação incondicional, apelando ao instinto protetor. Ceres a 12º18’ de Gémeos na casa 8 No signo, revela no mapa onde recebeu cuidados na infância e oferece apoio aos outros, do que necessita para se sentir seguro. Estando em Gémeos, indica nutrição intelectual, através do diálogo e da escrita. Em suma, da comunicação, em variedade. O que o torna um bom comunicador, apesar de poder dispersar. A casa indica onde o nativo despende mais atenção e cuidado, em detrimento de tudo o resto. Ao figurar na oito, o foco volta-se para experimentar emoções profundas. Nutre-se ao pesquisar ou tratar de matérias como o ocultismo, sexo e morte. Cuida de pessoas em processos de reabilitação ou agonizantes. Como da avó Dionysia, da qual presenciou a demência, e da sua mãe, quando regressou hemiplégica, da qual cuidou e lhe lia os seus poemas à cabeceira. Vesta a 3º49 de Carneiro, na casa 5 Representa a área onde está a sua devoção e vai buscar a sua energia, o que transformou em sagrado, a sua maior motivação. Ao constar da casa 5, demonstra dedicação a desenvolver o potencial artístico, gostando de ser o centro das atenções. Não deverá, contudo, focar-se demasiado em si, para poder manifestar também as outras temáticas da casa. Carneiro vem aumentar o fogo de Vesta, o que o faz envolver-se totalmente num projeto com vista a alcançar o almejado, sabendo lidar com decisões e soluções. Não gosta de opressões nem interferências. Corre o risco de desatender quem ou o que o rodeia. “Queria liberdade para trabalhar na sua obra.” – Henriqueta. Pallas-Athena a 5º39’ de Touro na casa 7 Está associada com a sabedoria e a criatividade solucionadora e artística. Na casa do eu e o outro, é através da cooperação que consegue resolver problemas, desejando harmonia e exercer influência decisiva nas questões de outrem. Touro confere paciência ao processo, a ser levado a cabo com tempo e bom senso. Parte da Fortuna O Lote ou Parte da Fortuna resume, afinal, todo o mapa num ponto, o da realização na matéria, resultado da relação Ascendente-Sol-Lua. Por Pessoa o considerar no desenho do seu mapa natal, será relevante traduzir o que significa na casa dois e em Sagitário. Este posicionamento não é o de quem se contenta em viver o dia a dia – ele sabia que não se tinha materializado para isso. Veio para compreender o mundo e as raízes da sua simbologia, a árvore da vida. Concretizou-o através das suas viagens ou experiências além-mar e na pesquisa incessável no universo da filosofia e religião, nas quais alicerçou os seus valores.

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Alquimia?

“Falta responder à sua pergunta quanto ao ocultismo (escreveu o poeta). Pergunta-me se creio no ocultismo. Feita assim, a pergunta não é bem clara; compreendo porém a intenção e a ela respondo. Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando até se chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não. Por estas razões, e ainda outras, a Ordem Extrema do Ocultismo, ou seja, a Maçonaria, evita (excepto a Maçonaria anglo-saxónica) a expressão «Deus», dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer «Grande Arquitecto do Universo», expressão que deixa em branco o problema de se Ele é criador, ou simples Governador do mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na comunicação directa com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm. Quanto a «iniciação» ou não, posso dizer-lhe só isto, que não sei se responde à sua pergunta: não pertenço a Ordem Iniciática nenhuma. A citação, epígrafe ao meu poema Eros e Psique, de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente — o que é facto — que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1881. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a ordem) trechos de Rituais que estão em trabalho.” Carta a Adolfo Casais Monteiro - 13 Jan. 1935, Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas . Fernando Pessoa. (Introdução, organização e notas de António Quadros.) Lisboa: Publ. Europa-América, 1986

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“Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós-próprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não se pensam.”

1-7-1916 Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).

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Referências bibliográficas e internautas

Manual do Curso de Astrologia Faces Isabel Guimarães – 1º nível Manual do Curso de Astrologia Faces Isabel Guimarães – 2º nível Guia de Interpretação do Mapa Astrológico em 22 passos, Isabel Guimarães Obra em Prosa de Fernando Pessoa – A Procura da Verdade Oculta – Textos filosóficos e esotéricos, Prefácio, organização e notas de António Quadros, Publicações Europa-América Obra em Prosa de Fernando Pessoa – Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas – Introduções, organização e notas de António Quadros, Publicações Europa-América, 1986 Obra Poética de Fernando Pessoa – Texto Integral – Poesia-III 1934-1935 – Organização e bibliografia de António Quadros Fernando Pessoa – Obra Poética, Círculo de Leitores www.portaldaliteratura.com www.historiadeportugal.info/fernando-pessoa www.ebiografia.com/fernando_pessoa http://arquivopessoa.net http://cova-do-urso.blogspot.com/2008/04/mapas-de-fernando-pessoa-e-seus.html https://www.nova-acropole.pt/a_esoterismo-pessoa.html www.astro.com www.astrotheme.com/astrology/Fernando_Pessoa www.zodiacsignastrology.org/birth-chart/fernando-pessoa/ https://astrologiaautoconhecimento.blogspot.com www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/fernando-pessoa-ainda-e-o-homem-mais-moderno-do-mundo http://astrologiaeradeaquario.blogspot.com

Imagens: Capa: Pessoa adulto: Fernando Pessoa – Obra Poética, Círculo de Leitores “Horóscopo de Fernando Pessoa feito pelo próprio”: Obra em Prosa de Fernando Pessoa – A Procura da Verdade Oculta – Textos filosóficos e esotéricos, Prefácio, organização e notas de António Quadros, Publicações Europa-América Biografia: Pessoa pequeno: Fernando Pessoa – Obra Poética, Círculo de Leitores Foto Tratado: Obra em Prosa de Fernando Pessoa – A Procura da Verdade Oculta – Textos filosóficos e esotéricos, Prefácio, organização e notas de António Quadros, Publicações Europa-América Todas as restantes: Google Imagens

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De Escorpião para Ascendente Escorpião

Perdoa-me se alguma destas breves interpretações e menções não faz jus ao teu imenso e eterno Ser. Perdoa a invasão. São só palavras de uma mera curiosa das letras e símbolos que tanto te admira. Não resisti a encontrar-me mais uma vez com quem foi e é tanta Luz para a humanidade, e que me seduz no que me toca particularmente: a escrita, a tradução, a astrologia. E, por mais que escrevamos e interpretemos, são só expressões momentâneas da mente e da alma, insuficientes para traduzir a Vida e o Espírito perpétuo.

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