Célia Alves | 2022

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Título



Título Célia Alves



o aço atravessa o que foi música



língua palavra procura alimento



papel tinta penas palavras liquefeitas



livro na folha morta o mundo vivo



anoitece o canto silenciam motores sobra o pranto



na igreja maria de joelhos saudade da filha



flores de ipê no chão renda no céu oferenda



alma do tempo encontrá – la há tempo ?



na parede o mínimo sol



um corpo rasteja seu canto é chão



quando um filho se vai a casa se encolhe em ais



luz da lua blue perfura a sala fria eu

o canto nu



construção tijolo areia cimento quantas são as mãos?



amanhece de dia algaravia só a noite tece



mortos empilhados em valas importa?



árvores ceifadas corpos abatidos voltará o r i s o ?



dia escuro cinza desaba o muro



até de jardim em flor às vezes me esquivo



sem anúncio sem trovão

chuva branda



interstícios por entre palmeiras

mar



estrada de ferro mato no caminho era outra era



na madrugada de inverno um piar de pássaro



dentadura boia no copo vazio



dez onze em que hora a velha senhora prepara o agora?



a luz acende o escuro da mata um galho se estende



raízes nuas indizíveis braços

esquartejam calçadas



em plena cidade suspenso no galho surdo trinado



na madrugada sozinha um zumbido é meu ouvido



domingo o almoço

todos à mesa pra roer o osso



irmãos gêmeos mesmos olhos mesma boca sequer se beijam



aqui ou no Tibet com sol ou sem não tenho ninguém



soa o telefone a voz muda respira

insone



nos braços do jovem casal de preto o caixão branco



eram haicais sobraram



uma flor... rompe o asfalto, é preciso sentir seu perfume, olhar o rio e eouvir o manuelzinh-da-crôa


textos e imagens Célia Alves Design Fabiola Notari




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