Carta aos Formandos 2016 Meus queridos formandos,
Gostaria imensamente de começar essa carta dirigida a vocês em um momento diferente da realidade política em que vive nosso País. Mas os seguidos fatos, já marcados para a história brasileira me impedem de um começo esperançoso e feliz nesse momento em que me dirijo a vossa turma de formandos, futuros e gloriosos arquitetos-urbanistas (a única certeza que tenho desse futuro incerto). Aos mesmo tempo, esse momento triste da realidade brasileira enseja um assunto central que congrega todos esses problemas: a ética! E novamente retomo o tema em pauta desde a última carta que escrevi, direcionada aos seus colegas formandos de 2015. Mais do que nunca ficou claro o quanto nossa sociedade, eticamente, precisa evoluir e construir sólidas bases éticas que permeiem todos os meandros de sua constituição humana. O ser humano, o ser-que-quer-ser-um-ser no mundo passa obrigatoriamente, como nos ensina Heidegger, pelo ato de habitar1. Esse habitar heideggeriano pode, sem prejuízos, ser interpretado tanto como um ato físico do construir a arquitetura como um habitarabrigo, quanto uma metáfora da vida e da existência humana. O sentido da vida humana é de pertencimento. É de pertencer a algo maior do que a própria existência física do indivíduo. O homem sozinho só tem sentido para ele, mesmo assim somente quando se reconhece como tal; mas, quando se relaciona com algo, com o outro, essa relação munda de significado. Ele passa a ser um no mundo, pois está em relação a outro, e esse outro, dá ao primeiro ou seu equivalente, a relação com o mundo. Relacionar-se com o outro é o ato primordial da ética. É a forma como indivíduos em sua individualidade se relacionam entre si em comunidade. Viver em comunidade é, eticamente, ter direções comuns dentro das discordâncias e das individualidades. É buscar o bem-comum, base de toda a democracia desde a Antiguidade Clássica (mesmo 1
Ver em especial HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2012.