Revista Expansão - Edição 118

Page 142

[ Ponto de Vista ]

Germano Rigotto Ex-governador do Rio Grande do Sul

rigotto@germanorigotto.com.br

Por que o planejamento familiar seria uma ferramenta a ser trabalhada que inibiria as pessoas de usarem drogas? Será que o filho bem-quisto não apresentaria também problemas sociais como o filho não planejado? Há situações em que nos deparamos com filhos que não foram planejados e que se destacam com seu exemplo de vida, mas esses exemplos são bem poucos. Enquanto isso, o número de usuários de entorpecentes químicos aumenta. E a droga que está tomando conta da sociedade, no momento, é o crack. Especialistas alegam que a maioria dos usuários não encaram seus problemas e medos familiares e se escondem nas drogas. O crack por viciar muito rápido e não ter atendimento direcionado no Sistema Único de Saúde (SUS) está apavorando a sociedade, fazendo-a refletir sobre sua responsabilidade e o que pode fazer para mudar esse quadro.

Planejamento familiar como

prevenção às drogas

S A falta de planejamento familiar e a consequente desestruturação da família continuam sendo um esteio fértil para a adesão ao vício.

142

| Revista Expansão

ão diversas as causas que conduzem os jovens ao mundo das drogas. Entretanto, há um consenso objetivo entre todos os especialistas: a falta de planejamento familiar e a consequente desestruturação da família continuam sendo um esteio fértil para a adesão ao vício. É evidente que nem mesmo famílias aparentemente bem estruturadas estão livres dessa ameaça. Especialmente depois do advento do crack, não há mais ilhas de isolamento e o perigo ronda a casa de todos. Afinal, essa pedra se proliferou de tal modo que sua comercialização ocorre semelhante à de um produto oferecido no varejo, de fácil acesso. Porém, não resta dúvida de que a chance de aderir às drogas é muito menor para um filho fruto de gravidez planejada. Ora, planejar o nascimento significa criar todo um ambiente para receber o nascituro, tanto no sentido afetivo quanto financeiro. Os pais, se conseguem dialogar e entrar num acordo sobre o momento certo para a paternidade, ficam melhor preparados para um acompanhamento criterioso e dedicado da educação dos seus filhos. Caso contrário, quando surge uma gravidez fora de hora, há uma desorganização da estrutura do lar, o que faz aumentar sobremaneira a incidência de vulnerabilidades de toda ordem. E eis, en-

tão, que está aberta a porta para a drogadição. Foi por esse motivo que o Rio Grande do Sul criou a Lei 12.653, de 2006, diploma que instituiu o programa “Te liga, gravidez tem hora!” como política pública estadual. Por iniciativa da então primeira-dama do Estado, Cláudia Rigotto, que se dedicou devotadamente a essa causa, nascia ali uma ferramenta para a realização de ações intersetoriais e educativas de promoção e prevenção à saúde, dirigida especialmente aos estudantes da comunidade escolar gaúcha. Inúmeras ações de conscientização foram realizadas mediante um trabalho técnico e articulado, envolvendo temas como a maternidade e a paternidade conscientes, a sexualidade, a gravidez planejada e a violência. A pauta do planejamento familiar precisa ser uma preocupação contínua das políticas públicas e das reflexões da sociedade. Trata-se de um tema que não pode ser abordado de maneira impositiva ou preconceituosa, mas que deve vir acompanhado de um grande esforço de conscientização por parte da mídia, dos governos e das pessoas em geral. Quanto mais bem estruturadas estiverem as famílias, fruto de um ambiente afetivo e organizado, infinitamente menores serão as chances de o crack destruir nossas crianças e adolescentes. E difundir esse pensamento precisa ser um compromisso de todos nós.

Setembro/2009


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.